Edição: Junho e Julho de 2019
Durante 4 dias do mês de junho de 2019, em Aracaju-Sergipe, nós: 155 mulheres e homens, lideranças de 68 comunidades tradicionais, pesca- dores e pescadores artesanais, quilombolas, Movimento das Marisqueiras de Sergipe (MMS), Movimento das Catadoras de Mangaba (MCM), Movimento do Trabalhadores Sem Terra (MST), pequenos e pequenas agricultores e agricultoras, camponeses e camponesas, representantes do Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba, no Rio de Janeiro (FCT-RJ), representantes do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais da Bahia, representantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), juntamente com a Universidade Federal de Sergi- pe (UFS) e outros colaboradores e colaboradoras, dedicamos nossos esforços em realizar o XI EPEAC (Encontro do Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras), no qual enfa�za- mos e dialogamos sobre as nossas formas de r-existência. Povos e Comunidades Tradicionais, permaneçamos no enfrentamento aos nossos agressores e afirmemos nossos modos que privi- legiam a reprodução da vida:
Reconheçamos o chamado das águas e saber
ouvir o vento e o tempo;
Recriemos realidades sabendo-nos natureza;
Sejamos como um pé de mangabeira, uma vida que defende várias outras vidas.
Somos Povos e Comunidades Tradicionais, homens e mulheres das terras férteis e das águas maternais, guardiãs de sementes, de histórias, de margens, de fazeres, de saberes, de sabores, de poderes.
A cada rasteira, uma esquiva, uma ginga. Afirma- mos nossa ancestralidade e defendemos inces- santemente as águas, os rios, os mares, os man- guezais, as lagoas, os apicuns, as terras, as manga- beiras, os ouricuris, os muricis, as res�ngas, as matas, as florestas, as dunas, os ventos e o ar.
Somos protagonistas da nossa existência, temos autonomia e exigimos a permanência em nossos territórios.
Estamos através desta carta, denunciando o nosso extermínio, Povos e Comunidades Tradicionais que fazemos da nossa natureza o lugar onde nascemos, crescemos e produzimos a vida.
Atualmente, somos impedidos e impedidas de
pra�car a pesca, a coleta das frutas na�vas, a mariscagem. Nosso território está sendo cercado e estão nos expulsando.
O desenvolvimento custa a natureza, custa as comunidades tradicionais, custa a vida de todos e de cada uma.
Muitas vezes, nossa gente é forçada a se aliar aos próprios agressores, movidos pelo anseio de um emprego que nunca contempla a todos e todas.
Estão ex�nguindo nossas áreas de trabalho, nos colocando numa condição de sub-empregados e empregadas.
Se não trabalhamos, não comemos, não curamos!
Assim, não há como ficar, muito menos para onde ir. Não há como permanecermos.
A prá�ca da carcinicultura (carcimorte) promove a destruição dos manguezais, a poluição das águas e alteração dos nichos de todas as espécies costeiras.
A pesca predatória, a especulação imobiliária que nos afasta das nossas terras e das nossas águas.
Os grandes la�fúndios de cana-de-açúcar, criação de gado e plan�o de eucalipto; a destruição das matas.
A ação das empresas petrolíferas, eólicas e termo- elétricas impacta diretamente os pescadores, pescadoras, marisqueiras e marisqueiros, bem como toda a população que não atua da criação, implantação e execução das a�vidades dessas empresas, a�vidades que afugentam o pescado com a super sonoridade, afetam nossa vida, matam os nossos mares com derramamento de óleo, entre outros descasos.
Estes e diversos outros são nossos agressores que querem a todo custo nos levar para as periferias dos grandes centros urbanos e para isso nos com- primem, fechando nosso campos de atuação, através das nossas passagens de servidão e fecha- mento dos portos.
Dependemos hoje de polí�cas públicas que favo- reçam os nossos homens e mulheres do mar, nossas catadoras de mangaba, nossas rainhas do mangue e guerreiras da vida.
Batalhamos hoje por fortalecimento, pela criação do Fórum Sergipano dos Povos e Comunidades Tradicionais, pois nosso grito ecoa forte, somos
01
Promovemos a in�midade entre as ciências e sabemos diferenciar parceria de submissão. Não aceitamos esse regime escravocrata, an� povo, an� pobre! Regime que repudia a diferença.
Aprendemos com as águas, com a terra, com as plantas; ouvir os ventos e o ar, isso é conhecimento!
Escrevemos nossa luta no chão e nas marés da vida. A história contada nas escolas tenta nos calar e apagar as marcas da nossa resistência, principalmente das mulheres, silenciadas. Mas, a conexão com a nossa ancestralidade traz para o presente a contramemória das Marias, Margari- das, Conceições, Joanas, Terezas, mulheres que concebem vidas e exigem partejá-las; mulheres
que constróem redes de solidariedades, saúdes, alimentos, moradas. Somos as “Marias que vão
com as outras”, pela construção de uma socieda- de onde protagonizemos o combate a todas as formas de opressão, cuidando juntas de nossos territórios de vida: território-corpo, território-co- munidade, território-terra, território-águas.
Juntas, inundamos, rebentamos as represas.
Exis�mos aqui!
Parimos nossas vidas, doutoras e os doutores das nossas r-existências!
Manifesto dos Povos e Comunidades Tradicionais XI EPEAC
“No mundo não deveria ter cercas.
Deveríamos viver livres. Assim, como pássaros”.
(Joselito dos Santos Faria Cachoeira de Abadia – Jandira/BA)
Durante 4 dias do mês de junho de 2019, em Aracaju-Sergipe, nós: 155 mulheres e homens, lideranças de 68 comunidades tradicionais, pesca- dores e pescadores artesanais, quilombolas, Movimento das Marisqueiras de Sergipe (MMS), Movimento das Catadoras de Mangaba (MCM), Movimento do Trabalhadores Sem Terra (MST), pequenos e pequenas agricultores e agricultoras, camponeses e camponesas, representantes do Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba, no Rio de Janeiro (FCT-RJ), representantes do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais da Bahia, representantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), juntamente com a Universidade Federal de Sergi- pe (UFS) e outros colaboradores e colaboradoras, dedicamos nossos esforços em realizar o XI EPEAC (Encontro do Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras), no qual enfa�za- mos e dialogamos sobre as nossas formas de r-existência. Povos e Comunidades Tradicionais, permaneçamos no enfrentamento aos nossos agressores e afirmemos nossos modos que privi- legiam a reprodução da vida:
Reconheçamos o chamado das águas e saber
ouvir o vento e o tempo;
Recriemos realidades sabendo-nos natureza;
Sejamos como um pé de mangabeira, uma vida que defende várias outras vidas.
Somos Povos e Comunidades Tradicionais, homens e mulheres das terras férteis e das águas maternais, guardiãs de sementes, de histórias, de margens, de fazeres, de saberes, de sabores, de poderes.
A cada rasteira, uma esquiva, uma ginga. Afirma- mos nossa ancestralidade e defendemos inces- santemente as águas, os rios, os mares, os man- guezais, as lagoas, os apicuns, as terras, as manga- beiras, os ouricuris, os muricis, as res�ngas, as matas, as florestas, as dunas, os ventos e o ar.
Somos protagonistas da nossa existência, temos autonomia e exigimos a permanência em nossos territórios.
Estamos através desta carta, denunciando o nosso extermínio, Povos e Comunidades Tradicionais que fazemos da nossa natureza o lugar onde nascemos, crescemos e produzimos a vida.
Atualmente, somos impedidos e impedidas de
pra�car a pesca, a coleta das frutas na�vas, a mariscagem. Nosso território está sendo cercado e estão nos expulsando.
O desenvolvimento custa a natureza, custa as comunidades tradicionais, custa a vida de todos e de cada uma.
Muitas vezes, nossa gente é forçada a se aliar aos próprios agressores, movidos pelo anseio de um emprego que nunca contempla a todos e todas.
Estão ex�nguindo nossas áreas de trabalho, nos colocando numa condição de sub-empregados e empregadas.
Se não trabalhamos, não comemos, não curamos!
Assim, não há como ficar, muito menos para onde ir. Não há como permanecermos.
A prá�ca da carcinicultura (carcimorte) promove a destruição dos manguezais, a poluição das águas e alteração dos nichos de todas as espécies costeiras.
A pesca predatória, a especulação imobiliária que nos afasta das nossas terras e das nossas águas.
Os grandes la�fúndios de cana-de-açúcar, criação de gado e plan�o de eucalipto; a destruição das matas.
A ação das empresas petrolíferas, eólicas e termo- elétricas impacta diretamente os pescadores, pescadoras, marisqueiras e marisqueiros, bem como toda a população que não atua da criação, implantação e execução das a�vidades dessas empresas, a�vidades que afugentam o pescado com a super sonoridade, afetam nossa vida, matam os nossos mares com derramamento de óleo, entre outros descasos.
Estes e diversos outros são nossos agressores que querem a todo custo nos levar para as periferias dos grandes centros urbanos e para isso nos com- primem, fechando nosso campos de atuação, através das nossas passagens de servidão e fecha- mento dos portos.
Dependemos hoje de polí�cas públicas que favo- reçam os nossos homens e mulheres do mar, nossas catadoras de mangaba, nossas rainhas do mangue e guerreiras da vida.
Batalhamos hoje por fortalecimento, pela criação do Fórum Sergipano dos Povos e Comunidades Tradicionais, pois nosso grito ecoa forte, somos povos de várias gerações e nosso cerco é contra a priva�zação da vida.
02
Promovemos a in�midade entre as ciências e sabemos diferenciar parceria de submissão. Não aceitamos esse regime escravocrata, an� povo, an� pobre! Regime que repudia a diferença.
Aprendemos com as águas, com a terra, com as plantas; ouvir os ventos e o ar, isso é conhecimento!
Escrevemos nossa luta no chão e nas marés da vida. A história contada nas escolas tenta nos calar e apagar as marcas da nossa resistência, principalmente das mulheres, silenciadas. Mas, a conexão com a nossa ancestralidade traz para o presente a contramemória das Marias, Margari- das, Conceições, Joanas, Terezas, mulheres que concebem vidas e exigem partejá-las; mulheres
que constróem redes de solidariedades, saúdes, alimentos, moradas. Somos as “Marias que vão
com as outras”, pela construção de uma socieda- de onde protagonizemos o combate a todas as formas de opressão, cuidando juntas de nossos territórios de vida: território-corpo, território-co- munidade, território-terra, território-águas.
Juntas, inundamos, rebentamos as represas.
Exis�mos aqui!
Parimos nossas vidas, doutoras e os doutores das nossas r-existências!
Arte e cultura conduziram as resistências que não se silenciam.
A memória que expressa a sabedoria ancestral dos povos ecoou forte
As questões ambientais, os territórios de vida e resistências dos povos e comunidades tradicionais foram postos em debate durante a mesa “Questão ambiental: mudanças nas leis e reba�mentos nos territórios dos povos e comunidades tradicionais”, durante a programação do XI Encontro do PEAC, realizado entre os dias 6 e 9 de junho de 2019, em Aracaju (SE). Um dos intuitos do espaço foi o com- par�lhamento de experiências de luta dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Mediada pelo coordenador geral do PEAC e professor de Geografia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Eraldo Ramos Filho, a mesa contou com a presença de Robério, coordenador da Asso- ciação Quilombola do Pontal da Barra e um dos coordenadores do Movimento Quilombola de Sergipe; os representantes do Fórum de Povos e Comunidades Tradicionais da região de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT-RJ), Wagner Nasci- mento e Marcela Cananéa; Elionice Sacramento, da Coordenação Nacional das Mulheres Pescado- ras; e o professor Cris�ano Ramalho, da Universi- dade Federal de Pernambuco (UFPE), pesquisador sobre populações tradicionais pesqueiras.
Mesa debate legislação ambiental e seus reflexos nos territórios dos povos e comunidades tradicionais
Por AÍla Cristhie
“A legislação não entende que ninguém pesca o dia todo e nem todos os dias, nós somos um povo que trabalha a partir do movi- mento das águas, da lua, da maré, das espécies que impõem
processos diferenciados sobre o tempo”
(Elionice Sacramento, pescadora, quilombola de Conceição de Salinas e da Coordenação Nacional das Mulheres Pescadoras)
“ Se a gente não valoriza o lugar que a gente vive, nossas águas, nossos rios, o capital vai chegar” afirmou Eleonice
“Quem fala por nós, somos nós”, emocionou-se Wagner Nascimento, coordenador do FCT-RJ
04
As questões ambientais, os territórios de vida e resistências dos povos e comunidades tradicionais foram postos em debate durante a mesa “Questão ambiental: mudanças nas leis e reba�mentos nos territórios dos povos e comunidades tradicionais”, durante a programação do XI Encontro do PEAC, realizado entre os dias 6 e 9 de junho de 2019, em Aracaju (SE). Um dos intuitos do espaço foi o com- par�lhamento de experiências de luta dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Mediada pelo coordenador geral do PEAC e professor de Geografia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Eraldo Ramos Filho, a mesa contou com a presença de Robério, coordenador da Asso- ciação Quilombola do Pontal da Barra e um dos coordenadores do Movimento Quilombola de Sergipe; os representantes do Fórum de Povos e Comunidades Tradicionais da região de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT-RJ), Wagner Nasci- mento e Marcela Cananéa; Elionice Sacramento, da Coordenação Nacional das Mulheres Pescado- ras; e o professor Cris�ano Ramalho, da Universi- dade Federal de Pernambuco (UFPE), pesquisador sobre populações tradicionais pesqueiras.
A comercialização de lindos produtos eviden- ciou o protagonismo destes povos
Territórios de vida foram o fio condutor dos diálogos realizados
no XI EPEAC
Por Priscila Viana
“Quando a gente está fazendo arte, não precisa de muito.
Só precisa da inspiração que a gente encontra nos nossos territórios. Arte e poesia também são resistência”
(Gênisson “Fio”, Ponta dos Mangues, Pacatuba-SE) As condições de vida e o co�diano dos povos e comunidades tradicionais do litoral sergipano e norte do litoral baiano foram poe�camente abor- dadas durante todo o XI Encontro do PEAC (EPEAC), realizado entre os dias 6 e 9 de junho de 2019, em Aracaju (SE). A pluralidade de representações se destacou, com a presença do Ins�tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), Petrobras, Movimento das Marisqueiras de Sergipe (MMS) e do Conselho Gestor do PEAC.
Além destes, também es�veram presentes na plenária representações de movimentos feministas urbanos e rurais, movimentos quilombolas, de povos de terreiros, pequenos agricultores e peque- nas agricultoras, camponeses e camponesas, assentados e assentadas da reforma agrária, entre outros que têm sua atuação a par�r de iden�dades territoriais que expressam a produção co�diana da vida. No centro da roda, elementos representa�vos das culturas dos territórios foram dispostos pelas mesmas mãos que cuidam da terra e que jogam a rede no mar para garan�r o alimento. Redes de pesca, bandeiras, óleo de coco, bonecas de pano e outros objetos produzidos nos territórios se mes-
claram à força dos poemas e das cantorias ances- trais que pulsam firme nos locais sagrados de morada e de trabalho.
Riquezas dos territórios de vida pulsaram na V Feira Cultural
Por Jhennifer Laruska
“Aos nossos ancestrais Saúdo com satisfação Também as comunidades Que buscam a união”
(Claudeane Bispo, Brejo Grande-SE) A V Feira Cultural dos Povos e Comunidades Tradi- cionais foi embalada por muita animação e forró, apesar da chuvinha junina. O evento foi realizado nos dias 7 e 8 de junho de 2019, como parte da programação do XI Encontro do Programa de Educa- ção Ambiental (EPEAC), no Oceanário de Aracaju. A exposição e comercialização de lindos produtos, produzidos com recursos naturais dos próprios terri- tórios, evidenciou o protagonismo destes povos com o encontro cultural. Licores, cocadas, mariscos, artesanatos e biojóias foram feitos pelas mãos das marisqueiras, catadoras de mangaba, pescadores, camponeses e camponesas que compõem a riqueza dos territórios costeiros através da gastronomia, arte, música e dança.
Na primeira noite do evento, o público foi embalado pelo som de Forrobodó Vinil Sound System, Grupo de Teatro Raízes Nordes�nas, Karmen Korreia e o Samba de Coco do Mosqueiro com a par�cipação de Madá e Adelaide. Já no dia 8, foi a vez da Quadri- lha Rosa dos Ventos, Robson do Rojão, DJ Grau e da Batucada Improviso do Quilombo Ponta de Areia animarem a noite cultural. Entre as atrações cultu- rais, o público também pôde cur�r a apresentação de espadas e o barco de fogo.
A�vidade inspirou diálogo sobre as estratégias de luta das comunidades
PEAC realiza Oficina de Comunicação com o Movimento de Marisqueiras de Sergipe
Por AÍla Cristhie
Equipe PEAC e lideranças comunitárias de Aracaju e Barra dos Coqueiros debatem a criação de um Grupo de Trabalho
sobre royalties
Por Priscila Viana
“O rio está na memória da mulher marisqueira e pescadora desde que se entende por gente”, disse Geonísia Vieira (Nice)
A ação foi realizada no dia 19 de junho de 2019, junto ao projeto de Fortalecimento Sociopolí�co das Marisqueiras e Equipe de Educomunicação, no Centro Comunitário do povoado Pedra Furada, em Santa Luzia do Itanhy (SE). A ideia da oficina surgiu das integrantes do Movimento das Marisqueiras de Sergipe (MMS), com o obje�vo de melhorar a comunicação interna e externa do cole�vo.
A metodologia proposta foi o “Rio do Tempo”, que busca a valorização e reconstrução cole�va das memó- rias do movimento, com o obje�vo de relembrar os passos que já foram dados e os que ainda virão a ser.
No centro, foi posto um tecido azul que representou o rio e em seu curso foram posicionados os objetos trazidos pelas marisqueiras que representam suas memórias do MMS, como também foram colocadas tarjetas e fotos com ações das marisqueiras de acordo com a ordem cronológica do movimento.
No fluxo do rio o obje�vo era resgatar o nome de pessoas que têm importância na história do movimento, sen�mentos expressos e elementos de vínculo afe�vo e de organização que sustentam as marisqueiras. A par�r da memória foram discu�dos novos encontros e estratégias de fortalecimento do movimento e da sua comunicação.
Desde o mês de abril de 2019, a equipe do Obser- vatório Social dos Royal�es (OSR) do PEAC vem se reunindo com lideranças comunitárias dos muni- cípios de Aracaju e Barra dos Coqueiros, em torno da criação de um Grupo de Trabalho (GT) Regional para debater o controle social dos royal�es nos dois municípios.
Em três reuniões, realizadas nos meses de abril, maio e julho, foram realizadas trocas de conheci- mentos e experiências entre a equipe técnica, que apresentou o projeto do OSR e a problemá�ca dos royal�es nos dois municípios, e as representações comunitárias presentes aos encontros, que apon- taram no mapa suas respec�vas iden�dades e
falaram sobre suas vivências nos territórios. Atra- vés de metodologias par�cipa�vas como o mapa mudo, painéis de fotos e rodas de conversa, foram deba�dos também outros assuntos relacionados à questão, como a arrecadação dos municípios e sua evolução e oscilação ao longo dos anos.
Após a realização das três primeiras reuniões do GT, o cole�vo se aproxima da fase final de cons�- tuição, que envolve a escolha dos perfis espera- dos para a composição do GT.
Reuniões acontecem nos municípios de Aracaju e Barra dos Coqueiros
Oficina de formação sobre a Política Estadual de Ge- renciamento Costeiro é realizada em Brejo Grande
Ao olhar para o mapa da polí�ca estadual de orde- namento da costa sergipana, idealizado pelo governo, o Grupo de Trabalho (GT) do Gerencia- mento Costeiro de Sergipe, reunido em Brejo Grande, no dia 13 de junho, constatou que ele não condiz com a realidade do território quilombola Brejão dos Negros. O GT é composto por comuni- tários e comunitários, com a par�cipação da equipe técnica do Programa de Educação Ambien- tal com Comunidades Costeiras (PEAC).
Observar o mapa cole�vamente é uma oportuni- dade de formular propostas para o planejamento
territorial e ambiental da costa do Estado, pois os mapas oficiais nem sempre representam o territó- rio do ponto de vista da comunidade.
“Fizemos uma a�vidade de mapeamento dos conflitos ambientais da região. Foram produzidos dois mapas, retratando o rio São Francisco e o município de Brejo Grande. As principais dificulda- des apontadas pela comunidade foram a carcini- cultura, a falta de água, os problemas com as fazendas locais e até mesmo falta de asfalto”, apresentou o biólogo e integrante da equipe técnica do PEAC, Daniel Oliveira.
1
2
3
O gerenciamento costeiro é uma polí�ca de planejamento ambiental e territorial que envolve 18 municípios de Sergipe. Na primeira etapa, foi produzida uma proposta do Plano de Gerenciamento, realizada por um consórcio de empresas (uma brasileira e três espa- nholas), contratadas pelo governo estadual. Esse planejamento não considerou especifici- dades de algumas comunidades tradicionais, a exemplo do território quilombola Brejão dos Negros.
Após esse momento, foram realizadas as consultas públicas para a discussão da Minuta de Projeto de Lei do Gerenciamento Costeiro de Sergipe em três municí- pios: Itaporanga D’Ajuda, Aracaju e Brejo Grande. As consultas representaram uma oportunidade das comunidades opinarem com propostas populares.
Agora, uma proposta preliminar do Projeto de Lei está tramitan- do nas instâncias do governo estadual, para só após ser aprecia- da em novas consultas públicas que serão realizadas na Assem- bleia Legisla�va de Sergipe (Alese). As datas para a realização das consultas ainda não estão definidas.
06
Observar o mapa coletivamente é uma oportunidade de formular propostas para o planejamento
Pescando arte
“Escuta aqui, companheiros Uma coisa eu vou falar
Venho lá do Brejão dos Negros Outro lugar melhor não há Faço parte da comunidade Santa Cruz, vocês têm que visitar Temos belas histórias
Pra contar pra vocês Belezas naturais
Vão querer ver outra vez Temos o maracatu Dança afro também Capoeira e percussão
Que animam como ninguém Sou filha de agricultora Pescadora também Mulher de muita luta A qual inspirei
Na alegria ou na tristeza Mesmo na agonia Com suas cantorias Isso eu vivenciei
Pra trabalhar eu levantei Direito à terra eu gritei A semente eu plantei O cul�vo colherei
Comer é bom, muito bom Melhor ainda se é orgânico Cuidar do nosso alimento E agradecer ao Espírito Santo Curar o nosso corpo
E a alma também É o nosso dever
Sabemos como ninguém As ervas medicinais Que é de muito valor Precisam ser respeitadas Ouça aqui, meu sinhô O chá é poderoso
E eu adoro o lambedor também
Curar tem muitos significados Envolve o trabalho também A mulher se valoriza
Maria com as outras lá vem Fazendo o que é bom Isso sem olhar a quem Habitação também é bom Falo com propriedade Não é só ter uma casa Que nos dá a liberdade Envolve nossa cultura Desperta a ancestralidade Resgata a nossa história E nos transforma de verdade Aos nossos ancestrais
Saúdo com sa�sfação Também as comunidades Que buscam a união Somos povos lutadores Com as armas de coração
Ao PEAC agradeço a minha par�cipação A troca de experiências
E de conhecer outros irmãos Obrigada, Senhor
Por essa oportunidade De viver em harmonia E em fraternidade!”
(Claudeane Bispo, quilombola do Assentamento Santa Cruz, em Brejo Grande-SE)
EXPEDIENTE
Núcleo de Educomunicação Socioambiental do PEAC/UFS Fotos: AÍla Cristhie e Jhennifer Laruska.
Redação: AÍla Cristhie, Jhennifer Laruska, Geilson Gomes e Priscila Viana.
Edição: Geilson Gomes e Priscila Viana.
Colaboradores: Daniel de Oliveira e Jhonatas Macario.