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O processo de criação

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Academic year: 2021

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Texto

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Mônica Leoni

Est a exposição não t em a pret ensão de ser a conclusão de algo, m as sim a de explorar um t em a. O t em a a ser explorado é o processo criat ivo, em dois m om ent os diferent es, dent ro da com posição em si e dent ro da im provisação.

Heiner Ruland, em seu livro “ Die Neugeburt der Musik aus dem Wesen des Menschen” , no capít ulo “ O processo art íst ico com o fundam ent o da t erapia” analisa a descrição dos set e processos v it ais inconscient es, feit a por Rudolf St einer e os relaciona com o processo de criação de Mozart . Ele ut iliza para isso o t recho de um a cart a escrit a por Mozart à um Barão, que havia lhe pedido que escrevesse sobre o seu processo de criação.

O t recho da cart a descrit o pelo próprio Mozart diz assim :

“ Quando est ou sozinho, em paz e de bom hum or, por exem plo, viaj ando num a carruagem , passeando após um a boa refeição ou à noit e quando não consigo dorm ir: chegam a m im os pensam ent os fluindo da m elhor m aneira. Da onde e com o vêm , isso eu não sei. E t am bém não posso influenciá- los. Aqueles que m e agradam eu guardo na cabeça e parece que os cant arolo para m im , pelo m enos é o que a out ras pessoas m e dizem . Seguro- os firm em ent e e ent ão logo vêm , um depois do out ro, com o se fossem pedaços dest inados a fazer um em padão: cont rapont os, os sons de diversos inst rum ent os, et c. et c. et c. I sso esquent a m inha alm a, principalm ent e quando não sou pert urbado; depois t orna- se cada v ez m aior; e eu o am plio e ilum ino cada v ez m ais. A coisa fica quase pront a na cabeça, m esm o sendo longa. De form a que, depois, eu possa, com um a olhadela, vislum bra- la no espírit o, com o se fosse um belo quadro ou um a pessoa bonit a. Assim na m inha im aginação eu não ouço um a coisa seguida da out ra, da form a em que será realizada depois, m as ouço t udo j unt o de um a vez. I sso ent ão é um a regalia! Todo esse “ encont rar” e “ fazer” , acont ece em m im com o num belo int ensivo sonho: m as o sobre- ouvir, assim t udo de um a vez, é de fat o o m elhor.” - ( W.A. Mozart , cart as e anot ações, vol. I V, Kassel 1963, pág.527. Cart a para o Barão... Praga 1970)

Os processos vit ais que ocorrem de form a inconscient e, no processo da criação art íst ica, t ornam - se m ais conscient es.

Assim com o Rudolf St einer relat a ( G.A.170, 12/ 8/ 1916) , as áreas dos sent idos e os processos v it ais, int eragem reciprocam ent e de um m odo em que am bos se t ranform am um com o out ro...As áreas dos sent idos, severam ent e separados ent re si, encont ram - se na periferia do m undo ext erior percebido supraconscient em ent e. Durant e a vivência art íst ica os sent idos são levados m ais para dent ro e perm eados por um a dinâm ica viva, que perm it e de cert o m odo que se m ist urem ent re si. Pela at uação dos processos vit ais dorm ent es, t ot alm ent e inconscient es, os sent idos são levados da vigília para o sonhar. Ao cont rário, os processos vit ais que ocorrem no int erior, são elevados para um sent ir aním ico durant e a criação e a vivência art íst icas; por m eio da at uação das qualidades sensórias, que por sua nat ureza são despert as, eles adquirem m ais consciência, ainda que est a sej a som ent e um a consciência de sonho. ( H.R.,pg.11)

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Text o elaborado por part icipant e do Curso Ant ropom úsica.

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Respiração Pura assim ilação, absorção do m undo ext erior sem t ranform ação

“ Chegam a m im os pensam ent os fluindo da m elhor m aneira”

Aquecim ent o Assim ilação reat iva do m undo ext erior; o calor não penet ra diret am ent e em m im , eu reaj o ao calor ext erior com o calor próprio

“ Aqueles que m e agradam eu guardo” , as idéias que t em algum a relação int erior reagem com a percepção inconscient e que ele j á t em da obra

Alim ent ação Assim ilação t ransform adora do m undo ext erior; eu dest ruo com plet am ent e a subst ância ext erior de m eu alim ent o, para t ransform a- la e adapt a- la a m im

“ Seguro- os firm em ent e e ent ão logo vem , um depois do out ro...” ; Apropriação das idéias que inicialm ent e aparecem por si m esm as vindas de fora, t ransform ação e adapt ação às idéias que j á ex ist em dent ro.

Segregação/ Secreção

Para possibilit ar a assim ilação, algo precisa ser levado de dent ro ao encont ro do que vem de fora, precisa ser secret ado, sej a calor próprio et c. Por out ro lado o que vem de fora deve ser agregado ao organism o, para dar cont inuidade ao processo

“ I sso esquent a a m inha alm a”

Agora t udo se t ransform a em algo volit ivo, est am os pert o do pont o cent ral do acont ecim ent o, da inspiração aquecida que aflora do subconscient e e im pulsiona o processo criador. A part ir dest e pont o, o m at erial de idéias t ransform ado e adapt ado à inspiração m usical int erior será int roduzido nos próxim os passos da criação.

Manut enção Const ant e reconst rução int erior para repor aquilo que é ret irado

“ Quando não sou pert urbado”

Não pode vir m ais nada de fora. Por exem plo, idéias que ainda não foram digeridas, que pert urbariam o delicado processo do via- a- ser.

Para que aquilo que j á foi capt ado com o força int erior da inspiração possa perm anecer puro e possa at uar de form a pura at é a sua finalização.

Crescim ent o Const rução além da m era m anut enção do j á exist ent e “ t orna- se cada vez m aior, e eu o am plio e ilum ino cada vez m ais”

A inspiração encont rou seu cam inho cert o, a obra se desdobra com um a cert a facilidade e nat uralidade, aperfeiçoa- se cada vez m ais.

Reprodução/ Produção

A reconst rução com plet a de um organism o na concepção de um novo “ ser”

“ a coisa fica realm ent e quase pront a na cabeça, m esm o sendo longa. De form a que, depois, eu possa, com um a olhadela, vislum bra- la no espírit o, com o se fosse um belo quadro ou um a pessoa bonit a” .

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O processo de criação é algo vit al? Ele se t orna vit al para as pessoas que t razem est e dom dent ro de si? Qual a necessidade que est as pessoas sent em de colocar est a inspiração recebida para fora e dividir com os out ros seres? Se hoj e escut am os um a das obras com plexas de Mozart , com o por exem plo, o Réquiem , e se im aginam os que ele a ouviu int eirinha dent ro de sua cabeça ant es de passá- la para o papel e de t orná- la audível para os out ros, podem os t alvez t er um a idéia da “ loucura” que se passava dent ro dele, seria im possív el ouvir ist o dent ro de si e não t orna- lo ext erno.

Por que os alguns com posit ores sent em a necessidade de com por obras com plet am ent e “ a frent e” do seu próprio t em po, m esm o que ist o lhes t raga a t ot al incom preensão do público e de t odos que o cercam ? De onde vem est a força e est a necessidade?

Com o será que realm ent e se passa est e processo, de onde vem est a m úsica, que t raz idéias “ fut uras” , coisas que a m aioria das pessoas, só virão com preender depois de, t alvez, dois ou t rês séculos?

Por que hoj e ouvim os algum as m úsicas, que com preendem os e acham os m aravilhosas, e que na sua época não eram aceit as nem ent endidas pelas pessoas, e m esm o assim , indo cont ra os conceit os da época, os com posit ores precisavam escrever e t razer à vida est as m úsicas?

Os com posit ores m odernos de hoj e, ou m esm o do século passado não são ouvidos, m uit o m enos com preendidos pela m aioria das pessoas que vivem at ualm ent e, eles t razem m ensagens que vem de onde? Do fut uro? Est as pessoas são ext rem am ent e im port ant es, elas t razem um im pulso e um a força necessárias para que o t odo cam inhe em frent e, elas, m e parece, vão puxando o barco, pois os out ros ainda não conseguem ver o que elas j á enxergam t ão claram ent e. E elas, de algum a form a, t razem ist o t ão fort e dent ro de si, que levam as suas com posições à frent e, apesar de não serem bem com preendidas.

Gost aria a seguir de fazer um a com paração dos 7 processos vit ais com o m eu processo de criação:

1- Respiração: Surge um a idéia, as vezes um m ot ivo, as vezes um a frase ou alguns com passos. ..

2- Aquecim ent o: sent o- m e ao piano, t oco est a idéia, m e sint o bem , sint o a necessidade de faze- lo, não m e sint o em paz enquant o não t orno est a idéia em algo palpável.

3- Alim ent ação: depois de t ê- la anot ado t oco- a, t ransform o- a, t orno- a m ais coerent e, encaixo- a num a form a.

4- Segregação/ Secreção: As part es que não m e agradam m ais, deixo- as de lado. 5- Manut enção: volt o a t oca- la várias vezes, v ou lapidando- a, m elhorando o que pode ser m elhorado.

6- Crescim ent o: Vou acrescent ando v ariações, pequenos t rechos novos, coloco harm onia, inst rum ent ação

7- Reprodução: Quando sint o que est á pront a, m ost ro a out ras pessoas est e novo “ ser” .

Com o será que ocorre o processo criat ivo dent ro da im provisação? Será que acont ecem os m esm os passos cit ados ant eriorm ent e?

Quando im provisam os, t odas as et apas t êm de acont ecer de form a sim ult ânea? Seria assim que Mozart se sent ia e t raduziu com a seguint e frase?

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Num processo de com posição, o que ele ouviu “ de um a vez, t udo j unt o” passa depois pelo processo de int eriorização, escolha, am adurecim ent o, reprodução, et c, e no processo da im provisação?

Pegam os sim plesm ent e as idéias, que est ão no “ ar” , no plano espirit ual? E as t ransform am os em som , em m úsica? Ou será que est as idéias m usicais passam , nest as frações de segundos por aquele processo t am bém ?

Tem os na verdade diversos t ipos de im provisação: podem os im provisar livrem ent e, sim plesm ent e deixando fluir o que “ surge” na nossa “ m ent e” , sem nada pré-est abelecido; podem os t er algum as regras, com o definir algum a escala ou m odo para im provisar em cim a; podem os im provisar em cim a de um a harm onia pré- definida; em cim a de um a rít m ica ou t er definidos apenas os t im bres, et c. et c. et c. Enfim exist em m uit as possibilidades.

Será que para cada um a dest as im provisações vivenciarem os processos diferent es de criação?

Talvez na im provisação sem algo pré- est abelecido ocorra um processo m ais diret o, onde o que é “ capt ado” é t ransform ado em som diret am ent e sem um a análise, escolha, et c. com o num a espécie de t ranse.

Num a im provisação com um a escala pré- definida, t em os que t er est a escala o t em po t odo present e em nós e brincar som ent e com est as not as, o que j á m uda com plet am ent e o processo de criação, pois t em os que “ descart ar” m uit as out ras possibilidades e deixar fluir som ent e dent ro da escala “ escolhida” . Aqui j á ex ist e um alt o grau de “ escolha inst ant âneo” .

At é aqui t em os bem claro dois passos: o da respiração ( as idéias surgem ) e secreção, quando t em os que descart ar várias not as t ocando som ent e as que, de cert a form a, com binam .

Já num a im provisação feit a sobre um a harm onia pré- est abelecida, com o no Jazz, por exem plo, é necessário que haj a t oda um a preparação e um alt o conhecim ent o das regras. Ent ão no m om ent o da im provisação acont ece de um a form a m uit o rápida, um processo de escut a, de escolha, um a j unção do que exist e dent ro, com o que vem de fora, t ant o do que est á sendo t ocado no m om ent o pelos out ros m úsicos, quant o do que vem da inspiração. Tudo num a fração de segundos.

Num m om ent o de inspiração, t ant o de com posição quant o de im provisação, a pessoa é t ransport ada dest e m undo para um out ro m undo. Seria est e o m undo espirit ual, o m undo das idéias, da inspiração?

Na verdade qual será a diferença do at o da criação dent ro da im provisação e dent ro da com posição? Na com posição passam os por várias et apas, cada um a separadam ent e, com t em po de am adurecim ent o das idéias e com t em po para analisá-las, escolhê- analisá-las, t em os a possibilidade de lapidar as idéias at é chegarm os a um result ado sat isfat ório.

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