• Nenhum resultado encontrado

A importância da integração das Hortas Urbanas em Políticas de Planeamento

A evolução nas dinâmicas urbanas ao longo dos tempos tem demonstrado que, apesar do crescimento do tecido urbano, a agricultura no espaço urbano é uma constante – ainda que tenha evoluído, assumindo formas diferenciadas (Freire e Ramos, 2014).

Uma vez que as hortas urbanas constituem uma componente estruturante da concepção da área urbana e dos espaços verdes urbanos, devem necessariamente ser consideradas no planeamento urbano, pois como indica Telles (1994: 40) “segundo o ponto de vista da paisagem global, tanto o espaço rural, como o urbano e o suburbano, as infraestruturas e os equipamentos, fazem parte de um todo e dele são indissociáveis”. Este conceito expressa a inexistência de barreiras rígidas entre espaços urbanos e rurais, reconhecendo as interdependências entre esses espaços. Constitui, deste modo, uma estrutura fundamental do desenho da paisagem e convoca a integração das componentes naturais e culturais. Assim, Freire e Ramos (2014) indicam que a integração das áreas agrícolas no modelo de planeamento urbano constitui uma nova função no espaço urbano, procurando responder a uma procura existente e, por vezes insuficiente, tirando partido dos benefícios que esta tipologia de espaços verdes urbanos proporciona nestes locais. Os autores fazem ainda referência à ideia defendida por Alexander et al. (1997), simbolizada pelos dedos urbanos e rurais entrelaçados.

Neste sentido, Carvalho (2003: 515) propõe a criação de um novo estatuto, que denominou “Áreas Agrícolas-Florestais de Cidade. Estas existem, actualmente, no território urbano quase sempre expectantes, muitas vezes em processos de degradação, espreitando a oportunidade de se tornarem urbanizáveis”. Por fim, os programas de ocupação propostos por Carvalho (2003: 516) “corresponderiam à recusa de vazios, à ideia de que não basta proibir a construção, de que é necessário que todos os espaços da cidade tenham uma função.”

Para que isto se verifique, Freire e Ramos (2014) propõe que, à semelhança de outros usos e funções estabelecidos nos diferentes planos – espaços comerciais, espaços industriais, espaços habitacionais, entre outros – a agricultura seja também considerada uma classe de espaços, com áreas e regras de ocupação e protecção claras e bem definidas. Além disso, consideram indispensável reavaliar as funções e valores existentes, especialmente nos espaços que no interior do tecido urbano inicialmente se enquadravam dentro dos solos mais aptos para a agricultura e que, entretanto foram desafectados. A esta reconversão funcional, os autores acrescem os valores de importância única para a manutenção da sustentabilidade das cidades. Os autores vão ainda mais longe e realçam

107 que as áreas, que se encontrem edificadas em solos originalmente classificados como solos rurais e transformados em solo urbano, sejam reconvertidas novamente em solos rurais e incluídas na nova classe de espaços agrícolas a integrar no espaço urbano.

Face à nova realidade, Freire e Ramos (2013) indicam que é necessário que o município reavalie os usos e funções das áreas integradas no perímetro urbano. Para sustentar esta proposta, os autores referem o exemplo de Évora, onde uma observação imediata dos dados permite verificar que aproximadamente 50% da área para indústria correspondia inicialmente a áreas de RAN, desafectadas para aquele uso.

Actualmente, o DReg 11/2009 implementa algumas inovações em relação à temática dos usos do solo e da dispersão urbana e, embora estas inovações já estivessem previstas no Decreto-Lei n.º 380/99, Delgado (2010) indica que só passados 10 anos se procedeu à regulamentação dos critérios de classificação e reclassificação do solo. Assim, o autor enuncia as intenções claras que pretendem travar o processo de urbanização intensiva do território, mencionadas no Preâmbulo:

a. A alteração do solo rural para solo urbano deve ser excepcional e devidamente justificada;

b. Deve combater-se o “aumento indiscriminado dos perímetros urbanos” e a consequente perda exagerada de “espaços agrícolas, florestais ou verdes lúdicos”;

c. Deve evitar-se a “criação de bolsas de terreno puramente especulativas;

d. Devem criar-se condições para a expansão programada de infra-estruturas, de forma eficiente e que valorize o território;

e. Abre-se a possibilidade de se poder criar outras categorias de solo rural, que não entrem necessariamente na categoria de solo urbano.

Deste modo, o autor refere que os Municípios assim passam a ter a capacidade de definir novas categorias e subcategorias de solo urbano e rural, adequando-se melhor às estratégias locais de desenvolvimento territorial. A classificação do solo como solo rural permite a protecção do solo natural, à salvaguarda do uso agrícola, florestal e pecuário, à exploração dos recursos geológicos e à conservação da natureza, da biodiversidade e da paisagem. Além disso, o solo rural inclui também as áreas susceptíveis à ocorrência de riscos naturais, tecnológicos ou ambientais, afectas à segurança e saúde públicas, ou direccionadas para a implantação de equipamentos, estruturas e infraestruturas incompatíveis com a sua integração em solo urbano, incluindo aquelas que servem para a produção de energias renováveis.

108 De acordo com Telles (1994), é necessário implementar redes de cidades envolvidas por coroas tradicionais de diferentes tipos de agricultura, nomeadamente:

1. Hortas e pomares, que devem ocupar o anel mais próximo da periferia urbana ou mesmo o interior do tecido urbano, de forma a permitir um abastecimento próximo em produtos verdes e espaços de recreio e melhoria ambiental;

2. Pomares e a horticultura de mercado, ocupando o segundo anel juntamente com os olivais e as áreas de pasto para leite;

3. Um terceiro e último anel de agricultura de mercado interligado com agricultura extensiva e matas.

Deste modo e, de acordo com o ponto 1, os espaços de viver e produzir, encontram-se cada vez mais interligados entre si, colaborando para a diversificação e autonomia regional, bem como para a identidade nacional. Para Telles (1994: 40), planear a “paisagem global não se trata apenas de elaborar e implementar projecções sectoriais mas sim procurar resolver as exigências do egoísmo materialista do presente e (…) apelar para a cultural e memória dos povos, procurar recriar o suporte físico e biológico da vida, desenvolver a cultura, garantir a permanência da fertilidade, melhorar o ambiente propício às comunidades humanas, perspectivar o futuro com a criação de mais um elo da cadeia que, laboriosamente, a Humanidade vem construindo no sentido de uma maior dignidade e justiça da sociedade humana.”

Os espaços urbanos edificados, os espaços abertos, os espaços agrícolas e os espaços naturais devem assim construir corredores contínuos no território. O autor acrescenta ainda que os espaços abertos devem incluir as áreas necessárias ao funcionamento dos ecossistemas naturais, abrangendo as áreas agrícolas e de recreio. No entanto, a maior parte dos PDM’s não abordam a complementaridade rural e de recreio que a população exige. Estes permitem fixar orientações fundamentais da estrutura e ocupação do território de forma a garantir a adequada utilização dos recursos naturais e salvaguarda do ambiente. Neste sentido, para proteger os solos com maior aptidão agrícola da especulação imobiliária, Rodrigues (2012) propõe a classificação desses solos em non aedificandi, definindo esses espaços no PDM.

Telles (1994) relembra que os espaços de hortas urbanas, espaços revestidos de vegetação, de solo permeável, permitem a alimentação das toalhas freáticas e desempenham, juntamente com os espaços públicos um papel cultural importante, de melhoria do ambiente natural da cidade e contribuem para a estabilidade e segurança dos edifícios. A defesa destas áreas já se encontra presente em diversos instrumentos do

109 planeamento urbano. No entanto, mesmo assim, por vezes não tem sido possível evitar a sua constante destruição pelos empreendimentos que vão surgindo.

Para contrariar esse facto, Pessoa (2011) sugere que a expansão urbana se apoie numa política de solos, séria e responsável e que inviabilize a destruição dos solos agrícolas, constituindo novos núcleos e integrando as áreas rurais. Deste modo, previne-se as difíceis condições ambientais e climáticas que se avizinham. O autor sugere ainda que a par com as Hortas Urbanas se criem vias pedonais e ciclistas. Estas podem unir os espaços urbanos com as áreas periféricas e até mesmo povoações vizinhas pois, como afirma o autor, é indispensável oferecer ao homem citadino a possibilidade de praticar exercício ao ar livre, uma vez que pequenos exercícios como a marcha e a corrida, é a melhor e mais acessível forma de combater problemas sérios de saúde pública.

Por outro lado, Ferreira e Castro (2000) salientam que as características das hortas urbanas, nomeadamente a manutenção da paisagem e da qualidade de vida, devem implicar uma outra postura, que leve ao reconhecimento das potencialidades desses espaços. Essas poderiam vir a permitir um controlo acentuado dos usos clandestinos do solo urbano, participando, assim, na concretização da estrutura verde urbana. Telles (1994), por sua vez, define a implementação de uma figura nova de planeamento – a Estrutura Ecológica Urbana³¹. Esta, segundo o autor, deve sujeitar-se aos mesmos princípios que regem a REN, designadamente: continuidade, acerto ecológico e paisagístico, meandrização e actividade biológica.

Neste sentido, Magalhães (1991) define alguns aspectos importantes que devem ser considerados na criação de espaços verdes mas, que também se adaptam aos espaços de hortas urbanas, nomeadamente a concepção, localização, acessibilidade, dimensionamento, implementação e, por último gestão. Além destes aspectos, Pinto (2007: 40) refere que se deve considerar a integração no tecido urbano de forma equilibrada, desempenhando o papel de purificação da atmosfera, de activação biológica e regularização microclimática.

Desta forma, Rodrigues (2012) defende que as políticas urbanas devem incentivar a implementação da agricultura de modo a promover o desenvolvimento sustentável, integrando, assim a agricultura urbana nos instrumentos de planeamento e desenvolvimento urbano, através das seguintes medidas:

________________________________________________________________________

110 1. Revisão do actual zonamento urbano e a integração da população agrícola urbana

nos planos de zonamento;

2. As zonas periurbanas agrícolas podem e devem ser incluídas nos planos de ordenamento da cidade;

3. As zonas de amortecimento podem ser criadas e as áreas centrais do espaço urbano podem e devem ser reservados;

4. Promoção da agricultura urbana como um uso temporal de terras públicas e privadas;

5. Promoção de um uso multifuncional da terra e incentivo da participação da comunidade na gestão dos espaços urbanos abertos;

6. A inclusão de espaço para hortelãos individuais ou hortas comunitárias em novos projectos públicos de habitação e construção de sistemas privados.

Como políticas de ordenamento e planeamento mais específicas, o autor menciona a inclusão da agricultura urbana em projectos de regeneração urbana, bem como da Agenda 21 com as seguintes actividades: ligação da agricultura urbana à educação e ao desenvolvimento comunitário, permissão da propriedade comum da terra, em detrimento do uso exclusivo da propriedade privada e, por último facilitar os esquemas de marketing directo e sistemas de troca locais, trazendo produtores locais e consumidores para o meio urbano.

No entanto, Sousa (2015) refere que os espaços destinados à prática de agricultura urbana não serão sustentáveis se se localizarem em áreas inadequadas. Assim, sugere que as políticas municipais criem directrizes de forma a facilitar o acesso a terrenos aptos para a produção dos alimentos, destacando as seguintes acções: 1. Fazer um inventário dos espaços abertos disponíveis na cidade e analisar a sua adequação para uso na agricultura; 2. Reunir os interessados na exploração de solo agrícola na cidade com os proprietários de solo que que necessitem de utilizadores temporários ou permanentes; 3. Estimular os proprietários de terrenos vagos a cederem o solo a médio prazo a grupos de agricultores organizados, proporcionando em troca uma redução dos impostos sobre os solos; 4. Formulação de uma lei municipal que regula o uso de terrenos vagos na cidade; 5. Fornecimento de solo municipal vago para grupos organizados de agricultores urbanos; 6. Tomar medidas para melhorar a adequação dos solos disponíveis como a remoção de detritos ou o fornecimento de água para irrigação; 7. Demarcação de áreas destinadas a agricultura urbana como uso permanente; 8. Prestação de assistência para relocalizar áreas de agricultura urbana mal localizadas sujeitas a graves problemas de saúde ou riscos

111 ambientais; 9. Incluir espaço para hortas individuais ou comunitárias em novos projectos habitacionais públicos.

O autor refere ainda outras áreas importantes de intervenção com o objectivo de melhorar a produtividade e viabilidade económica da agricultura urbana, nomeadamente: 1. Melhoria do acesso a factores de produção e facilitar a produção descentralizada de recursos; 2. Apoio técnico e financeiro, tais como reduções fiscais para as empresas produtoras de produtos ecologicamente amigáveis, tais como fertilizantes naturais ou biopesticidas; 3. Melhorar o acesso dos agricultores urbanos ao crédito; 4. Facilitar a comercialização dos produtos dos agricultores urbanos: acesso a mercados da cidade, criação de mercados de agricultores, uso dos produtos obtidos pelos agricultores urbanos no fornecimento de alimentos para a alimentação escolar, e apoio à criação de infraestruturas locais para a preservação e armazenamento de alimentos em pequena escala.

Para o autor, o resultado da implementação destas políticas consiste no estabelecimento da agricultura urbana como uma actividade económica viável nos espaços urbanos. O autor descreve ainda três dimensões políticas da agricultura urbana (social ecológica e económica), da autoria de Cabannes (2004) e Fao (2008).

A dimensão social aborda as estratégias de subsistência dos residentes urbanos mais pobres e que estão focados especialmente na produção de alimentos para autoconsumo. A segunda dimensão, a dimensão ecológica refere-se a tipos de agricultura urbana que apresentam um carácter multifuncional, fornecendo outros serviços aos citadinos: compostagem, reutilização de resíduos orgânicos, melhoria do clima urbano, gestão da paisagem, oferta de oportunidades de lazer e actividades recreativas e armazenamento de água. Por último, a dimensão económica orienta-se para o mercado, ou seja, as actividades são realizadas com base familiar de pequena escala, produzindo também produtos não-alimentares.

Os espaços verdes, com destaque para as hortas urbanas, constituem uma fase decisiva do processo de rurbanização no movimento cultural de fusão do campo com a cidade (Fadigas, 1993). Neste sentido, o autor refere que é importante encontrar e definir critérios de caracterização tipológica e funcional, de formar a tornar inteligível o papel, natureza, organização e função dos espaços verdes urbanos. Esta condição é, assim crucial para a participação activa e estruturada no processo de planeamento urbano, enquanto componentes indispensáveis do tecido urbano e como factores de qualificação ambiental.

112 Quadro 4 – Quadro Síntese da Estrutura Verde Urbana.

Tipo de Espaços Utentes Ritmo de

Utilização Acessibilidade/ Localização Dimensionamento Estrutura Verde Principal Parque Suburbano População urbana e população da região Semana ou ocasional Em função dos transportes públicos 30 m²/ habitante Parque da Cidade Toda a população do centro urbano e respectiva área de influência Diários ou semanal Junto ao centro da cidade Parque Urbano Toda a população da área de influência deste espaço Semanal ou diário 800 m Desporto Livre Em função dos transportes públicos Hortas Urbanas Agregados interessados Semanal Em função dos transportes públicos Estrutura Verde Secundária Espaços Adjacentes à Habitação Crianças (0-5 anos) e idosos Diário Até 100 m 10 m²/ habitante Espaços próximos da Habitação Todos os residentes do bairro Diário Até 400 m Fonte: Folque, 1990

Neste sentido, uma das formas de classificar as diferentes tipologias dos espaços verdes consiste na definição do uso potencial que permitam, ou seja, classifica-los ou reclassifica-los de acordo com as suas potencialidades. No entanto, por vezes as funções de um determinado espaço são múltiplas e não é fácil separá-las umas das outras.

As políticas de planeamento urbano têm vindo, de acordo com Fadigas (1993) a definir critérios para a classificação dos espaços verdes urbanos, sendo que um dos critérios

113 comuns consiste na sua distribuição espacial e na sua relação com o funcionamento da cidade. Ou seja, o seu objectivo consiste na definição e implementação de redes de densidade variável e de modos de tratamento e usos diferenciados, de acordo com a sua inserção espacial. A este critério, o autor associa os conceitos de estrutura verde principal e estrutura verde secundária (Quadro 3).

O primeiro, Estrutura Verde Principal constitui, tal como afirma Fadigas (1993) uma rede de espaços localizados em situações ecológicas propícias à sua instalação e desenvolvimento, onde se integram as hortas urbanas. Constitui, assim o sistema complexo de espaços verdes e livres que interligam o interior da cidade com a sua periferia rural. O segundo conceito, Estrutura Verde Secundária, corresponde ao conjunto dos espaços verdes de menor dimensão, localizados junto à habitação ou a equipamentos colectivos integrados no espaço urbano, bem como os jardins e as praças ajardinadas de concepção mais formal, que pontuam as áreas centrais mais densamente edificadas.

Deste modo, a Estrutura Verde Principal inclui a presença de elementos e valores naturais que possibilitam uma relação de continuidade entre a periferia do espaço urbano e o seu interior, implementando uma rede de articulação e activação biológica.

A integração no planeamento urbano de regras distintas e definidas para a programação de espaços verdes é fruto de pensamento urbanístico moderno. No entanto, Fadigas (1993) indica que a definição das normas urbanísticas clarificando as tipologias, os usos e as dimensões mínimas dos espaços verdes varia de acordo com a situação urbana de referência e legislação de cada país. Em Portugal, o Centro de Estudos de Planeamento definiu, para as expansões urbanas, a exigência da disponibilidade de 30 m²/ habitante, sendo que 20 m² correspondem à estrutura verde principal e 10 m² à estrutura verde secundária.

O autor propõe que o ordenamento do território procure orientar-se para uma utilização mais racional do espaço e dos recursos naturais, abrindo assim caminho para opções de planeamento urbano mais adequadas para uma articulação correcta entre as potencialidades e usos efectivos. Assim, devem ser regulamentados não apenas as propostas para uso futuro mas também os espaços a preservar no decorrer dos processos de urbanização, considerando a natureza, localização e dimensão das intervenções.

Neste sentido, a existência de espaços agro-florestais nas periferias e no interior do espaço urbano constitui um acréscimo da qualidade ambiental que o planeamento urbano deve aumentar e reforçar. Em contrapartida, a percepção da importância dos valores naturais como parte integrante do tecido urbano é insuficiente, caso as regras gerais de procedimento não se fundarem numa força de vontade de alterar os processos dominantes

114 de criação do tecido urbano – desde o planeamento e desenho urbano até à gestão urbanística. O autor acrescenta ainda que “a importância da presença de valores e elementos naturais (…) não pode deixar de estar presente na definição das estratégias de gestão urbana, na composição urbanística e no desenho da cidade. (…) Se assim não for, as estratégias fundadas em preocupações ambientalistas ou culturais não serão mais que linhas difusas de um pensamento cuja concretização dificilmente se aproximará dos objectivos fixados. As preocupações ambientais devem traduzir-se em soluções formais obedecendo a critérios de planeamento urbanístico capazes de conduzirem a configurações urbanas que, não podendo ser soluções padronizadas, as possam reflectir no quadro da criação e manutenção de habitats humanos equilibrados. Torna-se, assim, indispensável considerar a adopção de metodologias de ordenamento territorial e de planeamento urbanístico coerentes com as preocupações expressas e com os objectivos de integração dos valores e elementos naturais no tecido urbano”.

Fadigas (1993) considera essencial que os municípios utilizem os actos legislativos como um instrumento regulador e disciplinador do uso e da transformação do uso do solo e das paisagens, mas de acordo com a sua competência pois, só deste modo se pode criar paisagens onde a humanização seja encarada como uma integração perfeita dos valores naturais e urbanos

Segundo Rodrigues (2012) é cada vez mais visível que a separação entre o ambiente urbano e o ambiente rural já não faz sentido. É necessário, assim articular a cidade com o ambiente natural e espaço rural, de uma forma coesa, consistente e sustentável. A cidade deve ser entendida, na perspectiva do autor, como uma paisagem complexa, onde o sistema natural e cultural se interliguem constituindo a paisagem global de Gonçalo Ribeiro Telles, integrando os diversos usos que lhe estão associados, nomeadamente agrícola, silvícola, áreas destinadas à conservação da natureza e protecção de espécies. Assim, a ruralidade deixa de constituir uma postura conservadora face à urbanização, tal como indica Fadigas (1993: 203) e, a agricultura passa a ser interpretada como uma actividade fruto da articulação da cultura com a rurbanidade e “com a melhoria da prestação de serviços públicos em termos de oferta de melhores condições ambientais de vida na cidade onde se implementa”.

115

CAPÍTULO III

116