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Proposta de implementação de uma rede de hortas urbanas na cidade do Porto

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Proposta de Implementação de uma Rede de Hortas Urbanas na Cidade do

Porto

Ana Paula Monteiro Pereira

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

VILA REAL, 2017

Dissertação de Mestrado em Arquitectura Paisagista

Orientador: Professor Doutor Luís Carlos Loures

(2)

1

Dissertação de Mestrado apresentada para o

efeito de obtenção do grau de Mestre em

Arquitectura Paisagista, de acordo com o

disposto no Diário da República, 2.ª Série,

n.º133, de 13 de Julho de 2016.

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i

Proposta de Implementação de uma Rede de Hortas Urbanas na Cidade do

Porto

Dissertação de Mestrado em Arquitectura Paisagista

Ana Paula Monteiro Pereira

Orientador: Professor Doutor Luís Carlos Loures

Co-orientador: Engenheira Teresa Alexandre Figueiredo Serranos dos Santos

Composição do Júri:

Presidente: Professora Doutora Paula Maria Seixas de Oliveira Arnaldo, professora

auxiliar da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Vogais: Professor Doutor Luís Carlos Loures, professor associado convidado da

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Professor Doutor Domingos Manuel Mendes Lopes, professor auxiliar da

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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A

GRADECIMENTOS

Após a conclusão desta dissertação, gostaria de agradecer a todos os que contribuíram e estiveram sempre presentes e acompanharam esta fase da minha vida no último ano.

Ao meu orientador, o Professor Luís Carlos Loures, e à minha co-orientadora a Engenheira Teresa Alexandre Figueiredo Serrano dos Santos, pelo apoio constante, incentivo, entusiasmo, disponibilidade não só durante a realização desta dissertação, como durante o tempo de estágio na Divisão Municipal de Jardins da Câmara Municipal do Porto e por todos os conhecimentos partilhados durante o desenvolvimento desta dissertação.

A todos os elementos da Câmara Municipal do Porto, particularmente aos que integram a Divisão Municipal de Jardins e que me transmitiram conhecimentos inerentes às Hortas Urbanas e estiveram presentes durante o período de estágio.

A todos os professores que ao longo de todo o percurso académico me transmitiram todos os conhecimentos que levo comigo hoje e, que serão, sem dúvida postos em prática ao longo do meu percurso profissional.

À minha família, especialmente aos meus pais, Fernando e Fátima, e irmãos, Tânia e Joel por todo o apoio, carinho, amor e incentivo que me deram toda a minha vida, e, em especial ao longo do último ano. Acreditem que sei que sem vocês não teria chegado onde cheguei e por me ajudarem a ser quem sou hoje. Sem vocês nada disto seria possível. São o melhor de mim. Obrigada por tudo.

Aos meus amigos que estiveram sempre comigo ao longo do meu percurso académico. Estivemos juntos em todas as aventuras que o mundo académico oferece e valorizo cada momento, cada sorriso, cada lágrima, cada palavra, cada silêncio e cada hora, noite e dia de trabalho. Um obrigada particularmente especial à Cátia e Ana que estiveram comigo desde o início e terão sempre um lugar especial no meu coração. Devo-vos imenso. E outro obrigada gigante à Vitória, Marta e Joana que conheci mais tarde mas com os quais também partilhei e guardo agora cada momento no meu coração.

Aos meus amigos de sempre, Ricardo e Inês. Os anos já são muitos e sabem o quanto são importantes e, apesar da vida nos ter separado, sinto sempre o vosso apoio. São parte de mim já.

Ao Rui, obrigada por tudo o que já me proporcionaste e pelo apoio, amor, incentivo, amizade e confiança. Obrigada por acreditares em mim, mesmo quando eu não acreditei.

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v

RESUMO

PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DE UMA REDE DE HORTAS URBANAS NA CIDADE DO PORTO

Ao conceito de hortas urbanas e agricultura urbana é associado um carácter multifuncional que se pode associar a uma ocupação recreativa, a um meio de superar as dificuldades económicas, a um restauro e/ou recuperação da paisagem, ou a uma remanescência dos tempos passados e do mundo rural. No entanto, este carácter multifuncional intrínseco aos espaços de agricultura urbana tem vindo a ser perdido, fruto do desenvolvimento urbano e falha das políticas de ordenamento.

Este estudo, com base numa reflexão acerca da perda da vertente rural que deu origem à cidade do Porto, pretende ser o ponto de partida para a importância da recuperação desta característica, resultando em espaços de agricultura urbana e na definição de uma paisagem agrícola contínua, estruturante que resulte na implementação de uma rede de hortas urbanas.

Como resultado, e fruto da análise territorial da cidade do Porto definiu-se uma rede abrangente de espaços que devem ser dedicados a actividades agrícolas e onde se verifica a escassez de terrenos, propõe-se o uso do topo de alguns edifícios para o estabelecimento de espaços de agricultura urbana. Este resultado permitiu e ajudou a perceber como os solos com aptidão agrícola estão em risco e têm tendência a desaparecer, caso não sejam definidas e implementadas medidas que visem a sua protecção e inclusão no desenho e planeamento urbano. Procurou-se também definir as directrizes fundamentais que os projectos de Hortas Urbanas deverão seguir para que estes espaços, apesar do cariz rural, se adaptem ao ambiente citadino, unindo o melhor da vertente rural com a vertente urbana, aplicando-se os dados recolhidos na elaboração de três projectos de Hortas Urbanas.

Palavras-chave: Hortas Urbanas, Agricultura Urbana, Planeamento Urbano, Estrutura

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ABSTRACT

IMPLEMENTATION PROPOSAL OF AN URBAN ALLOTMENTS NET IN PORTO

To the concept of urban allotments and urban agriculture is inherited a multifunctional feature, which can be associated with a recreational occupation, a method of overcoming the financial distress, a recuperation and requalification of the landscape and a reminiscence of the ancient times and the rural world. However, this multifunctional feature of the urban agriculture spaces has been lost, due to the urban development and failure of the planning policies.

This study, based in a reflexion about the loss of the rural strand, which originated this city, aims to be the starting point to the importance of the recuperation of this feature, resulting in urban agriculture spaces and in a definition of a continuous agricultural landscape, structuring and which allows the implementation of urban farming network.

As a result and due to the territorial analysis of Porto it was defined an embracing net of spaces, which must be dedicated to agricultural activities. Where these spaces are scarce, it was proposed that the use of some building roofs to the settlement of urban agriculture. This result allow and helped to realize how the soils with high agricultural aptitude are at risk and have the tendency to disappear, if not defined and implemented measures that aim it protection and inclusion in urban planning design. Sought out too define fundamental guidelines which the projects of Urban Allotments must follow so those spaces, despite their rural feature, can adapt to the urban environment, unifying the best of the rural world with the urban world, applying the collected data in the elaboration of three urban allotments projects.

Keywords: Allotment gardens, Urban agriculture, Urban planning, Municipal Ecological

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ACRÓNIMOS

AU – Agricultura Urbana

CPUL’s – Continuous Productive Urban Landscape

EE – Estrutura Ecológica

EEM – Estrutura Ecológica Municipal

EVP – Estrutura Verde Principal

EVS – Estrutura Verde Secundária

EEU – Estrutura Ecológica Urbana

FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations

LIPOR – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto

OAG – Occupational allotment garden

PBH – Plano de Bacia Hidrográfica

PDM – Plano Director Municipal

POAAP – Planos de Ordenamento de Albufeiras de Águas Públicas

POOC – Planos de Ordenamento da Orla Costeira

SA – Subsistence allotment

SRA – Subsistence and recreational allotment

RAN – Reserva Agrícola Nacional

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xi

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS………....…..…….iii RESUMO………..…...…..v ABSTRACT………..…….vii ACRÓNIMOS………..…..…ix ÍNDICE………..….…xi ÍNDICE DE FIGURAS………xiii ÍNDICE DE QUADROS………...…...…...xix INTRODUÇÃO……….…….….1

1. Tema, âmbito e objectivos da dissertação……….………..2

2. Metodologia e organização da dissertação………...4

3. Estrutura da dissertação………...6

CAPÍTULO I Revisão Bibliográfica……….………...9

1. O Conceito de Paisagem, Paisagem Urbana e Paisagem Rural………...10

2. A Dicotomia entre o Urbano e o Rural……….…..16

3. O campo na cidade………24

4. O que é a Agricultura Urbana………..58

4.1. Hortas Urbanas………..62

4.2. Agricultura nos Espaços Intersticiais Urbanos………...….….66

4.3. Agricultura na Periferia Urbana………...71

CAPÍTULO II O Planeamento nas Hortas Urbanas……….………..77

1. O Continuum Naturale……….………..78

2. Estrutura Verde Urbana……….………...80

2.1. Planeamento da Estrutura Verde Urbana………...……….….84

3. Estrutura Ecológica Urbana………...88

3.1. Planeamento da Estrutura Ecológica Urbana………...…………...92

3.2. A Estrutura Ecológica Urbana como elemento de ligação entre o ambiente urbano e o ambiente rural………98

4. Os Espaços das Hortas Urbanas como Espaços Verdes Urbanos……….…101

5. A importância da integração das Hortas Urbanas em Políticas de Planeamento Urbano……….………..106

(15)

xii

CAPÍTULO III

Casos de Estudo………..……….115

1. Hortas Urbanas em Itália………116

2. Hortas Urbanas em Espanha……….….……...119

3. Hortas Urbanas em Portugal……….…….123

CAPÍTULO IV Caracterização do Concelho do Porto e das suas Hortas Urbanas e Proposta da Rede Municipal de Hortas Urbanas do Concelho do Porto……….…….131

1. Hortas Urbanas do Porto………...……….……132

2. Localização Geográfica……….…..136

3. Caracterização Demográfica……….….137

4. Caracterização Litológica……….……..142

5. Uso e Ocupação do Solo………143

6. Rede Hidrográfica………147

7. Sistema Viário……….………..150

8. Condicionantes……….………153

9. Aptidão Agrícola……….………..156

10. Inquérito aos Hortelãos das Hortas Urbanas do Porto……….….………161

11. Proposta da Rede Municipal de Hortas Urbanas………...170

12. Directrizes de Desenho e Planeamento para as hortas da Rede Municipal de Hortas Urbanas da Cidade do Porto……….…….174

12.1. Proposta de aplicação numa Horta Urbana em Ramalde………….……183

12.2. Proposta de aplicação numa Horta Urbana em Cedofeita……….….…..189

12.3. Proposta de aplicação numa Horta Urbana em Santo Ildefonso…….…194

CAPÍTULO V Conclusão……….………….….197 1. Conclusões………...198 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……….………….201 LEGISLAÇÃO CONSULTADA………211 ANEXOS……….213

(16)

xiii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Organigrama metodológico………..…5 Figura 2 – Paisagem com S. Jerónimo. Joachim Patinir 1516-1517. Óleo sobre madeira

74x91 cm. Fonte: Museu do Prado e Apolo com Sibila de Cuma. Fonte: Salvator Rosa, 1666………...10

Figura 3 - Plano de Berlim, de 1929, coordenado por Martin Wagner. As zonas verdes

representadas a negro estão dispostas radiocentricamente, envolvendo os espaços edificados. Fonte: Magalhães (2001).………11

Figura 4 - Esquema de Paisagem Global, com a relação entre a Paisagem Rural e a

Paisagem Urbana. Fonte: Telles et al. (1997)……….15

Figura 5 – Organigrama representativo da relação entre o urbano e o rural. Fonte: Ferrão.20 Figura 6 – Esquema representativo da relação entre o urbano e o rural. Fonte: Ferreira

(2014)………...21

Figura 7 - Reconstituição das parcelas integrantes da Villa: Palácio romano, em primeiro

plano, Balneário e nascentes, a meio; Casa agrícola, pátio e anexos de produção, ao cimo. Desenho a lápis de cor. Fonte: Madeira, 2004 em Villa Romana do Rabaçal, Penela, Portugal – Um centro na periferia do Império e do Território da Civitas de Conímbriga………...27

Figura 8 - Castelo Branco – silhueta da cidade: desenho de Duarte de Armas, 1501. Fonte:

Biblioteca Nacional de Portugal………..29

Figura 9 - Porto Medieval – modelo de reconstrução da cidade. Fonte: Arquivo Municipal do

Porto……….31

Figura 10 - Horto medieval – Representação esquemática da complexidade final de uma horta na Idade Média. Fonte: Carapinha, 1995 Chants Royaux Sur La Conception – Espaço que demonstra a criação de um limite/vedação no Horto Medieval. Fonte: França, 2º Quart.

Séc. XVI, Ms. Francês 1537, Pintura sobre

pergaminho………..32

Figura 11 - Planta de Saint-Gall segundo desenho sobre pergaminho do século IX, Saint

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xiv espécies no pomar (à esquerda) e na horta (à direita). Fonte: França, 2º Quart. Séc. XVI, Ms. Francês 1537, Pintura sobre pergaminho………33

Figura 12 - Évard de Conty, Livro Moralizado dos Insucessos de Amor Fonte: França Séc.

XI, Paris, Bilbiothèque Nationale Ms. Francês 143………34

Figura 13 - Diferentes tipologias de Hortus conclusus (1. Hortus ludi; 2 – Hortus

Contemplationis; 3 – Hortus catalogi) Fonte: Ferreira (2014)…..………35

Figura 14 - O Paço de Sintra segundo o desenho de Duarte D’Armas, deixando ver o curral

dos coelhos. Fonte: Araújo (1962)………36

Figura 15 - Les Très Riches Heures du Duc de Berry Fonte: Março, Ilustração do séc. XV,

França, Chantilly, Museu de Condé………37

Figura 16- A Ribeira das Naus – segundo a gravura de George Braunio, mostrando o paço

real à direita Fonte: Araújo (1962)……….38

Figura 17 - Pormenor da gravura de Jeremias Wolf, mostrando dois hortos no sítio da

Ribeira, junto ao palácio real. Fonte: Araújo (1962).………38

Figura 18 - Distribuição geográfica das quintas de recreio. Fonte: Carapinha (1995)………40 Figura 19 - Palácio Pitti – em Florença, tal como seria no século XV Fonte: Matos (2010)..41 Figura 20 - Palácio de Versalhes. Fonte: http://www.vigoenfotos.com...42 Figura 21 - Letchworth. Uma das duas cidades-jardim inglesas construídas segundo os princípios de Ebenezer Howard. Fonte: Goitia (1982)………45

Figura 22 - Cidade-jardim. Ilustração representativa do modelo de Ebenezer Howard…….46 Figura 23 - Cidade Industrial. Tony Garnier………...48 Figura 24 - Broadacre City. A cidade ideal de Frank Lloyd Wright. No fundo uma cidade

linear ao longo de uma linha de caminho-de-ferro. A. Conselho e Administração. B. Aeroportos. C. Desportos. D. Escritórios profissionais. E. Estádio. F. Hotel. G. Hospital. H. Pequena Indústria. J. Pequenas quintas. K. Parque. L. Motel. M. Indústria. N. Mercadorias. P. Caminhos-de-ferro. R. Hortas. S. Casas e apartamentos. T. Igrejas e cemitérios. U. Laboratórios de investigação. V. Jardim Zoológico. W. Escolas. Fonte: Goitia,

(18)

xv

Figura 25 - Le Corbusier. Ilustrações representativas da Cidade de Le Corbusier. Fonte: Relph (1987)………..51

Figura 26 - Londres. Uma horta urbana no topo de um edifício. Fonte: Howe et al. (2005)..52 Figura 27 - Londres. Albert Memorial, 1942. Fonte: Howe et al. (2005)..……….53 Figura 28 - Londres. Torre de Londres, 1939-1945. Fonte: Howe et al. (2005)..………54 Figura 29 - Inglaterra. Folhetos de publicidade da campanha inglesa Dig For Victory……..55 Figura 30 - Horta Urbana no centro da cidade do Porto……….……….………57 Figura 31 - Horta Urbana em Guimarães ………...………..60 Figura 32 - Horta Urbana no centro de Lisboa………..64 Figura 33 - Classificação das diferentes tipologias de Hortas Urbanas. Fonte: Rodrigues et

al (2014)………65

Figura 34 - Morfologia urbana de uma cidade, com os edifícios a preto e os espaços

intersticiais a branco. Fonte: Guerreiro, 2008………..…………..67

Figura 35 - Espaço expectante no metro de Salgueiros na cidade do Porto. Fonte: Google

Maps, 2016………...…69

Figura 36 - Esquema representativo do Sistema Contínuo. Fonte: Pena, 2014……….78 Figura 37 - Estrutura Verde Urbana do Porto, como exemplo o Parque da Cidade (à

esquerda) e uma Horta Urbana (à direita). Fonte: Google Imagens, 2016 e Fonte própria, 2016……….81

Figura 38 - Espaços verdes urbanos, em 2000. Fonte: www.eea.europa.eu...84 Figura 39 - Parque da Cidade do Porto como elemento da EVU. Fonte: Google Imagens

(2016)………86

Figura 40 - Estrutura Ecológica Urbana da Área Metropolitana do Porto. Fonte: Andresen et

al. (2004)..………92

Figura 41 - Corredores e cinturas verdes urbanos e peri-urbanos. Fonte: Cangueiro

(19)

xvi

Figura 42 - Tipologias de espaços na Estrutura Ecológica do Porto. Fonte: Quintas e Curado

(2010)………..………99

Figura 43 - Orti Urbani Di Via Chiodi. Fonte: Google Imagens (2016)...……….118

Figura 44 - Parco Nord Milano, Horta Municipal de Milão (vista áerea). Fonte: Google Imagens (2016)………119

Figura 45 - Huertos del Parque Miraflores (vista áerea). Fonte: Google Imagens (2016)...121

Figura 46 - Huertos del Parque Miraflores. Fonte: Google Imagens (2016)..………122

Figura 47 - El Huerto del Rey Moro. Fonte: Google Imagens (2016)..………123

Figura 48 - Horta Quinta da Granja, em Lisboa. ……….………...124

Figura 49 - Horta Pedagógica de Guimarães. ………127

Figura 50 - Horta da Quinta da Gruta, na Maia………..………….……….130

Figura 51 - Horta Urbana na cidade do Porto………...……….133

Figura 52 - Rede de Hortas Urbanas existentes na cidade do Porto………...135

Figura 53 - Localização do concelho do Porto e as suas freguesias. Fonte: Google Imagens, 2016………137

Figura 54 - Caracterização demográfica da cidade do Porto (idosos com idade superior a 65 anos)………139

Figura 55 - Caracterização demográfica da cidade do Porto em 2011.. Fonte: INE, 2011.139 Figura 56 - Diagrama representativo do número de desempregados………140

Figura 57 - Diagrama representativo das tipologias de Hortas Urbanas…………..……….141

Figura 58 - Caracterização litológica da cidade do Porto……….142

Figura 59 - Uso e ocupação do solo na cidade do Porto………...………...144

Figura 60 - Rede Hidrográfica e Protecção dos Recursos Naturais da Cidade do Porto.……….148

(20)

xvii

Figura 62 - Sistema de Transportes Públicos da Cidade do Porto………..153

Figura 63 - Planta de Condicionantes da Cidade do Porto………..……….154

Figura 64 - A Estrutura Verde do Porto em 1892 (em cima) e em 1995 (em baixo). Fonte: Madureira, 2011……….159

Figura 65 - Solos com aptidão agrícola e florestal na cidade do Porto………...162

Figura 66 - Situação profissional dos inquiridos……….…162

Figura 67 - Agregado familiar dos inquiridos………163

Figura 68 - Gráfico dos resultados da questão: Quem mais beneficia com as Hortas Urbanas?...………..164

Figura 69 - Gráfico dos resultados da questão: Estaria disposto a comprar produtos provenientes de Hortas Urbanas em mercados locais?...………165

Figura 70 - Gráfico dos resultados das questões: Já alguma vez praticou AU? Se existisse um espaço próximo da zona onde reside, aderia?...………...166

Figura 71 - Gráfico dos resultados da questão: O que levaria os inquiridos a aderir a uma Horta Urbana? ………..166

Figura 72 - Gráfico dos resultados da questão: O que os inquiridos produzem na sua Horta Urbana?. ………167

Figura 73 - Gráfico dos resultados da questão: Quais as condições que os inquiridos consideram essenciais para o melhor funcionamento das Hortas Colectivas?...168

Figura 74 - Gráfico dos resultados da questão: Qual o sistema de produção que os inquiridos consideram mais adequado?...……….168

Figura 75 - Gráfico dos resultados da questão: Qual a quantidade de água que os inquiridos utilizam por mês no seu talhão de cultivo?...………..169

Figura 76 - Diagrama representativo da proposta da Rede Municipal de Hortas Urbanas na Cidade do Porto………..………..172

Figura 77 - Proposta final da Rede Municipal de Hortas Urbanas na Cidade do Porto…174 Figura 78 - Plano geral para a Horta em Ramalde………..………..185

(21)

xviii

Figura 79 - Área de recreio e lazer na Horta em Ramalde, com vista para a pérgula e para

os canteiros sobrelevados. ………..……….186

Figura 80 - Entrada para a Horta em Ramalde, com vista para a ciclovia……….…187 Figura 81 - Corte ilustrativo da organização do espaço da Horta Urbana nas diversas áreas

funcionais……….…………..188

Figura 82 - Plano geral para a Horta em Cedofeita……….…….………190 Figura 83 - Área de recreio e lazer da horta, com vista para o espaço de recreio infantil...191 Figura 84 - Área de cultivo, com vista para o abrigo de materiais e

ferramentas.………...192

Figura 85 - Corte ilustrativo da organização do espaço da Horta Urbana nas diversas áreas

funcionais……….………..……193

Figura 86 - Plano geral para a Horta em Santo Ildefonso……….195 Figura 87 - Área de recreio com os talhões sobrelevados de cultivo na Horta no topo do

(22)

xix

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 - Diferenças entre a Agricultura Urbana e a Agricultura Periurbana Fonte:

Adaptado de Drescher, 2003 in Gonçalves, 2013; Gonçalves, 2014……….74

Quadro 2 - Distância e qualidade dos espaços verdes. Fonte: Oliveira, 2013………85 Quadro 3 - Relação entre Classes, tipologias de espaços e funções da EEU. Fonte: Alves,

2010………...94

Quadro 4 - Quadro Síntese da Estrutura Verde Urbana. Fonte: Folque, 1990……….……112 Quadro 5 - Quadro Síntese da Horta Pedagógica de Guimarães. Fonte: Câmara Municipal

de Guimarães……….126

Quadro 6 - Quadro Síntese da Horta da Quinta da Gruta……….………129 Quadro 7 - Áreas obtidas na medição da Planta de Ordenamento do PDM Porto. Fonte:

Guedes, 2015 ……….……146

Quadro 8 - Importância da Agricultura Urbana para os inquiridos……….…..…165 Quadro 9 - Frequência das pragas nas Hortas Urbanas do Porto………..…168 Quadro 10 - Plantas que estimulam os sentidos. O: olfacto, T: tacto; A: audição; V: visão; G:

gosto. Fonte: Dias, 2013………..178

Quadro 11 - Plantas ornamentais para canteiros, revestimento do solo, vasos e floreiras.

(23)
(24)

xxi A cidade nasceu da invenção da agricultura sedentária. Durante muitos séculos e milénios, essa cidade, pontual no território, opunha-se, de certa maneira, ao espaço rural e ao ermo. Opunha-se como imagem, mas não como essência. E isso era fundamental.

(25)
(26)

1

INTRODUÇÃO

(27)

2

1. Tema, âmbito e objectivos da dissertação

Este trabalho embora focado na cidade, aborda particularmente o estado da relação que perdurou até aos nossos dias entre o mundo rural e o mundo urbano. Num breve olhar, rapidamente se percebe que a agricultura, apesar de cada vez mais ser apenas uma actividade residual no espaço urbano, fruto do desenvolvimento urbano e das políticas urbanas que não procuraram precaver e preservar estes espaços no seu interior ainda persistem sendo evidente a importância que o sistema agrícola tem e sempre teve na identidade e personalidade do espaço urbano. Através de uma análise do tecido urbano da cidade apercebemo-nos da existência de espaços altamente qualificados e espaços expectantes sem qualquer atribuição tipológica que devem ser preservados e utilizados para o seu uso natural, a actividade agrícola.

A importância da necessidade e do impacto destes espaços na paisagem e na comunidade levou à abordagem deste tema, tendo como área de estudo a cidade do Porto, não só em termos da sua aptidão agrícola, mas também em termos paisagísticos e demográficos.

A Agricultura Urbana e as Hortas Urbanas constituem espaços multifuncionais e, são de facto uma opção viável como uma nova função da cidade. Essa função não se resume apenas à produção de alimentos, razão pela qual devem ser incluídas no planeamento urbano. Propõe-se, sim a sua valorização com os outros componentes do ambiente urbano, nomeadamente os serviços, os espaços verdes, as áreas de recreio e lazer, os edifícios, a economia e a paisagem.

Neste sentido é necessário um novo entendimento sobre a condição actual dos espaços com aptidão agrícola e sobre a importância da qualidade destes espaços como espaços agrícolas urbanos. Considera-se assim fundamental a definição de uma rede que interligue estes espaços e qualifique o seu uso intencional e apropriado como hortas urbanas. Esta é, sem dúvida uma opção crucial para que a cidade se desenvolva e para a sua vivência, mas que nunca esqueça a sua origem rural.

A Agricultura Urbana é fundamental pois tem o poder de estruturar o Continuum naturale, responsável por assegurar a ocorrência dos processos e fluxos dos vários sistemas que integram a paisagem e de conectar todo o espaço rural envolvente das cidades com o interior das mesmas.

É então este o objectivo principal do presente trabalho: desenvolver a proposta de uma nova abordagem conceptual e projectual que proporcione e resulte na criação de uma rede de espaços contínuos produtivos e de recreio em espaço urbano. Para que este

(28)

3 objectivo seja cumprido e alcançado, importa analisar os espaços sobrantes e cuja aptidão agrícola justifique a sua inserção nesta rede.

Assim sendo, para além do objectivo principal, surgiu um conjunto de objectivos que urgem ser cumpridos, a saber:

1. Estudo do desenvolvimento da actividade agrícola no espaço urbano e o seu desenvolvimento ao longo do tempo;

2. Análise e estudo de diferentes hortas urbanas em países do Sul da Europa. A escolha desta região deve-se à semelhança das características climáticas e morfológicas entre os países do Sul da Europa.

3. Análise e estudo de como a inserção de políticas de protecção do solo e de planeamento urbano que visem a protecção do solo agrícola no interior do espaço urbano.

4. Análise das características da cidade do Porto, de forma a definir os locais mais aptos para o desenvolvimento da agricultura urbana.

5. Definição de algumas metodologias que o planeamento dos espaços de Hortas Urbanas devem seguir, de modo a servirem as necessidades da população.

(29)

4

2. Metodologia e organização da dissertação

A metodologia (Figura 1) utilizada desenvolve-se em três fases que seguem uma lógica sequencial. A primeira fase corresponde à obtenção e pesquisa de informação, nomeadamente revisão bibliográfica, que aborda os conceitos de paisagem, paisagem rural, paisagem urbana e agricultura urbana, considerando a sua evolução ao longo dos séculos. Posteriormente, e ainda nesta fase foi feita uma análise dos casos de estudo de países europeus com características climáticas idênticas às de Portugal de modo a perceber as diferentes abordagens e como podem ser adaptadas ao caso português.

Paralelamente será feita uma análise do território da cidade do Porto que será fundamental para a caracterização da área de estudo, para a avaliação das necessidades da população e definição dos locais para a implementação de espaços agrícolas. A reunião de informação obtida, nomeadamente caracterização demográfica, caracterização litológica, usos e ocupação do solo, rede hidrográfica, condicionantes, rede viária e aptidão agrícola será essencial para que se passe para a terceira e última fase, que sintetiza numa rede os locais aptos para o desenvolvimento da actividade agrícola, conferindo uma paisagem contínua agrícola entre o espaço agrícola e o espaço urbano. Ainda nesta fase, foi elaborado um inquérito destinado aos hortelãos de diferentes Hortas Urbanas da cidade do Porto, cujo objectivo era analisar como estes espaços são actualmente interpretados pela população e que condições seria necessário implementar para que atraiam cada vez mais pessoas.

Na terceira fase irá proceder-se à definição da Rede Municipal de Hortas Urbanas na cidade do Porto segundo os parâmetros e critérios obtidos na fase anterior. Da avaliação anterior reflectir-se-á sobre as necessidades da população urbana e procurar-se-á definir algumas tipologias e directrizes que estes novos espaços agrícolas na cidade deverão seguir e implementar.

(30)

5

(31)

6

3. Estrutura da dissertação

Esta dissertação desenvolveu-se então a partir de uma revisão bibliográfica forte e que procurou sempre ter um objectivo em comum: o campo na cidade. O trabalho agora apresentado desenvolveu-se em cinco capítulos.

No primeiro capítulo revisitou-se o conceito de paisagem, paisagem urbana e paisagem rural e a multifuncionalidade que resulta da sua relação e interligação. Segue-se o percursos e desenvolvimento da história do campo na cidade. Este capítulo termina com a abordagem da agricultura urbana e do carácter multifuncional que lhe é inerente e da forma como esta se pode personificar em hortas urbanas, agricultura nos espaços intersticiais e na sua periferia.

No segundo capítulo analisa-se a temática do planeamento urbano nas hortas urbanas e como a sua falha relativamente a esta vertente resultou na destruição do anel rural que circundava a cidade do Porto, há poucos anos. Assim, aborda-se esta temática com o maior interesse e procuraram-se soluções que evidenciem a importância destes espaços como espaços verdes urbanos e a importância da sua integração em medidas e políticas urbanas. O capítulo seguinte centra-se na agricultura urbana nos países do Sul da Europa, particularmente em Espanha e Itália. A escolha destes países resume-se à sua semelhança climática com Portugal de modo a servirem de exemplos aos espaços que as hortas urbanas devem seguir.

No capítulo IV procurou-se analisar o concelho do Porto e saber se a sua aptidão agrícola foi perdida no tempo e o que resta para ser recuperado e implementado como solo rural. Foca-se assim na caracterização demográfica, litológica, uso e ocupação do solo, rede hidrográfica e rede viária, condicionantes, aptidão agrícola, sendo que se realiza um inquérito que foi feito a diversos hortelãos de modo a perceber como estes espaços são interpretados pela população e como devem ser no futuro para que o seu sucesso perdure.

Consiste ainda na proposta final da Rede de Hortas Urbanas na Cidade do Porto e na definição das directrizes de desenho e planeamento para estes espaços como espaços produtivos e espaços lúdicos. Por fim, propõe-se alguns projectos de orientação para a consolidação destes espaços.

O capítulo V, capítulo final apresenta as conclusões do trabalho e é onde são definidas algumas propostas para o futuro e como uma rede de espaços agrícolas integra uma nova abordagem ao projecto da paisagem agrícola no espaço urbano, tanto em termos conceptuais como na apresentação de uma estratégia para o desenvolvimento da agricultura urbana sustentável, de forma a contribuir para o aumento do seu carácter

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7 multifuncional e que promove a existência de uma paisagem contínua que alia a produção agrícola com o recreio.

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CAPÍTULO I

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1. O conceito de Paisagem, Paisagem Urbana e Paisagem Rural

No livro A Arquitectura Paisagista – Morfologia e Complexidade, Magalhães (2001) afirma que a paisagem é o objecto por excelência da Arquitectura Paisagista. Devido à complexidade do termo paisagem, este é caracterizado pelas mais diversas definições. As inúmeras definições de paisagem resultam da sua aplicação em distintas áreas, que abrangem a política, a sociologia, a biologia, a pintura, a geografia, a arquitectura, o urbanismo e a ecologia (Matos, 2010).

No entanto, o termo paisagem não é um termo recente, tendo sido descrito inicialmente por Zong Bing (375-443 a.C), no livro Introdução à pintura de paisagem, onde defendeu que “a paisagem, ao possuir uma forma material tende para o espírito”. Assim, de acordo com Matos (2001) no século IV já se verificava uma preocupação da estética paisagística. Contudo, o autor refere que na Europa o conceito paisagem pode ser interpretado de duas formas distintas (Figura 2):

landschaft (Alemanha), landschap (Holanda) e landscape (Inglaterra) referem-se a uma província ou uma região;

paesaggio (Itália), paysage (França), paisage (Espanha) e paisagem (Portugal) indicam a representação pictórica de um dado país.

Estas duas perspectivas relativas a significados diferentes da mesma palavra denotam duas formas diferentes de ver o mundo, fazendo a distinção entre o norte e o sul da Europa (Matos, 2010), sendo que no caso português aplica-se a segunda interpretação.

Figura 2 -Paisagem com S. Jerónimo. Joachim Patinir 1516-1517. Óleo sobre madeira 74x91 cm.

Fonte: Museu do Prado (à esquerda) e Apolo com Sibila de Cuma. Fonte: Salvator Rosa, 1666 (à direita).

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11 Devido ao desenvolvimento industrial e, ainda no século XVIII, foram criados dois modelos paisagísticos: o sublime e o pitoresco. Deixou-se assim a representação da paisagem e introduziu-se assim a criação de paisagens, constituindo um cenário de estética naturalista, na qual os artefactos humanos se localizavam sob a forma de evocações dos mundos redescobertos nessa época (Magalhães, 2007). Este estilo foi denominado romântico e teve a sua grande expressão em Inglaterra (Figura 2), Alemanha e Estados Unidos da América, onde dominou por mais de um século a arte pitoresca dos jardins e da paisagem (Matos, 2010).

Magalhães (2001: 313) afirma que mais tarde, no século XIX, a paisagem é o termo que encerra a relação “entre a cidade e o campo, entre a vida inóspita e artificial das cidades e a natureza.” Este facto confirma-se nas pinturas de Turner, Cézanne, Van Gogh e Corot onde exprimem a harmonia das paisagens, a actividade rural e as transformações nos espaços envolventes. Contudo, o desígnio de paisagem como elemento cenográfico foi progressivamente alterado nesta época devido ao estudo da Natureza que caracterizava os inúmeros factores que a constituem, nomeadamente, a geologia, o solo, o clima, a vegetação e a fauna (Magalhães, 200). É também nesta época que se introduz o factor tempo como um agente transformador na paisagem. A construção de paisagens reflectiu-se também na paisagem urbana, através dos modelos de cidade como a Cidade Linear (Soria y Mata, 1844-1920) e a Cidade Jardim (Howard, 1898), cuja característica principal era a introdução de vegetação (implementação do pulmão verde e green belt – Figura 3) em meio urbano com a finalidade de inverter a poluição provocada pelas emissões da combustão do carvão (Matos, 2001).

Figura 3 – Plano de Berlim, de 1929, coordenado por Martin Wagner. As zonas verdes representadas

a negro estão dispostas radiocentricamente, envolvendo os espaços edificados. Fonte: Magalhães (2001).

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12 A partir de meados do século XX, a noção de paisagem adquire um dos significados que possui actualmente (Matos, 2010). No entanto, o conceito de paisagem assume as mais variadas acepções, sendo o objecto de estudo de vários domínios, despertando o interesse de engenheiros agrícolas e florestais, geógrafos, biólogos, urbanistas, historiadores, filósofos, arquitectos e arquitectos paisagistas (Dias, 2002; Matos, 2010). Desta forma, a ecologia designa a paisagem como um sistema dinâmico, onde ocorrem processos de acção e reacção que resultam do confronto contínuo da sociedade com o território. E, no fim deste século já se considerava a paisagem como um sistema ecológico, cultural, social e estético devido à preocupação crescente com questões inerentes aos riscos ambientais (Matos, 2010). O termo Ecologia da Paisagem que foi introduzido em 1939, por Carl Troll e que surgiu novamente nos anos sessenta (Dias, 2002; Matos, 2010). Este definiu-a como “o estudo das relações físico-biológicas que governam as diferentes unidades espaciais de uma região” (Matos, 2010). O livro Landscape Ecology da autoria de Forman e Godron a paisagem é “uma porção de território composta por um conjunto de sistemas inter-actuantes, que vão sendo repetidos segundo formas semelhantes”.

A legislação portuguesa também procurou definir o conceito paisagem. Desta forma, de acordo com a Lei de Bases do Ambiente:

Paisagem é a unidade geográfica, ecológica e estética resultante da acção do homem e da reacção da natureza, sendo primitiva quando a acção daquele é mínima e natural quando a acção humana é determinante, sem deixar de se verificar o equilíbrio biológico, a estabilidade física e a dinâmica geológica.

Para Rute Matos é inadequado a aplicação dos conceitos primitiva e natural na definição anterior, afirmando que a paisagem é uma construção do homem, ou seja, é uma criação cultural mais do que natural. No entanto, concorda que a paisagem é o resultado da actividade humana. Pessoalmente, eu concordo com a visão de paisagem apontada por Rute Matos, uma vez que todas as paisagens registam intervenção humana, cujo grau poderá variar.

Embora vários autores se tenham debruçado sobre o conceito e definição de paisagem (Cabral, 1993; Magalhães, 2001; Telles, 2004; Cancela d’Abreu, 2007), aquela que se adequa ao objecto de estudo é a definição de Magalhães (2001: 21) que a define como “uma realidade ecológica, corporizada fisicamente num espaço que se poderia chamar natural (se considerado antes de qualquer intervenção humana), no qual se inscreveram os elementos e as estruturas construídas pelos homens, com determinada cultura, designada também por Paisagem Global.” O autor conclui, definindo o termo paisagem de uma forma generalizada para os arquitectos paisagistas como a actuação de

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13 modo complexo dos seres vivos, animais e plantas, e o homem, detentor de determinada cultura sobre um substrato físico, resultando na origem de determinada imagem

É importante referir que o espaço agrícola foi a primeira paisagem alterada pelo Homem. Há cerca de 35.000 anos, o Homem abandonou as cavernas e, explorando o território, alterou a paisagem, adaptando-a de acordo com as suas necessidades. Muitas das alterações na paisagem provocadas pelo Homem são provocadas pela prática da actividade agrícola, pela escolha e selecção das plantas que viviam em condições naturais e passaram a ser cultivadas. Estas alterações, de certa forma, contribuíram para o enriquecimento da paisagem agrária.

No artigo Paisagem – Perspectiva da Arquitectura Paisagista, Magalhães realça o que diferencia uma Paisagem Rural de uma Paisagem Urbana. Ambas são constituídas por tudo o que existe à superfície da terra, com significados profundos e complexos, de natureza ecológica e cultural. No entanto, a Paisagem Rural é constituída por elementos vivos e abrange as actividades agrárias (como actividade de produção), onde se instalam as linhas e retículas e se acomodam as manchas dos montados, uma diversidade de texturas que desenham a paisagem e tipificam os usos. Além disso, abrange as actividades de conservação da natureza (matas, matos, sebes, pousios, entre outras) e de recreio. Ribeiro Telles acrescenta que a paisagem rural é uma necessidade incontornável, no sentido em que o Homem necessita dela para garantir a sobrevivência mas também porque é nesse espaço que se encontra o equilíbrio psicossomático (Neves, s.d.). Por outro lado, uma Paisagem Urbana constitui no seu perímetro os elementos inertes, construídos pelo Homem. Caso estes elementos sejam de natureza industrial, são, então classificadas como Paisagens Industriais. Numa entrevista da revista Pessoas e Lugares, Gonçalo Ribeiro Telles defende que não há separações entre a paisagem urbana e paisagem rural, apontando as tecnologias como causa da inexistência dessa separação. Actualmente, ainda se confunde uma paisagem rural com uma paisagem natural. Toda a paisagem rural, quer se encontre densamente habitada ou não é uma paisagem humanizada, no sentido em que essa paisagem foi sujeita a intervenção humana, alterando-a (Cabral, 1980).

Porém, a distinção entre o que é uma Paisagem Rural e uma Paisagem Urbana tem vindo a desaparecer ao longo do tempo, especialmente após o término da II Guerra Mundial, pelo que esta classificação deixa de fazer sentido, pelo menos nas zonas de transição em que a substituição da actividade agrária tem dado lugar à edificação sem estrutura e não planeada, o que origina um espaço fragmentado que também não se enquadra na classificação tradicional de área urbana (Magalhães, 2007).

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14 Desta forma, o arquitecto paisagista Ribeiro Telles (1994) cria um novo conceito – a Paisagem Global, que pretende uma interligação entre os elementos vivos e inertes, acabando com a segregação entre urbano e rural (Figura 4). Nas palavras de Ribeiro Telles (1994: 23), o “espaço rural e o espaço urbano devem interligar-se de tal maneira que, sem que percam as suas características próprias e funcionamento autónomo, não deixem de servir os interesses comuns da sociedade, quer digam respeito ao mundo rural, quer à vida urbana”. Acrescenta ainda que “para isso há que estabelecer o continuum naturale no espaço urbano e no espaço rural, como elo entre as respectivas paisagens, permitindo a aproximação dos dois modos de vida e das pessoas. A paisagem global do futuro não poderá deixar de estar sujeita a princípios impostos pela sua essência biológica, pelo que a localização das actividades, nomeadamente da expansão urbana, tem que estar sujeita à aptidão do território e à paisagem existente.” Os princípios de essência biológica, a edificação e os outros usos do solo devem distribuir-se de forma contínua no território, relativamente à aptidão ecológica e à capacidade ambiental, tendo como base a paisagem pré-existente.

Francisco Caldeira Cabral também já tinha manifestado a importância de eliminar as diferenças manifestadas entre a cidade e o campo, no Congresso da Federação Internacional dos Arquitectos Paisagistas, no ano de 1962, declarando que a tarefa do Homem é conseguir a união da Paisagem – cidade, campo e indústria. Para isso, é necessário uma dissolução do espaço urbano e do espaço rural, bem como a identidade de cada um destes espaços em detrimento de um espaço global (Abreu et al., 2002). No entanto, esta união não revoga as diferenças que existem entre estes dois ambientes, onde numa paisagem rural verifica-se uma predominância das actividades agrícolas e florestais e nas grandes urbes prevalecem os edifícios e superfícies impermeabilizadas. Contudo, os espaços de transição entre estes meios distintos necessitam de ser considerados e incluídos num sistema global, a paisagem global (Matos, 2010).

Da Paisagem Global poderemos obter uma paisagem com uma identidade crescente, que em muitos casos tem a sua origem nos territórios suburbanos, mas que poderá terminar em territórios reconstituindo-os à actividade agrícola ou área florestal com potencial económico, lazer público e com valor estético (Neves, s.d.)

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Figura 4 – Esquema de Paisagem Global, com a relação entre a Paisagem Rural e a Paisagem

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2. DICOTOMIA URBANO-RURAL

As primeiras sociedades eram predominantemente rurais. O campo desempenhava a função de alimentar as necessidades de consumo alimentar da cidade (Marques, 2003). “Desde a antiguidade até à Idade Média, a cidade, de extensão reduzida, estava intimamente ligada ao campo e assegurava fundamentalmente as trocas de produtos agrícolas” (Magalhães, 1994: 99).

Neste sentido, o mundo rural era distinguido do mundo através das funções que o caracterizavam (Ferrão, 2000):

a produção de alimentos como função principal;

a agricultura como actividade económica dominante;

 a família camponesa, com modos de vida, valores e comportamentos próprios como grupo social de referência;

 a conquista de equilíbrios entre as características naturais e o tipo de actividades humanas desenvolvidas como o tipo de paisagem.

Até aos grandes movimentos migratórios resultantes da industrialização, a periferia urbana constituía as áreas complementares do espaço urbano e, ao longo da história da cidade sempre existiu esta relação entre o núcleo urbano e a periferia. A relação equilibrada entre a cidade e o campo permitia a vida da paisagem rural, uma vez que a cidade adquiria os bens que a paisagem rural produzia (Rocha, 2007).

As áreas de actividade agrícola retratam uma das inúmeras dimensões da natureza na cidade. Estas são representadas nas mais vastas formas, desde parques, jardins, áreas naturais e naturalizadas, vestígios de antigas quintas e vazios urbanos ocupados por vegetação espontânea. A ligação entre o espaço rural e o espaço urbano foi sempre pontuada pelas quintas e hortos que anunciam a cidade na sua extensão territorial ondulante. Neste sentido, as hortas urbanas são espaços que reflectem a ligação entre o campo e a cidade (Bernardo, 2013). Marques (2004: 75) acrescenta que “na cidade tradicional não existiam mais espaços verdes de uso público do que na cidade actual. No entanto, a pequena dimensão do núcleo urbano permitia aos seus habitantes chegarem ou verem a paisagem rural sem grande esforço, mantendo-se física e psicologicamente acessível.” O ambiente das cidades era denso e de pequena dimensão, cujos destinos se encontravam a uma distância razoável para serem percorridos a pé (Silva, 2008).

Durante o longo período que antecedeu a Revolução Industrial, a relação cidade/campo reflectia um certo equilíbrio funcional entre o mundo rural e o mundo urbano,

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17 tal como foi visto anteriormente, do campo saíam não só os produtos frescos (hortícolas ou lacticínios), bem como outros produtos alimentares que abasteciam a cidade, uma vez que esta era naturalmente incapaz de prover às suas necessidades em víveres.

Após a Revolução Industrial, verificou-se um aumento da concentração populacional nas áreas periurbanas resultante do abandono da área rural e um crescimento acentuado da edificação nesse espaço (Rocha, 2007). O consequente abandono dos campos, não apenas pelos agricultores mas também pelos artesãos conduziu a uma progressiva agricolização do mundo rural. O processo de inferiorização dos campos acelerou-se, o que se fez sentir na relação estabelecida entre o campo e a cidade. Esta, estimulada pela revolução industrial, distanciou-se cada vez mais do seu meio de origem – o campo – adoptando, relativamente a esse, atitudes dominadoras (Mateus, 2009).

Nesse sentido, a cidade começou a crescer desmesuradamente, ocupando a superfície do território que até à revolução industrial desempenhava as funções específicas de suporte à vida da própria cidade, por exemplo, através da oferta de frescos (Rocha, 2007). Nesta época, as economias passaram a estar sustentadas nos espaços urbanos e os espaços rurais a serem dependentes dessas economias (Marques, 2003) Deste modo, o surgimento de uma nova sociedade urbano-industrial acarretou duas consequências principais para as áreas rurais, por um lado, a perda da centralidade económica, social e simbólica por parte do mundo rural e, por outro lado o mundo rural passou a ser encarado como uma realidade arcaica (Ferrão, 2000). O desemprego, a insegurança, a poluição ambiental e os custos da habitação são factores que também se reflectem nas urbes. Os espaços rurais ficaram assim associados ao abandono, ao envelhecimento, ao declínio da agricultura, às fracas oportunidades de emprego e a uma oferta escassa de educação (Marques, 2003).

O mundo rural passou a desempenhar uma nova função que constitui o fornecimento de mão-de-obra desqualificada e barata para as actividades económicas em crescimento nas cidades.

A industrialização da agricultura, após o fim da Segunda Guerra Mundial estabeleceu uma nova relação entre o rural-urbano (Ferrão, 2000) – o continuum rural/urbano (Mateus, 2009). Esta nova dicotomia valoriza a oposição entre o mundo moderno (que pode ser urbano-industrial ou rural) e o mundo arcaico (que é essencialmente rural) (Ferrão, 2000). As empresas encontraram no mundo rural o espaço que já escasseava na cidade, aliado a uma mão-de-obra abundante (Mateus, 2009). Assim, cria-se uma partição das áreas rurais, de acordo com a proximidade física, funcional e socioeconómica aos principais centros

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18 urbanos, sendo definidas como áreas rurais centrais, periféricas ou marginais (Ferrão, 2000).

O tecido urbano proliferou, estendendo-se e corroendo os últimos resquícios da vida agrária. A cidade, aliada a um crescimento descontrolado, invadiu o espaço rural, ocupando os campos que a envolviam e influenciava uma área dotada de relativa extensão – a região urbana.

A partir da segunda metade do século XX generalizaram-se, nos países industrializados, as relações comerciais a grande distância, diminuindo, assim a função de mercado regional agrícola, desempenhada pela cidade. Quebrou-se a tradicional autarquia do mundo rural, que apenas se abria a vila ou a cidade mais próxima, onde eram vendidos os produtos agrícolas e trocadas as novidades da região (Mateus, 2009).

Em Portugal Continental, o processo de industrialização foi tardio relativamente à Europa e, foi essencialmente nas duas metrópoles, Lisboa e Porto que se encontrava a maior concentração nacional de actividades de base tecnológica, de indústrias e serviços. Neste período, as principais cidades nacionais foram obrigadas a crescer para a periferia, aumentando a quantidade de áreas habitacionais que se encontravam perto das indústrias. Estas eram construídas no território periurbano de forma dispersa e ocupando solos com boa aptidão agrícola. Como refere Telles (1994: 12), “surgiram as grandes concentrações urbanas ocupando vastas áreas o que veio destruir a unidade cidade-campo e a interligação entre estas partes componentes”.

O processo de êxodo rural, em Portugal, teve início na década de 1960. Este processo está associado à perda de importância da agricultura na economia e sociedade portuguesas. Porventura, a aplicação de novas tecnologias na produção agrícola provocou uma drástica diminuição do número de trabalhadores e do volume de trabalho (Silva, 2008).

Nas áreas rurais do nosso país, para além da rarefacção e envelhecimento da população residente, isto traduziu-se no ressurgimento dos incultos, na falência dos serviços, na degradação dos patrimónios edificados e no empobrecimento do tecido produtivo. Consequentemente, implementou-se um modelo de desenvolvimento industrial assente numa relação desigual entre as áreas urbanas e as áreas rurais, uma vez que o desenvolvimento daquelas foi feito à custa da perda de importância e deterioração dos recursos destas (Silva, 2008).

A relação cidade-campo actual reflecte-se nos movimentos casa-trabalho, nos movimentos em direcção à cidade para satisfação de um conjunto de bens e serviços, nos movimentos em direcção aos espaços rurais para usufruto das amenidades naturais, nas redes de articulação e de intercâmbio entre as empresas localizadas nos espaços rurais e

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19 nos espaços urbanos (Marques, 2003). Este tipo de relação, bem como os novos meios de transporte, permite residir no campo e ir trabalhar para a cidade. Segundo Teresa Marques (2003: 517) “nesta (…) forma de residir encontramos um imaginário urbano em torno da natureza que está entre dois protótipos: uns mais ligados aos espaços-natureza, das matas e florestas, e outro mais agrícola e pastoral. Este movimento tem vindo a reforçar-se na última década, criando uma urbanidade rural. (…) Está a criar-se uma ruralidade não agrária mas urbana, que anseia por um quadro de vida perto da natureza, fugindo ao stress e à poluição urbana”. A cidade de Lisboa, tal como a cidade do Porto, encontram-se rodeadas por uma coroa que evidencia os intensos processos de suburbanização. São as periferias urbanas menos urbanizadas que avançam sobre os espaços agro-florestais envolventes. O modelo que se está a tentar desenvolver actualmente procura conceber uma ruralidade agro-florestal nas áreas urbanas tal como a cidade do Porto. Esta é uma área densamente urbana, com forte intensidade de uso do solo e com valores de poluição significativos e à sua volta emerge o urbano difuso de densidade média. Sendo uma área densamente urbanizada, está associada ao barulho, poluição, stress, confusão, trânsito, movimento, comércio, insegurança. Neste sentido, as novas políticas de ordenamento do território pretendem estabelecer uma espécie de binómio urbano-natureza. Há um processo de transferência e revalorização dos espaços naturais – a natureza, que é um espaço de ar puro, sossego, tranquilidade, liberdade, paz, verde e agricultura, torna-se socializada. Isto demonstra que, em termos de planeamento, é essencial olhar para estes espaços como espaços naturais cada vez mais requisitados (Marques, 2003).

Além disso, a relação entre o sistema urbano e o sistema rural é caracterizada pela complementaridade e interdependência entre ambos os sistemas. Naturalmente, estas relações estabelecidas são cruciais para a sobrevivência mútua mas, ao longo do tempo verificou-se uma evolução, cujo resultado reflecte a ruptura entre os dois espaços e, consequentemente a perda da unidade paisagística existente (Matos, 2010). O limite que convencionalmente separa a cidade do campo, está a ser gradualmente diluído no anel suburbano que envolve a cidade, como um contraste de espaços cheios e espaços vazios que representam espaços edificados e espaços livres.

Desta forma, o afastamento entre o mundo rural e o mundo urbano provocou não só a perda cada vez maior da multifuncionalidade da paisagem, mas também a perda da consciência de que a vida humana depende da relação entre das diversas formas de vida. Como consequência do afastamento entre campo e cidade, verifica-se uma perda dos valores e princípios culturais e, Magalhães (2001) indica que é essencial defender uma nova

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20 qualidade de vida, sobretudo nas periferias urbanas degradadas, de forma a eliminar as roturas entre a cidade e o campo (Figura 5).

Figura 5Organigrama representativo da relação entre o urbano e o rural. Fonte: Ferrão (2000).

Este facto, reflecte-se no espaço urbano uma vez que este deixou de conseguir responder às necessidades de uma população e de uma economia com crescentes exigências. Por sua vez, isto gera movimentos com origem na cidade que resultam na ocupação da periferia, criando as áreas denominadas áreas de transição. A ocupação verificada nestes espaços é difusa e constitui a paisagem peri-urbana, uma ponte de ligação entre o mundo urbano e o mundo rural (Antunes et al., s.d).

De acordo com Magalhães (2001) é fundamental eliminar as roturas entre estes dois espaços. Isto reflecte-se na edificação e actividades que exigem a utilização de materiais vivos, sendo, posteriormente consideradas as necessidades e as disponibilidades humanas. Consequentemente, surge a interpenetração orgânica entre o urbano e o rural, a edificação e o espaço exterior, complementando-se. O mundo rural deixou de estar exclusivamente associado à função alimentar e agrícola. Actualmente, assume um papel significativo, não apenas como promotor de bem-estar e da aproximação do Homem com a natureza, mas também como um valor simbólico associado a um estilo de vida mais saudável. O território é um espaço multifuncional, representado pela distribuição de diferentes usos e funções e, apesar de a agricultura já não ser a actividade predominante, continua a estar indissociável ao espaço rural e constitui um papel crucial na implementação da sustentabilidade (Antunes et al., s.d.).

Diversos autores expressam a sua visão sobre a relação campo/cidade. Depois de analisadas as várias perspectivas da relação entre o mundo rural e o mundo urbano, verifica-se que todas destacam uma interacção entre os dois mundos, ou seja uma paisagem que reflecte a qualidade de ambos e o seu planeamento em conjunto (Portoghesi,

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21 1985; Cabral, 1993; Telles, 1994; Benevolo, 1995). A paisagem, tal como foi visto anteriormente não é apenas um espaço físico, biológico e estético, mas é também um reflexo de um território testemunho de um passado, ou seja, é imperativo considera-la como um todo.

Figura 6Esquema representativo da relação entre o urbano e o rural . Fonte: Ferreira (2014).

A Estrutura Ecológica¹ é indispensável para agregar o espaço urbano ao espaço rural. A introdução da estrutura ecológica contraria o modelo pontilhista de parques, jardins, praças, entre outros e propõe um modelo que permita que os espaços apresentem características de continuidade. Rocha (2007) refere que é necessário compatibilizar o Continuum naturale, em meio urbano, através das práticas culturais, desportivas e de lazer com o Continuum culturale. Essas actividades são essenciais para a manutenção da vivência humana, bem como o seu desenvolvimento. Os espaços abertos da cidade são muito mais do que simples maciços de vegetação ou amplos espaços livres de edificação. Estes devem constituir um sistema integrado com carácter e identidade, que deve ser preservada, recriada ou criada (Telles, 1996).

No seguimento do que foi escrito anteriormente, Magalhães (1996) refere que se acrescentarmos às funções ecológicas desta estrutura (ecológica), algumas funções de uso ligadas ao lazer e ao recreio, mas também à circulação de peões e bicicletas e à fruição de equipamento cultural, temos o que mais recentemente se tem designado por Corredores Verdes².

A cidade actual difere em diversos aspectos da cidade histórica. Até ao romantismo, esta poderia considerar-se uma cidade com um sistema artificializado, por contraposição com a paisagem rural que a envolvia. Contudo, a malha da cidade actual expandiu-se de tal forma que a edificação, incluindo a superfície impermeabilizada, é quase contínua,

_______________________________________________________________________________________ ¹Decreto-Lei n.º180/99 – O Plano Director Municipal e o Plano de Urbanização passaram, a integrar desde 1999 a Estrutura Ecológica, cujo objectivo é identificar as áreas, os valores, e os sistemas fundamentais para a protecção e valorização dos espaços rurais e urbanos.

²Os corredores verdes são considerados uma estratégia de desenho da paisagem e ordenamento do território, que pretende salvaguardar os valores existentes e definir áreas prioritárias de recuperação com a prioridade de estabelecer uma rede de áreas e corredores de elevada qualidade paisagística.

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22 apresentando pontos ou “ilhas” de espaços verdes, relativamente raros nesse perímetro. Assim, é importante estabelecer a EEU que devem incluir tanto logradouros como “quintais” (hortas urbanas).

Esta medida permite criar no espaço urbano uma interface entre o subsolo e a atmosfera, onde as trocas de água, de produtos gasosos e de nutrientes possam ter lugar. Sem isto, a cidade será cada vez mais poeirenta, mais seca e quente na Verão e mais fria no Inverno.

Neste sentido, a EEU deve possuir uma rede de hortas urbanas, quintais e logradouros. Estes espaços deverão ser permeáveis e dispor de vegetação, tal como árvores. De forma a interliga-los, deve ser estabelecida uma rede de ruas arborizadas, de forma a criar uma continuidade verde (Telles, 1996).

As áreas de actividade agrícola retratam uma das inúmeras dimensões da natureza na cidade. Estas são representadas nas mais vastas formas, desde parques, jardins, áreas naturais e seminaturais, vestígios de antigas quintas e vazios urbanos ocupados por vegetação espontânea. Neste sentido, as hortas urbanas são espaços que reflectem a ligação entre o campo e a cidade (Bernardo, 2013).

A produção de alimentos nos espaços urbanos e periurbanos tem, em Portugal, uma longa tradição. Grande parte da população urbana é proveniente de espaços rurais e a quantidade elevada de espaços baldios existentes permitem que esta relação persista, na forma de horta urbana.

No artigo A cidade e o campo: memórias e práticas alimentares de um grupo de consumidores urbanos, Truninger (2013) realça as relações e as trajectórias urbanas e rurais ao longo do tempo através da alimentação e das memórias de um grupo de consumidores residentes numa esfera urbana. O objectivo era demonstrar que, através das memórias alimentares, é possível contribuir na conceptualização da divisão entre o espaço rural e o espaço urbano, respeitando as suas diferenças.

As memórias alimentares são importantes para estabelecer uma ligação entre o espaço rural e o espaço urbano. Os consumidores são capazes de reavivar o seu passado rural, apesar de actualmente viverem num contexto urbano. Assim, o facto de os consumidores terem acesso a produtos locais e biológicos torna possível reviver o passado, recuperando o sabor nostálgico experimentado na infância. Estas memórias permitem ao consumidor ultrapassar a dicotomia rural-urbano, mas ao mesmo tempo, reforça as diferenças existentes entre os dois mundos. Contudo, estas diferenças não representam uma relação polarizadora, mas antes interdependente (Truninger, 2013).

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23 Alguns elementos vegetais conseguem interligar a paisagem urbana com a paisagem rural, tais como as árvores de fruto, a sombra do espaço, a luz e os tanques de água. Estes elementos são característicos por pontuarem o espaço e possibilitarem a continuidade do percurso, com diferentes tonalidades e aromas na paisagem. Este jardim agrícola altera-se ao longo do ano, de acordo com as mudanças sazonais e interage com a paisagem que o rodeia. É o encontro da naturalidade com a artificialidade. Respeita os valores culturais primários da horticultura e integra-a num tempo actual, tornando-a numa Paisagem construída e equilibrada.

Desta forma, o Homem estabelece uma relação com a Natureza numa realidade urbana uma vez que as hortas urbanas possibilitam a permanência da ambiência rural com o Homem urbano. Estas características são o que distinguem a realidade rural da realidade urbana, sendo esta “barreira” considerada natural e o que define estes dois mundos distintos como complementares e estáveis num contexto marcado pelo equilíbrio e pela harmonia de conjunto (Ferrão, 1999).

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