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Repositório Institucional UFC: Cultura no Brasil: análises sociopolíticas de novos paradigmas econômicos

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Academic year: 2018

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FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA, CONTABILIDADE E SECRETARIADO EXECUTIVO

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

PAULO ROBSON COELHO SAMPAIO

CULTURA NO BRASIL: ANÁLISES SOCIOPOLÍTICAS DE NOVOS PARADIGMAS ECONÔMICOS

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CULTURA NO BRASIL: ANÁLISES SOCIOPOLÍTICAS DE NOVOS PARADIGMAS ECONÔMICOS

Monografia apresentada à Faculdade de Economia, A d m i n i s t r a ç ã o , A t u á r i a , C o n t a b i l i d a d e e Secretariado Executivo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas.

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PAULO ROBSON COELHO SAMPAIO

CULTURA NO BRASIL: ANÁLISES SOCIOPOLÍTICAS DE NOVOS PARADIGMAS ECONÔMICOS

Esta monografia foi submetida à Coordenação do curso de Ciências Econômicas, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de bacharel em Ciências Econômicas, outorgado pela Universidade Federal do Ceará – UFC e encontra-se a disposição dos interessados na Biblioteca da referida Universidade.

A citação de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que feita de acordo com as normas de ética cientifica.

Fortaleza, 10/12/2014

___________________________________ Prof. Dr. Jair do Amaral Filho Nota ____ Prof. Orientador

___________________________________ Prof(a). Dra. Camila Holanda Marinho Nota ____ Prof. Membro da banca examinadora

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AGRADECIMENTOS

Durante séculos da existência humana detalhada pela história em escritos e outros meios de transmissão, a experiência sempre possui uma margem de perda de informações e sentimentos que nunca serão recapturados para serem escritos em uma texto. A medida de tempo para escrever uma monografia ainda que distinta e cheia de prazos resvala-se em uma experiência-síntese que faz de meses ou anos para sua escrita toda uma vivência da vida acadêmica (ou parte dela) que dá ao cabo desta, uma sensação que outros horizontes estão por vir e que a contemplação do passado traz sofrimento e esperança aos rumos de outros trabalhos a serem realizados, pois os desafios são objetivamente maiores e o uso do aprendizado parece ainda insuficiente para assumirmos o que estudamos ao longo de anos.

Ainda que haja compreensão da complexidade do tempo, não há como evitar que prazos existentes devem ser cumpridos e meu prazo enquanto estudante de graduação chegou ao fim, a partir de experiências que vão para além das salas de aula e doscampi da Universidade Federal do Ceará. Entretanto, para uma organização mínima de reconhecimento de todas e todos que participaram e incentivaram este feito devo começar considerando meu agradecimentos iniciais a quem eu considero minha referência no lugar Universidade e mais do que nunca como um excelente homem, meu orientador, Jair do Amaral Filho, que com uma incrível paciência aguardou minha maturação na ideia de ser bacharel e confiou que de alguma forma eu poderia concluir este curso externalizando a fusão entre o que aprendi dentro e fora da Universidade. Aproveito para me inclinar a outros mestres como a profª. Dra. Sandra Maria dos Santos que oportunizou um caminho menos difícil nas burocracias dos últimos semestres, profª.Dra. Maria Cleide Bernal que por um bom tempo me ajudou a identificar meus potenciais de estudo e diversificar minhas visões sobre economia.

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por vezes nos esquecemos na construção de modelos estritamente econométricos. Aos colegas de turma que de alguma forma me apresentaram o tempo de forma inercial, onde o sucesso destes me impulsionaram a avançar e conseguir finalizar este trabalho, Rafael Alves, Pedro Andrade, João Paulo Martins, Cíntia Chaves, Irene Alves, Roberta Thomé e outros tantos que estiveram comigo em salas de aula ou mesas de bares em conversas que aliviavam a mente ou problematizariam outras discussões a serem incorporadas nesse estudo e especialmente a um irmão que conheci na FEAAC/UFC, Felipe Aguiar Rocha, que muito me ajudou se disponibilizando a ser meu apoio em Fortaleza já em dias de Rio de Janeiro.

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RESUMO

Este trabalho visa apresentar uma análise qualitativa das Políticas Públicas Culturais em uma perspectiva histórica e sociológica garantindo à dimensão econômica, o tratamento transversal e multidisciplinar abordado em pesquisas mais recentes. Pretende-se observar os impactos das transformações conceituais entre Economia da Cultura e Economia Criativa nos últimos anos e o entrelace com as análises sociopolíticas de valor do conhecimento e espaços de poder por elas produzidas. Também objetiva estabelecer um conjunto de orientações, a partir de objetos internacionais com fundamentos jurídicos e sociológicos para a tomada de decisões econômicas, tomando como exemplo, o redimensionamento do Programa Cultura Viva e os entraves das legislações acerca da Propriedade Intelectual para conhecimentos tradicionais.

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ABSTRACT

This paper presents a qualitative analysis of Cultural Public Policies in a historical and sociological perspective ensuring the economic dimension, the cross multidisciplinary treatment and addressed in the latest research. The aim is to observe the impact of conceptual transformations between Economics of Culture and Creative Economy in recent years and interlaced with socio-political analysis of the value of knowledge and spaces of power they produce. Also aims to establish a set of guidelines from International objects with legal and sociological foundations for economic decision-making, taking as an example, resizing the Living Culture and barriers of the laws of intellectual property law for traditional knowledge.

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LISTA DE SIGLAS

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social FCS Framework for Cultura statistical

FMI Fundo Monetário Internacional

IBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas MondiaCult Conferência Mundial sobre Políticas Culturais OIT Organização Internacional do Trabalho

PPC Políticas Públicas Culturais

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Sumário

1.INTRODUÇÃO...1

2.CONHECIMENTO E CULTURA: CONTEXTO BRASILEIRO...3

2.1 Economia do Setor Cultural: Histórico e contexto para o caso brasileiro...3

2.2 Economia da Cultura e Economia Criativa: Transições e fusões no país da diversidade...12

2.3Paradigmas do conhecimento: Técnica e ciência...19

3. TRANSFORMAÇÕES POLÍTICO-ECONÔMICAS NA CULTURA: POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL...28

3.1 Cultura Neoliberal (1995-2002)...28

3.2 Participação, popularização e transições (2003-2014)...30

3.2.1Um política pública quantificada: avanços das PPCs no Brasil...33

3.2.2Dilemas de uma transição para a Economia Criativa ...35

4. DISPOSIÇÕES FINAIS...40

REFERÊNCIAS...43

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1.INTRODUÇÃO

O sabor das coisas é resultado de trocas de experiências e vivências que realizamos em nossas vidas e, é partir desse sabor que comparamos, desejamos e criamos nossos hábitos e maneiras de viver e olhar a vida em seu cotidiano (Certeau, 2001). Com essa assertiva consolida-se o intuito amplo para o qual se destina esse estudo: aprofundar discussões antes travadas em diversos campos do pensamento acadêmico/científico (destacando-se o econômico, sociológico e antropológico) em uma miscelânea de orientações que, nos permitiram pensar ontologicamente nas conformações sociais apresentadas na era pós-industrial sob influência direta do entendimento sobre o que é o conhecimento e qual o valor dele em nossa sociedade e como essa ideia tem sido absorvida em políticas públicas culturais.

Essa discussão torna-se importante para as Ciências Econômicas, pois possibilita o diálogo entre as dinâmicas sociais presentes, a partir da apropriação cognitiva dos indivíduosvis-à-vis um modelo exploratório de propriedade intelectual e análises econômicas mais qualitativas que, por influência dos atuais padrões científicos, tem sido reduzidas frente a matematização da ciência onde conforme Santos (2000 p.63) dado que o rigor científico afere-se pelo rigor das medições a qualidade intrínseca do objeto são desqualificadas em seu lugar passam a imperar as quantidades em que eventualmente se possam traduzir. Ou seja, a abordagem aqui ganha uma dimensão mais teórica em nuances mais orientadas a uma antropologia econômica.

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forma, redesenhar olhares sobre as literaturas desenvolvidas para o estudo do que compreende-se como economia do conhecimento e economia da cultura, torna-se uma tarefa árdua, mas prazerosa ao descobrir que este tema não se esgota com as ínfimas contribuições propostas por este estudo sobre propriedades e direitos. Distante disso, apenas evoca a necessidade cada vez maior de interpretações sobre sociedades que facultam à ciência e certificações o progresso e o desenvolvimento de suas relações.

Nesse sentido, incorpora-se a literatura uma fonte de pesquisa que encontratags

interdisciplinares em apoio ao tratamento dos indivíduos sob uma outra concepção de apreensão e multiplicação de saberes, bem como críticas ao desgastado e des-humanizado sistema de propriedade intelectual que conflita com esta concepção. É preciso salientar que dentre as intenções aqui propostas não está incluída a discussão sobre a propriedade industrial ou suas variações mercadológicas, apenas estarão em destaque as formas inteligíveis de criação e difusão de conhecimentos tradicionais sedimentados culturalmente, respeitada a dicotomia tempo-espaço para fins metodológicos.

A fim de garantir uma boa leitura, procurou-se não uma busca por verdades, mas uma reflexão mais densa sobre, como a partilha dos saberes é fundamental para projetarmos uma sociedade menos desigual em seus valores éticos, estéticos e sociais, além de reconhecer os processos de identificação e autoria nas relações sociais associadas à construção do conhecimento. Para tanto, no primeiro capítulo intitulado, Conhecimento e Cultura: Contexto Brasileiro, é feito um resgate histórico para ilustrar as modificações atingidas com as mudanças paradigmáticas do conhecimento e algumas de suas instâncias epistemológicas (senso comum, ciência e filosofia), ainda neste capítulo procura-se estabelecer uma ordem de valorização do indivíduo tomando como base gnosiológica sua posição em divisões técnicas e sociais do trabalho. A partir dessa leitura espera-se que o entendimento da relação entre o indivíduo e o conhecimento subsidie o questionamento social sobre as tecnologias modernas

versus saberes tradicionais, sobretudo no que tange a formação de valor para suas respectivas produções.

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no Brasil. Um recorte desde a adoção do modelo neoliberal de política pública até os dias atuais com o modelo de economia criativa. Espera-se que com esta sequencia de discussões, obtenha-se como resultado uma contribuição àqueles que são frequentemente marginalizados pela arrogância dos valores implementados em um contexto de uma economia do conhecimento que se apodera do capital intelectual, pautando sua importância em patamares mais equânimes aos “produtores” de conhecimento e cultura no Brasil.

2.CONHECIMENTO E CULTURA: CONTEXTO BRASILEIRO

2.1 Economia do Setor Cultural: Histórico e contexto para o caso brasileiro

Ao longo de anos a Cultura teve uma posição secundária na estruturação política do Brasil. Desde que tornou-se República, as primeiras atividades relacionadas ao fomento de políticas institucionalizadas nacionalmente datam do governo de Getulio Vargas nos anos 1930/40 como uma divisão do Ministério da Educação, ainda que os primeiros passos dados tenham sido do Governo de São Paulo através do seu Departamento de Cultura. Tal condição perdurou e segundo Rubim (2007, p.11), a história das políticas culturais do Estado nacional brasileiro pode ser condensada pelo acionamento de expressões como: autoritarismo, caráter tardio, descontinuidade, desatenção, paradoxos, impasses e desafios.

Trataremos brevemente o panorama histórico das políticas públicas culturais a fim de observar os atuais direcionamentos e recentes mudanças identificadas nos últimos governos. Inaugura-se, pois com o contexto de mudança societária no fim da República Velha, a adoção de princípios como Industrialização; urbanização; modernismo cultural e construção do estado nacional centralizado, política e administrativamente. Neste momento, o país continua a considerar as expressões de belas artes como foco principal e, ainda considera uma incipiente formulação conceitual para cultura que, permite expedições e observações, mas não uma incorporação das tradições e manifestações da diversidade cultural brasileira. Porém, no período administrado por Gustavo Capanema no Governo Vargas, tem-se:

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intervenções na área da cultura, que articulava uma atuação “negativa” – opressão, repressão e censura próprias de qualquer ditadura (Oliveira, Velloso e Gomes, 1982; Velloso, 1987 e Garcia, 1982) – com outra “afirmativa”, através de formulações, práticas, legislações e (novas) organizações de cultura. (Rubim, 2007 p.16)

Nesta mesma fase, importantes organismos são criados para o fortalecimento das afirmativas citadas, citam-se: Superintendência de Educação Musical e Artística; Instituto Nacional de Cinema Educativo (1936); Serviço de Radiodifusão Educativa (1936); Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1937); Serviço Nacional de Teatro (1937); Instituto Nacional do Livro (1937) e Conselho Nacional de Cultura (1938). Vale ressaltar que nesse primeiro período, as políticas públicas são consideradas elitistas e pautadas em patrimônio de viés classista e permanecem assim até os anos 60, tendo no SPHAN uma natureza institucional mais forte do que os Departamentos e Secretarias que possivelmente seriam suas gestoras.

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como por exemplo a criação da Escola Superior de Guerra dotada como equipamento cultural. Ora, é evidente que Instituições Militares tem teor cultural, porém de acesso restrito e definitivamente não popular ou de caracterização próxima de bens públicos (não rivais e não exclusivos) que à época seriam os tipos compreendidos como culturais.

A Ditadura Militar no Brasil consolida profundas mudanças no cenário cultural do Brasil. Ainda que não possam ser positivas em valores morais, estrategicamente induziu a uma dinamização cultural importante com o estímulo ao uso de tecnologias que, reorientaram as práticas culturais, sobretudo em uma perspectiva de influência norte-americana. Rubim (2004, p.20) destaca que neste período:

Além da violência, a ditadura age estimulando a transição que começa a se operar nestes anos com a passagem da predominância de circuito cultural escolar-universitário para um dominado por uma dinâmica de cultura midiatizada. Com este objetivo, a instalação da infraestrutura de telecomunicações; a criação de empresas como a Telebrás e a Embratel e a implantação de uma lógica de indústria cultural são realizações dos governos militares, que controlam rigidamente os meios audiovisuais e buscam integrar simbolicamente o país, de acordo com a política de “segurança nacional”.

Em um segundo momento sobre a Ditadura Militar, o autor descreve esse período como uma época de vazio cultural, apenas contrariado por projetos culturais e estéticas marginais, marcado pela imposição crescente de uma cultura midiática controlada e reprodutora da ideologia oficial, mas tecnicamente sofisticada, em especial no seu olhar televisivo (Rubim, 2007 p. 21). É nessa fase contraditória que internacionalmente a Economia do setor cultural começa a ser moldada, tanto em meios acadêmicos, como em termos de políticas estratégicas de desenvolvimento, inclusive nos Estados Unidos, o maior influenciador do Governo golpista.

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dadas pelos organismos internacionais na busca por orientações mais claras sobre as configurações de mercado e definições de estratégias. E b), um segundo tópico que, estabelece um outro olhar da Economia para as questões ligadas à cultura, dada a escassez de estudos e pesquisas que, como confirmar-se-à inibiriam o avanço de estratégias mais eficazes para a consolidação dos mercados associados à bens culturais e seus derivados. Para este segundo momento reserva-se também as discussões sobre o levantamento de dados e breves descrições de modelos utilizados em países considerados de vanguarda nos estudos da Economia do setor cultural.

Sobre as nuances internacionais das PPCs que direcionam os Estados Nacionais, desde 1982 na Mondiacult - Conferência Mundial sobre Políticas Culturais pode-se perceber o interesse de agências das Nações Unidas no tratamento transversal da temáticas das políticas culturais que, apesar de serem projetadas com mais vigor pela UNESCO, tramita em outros foros como a OIT e OMPI, dando o tom para a elaboração de documentos que, associam cultura e suas prerrogativas como as artes e identidades, a verdadeiras estruturas de desenvolvimento econômico e social. Assim, como as agências das Nações Unidas, organismos multilaterais como Banco Mundial, FMI e outros passam integrar normativamente a cultura como fator de composição de agregados macroeconômicos e também em escala microeconômica com efeitos de análise comportamental, bem como ativam crescentes e importantes investimentos no referido setor, seja de forma direta através de financiamento de atividades da industria cultural ou, indiretamente no estímulo a investimentos que garantam a realizações de tais atividades.

O Banco Mundial, por exemplo, realizou dois importantes eventos:Conference on Culture in Sustainable Development - Investing in Cultural and Natural Endowments

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um novo momento de compreensão sobre consumo e produção bens culturais. A coisificação da Cultura propicia ciclos de reprodução do capital e, Yúdice (2004, p.27) conclui que:

Hoje em dia é quase impossível encontrar declarações públicas que não arregimentem a instrumentalização da arte e da cultura, ora para melhorar as condições sociais, como criação de tolerância multicultural e participação cívica através de defesas como a da UNESCO pela cidadania cultural e por direitos culturais, ora para estimular o crescimento econômico através de projetos de desenvolvimento cultural urbano...

E prossegue teorizando que, a cultura ao longo dos anos se encaminha para uma conveniência tanto para a produção de mercados como na observação e pesquisas relacionadas à arte e cultura em geral. Essa conveniência esclarecida é a transformação plena da Cultura enquanto Recurso.

Nesse sentido, a proteção da Propriedade Intelectual e seus regimentos mostram os estágios históricos da transformação do conhecimento em bens, sobretudo quando se apropria em diversos níveis de conhecimentos de criação coletiva e, portanto, impossíveis de serem reclamados por um ou alguns autores. Acerca disto, o recurso Conhecimento vira trabalho que assume uma dimensão da vida social e, segundo Izerrougene (2010, p.687):

Entender essa dimensão simbólica como elemento construtivo da realidade social significa atribuir ao conhecimento uma dimensão instauradora que, inscrita nos processos de criação de valor ganha uma dimensão própria que participa da reconfiguração dos processos de acumulação capitalista, das formas institucionais de regulação e das relações entre poder e as forças produtivas

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ressaltar uma discussão que por anos, afeta as PPCs do Brasil e do mundo, entenda-se da validade dos direitos de propriedade intelectual nas comunidades e conhecimento tradicional e/ou populares.

Aplicando ao momento de transição acontecido durante a Ditadura Militar no Brasil, não se tinham ao certo definições e conjecturas que oportunizariam ao Brasil uma relação internacional favorável ao movimento que se formava para um contexto global. Só nos eventos da ONU, as reservas de capital simbólico passavam a ser discutidas, para ao longo de anos irem formando valores menos antropologizados e mais coerentes com o capitalismo cultural. Seguindo essa lógica, a estratégia utilizada pelos Estados Unidos e, portanto, parte dos países que seguiam suas determinantes contava com o argumento/justificativa que:

O setor das arte e da cultura alega que pode resolver os problemas dos Estados Unidos: melhorar a educação, abrandar a rixa racial, ajudar a reverter a deterioração urbana através do turismo cultural, criar empregos, diminuir a criminalidade e talvez até tirar algum lucro (Yúdice, 2007, p.29).

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Destaca-se que já na abertura democrática, a temática que fundamenta a massificação cultural como inapropriada aos interesses globais do setor cultural, passa a ser amplamente discutida, principalmente em um conflito dual dos conceitos de Mundialização e Americanização, tendo, portanto, em 1993 com o GATT na Rodada do Uruguai um debate da chamada exceção cultural em que sua tese:

cara especialmente aos franceses desde o final da II Guerra Mundial e cujo significado político-conceitual ampliou-se a partir do início deste século, com a adoção da tese da diversidade cultural, é que os Estados tem o direito de aplicar políticas nacionais destinadas a promover e proteger as suas industrias culturais, algo que se choca frontalmente com os interesses livre cambistas que informam a posição norte-americana, dede sempre interessada na livre circulação de bens e serviços, inclusive os de caráter simbólico-culturais, haja visto o poderia, por exemplo, da sua indústria cinematográfica – aliás não é outra razão que levou os EUA a votarem contra a aprovação da convenção da UNESCO em 2005. (Cribari, 2009, p.31)

Ou seja, institui-se um fosso entre políticas culturais nacionais e o circuito cultural agora dominante no país (Rubim, 2007. p.23) baseado no modelo midiático norte-americano, pois mesmo que haja novas fontes de definições sobre políticas culturais e um acionamento da noção de bens culturais, saber popular e tecnologias tradicionais por parte dos gestores de cultura, não se pode ignorar a conexão com o autoritarismo e a problemática tradição do patrimonialismo.

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Na verdade , em razão de uma inexistência de uma política cultural clara, e da decorrente ausência de objetivos e de planejamento para sua consecução, o Governo Federal, nos últimos anos, limitou-se a divulgar os mecanismos das leis de incentivo. Com exceção de casos específicos, no geral, o Ministério (da Cultura) atendeu à demanda e pressão de determinadas classes artísticas, criando um sistema viciado que não conseguiu atender um conceito democrático de cultura e cidadania cultural.

A Lei Sarney que, em vez de financiamento direto, passou a orientar o mercado em indicações e financiamento que apesar de advindos da escolha não estatal, eram executados com recursos de renúncia fiscal, ilustra bem o cenário de completa incoerência nas definições de PPCs no período. Outrossim, o volume de recursos não registrados bem como as oscilações orçamentárias das produções culturais da época, sinalizariam uma nova preocupação para as adequações necessárias ao Brasil para um diálogo internacional.

A partir daqui devemos iniciar o segundo tópico levantado, sobre a escassez de dados e estudos realizados para uma disciplina diferente da histórica e social utilizando-se do momento para analisar as adoções de modelos legais para financiamento da Cultura.

Já nos primeiros anos pós-ditadura, a estrutura organizacional criada para a gestão das políticas culturais era demasiadamente ambígua e inconstante, pois foi marcada por uma série de mudanças políticas de gestores e de modelos, como se tudo fosse apenas um grande laboratório. O prejuízo causado por estes anos de ingerência do tema fez com que o Brasil amargurasse uma atraso frente às discussões dos usos da cultura em nível global. Como afirma (Rubim, 2007 p.24):

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(PONTES apud Rubim, 1991).

Aqui já se encontram os primeiros desafios de uma Economia do Setor cultural que não possuía dados para basear suas tomadas de decisões, como por exemplo, dos montantes de recursos investidos e quais os retornos esperados potencialmente e/ou praticados. Essa mesma dificuldade ainda atualmente, configura-se como um dos principais desafios das políticas culturais, porém para a época teria maior peso, pois tratava-se de uma mudança paradigmática do modelo de financiamento público para uma espécie de coparticipação, já que não se pode falar em cooperação dados os objetivos distintos entre os setores público e privado. Portanto, aplica-se às PPCs uma definição de:

novos paradigmas para o funcionamento dos aparatos do Estado, centrados na busca permanente de maior eficácia e eficiência da gestão pública e em maior controlabilidade social de seus processos e resultados, passam a dominar as estratégias de reforma administrativa. E é nesse contexto que os países da América Latina procuram realçar a importância da avaliação das ações de governo como instrumento indispensável para esses novos estilos de gestão do setor público. 1(Barros, 2007 p.2)

Em apresentação no Seminário Internacional de Políticas Culturais realizado no Rio de Janeiro (2014), Cristina Pereira Lins deu destaque à questão interpelada ainda hoje, quando identifica:

a falta de uma base consistente e contínua de informações quantitativas e qualitativas relacionadas ao setor cultural, de modo a fomentar estudos e publicações, fornecendo aos órgão governamentais e privados subsídios para o planejamento e a tomada de decisão e, aos usuários em geral informações para estudos setoriais mais aprofundados.

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Para finalizar a explanação sobre ausência de dados, Isaura Botelho, no Seminário Internacional sobre Estatísticas Culturais, promovido pelo IBGE em 2008, lista alguns pontos do cenário atual, mas que vem se repetindo desde a reestruturação constitucional:

I) A cultura apresenta duas dimensões básicas uma dimensão material e uma dimensão simbólica, não material. [...].II) Considerando a cadeia produtiva da cultura, há toda uma cadeia de serviços e trocas que não se atém à dimensão cultural. As tradições culturais de cada país interferem mais na delimitação desse campo, ou seja, daquilo que é incluído ou não na rubrica “cultura”. Isso pode ser percebido quando comparamos a história cultural dos Estados Unidos e da França. III) O olhar sobre a economia da cultura permite aos gestores e formuladores de políticas a identificação de problemas, de potencialidades, de oportunidades e de riscos nos processos econômicos da área cultural. IV) Os estudos sobre as práticas culturais propicia, na medida em que se conhece melhor a vida cultural dos indivíduos, que o planejamento parta do conhecimento dos modos de vida e das necessidades reais da população. V) O tratamento das questões culturais como problemas econômicos e sociais trouxe a vantagem de novos argumentos e categorias que permitem implementar uma política de conjunto. VI) O estudo da cultura introduziu um olhar empírico capaz de detectar padrões coletivos de comportamento em domínios que muitos ainda acreditavam serem regidos exclusivamente pelo gosto individual.VII) O estabelecimento de um programa de longo prazo, não atrelado às urgências das diversas gestões governamentais, é indispensável para uma política pública voltada para um dos setores decisivos na formulação de um projeto nacional.

Entendendo os obstáculos nas definições da Políticas Públicas Culturais (PPCs) e dando continuidade, o legado desse período de incertezas foi marcado pela adoção da Lei Rouanet que, permitiu a construção de um desinteresse generalizado pelo desenvolvimento associado da cultura aos planos socioeconômicos nacionais em nível de Estado. Pode-se então compactar um novo período que se inicia na Gestão de Fernando Henrique Cardoso e vai até a atualidade no Governo Dilma, com o uso de estudos mais específicos no Brasil ainda que deficientes. Outrossim, iniciar-se-á um debate sobre as diferenças entre Economia da Cultura e Economia Criativa que serão discutidos no próximo capítulo.

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Para iniciar um rastreamento sobre as diferenças entre Economia da Cultura e Economia Criativa, bem como suas semelhanças, faz-se necessária uma retomada sobre os significados do termo cultura. Dentre várias abordagens pesquisadas, uma tendência do Direito para fins hermenêuticos, faz uma construção que remete a um elo entre Economia e Cultura sob a terminologia de Civilização. Cunhado na Europa, o termo considerava o cultivo das artes e das demandas do espírito, o desenvolvimento individual e social, tornado cultos tanto o indivíduo como a sociedade , e deste modo, civilizados (SOUZA, 2012). Para Chauí (2006):

Em associação com o termo civilização, cultura significa o resultado do processo da formação, educação e aprimoramento da pessoa, bem como expressão dos costumes e instituições como efeitos de formação de um povo.

Assim, essa associação ainda representa um movimento que diferencia classes sociais e de conhecimento em estamentos de progresso técnico, econômico, político, social e cultural. Pesquisadores como Thorstein Veblen em sua Teoria do Consumo Ostentatório aprofunda essas divisões ao afirmar que a difusão social de práticas até então reservadas tem por efeito induzir o surgimento de novas práticas elitistas (BENHAMOU, 2007). Portanto, a civilização entendida como parâmetro de apropriação cultural torna-se fator de desequilíbrio social e econômico, mesmo com os novos paradigmas do Direito e da universalização do conhecimento. Ainda para a visualização jurídica da cultura e suas possibilidades de interpretação, a concepção materialista identifica , segundo Souza (2012):

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Para ambos os casos, a importância da análise econômica acerca da influência da Cultura na sociedade é fundamental, para o entendimento geral de crescimento e desenvolvimento socioeconômico, pois o domínio das ciências jurídicas, apesar de ajudar, impactam sobretudo na formação de políticas específicas, mas não satisfazem as reais demandas de elaboração de planos econômicos eficientes em modelos pós industriais que, consideram a cultura como elemento comportamental e dinamizador da economia.

E é precisamente sob o “impulso” das evoluções sociológicas que a economia chegou à cultura. De fato, é antes de tudo graças à forte demanda dos profissionais do setor cultural ameaçados por restrições orçamentárias num contexto de restrições de intervenções públicas, que surgiu o estudo pioneiro de W. Baumol e W. Bowen (1966) sobre o espetáculo ao vivo ao qual se referem todos os trabalhos de economia da cultura.

Também é fato que a Economia da Cultura, ainda que com morosidade para a valorização do tema, já possui uma consistente produção que possibilita interações crescentes com outros campos das Ciências Econômicas, tais quais Desenvolvimento, Economia urbana, Economia Industrial, dentre outros. Willian Baumol em sua produção apresentou bases que permitem a avaliação do crescimento econômico e relações entre Economia e Cultura, a partir de um modelo de hipóteses determinadas exogenamente, dessa forma, é possível verificar os fundamentos econômicos para análises de setores culturais na Economia, segundo Herscovici (1995):

A primeira hipótese consiste no reconhecimento da existência de uma dicotomia que divide o conjunto das atividades em atividades com produtividade estagnante e atividades dinâmicas. Conforme assinalam os autores do estudo, essa dicotomia não é imutável: uma atividade estagnante, pode após uma inovação tecnológica, tornar-se dinâmica. [...]

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nenhuma mudança qualitativa mais significativa interferir na repartição das inovações entre os setores de atividades”.

Nota-se que no modelo de Baumol há um cruzamento com outras teorias que reforçam um olhar mais complexo frente ao modo minimalista da economia no campo cultural, frequentemente adotado por sociólogos e até economistas para analisar e explicar a natureza e as funções sociais e econômicas das atividades imateriais ligadas à Cultura, informação e Conhecimento. O conjunto das atividades econômicas envolvidas em cadeias produtivas de bens culturais ou ditos imateriais agora tem apelo frequente aos processos produtivos e os valores criados am cada uma das atividades sejam elas as de arte ou de indústrias cuja a lógica de desenvolvimento estejam cada vez mais voltadas para as novas tecnologias da informação (BENHAMOU, 2007).

Dos marcos teóricos da Economia da Cultura, além dos estudos de Baumol e Bowen, a criação doJournal of Cultural Economics (1973) e daFirst International Research Conference of Cultural Economics International,ambos criados por William Hendon, além d oJournal of Cultural Economics e da Féderation européenne des association pur l`économie de la culture e, por fim doJournal of Economic Literaturee a contribuição de David Thorbsy neste periódico.

A formação do conceito de Economia da Cultura, portanto, faz-se em séries de análises sob óticas complementares que nos permitem construções sobre consumos, mercados e por fim políticas culturais. Propõe um diálogo permanente com as ciências sociais, mas resvala-se do usos de técnicas quantitativas e modelagem próprias das Ciências Econômicas. Nesse estudo, pretende-se acompanhar a tendência conceitual dos formuladores das políticas públicas no Brasil, que expande as preocupações do campo para além os aspectos relacionados a dimensão econômica das obras artísticas, sobretudo no capítulo 2, onde é dissertado sobre as políticas contemporâneas e um breve rascunho acerca das industrias culturais.

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do que aplicações matemáticas aos bens simbólicos e imateriais, ou seja, é considerado objeto da Economia da Cultura aquilo que se tem como natureza nas relações de identidade e diversidade, bem como uma concepção de cultura além da mercadoria que, conforme Yúdice (2004, p. 13):

é o eixo de uma nova estrutura epistêmica na qual a ideologia e aquilo que Foucault denominou sociedade disciplinar (isto é a imposição de normas a instituições como educacional, ...)são absorvidas por uma racionalidade econômica ou ecológica, de tal forma que o gerenciamento, a conservação, o acesso, a distribuição e o investimento – em “cultura”e seus resultados – tornam-se prioritários.

É importante salientar as prerrogativas internacionais acordadas em eventos para a composição desse conceito, entendendo também que para quaisquer modelos utilizados atualmente, não se pode negar que as mudanças tecnológicas proporcionaram uma grande difusão de bens culturais e, por conseguinte, uma ampla globalização, seja de hábitos e costumes, seja de capitais imateriais como do audiovisual, por exemplo. Isso faz com que a convenção da UNESCO (2004) aja sobre a valorização da identidade e diversidade cultural, além de delimitar junto a outros organismos internacionais, as políticas de distribuição e comercialização de bens culturais, a fim de evitar práticas de competição desleais.

Abre-se aqui destaque para ensinamentos de Celso Furtado sobre a essencialidade da Cultura para o desenvolvimento nacional e preservação desses valores quando:

defende o papel estratégico do Estado, capaz de promover reformas que possibilitem a distribuição de renda e a redução das disparidades sociais, mas também a transformação cultural no sentido de superar a submissão e a reprodução de padrões importados de cultura, ou seja, superar aquilo que denominou de “desenvolvimento mimético”. (Barbalho, 2011)

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tendências internacionais mesmo com suas contradições, porém ainda que teoricamente, em quase todas as gestões, exceto as que apregoaram funções neoliberais, tiveram uma preocupação em se estabelecer uma identidade nacional e um modelo capaz de pelo menos construir um diálogo com comunidades tradicionais e seus valores.

Na chamada Economia Criativa, no entanto, desde seu surgimento nos anos 90 o tratamento ainda que destinado à atividades marcadamente culturais modela e projeta tão somente as relacionadas às ditas indústrias culturais. Entenda-se como indústrias culturais as cadeias produtivas de atividades relacionadas à cultura como audiovisual, espetáculos, fonografia, moda, design e gastronomia e outras que ampliam o conceito e a destinação de processos que envolvem o comércio interno e externo, além da abordagem mais presente sobre mercado, consumo e comportamento. Paulo Miguez, ex-secretário de políticas culturais do Ministério da Cultura no Governo Lula cita a Economia da Cultura como um movimento do mundo anglófono, mas rapidamente assimilado pelos police makers no Brasil e diz:

O que não se pode é desconsiderar o fato de já estar em curso uma discussão sobre a temática das indústrias criativas e da economia criativa. Até agora mais intensa no âmbito governamental […] como objeto de políticas públicas, esta discussão já foi incorporada por organizações do Sistema das Nações Unidas – Unctad, OMPI, PNUD, a própria UNESCO, esta, está até muito recente resistente ao tema-, pelo Banco Mundial e pelo BID (Cribari, 2009. p. 29)

Desde essa declaração até 2013, a UNESCO reavaliou posições e nos relatórios de 2010 e 2013 contribuiu com definições interessantes sobre a Economia Criativa, mas sempre incorporando-a sinergicamente com a Economia da Cultura. No Creative Economy Report 2013, a organização usa as seguintes definições e terminologias.

I) Sobre Economia Criativa

The notion is and remains a very broad one as it embraces not only

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of “research and development” (R&D). Therefore, while recognizing

cultural activities and processes as the core of a powerful new economy, it is

also concerned with manifestations of creativity in domains that would not be

understood as “cultural”.

II) Sobre Industria Criativa

The term creative industries is applied to a much wider productive

set, including goods and services produced by the cultural industries and

those that depend on innovation, including many types of research and

software development. [...] This usage also stemmed from the linking of

creativity to urban economic development and city planning. [...] A second

and highly influential force internationally was the work of Richard Florida,

an American urban studies theorist, on the “creative class” that cities

needed to attract in order to ensure their successful development. This

“creative class” is a very capacious grouping of many different kinds of

professional, managerial and technical workers (not just creative workers in

the cultural and creative industries), producing innovation of various types.

Together they form a “class” that Florida took to be the fountainhead of

innovative energy and cultural dynamism in present-day urban societies. In

this perspective, cultural activities were seen primarily as amenities in the

urban infrastructure that would serve to attract a mobile, professional labour

force and provide an outlet for their highly focused and purposeful leisure

time. remain in any given place to become key agents in local and regional

development. In addition, Florida himself recently admitted that even in the

United States the rewards of his strategy, “flow disproportionately to more

highly-skilled knowledge, professional and creative work- ers,” and added

that “on close inspection, talent clustering provides little in the way of

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Para o Governo Federal (2010-2014) foi criada uma Secretaria de Economia Criativa dentro do Ministério da Cultura2 que, em 2012 no Plano plurianual tinha entre as metas a conclusão e implementação do Plano Nacional de Economia Criativa, este passou a tomar papel estratégico dentro das PPCs, apesar de ser nativamente de concepção interministerial3 dado que, como inclinam as referencias da UNESCO são consideradas atividades da Economia Criativa, além das artes e dos patrimônios materiais e imateriais, todas as áreas sob um novo paradigma do conhecimento. Desta forma, por exemplo, sensivelmente vão sendo criadas as distinções práticas entre os Governos Lula e Dilma sobre os modelos de Economia da Cultura e Criativa.

2.3 Paradigmas do conhecimento: Técnica e ciência

Este tópico encerra as discussões para contextualização, em consonância com as literaturas que envolvem os indivíduos e a construção coletiva do conhecimento, bem como o ordenamento social aplicado em cada fase da história. Essa estrutura serve como plano de fundo do tema chave desse trabalho, quando da importância do Conhecimento e sua mudança paradigmática ao longo da história para transformação das estruturas de poder.

A colocação da resistência e do empoderamento (empowerment) no centro da análise da sociedade exige uma análise do tempo e do espaço que seja "radical” no sentido originário da palavra. Uma análise do poder não pode reproduzir tão somente em termos objetivos a superfície do status quomas deve ir até as raízes dos problemas sociais. Como já indicia a imagem da raiz, trata-se de uma empreitada historiográfica, de rastreamento das origens, e da empreitada geográfica de uma pesquisa nas profundezas. GIDDENS (1988 apud Beck, Giddens 1994)

A afirmação de Giddens citada acima é propriamente a necessidade que se tem em investigar o atual cenário de uma sociedade que, consome cada vez mais informação e aprimora seus valores pautados no conhecimento, sem compreender os elementos básicos 2

http://www.cultura.gov.br/documents/10883/11294/Metas+do+Plano+Plurianual+–%20PPA/688eb6ed-7d16-4a38-a61a-25ce2d98271a?version=1.0

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(valores, trabalho e experiências) que compõem seus objetos de consumo. Radicalizar explorando no tempo e espaço a formação do conhecimento e sua forma consumível permite condensar campos de poder e estamentos que dialogam com as análises feitas anteriormente nas ligações entre Economia, Cultura e Sociedade. Em uma superficial análise temporal optou-se por realizar a discussão inicial desse tópico pelo entrelaçamento conceitual entre conhecimento e técnica promovendo uma leitura mais continuada para chegar o fim na ideia difusa entre Conhecimento, Criatividade e Cultura.

O Conhecimento e a Técnica por séculos foram definidos em diferentes campos da ação humana. O Conhecimento, identificado em um nível de abstração muito mais amplo e concentrador dos momentos criativos da humanidade em sociedades ocidentais, ficava reservado a alguns privilegiados em função de uma separação entre o trabalho manual e o intelectual (Aranha, 2000 p. 38). Dessa forma, grupos de indivíduos preservaram suas posições de dominação considerando-as superiores a dos demais membros de suas comunidades e, por conseguinte efetivam-se detentores do poder econômico, político e até religioso, pautando-se na lógica intelectualizada do poder.

Esse traçado segregador é facilmente detectado em modelos pré-capitalistas que sequer buscavam fundamentação em processos de “intelectualização” dos indivíduos envolvidos, pois as formas que determinavam o assumir das posições sociais detentoras de poder não continham avaliações sobre a capacidade intelectual desse grupo. Exemplo disso, foi demonstrado em vários impérios como o Português que, mesmo após o período medievo, conservou fundamentos políticos e sociais baseados em um patrimonialismo, mas estendeu culturalmente à sua população uma consciência de poder agregado, onde a aristocracia e o clero tornaram-se seres “iluminados” que determinavam a validade dos conhecimentos, como afirma Faoro (2004, p.5) dizendo que, nos tormentosos dois séculos iniciais – do Estado Português - traçaram-se limites nítidos entre o exercício de um cargo e a propriedade privilegiada. Essa forma de divisão perdurou durante séculos e foi sendo dirimida em companhia do avanço das organizações capitalistas sofrendo um novo sulco com a reestruturação produtiva alcançada a partir da industrialização.

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campos da ação humana, destacadamente econômico e político, através do fortalecimento das Repúblicas “democráticas” recém institucionalizadas na Europa e nas Américas e com as transformações amparadas pelo sistema capitalista de exploração do trabalho, estas oportunizadas pela mecanização de forças produtivas e consequente aumento do consumo devido ao processo de industrialização. Acompanhando essas mudanças, o lugar do conhecimento, compreendido anteriormente pelas sociedades entre possibilidades restritas aos detentores de poder, também figura em uma nova expressão. No turbilhão das mudanças sociais comentadas, o conhecimento é remanejado como se fosse um objeto das classes dominantes para uma outra classe criada em função das recentes descobertas e aprimoramentos de tecnologias de produção: A classe científica. Em diálogo com algumas produções de Pierre

Silva e Pinheiro (2008, p.2) definem algumas interconexões entre o conhecimento, o capital e a forma de reconhecimento/autorização da classe científica:

O capital científico, para esse autor, é uma espécie particular de capital simbólico, que consiste no reconhecimento concedido pelos pares, no seio desse campo. Os maiores detentores de capital científico são certamente os pesquisadores dominantes. São eles que, geralmente, indicam o conjunto de questões que devem importar para os pesquisadores e sobre as quais eles precisam se concentrar, para serem devidamente recompensados. Segundo Bourdieu (1983), no interior do campo está sempre em jogo o poder de impor uma definição da ciência. Em todo campo se situam, com forças mais ou menos desiguais, segundo a estrutura da distribuição do capital no campo, os dominantes, representados pelos pesquisadores experientes, e os dominados, representados pelos novatos.

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pelas elites.

No Brasil, é notório que a intelectualização enquanto modelo simbólico de fomento à classe científica, prepondera nas classes mais abastadas do estrato social, pois as condições restritas de educação formal a qual o cientificismo opera, impedem por motivações financeiras e políticas o acesso a maioria de sua população à educação superior e de qualidade.

Entendendo a formação da classe científica, verifica-se portanto, que o capital científico define as ordens de atuação do conhecimento nos vários modelos econômicos internacionalmente adotados, pois a inovação tecnológica intensificada pelos processos de industrialização demarca a então nova conformação/divisão do trabalho para o contexto da dita revolução industrial validada pelos pares que assumem o modelo tecnocrático de gestão do conhecimento.

Na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, as inovações são responsáveis por constantes ciclos-base (ferroviário, têxtil, metalúrgico, dentre outros) para dinamizar a economia evidenciando aforça técnica que, para Oliveira (2003, p.178), associada a estes ciclos dinamiza também a relação cognitiva do trabalhador e sua produção, conforme trecho abaixo:

Do ponto de vista tecnológico, as inovações do ciclo ferroviário não se diferenciavam expressivamente daquelas do ciclo têxtil, pois apareciam como simples desdobramentos dos avanços alcançados durante a Revolução Industrial. As inovações mais importantes, como a própria estrada de ferro e, após 1850, o navio a vapor e os novos processos de fabricação do aço, surgiam como adaptações ou transformações de produtos e processos que não indicavam ruptura radical com a tecnologia da Revolução Industrial. Dessa forma, a nova tecnologia, tal como a do ciclo têxtil, não exigia conhecimentos científicos para sua geração, sendo dominada por homens práticos.

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manufatureiro passaram não só a executar, mas também a gerar novas tecnologias, além de conseguir difundir estas em virtude da simplicidade característica desses primitivos processos de produção. Dessa forma, todo o aparelho produtivo era beneficiado pela difusão das tecnologias. Além disso, a simplicidade da tecnologia, as reduzidas escalas de produção, os modestos recursos monetários e outros fatores permitiram a formação de novas empresas e não obstacularizaram a livre concorrência, portanto, consolidavam ainda mais essa etapa do capitalismo (OLIVEIRA, 2003 p.181)

Em termos de produção, a replicação deste modelo britânico segue até o início do século XX, quando Henry Ford (1983-1947), com os processos produtivos metricamente acompanhados dota trabalhadores, de tratos experimentais edificadores de conhecimentos, inicialmente interpretados apenas por ele nos resultados de suas pesquisas, mas pontualmente encaminhados aos operários de “chão de fábrica”, na forma de conhecimento aplicado. A partir daí, os ditos homens práticos passam a ser também sujeitos conscientes de seu valor definido pelo conhecimento e desta discussão dar-se-á maior ênfase no tópico seguinte.

Desenhada brevemente as concepções históricas do conhecimento em um cruzamento com suas possibilidades de uma divisão do trabalho, é importante fazer o mesmo com a técnica. A técnica é primitivamente entendida como a capacidade do homem de dominar a natureza e provocar meios mais eficientes de garantir sua subsistência. Entretanto, na modernidade a técnica também oportuniza canais de externalização do conhecimento aperfeiçoando a comunicação e agindo na faculdade humana de interação deixando de ser um simples campo de criação de artefatos, unindo ohomo sapiens aohomo faber.Analisa-se essa questão ao discutir as três etapas de transformação da técnica: Utensílio, máquina e autômato. (ARANHA, 2000 p. 37)

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próprio de uma classe dominante, cuja reprodução depende em parte da transmissão de capital cultural, capital herdado que tem como propriedade o fato de ser um capital incorporado, e portanto aparentemente natural, inato.

e, segundo Weber (1972, apud BOURDIEU 1983), justificam uma ordem social predisposta pela “classe intelectual” afim de fixar seus anseios por poder. Esta divisão sugere a reprodução de sistemas sociais que mecanizam indivíduos e suas elaborações intelectuais, impedindo o crescimento socioeconômico e, consequentemente o desenvolvimento igualmente categorizado. Tal disposição ignora as categorias epistemológicas ao mesmo tempo que as agregam em dois blocos, sendo um primeiro composto pelo senso comum, filosofia e religião e arte – representando um saber contemplativo - e o segundo exclusividade da ciência – representando um saber ativo - que, neste momento é contratada em função da crescente demanda por produtos da técnica ou tecnologia. Essa relação se dá, a partir da compreensão moderna do conhecimento e sua valoração

Se o discurso científico é invocado para justificar o racismo da inteligência, não é apenas porque a ciência representa a forma dominante do discurso legítimo; é também e sobretudo porque um poder que se crê fundado na ciência , um poder de tipo tecnocrático, pede naturalmente para a ciência para fundar o poder; (Bourdieu, 1983)

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eliminada, em favor da formação de outras possibilidades sócio-econômicas e culturais antes negadas por esta divisão. Dessa união, tem-se que a técnica passa a ser interpretada como a ciência aplicada e estabelece uma aliança entre o labor da mente e o trabalho das mãos (ARANHA, 2000 p.42)

Aos indivíduos “técnicos” uma reflexão sobre os valores apresentados é fundamental e compromete a estrutura social apresentada em que estes quebram a lógica marcada pela divisão do trabalho e optam pela intelectualização do trabalho em favor dos avanços outrora atingidos pela tecnologia, produto da técnica. A técnica, portanto, avança em uma nova reflexão modificadora de seus produtos e indivíduos. A práxis destes últimos impõe um novo status em que não são considerados inferiores devido a distinções epistemológicas apuradas em outras supostas classes, mas consideram-se alimentadores de novas condições para o progresso humano, a partir do desenvolvimento de novas tecnologias. As transformações no modo de pensar dos indivíduos em uma lógica compreendida como economia política do conhecimento, segundo Izerrougene (2010, P.689):

Esboçam os contornos de um novo padrão de acumulação, no qual o objeto de exploração não são as atividades produtivas específicas, mas a capacidade universal de produzir, isto é, a atividade social abstrata. A ênfase passa da aquisição do conhecimento e sua objetivação no elemento material para a sua produção e construção como verdadeira força produtiva, motivo de exploração e valorização, vinculada numa rede difusa de dispositivos que regulam diretamente as práticas laborais.

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Isso se dá por uma metamorfose social discutida nas literaturas afins dita pelo surgimento da Sociedade da Informação e do conhecimento ou ainda o surgimento de uma Sociedade em Rede. (CASTELLS, 2010). Por esta teoria, as formações intelectuais oriundas do pensamento técnico-científico, atualmente estão mergulhadas em uma racionalidade econômica de produção capitalista, constatada pelo utilitarismo exacerbado em foco nos ambientes de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das empresas, universidades e quaisquer outros tipos de associação para estes fins. Evidencia-se, assim, que há a construção de um novo paradigma onde a Técnica não mais se distancia da Ciência, mas tornam-se complementares em um processo de intelectualização do trabalho oportunamente revelador de outros valores associados às produções intelectuais.

Ainda sobre as transformações assistidas com o advento da apropriação técnico-científica em setores destacadamente mais pobres, a educação tem papel fundamental para o fortalecimento do mercado que busca indivíduos cada vez mais qualificados em conhecimentos que unam a técnica e a ciência em uma plataforma multidisciplinar de estruturação dos processos produtivos. Conforme Amaral Filho (2009, p.6)

O deslocamento do paradigma manufatureiro para o paradigma do conhecimento tem sugerido um cenário no qual a criatividade se transforma em atitude rotineira, fato que tem merecido dos estudiosos, das áreas do crescimento e do desenvolvimento econômicos, atenção especial para a chamada economia das idéias (Jones, 2000 ). Sendo as idéias o eixo principal do conhecimento, e este a base da competitividade, seus geradores necessitam de mecanismos de proteção, e de incentivo, para que suas idéias gerem o retorno esperado, e sem que elas sejam apropriadas por outros em forma de externalidades

Em um contexto nacional, a adoção de políticas de universalização do conhecimento através de programas de acesso ao Ensino Superior atendem apenas em partes as necessidades mercadológicas de competitividade internacional e desenvolvimento técnico-científico, pois a formação de pessoas no ensino superior continuam a ser políticas desconexas4 ao movimento integrado de conhecimento e cultura que observa-se em todo 4 As políticas educacionais no Brasil são institucionalizadas em outro âmbito orçamentário e de definições de

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mundo. Ou seja, mesmo com todas as transformações acontecidas ao longo de séculos em disputas de poder e ideologias socioeconômicas, o Brasil continua a divagar na proposição de políticas que unam o conhecimento e técnica em um modelo de desenvolvimento completo e não de interesses fragmentados.

Desta forma, esse estudo com a perspectiva de paradigmas em trânsito tanto para fins socioeconômicos como jurídicos, nos mostra a lenta transição das políticas públicas brasileiras de cultura e transversais ao conhecimento (Desenvolvimento industrial, Educação, Comércio Interno e Externo, entre outras) para uma composição uníssona de Desenvolvimento, isto é, um alinhamento de interesses que oportunizem transformações nas experiências culturais em uma retomada da cultura como conhecimento e vice-versa. Amaral Filho (2009, p.6) resume as convergências de criatividade, cultura e conhecimento quando:

Em tempos recentes, assiste-se à manifestação de um ponto de inflexão do sistema fordista, provocado pela emergência de novas formas de organização. Alguns autores denominam essa nova realidade por meio de várias nomenclaturas, tais como pós- fordista, pós-modernista, ou pós-industrial. Independente da nomenclatura, a verdade é que, uma das características desse fenômeno, manifestado principalmente nas áreas urbanas, é o fato de que o tempo dedicado pelas pessoas para o lazer e entretenimento vem aumentando. Algumas das razões estão (i) na difusão da tecnologia entre indivíduos e organizações; (ii) na entrada retardada dos jovens no mercado de trabalho; (iii) no aumento da esperança de vida; (iv) na multiplicação de segmentos e profissões nas áreas de serviço; (v) na descentralização da produção e (vi) na segmentação da demanda. A valorização das liberdades individuais de escolha é a base ideológica de tal fenômeno. Em nenhum outro momento da história houve tal janela de oportunidade, para que necessidade, cultura e criatividade, com o apoio incondicional do conhecimento e da tecnologia, se aliassem para constituir uma economia da criatividade, na qual a expansão do tempo dedicado ao lazer e ao entretenimento se apresenta como o principal incentivo de mercado para as atividades culturais.

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3.1 Cultura Neoliberal (1995-2002)

Em continuação ao paradigma econômico neoliberal assumido desde o Governo Collor, os primeiros anos do Governo Fernando Henrique Cardoso foram sistemáticos ao tratar a Cultura como um corte de mercado necessário para a composição do produto com o mínimo de impacto multiplicador, seja no consumo, seja nos gastos do Governo. Ainda que tenhamos uma deficiência acerca de pesquisas e falta de instrumentais quantitativos que demonstrem com precisão os acontecimentos desse período, um diálogo emergente à época entre a economia convencional e a economia política, da arte e da cultura indica que houve uma estagnação para com os acordos internacionais desenvolvidos e para uma dinamização das PPCs instituídas no Brasil.

Bolaño (2010, p.13), destaca nesta fase a forte influência de grupos empresariais que, como discutido anteriormente, gozaram de benefícios promovidos pela estratégia de massificação midiática da cultura desde a Ditadura Militar:

No caso brasileiro, o sistema privado de televisão se desenvolve à margem do cinema e se transforma, com base em uma forte produção audiovisual própria, em um caso paradigmático de indústria cultural fortemente concentrada (bem acima da média de países desenvolvidos, inclusive os europeus depois da transição para o sistema misto), com um grande capital hegemônico seguido de uma série de empresas tradicionais e pouco competitivas. Assim, a Rede Globo de Televisão se torna o maior produtor audiovisual nacional e adquire, inclusive, certa competitividade no mercado internacional, respaldada pela capacidade que teve de amortizar internamente o custo de seus produtos antes da exportação. No que se refere à exibição de filmes na televisão, a política da Globo e de suas competidoras era (e continua sendo basicamente) a de reforço da produção hollywoodiana. A produção nacional será em geral sistematicamente excluída da telinha.

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mais aristocráticas de cultura, semelhantes às da ultrapassada noção de civilização vistas no capítulo 2. Isso porque, a permissão ao mercado do arbítrio completo na produção, circulação e consumo de bens culturais acarreta a reprodução das desigualdades que caracterizam o próprio mercado capitalista (MACHADO apud OLIVIERI, 2004 p.29). Também, diz a mesma autora que, no Brasil, mesmo as produções vinculadas à industria cultural […] dependem de alguma forma de financiamento para serem realizadas, não encontrando sustentabilidade no público pagante. Porém, com a intervenção mínima proposta pelo Governo Federal imbuía o declínio das atividades culturais em uma real falência dos meios, exceto as atividades com outras fontes como no caso do sistema televisivo que depende do mercado publicitário para sua sobrevivência.

A transferência das seleções de produções culturais para o mercado definida pelas leis de incentivo/renúncia fiscal, provoca a extinção de várias manifestações e de limitação do acesso à cultura, além de mascarar a função fomentadora do Estado. Notadamente, as construções midiáticas de massa, como as televisivas, acontecem em favor do valor de venda e não de valores estéticos, artísticos, históricos e sociais. Logo, o contexto do Governo FHC é desfavorável à implementação de uma melhor distribuição de conhecimento e experiências individuais e coletivas, pois tão somente eram realizadas produções lucrativas e só teriam acesso a estas as elites.

A regulamentação da Lei Rouanet que implantou duas modalidades de financiamento da cultura – Mecenato e o Fundo Nacional de Cultura (FNC) foi durante todo esse período a principal válvula de escape legal para todo o potencial criativo no País. Para Olivieri (2004, p.163):

A lei transformou-se na ação prevalecente e majoritária do Governo FHC para a área da cultura, seja na utilização dos funcionários do MinC , seja na divulgação massiva de seus instrumentos...

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fonte ou agente de produção seja fator determinante na definição de prioridades da política cultural. Os processos criativos por não terem uma avaliação clara como distinção de agente, obrigatoriedade de resultados ou valor econômico do processo acabavam por gerar um cenário de competição ilógico, pois em grande parte dos casos davam ganho à interesses individuais (empresariado) frente aos de interesse coletivo/popular. Na visão de Olivieri (2004, p.166):

O descontrole dos resultados sociais da Lei Rouanet faz com que suas adequações no decorrer do tempo sejam procedidas em razão da demanda de determinados públicos, sem conexão com um projeto maior pretendido para a sociedade.

Critica-se, também a desorganização na condução dessa PPC, onde sequer os dados eram quantificados de maneira padrão. Tal problema impediu que houvesse aprendizado e acumulo de informações sobre a questão cultural, gerando a inexistência de ajustes na condução de aportes das empresas privadas ou das verbas públicas. A transição do modelo neoliberal não acontece de forma gradual, mas como será discutido na próxima seção, será impactante para os agentes que há muito necessitavam de uma redefinição das PPCs no Brasil.

3.2 Participação, popularização e transições (2003-2014)

Torna-se difícil não pensar na Gestão de Gilberto Gil como Ministro da Cultura do Governo Lula, como sendo um rompimento importante que trouxe a cabo das discussões um modelo participativo de PPCs. Rubim (2010, p. 11) investiga a condução das PPCs sob o dilema de práticas usuais que conferem ao modelo neoliberal (1985-2002) e às intempéries do Regime Militar três características sinteticamente retidas pelas noções de: ausências, autoritarismos e instabilidade. Far-se-à aqui considerações que acredita-se contribuem para o entendimento de um outro jeito de fazer política cultural: A efetiva participação.

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estrutura básica do MinC. O CNPC é composto de 46 representantes dos poderes públicos federal, estadual e municipal, da sociedade civil, de setores empresariais, culturais, de fundações e institutos. Tem por finalidade formular políticas públicas que articulem o debate entre os diferentes níveis de governo e a sociedade civil, para assim fomentar as atividades culturais em nível nacional, constituindo um espaço institucionalizado que rompe com a política centralista até então empreendida pelos antigos governos, possibilitando maior participação da sociedade civil no campo da cultura. É função do CNPC a deliberação de reuniões, e nesse sentido as Câmaras Setoriais representam uma eficaz ferramenta para articular as ações do CNPC.

Como é dito, o CNPC não seria novidade, não fosse a efetivação e empoderamento para atuação nas PPCs do Brasil. A gestão Gil abre condições de atuação de poderes no direcionamento de questões básicas de uma política pública como gestão, avaliação e execução orçamentária. As dinâmicas de participação são fortalecidas pelas Conferências Nacionais de Cultura no âmbito das culturas populares que, seguem as propostas de conferências de outras áreas em regimentos específicos. Mas não param por aí, também foram criadas câmaras setoriais e realizada uma descentralização para uma maior institucionalização ao Ministério e, por fim uma intensa revisão do modelo de financiamento que vem corrigindo os desequilíbrios regionais ocasionados pelos vícios anteriores, tendo em vista o Fundo Nacional de Cultura (FNC) agora ser definido com base na concorrência de projetos e uso de editais para apoio à cultura.

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A cultura é uma esfera econômica que há muito potencial a ser realizado. Usando uma tipologia do BNDES, nela coabitam: a) cadeias produtivas, b) arranjos produtivos locais, c) atividades de caráter individual, institucional e associativo

Tais tipologias fundamentam o patrocínio corporativo e mudam o foco até então do BNDES de patrocínio apenas aos grupos midiáticos. Tem-se um resultado amplo do investimento por segmento e o crescimento desse no período de 2000 à 2009 comprovando o redimensionamento de uma estatal acerca do financiamento da cultura. Para o período um crescimento de 83% comparado os anos de 2000 e 2008 (BNDES, 2010).

Tabela 1| Desembolso por segmento - Setor de cultura – 200/2009 (R$ mil)

Fonte: BNDES – AP/ DEORC

Para evitar um alongamento de discussões em políticas pontuais, objetivar-se-á as análises do Governo Lula em duas subseções: Uma primeira que não pôde ser evidenciada na análise de outros governos, mas é reconhecidamente mérito da mudança nas perspectivas dos

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internacionais de valorização da Identidade e Cidadania Cultural: Programa Cultura Viva. 3.2.1 Um política pública quantificada: avanços das PPCs no Brasil

Uma medida importante tomada pelo MinC logo de início foi a realização de uma parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a sistematização das informações relacionadas ao setor cultural. O resultado foi a publicação, em 2006, do relatório Sistema de Informações e Indicadores Culturais 2003, baseado nos dados de 2003, com base nos quais, no final de 2004, o IBGE, elaborador das estatísticas oficiais e coordenador do Sistema Estatístico Nacional, desenvolveu uma base de informações relacionadas ao setor cultural, de modo a fomentar estudos, pesquisas e publicações, visando municiar órgãos do governo e privados com subsídios e estudos setoriais, com vistas a caracterizar os principais aspectos da oferta e da demanda de bens e serviços culturais, os gastos das famílias e os gastos públicos com cultura, bem como o perfil socioeconômico da mão de obra ocupada em atividades culturais. (Bolaño, 2010 p.16)

Observa-se também a mudança no cenário de insuficiência das recomendações internacionais sobre a estruturação metodológica e conceitual de informações para o setor cultural, uma vez que nos últimos anos foram divulgados marcos referenciais que servem de base para a elaboração de estatísticas culturais. Assim, para a integração do Brasil à ações de nível global, como as realizações dos anos bilaterais (ano Brasil-França, Brasil-Alemanha), e definições de desenvolvimento associadas ao tema da Cultura, a criação de indicadores inaugura um novo momento que quantifica as ações e resultados e, possibilita a definição de metas e mecanismos mais eficientes para impactos socioeconômicos.

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Figura 1. Estutura organizacional do Ministério da Cultura

Referências

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