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Academic year: 2021

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26/05/2021

Número: 0601635-18.2020.6.23.0001

Classe: AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL Órgão julgador: 001ª ZONA ELEITORAL DE BOA VISTA RR Última distribuição : 18/11/2020

Valor da causa: R$ 0,00

Assuntos: Abuso - De Poder Econômico, Abuso - De Poder Político/Autoridade Segredo de justiça? NÃO

Justiça gratuita? NÃO

Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO Justiça Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

Partes Procurador/Terceiro vinculado

PARTIDO SOCIAL LIBERAL DO MUNICIPIO DE BOA VISTA (REPRESENTANTE)

ALEXANDER LADISLAU MENEZES (ADVOGADO) DANIELE DE ASSIS SANTIAGO CABRAL (ADVOGADO) JOSE OTACI BARROSO DO NASCIMENTO

(REPRESENTADO)

ANDREIVE RIBEIRO DE SOUSA (ADVOGADO)

LENIR RODRIGUES SANTOS (REPRESENTADO) ANDREIVE RIBEIRO DE SOUSA (ADVOGADO) PROMOTOR ELEITORAL DO ESTADO DE RORAIMA

(FISCAL DA LEI)

Documentos Id. Data da

Assinatura

Documento Tipo

87522 858

26/05/2021 09:01 Sentença Sentença

(2)

JUSTIÇA ELEITORAL

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE RORAIMA 1ª ZONA ELEITORAL

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (11527): 0601635-18.2020.6.23.0001 REPRESENTANTE: PARTIDO SOCIAL LIBERAL DO MUNICIPIO DE BOA VISTA

Advogados do(a) REPRESENTANTE: ALEXANDER LADISLAU MENEZES - RR0000206, DANIELE DE ASSIS SANTIAGO CABRAL - RR617-A

REPRESENTADO: JOSE OTACI BARROSO DO NASCIMENTO, LENIR RODRIGUES SANTOS Advogado do(a) REPRESENTADO: ANDREIVE RIBEIRO DE SOUSA - DF31072

Advogado do(a) REPRESENTADO: ANDREIVE RIBEIRO DE SOUSA - DF31072

SENTENÇA

Trata-se de Ação de Investigação Judicial Eleitoral proposta pelo Diretório Municipal do Partido Social Liberal em face de José Otaci Barroso do Nascimento e Lenir Rodrigues Santos.

Consta na inicial que os investigados cometeram abuso de poder por (1) distribuição de brindes; (2) distribuição de cestas básicas; (3) utilizar engenho equiparado a outdoor; (4) realizar evento equiparado a showmício em convenção partidária.

Ao final, requer a procedência para aplicação das sanções da Lei Complementar 64/90.

Devidamente citados, os investigados apresentaram defesa no ID 42542060, afirmando que não houve qualquer demonstração de abuso de poder.

ID 85154199 - foi realizada audiência para oitiva das testemunhas "Elson do Brigadeiro" e Tiago Orihuela.

Deferido o pedido de juntada de outros documentos, os quais estão no ID 86303209 e ID 86423164.

As partes apresentaram alegações finais no ID 86791771 e ID 86865280.

Ministério Público Eleitoral no ID 87378463.

É o relatório.

Decido.

A presente ação de investigação judicial eleitoral objetiva analisar se as condutas praticadas por José Otaci, candidato ao cargo de prefeito nas eleições municipais de 2020 em Boa Vista, e Lenir Rodrigues, candidata a vice-prefeita, configuram abuso de poder político e econômico.

A exordial narra quatro fatos que supostamente seriam abusivos.

Passo a análise de cada um.

I - DA DISTRIBUIÇÃO DE BRINDES

O primeiro fato narrado trata da distribuição de brindes, no caso, calendários, que foram distribuídos na pré-campanha em desacordo com a legislação eleitoral.

A lei das eleições, in verbis:

(3)

Art. 39. A realização de qualquer ato de propaganda partidária ou eleitoral, em recinto aberto ou fechado, não depende de licença da polícia.(...)

§6o É vedada na campanha eleitoral a confecção, utilização, distribuição por comitê, candidato, ou com a sua autorização, de camisetas, chaveiros, bonés, canetas, brindes, cestas básicas ou quaisquer outros bens ou materiais que possam proporcionar vantagem ao eleitor. (Incluído pela Lei nº 11.300, de 2006) Restou cabalmente demonstrado que, de fato, foram distribuídos calendários do ano de 2020 com a imagem e o nome do candidato estampado nos objetos.

Não apenas pelas imagens juntadas nos autos, verifica-se o depoimento judicial de Thiago, nesse sentido:

Advogado: Na exordial, na inicial, tem uma foto de uma criança com um calendário. Você tinha conhecimento dessa foto?

Testemunha: Eu lembro sim, foi na pré-campanha.

[...]

Promotora: Eu só queria que o senhor explicasse uma coisa, o senhor disse que a pessoa teria um calendário em casa, um material de campanha de uma campanha anterior e ela pegou para fazer a foto, mas esse calendário é de 2020 e a eleição anterior do Senhor Otaci foi para Deputado Federal, numa data bem anterior a do calendário [...]

Testemunha: Eu acredito que todo ano, na pré-campanha, eles costumam visitar os eleitores já fiéis. Então todo ano é lançado um calendário, como esse ano deve ter sido lançado um monte de calendário também. E isso é distribuído aos eleitores.

(depoimento de Thiago, ID 85712191)

Cabe ressaltar, ainda, que a matéria foi objeto da Representação n° 0600117- 90.2020.6.23.0001, que tinha como objetivo a retirada das imagens da rede social do investigado.

A Representação foi julgada procedente e o Egrégio Tribunal Regional Eleitoral de Roraima condenou José Otaci ao pagamento de multa no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) por realização de propaganda eleitoral antecipada.

Cito aqui dois trechos do voto relator desta representação:

Sequer se discute, friso, se a distribuição de bens ou materiais que possam proporcionar vantagem ao eleitor (camisetas, brindes, canetas, cestas básicas, chaveiros, etc.) denota ilicitude proscrita pela legislação eleitoral, antes ou depois do período de propaganda --- a literalidade do art. 39, § 6º, da Lei n.º 9.504/1997 o afirma de maneira peremptória.

(...)

E meu espírito como julgador, Senhor Presidente, não se sentiria violentado pela razão simples de que a distribuição de brindes, ilícito eleitoral manifesto, pode dar vazão a sanções muito mais graves do que a mera aplicação da multa. Sabemos todos que, a depender da extensão e gravidade desses fatos, se pode cogitar,

(4)

de sufrágio.

(Voto Relator, ID 3690456, da Representação n°0600117-90.2020.6.23.0001) Não sendo suficiente, apresento a seguinte ementa do Tribunal Eleitoral do Ceará:

II - DA DISTRIBUIÇÃO DE CESTAS BÁSICAS

ELEIÇÕES 2016. RECURSO ELEITORAL. PREFEITO E VICE. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. PRELIMINAR. INADMISSIBILIDADE DA JUNTADA DE DOCUMENTOS EM FASE RECURSAL. DESENTRANHAMENTO.

M É R I T O . D I S T R I B U I Ç Ã O D E B E N S E B R I N D E S E M E V E N T O S COMEMORATIVOS REALIZADOS EM ANO ELEITORAL. ABUSO DE PODER POLÍTICO E ECONÔMICO. COMPROVADO USO DA MÁQUINA PÚBLICA EM PROL DE REELEIÇÃO. LIAME ELEITORAL E GRAVIDADE CARACTERIZADOS.

RECURSO DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Não se referindo a fatos novos, nem se amoldando às prescrições contidas no art. 435 do Código de Processo Civil, inadmissível a juntada de documentos em sede recursal, sob pena de violação aos princípios do devido processo legal, da segurança jurídica, da paridade das armas, da preclusão consumativa, da cooperação entre as partes, dentre outros. (Inteligência dos arts. 266, 268 e 270 do Código Eleitoral c/c o art.

435 do Código de Processo Civil). 2. O abuso de poder não se condiciona à limitação temporal como a maioria das condutas vedadas. Sedimentado na doutrina e na jurisprudência, ser admitida a AIJE "que tenha como objeto abuso ocorrido antes da escolha e registro do candidato", pois o que importa neste tipo de ação é a influência que as condutas tiveram na liberdade do voto e na consciência e vontade do eleitor, além da gravidade dos fatos e suas circunstâncias. 3. Na espécie, o acervo probatório comprovou que a distribuição de cestas básicas, sem cumprimento à legislação municipal pertinente ao fornecimento de benefícios assistenciais; a doação de brindes, eletrodomésticos, ferramentas e a realização de sorteio de dinheiro em eventos comemorativos ocorridos no Município, ocorreu com a participação direta do candidato à reeleição para o cargo de prefeito, com caráter eleitoreiro e gravidade apta a ensejar o desequilíbrio do pleito. 4.

Utilização de bonés e adesivos com cor e estampa do número de campanha dos recorrentes, reforçando o intuito de promoção política do então prefeito, candidato à reeleição. Promoção pessoal comprovada. Ofensa à normalidade e legitimidade do pleito e à isonomia na disputa eleitoral. 5. Caracterizado o uso da máquina pública em prol de candidatura. 6. O conjunto probatório dos autos demonstrou, de forma segura e inconteste, a correlação entre as condutas questionadas e o intuito de angariar apoio político e cooptar votos. Presente a finalidade eleitoral, restou configurado o abuso de poder político e econômico. 7.

Sentença mantida. Confirmada a cassação dos mandatos do Prefeito e do Vice- Prefeito do Município de Frecheirinha/CE, eleitos no pleito de 2016, impondo-se a realização de novas eleições. Declaração de inelegibilidade por 8 anos mantida com relação ao prefeito. 8. Recurso conhecido e desprovido.

(TRE-CE - RE: 57611 FRECHEIRINHA - CE, Relator: TIAGO ASFOR ROCHA LIMA, Data de Julgamento: 23/04/2018, Data de Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 74, Data 25/04/2018, Página 06) (grifado)

Portanto, restou demonstrada a gravidade da conduta praticada pelo Investigado, tenho o condão de afetar a lisura e a legitimidade do pleito.

(5)

O já citado § 6°, do art. 39 da Lei das Eleições veda a distribuição de bens e vantagens, fazendo menção, inclusive, à distribuição de cestas básicas.

Sobre esse assunto especificamente, retiro um trecho da defesa de ID 8686528:

Ademais, no que se refere à distribuição de cestas básicas ainda em abril de 2020, no âmbito da calamidade pública instalada a partir da pandemia do covid- 19, não possui qualquer relação com pleito eleitoral, não tendo a sua divulgação realizado qualquer referência a ele.

Não há qualquer contestação quanto a veracidade dos fatos narrados. A defesa apenas alega que a distribuição de cestas não teve ligação com a campanha eleitoral.

Éimportante ressaltar também que o caso já foi analisado na Representação n°

0600113-53.2020.6.23.0001, que tinha como objetivo a retirada da propaganda extemporânea envolvendo postagens nas redes sociais do investigado distribuindo as cestas básicas aqui mencionadas.

Naquela representação, a defesa de José Otaci apresentou contestação no seguinte sentido:

No caso em tela, o vídeo publicado mostra o Representado,ora Deputado Federal,como cidadão, fazendo doações de alimentos e máscaras para a população,adquiridos com seu salário,como um ato de humanidade, não tendo, em nenhum momento realizado pedido de voto nem de forma implícita, tão pouco explicita, não havendo, portanto, violação à lei eleitoral(art. 36-A, caput, da Lei nº 9.504/97). (ID 3987253, da Representação n° 0600113-53.2020.6.23.0001) Esta Representação foi julgada procedente e o Egrégio Tribunal Regional Eleitoral de Roraima manteve a sentença em sua integralidade. Transcrevo alguns trechos do voto relator:

Para começar, verifico que a legislação eleitoral é clara ao não permitir a distribuição de quaisquer bens ou materiais que possam proporcionar vantagens ao eleitor, art.

39, § 6º, da Lei n.º 9.504/97.

A partir daí, pode-se visualizar que ao pré-candidato não deverá proceder a tais condutas durante o ano eleitoral, porque não há hiato legal a permitir condutas que desequilibrem a disputa eleitoral.

(Votor Relator, ID 3396806, Representação n°0600113-53.2020.6.23.0001)

Após a instrução, restou comprovado que o Investigado distribuiu cestas básicas em ano eleitoral, com recursos próprios para sua promoção pessoal com fins eleitorais.

Também ficou demonstrado que a conduta não fazia parte da exceção legal do § 10 do art. 73 da Lei das Eleições, pois não se tratava de programa social autorizado em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior.

Assim, entendo que José Otaci, em indevido favorecimento à candidatura ao cargo de Prefeito de Boa Vista, praticou abuso de poder econômico quando distribuiu bens e materiais (cestas básicas e brindes).

Chama atenção a quantidade de alimentos. Há imagens juntadas na inicial (ID 40596219) em que o próprio investigado em sua rede social anuncia a distribuição de mais de 12 toneladas de cestas básicas. Ainda que não se saiba o valor exato que foi gasto, é notável que o requerido feriu o princípio da igualdade de armas e o equilíbrio da disputa eleitoral.

Com muita propriedade, pronunciou-se a digna agente ministerial:

(6)

candidato buscou se aproveitar da situação de calamidade enfrentada pela Pandemia da Covid-19 para supostamente “praticar caridade em ano de eleição”, caridade esta que não foi velada, mas ao contrário, foi amplamente divulgada e aproveitada pelo mesmo, com a publicação de diversas fotos do mesmo, seja carregando e/ou descarregando sacos de alimentos, entregando-os aos mais pobres, valendo-se do infortúnio alheio para angariar votos, propagando sua

“solidariedade” aos mais necessitados''.

Inquestionável a extrema gravidade da conduta, caracterizando abuso de poder econômico, neste sentido alguns tribunais:

RECURSOS. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. CONDUTA VEDADA. PREFEITO E VICE. SECRETÁRIA MUNICIPAL. ELEIÇÕES 2016. ART.

73, § 10, DA LEI N. 9.504/97. PROGRAMA SOCIAL. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DE CESTAS BÁSICAS SEM DESTINAÇÃO IDENTIFICADA. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE SERVIDORES DURANTE O PERÍODO VEDADO. ART. 73, INC.

V, DA LEI N. 9.504/97. ABUSO DE PODER POLÍTICO. CONDUTAS GRAVES QUE ENSEJAM A CASSAÇÃO DOS DIPLOMAS E APLICAÇÃO DE MULTA.

INELEGIBILIDADE. NOVA ELEIÇÃO. READEQUAÇÃO DE UFIR PARA A MOEDA CORRENTE NACIONAL. PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO MINISTERIAL.

PROVIMENTO NEGADO AO APELO DOS CANDIDATOS. 1. À luz do art. 73, § 10, da Lei n. 9.504/97, aos agentes públicos, servidores ou não, no ano em que se realizar eleição, é vedada a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior. Condutas essas que tendem a afetar a igualdade de oportunidades entre os candidatos nos pleitos eleitorais.

Na espécie, houve, por parte da administração municipal presidida pelo prefeito e candidato à reeleição, a doação de cestas básicas sem a regular identificação dos destinatários, nem a realização de estudo social para a verificação de que os donatários estariam amparados por programa assistencial regulado em lei municipal, não sendo possível o enquadramento na exceção prevista no citado artigo. (...) 3. Caracterização de abuso do poder político, consubstanciado na entrega de cestas básicas e na contratação de servidores temporários, afetando a isonomia dos candidatos, que deve permear a eleição. Comportamentos graves, que ensejam a cassação dos diplomas e a aplicação de multa. Declaração de inelegibilidade. Nova eleição. Readequação, de ofício, de UFIR para a moeda corrente nacional. Provimento negado ao apelo dos candidatos. Parcial provimento ao recurso do Ministério Público Eleitoral.

(TRE-RS - RE: 29410 BOM JESUS - RS, Relator: DR. LUCIANO ANDRÉ LOSEKANN, Data de Julgamento: 06/03/2018, Data de Publicação: DEJERS - Diário de Justiça Eletrônico do TRE-RS, Tomo 39, Data 09/03/2018, Página 4-5) (grifado)

ELEIÇÕES 2016. RECURSO ELEITORAL. PREFEITO E VICE. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. PRELIMINAR. INADMISSIBILIDADE DA JUNTADA DE DOCUMENTOS EM FASE RECURSAL. DESENTRANHAMENTO.

M É R I T O . D I S T R I B U I Ç Ã O D E B E N S E B R I N D E S E M E V E N T O S COMEMORATIVOS REALIZADOS EM ANO ELEITORAL. ABUSO DE PODER POLÍTICO E ECONÔMICO. COMPROVADO USO DA MÁQUINA PÚBLICA EM

(7)

III - DO ENGENHO EQUIPARADO A OUTDOOR

Quanto à utilização de um boneco equiparado a outdoor, houve clara violação aos arts. 37, §1º e 39, §8º da Lei das Eleições.

Como se vê pelo julgamento da Representação 0601594-51.2020.6.23.0001 por este juízo, o investigado foi condenado ao pagamento de multa, nos termos do § 8° do art. 39 da Lei das Eleições.

Entretanto, considero a utilização do meio proscrito apenas propaganda irregular, não capaz de configurar abuso político ou econômico.

Não há gravidade na conduta capaz de macular o equilíbrio das eleições.

Verificou-se a necessidade de aplicação de pena na representação acima citada por imposição legal, mas isso, por si só, não configura qualquer abuso.

Ademais, a testemunha Elson explicou que o boneco não foi adquirido com recursos públicos ou do candidato, vê-se:

PROL DE REELEIÇÃO. LIAME ELEITORAL E GRAVIDADE CARACTERIZADOS.

RECURSO DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Não se referindo a fatos novos, nem se amoldando às prescrições contidas no art. 435 do Código de Processo Civil, inadmissível a juntada de documentos em sede recursal, sob pena de violação aos princípios do devido processo legal, da segurança jurídica, da paridade das armas, da preclusão consumativa, da cooperação entre as partes, dentre outros. (Inteligência dos arts. 266, 268 e 270 do Código Eleitoral c/c o art.

435 do Código de Processo Civil). 2. O abuso de poder não se condiciona à limitação temporal como a maioria das condutas vedadas. Sedimentado na doutrina e na jurisprudência, ser admitida a AIJE "que tenha como objeto abuso ocorrido antes da escolha e registro do candidato", pois o que importa neste tipo de ação é a influência que as condutas tiveram na liberdade do voto e na consciência e vontade do eleitor, além da gravidade dos fatos e suas circunstâncias. 3. Na espécie, o acervo probatório comprovou que a distribuição de cestas básicas, sem cumprimento à legislação municipal pertinente ao fornecimento de benefícios assistenciais; a doação de brindes, eletrodomésticos, ferramentas e a realização de sorteio de dinheiro em eventos comemorativos ocorridos no Município, ocorreu com a participação direta do candidato à reeleição para o cargo de prefeito, com caráter eleitoreiro e gravidade apta a ensejar o desequilíbrio do pleito. 4. Utilização de bonés e adesivos com cor e estampa do número de campanha dos recorrentes, reforçando o intuito de promoção política do então prefeito, candidato à reeleição.

Promoção pessoal comprovada. Ofensa à normalidade e legitimidade do pleito e à isonomia na disputa eleitoral. 5. Caracterizado o uso da máquina pública em prol de candidatura. 6. O conjunto probatório dos autos demonstrou, de forma segura e inconteste, a correlação entre as condutas questionadas e o intuito de angariar apoio político e cooptar votos. Presente a finalidade eleitoral, restou configurado o abuso de poder político e econômico. 7. Sentença mantida.

Confirmada a cassação dos mandatos do Prefeito e do Vice-Prefeito do Município de Frecheirinha/CE, eleitos no pleito de 2016, impondo-se a realização de novas eleições. Declaração de inelegibilidade por 8 anos mantida com relação ao prefeito.

8. Recurso conhecido e desprovido.

(TRE-CE - RE: 57611 FRECHEIRINHA - CE, Relator: TIAGO ASFOR ROCHA LIMA, Data de Julgamento: 23/04/2018, Data de Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 74, Data 25/04/2018, Página 06) (grifado)

(8)

Advogado: Em algum momento, senhor Elson, ele [OTACI] solicitou que o senhor fizesse um boneco. Um boneco gigante?

Testemunha: Não, não senhora, eu fiz de livre e espontânea vontade [...]

(depoimento de Elson, ID 85712191)

Por isso, apesar de configurar sim propaganda irregular, não necessariamente configurará abuso de poder.

Sobre o assunto:

IV - DO EVENTO EQUIPARADO A SHOWMÍCIO

Por fim, passo a análise do evento realizado no dia 15/09/2020 pelo Partido Solidariedade para convenção partidária.

O Investigante alega que houve grande uso de aparato político e econômico para a veiculação de propaganda eleitoral.

O Egrégio Tribunal Regional Eleitoral de Roraima decidiu sobre esse exato assunto:

RECURSO ELEITORAL. ELEIÇÕES 2020. REPRESENTAÇÃO. PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA. NÃO CONFIGURAÇÃO. DIVULGAÇÃO DE CONVENÇÃO ELEITORAL NA REDE SOCIAL FACEBOOK. AUSÊNCIA DE PEDIDO EXPLÍCITO DE VOTO. INEXISTÊNCIA DE MEIO PROSCRITO.

RECURSO DESPROVIDO.

I. Contra sentença proferida por juiz eleitoral nas eleições municipais é cabível recurso, nos autos da representação, no PJe, no prazo de 1 (um) dia, assegurado ao recorrido o oferecimento de contrarrazões em igual prazo, a contar da sua intimação para tal finalidade. Inteligência do art. 96, § 8º, da Lei n.º 9.504/1997 e do art. 22 da Resolução TSE n.º 23.608/2019.

II. O estabelecimento de um limite temporal às campanhas eleitorais tem como fundamento o princípio da igualdade de oportunidades entre partidos e candidatos, e RECURSO ELEITORAL - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - ABUSO DE PODER - ELEIÇÕES 2016 - PREFEITO E VICE-PREFEITO - PROPAGANDA IRREGULAR EM CONVENÇÃO PARTIDÁRIA - PROPAGANDA ILÍCITA EM COMÍCIO - MANIFESTAÇÃO DE ELEITORES ANTES DO TÉRMINO DA VOTAÇÃO - DIVULGAÇÃO DE PESQUISA ELEITORAL SEM REGISTRO - G R A V I D A D E D A S C I R C U N S T Â N C I A S - C O N J U N T O P R O B A T Ó R I O INSUFICIENTE - NECESSIDADE DE PROVAS ROBUSTAS - NÃO ACOLHIMENTO - DESPROVIMENTO DO RECURSO. O abuso de poder não pode ser presumido, reclamando, para sua configuração, a comprovação da gravidade das circunstâncias do caso concreto que caracterizam a prática abusiva, de forma a macular a lisura da disputa eleitoral Os fatos apurados nos autos não se revestiram de gravidade suficiente para caracterizar abuso de poder, e não teve a dimensão necessária para interferir na legitimidade do pleito ocorrido no Município de Arês/RN. Desprovimento do recurso.

(TRE-RN - RE: 34454 ARÊS - RN, Relator: IBANEZ MONTEIRO DA SILVA, Data de Julgamento: 30/08/2018, Data de Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 03/09/2018, Página 3-4)

(9)

busca realizar três objetivos principais: (1) garantir a todos os competidores um mesmo prazo para realizarem as atividades de captação de voto; (ii) mitigar o efeito da assimetria de recursos econômicos na viabilidade das campanhas, combatendo a influência do poder econômico sobre os resultados dos pleitos; e (iii) impedir que determinador competidores extraiam vantagens indevidas de seus cargos ou do acesso à mídia para iniciar a disputa eleitoral mais cedo. Doutrina.

III. Não configuram propaganda eleitoral antecipada, desde que não envolvam pedido explícito de voto, a menção à pretensa candidatura e a exaltação das qualidades pessoais dos pré-candidatos, que poderão ter cobertura dos meios de comunicação social, inclusive via internet. Exegese do art. 36-A da Lei n.º 9.504/1997.

IV. A despeito das ressalvas doutrinárias no que tange à inadmissão do “pedido explícito não-textual de votos” e da “propaganda eleitoral indireta”, a jurisprudência predominante no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral indica que a configuração de propaganda eleitoral antecipada pressupõe pedido explícito de voto, sendo vedada a extração desse elemento a partir de cotejo do teor da mensagem e do contexto em que veiculada. Precedentes.

V. Quanto ao alegado desvirtuamento das convenções partidárias, é da jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral que “embora a divulgação de convite para convenção em página do Facebook extrapole os limites do público-alvo da propaganda intrapartidária, não se caracteriza, na espécie, a propaganda eleitoral antecipada decorrente do desvirtuamento de propaganda intrapartidária, haja vista a ausência de pedido expresso de votos” (v.g., Recurso Especial Eleitoral nº 26428, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 03/12/2018).

VI. A realização de propaganda, quando desacompanhada de pedido explícito e direto de votos, não enseja irregularidade, todavia, caracteriza–se o ilícito eleitoral quando o veículo de manifestação se dá pela utilização de formas proscritas durante o período oficial de propaganda, a exemplo da ereção de “outdoors”, da realização de “showmícios” ou da distribuição de brindes. Precedentes.

VII. Inexistente, no caso concreto, a comprovação por parte do recorrente do pedido explícito de votos e do emprego de meios de propaganda proscritos pela legislação eleitoral, razão pela qual se impõe a manutenção da sentença que julgou improcedente o pedido de condenação por força de propaganda antecipada.

VIII. Recurso conhecido e desprovido.

(TRE-RR - RE: 0600172-41.2020.6.23.0001, Relator: BRUNO HERMES LEAL, Data de Julgamento: 20/11/2020, Data de Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 23/11/2020)

Ademais, como deixei claro no julgamento do processo n° 0600172- 41.2020.6.23.0001, "a proibição de realização de convenção partidária é uma intromissão nas prerrogativas dos partidos. Não pode a Justiça Eleitoral impedir ou punir o órgão partidário por realizar algo previsto na lei eleitoral".

Não deve ser punido o investigado por ação do partido, dentro dos limites de suas prerrogativas, ter realizado sua convenção partidária.

Ainda, cito a Resolução n° 23.623/2020, que dispõe sobre a ata de convenção

(10)

Art. 1º Os partidos políticos podem realizar convenções partidárias em formato virtual para a escolha de candidatos e formação de coligações majoritárias nas Eleições 2020, ainda que não previstas no estatuto partidário e nas diretrizes publicadas pelo Diretório Nacional até 7 de abril de 2020 (Consultas nos 0600413- 57, 0600460-31 e 0600479-37).

Parágrafo único. Aos partidos políticos é assegurada autonomia para a utilização das ferramentas tecnológicas que entenderem mais adequadas para as convenções. (grifado)

O partido político utilizou-se de ferramenta que entendeu adequada para realização de sua convenção, por isso, não entendo configurado o abuso de poder pelo evento da convenção.

V - DO DISPOSITIVO

Ante o exposto, em harmonia com o Ministério Público Eleitoral, JULGO PROCEDENTE os pedidos veiculados nesta Ação de Investigação Judicial Eleitoral, com resolução do mérito, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, pelos fundamentos apresentados nos itens I e II desta sentença, para:

1) Declarar a prática de abuso de poder econômico, nos termos do art. 14, § 9°, da Constituição Federal de 1988 e art. 22, inciso XIV, da Lei Complementar 64/90;

2) Declarar a inelegibilidade de JOSÉ OTACI BARROSO DO NASCIMENTO, que, comprovadamente, praticou o ato abusivo, cominando-lhe a sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em que se verificou (eleições 2020);

3) Todavia, dado ao caráter pessoal, deixo de declarar a inelegibilidade da candidata à Vice [Lenir Rodrigues], uma vez que não se vê quaisquer provas de sua participação nas distribuições de vantagens aos eleitores, motivo pelo qual não é possível aplicar a referida sanção a esta investigada;

4) Determino a remessa de cópia digital dos autos, via e-mail, ao Ministério Público Eleitoral, em razão do art. 22, inciso XIV, da Lei Complementar 64/90.

Com o trânsito em julgado, arquivem-se os autos, procedendo-se às pertinentes anotações no sistema e observadas as formalidades legais.

Ciência ao Ministério Público Eleitoral.

Expeça-se o necessário. Cumpra-se.

Publique-se.

Boa Vista/RR, datado e assinado eletronicamente.

Referências

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