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As hortas urbanas assumiram particular importância em Espanha durante a Guerra Civil. Foram implantadas com a finalidade de produzir alimentos para alimentar os habitantes citadinos, mas também como uma maneira de experimentar novas formas de organização social (Pourias, 2015). As populações menos favorecidas plantavam, assim nos escassos terrenos qualquer produto hortícola, de forma a alimentar as suas próprias famílias. Em muitas situações, devido à falta de terreno produziam os alimentos nos jardins das suas casas (Galdarsporo, 2014).

Neste sentido, Pourias (2015) refere que os sindicatos republicanos e organizações políticas procuraram implementar diversos projectos durante o cerco de Madrid, entre 1936 até 1938, aplicando diversas medidas para tentar fornecer alimentos hortícolas aos seus habitantes.

No entanto, face à grande escassez de alimentos que Madrid enfrentava, essas medidas não foram suficientes e a população enfrentou um longo período de fome. Todavia, a prática da agricultura urbana manteve-se até à actualidade com formas inovadoras, sendo então integrada nos sistemas de produção alimentar urbanos, bem como nas redes de organização logística e social para assegurar a segurança alimentar.

120 A partir dos anos 50, verificou-se uma grande migração da população em direcção às cidades industriais, surgindo assim pequenas hortas urbanas, em cidades como Madrid e Barcelona. Durante estes anos, o Instituto Nacional de Colonización procurou incentivar os Municípios a disponibilizar terrenos onde as famílias pudessem cultivar e criar hortas urbanas, mas sem muito sucesso.

Assim, a partir de 1990, a administração pública começou a regular e promover o uso de terrenos municipais para a implantação de hortas urbanas. Inicialmente, tratavam-se apenas de associações e grupos que aproveitavam esses espaços. No entanto, é cada vez maior o número de famílias que têm vindo a aproveitar esses terrenos, permitindo um pequeno contacto com a Natureza.

Actualmente, são cada vez mais as pessoas a aderir e participar neste projecto ou a criar uma pequena horta nas suas casas. Já não são vistas apenas como hortas, mas também como espaços verdes, sustentáveis e de lazer. Permitem o contacto com a natureza, enquanto promovem benefícios educacionais, sociais, ambientais e terapêuticos e, em alguns casos, económicos. A sua implantação e desenvolvimento não exigem grandes porções de terreno, podendo ser implantadas em terrenos abandonados, nos telhados dos edifícios, varandas e terraços das habitações.

De acordo com um estudo da autoria de Gregorio Ballesteros, o número de hortas urbanas em Espanha supera, actualmente 15.000 distribuídas por 300 municípios, com uma superfície de mais 150 hectares. A superfície média de cada horta é aproximadamente 4.143 m², variando entre 500 e 40.000 m². Por sua vez, o tamanho médio de cada parcela é aproximadamente 75 m², variando entre 20 até 450 m².

A maioria das cidades e respectivos municípios elaboram os seus regulamentos e normas de funcionamento com o objectivo de estabelecer as condições jurídicas e de uso destes espaços. Quase todos os municípios definem como uma condição obrigatória a aplicação de agricultura biológica e, em muitos casos incluem as normas que regulam esta prática. Estas directrizes estabelecem também quem pode beneficiar da concessão das hortas, quais os procedimentos e critérios a aplicar, bem como o período de duração. Regulam também os direitos e deveres dos utilizadores, assim como o regime de sanções pelo incumprimento dos mesmos.

Huertos del Parque Miraflores

Pourias (2015) refere que nos anos 80, os subúrbios de Sevilha foram alvo de uma urbanização crescente que converteu rapidamente a paisagem agrícola tradicional numa paisagem residencial e urbanizada. Assim, o autor menciona que os habitantes das áreas

121 que envolvem o norte de Sevilha criaram o Comité Pro-Parque Miraflores, em 1983 para sugerir e definir novos usos do solo, procurando preservar o valor histórico desta parte da cidade. Nos inícios dos anos 90 o parque foi criado. Actualmente, as hortas urbanas constituem um dos elementos centrais do Comité, dedicando-se também ao ensino de técnicas de agricultura para os mais jovens. Esta horta urbana (Figuras 45) tem sido considerada como uma referência para os demais projectos de agricultura urbana não só em Sevilha, mas pelo resto de Espanha.

Figura 45–Huertos del Parque Miraflores (vista aérea). Fonte: Google Imagens (2016).

O uso do solo, onde se encontra este parque urbano inicialmente, era agrícola. No entanto, este uso agrícola do solo foi posteriormente substituído, tornando-se progressivamente num depósito de resíduos ilegal, à excepção de uma pequena porção de terreno que era utilizado para cultivo de alimentos por uma família que habitava na área envolvente. Actualmente, na periferia do parque existem diversos edifícios antigos de origem agrícola, incluindo um moinho de água e lagar de azeite. Um destes edifícios foi restaurado e convertido num abrigo de ferramentas, que é também utilizado para a realização de eventos.

Os Huertos do Parque Miraflores (Figura 46) ocupam uma área de 4,7 hectares e é constituída por 160 parcelas, cuja área é aproximadamente 175 m² para cada hortelão e parcelas colectivas para organizações regionais. Verificam-se dois tipos de hortas urbanas, nomeadamente huertos de ocio para os hortelãos e famílias e huertos escolares para as escolas e crianças. Requerem a prática de agricultura biológica e não permitem a venda dos

122 produtos produzidos. Cada hortelão deve ainda cuidar da manutenção, limpeza e cultivo da parcela atribuída (Pourias, 2015).

Figura 46 –Huertos del Parque Miraflores. Fonte: Google Imagens (2016).

El Huerto Del Rey Moro

A Huerta Del Rey Moro (Figura 47) é gerida pela Associación de Amigos de la Huerta del Rey Moro “La Noria”. Em 2004, os habitantes do bairro e diversas organizações decidiram cultivar uma horta num terreno abandonado, com a finalidade de proteger esta área histórica e para evitar que esse terreno fosse urbanizado. Desde 2005 até 2011, Pourias (2015) menciona que a associação recebeu fundos do município (20 000€), para a manutenção e gestão do espaço.

Este espaço estava abandonado desde o século XV, quando a Casa del rey moro foi construída e era utilizado para o cultivo de produtos hortícolas. A horta situa-se no centro histórico de Sevilha e pertencia ao edifício adjacente (Casa del rey moro) e, ambos pertenciam à Junta de Andalucia. Actualmente, a associação continua a pedir ao Município de Sevilha que reconheça a horta como um espaço verde e que seja integrada na rede de espaços verdes da cidade, visto que a área envolvente apresenta poucos espaços para esse fim. No entanto, a existência destes espaço a longo-termo permanece incerta. Assim, os hortelãos classificam este espaço como Huerto ocupado por não se incluir nos documentos legais que regem os espaços verdes.

Este espaço encontra-se dividido em duas áreas: uma área de recreio que desempenha a função de parque público, cuja manutenção é da responsabilidade dos habitantes do bairro e a horta, que é constituída por uma única parcela cultivada pelos habitantes. Apresenta ainda na entrada do espaço parcelas individuais – huertos educativos – para os mais jovens. A área total deste espaço verde ocupa cerca de 5000 m².

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Figura 47– El Huerto del Rey Moro. Fonte: Google Imagens (2016).

A associação organiza diversas actividades neste espaço, nomeadamente eventos culturais, exibições, cinema ao ar livre, actividades educacionais e workshops. O autor refere ainda que os utilizadores do parque não são apenas os hortelãos, mas sim todos os residentes do bairro devido às diversas atracções que o parque oferece, especialmente para as crianças.