O que será tratado
nesta aula
Esta aula tratará dos dois primeiros itens da súmula psicopatológica: aparência e atitude. Lançaremos um olhar simbólico para elas, a partir da divisão do corpo humano em quatro partes:
cabeça, tronco, braço e membros.
Atitude e aparência
A parência e atitude comunicam muito.
Não comunicam tudo, mas dão indícios do que se passa dentro de uma pessoa.
No inventário médico, escreve-se uma
súmula psicopatológica numerando de 1 a 18 itens. Nas faculdades, não é ensinada a ordem interna da súmula (corpo, espelho e elemento integrador), mas sim uma ordem qualquer e aleatória. Em geral, ordem
alfabética.
No entanto, existem dois itens da súmula que deveriam ser os primeiros, porque
dizem respeito ao corpo: atitude e
aparência. O curioso é que se consultarmos os principais autores de psicopatologia,
veremos que dão pouca importância para esses dois elementos. Ora, são itens muito ricos, pois são a primeira instalação do
homem.
Nos livros de Psicopatologia, há somente descrições. Por exemplo: no que concerne à atitude, o cliente entra no consultório e não quer falar com o terapeuta: “atitude não cooperativa”. Ou, então, ele entra no
consultório e o desafia: “atitude desafiadora ou opositora”. No final das contas, o
terapeuta decora um monte de adjetivos.
Um olhar sim- bólico sobre
aparência e atitude
A qui, vamos explorar a simbólica da aparência e da atitude, e lhes dar o olhar simbólico que o terapeuta tem de ter diante da vida.
Quando um objeto material aparece à nossa frente, ele comunica uma coisa que é um verbo. Um giz e um lápis, por
exemplo, são feitos de materiais diferentes;
no entanto, quando os dois aparecem na realidade, ambos evocam o mesmo verbo, que é escrever.
O mundo material, do corpo, é uma presença de verbos e de ações. Esses
verbos se conectam em uma história. Por isso, quando estamos diante de uma pessoa
que é matéria, precisamos entender de
que presença é a pessoa, que verbo ela evoca. A atitude
e aparência da pessoa já
devem evocar a presença de coisas para nós, cabendo-
nos guardar isso para poder trabalhar em sequência.
H á um campo da filosofia que estuda a simbólica dos números. Um é unidade, dois é divisão e por aí vai. O número quatro evoca totalidade material, como nos pontos de referência espacial (norte, sul, leste,
oeste).
Do mesmo modo, as qualidades dos entes materiais da simbologia clássica são quatro:
quente, frio, seco e úmido. Daí derivam os elementos tradicionais: quente e seco, fogo;
frio e seco, terra; úmido e frio, água; úmido e quente, ar.
O corpo: cabeça, tronco, braços
e pernas
Tudo quanto é material pode ser indicado pelo número quatro. Assim, existe uma
classificação tradicional que separa o corpo em quatro partes: cabeça, tronco, braços e pernas.
Cabeça
A cabeça é a sede dos pensamentos e dos comandos. O rosto é o primeiro elemento de pessoalidade. No entanto, a cabeça não tem força de ação. Na simbólica tradicional, associa-se a cabeça ao ar. Assim como esse elemento, ela não move, mas comunica, pois é pelo ar que saem as palavras.
A aparência e a atitude da cabeça, que são duas notas distintas, dizem muito para nós.
A descrição da aparência corresponde a
como está a cabeça, ou seja, o cabelo, olhos, boca, dentes, maquiagem, óculos, adereços.
A descrição da atitude da cabeça guarda relação com o fato de ela estar para trás,
dúvida, obediência, desatenção; inquietude, etc.
Tronco
O tronco é uma parte bastante nobre do homem. Nele, ocorrem os mecanismos de troca: o ar que entra e vai para o sangue, a digestão dos alimentos. Por isso, o tronco é símbolo da fornalha alquímica, que gera energia e transformação, e do fogo, que expande, aquece e ilumina.
É evidente que a aparência do tronco comunica. Quanto a ela, descrevem-se a
roupa e os adereços que estão no tronco. Mas o mais importante no tronco é a atitude. O tronco pode estar encurvado, ter atitudes de fogo brando, fraco, apagado. Já o tronco ereto é uma chama acesa, um fogo que se
Braços
Os braços e mãos moldam, ajustam e
envolvem a realidade, tornando-a humana.
Quando penso (ar) em pegar um copo, por exemplo, eu preciso de energia (fogo), mas quem pega mesmo é minha mão. Por isso, braços e mãos são símbolo da água que envolve, limpa e revela coisas que estão sujas.
Descreve-se aparência dos braços como fortes, flácidos, com ou sem tônus, unhas feitas ou bem cuidadas, esmalte descascado, unhas sem esmalte. Em relação à atitude, os braços podem estar parados, móveis, em riste, inquietos, moles. Com essas observações, as descrições da súmula psicopatológica vão ficando ricas e nos dando elementos para compormos a presença de quem essa pessoa é.
permite andar, do ponto de vista estrutural.
As pernas sustentam o tronco, os braços e a cabeça, fazendo a pessoa andar de um lado para o outro. Elas nos dão solidez para que possamos agir, não de modo humano, mas animal: um agir de expansão e conquista territorial.
É um pouco mais difícil observar a
aparência das pernas, porque as pessoas, em geral, usam calça. Mas vamos observar se a perna é cuidada ou descuidada, forte ou fraca, observar as unhas, o calcanhar. Em relação à atitude das pernas: se são inquietas ou paradas; se a pessoa cruza as pernas com frequência ou as mantém relaxadas; se tem uma atitude formal quando fica em pé; se tem postura de ação, expansão, esperança na conquista; ou indica um retraimento,
T udo isso são informações. Pode não
significar nada, depende do conjunto de coisas. Mas isso é a técnica da psicopatologia, fenomenológica e descritiva.
Quando aprendemos a descrever essas
coisas, vamos ganhando ferramentas muito concretas e precisas para intuir e perceber que a cabeça, o tronco, os braços e as pernas são verbo, através da aparência e da atitude.
Perceber os verbos, mudar um ou outro
verbo são meios de ajudar alguém a perceber a história que está sendo contada a partir
deles. Assim, consigo fazer com que a pessoa organize a história que está contando,
que é a história da sua vida, e pode estar disfuncional.
Conclusão