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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Évora Processo nº 1231/05-2

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Texto

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 1231/05-2

Relator: ÁLVARO RODRIGUES Sessão: 07 Julho 2005

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: AGRAVO

Decisão: NEGADO PROVIMENTO

ACÇÃO DE ANULAÇÃO DE DELIBERAÇÃO SOCIAL

LEGITIMIDADE ACTIVA

Sumário

I - Só têm legitimidade processual activa para a acção de anulação das deliberações sociais, por expressa imposição do artº 59º nº1 do Código das Sociedades Comerciais, o órgão de fiscalização da sociedade e qualquer sócio que não tenha votado no sentido que fez vencimento, nem posteriormente tenha aprovado a deliberação expressa ou tacitamente.

II – Não sendo a posição de sócio do Autor reconhecida ou sendo, pelo menos, controvertida, já que a Sociedade Ré não o reconhece como tal e o mesmo não impugnou com êxito a deliberação que não lhe reconheceu tal status

societário, o mesmo não tem legitimidade activa para intentar este tipo de acção.

III – Mas ainda que se entendesse que a presente acção não é propriamente uma acção de anulação de deliberação social, não obstante tal vir pedido, sendo antes uma acção destinada á declaração de nulidade da deliberação em causa, para a qual, segundo alguns autores, tem legitimidade um quisquis de populo, desde que tenha interesse directo em demandar, ainda assim o Autor não teria legitimidade, pois não detendo a qualidade de sócio, não lhe pode ser reconhecido interesse directo em demandar a Sociedade por esta não o ter convocado naquela qualidade.

Texto Integral

Agravo 1231/05-2

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(Acção Ordinária 64/02)

Comarca de V. Real de Stº António

Acordam na Secção Cível da Relação de Évora:

RELATÓRIO

L.demandou pela presente acção de anulação de deliberação social, com processo ordinário, E., LDA., alegando para tanto e, em síntese, que o Autor não foi convocado para Assembleia-Geral da Ré realizada em 20.10.01 onde foi deliberado o ajustamento do capital social mediante incorporação de reservas livres para o valor de 32.130.004$00, a redenominação do capital social

expresso em escudos para o equivalente em euros e a actualização da

redacção do artº 3º do pacto social, devido à redenominação desse capital de escudos para euros.

Que não foi convocado também o sócio da Ré, S. e que tal falta de convocação é determinante da nulidade da referida deliberação, por não ter a

convocatória sido dirigida a todos os sócios.

A ré contestou, arguindo a caducidade do direito do A. a propor a presente acção de anulação de deliberação social, a ilegitimidade do Autor que, segundo alega, é mero contitular de uma quota a Ré, que lhe adveio por

herança, não sendo sócio da Ré e acusando o mesmo de litigar de má-fé, alem de se defender por impugnação.

Em sede do despacho saneador, o Exmº Juiz a quo decidiu da excepção da ilegitimidade do Autor, julgando a mesma procedente e, em consequência, absolveu a Ré da instância, nos termos dos artºs 288º, nº1 al. d) e 493º nº2, ambos do Código de Processo Civil.

Inconformado com tal decisão, trouxe o Autor recurso de Agravo da mesma para esta Relação, rematando a sua alegação com as seguintes:

Conclusões:

1-O Autor foi nomeado pelas restantes três contitulares representante comum da quota da Ré, nomeação válida e eficaz.

2-O A. foi julgado parte ilegítima para intentar a presente acção, uma vez que por deliberação da R, não é considerado sócio da mesma.

3- Se o A. não tem legitimidade para, por si, intentar a presente acção, sempre

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a teria como representante das restantes três contitulares, ou seja, como representante de 75% da quota.

4-Nos termos do artº 286º do C.Civil, a nulidade é invocável a todo o tempo por qualquer interessado.

5-O A. é interessado para os efeitos legais.

7- Assim o A. teria legitimidade para interpor a presente acção.

8- Ao decidir em sentido contrário, violou o tribunal " a quo" os artºs 222º e 223º do CSC e 286º do C.Civil.

Foram apresentadas contra-alegações, pela Agravada, a qual defende a manutenção do decidido.

O Exmº Juiz a quo proferiu despacho, mantendo a sua posição.

Corridos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir, já que nada obsta ao conhecimento do objecto do presente recurso, delimitado que é pelas conclusões da alegação dos recorrentes, nos termos das disposições conjugadas dos artºs 684º, nº3 e 690º, nº1 do CPC.

FUNDAMENTOS

A decisão recorrida julgou o Autor parte ilegítima, com base numa deliberação da Assembleia – Geral da ora Agravada, de 26.02.2002, que decidiu que o ora Autor/Agravante L. fica impedido de qualquer actividade ou participação na empresa e proibido de estar pessoalmente nas instalações da referida

empresa, enquanto não puder ser juridicamente sócio de pleno direito da mesma.

Esta deliberação encontra-se documentada na acta da referida Assembleia- Geral, cuja cópia constitui fls. 44 a 54 deste processo.

Como refere a decisão sob recurso «Daqui resulta que a Ré, ela própria, considerou não ser o Autor seu sócio, tendo deliberado nesse sentido.

Em síntese, o que a Ré decidiu nessa Assembleia-Geral, foi que o aqui Autor não era seu Sócio e enquanto não o fosse estaria impedido de qualquer actividade na empresa».

E a mesma decisão acrescenta: «Não cabe aqui, no âmbito da presente acção, apreciar a deliberação referida, sendo que o que importa reter é que existiu uma deliberação dos sócios da Ré, em Assembleia-Geral, que decidiu não

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considerar o Autor como sócio desta».

Diz ainda a decisão sob censura que, ao que se sabe, não foi anulada nem declarada nula tal deliberação, tendo, inclusive a acção intentada pelo ora Autor no Tribunal de V.Real de Santo António (Ac. Ordinária 470/2000), sido julgada improcedente e a Ré absolvida dos pedidos contra ela formulados, sendo certo que em tal acção o Autor nem sequer impugnou expressamente a concreta deliberação.

O Autor sustenta que foi nomeado pelas restantes três contitulares,

representante comum da quota da Ré, nomeação válida e eficaz e que se não tem legitimidade para, por si, intentar a presente acção, sempre a teria como representante das restantes três contitulares, ou seja como representante de 75% da quota__ conclusões 1ª e 3ª acima transcritas.

Porém e antes do mais, como se colhe da simples leitura da petição inicial, o A. propôs a acção apenas em seu nome, pois exigindo a lei que a petição inicial

identifique as partes, indicando os seus nomes, domicílios ou sedes e, sempre que possível, profissões e locais de trabalho, conforme impõe o artº 467º nº1 alínea a) do CPC, a verdade é que vem identificado um Autor único, L., o ora recorrente!

É certo que no artº 2º do petitório, o A, diz que é representante comum dos contitulares de uma quota da Ré, agindo nessa qualidade. Todavia, em parte alguma da petição identifica tais contitulares, apenas remete para uma carta que as suas alegadas irmãs terão escrito à Empresa Ré em 20 de Março de 2000, portanto cerca de um ano antes da deliberação social ora impugnada, informando tal Empresa que nomeavam o referido irmão, ora Autor, como seu representante comum.

E tanto assim é, isto é que o Autor se configura como único demandante, que o mesmo pediu o apoio judiciário apenas para ele, pois se litigassem também as suas representadas, teria de impetrar tal benefício ou pagar a respectiva taxa de justiça, o que não aconteceu.

Em segundo lugar, parece o Autor, salvo o devido respeito, confundir a

legitimidade para acção com o instituto de representação ( artºs 258º e segs.

do Código Civil).

O representante não é parte, representa a parte!

Ora a legitimidade e, designadamente, a legitimidade processual activa, é a posição pessoal do sujeito que tem interesse em demandar, numa relação jurídica controvertida, relativamente ao outro que é demandado.

Afere-se, como refere o artº 26º nº1 do CPC, pelo interesse em demandar e este exprime-se pela utilidade derivada da procedência da acção.

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O representante pratica os actos materiais ou processuais em nome do seu representado e nos limites dos poderes de representação, pelo que os efeitos produzidos repercutem-se na esfera jurídica do representado.

Assim ainda que o Autor seja representante dos outros contitulares da quota, de tal representação não lhe advém a legitimidade processual activa, pois esta é sempre um pressuposto processual atinente à Parte, não ao representante da Parte.

Daí que o artº 26º e segs. do CPC, que integram a secção II do Capítulo II (Das Partes), do Livro I do CPC, se refira expressamente à legitimidade das partes e o próprio nº 1 do artº 26º se refira à parte legítima.

Desta sorte, é manifestamente improcedente o argumento do Autor de que ainda que não tivesse legitimidade para por si intentar a acção, sempre a teria como representante das restantes três contitulares, ou seja, no valor de 75%

da quota ( conclusão 3ª).

Tal legitimidade diria respeito apenas às referidas contitulares, mas nunca ao Autor, que apenas possui poderes de representação das mesmas.

Como bem decidiu o despacho em recurso, só têm legitimidade processual activa para a acção de anulação das deliberações sociais, por expressa imposição do artº 59º nº1 do Código das Sociedades Comerciais, o órgão de fiscalização da sociedade e qualquer sócio que não tenha votado no sentido que fez vencimento, nem posteriormente tenha aprovado a deliberação expressa ou tacitamente.

Ora a posição de sócio do Autor é recusada ou, pelo menos, controvertida, já que a Sociedade Ré não o reconhece como tal e o mesmo não impugnou com êxito a deliberação que não lhe reconheceu tal status societário, conforme se acha documentado nos autos.

Ainda que se entenda que a presente acção não é propriamente uma acção de anulação de deliberação social, não obstante tal vir pedido, sendo antes uma acção destinada á declaração de nulidade da deliberação em causa, para a qual, segundo alguns autores, tem legitimidade um quisquis de populo, desde que tenha interesse directo em demandar ( por todos, Carlos Olavo,

Impugnação das Deliberações Sociais, Col. Jurisprudência, 1988, T3, 21-31), ainda assim o Autor não teria legitimidade, pois não detendo a qualidade de sócio, não lhe pode ser reconhecido interesse directo em demandar a

Sociedade por esta não o ter convocado naquela qualidade.

Improcedem, destarte, todas as conclusões do Agravante, merecendo confirmação a decisão recorrida.

DECISÃO

Tudo visto e ponderado, deliberam os Juízes desta Relação em negar

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provimento ao Agravo interposto e, em consequência, em confirmar a decisão recorrida.

Custas pelo Recorrente.

Processado e revisto pelo Relator.

Évora,

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