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Jornalismo científico: análise do caderno Ciência e vida do jornal A tarde

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Academic year: 2021

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FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

CURSO DE BACHARELADO EM COMUNICAÇÃO COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

INÊS CAROLINE MAGALHÃES COSTAL

JORNALISMO CIENTÍFICO: ANÁLISE DO CADERNO

CIÊNCIA&VIDA DO JORNAL A TARDE

Salvador

2009

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INÊS CAROLINE MAGALHÃES COSTAL

JORNALISMO CIENTÍFICO: ANÁLISE DO CADERNO

CIÊNCIA&VIDA DO JORNAL A TARDE

Monografia apresentada ao Curso de graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo.

Orientadora: Profa. Maria Lucineide Andrade Fontes

Salvador

2009

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A

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AGRADECIMENTOS

A minha mãe, Rita Magalhães, pelo apoio e cuidado redobrados nessa etapa final.

A minha irmã Verônica, pela paciência e tolerância na invasão do quarto nas madrugadas de trabalho.

A Jane, amiga querida, pelo apoio, estímulo e milhares de revisões.

Aos amigos, em especial a panela Jorge, Ju e Jubs, pela torcida de sempre e companheirismo durante a produção do trabalho.

A Malu Fontes, pelo acompanhamento e pelas correções durante a orientação, principalmente as cosméticas.

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RESUMO

O exercício do jornalismo científico tem sua prática marcada por críticas à cobertura superficial da área e a falta de especialização do jornalista. Através da análise do caderno

Ciência&Vida do jornal A Tarde foi verificado como esse cenário se configura num produto

regional. O exame incluiu as edições de outubro de 2007 e fevereiro e março de 2009 e a comparação do conteúdo publicado neste último mês com as edições de outubro de 2007, mês inaugural do caderno. Foram identificadas as estratégias utilizadas na apresentação do conteúdo do caderno, as temáticas abordadas nos textos e foi traçado um panorama da prática local de jornalismo científico.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 7

1.1 DO JORNALISMO CIENTÍFICO 8

2 JORNALISMO E CIÊNCIA 12

2.1 FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO JORNALISTA 14 2.2 CIENTISTAS E A IMPRENSA 19 2.3 OS DESAFIOS DO JORNAL IMPRESSO NA SOCIEDADE MULTI-MIDIÁTICA 21

3. O CADERNO CIÊNCIA&VIDA 23

3.1 MAIS CIÊNCIA NO GRUPO A TARDE 25 3.2 SOBRE O CONTEÚDO DO CADERNO 26 3.3 CADERNO CIÊNCIA&VIDA: NÚMEROS E PARTICULARIDADES DO

PERÍODO ANALISADO

28

3.4 ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR A COMPREENSÃO DO LEITOR 31

4. ESTUDO DE CASO 33

4.1 CARACTERÍSTICAS APONTADAS NO CADERNO INAUGURAL 33 4.1.2 DESTAQUE ÀS IMAGENS 37 4.2 COMPARAÇÃO ENTRE O PRIMEIRO MÊS E EDIÇÕES RECENTES DO

CADERNO 39 4.2.1 SOBRE O CONTEÚDO 40 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48 ANEXO A 52 ANEXO B 53 ANEXO C 54 ANEXO D 55 ANEXO E 56 ANEXO F 57 ANEXO G 58 ANEXO H 59

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1. INTRODUÇÃO

Numa época na qual a ciência e a tecnologia são temas presentes na opinião pública, cresce a procura por informações nessa área. O jornalismo científico se apresenta como local de discussão pública dos questionamentos e polêmicas oriundos dos avanços da ciência. Ainda assim, no panorama de crescente oferta de informação e investimento em ciência faltam veículos que atendam a demanda pública de notícias da área. Neste trabalho, será examinado como este cenário se configura como produto regional no jornal A Tarde. Serão examinadas as edições dos meses de outubro de 2007, mês de inauguração do caderno, e fevereiro e março de 2009.

O caderno Ciência&Vida veiculado aos domingos no jornal A Tarde é atualmente o único caderno especializado em ciência dos jornais impressos diários1 de Salvador. Será examinado como a cobertura local na área é realizada e como o conteúdo científico é apresentado ao leitor. Tal estudo justifica-se na medida em que o campo de jornalismo científico está novamente em crescimento após a redução de páginas ou o cancelamento de vários cadernos sobre a área nos grandes jornais impressos do país. O caderno, por ser o único nessa área, como já dito, é ilustrativo para a construção de um panorama da divulgação científica no jornalismo local.

A análise de um caderno específico de ciência permite uma avaliação mais profunda dos valores/notícia utilizados nas pautas sobre o assunto. Sendo um caderno dirigido ao público baiano, é possível analisar também a participação de produções científicas e notícias locais no conteúdo publicado. Como único caderno da área nos três jornais impressos diários de Salvador, o Ciência&Vida é ilustrativo do atual modo de fazer jornalismo científico na região, numa época de crescimento da produção científica nacional2. É o objetivo desse trabalho verificar como e em qual cenário de prática de jornalismo científico local essa cobertura é realizada.

1 A Tarde, Correio* e Tribuna da Bahia.

2 O Brasil ocupa em o 13º lugar no ranking de artigos científicos publicados em 2008, segundo estatística

realizada pela empresa Thomson Reuters, que contabiliza anualmente os números de trabalhos científicos publicados em 200 países.

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Na análise foram examinadas cinco características da publicação, três delas utilizadas por Mônica Macedo e Wilson Bueno em artigo de análise da divulgação da saúde na imprensa brasileira3: o foco geográfico da notícia, os temas abordados nos textos e as fontes utilizadas. As outras duas, o caráter de atualidade dos fatos e a origem das matérias, foram acrescentadas com o objetivo de verificar se os textos do Ciência&Vida foram produzidos pela equipe local do caderno ou por agências de notícias e avaliar se esse conteúdo é factual. Uma entrevista com o editor do caderno, Cláudio Bandeira, também foi utilizada como suporte para a análise. A entrevista incluiu questões sobre a criação do caderno, os temas abordados, os recursos utilizados para facilitar a compreensão do leitor e as expectativas durante o lançamento da publicação e atualmente, após 20 meses de inauguração do mesmo.

1.1 DO JORNALISMO CIENTÍFICO

Ainda que o jornalismo científico remonte ao surgimento da ciência moderna, as publicações especializadas, ainda hoje de renome na área, foram criadas no século XIX. A

Scientific American (1845) e a Science (1880) nos Estados Unidos e a Nature (1869) na

Inglaterra. No Brasil, a presença da ciência nos meios de comunicação de massa cresceu no século XX. Fatos como a II Guerra Mundial e a criação de órgãos de gestão da ciência no país, como o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, tornaram o tema pauta freqüente na imprensa.

Foi a partir da década de 80, a reboque de uma tendência internacional, que o jornalismo científico brasileiro se expandiu, a exemplo da criação de várias revistas especializadas em ciência e tecnologia, como a Ciência Hoje, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); a Galileu, da Editora Globo; e a Superinteressante, da editora Abril. A Ciência Hoje é direcionada à comunidade acadêmica e tem seu conteúdo escrito basicamente por pesquisadores, os jornalistas são somente colaboradores ou revisores, o contrário do que ocorre nas duas outras revistas. O conteúdo mais técnico da publicação da SBPC é compartilhável com cientistas, enquanto as outras publicações citadas anteriormente, dirigidas à sociedade em geral, reproduzem textos que, mesmo baseados no discurso

3 O artigo “Divulgação de saúde na imprensa brasileira: expectativas e ações concretas” produzido por Wilson

Bueno, Mônica Macedo, Nicolau Maranini, Sônia Camargo, Djalma Paz e Wilson Correa Fonseca analisa sete jornais de abrangência nacional e regional.

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científico, utilizam o discurso do cotidiano (Zamboni, 2001). Nesses casos, os conflitos entre jornalistas e cientistas no campo da linguagem são intensos, uma vez que os primeiros utilizam uma linguagem generalista, superficial e muitas vezes repleta de equívocos (Kuscinsky, 2002).

A oferta de informação científica cresceu à medida que os cientistas viram os meios de comunicação como ferramentas de valorização e aproximação da ciência com a sociedade. Os avanços da ciência, e sua conseqüente especialização, aumentam a necessidade de informações científicas para o público. Na divulgação científica, o jornalista atua como intermediador da relação entre o cientista e o público utilizando como base a linguagem hermética e de difícil compreensão da ciência.

Se a partir do início do século XXI há um crescimento da demanda por informações das áreas de ciência e tecnologia, há também, por outro lado, uma cobertura superficial dos temas nos países emergentes como o Brasil. Com exceção das revistas especializadas, a abordagem em veículos de temas variados se restringe à publicação de notícias com ênfase no imediatismo de resultados, noção oposta àquela valorizada e efetivamente presente na pesquisa científica.

A cobertura não crítica e não contextualizada do campo científico reforça o conceito deste como fonte miraculosa de solução para vários problemas da sociedade, incluindo aqui as curas instantâneas, através da exaltação de cada novo método ou avanço científico como o definitivo fim de algumas enfermidades. A ciência é concebida ainda como grande benemérita e, portanto, desvinculada de questões como lucro, mercado e lobby. Na área de saúde, a conseqüência dessa visão é mais grave, uma vez que pode levar o público e o próprio jornalista a se tornarem reféns de indústrias farmacêuticas e a ignorar a influência da esfera social nos problemas de saúde, vide o pouco espaço dados às pesquisas de longa duração na área. A saúde se destaca como tema mais freqüente da cobertura científica, geralmente pela ligação mais fácil com o interesse público.

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Segundo Lilian Zamboni (2001), à medida que aumenta a esfera de alcance de público, a divulgação científica esbarra também no aumento da dificuldade de compreensão. Muitas vezes, a linguagem utilizada para a divulgação de informações na comunidade científica não é compartilhável, portanto não é compreendida quando usada na divulgação entre o público . A atividade jornalística há muito já utiliza discursos de especialidade como material de trabalho, a exemplo das áreas de economia e tecnologia. Nesses casos, o uso de informações desses campos já é tão rotineiro que se tornou natural pensar em jornalistas especializados em cada um deles, e na presença desses temas diariamente nos meios de comunicação. No caso do jornalismo científico, além do hermetismo do discurso da área, a dificuldade na conquista de espaço específico para o assunto e a falta de uma cobertura ampla dificulta essa percepção.

A divulgação científica é necessária e inclusive obrigação de pesquisadores e centros de pesquisas no país e também dos meios de comunicação. O jornalismo científico funciona como a ferramenta de divulgação que mais aproxima a produção científica da população. O crescente investimento em ciência, principalmente público, é ilustrativo do lugar de destaque que a mesma ocupa nas decisões que vão afetar diretamente a vida da população. Justamente por esse investimento ser em sua maioria público4, seus benefícios devem retornar para quem paga esse custo, a sociedade.

Esse caráter público faz da atividade de divulgar a ciência uma questão de democracia. Nesse ponto, a comunicação em saúde deve ser vista como uma categoria singular da divulgação científica tendo em vista que a partilha de conhecimento sobre esse campo tem como resultado a melhora da qualidade de vida, além dos ideais que cercam o tema, como preservação da vida e bem estar, estarem ao alcance de todos. Isto torna o desenvolvimento científico e as discussões em torno de suas conseqüências um tema de implicações sociais, políticas e financeiras, o que incita o debate público e faz com que o mesmo componha a agenda dos meios de comunicação. A demanda de dados na área de ciência funciona como estimulante maior para a presença de conteúdo sobre o assunto nos jornais, principalmente nos impressos, uma vez que o formato permite maior aprofundamento, além da produção de conteúdo específico com os cadernos.

4

Segundo dados do Ministério de Ciência e Tecnologia, 52% do investimento em ciência e tecnologia no país são públicos.

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Contudo, se por um lado, o impresso é capaz de abarcar as explicações e minúcias tão necessárias para que o texto científico seja compreensível para o público em geral, o formato disputa espaço com vários outros meios. Com as novas tecnologias, cresce os locais para publicizar a informação, principalmente na internet como os portais e blogs, ferramentas muito utilizadas por institutos de pesquisa para divulgar suas produções. Para disputar o leitor, o jornal impresso precisa oferecer a informação de forma atraente. Para isso, o jornalista precisa apresentar o conteúdo hermético e duro do discurso científico em algo mais compreensível para o leitor.

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2. JORNALISMO E CIÊNCIA

O desenvolvimento científico, impulsionador de polêmicas e debates na opinião pública, é tema cada vez mais presente nos jornais e demais meios de comunicação. Na publicação de notícias nos jornais impressos, on-line e televisivos há uma supremacia do agendamento de pesquisas científicas de ponta, principalmente aquelas ligadas às áreas de saúde e de novas tecnologias. O jornalismo científico, uma atividade relacionada à divulgação das áreas científica e tecnológica pelos meios de comunicação de massa, é uma prática em expansão, ainda que no Brasil a mesma seja marcada por críticas.

O termo difusão científica engloba a disseminação e a divulgação científicas, atividades com públicos diferentes. A disseminação científica é a atividade de difusão da ciência realizada intrapares, ou seja, a difusão de informações de ciência e tecnologia entre especialista de uma mesma área ou de áreas semelhantes (ZAMBONI, 2001). Lilian Zamboni diferencia seu conceito da definição de Wilson Bueno ao incluir como disseminação apenas a difusão para especialistas de uma mesma área. O conceito do pesquisador comporta, além da divulgação intrapares, a difusão entre especialistas de áreas de estudo diferentes denominada de disseminação extrapares. Para Zamboni este tipo de difusão está inclusa na divulgação científica:

(...) vou empregar a expressão “divulgação científica” para todas as ações que digam respeito à difusão de conhecimentos científicos ou técnicos, exceto aquelas que se dão nos círculos estritos de rígidas especialidades, chamada por Bueno de disseminação intrapares (ZAMBONI, 2001, p. 48).

Divulgação científica é qualquer atividade de difusão da ciência para o grande público. O jornalismo científico então é uma modalidade de divulgação científica, a divulgação realizada pelos meios de comunicação de massa de acordo com o modus operandi jornalístico. Entre as temáticas exploradas no jornalismo científico, a área de saúde é tema predominante nas pautas jornalísticas. O destaque dado ao campo no jornalismo, uma realidade brasileira, é acompanhado de problemas na cobertura. Como afirma Bueno,

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Podemos definir a prática brasileira de comunicação para a saúde a partir de uma série de parâmetros, como a descontextualização, a centralização do foco na doença, a visão preconceituosa das terapias e medicinas alternativas, a ideologia da tecnificação, a legitimação do discurso da competência e a espetacularização da cobertura na área médica, entre outros (BUENO).

Inúmeras novidades publicadas de forma desconexa e muitas vezes contraditórias. Técnicas novas e revolucionárias e receitas de vida saudável nunca definidas são os exemplos mais recorrentes. Essa é uma realidade encontrada não só na cobertura da área de saúde, mas no jornalismo científico de forma geral. O foco na doença e a culpabilidade sempre atribuída aos microorganismos e à genética resultam no silêncio em relação ao contexto de péssimas condições de saneamento e ausência de políticas públicas na área de saúde, entre outras situações que influem no estado de saúde. A publicação de informações que privilegiem a prevenção, a educação para a saúde e o debate sobre condições econômicas e sócio-culturais para uma melhor qualidade de vida é rara e exceção no jornalismo científico (BUENO).

A idéia de ciência como verdade é fonte de uma visão tecnicista e da cobertura espetacularizada da área de saúde, com foco em curas miraculosas e na solução dos problemas devido a procedimentos tecnológicos e medicamentos inovadores. Os médicos e especialistas aparecem como única fonte credível e legitima para falar da área, o que exclui os saberes populares e a medicina alternativa. Neste panorama, relações de autoridade verticais entre especialistas e meios de comunicação e médicos e pacientes são apresentadas como realidade única no quadro de uma área que em sua totalidade inclui contextos complexos de políticas públicas e bioética. Esta última é o melhor exemplo de como a área de saúde deve ser debatida em toda a sociedade, não só por uma categoria.

O jornalista como mediador da relação entre os cientistas e a sociedade precisa aproximar os temas científicos da realidade do leitor. Ao escrever sobre ciência e tecnologia, o jornalista precisa apontar a relação que cada novo fato ou descoberta científica tem com a vida particular do leitor. O jornalista precisa utilizar o discurso científico como base para a construção do texto jornalístico, tornando-o mais compreensível, sem deturpar o conteúdo. Para isso, o uso de analogias, exemplos, imagens e infográficos é comum.

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Numa sociedade incrivelmente afetada pelos impactos da ciência e da tecnologia e pelas decisões políticas fundamentadas no conhecimento de especialistas, a compreensão pública dos fatos científicos e tecnológicos assume uma dimensão crucial, quer na esfera das decisões comunitárias (...) quer na esfera das escolhas individuais, em que cada um é desafiado a assumir sim ou não sobre, por exemplo: tomar anticoncepcionais, fazer reposição hormonal, fumar, evitar colesterol, praticar exercícios físicos, tomar vitaminas (ZAMBONI, 2001, P. 143).

O jornalismo científico desponta como uma prática relacionada não só a função do jornalismo de ser um canal entre o público e o mundo, mas também ao dever democrático de prestar contas de uma atividade financiada prioritariamente por dinheiro público.

2.1 FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO JORNALISTA

Com uma demanda crescente por informações e um mercado que volta a se abrir para a atividade, a prática de jornalismo científico fomenta a geração de profissionais especializados na área, uma necessidade não atendida nas universidades. Entre as instituições de ensino brasileiras, a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) é o centro que possui tradição na disponibilização de disciplinas que contemplam o jornalismo científico. Além da USP, nas universidades federais de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul os currículos dos cursos de jornalismo possuem disciplinas optativas e eletivas nas áreas científica, ambiental e de saúde há pelo menos dez anos.

Na pós-graduação, a USP e a Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) são responsáveis pela formação dos primeiros mestres e doutores no campo de comunicação científica. Além destas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor/Unicamp) dispõem, respectivamente, de cursos de especialização, mestrado e pós-graduação lato sensu no campo de divulgação científica. No Labjor/Unicamp, além dos cursos, são produzidas várias publicações, como as revistas ComCiência e Ciência e Cultura e produtos televisivos anteriormente veiculados no Canal Futura da Rede Globo, conteúdos criados em parceria

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com bolsistas do programa MídiaCiência5 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Em Salvador, a Faculdade 2 de Julho terá no segundo semestre de 2009 a primeira turma do curso de pós-graduação em Jornalismo Científico. Além desta, o Instituto de Saúde Coletiva6 da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) já ofereceu curso de especialização em Comunicação e Saúde, com vagas também para jornalistas. A oferta do curso não é fixa na unidade, depende da firmação de parcerias com outras instituições. Na Faculdade de Comunicação da UFBA, o Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade dispõe de grupo de pesquisa em Cultura e Ciência.

Nos cursos de graduação em Jornalismo, entre as quatro faculdades pesquisadas, a Faculdade de Comunicação da UFBA, a Faculdade 2 de Julho, a Faculdade Social da Bahia e o Centro Universitário Jorge Amado, as mais antigas a oferecer o curso em Salvador, nenhuma tem em sua matriz curricular disciplinas direcionadas ao jornalismo científico. Além destas, na Faculdade Integrada da Bahia (FIB), o jornal laboratório produzido por estudantes do 5º semestre de jornalismo, o Infociência, prioriza pautas da área científica desde sua criação, em 2000.

Os centros de ensino de educação superior não acompanham a demanda de formação de profissionais habilitados diante do contexto de multiplicação de informações científicas disponíveis. Quando o espaço para a prática do jornalismo científico é disponibilizado, essa cobertura, realizada por profissionais sem experiência com os temas científicos, é superficial e permeada por uma série de equívocos.

Entre os motivos para as falhas do jornalismo sobre ciência e tecnologia, a falta de informação prévia dos jornalistas sobre os temas e a tensão entre esses profissionais e as fontes despontam como os principais. O desconhecimento dos estudantes de jornalismo sobre saúde pública, as implicações de decisões e investimentos governamentais em ciência e até informações sobre o funcionamento do próprio corpo humano geralmente permanece nos anos

5

Programa de incentivo ao jornalismo científico através do pagamento de bolsas de pesquisa lançado em 1999.

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de graduação e acompanham os futuros profissionais responsáveis pela produção de jornais, revistas e demais publicações que suprem a demanda diária de informações por parte do público. O resultado é um conjunto de poucas matérias e reportagens sobre notícias científicas baseadas apenas na novidade do fato e que ignoram todo o contexto social e financeiro que cerca a realidade dos centros de pesquisa de ciência.

Críticas à falta de contextualização do texto jornalístico são comuns e antigas, mas como dito anteriormente, a lacuna é ainda mais grave na cobertura de ciência e tecnologia, especialmente na área de saúde, devido à relação direta que os fatos na área têm com a qualidade de vida do leitor. Relações como o lançamento de novos tratamentos e remédios versus o custo benefício para o sistema público de saúde, os serviços e produtos bancados pelo governo e os critérios para que um remédio ou técnica de tratamento faça parte da lista de procedimentos subsidiados pelo estado, as novas descobertas sobre células-tronco e DNA e todo o contexto e o tempo que envolve o processo que torna essas novidades a esperança de cura para várias doenças, entre outros casos.

Os riscos de uma visão superficial na cobertura do campo da saúde e sobretudo da pesquisa em saúde são apontados por Bueno, quando afirma que,

Sem esta pluralidade, a tendência é que a comunicação e o jornalismo focados na saúde continuem priorizando a doença, contemplando-a de maneira reducionista como resultado do mau funcionamento de órgãos e da ação de microorganismos patogênicos (BUENO, 2007).

A reprodução, muitas vezes integral, do discurso das fontes científicas como única garantia de credibilidade no texto jornalístico científico é outra conseqüência da não exploração das contradições que envolvem a ciência, assim como ocorre em outros campos. A produção no jornalismo científico de forma exclusivamente didática aponta para a visão do público como submisso e necessitado de tutela. Os cientistas aparecem tradicionalmente como única fonte com autoridade de fala, a quem não são feitos questionamentos. Para Fabíola de Oliveira7, autora do livro Jornalismo Científico, a prática é um mau hábito.

7

Doutora em jornalismo científico pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e docente e coordenadora do curso de jornalismo da Universidade do Vale do Paraíba (Univap).

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Um vício recorrente no jornalismo científico é o oficialismo excessivo de fontes de informações, principalmente das entidades governamentais de pesquisa, que predomina no cenário científico brasileiro. Dirigentes de entidades de pesquisa, não nos esqueçamos, têm cargos públicos de confiança, e portanto sua opinião é condicionada ao posto que ocupam (OLIVEIRA, 2002, p. 49).

Pode-se dizer que há um desacerto entre o tempo do jornalista e o do cientista. Enquanto o primeiro lida com prazos apertados, o segundo sabe bem o significado do termo longa duração. O pouco contato de jornalistas com o ambiente científico dificulta que esse profissional entenda que, para a ciência, a depender do caso, 10 anos é pouco tempo. As primeiras descobertas, mesmo que ainda falte um longo período para que possam ser postas em prática de forma eficaz, são muito importantes e merecem atenção, ao mesmo tempo em que devem ser divulgadas de forma cuidadosa e até contida porque não podem ser confundidas com curas milagrosas.

No caso dos remédios, por exemplo, o surgimento de uma nova medicação voltada para o tratamento de uma doença ainda sem cura provoca, muitas vezes, a divulgação do medicamento como a solução mágica para a enfermidade, ainda que haja um longo processo a percorrer para que o mesmo se torne de fato comercializável. Pesquisas de longa duração, procedimentos que ainda não podem ser realizados em seres humanos e medicamentos ainda sem o custo de produção eficiente para que possam ser confeccionados em larga escala são situações comuns na ciência, ignoradas ou distorcidas na cobertura jornalística.

Para o jornalista, desconhecedor desse meio, notícia é o fato fora do comum, o extraordinário, a novidade que precisa ser divulgada para o público, o acontecimento importante para a conexão do público com o que está ocorrendo no campo científico. A noticiabilidade de um acontecimento é a aptidão que o mesmo tem para ser uma notícia (WOLF, 2003). Os critérios de noticiabilidade compõem a série de regras ou guias do fazer jornalismo. Relativos ao conteúdo, produto, público ou concorrência, os valores/notícia têm um caráter dinâmico. Como afirma Mauro Wolf:

[os valores/notícia] mudam no tempo e, embora revelem uma forte homogeneidade no interior da cultura profissional – para lá de divisões ideológicas, de geração, de meio de expressão, etc -, não permanecem

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sempre os mesmos. Isso manifesta-se claramente na especialização temática que, num determinado período histórico, os meios de comunicação conferem a si próprios (WOLF, 2003, p.175).

Isso permite que novos temas, antes inexistentes para os meios de comunicação, se tornem noticiáveis, como a área da cultura e dos espetáculos que na maioria dos jornais possui em espaço específico de publicação, mas antes não constituía notícia como ocorre atualmente. Pode-se dizer que o desenvolvimento científico é noticiável desde os primórdios dos jornais impressos, mas com sua popularização para além dos centros de pesquisa e inclusão em outros campos tradicionalmente presentes no jornalismo, como a política e a economia, a ciência é um tema cuja cobertura necessita cada vez mais de um espaço fixo nos meios de comunicação.

No jornalismo científico, os princípios para a prática da atividade jornalística, como a busca pela objetividade, a exploração do contraditório, entre outros, valem da mesma forma que em qualquer outra modalidade de jornalismo. O que a boa formação do jornalista na área, iniciada com disciplinas na graduação e ampliada com especializações e pós-graduações em um posterior aprofundamento sobre o tema, permite é a aplicação adequada desses critérios à cobertura da ciência. Não se está falando aqui de uma tarefa dirigida e possível de ser realizada apenas pelos profissionais que desejam direcionar seu trabalho exclusivamente para o jornalismo científico, mas de jornalistas de forma geral, que trabalham com fatos marcantes e importantes diariamente, dentre os quais a ciência e a tecnologia se destacam como tema freqüente e essencial no modelo de sociedade contemporânea.

Esse modelo inclui a busca por tecnologias que prolonguem a vida, que tornem habitáveis locais despovoados, que expliquem a origem humana e que forneçam dados que evitem desastres e revertam erros provocados pela ação humana na natureza. Em uma sociedade apegada a valores tradicionais, com crenças restritivas ao avanço científico e, ao mesmo tempo, em busca de técnicas antienvelhecimento, de cura para doenças ainda incuráveis e de finais definitivos para as mazelas humanas, a divulgação da ciência é uma demanda incessante.

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2.2 CIENTISTAS E A IMPRENSA

Se os cursos de jornalismo não atendem a demanda de formação científica cobrada do profissional, as grades curriculares científicas, por sua vez, também não contemplam a divulgação da ciência para a imprensa. A relação entre os jornalistas e as fontes científicas é marcada por desentendimentos e incompreensões de natureza semântica, inerentes às gramáticas e léxicos de cada campo. Enquanto a formação deficiente do jornalista dificulta o entendimento do discurso científico, o desconhecimento das rotinas produtivas e da natureza do texto jornalístico por parte do pesquisador impede que a imprensa muitas vezes transmita a informação de forma compreensível.

Os cientistas não estão preparados para se relacionarem com os jornalistas, profissionais importantes na divulgação científica para o público em geral. Usar o discurso hermético da ciência da sua forma original em uma entrevista cedida a um jornalista é praticamente garantir que o conteúdo será publicado com equívocos. Por não saberem como se comunicar com a imprensa e vice-versa, perdem a oportunidade de difundir o conhecimento científico pelo canal mais acessível à sociedade, os meios de comunicação.

Como afirma Fabíola Oliveira,

Enquanto o cientista produz trabalhos dirigidos para um grupo de leitores, específico, restrito e especializado, o jornalista almeja atingir o grande público. A redação do texto científico segue normas rígidas de padronização e normatização universais, além de ser mais árida, desprovida de atrativos A escrita jornalística deve ser coloquial, amena, atraente, objetiva e simples (OLIVEIRA, 2002, p. 43).

No jornalismo, a simplificação da linguagem científica na construção do texto é necessária e não implica desqualificação do texto jornalístico científico. É nessa intermediação que as analogias, comparações e exemplos são instrumentos importantes para a compreensibilidade do texto. Para o cientista, habituado a escrever para seus pares, o uso desses recursos pode parecer depreciador do conteúdo científico. Os pesquisadores, principais

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fontes no jornalismo de ciência, não costumam escrever para o público não especializado em sua área e, portanto, não compreendem práticas rotineiras no jornalismo.

Os jornalistas, por sua vez, com formação cada vez mais generalista, não conseguem entender o discurso do cientista e acabam por, em sua tentativa de tornar o texto mais simples e compreensível para o leitor, distorcer o conteúdo científico. Na área de saúde o conflito é recorrente, como aponta Bernardo Kuscinsky:

Para os trabalhadores da área de saúde, os médicos, enfermeiros e outros, a linguagem precisa e rigorosa é constitutiva do modo de pensar; não é apenas uma maneira de falar, ela reflete uma maneira de pensar a saúde (KUSCINSKY, 2002, p. 97).

O especialista, a autoridade máxima no assunto, entre outros termos que designam as fontes especializadas em falar de determinado tema, muitas vezes provocam deslumbramento e intimidação no jornalista. Quando o assunto é ciência, a situação resulta no medo de fazer perguntas e de admitir o desconhecimento da área por parte do jornalista. O profissional então copia tudo que é dito pela fonte sem sequer entender o que está escrevendo, o que torna a compreensão do público ao ler o texto quase impossível.

Os conseqüentes equívocos oriundos dessa relação cheia de desencontros entre o jornalista e a fonte científica provocam desconfiança entre as duas partes. Consequência disso são os pedidos freqüentes de cientistas para lerem o texto, resultado da entrevista cedida por ele, antes que o conteúdo seja publicado, prática rejeitada no meio jornalístico e atitude vista com maus olhos. Para o estabelecimento de uma boa relação entre esses dois profissionais é necessário que o pesquisador esteja atento à dimensão social de seu trabalho e do da imprensa também.

O desafio para a difusão da ciência através do jornalismo é a compreensão de jornalistas e cientistas do papel de cada um na divulgação da ciência para o público. O próximo passo é, para o jornalista, descobrir formas de atrair o leitor para a cobertura científica em um produto impresso que concorre com outras publicações similares, com índices altos de analfabetismo funcional e com o poder multi-midiático da internet.

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2.3 OS DESAFIOS DO JORNAL IMPRESSO NA SOCIEDADE MULTI-MIDIÁTICA

O mais antigo jornal baiano ainda atuante, o jornal A Tarde, é também o jornal diário de maior circulação no estado. O impresso, com tiragem média de 40 mil exemplares de segunda à sexta-feira e 90 mil aos domingos, faz parte de um grupo de comunicação que inclui agência de notícias, portal, rádio, gráfica, além do recente serviço de assinatura por torpedo. Este último possibilita que o assinante receba o conteúdo de sua preferência, são 15 editorias para escolha, através de mensagens no celular de acordo com o canal assinado. A multiplicação de serviços oferecidos pelo grupo A Tarde acompanha uma corrente já iniciada em vários grupos de comunicação do país.

Com o aumento do número de novas tecnologias na área de telecomunicações, muitos representantes do setor privado de comunicação brasileiro têm investido na convergência da atuação de suas empresas, principalmente no campo da internet e da televisão. Nesse panorama, o jornal impresso precisa competir com ferramentas cada vez mais multi-midiáticas. Imagens, animações e recursos gráficos são alguns dos instrumentos utilizados com freqüência na área da ciência na apresentação de matérias e reportagens.

Além da concorrência com outros formatos, cada vez mais populares, o jornal baiano precisa competir com uma realidade da população do estado. Dados da Síntese de Indicadores Sociais 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 35,6% da população baiana com quinze anos ou mais é analfabeta funcional. Esse dado indica que número de pessoas com menos de quatro anos de estudo na Bahia, segundo definição da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), é quase o índice de toda a região Nordeste. Um contexto, que unido à capacidade tecnológica dos demais meios de comunicação, torna a sustentação do impresso mais difícil.

A circulação dos jornais impressos brasileiros, contrariando profecias e a realidade de vários países desenvolvidos, registrou crescimento.8 Junto com os jornais de outros países emergentes, a exemplo da Índia e da China, os jornais do Brasil cresceram em circulação. As

8

A circulação aumentou 8,1% no primeiro semestre de 2008, segundo o IVC – Instituto Verificador de Circulação.

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expectativas contrárias a isso têm origem no pessimismo geral que previu o desaparecimento dos jornais impressos com a popularização da internet. No país, o acesso à internet também tem crescido. Segundo pesquisa do Ibope de janeiro de 2009, há mais de 24 milhões de internautas no Brasil. Estes dados confirmam que a difusão em larga escala da internet não implica o fim dos jornais impressos, ao menos no Brasil, e que há provavelmente uma interação entre os dois veículos no país.

Para disputar o espaço obtido entre os leitores com a internet, muitos jornais impressos apostaram em mudanças gráficas, com mais destaque para imagens, uso de cores e diminuição do tamanho dos textos. O jornalismo de convergência entre o impresso e a internet é um dos prováveis motivos para a boa circulação de jornais no país. O maior concorrente do jornal A Tarde, o jornal Correio*9 (antigo Correio da Bahia), foi reformulado, gráfica e editorialmente, em 2008. As mudanças incluíram alteração no formato, de standard para berliner10; no projeto gráfico, com mais destaques para as imagens e no uso das cores; e mudanças nas editorias, com redução do espaço disponibilizado para a cobertura política e maior destaque para as áreas de entretenimento, esportes e cultura.

O jornal A Tarde sofreu sua última mudança gráfica em 2003 sob o comando de Ricardo Noblat11. De lá pra cá, o grupo expandiu suas atividades e intensificou a produção de material para o site, A Tarde On Line, reformulado em setembro de 2008. O impresso não sofreu grandes alterações. Nele há ao menos um caderno especial a cada dia da semana. O

Ciência&Vida, caderno especializado em ciência e tecnologia, começou a ser publicado aos

domingos, com a primeira edição em 07 de outubro de 2007. O caderno, o único investimento local em jornalismo científico do tipo nos jornais diários de Salvador, é ilustrativo da cobertura de ciência e tecnologia no estado.

9 Jornal pertencente ao grupo Rede Bahia da família do falecido senador baiano Antônio Carlos Magalhães. Na

reformulação da publicação em 2008, o nome Correio da Bahia foi reduzido para Correio*.

10 Formato de jornal com 470x315mm, pouco maior que o tablóide, mas menor que o standard. 11

Jornalista brasileiro que já trabalhou nas redações dos jornais Correio Braziliense, Jornal do Brasil e O Globo, entre outros. Chefiou a redação do jornal A Tarde em 2003 durante 11 meses e desde 2004 é blogueiro.

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3. O CADERNO CIÊNCIA&VIDA

O caderno de ciência do jornal A Tarde foi lançado em outubro de 2007 e até junho de 2009 possui 91 edições, todas publicadas aos domingos. A publicação editada pelo jornalista Cláudio Bandeira é a única experiência de cobertura científica em editoria específica nos jornais diários de Salvador. Contudo, essa não é a primeira vez que a ciência recebe espaço reservado no A Tarde. Em agosto de 2005, o jornal iniciou a publicação da seção

Observatório, às quintas-feiras, destinada à divulgação científica. O espaço tinha por objetivo

expandir os assuntos abordados numa outra seção também publicada na época, às terças-feiras, dedicada ao meio ambiente.

A seção semanal durou um ano e sete meses e pode-se dizer que foi precursora do

Ciência&Vida. Durante seu período de vigência, o Observatório foi o local de publicação das

pautas científicas do jornal. Na seção, além de reportagens, entrevistas e artigos, havia uma seção de notas curtas, Conta Gotas, e um espaço para a resposta de dúvidas dos leitores,

Pergunte ao Observatório. Após a reforma do jornal A Tarde em 2006, este espaço foi

extinguido e a seção, inicialmente publicada com duas páginas, foi reduzida para uma página. A seção Observatório parou de ser produzida sem maiores explicações em março de 2007. Sete meses depois o caderno Ciência&Vida foi lançado.

“Uma demanda de público”. Esse foi o motivo da criação do caderno, segundo seu editor, Cláudio Bandeira. A decisão do jornal de cancelar a seção Observatório e investir no caderno Ciência&Vida partiu do interesse dos leitores, identificado através de pesquisas, em assuntos como qualidade de vida e meio ambiente. O interesse do brasileiro por ciência e tecnologia já havia sido comprovado por uma pesquisa12 do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) divulgada em abril de 2007. Segundo os dados publicados, 89% dos entrevistados afirmaram que a sociedade deve ser ouvida nas questões relativas à ciência e 81% julgam serem capazes de entender assuntos relacionados à área científica se esses forem bem explicados.

12

A pesquisa, baseada em estudos anteriores já realizados em outros países, foi realizada com mais de 2000 brasileiros maiores de 16 anos.

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Bandeira afirma que a expectativa do jornal em relação ao caderno é que o mesmo seja um espaço que atenda a procura do público por informações da área científica. É esse também o ponto principal nas reuniões de pauta para a produção do mesmo. De acordo com o editor, as sugestões de assuntos feitas pelos leitores para o caderno Ciência&Vida são geralmente seguidas pela equipe de produção. É a resposta do público que orienta o conteúdo que será publicado no caderno. Bandeira ressalta ainda que o retorno dos leitores é crescente, o que, para ele, é a garantia do sucesso da publicação. O envio de opiniões, observações e sugestões do público é motivo de entusiasmo para a equipe chefiada por ele.

A equipe fixa do caderno é pequena: além do editor, que também escreve, Cláudio Bandeira, há mais uma repórter fixa, Fabiana Mascarenhas. Ambos já trabalhavam na seção

Observatório e participaram de todo o processo de transformação da mesma em caderno.

Além deles, há também a jornalista Marilena Neco, repórter responsável pelas pautas relacionadas à área de saúde no Caderno 1 do jornal, que geralmente também produz textos para o caderno Ciência&Vida.

Como principal motivo de criação do caderno e da produção de pautas, o retorno dos leitores era a maior expectativa do jornal e de seu editor com o lançamento do caderno. Esta, segundo o próprio, está sendo atendida. É a participação de outro público que ainda é difícil. A relação com os pólos de pesquisa locais é definida por Bandeira como “complicada”. Tem melhorado com o tempo e o editor demonstra otimismo quando questionado sobre o assunto, mas revela que, de forma geral, as universidades públicas e privadas não oferecem os meios para a divulgação das pesquisas realizadas nelas.

Além do retorno do leitor, a manutenção de seções fixas e a participação do ambiente intra-acadêmico também são expectativas apontadas pelo editor, estas ainda não alcançadas. A consolidação do caderno como espaço de divulgação científica seria um dos fatores para a maior abertura do meio, principalmente acadêmico, aos jornalistas. A difusão da importância da cultura científica e do papel dos meios de comunicação nesse processo, como principal difusor da ciência para o público , é outro elemento de facilitação da relação cientistas versus jornalistas.

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Como aponta Lilian Zamboni,

...a percepção de que a popularização da ciência poderia carrear certo tipo de ganho e beneficio para a manutenção e o incremento da própria atividade de pesquisa despertou a comunidade científica para exercer, ela mesma, a prática da divulgação, a despeito de vigorar um certo descrédito no meio acadêmico em relação a publicação, por cientistas, de material de vulgarização científica, vista por muitos de seus membros como um enviesamento da atividade científica (ZAMBONI, 2001, p. 144).

Bandeira afirma que a falta de disponibilização de dados sobre as pesquisas produzidas pela comunidade científica resulta na necessidade dos jornalistas buscarem notícias e fontes sem qualquer quadro de informações como base. Após 20 meses de lançamento do caderno, ele aponta que o contato com as universidades melhorou, principalmente graças à popularização das assessorias de comunicação, tanto nas instituições quanto em estudos e grupos acadêmicos específicos.

3.1 MAIS CIÊNCIA NO GRUPO A TARDE

Na busca da interação entre equipe de produção e público leitor, o espaço Interatividade é uma ferramenta importante. Na seção são publicadas enquetes sempre relacionadas aos assuntos abordados nos textos do caderno. O espaço começou a ser publicado após as mudanças no portal A Tarde On Line, em setembro de 2008 e não tem periodicidade ou espaço reservado na diagramação do caderno. Segundo Bandeira, a participação do público é “imensa”. O editor afirma que o aproveitamento da ferramenta possibilita que a equipe do caderno conheça a opinião do público e não seja a única proponente de conteúdo para a publicação.

A convergência do conteúdo do jornal com a internet intensifica o fluxo de informações oriundas do público e permite uma interação da equipe do caderno com o leitor que não seria possível no impresso. Além das enquetes, o blog Ciência e Vida é outra ferramenta produzida por Fabiana Mascarenhas e Cláudio Bandeira. O blog, também lançado após a reforma do

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portal e com conteúdo muitas vezes baseado nos assuntos publicados no caderno, amplia o espaço da equipe para a publicação dos textos relacionados à área científica.

Além do blog, na emissora de rádio A Tarde FM também há espaço para os assuntos do caderno Ciência&Vida. Assim como ocorre com outras editorias ou cadernos do jornal, cujos repórteres ou estagiários fazem comentários sobre suas áreas de trabalho na rádio, Fabiana Mascarenhas aborda os temas da área científica. O conteúdo dos comentários da repórter sempre é postado no blog Ciência e Vida. Estes comentários e novidades na área da ciência são os principais conteúdos disponibilizados no blog pela equipe do caderno.

3.2 – SOBRE O CONTEÚDO DO CADERNO

Para examinar a publicação foram analisadas as edições do caderno Ciência&Vida dos meses de fevereiro e março de 2009. Os nove exemplares do caderno, publicados nos dias 1º, 8, 15 e 22 de fevereiro e 1º, 8, 15, 22 e 29 de março de 2009, são representativos das demais edições uma vez que foram produzidos pela equipe original do caderno e representam a publicação tanto em um período marcado por festas populares e intensificação de ações e pautas voltadas para o cuidado com a saúde, caso de mês de fevereiro, período no qual ocorre o carnaval, quanto em uma época regular, sem grandes acontecimentos, caso do mês de março.

Em fevereiro e março de 2009, todos os nove exemplares selecionados possuem quatro páginas, formato padrão do caderno desde dezembro de 2008. Apenas na última edição, publicada no dia 29 de março, o caderno foi publicado com oito páginas. A mudança, segundo Cláudio Bandeira, ocorreu por uma necessidade de adequar o espaço editorial e o publicitário na publicação. Nesse dia, vários textos do caderno estavam relacionados aos acontecimentos em torno do “Ano Internacional da Astronomia” decretado pela Unesco.

De um total de 51 matérias encontradas nas edições analisadas, 28 foram produzidas por profissionais do jornal A Tarde, 18 são oriundas de agências de notícias e cinco tiveram o conteúdo escrito por agências e modificado pela equipe do caderno. Dentre os textos

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assinados por agências de notícias, 12 foram produzidos por agências nacionais. No exame das edições citadas anteriormente foi verificado que a equipe do caderno, formada por Cláudio Bandeira e Fabiana Mascarenhas, divide a autoria dos textos da publicação com a repórter Marilena Neco e Cássia Candra e com os estagiários João Eça e Juracy dos Anjos. Segundo Bandeira, estes últimos não são preferencialmente selecionados para a produção de pautas do caderno Ciência&Vida, ainda que tenham sido encontrados vários textos deles na publicação.

Criar e manter seções fixas no caderno é também uma das ambições de Bandeira e Mascarenhas, mas até o momento isso não foi possível. Um espaço que poderia ser caracterizado como tal, a coluna Pergunte ao Pediatra, na qual o médico especializado em pediatria Augusto Sampaio escrevia textos, foi cancelada a partir da edição do dia 22 de fevereiro. Os textos eram escritos em tom de conselhos bem-humorados para os pais, com uso da 1º pessoa. No conteúdo, as crenças e mitos populares em relação ao cuidado da saúde de crianças eram refutados com ironia pelo médico. Segundo Cláudio Bandeira, a coluna foi interrompida por problemas pessoais do médico. O conteúdo não foi mais publicado a partir do dia 1º de março sem qualquer explicação ao público leitor.

Como substituição à coluna Pergunte ao Pediatra, artigos de especialistas começaram a ser publicados no caderno. O primeiro deles juntamente com a coluna, na última edição em que esta foi publicada. Para a obtenção dos textos dos artigos, geralmente a equipe do caderno convida especialistas e sugere o tema. Nos dois meses analisados seis artigos foram publicados, um em cada edição do caderno Ciência&Vida, com exceção do dia 08 de março de 2009. Foi verificado que cada artigo foi escrito por um profissional, e que apenas um deles é baiano. Os demais especialistas que publicaram artigos no caderno no período analisado são, em sua maioria, do estado de São Paulo. No conteúdo dos artigos, as temáticas exploradas são diversificadas, somente não foi encontrado texto na área de ciências exatas. Nenhum deles discute assuntos com o foco local, todos abordam grandes temas de forma generalista.

Apenas uma entrevista foi publicada em todas as edições analisadas. Esta foi utilizada complemento a uma matéria publicada na mesma página, ambas na área de saúde. A entrevista foi mais um conteúdo que se uniu a série de materiais focados na temática infecção

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urinária publicados no dia 01 de fevereiro. O médico, por atuar no Rio de Janeiro, respondeu as perguntas por e-mail.

A seção Interatividade foi publicada em cinco exemplares13, com perguntas ou respostas relacionadas aos temas abordados no caderno. A enquete fica disponível na página principal do site A Tarde On-line, com o título do caderno ou editoria ao qual se refere. Foi verificado que não houve compromisso em publicar o resultado de todas as enquetes propostas no caderno, nas edições examinadas apenas duas delas tiveram suas respostas publicadas em edições posteriores.

3.3 CADERNO CIÊNCIA&VIDA: NÚMEROS E PARTICULARIDADES DO PERÍODO ANALISADO

No mapeamento da publicação nos meses de fevereiro e março de 2009, cinco grupos de características foram examinados: a origem das matérias, ou seja, se os textos foram produzidos pela equipe local ou por agências; as temáticas e as áreas da ciência abordadas nos textos; as declarações de fontes utilizadas; o foco da abordagem nas matérias, se os fatos apresentados pertenciam ao âmbito local, nacional ou internacional; e o caráter de atualidade de cada texto. Identificar essas características permite que seja construído um quadro analítico do conteúdo produzido para o caderno Ciência&Vida e com ele ter um diagnóstico da cobertura científica realizada na publicação.

A análise levou em conta todo o conteúdo do caderno, inclusive entrevistas, artigos e textos dos espaços Pergunte ao Pediatra e Interatividade, com exceção de notas curtas, eventualmente presentes na publicação. A divisão do conteúdo publicado no caderno por diferentes áreas cientificas revelou que a grande maioria está relacionada as ciências da saúde (ver tabela 3.1). A maior disparidade é verificada nas matérias locais, a distribuição nas áreas científicas é mais equilibrada nos demais itens.

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Tabela 3.3 Divisão de conteúdo por áreas científicas Ciências Agência Agência +

Editoria

Artigo Entrevista Pergunte ao Pediatra Locais Total Biológicas 6 2 1 0 0 5 14 Exatas 0 1 0 0 0 0 1 Humanas 4 1 1 0 0 2 8 Sociais 0 0 1 0 0 1 2 da Terra 3 3 1 0 0 2 9 da Saúde 5 2 2 1 3 16 29 Outros 0 0 0 0 0 1 1

Nessas grandes áreas científicas, alguns temas específicos ganharam destaque. Caso da teoria evolucionista e do meio ambiente nas ciências biológicas. O primeiro destes temas é justificado pela comemoração do bicentenário de Darwin14, que motivou uma edição quase que totalmente dedicada ao assunto (edição do dia 15 de fevereiro de 2009). O segundo é abordado em vários pequenos textos sobre fatos pontuais. Nas ciências humanas, a arqueologia e a psicologia foram os assuntos mais explorados, enquanto nas ciências da terra, a astronomia foi o grande tópico discutido. Da mesma forma que o bicentenário de Darwin, a comemoração do Ano Internacional da Astronomia resultou numa edição com várias matérias sobre o assunto, no dia 29 de março.

O mesmo não acontece com as ciências sociais e as ciências exatas. O campo das ciências sociais foi abordado em apenas dois textos, um artigo e uma matéria produzida pela equipe local. As ciências exatas, por sua vez, também não foram muito exploradas no caderno, há somente um texto produzido pela editoria juntamente com o conteúdo de agências de notícias. Além do pouco espaço disponibilizado para a discussão dessas áreas da ciência, o uso do conteúdo de agências é exemplar do panorama de não produção de pautas locais relacionadas às duas áreas.

No extremo oposto, o conteúdo sobre saúde é absoluta maioria no conjunto de textos analisados. A maior facilidade de relacionar a área de saúde ao interesse público e de, consequentemente, publicar notícias desta já foi apontada anteriormente. As temáticas

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nutrição, hipertensão e cirurgia plástica foram exploradas em ao menos três textos cada uma, todos produzidos pela equipe local.

Textos com o foco internacional foram maioria entre àqueles produzidos por agências de notícias, um resultado já esperado, há apenas dois destes com conteúdo local. Por sua vez, a maior parte das matérias com abordagem nacional foi produzida pela equipe do caderno

Ciência&Vida. No exame geral de todos os textos publicados no caderno no período

analisado, produzidos por agências, editoria em conjunto com agências e pela equipe local, as notícias com foco internacional estiveram mais presentes do que àquelas com acontecimentos de âmbito nacional ou regional.

Para a verificação das declarações de fontes utilizadas nos textos, foram examinadas apenas as matérias assinadas pela equipe local. No conteúdo, 20 matérias continham apenas declarações de especialistas, e em metade delas apenas uma fonte era utilizada. Três textos não apresentaram declarações e cinco apresentaram falas tanto de fontes especializadas quanto de não especializadas. Em muitos casos, as fontes utilizadas na matéria de capa do caderno eram as mesmas apresentadas no texto da segunda página da publicação. Estes textos em geral apresentavam assuntos que continuavam a discussão da matéria de abertura do caderno. Ainda que mais da metade do conteúdo produzido pela equipe do jornal A Tarde apresente uma abordagem local, a maior parte das fontes especialistas utilizadas nas declarações publicadas nos textos atua em outros estados e é representante de associações ou sociedades das áreas debatidas.

Sobre o uso de fontes na cobertura científica, Fabíola Oliveira ressalta,

Um vício recorrente no jornalismo científico é o oficialismo excessivo das fontes de informação, principalmente das entidades governamentais de pesquisa, que predominam no cenário científico brasileiro. Dirigentes de entidades de pesquisa, não nos esqueçamos, têm cargos públicos de confiança, e portanto sua opinião é condicionada ao posto que ocupam (OLIVEIRA, 2002, p. 49).

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A predominância de uma só fonte nos textos jornalísticos contraria uma das diretrizes da prática da atividade, a exploração do contraditório. No jornalismo científico, muitas vezes, o uso de fontes ligadas a órgãos governamentais é uma ação que não pode ser evitada. Em muitos casos, não há outro lado para ouvir. Ainda assim, fontes oriundas de organizações não-governamentais e de associações científicas cujo contato atualmente é muito mais fácil com a internet são possibilidades que precisam ser exploradas pelo jornalista (OLIVEIRA, 2002).

O caráter de atualidade dos textos foi examinado a partir da verificação da notícia discutida na matéria ou usada como gancho para sua publicação. Nos 18 textos criados por agências, apenas dois não possuíam nenhum fato novo que fundamentasse sua publicação. Entre os artigos, três se referiam a acontecimentos recentes e todos os textos assinados pela editoria com conteúdo de agências também estavam relacionados a notícias atuais. Nos textos escritos pela equipe do caderno, a maior parte utilizava uma notícia atual como gancho para a matéria. Em geral, foram acontecimentos de grande repercussão, como o caso da brasileira Paola Oliveira15 em um texto sobre lúpus e a morte da modelo Mariana Bridi16 em uma matéria sobre infecção urinária. Entre àqueles que não apresentavam fatos novos, assuntos ligados à área de nutrição e qualidade de vida foram os destaques. Cláudio Bandeira apontou que estes temas, sobre meios acessíveis de se manter saudável, utilizando uma boa alimentação, são geralmente pedidos pelos leitores.

3.4 ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR A COMPREENSÃO DO LEITOR

Recursos gráficos e textuais são utilizados de forma recorrente no caderno

Ciência&Vida para ilustrar as matérias e facilitar a compreensão dos temas científicos pelo

leitor. Os recursos mais presentes nas edições analisadas são os caracteres de destaque, como aspas, asteriscos e números, itens que ressaltam informações importantes sobre o tema abordado no texto. Tabelas e notas em destaque sobre estatísticas são outros elementos trabalhados em boa parte do conteúdo publicado no caderno.

15 Advogada brasileira que mora na Suíça e afirmou ter sofrido um ataque neonazista no país. Após exames

periciais da polícia, a brasileira foi acusada de simular o ataque. A família afirmou que ela sofre de lúpus, doença que pode causar distúrbios psicológicos.

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Os textos publicados no caderno Ciência&Vida quase sempre são acompanhados de imagens, salvo raras exceções. Muitas delas são oriundas de agências ou são fotografias de divulgação. Entre as matérias com o foco local, fotografias de entrevistados são as imagens mais recorrentes. Segundo Bandeira, quando é possível, são utilizadas fotos diferenciadas para ilustrar o tema, como cenas de exercícios, práticas de trabalhadores da área de saúde ou montagens vários elementos, a exemplo de alimentos quando o tema da matéria é nutrição.

Geralmente utilizadas para se referir a assuntos mais abstratos, as ilustrações não são muito utilizadas no caderno. Apenas uma foi encontrada nas edições examinadas. O tema da reportagem, uma pesquisa na área de psicologia sobre a conexão entre o corpo e a mente na qual foram utilizadas cenas eróticas, foi representado pelo desenho de uma mulher sentada em uma poltrona que pegava fogo e olhava para uma televisão também em chamas, numa indicação das imagens veiculadas (ANEXO A). O tópico destacado na reportagem se referia justamente a aparente desconexão entre corpo e mente femininos na resposta a estímulos sexuais. A imagem faz uma alusão engraçada ao tema abordado, ainda que a autora do texto não utilize o humor em sua construção. A matéria ocupa toda a página e junto às imagens, declarações de três especialistas são destacadas por aspas.

O uso de infográficos foi outro recurso encontrado nas edições selecionadas para a análise. Um deles, sobre doença renal, utilizou boa parte do espaço da primeira página do caderno e indicava os sintomas e fatores de risco para o problema de saúde (ANEXO B). Em outro, um mapa com a trajetória da expedição de Darwin, cada local visitado pelo pesquisador estava marcado e era acompanhado de breves explicações fornecidas pela fonte especialista utilizada no texto, numeradas de acordo com a ordem do roteiro seguido pelo biólogo inglês (ANEXO C).

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4. ESTUDO DE CASO

Lançado em outubro de 2007, o caderno Ciência&Vida sofreu transformações em seu formato ao longo dos 20 meses de publicação. O terceiro caderno dominical do jornal A Tarde, ordem na qual a publicação é disposta na organização das edições do jornal nesse dia da semana, foi reduzido de oito para quatro páginas em dezembro de 2008. A alteração resultou em modificações no conteúdo publicado no caderno, como a redução do número de entrevistas e ilustrações material geralmente presente nas primeiras edições da publicação.

Para verificar quais alterações ocorreram no caderno Ciência&Vida ao longo do seu período de publicação, o mesmo possui 91 edições, foi realizada uma comparação entre as edições publicadas no mês de inauguração do caderno, outubro de 2007, e as edições publicadas em um mês atual, março de 2009. O objetivo é constatar quais as mudanças sofridas pela publicação dominial, principalmente tendo em vista a redução do número de páginas. No total, 11 edições, quatro delas publicadas em 2007 (dias 07, 14, 21 e 28 de outubro) e cinco publicadas em 2009 (dias 1º, 08. 15, 22 e 29 de março), foram examinadas.

4.1 CARACTERÍSTICAS APONTADAS NO CADERNO INAUGURAL

Entre o cancelamento da seção Observatório e o lançamento do caderno Ciência&Vida, sete meses transcorreram sem qualquer informação sobre as mudanças no conteúdo disponível no jornal A Tarde para o leitor. No dia 6 de outubro de 2007, véspera da estréia do caderno, um texto, acompanhado de chamada na 1º página do jornal (ANEXO D), chamava a atenção para as novidades do dia seguinte que incluíam o novo caderno de domingo e o novo formato de um caderno já publicado antes. Assinado por Cláudio Bandeira, o editor do caderno

Ciência&Vida, e Sara Barnuevo, atual editora do caderno de Empregos&Negócios, o texto

expunha os novos canais de informações sobre a área científica e sobre o mercado de trabalho, esta última com caderno reformulado. Ainda na sexta-feira, dia 05 de outubro, um texto disponível no site A Tarde On-line e assinado por Bandeira também falava sobre a nova publicação.

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“Ciência ganha espaço pioneiro em A Tarde”. Esse foi o título do texto de apresentação do novo caderno publicado já em sua primeira edição, no dia 07 de outubro de 2007. O texto fala sobre a expectativa de tornar a área de ciência atrativa para o leitor, o foco da produção de conteúdo sobre assuntos que promovam hábitos saudáveis que contribuam para a conservação ou melhora da saúde do indivíduo, assim como temas relacionados ao espaço e as pseudociências, e destaca o caráter educativo da difusão científica como forma de superar a exclusão social. De fato, há um desequilíbrio entre os progressos científico e tecnológico e a educação científica do cidadão.

Marcelo Sabbatini aponta que:

O chamado "analfabetismo científico" constitui um obstáculo importante para a compreensão pública da ciência e da tecnologia e o seu conceito antagônico, o de alfabetização científica, foi utilizado como base para o modelo tradicional de comunicação pública da ciência e da tecnologia. Este modelo tradicional, também chamado de "modelo linear" ou "modelo de déficit" supõe que a os distintos formatos da divulgação científica devem preencher uma lacuna de conhecimento, informando e ensinando aos não-especialistas, e que este novo entendimento levaria a uma maior valorização da ciência e da tecnologia (SABBATINI, 2004).

Nesta primeira edição, grandes matérias que se complementam sobre o mesmo tema, uma entrevista de página inteira com o Pró-reitor de pós-graduação e pesquisa da UFBA, e imagens e tabelas que ocupam quase metade das páginas são os pontos de maior destaque no caderno Ciência&Vida. Foi percebido que mesmo essa sendo uma das ambições declaradas pelo editor, Cláudio Bandeira, a publicação não possui muitas seções. Uma delas é o

Observatório, a seção já publicada anteriormente em A Tarde e cancelada em março de 2007,

que retorna ao conteúdo do jornal como um dos elementos do novo caderno. Com cinco notas curtas e uma imagem central sempre referente a primeira nota, geralmente relacionada à área de entretenimento, a seção foi cancelada alguns meses depois.

Uma segunda seção intitulada Tese da Semana apresenta um estudo premiado do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA. O espaço que deveria ser fixo é um dos elementos destacados no texto de divulgação do novo caderno publicado no site A Tarde On-line. Ainda assim, após aparecer nas três primeiras edições do caderno, não fez parte do conteúdo da

Referências

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