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Frederico Lourenço, Nova Gramática do Latim (Lisboa, Quetzal, 2019, 505 pp. ISBN 978-989-722-566-6)

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Academic year: 2021

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EVPHROSYNE

R E V I S TA D E F I L O L O G I A C L Á S S I C A

CENTRO DE ESTUDOS CLÁSSICOS F A C U L D A D E D E L E T R A S D E L I S B O A MMXI X N O V A S É R I E VOLUME XLVII http://www.letras.ulisboa.pt NOVA SÉRIE VOL. XLVII MMXI X

ESTE VOLUME DE EVPHROSYNE TEM O APOIO DE:

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O azul é mais escuro como é habitual

Esta actividade é financiada por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projecto UID/ELT/00019/2019

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01. Euphrosyne — Revista de Filologia Clássica, órgão do Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa, está aberta à colaboração da comunidade científica na área da filologia clássica, entendendo esta em sentido largo da diacronia da tradição, das áreas científicas específicas e respectivas disciplinas.

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Revistas: R. S. Caldwell, “The Misogyny of Eteocles”, Arethusa, 6, 1973, 193-231 (vol., ano, pp.). Ou em 2.ª ref.: R. S. Caldwell, loc. cit.

Obras colectivas: G. Cavallo, “La circolazione dei testi greci nell’Europa dell’Alto Medioevo” in J. Hamesse (ed.),

Rencontres de cultures dans la Philosophie Médiévale – Traductions et traducteurs de l’Antiquité tardive au XIVe

siècle, Louvain-la-Neuve, 1990, pp. 47-64.

c) Abreviaturas: Seguir-se-ão as abreviaturas convencionadas por ThLL, para autores latinos; Liddel-Scott-Jones,

para autores gregos; Année Philologique, para títulos de revistas; para as abreviaturas mais comuns: p. / pp.; ed. / edd.; cf.; s.u.; supra; op. cit.; loc. cit.; uid.; a.C. / d.C. (em redondo).

d) Citações: Devem ser colocadas entre comas “…” (não as de textos gregos); os itálicos serão utilizados apenas para

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E V P H R O S Y N E

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F A C U L D A D E D E L E T R A S D E L I S B O A

EVPHROSYNE

R E V I S TA D E F I L O L O G I A C L Á S S I C A

MMXIX

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Nova Gramática do Latim

(Lisboa, Quetzal, 2019, 505 pp. ISBN 978-989-722-566-6)

riCardo noBre Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

rnobre@letras.ulisboa.pt

Na definição de “gramática” proposta por Rafael Bluteau1 – “a porta

por que se entra a todas as ciências e o fundamento de todas as artes liberais e disciplinas nobres” –, reconhece-se um estatuto inigualável de acesso ao conhecimento que se exprime por intermédio do idioma, cuja compreensão radica num saber gramatical básico, seja implícito, seja explícito. Quando um filólogo descreve teoricamente o funcionamento de uma língua está também a aplicar um sofisticado método científico que não se distingue do usado por outras disciplinas do saber: pela descrição sistemática e expli-cação teórica de estruturas morfológicas e sintácticas, fonéticas, semânticas e pragmáticas, a gramática faculta a quem aprende uma língua competên-cias que permitem aplicar essa teoria na dinâmica comunicativa – em que se inclui, é claro, a leitura de línguas que deixaram de ser naturalmente pro-dutivas (vulgarmente ditas “línguas mortas”); é por isso que o leitor é capaz de ler, nas línguas que domina, frases novas reutilizando conhecimentos adquiridos em estruturas de outras situações discursivas similares.

A publicação de uma gramática é, por conseguinte, um acontecimento de saudar, visto que ela supõe que um filólogo entendeu que a sua perspectiva de análise de um sistema linguístico traz novidade suficiente à literatura científica e didáctica disponível no ambiente cultural em que vive. Talvez por isso, em Portugal, a sucessão de gramáticas de latim poucas vezes tenha estado isenta de controvérsia, como bem recordam as polémicas da substitui-ção, no século XVIII, da obra de Manuel Álvares, S.J. (cujos contornos histó-ricos são bastante mais amplos) pelo Novo Método da Gramática Latina, de António Pereira de Figueiredo, C. O. No século XIX, depois da edição de diversas obras de relativa pouca longevidade (pelo menos em comparação

1 Por comodidade, cita-se a partir de J. P. silVestre, A Língua Iluminada: antologia do

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com as mencionadas anteriormente), a publicação da gramática de Joaquim Alves de Sousa envolveu o seu autor em disputa com o próprio Epifânio da Silva Dias.

O desenvolvimento das disciplinas linguísticas parece ter conduzido a uma estabilização da polémica, pelo menos quanto às línguas clássicas. No nosso país, publicaram-se no século XX as gramáticas de latim por que estudamos: a Gramática Latina, de Manuel Francisco de Miranda (1.ª ed., 1901; 8.ª ed., 1962, revista por Arlindo Ribeiro da Cunha), que resulta de um trabalho verdadeiramente notável de sistematização do funcionamento da língua, com os recursos existentes na época (e, por força do avanço cien-tífico, necessariamente desactualizada); o Compêndio de Gramática Latina, de José Nunes de Figueiredo em parceria com Maria Ana Almendra, publi-cado originalmente em 19522; a Gramática Latina, de António Freire (1.ª ed.,

1956, melhorada e corrigida em edições posteriores); a Gramática Latina, de António Afonso Borregana, vinda a lume em 1999. Já no nosso século foi publicado, em 2001, o “guia” Maximo Gaudio Linguam Latinam Disco, de Maria Alcina dos Mártires Lopes3. Neste panorama, verifica-se que as

gramá-ticas de latim portuguesas foram sendo tradicionalmente publicadas por autores e autoras que têm ou tiveram uma longa carreira na docência desta língua, sendo ainda autores de manuais escolares (ou responsáveis pelos programas da disciplina no ensino secundário4).

É neste contexto que surge, pela mão do filólogo classicista Frederico Lourenço, em 2019, a Nova Gramática do Latim (doravante mencionada como NGL), de que aqui me ocupo.

Deixando de lado o facto de a obra ter sido acompanhada de uma propaganda que ignora não apenas a renovação científica e pedagógica por que passou a gramática latina mais usada em Portugal, imputando-lhe “programas” e “metodologias dos liceus portugueses no tempo de Salazar” (p. 11), mas também a existência de obras publicadas ex novo muito depois de 1974 (inexactidão que poderá ser facilmente corrigida numa próxima

2 O livro de que actualmente dispomos com esse título foi sujeito a transformações que

o adequaram ao ensino do latim nos nossos dias. De “livro único”, o Compêndio de Gramática

Latina tornou-se um livro único no panorama editorial ao introduzir nas suas páginas, em

contínuas edições, informações que o harmonizaram com os programas oficiais da disciplina. Demonstram-no o acrescento de notas sobre etimologia ou da lista de verbos frequentes, a actualização da terminologia gramatical e a reescrita de exemplos feitas ao longo do tempo, em sucessivas transformações que lhe garantiram a longevidade que legitimamente conhece.

3 Apesar de se apresentar como um “guia de iniciação ao Latim” e não uma gramática

no sentido tradicional, é legítimo considerar um primeiro instrumento de trabalho em que a morfologia é apresentada, de forma sistemática, em função da etimologia; a sintaxe surge, de modo sintético e esquemático, reduzida ao essencial.

4 A. A. Borregana foi um dos responsáveis pelos programas de 1993; é autor dos manuais

de latim para o ensino secundário Novo Método de Latim (1.ª ed. do manual para o 10.º ano, 1993; a edição de acordo com os programas actualmente em vigor, de 2001, em parceria com Ana Rita Borregana, data de 2004, reimpr. 2008). M. A. Almendra, falecida em 2005, foi autora dos manuais Publius et Terentia (10.º ano, 1999; 11.º ano, 2000), depois de ter sido co-autora, com José Nunes de Figueiredo, dos métodos Initia Latina (publicado entre 1967 e 1993) e

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oportunidade), o “Preambulum” (pp. 11-12) anuncia o propósito do A.: “oferecer […] uma gramática nova, cujo objectivo é sistematizar de forma desempoeirada os tópicos essenciais para a leitura de textos latinos em prosa e em verso”5 (p. 11). Para tal, a gramática organiza-se em duas

secções linguísticas (Morfologia e Sintaxe) e uma terceira de Varia (que é mais propriamente um conjunto de anexos), antecedidas do referido “Preambulum”, “Abreviaturas, sinais e convenções” (pp. 13-15) e de capí-tulos introdutórios (“Introdução à língua latina”, pp. 17-39, “Noções básicas de pronúncia”, pp. 41-59).

Ao longo da NGL nunca fica completamente claro o tipo de novidade (que se anuncia desde o título) que a obra propõe, nem onde esta gramá-tica a pragramá-tica: Lourenço não se filia explicitamente em nenhuma escola lin-guística contemporânea e não promove verdadeiramente uma renovação da análise gramatical do latim. De facto, ao apoiar-se continuamente na gramá-tica de Kühner e Holzweissig6, de 1912, a experiência de leitura da NGL

conduz o leitor para uma análise linguística anterior à Primeira Grande Guerra e, por consequência e surpresa, alheia aos desenvolvimentos da lin-guística como ciência, que o A. parece reduzir a questões de “terminologia”7.

Lourenço apresenta, portanto, em 2019, uma gramática como se Chomsky nunca tivesse existido.

Sendo uma escolha consciente do A. a inscrição da obra no conjunto de instrumentos didácticos, a NGL não concorre, assim, com obras como as e J. N. Adams8, Baldi e Cuzzolin9, Baños10, Conte, Berti e Mariotti11, Danckaert12,

5 As citações não são fiéis à norma ortográfica da NGL, redigida segundo o Acordo

Orto-gráfico de 1990. Ao citar o latim, usarei o v ramista em vez de u.

6 A gramática de Kühner é considerada “a melhor gramática de latim alguma vez

produ-zida” (p. 74) e “A maior autoridade sobre a gramática latina” (p. 163). Em momento algum se problematiza a decisão de recorrer a uma obra que, repleta de qualidades, se encontra cienti-ficamente ultrapassada em muitos aspectos (não por acaso, a sintaxe de Pinkster pretende ser a sua actualização). Igualmente questionável é a afirmação, a propósito da grafia original de

hic: “Há bastante incerteza sobre o assunto” (p. 222), remetendo para esta gramática. Não se

compreende, portanto, qual a relevância, numa gramática escolar com a profundidade desta, de tal tipo de informação.

7 O A. confessa sem rebuço: “Um pensamento que certamente já terá ocorrido a quem

está a ler este livro é que a terminologia gramatical usada é ‘conservadora’. A razão para isso é que não é útil aplicar ao ensino e à aprendizagem do latim o último grito (seja ele qual for) no campo da terminologia gramatical: em primeiro lugar, porque o que conta hoje como último grito será certamente substituído por outra coisa qualquer daqui a uns anos; em segundo lugar, porque as grandes obras de consulta para o estudo do latim e do grego, as quais, mais cedo ou mais tarde, todos os helenistas e latinistas têm de consultar […] usam a terminologia tradi-cional. […] É a opção mais sensata” (pp. 224-225). Ao aceitar esta apreciação, estaríamos a impedir o avanço científico da linguística ou a afastá-lo e a excluí-lo do ensino, o que não pode ser admitido.

8 Na bibliografia, aparecem citadas as obras The Regional Diversification of Latin 200

BC--AD 600 (Cambridge, Cambridge University Press, 2007) e An Anthology of Informal Latin, 200 BC-aD 900 (Cambridge, Cambridge University Press, 2016), eventualmente usadas na recolha

de exemplos. Em falta, encontra-se, pela importância que a NGL atribui à questão da norma e desvio, Social Variation and the Latin Language (Cambridge, Cambridge University Press, 2013).

9 Ph. Baldi, P. CuZZolin (edd.), New Perspectives on Historical Latin Syntax. Vol. 1: Syntax

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101112

Ernout e Thomas13, Lavency14, Oniga15, Panhuis16, Touratier17 nem

Väänä-nen18. Aliás, de obras de linguística contemporânea, a bibliografia (de que

falarei mais adiante) apenas regista a Oxford Latin Syntax, de Pinkster19.

No entanto, a escolha de não adoptar modelos de análise desenvolvidos pela linguística contemporânea não é um defeito metodológico per se, dado que se adequa ao tipo de ensino das línguas clássicas no nosso país, onde o divórcio entre os departamentos de linguística e de estudos clássicos nas universidades continua a afastar os latinistas da investigação que a maioria dos autores citados no parágrafo anterior tem realizado. Assim, se o traba-lho de Lourenço se ajusta ao público a que se destina, resta esclarecer em que medida a NGL cumpre de forma mais eficaz os objectivos enunciados que as gramáticas já existentes.

Pode dizer-se que uma das maiores qualidades da NGL é a quase ausência daquilo a que, com o Padre Rafael Bluteau, se poderia chamar “geringonça”: “linguagem inventada por gente da mesma profissão, ou par-cialmente, para que ninguém os entenda, quando falam”20. Ainda assim,

mesmo que não se fale de política21, há momentos em que a “geringonça” é

necessária, sobretudo numa obra desta natureza: o vocabulário técnico e a terminologia científica traduzem conceitos precisos e rigorosos, sem ambi-guidades ou segundas leituras, a menos que os próprios sentidos derivem metonimicamente (como aconteceu com o próprio termo “geringonça” e como sucede com muita da terminologia gramatical obsoleta, em todas as línguas ocidentais). Assim, se são de saudar passos em que a NGL se pode orgulhar de ser uma gramática “desempoeirada” por não se exceder em preciosismos terminológicos não essenciais à boa compreensão da língua, a verdade é que o leitor – experiente na língua ou não – sente a falta de um discurso metalinguístico rigoroso, muitas vezes substituído por formulações como “Estas categorias [genitivo objectivo e genitivo subjectivo] são mais

Constituent Syntax: Quantification, Numerals, Possession, Anaphora; vol. 4: Complex Sentences, Grammaticalization, Typology, Berlim, De Gruyter Mouton, 2009-2011.

10 J. M. Baños Baños (coord.), Syntaxis del Latín Clássico, Madrid, Liceus, 2009. 11 G. B. Conte, m. Berti, e. mariotii, La Sintassi del Latino, Florença, Le Monnier, 2006. 12 L. danCkaert, The Development of Latin Clause Structure: A Study of the Extended Verb

Phrase, Oxford, University Press, 2017.

13 A. ernout, F. thomas, Syntaxe latine, Paris, Klincksieck, 2002.

14 M. laVenCy, Vsus: Grammaire latine, 2.ª ed., Louvain-la-Neuve, Peeters, 1997.

15 R. oniga, Latin: A Linguistic Introduction, trad. N. Schifano, Oxford, Oxford University

Press, 2014.

16 D. Panhuis, Latin Grammar, Ann Arbor, The University of Michigan Press, 2009. 17 Ch. touratier, Syntaxe latine, Louvain-la-Neuve, Peeters, 1994.

18 V. Väänänen, Introduction au latin vulgaire, Paris, Klincksieck, 2006.

19 Esta obra é mencionada, p. 271, para confirmar o uso de um conjuntivo, dali colhendo

um exemplo, e citada, p. 302, a propósito da classificação de um genitivo com o verbo sum.

20 J. P. silVestre, op. cit., p. 43.

21 Como por exemplo se lê no romance O Milagre Segundo Salomé, de José Rodrigues

Miguéis (Lisboa, Estampa, 1982): “o problema é essencialmente económico, mas tudo depende da fórmula política. Se não for dentro da geringonça parlamentar, há que ir buscá-la fora dela” (p. 287; cf. p. 397).

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difíceis de entender, pois constituem, de certo modo, um artificialismo dos gramáticos” (p. 303). O leitor fica na dúvida se a diferença entre sujeito e complemento directo é um artifício gratuito dos gramáticos22.

Uma obra de metalinguagem deveria usar os termos técnicos deste campo do saber. A mestria do autor revelar-se-á na forma como a descodi-fica, não no facto de a ocultar, sob pena de a obra poder ser útil apenas a curiosos e não se instituir como uma referência. Por isso, é surpreen-dente encontrar informação ao longo das páginas da NGL referida como “curiosidades” (duas vezes na p. 200), quando a descrição da língua poderia ser mais neutra. Além disso, seria necessário mais rigor na formulação de alguns enunciados que os torna inexactos: por exemplo, ao falar do impe-rativo de nolo, diz-se: “é a partir dele (+ infinitivo) que se forma o impera-tivo negaimpera-tivo” (p. 202), quando o que se deveria ter escrito era “que se pode formar o imperativo negativo”, visto que existem outros modos de expressar a ordem negativa (como é ensinado na p. 348).

Simultaneamente, o A. segue a tradição das gramáticas latinas em português, que nem sempre têm uma explicação clara de estruturas e fenó-menos linguísticos, quando, para compreender uma língua com as caracte-rísticas do latim (declinável, com uma enorme flexibilidade de colocações e a utilização de constituintes descontínuos23), é preciso aprender um

con-junto de informação gramatical que permita fazer a ligação entre a forma

física da palavra e a função sintáctica na frase. Deste modo, no tratamento

da sintaxe, não é garantido que o apelo intuitivo a práticas linguísticas em português seja suficiente para operar uma leitura funcional de um texto latino. Isto é mais perturbador quando os alunos da disciplina ou os auto-didactas não costumam ter consciência muito clara do que são o sujeito e o predicativo do sujeito, como se distingue este do complemento directo, da diferença entre advérbios e adjectivos ou entre preposições e conjunções – estas muito simplesmente definidas como “as ‘dobradiças’ que permitem a articulação das frases” (p. 256): não se menciona que as conjunções coorde- nativas articulam sintagmas com o mesmo estatuto sintáctico e não apenas orações (termo que o A. funde com o conceito de “frase”).

Lourenço também não diferencia com clareza orações coordenadas de subordinadas nem conjunções coordenativas de subordinativas. Aliás, a definição de oração subordinada não é adequada ao conhecimento

linguís-22 Noutros momentos, a gramática veicula coloquialismos inusitados numa obra desta

natureza: “frase latina escrita às três pancadas” (p. 66); “mas ‘no terreno’, quando estamos a ler um texto latino” (p. 89; cf. p. 279), “foi algo que nunca lhes passou pela cabeça” (p. 92), “grafias bem estrambólicas” (p. 99), “ocasionou uma verdadeira festa de formas morfológicas alternativas” (p. 121), “Para sossegar quem acabou de se surpreender com este panorama” (p. 137), “forma ‘unissexo’” (p. 143, para falar em comum de dois), “encontramos formas desconcertantes” (p. 220), “À morfologia […] ‘chega-se lá’ por intuição” (p. 253), “pôr tão cedo quanto possível ‘as mãos na massa’ no que toca à leitura em latim” (p. 273), “Quem leu até aqui este capítulo e pensou ‘como é que eu vou meter isto tudo na cabeça?’ pode consolar-se” (p. 319), etc.

23 Infelizmente, sobre a ordem das palavras em latim a NGL nada tem a dizer. Por isso

também não é de estranhar a ausência de J. marouZeau (L’ordre des mots en latin. 4 vols., Paris, Les Belles Lettres, 1922-1953), de Panhuis ou de Danckaert (obras citadas) na bibliografia.

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tico que temos. Por meio de exemplos em português, afirma-se de forma inexacta: “A oração introduzida por ‘quando’ está subordinada à ante-rior (a principal ou subordinante), porque a oração de ‘quando’ não pode

fazer sentido independentemente da oração a que está subordinada. A frase

[=oração] ‘a população fechou as portas ao imperador’ faz sentido sozinha; mas a frase [=oração] ‘quando soube da sua chegada’ não funciona como enunciado independente” (p. 256, sublinhado meu). Cunha e Cintra (o melhor modelo de gramática tradicional da língua portuguesa) ensinam que “as orações subordinadas funcionam sempre como termos essenciais, integrantes ou acessórios de outra oração”24 e que, nessa medida, “o

perío-do composto por subordinação é, na essência, equivalente a um períoperío-do simples. Distingue-se apenas o facto de os termos (essenciais, integrantes e acessórios) deste serem representados naquele por orações”25. Assim sendo,

oração subordinante é aquela em que pelo menos um dos constituintes tem a forma de uma oração subordinada: por isso, no exemplo citado de Lourenço, é também problemático que a definição de oração principal pareça coincidir com a de subordinante, pois uma frase pode ter várias orações subordinantes, diversas subordinadas, mas só uma principal (que pode ser, claro, subordinante). Ao mesmo tempo, ao avançar a hipótese de que a oração subordinada pode ser eliminada sem prejuízo da inteligi-bilidade do enunciado subordinante e que a oração subordinada não faz sentido sozinha, Lourenço admite que uma frase pode ocorrer sem sujeito ou complemento directo – ou seja, se for uma oração subordinada substan-tiva26. Na verdade, quando muito concederíamos que apenas a eliminação

das orações adverbiais ou circunstanciais, ou seja, com funções de modi-ficador (ou adjunto, satélite ou, mais tradicionalmente, complemento cir-cunstancial), não compromete a gramaticalidade da oração subordinante27.

24 C. Cunha, L. F. lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa,

Sá da Costa, 1999, p. 594. Depois de distinguir orações subordinadas de coordenadas com base no critério de dependência, também a. g. Ferreira e J. n. de Figueiredo (Compêndio de

Gramática Portuguesa, Porto, Porto Editora, 1995, p. 39) afirmam que orações subordinadas

substantivas são as que “desempenham as funções próprias do substantivo, isto é, podem servir de sujeito, complemento directo, complemento indirecto, aposto, predicativo e determinativo”. Almendra e Figueiredo não definem “oração subordinada”, mas afirmam, por ex., que as orações completivas de quod “acompanham como sujeito ou complemento” determinados verbos (Compêndio de Gramática Latina, Porto, Porto Editora, 2003, p. 191), e, nas orações infinitivas, distinguem as que desempenham uma função de sujeito das que são seleccionadas como complemento de verbos (pp. 194-195). Lourenço usa um vocabulário mais impreciso quando afirma que uma oração subordinada depende de um verbo (p. 263), sem esclarecer que esse tipo de dependência tem que ver com o facto de o verbo seleccionar (para usar o termo aceite na linguística moderna; na gramática tradicional dir-se-ia “pedir”) a oração como sujeito ou complemento directo.

25 Cf. C. Cunha, l. F. lindley Cintra, op. cit., p. 596.

26 Se a oração subordinada desempenhar uma função sintáctica de sujeito ou de

com-plemento (directo, indirecto, oblíquo) – ou seja, se for uma oração subordinada substantiva – numa outra oração (subordinante), ela não pode ser eliminada sem prejuízo da gramatica-lidade da frase.

27 É por isso que as orações mais típicas que desempenham funções de modificador

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No capítulo intitulado “Guia prático de orações subordinadas”, estas surgem pela ordem: infinitivas (pp. 321-326), finais (pp. 326-328), consecuti-vas (pp. 328-330), condicionais (pp. 330-334), causais (pp. 334-335), tempo-rais (pp. 335-337), concessivas (pp. 337-339), comparativas (pp. 339-340), relativas (pp. 340-342). Embora sejam substantivas como as infinitivas, merecem capítulo à parte as orações interrogativas indirectas (tratadas em conjunto com as directas, pp. 343-346); existe outro para as ordens directas e indirectas (pp. 347-350) e um outro para as orações subordinadas substan-tivas complesubstan-tivas (que nunca recebem esta classificação) de quin, quominus e seleccionadas por verbos de receio ou impessoais (um só capítulo, pp. 351-357). Nota-se, assim, um desencontro desta gramática com outras ferramentas didácticas tradicionais, que incluem justificadamente capítulos sobre as orações completivas de ut (a sintaxe de Woodcock, que serve de referência para Lourenço, trata este tópico no “discurso indirecto”).

Falta, ainda, na NGL o tratamento de orações com o verbo nas formas não-finitas além de infinitivo (referidas apenas como completivas); destas, só as orações participiais são tratadas sob a designação de “ablativo abso-luto”, mas não no âmbito da subordinação, apesar de este exibir caracterís-ticas da subordinação adverbial28.

Tendo em atenção estas imprecisões, lacunas e omissões29, de que

resulta uma problemática organização das matérias, os capítulos sobre sintaxe são os mais decepcionantes da NGL. No entanto, há um conjunto de inexactidões que precisam de ser corrigidas logo que seja possível: no quadro-síntese das orações coordenadas não figuram as conjunções disjun-tivas (p. 257) e no quadro das subordinadas não se incluem as comparadisjun-tivas (p. 258); as orações “causais” não são coordenadas (p. 260, onde o A. porven- tura quereria escrever “explicativas”); não são mencionadas as orações disjuntivas (pp. 260-262, atendendo a que as copulativas foram tratadas nas pp. 158-159); na página 337, foi um lapso classificar como oração temporal o exemplo oderint dum metuant porque dum metuant é uma oração condi-cional30; na mesma página, em nota, o A. usa o adjectivo “antigramatical”

frase. Ainda assim, nem todas as orações adverbiais podem ser eliminadas sem prejuízo da gramaticalidade da oração subordinante: é o que acontece com orações subordinadas que se

anunciam na subordinante por meio de correlativos – orações subordinadas comparativas e

consecutivas (e que não são adverbiais típicas: Ch. touratier, Grammaire latine: introduction

linguistique à la langue latine, Paris, Éditions Sedes, 2008, pp. 220-227, considera as orações

comparativas e consecutivas como expansão do grupo adjectival porque têm a função sintáctica de complemento do adjectivo) – e nas estruturas condicionais mais complexas em que a apódose e a prótase funcionam com regras específicas.

28 Cf. A. Cart, P. grimal, J. lamaison, r. noiVille, Grammaire Latine, Paris, Nathan,

1998, p. 145; Ch. touratier, Syntaxe latine, pp. 655-659; Ch. touratier, Grammaire latine, pp. 227-228, B. L. gildersleeVe, g. lodge, Latin Grammar, Wauconda, Bolchazy-Carducci Pub-lishers, 2003, pp. 426-428; e L. sausy, Grammaire latine complete, Paris, Eyrolles, 2015, p. 261.

29 O A. compromete-se a fazer um “o tratamento da sintaxe […] pragmático e sintético,

evitando propositadamente informação redundante e secundária” (p. 272), mas os aspectos aqui focados não são menos que essenciais.

30 Como se lê nas sintaxes de A. ernout, F. thomas (p. 391) e de J. M. Baños Baños (p. 659),

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em vez do que corre mais frequentemente na linguística, “agramatical”; na mesma nota, fala-se de as “gerações mais antigas” considerarem erradas construções concessivas com indicativo, mas na história da nossa língua encontram-se exemplos de concessão com indicativo até ao século XIX. Além disso, actualmente, as orações subordinadas concessivas também admitem indicativo quando são introduzidas por “mesmo se” ou “inclusive se”31.

Observando os capítulos da secção “Morfologia”, nota-se que na NGL a ordem dos casos nos paradigmas de declinação é (como em Almendra e Figueiredo): nominativo, vocativo, genitivo, acusativo, dativo e ablativo. A ordem antiga, preferida na América do Norte (adoptada por Allen e Greenough, Kennedy ou Wheelock; nas gramáticas portuguesas, seguida por Freire), é: nominativo, genitivo, dativo, acusativo, ablativo e vocativo. Na Europa, Cart et al.32, Gaillard e Cousteix33, Griffin34, Guisard e Laizé35,

Morwood36, entre outros e, em Portugal, Borregana e Lopes seguem a

ordem nominativo, vocativo, acusativo, genitivo, dativo e ablativo. Usada nos métodos (europeus) Ecce Romani, Cambridge Latin Course, Oxford Latin

Course e Lingua Latina Per Se Illustrata parece ser a ordem pedagogicamente

mais eficaz porque junta o maior número de casos com terminação igual (e por isso melhor para a memorização). Os capítulos sobre a sintaxe dos casos têm, todavia, uma disposição diversa: acusativo (pp. 288-294), dativo (pp. 295-300), genitivo (pp. 301-308), ablativo (pp. 309-315).

Apesar de se ter mencionado a posição do vocativo, a verdade é que Lourenço elimina este caso “para não sobrecarregar os paradigmas desta gramática com informação redundante” (p. 67)37. Do ponto de vista

pedagó-gico, pode ser perniciosa esta eliminação, sendo aconselhável escrever o seu nome ao lado do nominativo, como faz a gramática de Griffin.

Nos paradigmas de declinação, depois do modelo flexionado, surgem “Outros substantivos importantes desta subcategoria”: listas de palavras enunciadas com significado e género, que resulta numa redundância rela-tivamente ao vocabulário final. Merece também nota o facto de, nas tabelas de declinação e de conjugação, não sobressaírem graficamente as formas latinas, que estão em itálico, enquanto o que não é para referência nem memorização (categorias de género, número, caso, tempo, modo, etc.) está em negrito e em versaletes; causa ainda estranheza as tabelas de flexão verbal terem espaços em branco (se não existe futuro do conjuntivo, não há necessidade de haver lugar para ele na tabela).

31 F. oliVeira, “Modalidade e Modo”, in Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho,

2003, p. 265.

32 a. Cart, P. grimal, J. lamaison, r. noiVille, op. cit.

33 J. gaillard, J. CousteiX, Grammaire du latin, Paris, Nathan, 1992.

34 R. M. griFFin, Cambridge Latin Grammar, Cambridge, Cambridge University Press, 2008. 35 Ph. guisard, Ch. laiZé, Grammaire nouvelle de la langue latine, Paris, Bréal, 2001. 36 J. morWood, A Latin Grammar, Oxford, Oxford University Press, 1999.

37 T. Janson (A Natural History of Latin, Oxford, Oxford University Press, 2004), J.-F. R.

mondon (Intensive Basic Latin: A Grammar and Workbook, London, Routledge, 2015) e J. morWood (op. cit.) são outros exemplos recentes desta prática. No caso de Lourenço, é um estranho critério quando noutros pontos a gramática não tem escrúpulo em mostrar-se redundante (por ex., nas dezasseis páginas sobre o calendário).

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Ainda quanto ao tratamento das classes de palavras, nota-se que os capítulos são muito desiguais: há seis capítulos para nomes (designados “substantivos”) e nove para verbos. Não há qualquer menção de determinan-tes nem quantificadores (os numerais são um anexo de Varia), que são mais ou menos confundidos com os pronomes38, a seguir aos quais se

posicio-nam um capítulo sobre adjectivos39 e outro sobre advérbios. Preposições40

e conjunções são (compreensivelmente) tratadas no âmbito da sintaxe; não há menção de interjeições.

Os capítulos sobre nomes e verbos são exemplares quanto ao desen-volvimento de questões ligadas à flexão destas palavras, explicadas a partir da etimologia. Sabe-se que o estudante que se inicia no latim não decora as declinações e as conjugações mais rapidamente com informação desta natureza, mas esse estudo terá, pelo menos, uma profundidade histórico- -linguística que o professor deseja que crie raízes (é por isso legítimo ao leitor desejar o mesmo tipo de pormenor a respeito de advérbios, conjun-ções e preposiconjun-ções).

No capítulo “Introdução ao verbo latino” formulam-se declarações como “não perderemos tempo a explic[ar]” as categorias verbais de pessoa e número e que “só os verbos transitivos (os que admitem complemento directo) é que têm sistema completo das duas vozes” (p. 133), embora os verbos intransitivos também admitam formas passivas. No mesmo capítulo, lê-se, a propósito da enunciação dos verbos: “Esta é a norma anglo-saxó-nica. Não vejo utilidade na tradição, seguida noutros países, de acrescentar a estes quatro elementos a 2.ª pessoa do singular do presente do indicativo activo” (p. 134). A vantagem que o A. não vê diz respeito, por exemplo, à maior facilidade com que um estudante diferencia a conjugação de tema misto da conjugação de tema em consoante ou de tema em i (diferença que se torna mais intuitiva também nos verbos depoentes). Ainda sobre as dife-rentes conjugações temáticas, a NGL problematiza: “na realidade, a ideia de que existem quatro conjugações em latim induz parcialmente em erro, porque elas só são diferentes no presente, no imperfeito e no futuro” (p. 135). Assim reduzidas, parece que as diferenças não respeitam à flexão desses tempos no indicativo, imperativo, infinitivo, conjuntivo, particípios, etc.

38 Quando as palavras que funcionam como pronomes têm função de adjectivo

(acom-panhando o nome) chamam-se determinantes. A tradição gramatical latina em Portugal não adoptou ainda a designação de quantificador para os “determinantes que designam quantidade”.

39 Não é claro nem evidente o motivo por que os adjectivos não são tratados ao lado

dos nomes.

40 No capítulo (secção de sintaxe) sobre “preposições” (p. 281), o A. afirma que “Em

grego e alemão, as preposições podem reger um (ou mais) de três casos: acusativo, dativo e genitivo”: esta informação não é relevante, sobretudo porque a conclusão será: em latim, “as preposições regem somente dois [casos]: acusativo e ablativo” (p. 281). Assim, causa ou

gratia com genitivo não são interpretadas como preposições, mas como posposições (!) apenas

porque não se colocam antes do nome a que se referem (felizmente não se mudou o nome à preposição usada no meio do sintagma, como em summa cum laude).

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Os capítulos sobre verbos levantam, aliás, várias questões, que assim se esquematizam:

– O imperativo é tratado numa página, em que se afirma que “a 2.ª pessoa do plural no imperativo futuro passivo é raríssima; tem poucas ates-tações na época arcaica […] e desaparece no fim da época republicana” (p. 137); na página 164, lê-se novamente: “o imperativo é raro no futuro (raríssimo no futuro passivo)”: se a forma é rara, porquê dar-lhe mais atenção do que ao vocativo?

– Ao tratar do supino, define-se etimologicamente a palavra (em texto, desenvolvendo em rodapé com citação de bibliografia), terminando com um parêntesis: “Em boa verdade, essa explicação teórica não ajuda especial-mente na compreensão do supino” (p. 141). Teria, provavelespecial-mente, sido mais prudente a definição etimológica de defectivo (a propósito dos verbos, p. 205) ou depoente41 (p. 210), tendo em vista compilar “informação que possa,

real-mente, ser útil” (p. 11)42.

– Ao afirmar sobre os particípios “declinam-se e usam-se como adjec-tivos” (p. 143), esquece-se o seu uso como verbo, núcleo de oração, com um sujeito e que selecciona complementos, que é todavia mencionado na página 358.

– É certo que amare equivale ao nominativo de um paradigma que se completa com o gerúndio (p. 140), mas também é verdade que o gerúndio no acusativo não tem a função de complemento directo (pois é essa também uma das funções do infinitivo), indicação ausente do corpo da NGL.

– A informação é excessivamente segmentada no tratamento do gerun-divo (p. 144), que tem um parágrafo inteiro (numerado) a informar que em mais quatro páginas se falará da substituição do gerúndio pelo gerundivo; pelo contrário, ao tratar do ablativo absoluto (pp. 271-272) não se informa o leitor de que se voltará a referir a construção nas páginas 312-313. Quando começa o capítulo sobre o futuro, afirma-se: “Na p. 149, vimos que a razão pela qual o conjuntivo em latim (e em grego) não tem futuro é que, em fase antiquíssima da língua, o conjuntivo era ele próprio uma forma de futuro”

41 Sobre os verbos depoentes (pp. 210-213) parece faltar informação essencial na

prepa-ração do leitor: em momento nenhum se diz que são verbos com sintaxe de voz activa (“sentido activo”, p. 210, pode não ser suficiente), com um sujeito que “pratica” a acção e um comple-mento directo quando são verbos transitivos (e não agente da passiva ou sujeito no qual recai a acção, como sucede nas construções passivas).

42 Noutros momentos, há observações que parecem extemporâneas, como a informação

de que “No século V d. C., um bispo cristão chamado Agrécio compôs um tratado intitulado

De Orthographia. Não deixa de ser sintomático que, no tocante a esta questão, ele tenha dado

a explicação errada ao afirmar que é no conjuntivo perfeito que o -i- é breve” (p. 152). Talvez sejam também desnecessárias notas como esta, a propósito da forma “dêictico”: “Nunca é de mais [sic] sublinhar que ‘deítico’, como se lê habitualmente, ostenta uma acentuação errada, já que o -ei- é um ditongo. As alternativas certas são: ou a grafia etimológica ‘dêictico’; ou então ‘díctico’; ou ainda, para quem não pronuncia o ‘c’, ‘dítico’” (p. 221, nota); ou ainda a nota da p. 253 onde se lê: “Claro que a intuição não constitui, só por si, um fundamento sólido na abor-dagem à morfologia do latim. Basta pensar na seguinte tradução ‘intuitiva’, com que me ri às gargalhadas há muitos anos, do primeiro verso da Eneida: ‘A arma, o varão e o cano que o meu primo trouxe de Tróia’”.

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(p. 163). Estas remissões internas fragmentam a exposição e desviam a atenção do leitor.

– Não haverá vantagem em enunciar o verbo sum com o particípio futuro (p. 146); na página 147, o leitor sente a falta da justificação da origem das formas do verbo ser em português (não que sejam necessárias numa gramática de latim, mas o A. alimenta essa curiosidade com as referências ao grego, ao francês e ao italiano43).

– Em dois parágrafos da página 148, o A. acrescenta informação rele-vante sobre formas arcaicas do presente do conjuntivo do verbo sum (sem sobrecarregar a gramática de informação quase irrelevante para a leitura de textos literários clássicos e pós-clássicos), mas, na página 150, não se explica a formação do imperfeito do verbo sum; na mesma página, lê-se que o morfema -va- do imperfeito do indicativo português provém de -ba- em latim, mas não é justificado o que aconteceu às nossas segunda e terceira conjugações, que não exibem essa marca morfológica.

– Na quantidade e pormenor de informação, causa estranheza, uma vez mais, que se considere pertinente afirmar que a desinência -ere (por -erunt) no perfeito do indicativo está “bem documentada no latim da época repu-blicana (em inscrições e no SCdB)” (p. 176), presente ainda nalguns poetas, mas não se diga que esta é a terminação que se encontra em autores como Salústio e Tácito (que não usa a outra).

– Na consideração dos perfeitos formados por alongamento da vogal, não há comentário ou explicação de mudança de timbre de ago para egi,

frango para fregi ou facio para feci (mantendo lavo, lavi ou sedeo, sedi a

mesma vogal, alongando-a).

– Com o argumento de se pretender “evitar a controvérsia quanto à sua nomenclatura”, é ambíguo que se chame “vogal breve” à vogal de ligação (p. 159, em nota; na p. 168 é claro que onde se diz que “o latim desenvolveu a nossa já conhecida vogal breve” deveria ler-se “vogal de ligação”). Não parece haver controvérsia (na linguística contemporânea nem na gramática tradicional portuguesa) no que respeita a “vogal de ligação”; com efeito, se o A. não viu necessidade de distinguir “índice temático” de “vogal temática”, estas observações quanto à vogal de ligação permanecem sem fundamento.

Já se mostrou que a gramática exibe fragilidades do ponto de vista da linguística teórica. Em alguns passos, todavia, parece que apenas a tradição portuguesa ou francesa (fora do campo de estudo anglo-saxónico e germâ-nico) é alvo de crítica: “Em relação aos verbos, utilizo “tema” de forma simplificada, como equivalente ao termo inglês stem. Poder-se-ia decompor uma forma como amas em radical am + vogal temática a + desinência -m44;

43 Existem muitas situações em que se recorre ao grego para explicar algum aspecto da

morfologia latina (por ex., pp. 92, 145, 179), o que é um erro metodológico, embora reconheça que poderá suscitar a curiosidade do leitor quanto ao grego (se bem que, sem conhecimento do alfabeto, de nada lhe serve). É pouco crível que esta quantidade de informação sobre uma língua que o leitor desconhece e que não está a aprender ajude a perceber o latim que está a estudar.

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ou, de acordo com outras teorias, radical ama + desinência -m. Não que-rendo entrar nessa discussão, opto por manter a terminologia tão simples quanto possível” (p. 159, em nota45) – mas a simplicidade não pode produzir

ambiguidade e incerteza.

Noutro lugar, verifica-se a confusão entre palavras formadas por com-posição e por derivação: respondeo não é composto de spondeo (p. 178), mas seu derivado. Os verbos “compostos de sum” (p. 194)46 ou “compostos de eo”

(p. 199) são na realidade igualmente derivados. São derivadas todas as pala-vras que se formam com acrescento de prefixo e de sufixos, e compostas as palavras formadas por mais do que um radical (tanto na gramática tradi-cional como na linguística contemporânea). Nesse aspecto, a NGL, no capí-tulo sobre substantivos compostos, ao subcategorizar “Substantivos com-postos em que ambas as partes constituintes declinam” e nomes “em que só uma das partes constituintes declina”, mostra que composição é diferente de derivação.

No que respeita à classe dos pronomes, a terminologia desta gramá-tica é a mesma do período crigramá-ticado na introdução: “pronome interrogativo de função adjectival” (pp. 227, 228) em vez de “determinante interrogativo” era como se dizia no ensino do Estado Novo, tal como “adjectivos prono-minais”. Como não identifica os quantificadores com a classe correcta, o A. apresenta-os deste modo: “Trata-se de um grupo de vocábulos que apre-sentam a excentricidade de misturar, no singular, a 2.ª e a 3.ª declinações”, “excentricidade […] partilhada com os numerais” (p. 236), ou seja, repita-se, a classe de quantificadores.

Nos pronomes pessoais, não é claro o objectivo com que se comparam as formas do sânscrito, do grego, do latim, do alemão e do inglês. Se a gramá- tica serve o propósito de explicar a língua latina, mesmo que recorra a algumas informações etimológicas, fazer disso um quadro, que é introdu-zido por uma formulação como “a reconstrução teórica […] esbarra contra a multiplicidade de formas” (p. 214) parece apenas excessivo.

Não é explicado o conceito de pronome reflexo (pp. 218, 265), noção que um professor de Latim sabe como é difícil para os alunos compreen-derem. O mesmo se diga a respeito do pronome relativo, cujo conceito não é esclarecido. Seria ainda de repensar a enunciação da regra de concordância segundo a qual “O pronome relativo concorda com o antecedente em género e número, mas surge no caso exigido pela função sintáctica desempenhada na oração” (p. 340), reformulando-a para a sua justificação: o pronome rela-tivo toma o género, número e caso da palavra que substitui, se ela estivesse expressa.

Só depois dos pronomes surge o capítulo dos adjectivos (pp. 231-242), no qual não se diz como se enunciam, mesmo que essa informação tenha

45 Na p. 342, “oração relativa de caracterização” (uma oração relativa com função

sintác-tica típica de adjectivos) merece uma nota de rodapé onde se lê: “Na terminologia anglo-saxó-nica, ‘relative clause of characteristic’”.

46 Os derivados de sum não surgem completamente enunciados e por isso o leitor não é

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sido dada com pormenor a propósito dos nomes e dos verbos (criando entro-pia com enunciações semelhantes, em particular com a dos particípios e dos pronomes possessivos). Dos graus dos adjectivos apenas são mencionados o comparativo e o superlativo de superioridade (não se faz menção de que existem outros). Em página e meia, surgem informações sobre o superlativo de superioridade dos adjectivos da 1.ª classe terminados em -er e a indi-cação de que facilis, difficilis, gracilis, humilis, similis e dissimilis têm dois

ll nesse grau (sem dizer porquê47). Desafortunadamente, nada se diz sobre

o superlativo relativo de inferioridade, o comparativo de inferioridade e igualdade; falta a distinção entre superlativo absoluto e superlativo relativo.

No capítulo sobre advérbios, fala-se de “advérbios formados a partir de adjectivos” (p. 243) sem se esclarecer que são advérbios de modo. Depois da formação de advérbios a partir de adjectivos, o A., que deu abundantes informações etimológicas a propósito dos nomes, não explica a origem de advérbios como diu, iam, semper (p. 244). Teria ainda valido a pena distin-guir os advérbios de negação (p. 246) porque não exibem todos o mesmo comportamento (na p. 272 mistura-se o advérbio de negação non com a con-junção ne). No fim, fala-se de “advérbios oxítonos” (pp. 248-249), fundindo categorias semânticas (“advérbios de limitação”, “advérbios de causa”, etc.) com aspectos fonéticos; esta lista desses advérbios não tem tradução e não se menciona que são advérbios de lugar (tratados em mais parte nenhuma do livro).

“Da língua saem as maledicências, as injúrias, as blasfémias, as men-tiras, os perjúrios […]. Por outra parte, tem a língua soberanas excelên-cias, é intérprete do coração, oráculo dos pensamentos, chave da memória, parteira dos conceitos, vivo prelo das palavras, freio da prudência e leme da razão”48: a dimensão expressiva das línguas é infinita e as páginas da NGL de Lourenço são disso testemunho, pois diversas vezes o A. afirma

que a finalidade da aprendizagem do latim é ler textos nessa língua, sobre-tudo a sua literatura, mas também documentos de outros registos, de onde resulta a amplitude de exemplos provindos de textos literários, de Énio a Santo Agostinho49, a que junta, tal como Pimentel, Espírito Santo e Beato50,

Wheelock51 e English e Irby52, alguns exemplos epigráficos e graffiti, no

con-texto das quais se debatem questões de norma e erro (mais correctamente,

47 Torna-se algo incompreensível esta afirmação do Preambulum: “o enfoque está no

‘porquê’ das coisas, porque não me parece motivante pôr diante de discentes uma língua cheia de complexidades gramaticais sem dar a ver a sua razão” (p. 11).

48 J. P. silVestre, op. cit., p. 46.

49 Existe um exemplo de Descartes (p. 261) e a antologia de textos inclui o epitáfio de

Gregório V; no entanto, a NGL não explora as alterações do sistema linguístico além de Agostinho, sendo por isso desadequada para a leitura de textos medievais, renascentistas e modernos.

50 M. C. C.-m. s. Pimentel, a. do esPírito santo, J. Beato, Sic Incipitur: Curso Elementar

de Latim, Lisboa, Colibri, 1998, pp. 67-108.

51 F. M. WheeloCk, Latin, rev. Richard LaFleur, 7.ª ed., Nova Iorque, Collins, 2011. 52 M. C. english, g. l. irBy, Little Latin Reader, 2.ª ed., Oxford, Oxford University Press,

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deveria porventura falar-se em “desvio” ou “variante”)53. Talvez os exemplos

de oração relativa com indicativo e do falécio pudessem ter sido mais deco-rosos (nas línguas vivas também há calão, mas não é ensinado na escola). Ainda assim, e tal como na gramática de Freire, todos os exemplos da NGL são autênticos (cuidadosamente traduzidos54, sendo marcadas as

quantidades de todas as vogais longas), ao contrário do que, seguindo uma tendência da tradição francesa, as outras gramáticas escolares portuguesas têm feito55. Um aspecto muito positivo dos exemplos da secção da sintaxe

diz respeito ao acrescento do vocabulário logo abaixo das frases em latim, “para permitir uma decifração mais motivante das citações propostas” (p. 259, nota)56. Tal prática acompanha o paradigma da obra Little Latin Reader, de onde se retiram alguns exemplos57.

A terceira secção, Varia, inclui um capítulo muito pouco desenvolvido (e que poderia, como anteriormente mencionado, estar junto de outros quan- tificadores na Morfologia), acerca dos “Numerais” (pp. 367-370). Talvez o capítulo sobre “Noções de fonética histórica do latim” (pp. 371-382) pudesse ter evitado fazer juízos de valor sobre a pronúncia (cuja descrição deveria ser um trabalho de fonética e não de estética). Os capítulos “Noções de métrica latina: poesia”58 (pp. 383-406), “Noções de métrica latina: prosa” (pp. 407-413),

“Datas Romanas” (pp. 414-429), “Abreviaturas romanas” (pp. 430-432), “Vocabulário essencial da língua latina” (pp. 433-467) e “Antologia de textos” (pp. 468-495) não tratam de assuntos linguísticos, embora tradicionalmente muitas gramáticas incluam informações semelhantes em anexos.

53 Seria de questionar a pertinência da inclusão deste tipo de texto, por vezes desviante

da norma, como modelar e representativo das regras da gramática que o estudante necessita conhecer para ler sem constrangimentos em latim. No entanto, o leitor fica desde cedo com consciência de que a língua, tal como os romanos escreviam, não tinha o aspecto que se encontra cristalizado nos livros, tratando-se antes de uma língua sujeita a variações como qualquer outra. Além disso, é há muito reconhecido o valor didáctico das inscrições como textos de sen-tido completo, existindo até um método construído com esses textos (M. hartnett, By Roman

Hands, Indianapolis, Focus, 2012).

54 Mencione-se apenas que o exemplo quo usque tandem, Catilina, abutere patientia

nostra? (p. 211) não traduz tandem (numa obra didáctica a tradução deve ser o mais literal

possível); os exemplos erit ille mihi semper deus (p. 216) e vetus oppidum et nobile (p. 231) não estão traduzidos.

55 Optando por reduzir os exemplos a expressões mínimas do fenómeno que se pretende

ilustrar, em inícios dos anos 60 do século XX, no sistema de ensino francês, todas as regras gramaticais passaram a ser representadas por exemplos típicos que sintetizavam as constru-ções sintácticas. A gramática de H. Petitmangin, revista em 1963 por P. Coussin, é um exemplo desse fenómeno, parcialmente importado para Portugal por Almendra e Figueiredo.

56 No entanto, nem sempre é apresentado o significado adequado ao contexto do exemplo

(e as frases das pp. 264-265 não têm vocabulário, que regressa a partir da p. 266).

57 Outros são retirados das obras de J. N. Adams, creditadas na bibliografia.

58 Na métrica, a NGL evidencia-se como a melhor síntese em manuais deste tipo

(só A. traina, g. B. Perini, Propedeutica al Latino Universitario, 6.ª ed., Bologna, Pàtron, 2016, pp. 251-287 têm uma exposição mais completa). Na bibliografia, sobre métrica e cláusulas métricas, é de realçar o tratado de Nougaret, citado pela primeira edição de 1948 (em vez da 4.ª edição em vida do autor, em 1986, com correcções).

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Não se encontraram exemplos de gramáticas com um vocabulário com as características com que Lourenço elabora o seu “Vocabulário Essencial da Língua Latina”. Com efeito, Morwood59 e Griffin60 apresentam um

voca-bulário com interesse funcional para a gramática, reunindo léxico usado nos exemplos e exercícios, e não com o propósito de decorar as palavras. Desde o início da obra, Lourenço manifesta-se legitimamente preocupado com a questão da aquisição de vocabulário; no entanto, embora alguns métodos recentes para a aprendizagem do latim menorizem o tema, a solução pro-posta pelo A. é decorar uma lista de vocabulário avulso, sem a utilização das palavras em contexto (a partir do qual uma palavra se compreende, bem como os seus cambiantes), prática que tem dado poucos resultados posi-tivos na pedagogia das línguas segundas e parecia ultrapassado. No que respeita ao latim, acentue-se que o sucesso de métodos como Lingua Latina

Per Se Illustrata, de Hans Ørberg, incide exactamente na forma como o

vocabulário é apresentado, definido por contraste ou associação com outras palavras que o aluno já conhece e, muitas vezes, recorrendo a ilustrações. E deste modo, surgindo as palavras diversas vezes ao longo do texto, a aqui-sição do vocabulário é natural e semelhante à aprendizagem do léxico na língua materna.

Do vocabulário propriamente dito, poderiam acrescentar-se palavras com alta frequência de uso: capillus, chorus, cibus, digitus, dominus, inimicus,

libellus, lyra, magister, materia, minister, mora, mundus, musa, natus, nympha, opera, ora, polus, provincia, pugna, rota, ruina, stella, tenebrae

(con-frontado com Williams61); ou (recolhendo em Gaffiot as palavras

fundamen-tais) aequus, agito, alienus, alius, altus, an, aptus, at, atque, certus, circa,

modo, per, premo, quisque, sensus, signum, sisto, solvo, spiritus, sub, subiicio, succedo, super, supra, tempero, voco, entre muitas outras. Por seu lado, interest deveria estar enunciado como intersum e videtur como videor; par

surge enunciado com o genitivo dentro de parênteses, saindo do paradigma normal que utiliza vírgulas; quin e quominus não têm significado, mas apenas remissão, enquanto em qui, quae, quod não se remete para o para-digma de flexão nem para a oração relativa; quod também introduz oração completiva, mas essa indicação está ausente. Simultaneamente, palavras que têm a mesma forma que em português poderiam ser facilmente dispen-sadas (grammatica, poeta, rosa, sol), mesmo que se alegue que a sua inclusão permite o conhecimento da declinação a que pertencem.

Teria sido mais proveitoso optar por outra estratégia na apresentação do vocabulário: uma lista de raízes (como em Lewis62, devidamente

actuali-zada), prefixos e sufixos (mas para isso a gramática precisaria de um capí-tulo sobre formação de palavras). Note-se, por fim, que a definição de alguns

59 J. morWood, op. cit., pp. 155-171. 60 R. M. griFFin, op. cit., pp. 111-119.

61 m. a. e. Williams, Essential Latin Vocabulary: The 1,425 Most Common Words

Occur-ring in the Actual Writings of over 200 Latin Authors, California, Sophron, 2013.

62 C. t. leWis, An Elementary Latin Dictionary, Oxford, Oxford University Press, s/d,

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termos ao longo da obra não coincide com os desta lista. Definir parens,

parentis como “parente” (p. 91) parece, por sua vez, desajustado, pois, como

a própria gramática regista na página 455, o sentido é de “progenitor(a)”.

Cornu é traduzido por “chifre” nas páginas 122, 123 e 124 mas por “corno”

na página 439.

Foram já apontadas algumas ausências bibliográficas da NGL; no entanto, não fora o adjectivo “nova” no título e a promessa de uma “gramá-tica actualizada”, talvez se dispensasse um comentário demorado às três páginas de referências bibliográficas63. Em primeiro lugar, é evidente que

a bibliografia desmente as críticas que a gramática faz aos materiais de que dispomos para a aprendizagem do latim em Portugal: se se condenam os métodos do tempo de Salazar (compreende-se que se critiquem alguns textos propostos para leitura ou mesmo a natureza doutrinária de alguns exemplos, mas de resto é uma observação que excede a dimensão linguís-tica, pelo que não é este o espaço para a debater), a principal bibliografia da

NGL foi produzida entre o final do século XIX e meados do seguinte.

Estão ausentes as obras recentes que se anunciam como actualizações dos estudos canónicos (sendo de lamentar, por exemplo, o uso de Buck, mencionado na p. 149, em vez de Sihler ou de Baldi; Pinkster, que actualiza Kühner, é, como se viu, subaproveitado). Na página 273, o A. admite que o estudo da sintaxe latina, “idealmente, deveria ser alicerçado na leitura de

A New Latin Syntax, de E. C. Woodcock”. No entanto, a proposta da NGL

para a sintaxe não segue este modelo, optando pelo de Morwood, de que por vezes se aproxima textualmente. Também ausente está, como se viu, a

Syntaxe Latine de Ernout e Thomas.

Apesar da importância dada não só à aquisição de vocabulário como à leitura de textos não canónicos, o único dicionário da bibliografia é o

Oxford Latin Dictionary; Ernout e Meillet não são nomeados como autores

do Dictionnaire étymologique de la langue latine (mencionado nas abrevia-turas, mas ausente da bibliografia). Sabe-se que todos os dicionários de latim-português (sobretudo o de Torrinha e o de Gomes Ferreira) têm problemas metodológicos e limitações, mas quem está a aprender (ou a recordar) latim poderá não estar disponível para o uso de obras lexicográ-ficas estrangeiras. Assim, uma nota sobre dicionários seria bem-vinda, tal como a referenciação dos dicionários de Gaffiot64 e de Conte, Pianezzola

e Ranucci65.

“Tem a língua suas horas; em umas deve calar e deve falar em outras, mas nunca tem hora para dizer tudo”66: assim também as gramáticas. Esta,

63 As gramáticas latinas em Portugal são parcas em bibliografia, que se resume

sobre-tudo a obras similares, ou seja gramáticas de carácter geral, muitas vezes francesas. Borregana tem uma página de referências, e o Compêndio de Almendra e Figueiredo deixou de mostrar bibliografia na edição de 1978.

64 F. gaFFiot, Le Grand Gaffiot: Dictionaire Latin-Français, rev. coord. P. Flobert, Paris,

Hachette, 2000.

65 G. B. Conte, e. PianeZZola, g. ranuCCi, Dizionario della Lingua Latina, Florença, Le

Monnier, 2004.

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apesar das suas 505 páginas, não diz tudo sobre a língua latina, nem este texto regista todas as objecções metodológicas, científicas e pedagógicas que a leitura da NGL levanta, nem é esse o seu propósito. Nesse sentido, reco-nheço que uma leitura alternativa deste livro, enquanto obra de divulgação, testemunho devoto de um amor à língua, esforço para que o Latim reen-contre o seu lugar na nossa vida (qualidades que ninguém poderá negar ao trabalho de Frederico Lourenço) conduziria a conclusões muito diferentes das que a análise linguística permitiu.

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COMMENTATIONES

La Antígona de Eurípides y el P. Oxy. 3317 – Carmen morenilla / núria llagüerri .. 9

Más allá de las formas del amor: γάμος y ἔρως en Suplicantes de Esquilo – maría del Pilar FernándeZ deagustini ... 31

Exemplum Pietatis: Lausus in the Aeneid – lee Fratantuono ... 53

There’s something fishy about Philaenis: Martial 9.62 and related epigrams – daniel lóPeZ-Cañete Quiles ... 69

El prólogo de la Expositio quattuor Euangeliorum atribuida a Jerónimo (CPL 631 y CLH 65): presentación, edición crítica y comentario – José CarraCedo-Fraga .. 93

Le parole del pianto nella poesia di Venanzio Fortunato – FranCesCa d’angelo ... 119

Le fonti del sesto libro del De rerum naturis: le fondamenta dell’opera di Rabano Mauro – Camilla Bertoletti ... 161

La medida del pie romano: nota de crítica textual sobre un problema filológico-mate-mático de la Repetitio Sexta de Mensuris de Nebrija – José maría maestre maestre ... 191

De muscipulis et caveis. The cage and the mousetrap as pictorical and literary motifs in neo-latin emblem books – Carlos PéreZ gonZáleZ ... 221

La representación simbólica de la paz: la disputa por el patronazgo de Atenas en los Emblemata (Fráncfort, 1596; Heidelberg, 1600) de Denis Lebey Batilly – BeatriZ antón ... 247

II STVDIA BREVIORA The Adjectives ὅσιος and ἀνόσιος referring to Divinities in Euripides – ana C. ViCente sánCheZ ... 273

Ov. Met. 8.647: una proposta esegetica – alessia maria sCalera ... 279

Note testuali a Seneca, De brevitate vitae – giusePPe russo ... 287

Referências

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