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Metáforas multimodais de economia em textos e imagens em contexto de tradução

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Academic year: 2021

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Agradecimentos

A elaboração de uma tese de mestrado não constitui um ato isolado, mas antes uma confluência de saberes, pelo que gostaria de prestar o meu tributo a quem, com carinho e entusiasmo, teve participação no processo.

À Senhora Professora Doutora Clotilde Almeida, agradeço a partilha do seu infindável saber, a generosidade humana assinável, bem como todas as críticas construtivas à versão preliminar da tese.

À minha colega e amiga Shen Huimin, agradeço o trabalho académico que desenvolvemos juntas durante a frequência do mestrado, bem como a partilha de conhecimento.

Ao meu amigo Lino Afonso, cujos conhecimentos de economia constituíram um precioso apoio técnico às questões relacionadas com a crise económica que foram tratadas na presente tese.

À minha filha, pilar da minha vida, agradeço o constante incentivo, e à minha querida neta agradeço as palavras entusiastas e a sua curiosidade pelo constante saber.

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Resumo

A presente tese de dissertação envereda pela análise semântica das imagens metafóricas da crise económica na blogosfera, bem como em sites de economia, à luz da abordagem cognitiva. Na base desta abordagem, preconiza-se que o significado linguístico é claramente condicionado pelas dimensões da experiência humana, ou seja, pela situação económica de crise e suas consequências a nível global.

Na base do enfoque cognitivo, as imagens metafóricas da crise económica foram analisadas por diversos autores como realizações de três domínios-fonte, da GUERRA, da DOENÇA e da CATÁSTROFE NATURAL. Um estudo mais recente, as metáforas multimodais em cartoons editoriais representando a crise económica da autoria de Bounegru/Forceville (2011) destacou três domínios-fonte, a saber, CATÁSTROFE/DESASTRE NATURAL; DOENÇA/MORTE e IMPLORAR.

A presente investigação teve por objetivo desconstruir 30 cartoons sobre a crise económica à luz das metáforas multimodais, enquanto ferramentas de tradução num mundo globalizado. Assim sendo, foi apurada a vigência de duas metáforas multimodais dominantes, CRISE ECONÓMICA É CATÁSTROFE NATURAL e CRISE ECONÓMICA É QUEDA, a partir das quais se estabelece uma plataforma de entendimento desta situação dramática, transversal a diversas línguas e culturas.

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PALAVRAS-CHAVE: metáforas de economia; cartoons da crise económica; metáforas multimodais.

Abstract

The present dissertation deals with the semantic analysis of multimodal metaphoric elaborations images portraying the economic crisis situation in the blogosphere and in economic websites in the light of the cognitive approach. Hence, under the lens of this paradigm it is argued that conceptual meaning is undissociable from life experiences of the financial crisis and its consequences at a global scale.

From the cognitive perspective, metaphoric images depicting the economic crisis were analysed by several authors, arriving at the conclusion that their source domains were WAR, ILLNESS and NATURAL CATASTROPHE. In a more recent study, multimodal metaphors in editorial cartoons representing the economic crisis by Bounegru/Forceville (2011) three main source domains of metaphorical mappings stood out, namely CATASTROPHE/(NATURAL) DISASTER; ILLNESS/DEATH and BEGGING.

The focus of the present dissertation lies upon the deconstruction of multimodal metaphors displayed in economic crisis cartoons, which arguably operate as translation tools in a globalized world. Two dominant multimodal metaphors have emerged ECONOMIC CRISIS IS NATURAL CATASTROPHE and ECONOMIC CRISES IS FALLING DOWN, from which this dramatic situation can be cross-culturally understood.

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Key-words: economic metaphors; economic crisis cartoons; multimodal metaphors.

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Índice

Introdução ... 6

1 — Caracterização da metáfora à luz do paradigma cognitivo ... 8

1.1 — A metáfora sob o prisma realista objetivista aristotélico ... 8

1.2 — Realismo experiencial: teoria da metáfora conceptual ... 9

2 — Metáforas monomodais e multimodais de Economia ... 12

2.1 — Breve introdução aos mercados mundiais ... 12

2.2 — A metáfora monomodal no texto económico ... 13

2.2.1 — Metáfora estrutural ... 15

2.2.2 — Metáfora orientacional ... 16

2.2.3 — Metáfora ontológica ... 16

2.2.4 — O caráter persuasivo das metáforas ... 17

2.3 — A metáfora multimodal ... 17

2.4 — O estado da arte: abordagem cognitiva da crise económica ... 20

2.4.1. — ECONOMIA É MÁQUINA ... 21

2.4.4 — Metáfora multimodal ... 25

3 — As metáforas monomodais na área da economia ... 26

3.1 — Metáforas monomodais da crise económica ... 26

3.2 — Análise semântica das metáforas conceptuais e das realizações metafóricas na imprensa portuguesa ... 28

3.3 — Domínio-fonte da DOENÇA ... 29

3.4 — As metáforas multimodais da crise económica ... 37

3.5 Cabeçalhos e Cartoons na imprensa económica: evidências de mesclagem .... 38

4 — O paradigma cognitivo aplicado à análise de cartoons económicos . 41 4.1 - Domínio-Fonte das metáforas económicas: ECONOMIA É GUERRA 41 5 — Análise multimodal dos cartoons de economia à luz do paradigma cognitivo ... 47

5.1 — Metáforas orientacionais – CRISE ECONÓMICA É QUEDA ... 47

6 - Algumas considerações sobre a conceptualização da crise económica ... 85

7. Observações finais ... 88

Sitografia ... 90

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Introdução

A linguagem é um processo multifacetado que é definida como um sistema construído, regulado pela interação entre experiências socioculturais do sujeito com a respetiva estrutura cognitiva. Por outras palavras, a linguagem surge das relações estabelecidas entre vivências e a sua construção mental de índole fortemente metafórica, conforme estabelecido no enquadramento cognitivo desenvolvido no ponto 1. Nele se elabora uma sumula histórica.

A partir desta perspetiva, apresenta-se, no presente capítulo, uma súmula histórica que começa com a definição aristotélica de metáfora no século IV a.C que culmina na criação de um conceito contemporâneo de metáfora conceptual, desenvolvido por George Lakoff /Mark Johnson (1980) e estudos subsequentes de diversos autores.

No ponto 2 intitulado metáforas monodais e multimodais de economia são abordadas as principais metáforas conceptuais que superintendem o texto económico, em regime monomodal e multimodal.

No ponto 3 são analisadas as metáforas monomodais na área da economia conforme, investigação realizada por diversos autores especial destaque merece o estudo de cabeçalhos e cartoons económicos da autoria de Bröne/Feyearts (2006).

O ponto 4 é dedicado ao estudo da metáfora conceptual ECONOMIA É GUERRA.

Já o ponto 5 consiste na análise multimodal do corpus de 30 cartoons, seleccionados a partir de uma recolha na blogoesfera e em sites de economia, durante um período de 11 meses.

E, por fim, as observações finais que radicam na conclusão de que os cartoons económicos privilegiam as realizações multimodais das metáforas conceptuais

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CRISE ECONÓMICA É CATÁSTROFE NATURAL e CRISE ECONOMICA É QUEDA.

Tendo por base uma interligação entre significado e experiência, estes autores conceberam a Teoria da Metáfora Conceptual (TMC) proposta por Lakoff/ Johnson (1980), estabeleceram os mapeamentos conceptuais que norteiam a construção das imagens metafóricas, tendo por base a sua natureza cultural e social.

Acreditamos que as metáforas conceptuais formam da construção de dimensões consideráveis da linguagem, bem como da linguagem técnica (conforme Faber 2012). Nesta perspetiva, pretendemos cursar o estudo das metáforas não enquanto ornamentos estilísticos, mas enquanto pilares do sistema conceptual culturalmente partilhado.

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1 — Caracterização da metáfora à luz do paradigma cognitivo

Enveredamos, em primeiro lugar, pelas várias abordagens que colocaram a metáfora como centro da conceptualização humana do mundo. Trata-se necessariamente de uma abordagem sumária, em face do enorme acervo bibliográfico que foi produzido nos últimos 40 anos, no seio do paradigma cognitivo.

1.1 — A metáfora sob o prisma realista objetivista aristotélico

A palavra metáfora tem origem no grego, onde significa quer em sentido próprio, quer em sentido figurado uma ação de “transporte”. (Machado, 1987: 118). Como já referimos, a primeira definição de metáfora foi desenvolvida por Aristóteles e data do século IV a.C. De acordo com o filósofo, “o processo de construção da metáfora consiste no transportar para uma coisa o nome de outra [...]” (Aristóteles, 1996:92).

A teoria aristotélica é objetivista, na medida em que postula que a realidade não depende da consciência, sendo captada pelos sentidos, e que argumenta que a essência das coisas reside nas próprias coisas. Com Aristóteles, tem início o esforço sistemático em analisar a estrutura do pensamento enquanto algo capaz de forjar linguagem. Neste sentido, Aristóteles faz uma distinção entre linguagem poética e linguagem formal. Da primeira, considerada um dom especial dos poetas, fariam parte elementos da linguagem figurada que, assim como as metáforas, detinham a capacidade de confundir o homem.

Para dar um exemplo, significa isto que se analisássemos, numa ótica aristotélica, o poema de Camões “Amor é fogo que arde sem se ver”, que continua “é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente...”, constataríamos que as frases que o constituem mais não são que um jogo de palavras, uma vez que a essência do amor estaria no próprio amor e não no fogo ou na ferida.

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Nesta perspetiva, as relações feitas pelo poeta para explicar o amor (amor-fogo; amor-ferida; amor-contentamento descontente) distanciar-se-iam do mundo real e usurpariam a substância individual do conceito de amor.

O papel da metáfora na comunicação humana, devidamente sublinhado pela abordagem aristotélica, acabou por assumir uma posição de destaque nos estudos cognitivos, nos dias de hoje. No seio da Linguística Cognitiva preconiza-se que a linguagem preconiza-se depreconiza-senvolve a partir das relações existentes entre o corpo humano e as nossas experiências no mundo. Neste sentido, na senda de Lakoff/Johnson (1980), Silva (1997:59) assinala que as unidades e as estruturas da linguagem são estudadas não enquanto entidades autónomas, mas enquanto manifestações de capacidades cognitivas gerais, da organização conceptual, de princípios de categorização, de mecanismos de processamento e da experiência cultural, social e individual.

1.2 — Realismo experiencial: teoria da metáfora conceptual

Na obra Metaphors We Live By, Lakoff/Johnson (1980) desenvolveram os alicerces da Linguística Cognitiva na base da Teoria da Metáfora Conceptual (TMC). No âmbito desta teoria, a metáfora, entendida como sendo um elemento multidimensional é o resultado de interações entre processos cognitivos, experiências físicas, fatores socioculturais e elementos linguísticos.

Por outras palavras, esta conceção “(...) evidencia uma interdependência entre corpo e mente no processo de formação da nossa linguagem” (Santos, 2011: 18). Lakoff/Johnson (idem) postulam que a metáfora se afigura antes de tudo conceptual, sendo que, a partir dela, se podem construir diversas realizações linguísticas.

Neste sentido, é definida como “(...) um dos mais importantes instrumentos para tentar compreender parcialmente o que não pode ser compreendido na sua totalidade: os nossos sentimentos, as nossas experiências estéticas, as nossas práticas morais e a nossa consciência espiritual (...)” (Lakoff/Johnson, 2002:303).

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As metáforas conceptuais resultam da capacidade de se realizarem projeções entre domínios, isto é, em atribuir a conceitos mais abstratos, elementos mais próximos da sua própria realidade.

Uma expressão do tipo “Hoje estou pra cima!”, por exemplo, revela a habilidade da natureza humana em utilizar várias estratégias cognitivas no intuito de simplificar a compreensão daquilo que foi dito (FELIZ É PARA CIMA). Deste modo, a construção conceptual resultante das ligações existentes entre um estado de espírito de felicidade está orientada para cima, minimizando possíveis dificuldades no ato de expressar e de compreender um sentimento abstrato deste tipo.

Estas projeções conceptuais de orientação espacial decorrem da compreensão que se tem sobre a relação entre o corpo humano e a conceptualização do mundo que, ou seja, sobre a ligação existente entre corpo e mente. Neste sentido, “[...] a cognição humana é baseada na corporalidade, o que ajuda a determinar a natureza da compreensão e do pensamento” (Duque e Costa, 2012:148).

É através da experiência com o corpo que se constroem, por exemplo, enunciados do tipo “eu estou a explodir de raiva!”. Desta expressão metafórica, observamos que a metáfora conceptual “RAIVA É UM FLUIDO NUM CONTENTOR” (cf. Kövecses 1986) emerge da projeção entre o domínio- fonte- da raiva e o domínio-alvo do fluido num contentor, visando ilustrar o que acontece com alguém que experiencia esta emoção.

Expressões como esta são construídas a todo o instante, de modo quase inconsciente, pelas ligações estabelecidas entre a mente humana, as experiências físicas e o contexto sociocultural. É por meio deste engenhoso sistema cognitivo-cultural que produzimos a linguagem e, mais do que isso, somos capazes de trabalhar com os mais diversos conceitos abstratos. Na ótica de Vilela (2002:70):

Os cognitivistas não pretendem fazer grandes incursões na história da metáfora ou estabelecer os caminhos percorridos pelos estudiosos da metáfora, mas tão somente definir de modo muito linear a metáfora, quer

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em si mesma, quer em relação à metonímia e sinédoque e sobretudo mostrar como estas três figuras – são fundamentais na construção da linguagem, quer como criações novas, quer como enriquecimento dos processos de configuração da realidade circundante: a existente e a emergente.

A perceção de que as metáforas conceptuais dizem respeito à capacidade de cada indivíduo em realizar projeções entre domínios conceptuais — isto é, em atribuir a conceitos mais abstratos elementos mais próximos d a sua própria realidade — potencia competências metacognitivas, tais como refletir sobre os processos cognitivos, e, consequentemente, desenvolver competências metalinguísticas.

Decorre daqui que refletir sobre o modo pelo qual pensamos e representamos o mundo otimiza o processo de aprendizagem, tornando-o ainda mais significativo.

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2 — Metáforas monomodais e multimodais de Economia

Dado que a economia é um domínio do saber altamente complexo e abstrato recorre quer a representações metafóricas monomodais emergentes metáforas conceptuais quer a representações multimodais em cartoons, superintendidas por processos de integração conceptual, vulgarmente designados processos de mesclagem, a fim de reproduzir a complexidade dos cenários económicos. Tentaremos explicar brevemente como funcionam esses mesmos cenários, primeiramente de forma relativamente simplificada.

2.1 — Breve introdução aos mercados mundiais

Ao longo destes últimos anos, proliferaram na imprensa escrita a nível mundial textos na área da economia, que emergiram da crise da dívida soberana europeia, em 2008, da crise do limite de dívida dos Estados Unidos, em 2011, bem como da crise da dívida pública da Zona Euro.

De forma algo surpreendente, uma das consequências da crise financeira e económica internacional de 2008-2009 foi a insolvência das nações ditas desenvolvidas. O grande aumento da dívida governamental fez estourar a capacidade de endividamento dessas nações e causou uma enorme turbulência financeira, ao provocar o temor de que essas nações não pudessem honrar os compromissos anteriormente assumidos.

É nos Estados Unidos que está identificada a maior dívida bruta entre todas as nações do mundo, que já supera os muitos triliões de dólares. Esta situação aliada às crises de insolvência na Grécia, na Irlanda e em Portugal, e ao receio de que Espanha, Itália e o Reino Unido também não consigam honrar os seus compromissos para com a comunidade europeia, levou a que o mercado financeiro sofresse um forte abalo.

Porém, o advento da segunda crise económica, que foi apelidada de "déjà vu de 2008", por acontecer exatamente três anos depois do primeiro estouro da crise

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do subprime, gerou uma desconfiança generalizada de que talvez os EUA não conseguissem honrar os seus compromissos.

A crise do limite de dívida dos EUA, que levou a um longo processo n egocial e a debates no congresso americano sobre se o país deveria aumentar o limite de dívida, e, em caso afirmativo, em que montante, fez crescer a especulação internacional sobre a real capacidade de solvência do país.

Após aprovação no congresso e no senado, foi ratificado pelo presidente Barack Obama o acordo conhecido por Budget Control Act of 2011, a 2 de agosto, data-limite para o acordo. Não obstante, o mercado não reagiu positivamente a este acordo, e, nos dias que se seguiram, a maior parte das bolsas de valores mundiais fecharam em forte queda.

Perante o quadro de crise, a agência de classificação de notas de crédito Standard & Poor's (S&P) baixou, pela primeira vez na sua história, a nota da dívida pública dos Estados Unidos. Devido à crescente dívida e ao pesado défice orçamental, bem como a redução da nota de crédito dos EUA, as bolsas de valores mundiais registaram altíssimas perdas.

Os dados divulgados, entretanto, revelavam que as economias da Zona Euro haviam crescido menos do que o previsto, estando já algumas em profunda recessão. Depois de inúmeras perdas, as ações de alguns bancos recuperaram nas semanas seguintes, tendo-se verificado a recuperação parcial dos mercados acionários globais após a redução da nota da dívida norte-americana.

2.2 — A metáfora monomodal no texto económico

Perante o quadro de crise económica que assolava o mundo, tornou-se inevitável que, para a representar, fosse necessário recorrer a uma série de imagens metafóricas, ancoradas em metáforas conceptuais.

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Tal como Sweetser (1990:30) afirma, “Gostaríamos também de explicar o facto de os mapeamentos serem unidirecionais: a experiência corporal é uma fonte de vocabulário para os nossos estados psicológicos, mas não o contrário”1

É aqui podemos começar por descortinar a construção metafórica do discurso económico em regime monomodal à luz de Lakoff/Johnson (1980), bem como de alguns dos autores que abordam as metáforas no discurso económico. Como sabemos, a metáfora foi tratada, no seio dos estudos literários, durante muitos anos como um mero ornamento linguístico. Contudo, com os estudos empreendidos por Lakoff /Johnson (1980), observamos uma marcante mudança de paradigma, uma vez que a metáfora passa a ser considerada como um instrumento cognitivo, mediante o qual um domínio-fonte é mapeado, de forma parcial, no domínio-alvo. Segundo estes autores, a metáfora conceptual é uma ferramenta cognitiva quer permite aceder à compreensão de uma entidade abstrata recorrendo a uma entidade mais concreta. Abaixo encontramos a desconstrução dos mapeamentos da metáfora conceptual A VIDA É UMA VIAGEM que é aplicada em numerosos contextos comunicativos, também no domínio económico.

Domínio-fonte Domínio-alvo

Journey (viagem)love (amor)

the travelers (os viajantes)the lovers (os amantes)

the vehicle
 (o veículo)the love relationship itself (a própria relação de amor)

the journey (a viagem)vents in the relationship

(aberturas no relacionamento)

1 Citação original: “we would also like to explain the fact that the mappings are

unidirectional: bodily experience is a source of vocabulary for our psychological states, but not the other way around”.

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the distance covered (a distância percorrida) ⇒

the progress made (os

progressos realizados) the obstacles encountered

(os obstáculos encontrados) ⇒

the difficulties experienced (as dificuldades vividas)

decisions about which way to (decisões sobre qual o caminho a)

choices about what to do 
 (escolhas sobre o que fazer)

go the destination of the journey (o destino da viagem)

the goal(s) of the relationship (objetivo (s) do relacionamento)

Tabela 1- Mapeamentos da Metáfora conceptual A VIDA É UMA VIAGEM

Ao identificarmos os mapeamentos conceptuais, podemos visualizar como se constroem as próprias metáforas conceptuais, tendo em conta a projeção seletiva de aspetos do domínio-fonte no domínio-alvo.

As metáforas conceptuais podem ser classificadas de acordo com as funções cognitivas que realizam. Assim, distinguem-se três tipos gerais de metáfora conceptual: metáfora estrutural, metáfora de orientação e metáfora ontológica (Kövecses, 2002:32).

2.2.1 — Metáfora estrutural

As metáforas estruturais são casos "onde um conceito é estruturado metaforicamente em termos de outro”2 (Lakoff/Johnson, 1980: 14), tal como TEMPO É DINHEIRO.

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Este tipo de metáfora permite que as pessoas compreendam o domínio-alvo através da estrutura elaborada do domínio-fonte. O entendimento dá-se através de um conjunto de mapeamentos conceptuais entre um elemento mais físico e um elemento mais complexo (Kövecses, 2002:31).

2.2.2 — Metáfora orientacional

A metáfora orientacional, que está enraizada na experiência física e cultural dos seres humanos, envolve o mapeamento de uma estrutura espacial simples numa estrutura não-espacial complexa. Este tipo de metáfora está maioritariamente relacionado com orientações espaciais que têm origem na interação entre os seres humanos e a natureza: de cima para baixo, no limite, de frente para trás, centro-periferia.

A orientação espacial proporciona uma base experiencial bastante clara para a compreensão de conceitos abstratos, por meio de termos de orientação (Lakoff /Johnson, 2002:14), conforme a metáfora FELIZ É PARA CIMA.

2.2.3 — Metáfora ontológica

O conhecimento que as pessoas têm sobre objetos físicos e substâncias constitui a base da metáfora ontológica. Por outras palavras, se as pessoas são capazes de percecionar a associação e as semelhanças existentes entre as atividades, as emoções, as ideias e as entidades e/ou as substâncias, poderão também, facilmente, apreender as mesmas e raciocinar sobre elas. (Lakoff /Johnson, 2002:25).

As metáforas ontológicas de maior relevo correspondem às personificações, na base das quais concebemos uma ampla variedade de experiências com entidades não-humanas à luz de motivações, características e atividades humanas (op. cit. p.14), como por exemplo a personificação da crise económica que encontraremos adiante na análise dos cartoons.

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2.2.4 — O caráter persuasivo das metáforas

Independentemente da tipologia lakoffiana acima descrita e no que respeita às metáforas da área da economia, afigura-se importante levar em linha de conta a dimensão persuasiva das mesmas, conforme preconizado Charteris-Black (2005:5). Este autor, reportando-se a Aristóteles, sublinha que as metáforas estão carregadas de poder persuasivo, particularmente quando acompanhadas por outras estratégias retóricas.

(…) I will argue that metaphor is equally essential to a leader´s persuasive force. This is especially the case when these other rhetorical strategies interact with metaphor since it is the combined effect of various strategies that is most effective in political speeches.

Assinalamos, assim, que este poder persuasivo é também inerente à forma de conceptualizar aspetos incontornáveis da crise económica, conforme ilustrados pela metáfora CRISE ECONÓMICA É MÁQUINA.

2.3 — A metáfora multimodal

Na óptica de Kress e Van Leeuwen (1996), os media evidenciaram, nas duas últimas décadas, de uma mudança bastante acentuada, tal como sucedeu com a forma de comunicar. Na década de 60 do século XX, os jornais correspondiam a impressões a preto-e-branco, cheias de carateres. Na década de 90, passaram a ser exibidos a cor e a recorrer à imagem, o que fez com que, especificamente no Ocidente, os carateres quase desaparecessem das páginas dos mesmos. Kress e Van Leeuwen (1996) defendem, contudo, que a comunicação foi sempre multimodal, e assistimos, na atualidade, e apesar de não ser uma inovação, a uma mudança significativa: parece haver um novo código de texto e imagem, e a informação é transmitida pelas duas formas. Os elementos verbais e não-verbais de um texto articulam-se na composição do seu sentido, e o elemento visual não é visto como sendo dependente do verbal, mas sim como algo com

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Muito recentemente, na internet, surgem, cada vez mais, representações multimodais, como por exemplo, os memes, em que o suporte de imagem tem vindo a assumir primazia relativamente ao suporte textual (Ribeiro, 2015). Nestes textos altamente recheados de imagens que tem surgido na internet, bem como nos cartoons de economia, proliferam as metáforas conceptuais.

Conforme sublinhado por Forceville (2009: 22): (….) metaphors can assume non-verbal and multimodal appearances can and should guide a new generation of metaphor research scholars.” É assim, neste âmbito dos estudos multimodais que inscrevemos as análises que realizámos dos cartoons de economia, inspirados no estudo de Bounegru/Forceville (2011) que visa descortinar as metáforas multimodais nos cartoons de economia.

Podemos, no entanto, observar, a partir da vasta literatura produzida sobre a metáfora, que as expressões metafóricas têm sido estudadas de forma exaustiva no modo verbal, ou seja, como expressões linguísticas no nível superficial de modelos mentais estruturados metaforicamente, deixando de parte os outros modos, como, por exemplo, o visual. Contudo, têm surgido alguns estudos de análise multimodal de capas de jornais desportivos portugueses (Almeida/Sousa, 2005, Almeida 2016).

Sem dúvida que a presente dissertação se inscreve nesta linha, postulando que as metáforas conceptuais se manifestam não apenas no modo verbal, mas também numa confluência coerente entre o modo verbal e o imagético, como comprovaremos na análise semântica dos cartoons económicos do nosso corpus.

Forceville (2009:22-23) define a metáfora multimodal como uma metáfora cujos domínios fonte e alvo abarcam diversos modos, ou seja, sistemas semióticos diversos. Aliás, o mesmo autor (idem) define claramente o termo modo como “um sistema de signos interpretável por causa de um processo específico de perceção”. Para o autor, os modos estão relacionados com os cinco sentidos, o que motiva a seguinte subdivisão dos mesmos:

1. Modo visual 2. Modo sonoro

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3. Modo olfativo 4. Modo gustativo 5. Modo tátil

Admitindo a complexidade em compilar uma lista exaustiva de modos, no plano semiótico, Forceville (idem) acaba por enveredar por uma lista dos elementos semióticos que integram uma abordagem multimodal:

1. Signo pictórico 2. Signo escrito 3. Signo falado 4. Gestos 5. Sons 6. Música 7. Cheiro 8. Gosto 9. Toque

O estudo de metáforas multimodais em géneros também multimodais pode facilitar o processo de produção de sentido do texto, além de considerar a imagem como elemento integrante do texto e não como acessório do mesmo. É de salientar o quanto a cognição humana, a partir das experiências corpóreas e das manifestações sociais e culturais, é responsável por produzir novos significados através dos diversos modos semióticos materializados nas práticas comunicativas. Não podemos deixar de referir que são as metáforas multimodais que licenciam a construção dos sentidos nos cartoons económicos que estão condicionados a um dado contexto político e social.

No domínio da economia, como em muitos outros domínios da experiência física e do conhecimento, é necessário sublinhar a importância dos esquemas imagéticos na estruturação das metáforas orientacionais, enquanto padrões

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esquemas imagéticos que conceptualizamos o mundo em geral, ou seja, áreas da experiência e do saber, como por exemplo o mundo económico, em que a orientação espacial cima-baixo assume particular destaque na conceptualização das oscilações do tecido económico.

Refira-se também a particular relevância de alguns esquemas imagéticos na composição dos cartoons para além da orientação espacial cima-baixo, o que será objeto de análise semântica na presente dissertação. Em destaque, colocamos o papel determinante do esquema imagético do contentor (na representação “Estamos a sair da crise económica”); percurso “ainda temos um longo caminho a percorrer para ultrapassar a situação económica”); orientação em cima/em baixo (“a economia está a crescer, mas abaixo do esperado”); força (e contra-força) (cf. ECONOMIA É GUERRA, como iremos ver adiante), entre outros.

É de notar que Gibbs e Colston (2006:251) consideram o esquema de PERCURSO como um dos mais básicos para representar diversos domínios abstratos da experiência: “The SOURCE-PATH-GOAL schema must be one of the most basic image schemas that arise from our bodily experience and perceptual interactions with the world”.

2.4 — O estado da arte: abordagem cognitiva da crise económica

O estudo de Rocha, C./ Huimin S., apresentado no seminário de Língua, Cultura e Tradução do Mestrado em Tradução da FLUL (ano letivo 2014-15), incidiu sobre as representações metafóricas de economia em sites de jornais económicos, publicados em inglês, com tradução para chinês, que foram também traduzidos pelas autoras do estudo para português europeu.

Foi possível concluir que as principais imagens metafóricas presentes nestes sites eram constituídas por realizações linguísticas das metáforas conceptuais ECONOMIA É MÁQUINA e ECONOMIA É GUERRA.

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2.4.1. — ECONOMIA É MÁQUINA

Foi com a Revolução Industrial que nasceu a metáfora ECONOMIA É MÁQUINA, sendo que esta metáfora veio a alterar a forma como todos nós falamos sobre economia. A metáfora da máquina ajuda a compreender a forma como a economia funciona realmente. É aplicada para compreender o sistema abstrato da economia à luz do domínio-fonte da MÁQUINA. Os mapeamentos conceptuais que sustentam esta metáfora encontram-se representados abaixo:

Domínio- fonte Domínio- alvo

Guerra ⇒ Economia

Campo de Guerra ⇒ Mercado Económico Guerreiros ⇒ Os economistas, empresários e

investidores, etc. Atos de Guerra ⇒ Atos Económicos

Arma ⇒ Recurso Económico

Estratégia de Guerra ⇒ Estratégia Económica

Tabela 2 – Mapeamentos da metáfora ECONOMIA É

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Domínio-fonte Domínio-alvo

Máquina Economia

Funcionamento da máquina

Funcionamento da economia

Peças da máquina Partes da economia

Tabela 3 – Mapeamentos da metáfora ECONOMIA É MÁQUINA

Por forma a ilustrar a analogia entre o funcionamento da máquina e o funcionamento da economia, Bill Phillips concebeu “a máquina de Phillips” (ver figura 1 abaixo), em Londres, nos anos 40 do século XX. Recorrendo a uma série de câmaras e tubos que bombeiam a água, simula-se o fluxo do dinheiro na economia. Todo o processo começa com o tanque, na parte de baixo que, basicamente, contém a quantidade total de "dinheiro" que irá circular na economia. O dinheiro é bombeado para os tanques mais pequenos que representam os gastos do governo e do setor bancário.

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Figura 1

Fonte: http://bitterjug.com/blog/coloured-water/ http://www.cs.man.ac.uk/CCS/res/res12.htm

(25)

Sublinhe-se também que a queda do dinheiro para o centro da máquina representa, teoricamente, o dinheiro a cair para os bolsos das pessoas

A metáfora ECONOMIA É MÁQUINA encontra-se presente em muitas ocorrências estudadas pelas autoras, conforme abaixo:

1) Repair the banks need to carefully repair pipeline, rather than abruptly shut the monetary spigot. (FT)

修复银行需要审慎地修理管道,而不是生硬地关上货币龙头。

(PT— Para recuperação dos bancos, é preciso reparar cuidadosamente o gasoduto, em vez de fechar a torneira monetária abruptamente.)

2) Meanwhile, Keynesian economists, using very simple mathematical models, basically said “Push this button — we need more G”. (NYT)

同时,凯恩斯主义经济学家借助非常简单的数学模型,基本上认为,“照此方法( 按下这个按钮)——我们需要更多的政府政策”。

(PT — Entretanto, os economistas keynesianos, sendo um modelo matemático muito simples, disseram basicamente, “pressiona este botão — precisamos de mais política do governo”.)

3) Of course, it is possible that China could resort to another fiscal pump priming exercise in response to recession. (FT)

当然,为了应对经济衰退,中国可能会诉诸于另一轮财政注资刺激措施。

(PT — Claro que, a fim de lidar com a recessão, a China pode recorrer a uma medida de estímulo de injeção financeira de novo.)

No exemplo 1), o jornalista projeta conceptualmente uma máquina numa entidade do domínio económico, o banco. A máquina avariada, a reparar, é uma referência ao mau funcionamento do banco, tendo por base as analogias estabelecidas entre o elemento do domínio-fonte e o elemento domínio-alvo. As duas opções de reparação — reparar o gasoduto e fechar a torneira — também

(26)

são utilizadas para descrever metaforicamente as medidas a levar a cabo para resolver o problema económico do banco.

No exemplo 2), o ato pressionar o botão faz referência à ação de por a máquina em funcionamento é mapeado no ato de por a economia em marcha através da implementação de medidas económicas.

O exemplo 3), pump priming representa a implementação das medidas económicas de estímulo à economia tendo por base a imagem de uma bomba. A título ilustrativo, os mapeamentos conceptuais analisados entre o domínio-fonte das máquinas e o domínio-alvo das medidas económicas permite uma compreensão mais fácil das questões económicas por um público leigo, mas fortemente interessado nos altos e baixos dos ciclos económicos.

2.4.4 — Metáfora multimodal

Charles Forceville (2009: 20-22) recorre à Teoria da Metáfora Conceptual para explicar a estruturação da metáfora multimodal. Na definição de metáfora conceptual, Lakoff/Johnson (1980) postulam que a metáfora consiste na compreensão e experiência de um tipo de coisa noutro, evitando habilmente a utilização das palavras “verbal” e “linguística”. Contudo, a referida teoria, segundo Forceville, reivindica a existência de metáforas conceptuais detetáveis exclusivamente na forma verbal, o que, no entendimento do autor, enferma de alguns problemas:

1) podemos correr o risco de enfrentar um círculo vicioso, ou seja, a pesquisa desenvolvida pela Linguística Cognitiva desenvolver um raciocínio circular, na qual se inicia com uma análise da linguagem que infere algo sobre a mente e o corpo, que, por sua vez, motivam diferentes aspetos da estrutura linguística e do comportamento;

(27)

2) a concentração exclusiva ou predominante sobre as manifestações verbais da metáfora corre o risco de que os investigadores ignorem aspetos da metáfora que ocorrem apenas em representações não-verbais ou multimodais.

Diante estes riscos, o autor postula a necessidade imperiosa de, no mundo atual, se enveredar pelo estudo da metáfora multimodal. Começaremos por distinguir as metáforas monomodais das metáforas multimodais.

3 — As metáforas monomodais na área da economia

Ao abordar a linguagem da economia, Rosner chama a atenção para o facto de que” [a]lthough the purpose of economics is to discuss economic policy, economists are not the only people who discuss it.” (2005:54). Assim sendo, (op. cit. p.158): “the economist´s discourse cannot be separated from that of laypersons”. É um facto que os média invadiram a nosso quotidiano com notícias sobre economia, mediante recurso a imagens metafóricas que facilitam a compreensão sobre os intrincados processos económicos por parte de um público de não especialistas.

3.1 — Metáforas monomodais da crise económica

Vaz (2011), na sua tese de dissertação de Mestrado em Tradução, envereda pela análise semântica das imagens metafóricas da crise económica na imprensa portuguesa e alemã, à luz da abordagem cognitiva. A autora estuda cuidadosamente os padrões metafóricos da crise a partir das realizações linguísticas de duas metáforas conceptuais, a saber, CRISE ECONÓMICA É DOENÇA, CRISE ECONÓMICA É CATÁSTROFE NATURAL e CRISE ECONÓMICA É GUERRA.

Registe-se que as imagens metafóricas da crise económica em português e em alemão evidenciam uma convergência conceptual notável, como iremos ver abaixo.

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O domínio-fonte da DOENÇA na construção da metáfora integra o diagnóstico da doença, os agentes patogénicos e medidas terapêuticas que são mapeados no domínio da economia, conforme ocorrências compiladas por esta autora: Wirkung des Erregers.“ In: Der Erreger lebt weiter

(a)“Várias instituições financeiras, ou foram encerradas, ou sofreram intervenção com injeção de capital e garantias estatais. (In: Crise financeira internacional – as origens). (b)“Die stadlichen Hilfssgelder wirken wie Antibiotika. Sie unterdrücken die zerstörische O domínio-fonte da CATÁSTROFE NATURAL, que serve de base às metáforas económicas, compreende as dimensões de imprevisibilidade da catástrofe natural, planos de contingência e de resgate às vítimas, conforme ocorrências compiladas pelas autoras:

(c) “O secretário do Tesouro norte-americano Henry Paulson anunciou um plano de

resgate das instituições financeiras no valor de 700 mil milhões de Euros” In: Crise à Lupa

(d) “Am 15.09 meledt die US-Investmentbank Lehnman Brothers Insolvenz an und löst damit ein Beben an den internationalen Finanzmärkten und eine globale Wirtschaftskrise aus.“ In Wie deutsche Banken das Disaster befördert haben

O domínio-fonte da GUERRA que superintende as metáforas económicas, edificado conceptualmente na base no esquema imagético da FORÇA vs. CONTRA-FORÇA, envolve estratégias militares de facções em guerra, uso de armas, a fim de conseguir dominar os oponentes pela força.

(e) “A paralesia da EU imposta pelo Diktat alemão é, portanto, não só arrogante e desumana como ajuda a enfraquecer ainda mais os alicerces da construção europeia” In: As Teses do Taxista

(f) “Allerdings sind die Ökonomen einig, dass die Euro-Staaten gegen Verschuldung und Rezession auf eigene Faust kämpfen müssen, schliesslich auch die Probleme vor allen ausgemacht.“ In: Rezession stürzt EU-Staaten in Schuldenkrise.

(29)

metáforas conceptuais evidenciam uma convergência conceptual assinalável, em face de os fenómenos económicos se assumirem à escala global.

Desta forma, é viável preconizar que a metáfora conceptual é uma ferramenta conceptual da maior importância para a construção do texto científico, bem como para o processo de tradução de textos científicos, conforme apontado por Vandaele/Lubin (2005:415) apud Faber/Gómez-Moreno (2012:91):

Metaphorical conceptualization is a fundamental process of thought in scientific modeling, [….]. In order to understand the meaning of scientific texts, a reader must be able to grasp the conceptual metaphors of a domain. According to our working hypothesis, metaphorical conceptualization underlies not only the specificity of a domain, but also the terminology and the phraseology of languages for specific purposes. To master the identification of these conceptual metaphors is to possess a powerful cognitive tool that guides the translator in making many translation decisions. (sublinhados nossos)

É partindo do pressuposto de que a metáfora é uma ferramenta fundamental na construção terminológica, bem como na tradução de textos científicos, que elaborámos este nosso trabalho.

3.2

— Análise semântica das metáforas conceptuais e das

realizações metafóricas na imprensa portuguesa

Nos sites em inglês e português sobre economia que consultámos online, as narrativas da crise económica socorrem-se muito frequentemente do domínio-fonte da DOENÇA, tal como assinalado por Vaz (2011), o que pressupõe que a economia é conceptualizada como um organismo vivo. Abaixo encontra-se a compilação de alguns deles, sendo que em formato de adaptação textual minha à narrativa de crise económica mundial de 2008, e aos efeitos dessa mesma crise económica sentidos em Portugal, até hoje, conforme reportado por Vaz (2011).

(30)

3.3 — Domínio-fonte da DOENÇA

O primeiro domínio-fonte das metáforas económicas é o da DOENÇA, do qual emerge a metáfora conceptual CRISE É DOENÇA. Desta forma, as imagens metafóricas a que os artigos jornalísticos portugueses fazem referência à crise económica como uma enfermidade muito grave que ataca sistemas económico-financeiros, apresentados como entidades orgânicas já de si muito exauridas e, como tal, permeáveis ao aparecimento da doença.

À ideia de crise económica associa-se uma imagem de uma empresa doente que desenvolve sintomas de improdutividade e de desemprego.

Da fundação ao encerramento, o ciclo de vida de uma empresa é tanto mais curto quanto mais, prematura e fatalmente, a crise, ou seja, a doença, o possa alterar, encurtando-lhe a sua longevidade natural.

Quer isto dizer que, assim como uma doença prolongada pode levar à extinção de um ser vivo da face da terra, também as perturbações económico-financeiras suscitadas pela crise podem intensificar-se ao ponto de as funções vitais de uma empresa cessarem por completo.

Assim como os seres vivos, também as empresas têm um ciclo de vida que se inicia com o “nascimento” (fundação), que se prolonga por um período de atividade que pode ser mais ou menos longo e que termina com a “

morte”

(liquidação)3.

As dificuldades económicas e financeiras que levam uma empresa ao desaparecimento não surgem da noite para o dia. São o resultado de um processo gradual, qual doença que vai piorando com o tempo4. Se a

(31)

prevenção falha, é a gravidade da doença e a necessidade de a eliminar o quanto antes que aceleram a descoberta de um tratamento adequado às caraterísticas da própria doença, já fora do seu período de incubação.

E, ainda que a origem da doença do sistema económico norte-americano possa abranger várias causas, atípicas ou não, sendo expetável que o seu estado avançado culmine num desfecho pouco agradável para o paciente. No caso português, a doença nacional, adquirida em parte por contágio da situação económica internacional, também resulta da fraca competitividade do setor industrial português no mercado externo.

Em sentido metafórico, a sociedade norte-americana está doente por muitas razões5. Essa maleita “estrutural” reflete-se na competitividade da economia portuguesa no seu conjunto face ao mundo e a competitividade do próprio setor industrial, mola das exportações de "bens transacionáveis", um termo que se tornou moda no discurso de política económica6.

Tal como um surto epidémico gerado no setor imobiliário norte-americano, que se alastra ao panorama financeiro internacional e que origina uma descida abrupta no valor nominal dos títulos, muitos fundos de investimento e muitas instituições financeiras, organismos desprovidos de defesas imunológicas naturais, deixam-se realmente contaminar pelo vírus dos ativos ilíquidos que intoxica todo o sistema financeiro à escala global. O banco Citigroup foi uma das primeiras vítimas da doença mais arreigada na estrutura da economia norte-americana.

Os bancos e entidades que, de forma direta ou através de fundos de investimento, estavam ligados ao mercado imobiliário dos EUA, com a queda de valor de títulos e a epidemia que contagiou todo o sistema financeiro, vêm a sua sustentabilidade enfraquecida, sendo na generalidade “infetados” de falta de liquidez7. Mais um mês e pouco, e a primeira vítima surge, finalmente, nos

5 In “Os EUA estão doentes” apud Vaz (2011:134)

6 In “Os calcanhares de Aquiles das contas portuguesas” apud Vaz (2011:69) 7 In “Crise Financeira Internacional - As origens” apud Vaz (2011:69)

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Estados Unidos: o Citigroup, afetado pela doença do subprime, inicia um processo de “limpeza” das suas contas8.

Em Portugal, a quase constante recessão económica atribui-se não só ao laxismo do governo como à administração de fortes doses de otimismo em manobras de propaganda política esvaziadas de conteúdo que, como antibiótico convencional mal prescrito, não suprimem o que tem vindo a enfraquecer a economia nacional. Assim, enquanto o antídoto contra a crise do crédito fácil teria de passar pelo alargamento das funções administrativas dos bancos centrais, quais médicos de especialidade que acumulassem novos encargos e novas responsabilidades, a cura da insuficiência económica teria, pois, de envolver hábitos regulares de poupança. Só economizando recursos é que as finanças públicas portuguesas conseguiriam não fracassar sobejamente, face à proliferação das parcerias público-privadas, representadas como um cancro progressivo originado numa infeção viral.

Como ninguém vive de promessas, o tempo encarrega-se de mostrar que o antibiótico é insuficiente para matar o vírus que há muito enfraquece a economia e, por arrastamento, a vida dos portugueses9. Um dos antídotos contra esta tentação do “facilitismo” monetário é atribuir aos bancos centrais a missão de monitorizar os desequilíbrios financeiros – decorrentes da expansão excessiva de crédito ou do disparo dos preços dos ativos nos períodos das “vacas gordas” — e não só o policiamento do nível de inflação ou do défice orçamental10. Considerando que a origem do problema está no excesso de crédito, no excesso de consumo e nos baixos níveis de poupança, é surpreendente constatar que os políticos coligados na sua visão de que a cura está em mais crédito, mais consumo e menos poupança11. É no desperdício e nos custos que resultam desse cancro, que é a promiscuidade entre o estado e os interesses privados, que está o problema 12.

8 In “O homem que contestou Alan Greenspan” apud Vaz (2011:69)

9 In “Palavras cruzadas” apud Vaz (2011:143)

(33)

Na sequência da propagação sistémica da crise, e a fim de refrear casos de insolvência demasiado prejudiciais para o estado de saúde do sistema económico, várias são as instituições financeiras às quais os governantes espalhados pelo mundo facultam um tratamento terapêutico ancorado em injeções de capital e certas garantias estatais, tal como sucede com a seguradora AIG. Cedo se percebe que as verbas concedidas pela União Europeia e pelos governos, para assistência digna em caso de doença terminal, apesar da implementação de medidas paliativas, decididas tardiamente, têm a particularidade de conseguir prolongar a vida quer dos organismos empresariais quer dos cidadãos portugueses, aliviando-lhes até as dores lancinantes da escassez de recursos financeiros e do endividamento persistente. No entanto, se bem que o governo português se afigure como o médico idóneo que procura tratar o paciente contagiado com o vírus mortal da crise, no caso do BPN, o tratamento escolhido de nada adianta, não estivesse o banco em estado de morte clínica desde há muito tempo.

Várias instituições financeiras, ou foram encerradas, ou sofreram intervenção com injeção de capital e garantias estatais13. O paradigma deste tipo de capitalismo "deturpado" é o gigante das seguradoras, a AIG. À beira da falência, a empresa foi alvo de uma injeção de dinheiros públicos — 173 milhões de dólares — no âmbito do programa de apoio ao relançamento da economia, nos EUA14. No caso de Portugal, que foi atingido por esta crise global com a sua própria crise estrutural por resolver, sem ter, por isso, a ajuda, por muito paliativa que seja, pode ser fundamental para empresas e famílias, mergulhadas por tradição em falta de liquidez e excesso de dívida almofada orçamental ou a pujança económica de outros parceiros da UE, essa15. Por causa dele, a Caixa Geral de Depósitos será obrigada a aumentar de novo o capital — e, apesar do dinheiro que já meteu no BPN, mais de 1400 milhões de euros, este continua em estado de morte clínica16.

13 In “Crise Financeira Internacional - As origens” apud Vaz (2011:71) 14 In “A crise não é para todos” apud Vaz (2011:71)

15 In “O preço certo” apud Vaz (2011:71)

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A Reserva Federal Americana vê-se, por sua vez, forçada a acomodar estratégias e terapêuticas sólidas no sentido de estimular o consumo e de impedir o estrangulamento da economia. Apesar dos esforços envidados, o crescimento económico norte-americano prevalece anémico, ou com perda de capital, e a merecer cuidados médicos muito especiais. No plano do restabelecimento da doença, e sobretudo no espaço circunscrito à União Europeia, também o paciente português continua a perder níveis elevados de hemoglobina, incidente que dificulta a oxigenação do tecido da economia e que pode degenerar num quadro clínico de anemia crónica. As vozes mais pessimistas são até partidárias de que os EUA e a Zona Euro exibem, ambos, os sintomas da síndrome japonesa, e tudo isto devido aos sinais fisiológicos que atestam o respetivo insuficiente desenvolvimento económico.

É verdade que os EUA estão com taxas de juro perto do zero, pelo que a economia continua anémica17. A crise está, por isso, longe de ter chegado ao fim. Sobretudo para nós, portugueses. Apesar de as últimas previsões do FMI apontarem para uma reanimação da economia mundial — que deverá crescer ao ritmo de 3,5%, este ano, e 4,3%, em 2017 — o desempenho português, diz o Fundo, poderá ficar-se por uns anémicos 0,5% a perder terreno para a Zona Euro, que conseguirá uma média de 1%, ainda assim, muito longe dos EUA, com 2,7% já este ano18. Alguns mais pessimistas admitem que os Estados Unidos e a Zona Euro emitem a síndrome japonesa, com uma anemia de 1% de crescimento médio decenal19.

Os índices económicos são muito críticos: eles sublinham os malefícios do défice externo e da dívida pública portuguesa. Sarar a ferida da predisposição genética do país para a ocorrência de tais distúrbios requer, dadas as circunstâncias, um curativo à base da subida da produção e das exportações que seja capaz de estancar o fluxo de capital que jorra, sem interrupção, de um sistema económico pouco saudável. Já em 2010, Portugal encontrava-se economicamente paralisado e com um nível de confiança propenso à asfixia financeira ou a graves complicações respiratórias, situação clínica muito

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preocupante, uma vez que, confinada a sua economia a um estado de inércia incessante, qualquer tipo de fármacos ou de práticas terapêuticas não terão resultados, uma vez que a crise económica manifesta uma índole marcadamente crónica e que o próprio governo está apenas concentrado na sua reeleição para outro mandato legislativo.

Reequilibrar a balança comercial portuguesa é fundamental para estancar o endividamento externo do país e relançar o crescimento da economia20. Mas é nestas águas turvas que temos de navegar, entre o risco de recessão e a asfixia financeira que resulta da falta de confiança na economia – falta de confiança, recorde-se, que se funda numa dívida pública que disparou para 86% do produto, de um défice orçamental que saltou para 8,5% do PIB e de um preocupante défice externo de 8,8% do PIB21. Por cá, tudo será mais complicado, porque carregamos uma crise crónica, com tudo o que isso representa de demagogia e abuso próprios da época22.

Já nem o então presidente da República Portuguesa conseguia dissimular a sua inquietação relativamente ao delicado estado de saúde das contas públicas, e, por enquanto, o Estado não reúne condições para se arrogar um possível estatuto de liderança económica.

Tendo em linha de conta a inconstância que tem consumido o mercado imobiliário interno, não são mesmo de esperar quaisquer melhorias substanciais neste setor económico, sendo que, por este motivo, o estado de saúde da economia financeira persistirá reservado. O desequilíbrio da balança pública, em parte provocado pela subida abrupta das taxas de juro impostas ao país, institui-se como a prova sintomática de que o vigor da economia portuguesa está profundamente abalado.

Por cá, tivemos Cavaco Silva, qual chanceler alemã, preocupado com a saúde das finanças públicas e a sustentabilidade do nosso modelo económico, advertindo para o facto de o Estado não se encontrar em condições de ser o

20 In “A nossa crise não se resolve (só) cá dentro” apud Vaz (2011:73) 21 In “Entre as calças de Merkl e o carisma de Obama” apud Vaz (idem) 22 In “O preço certo” apud Vaz (idem)

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motor da economia23. Não são esperadas grandes melhorias no mercado imobiliário até outubro de 2010 ou janeiro de 2011, altura em que poderão ser revelados novos dados sobre a saúde da economia financeira portuguesa, dados fundamentais para os investidores estrangeiros 24. Mais ou menos fundamentadas, as dúvidas sobre a saúde da economia portuguesa transformaram-se em factos assim que ganharam estatuto de hipóteses prováveis, ou seja, de risco, fazendo com que a bolsa portuguesa caísse mais que as dos outros mercados europeus ou que as taxas a que o Estado e o sistema financeiro português se financiam no exterior começassem a subir25. Deste modo, até o atual presidente dos EUA, Barak Obama, parece angustiado com um prolongamento deliberado da duração da crise recessiva no Velho Continente, e com a eventual incidência de uma depressão económica — conjuntura caraterizada por baixos níveis de produção e de investimento, transações comerciais em rutura, falências numerosas, desemprego galopante, escassez de crédito, alta volatilidade do câmbio e crise de confiança —, visto as políticas terapêuticas de contenção orçamental promulgadas na Europa terem sufocado a economia real ao ponto do incremento das desigualdades sociais.

Obama está preocupado com o mergulho voluntário dos europeus numa crise recessiva, porque não esquece que o seu próprio crescimento depende do que acontecer no outro lado do Atlântico, e não é de economias deprimidas que precisa para que os EUA descolem do buraco onde caíram com a crise do subprime26.

Ainda que o governo federal tenha conseguido estabilizar o estado de saúde da economia dos EUA, segundo Timothy Geithner – o secretário do Tesouro na administração Obama —, só uma terapêutica económica seguida com entusiasmo foi capaz de estancar a perda de ativos no setor bancário, qual organismo vivo que ameaçava esvair-se em sangue. Porém, a terapêutica monetária aprovada pela União Europeia não foi tão eficaz a ponto de

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tranquilizar o nervosismo dos mercados financeiros internacionais, os quais têm o apanágio de poder influir na evolução do curso da economia. Em certos países, nem a recapitalização dos bancos à beira da falência nem a implementação de medidas orçamentais rígidas consegue abrandar o avanço da depressão, numa altura em que o próprio governo português decide abdicar das medidas anticrise, promovendo o suicídio assistido da economia nacional.

A crise do sistema bancário do país foi estancada com o dinheiro dos contribuintes, lembrou Geithner, acrescentando que “os bancos admitem alguma culpa nos estragos causados pela crise e têm uma grande responsabilidade para ajudar as nossas comunidades a voltar a caminhar pelo próprio pé”27. Terapia europeia falhada: a intervenção do Fundo Monetário Internacional na Grécia à beira de default no fim de semana de 7 a 9 de maio, a criação do Fundo de Estabilização do Euro, a divulgação dos testes de stresse dos 91 bancos europeus e o papel “bombeiro” financeiro do Banco Central Europeu (BCE) deveriam ter “acalmado” a situação — mas isso não está a acontecer28. Só o facto de o governo anunciar que vai acabar com as medidas anticrise para fazer frente à crise deveria chegar para se perceber o absurdo a que chegámos. O suicídio assistido passou a ser político de Estado29.

Pouco tempo após contagiar a economia global, a crise norte-americana do crédito subprime cede lugar à crise do Euro na Europa, podendo esta transmitir-se muito depressa a paítransmitir-ses situados noutros continentes, por contágio virulento da estrutura orgânica da economia. Posto isto, há que mencionar que os ataques especulativos dirigidos às divisas mais enfraquecidas se tornam lesivos no sentido em que exacerbam os custos da dívida externa e o crédito malparado nas instituições financeiras credoras, ou, dito de outra forma, eles pioram exponencialmente o quadro clínico da doença.

27 In “A crise do crédito ainda não acabou” apud Vaz (2011:75)

28 In “Mexida de fundo no sistema financeiro está por fazer” apud Vaz (idem) 29 In “A crise é nossa amiga. Vamos ajudar a crise.” apud (idem)

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A crise do subprime norte-americana contagiou o mundo, e é certo e seguro que a crise do Euro, a gravar-se, causará estragos muito além das fronteiras europeias30.

A contaminação do sistema económico-financeiro internacional por um vírus infecioso norte-americano que é possuidor de propriedades letais é, portanto, facilitada por agentes patogénicos como a liberalização dos mercados de capitais e políticas monetárias erroneamente praticadas pelos governos mundiais que têm alternado no poder. A introdução de terapêuticas médicas que ajudem a curar o paciente, como a administração de injeções de capital ou a efetuação de exames de controlo, parece ser responsável pela ligeira atenuação dos sintomas da patologia, mas nem assim os setores económicos intervencionados reabilitam o seu estado normal de saúde.

3.4 — As metáforas multimodais da crise económica

Fazemos reverência ao estudo de Bounegru/Forceville (2011) que reconhece a vigência de 25 metáforas que estruturam conceptualmente um total de 30 cartoons relativos à crise económica. O referido estudo está organizado por domínios-fonte dominantes das imagens metafóricas, a saber, CATÁSTROFE/DESASTRE (NATURAL), DOENÇA/MORTE e PEDIR ESMOLA, constatáveis a partir da recolha de trinta cartoons, cujos autores são oriundos de vários países. No contexto dos domínios-fonte são identificadas várias metáforas, de que apenas citaremos aquelas que nos parecem mais relevantes para o corpus que recolhemos ou seja, que se centram praticamente no domínio-fonte da CATÁSTROFE/DESASTRE (NATURAL), sendo que retratam as consequências da crise económica em movimentos descentes , em torno do conceito de tsunami, nomeadamente, DOWNWARD FINANCIAL CHART LINES ARE SEISMIC WAVES IN THE SEA e VICTIM OF FINANCIAL CRISIS IS A DROWNING PERSON, entre outras.

(39)

A relevância deste estudo pioneiro centra-se quer na dissecação de imagens da crise económica na perspectiva multimodal, quer no facto de estas imagens terem sido concebidas por vários autores que recorrem no texto à língua inglesa enquanto língua da globalização para representar a crise económica.

3.5 Cabeçalhos e Cartoons na imprensa económica: evidências de

mesclagem

Não podemos deixar ainda de fazer referência a um estudo anterior de Brône/Feyearts (2005), que, contudo, preconiza que os cartoons da crise económica são desconstruíveis a partir da mesclagem conceptual, na senda da abordagem de Fauconnier/Turner (2012).

Consideremos, como exemplo de base da natureza metafórica do discurso económico, os termos económicos de uso quotidiano, a saber, fluxo de caixa, influxo, escoamento de dinheiro, entre outros que são cunhados tendo domínio-fonte uma entidade líquida. De facto, estes termos porque convencionalizados, constituem os alicerces conceptuais da economia.

No entanto, como assinalam as recentes pesquisas de índole cognitiva, descobrir estruturas metafóricas pode não ser suficiente para a análise da interação dinâmica entre mecanismos de conceptualização diferentes no discurso económico. Em vez de uma única representação linear de um fenómeno complexo ou abstrato, o DINHEIRO a partir de uma imagem concreta no domínio-fonte (alg)o LÍQUIDO, surgem muitas vezes evidências construídas a partir de uma integração conceptual de domínios cognitivos diversos.

Uma das evidências mais flagrantes de integração conceptual esta presente nos cartoons de economia. Façamos referência ao exemplo na Figura 2, um cartoon desenhado por Jimmy Margulies (2001) que critica a queda dramática da Enron Corporation, no inverno de 2001. Esta queda resultou no despedimento repentino de centenas de funcionários. A integração conceptual num único cartoon elementos alusivos ao Natal, época do ano em que o colapso da Enron

(40)

foi tornado público, e a imagem de “morte por execução”, concretamente por asfixia, constitui uma acusação forte dirigida aos executivos da Enron. Enquanto os funcionários aparecem como vítimas-enfeites da árvore de Natal, os executivos da Enron são representados como os beneficiários nesta representação do Natal ao receberem presentes enquanto assistem ao enforcamento das vítimas-presentes da árvore de Natal. Desta forma se evidencia que a complexidade de alguns fenómenos precisa de imagens mais complexas que vão além da representação metafórica pura.

Figura 2 - A queda dramática da Enron Corporation

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De forma a abordar estas interações complexas na construção do significado, foi desenvolvido o conceito dinâmico de integração conceptual em diversas publicações que culminaram na obra de Fauconnier e Turner (2002).

De forma necessariamente simplista, pode dizer-se que, enquanto a teoria da metáfora conceptual (doravante TMC) se afigurava adequada para a análise de termos económicos convencionalizados, que encaram o dinheiro como um líquido, os modelos de integração conceptual permitem uma descrição mais adequada de representações multimodais da área económica altamente complexas e expressivas. Na ótica destes autores, a Teoria da Integração Conceptual (doravante IC), que analisa a projeção de vários espaços mentais de input, regularizados por um espaço genérico comum, num único texto ou imagem, para representar uma situação mesclada em que os festejos do Natal, coincidem com os despedimentos. Assim, torna-se possível explicar todas as interligações conceptuais em cartoons económicos que envolvem estruturas argumentativas, dispositivos de humor e projeções metafóricas complexas. Sublinhe-se que os cartoons (como ilustrámos na Fig. 2 com o exemplo da Enron), em articulação com os respetivos cabeçalhos, são particularmente adequados para uma análise do uso criativo das metáforas, sendo que evidentemente têm um forte impacto sobre o público.

De fato, quer os cabeçalhos quer os próprios cartoons constituem uma ferramenta conceptual de elevada eficácia comunicativa que imediatamente prendem a atenção do leitor. Saliente-se também que, no caso das representações de economia, a integração conceptual pode muito bem ser usada para condensar os problemas complexos plasmados numa representação texto-imagem, que resulta aparentemente clara e simples.

A análise dos cartoons concentra-se numa estratégia específica, rotulada como de input duplo, uma vez que envolve a ativação simultânea de mais do que um domínio, e que, por vezes, também envolve uma projeção metonímica implícita, como é o caso dos presentes para representar o Natal, no cartoon anteriormente citado. Esta co-ativação de estruturas de input diferentes produz um efeito subtil de humor, ao mesclar diferentes espaços de input, de forma algo surpreendente

(42)

e criativa, como é o caso deste cartoon da figura 2. Assim, os processos de integração conceptual nos cartoons podem explicar uma panóplia de processos cognitivos que os superintendem, na medida em que, condensando informação proveniente de vários domínios da experiência, se produz um efeito humorístico que torna o discurso económico acessível a um público-alvo, de forma concisa e divertida.

4

— O paradigma cognitivo aplicado à análise de cartoons

económicos

Recolhemos um acervo de 30 cartoons de economia que selecionámos da blogosfera e de sites de economia, na base da sua diversidade conceptual e linguística, sendo que, neste ponto, procurámos divergir do corpus de cartoons económicos de Bounegru/Forceville (2011).

Dado que preconizamos que a metáfora conceptual constitui uma ferramenta de tradução, conforme preconizado por Almeida (2016), o principal objectivo do estudo foi comprovar muitas vezes bastam as imagens e as legendas dos cartoons para um cabal entendimento das cenas de crise económica retratadas. Até porque os frames que são ativados nos cartoons integram o conhecimento do mundo de uma pessoa comum de qualquer nacionalidade., pelo facto de termos reconhecido o papel dominante de uma única metáfora conceptual em cada um dos cartoons estudados. Desta forma, tal significa que, no caso da economia, cada metáfora conceptual está associada a um esquema imagético relevante, ou melhor dito, ao mais relevante de todos, a saber, o esquema cima-baixo que está subjacente à grande maioria dos cartoons analisados.

4.1 - Domínio-Fonte das metáforas económicas: ECONOMIA É

GUERRA

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