• Nenhum resultado encontrado

4. O que é a Agricultura Urbana

4.1. Hortas Urbanas

“As hortas urbanas traduzem uma forma espontânea de utilizar os espaços intersticiais das cidades, permitindo o auto-abastecimento, a redução dos consumos energéticos, o incremento da actividade económica ao gerar postos de trabalho e ter um efeito multiplicador na economia, a disponibilidade de produtos frescos e, se se tratar de agricultura biológica, de produtos sãos.”

Pinto (2007: 57) Sendo as hortas urbanas uma das tipologias englobada pela agricultura urbana, inúmeros autores destacam o seu papel, defendendo a sua importância, não só na reabilitação do espaço urbano, como também na sua integração na Estrutura Verde Principal, quer no que diz respeito ao ambiente, quer pela sua contribuição na criação de novas práticas sociais (Meireles, 2013):

“Torna-se essencial deixar que o urbano se imiscua com o rural e refazer a ruralidade na cidade. As pessoas chamadas a escolher declararam: não queremos um jardim público

exclusivamente para andar à volta dos canteiros, para estar sentados nos bancos ou jogar à bisca. Queremos jardins que nos permitam trabalhar como na horta e nos campos. Recriar a ruralidade.”

Telles (1996: 16) sobre a elaboração de um concurso em Berlim para a construção de um espaço público Numa definição mais ampla de Matos (2010), as hortas urbanas constituem espaços que contribuem de forma única para a cidade. Ainda, de acordo com o mesmo

²² De acordo com Matos (2010: 197), este conceito implica uma dicotomia entre a ecologia e identidade, constituindo uma ruralidade urbana. O autor refere compara este conceito com as Quintas de Recreio.

63 autor, representam uma memória de como o campo terá sido outrora. Agora, consistem em espaços que permitem construir a ilusão de estar no campo, confortável e acessível para a população que deseja trabalhar a terra, acessível no coração da cidade. É um sistema natural que permite e assegura a respiração do espaço urbano.

Por outro lado, para definir de forma mais rigorosa estes espaços, Pinto (2007: 56) acrescenta que

“Uma horta constitui uma parcela de terreno cercada, de pequena extensão, onde se cultivam legumes, hortaliças, plantas ornamentais e árvores frutíferas, sujeitas a uma técnica intensiva de produção. Em geral, as hortas urbanas têm a sua dimensão condicionada pela disponibilidade de terrenos, os quais são, por norma, pequenos.”

Como exemplo, aponta que uma mini-horta intensiva pode ocupar cerca de 2,25 m²; enquanto uma horta familiar apenas pode apresentar uma superfície máxima de 2000 m². Desta forma, o autor estabeleceu que para um lote convencional funcional, as dimensões devem estar entre 200 – 300 m².

Meireles (2013) refere ainda que as hortas urbanas (Figura 33) possuem uma forma irregular, de forma a adaptarem-se às condições topográficas, à construção de edifícios ou aos seus limites.

Segundo Pinto (2007) é importante que o espaço urbano seja constituído por áreas verdes e, que preferencialmente sejam extensas, contínuas e diferentes tipos, como as hortas urbanas. Estas podem assumir diferentes tipologias, como indicam Mourão et al. (2013), desde hortas de recreio ou hortas sociais, cujo uso pode ser individual, familiar ou colectivo. Pinto et al. (2011) acrescenta e define outros usos para as HU, tais como:

- Espaços verdes: uma vez que descongestiona o ambiente urbano (Mourão et al., 2013: 5), bem como melhora o ambiente natural, permitindo a infiltração da água, a renovação do ar e a reciclagem dos resíduos orgânicos;

- Espaços de alimentação: a população urbana pode através destes espaços obter os produtos que consome na sua alimentação, de forma simples, fomentando o autoconsumo de produtos frescos e sãos;

- Espaços de economia: os habitantes da cidade podem obter de forma económica alimentos e, dessa forma aumentar a respectiva renda. Mourão et al. (2013) realça que as Hortas Urbanas constituem espaços de complemento do rendimento familiar.

- Espaços de lazer e recreio: as Hortas Urbanas podem proporcionar momentos de descontracção, incentivando o convívio e facilitando a integração social.

Estes espaços desempenham um papel de destaque para o bem-estar dos cidadãos, melhoria da alimentação e ainda, para a sensibilização ambiental, conservação dos recursos

64 naturais e de ecossistemas no meio urbano. Além disso, apresentam finalidades pedagógicas, culturais e sociais, o que facilita o trabalho e rendimento dos grupos sociais menos favorecidos (Mourão et al., 2013).

As Hortas Urbanas nas proximidades provocam efeitos sobre os indivíduos, ou até mesmo em bairros inteiros, tal como se pode verificar na citação anterior. Segundo Mourão et al. (2013), o contacto da população com plantas inclui o bem-estar em idosos, facilita a cura em pessoas mentalmente desfavorecidas, melhora a capacidade mental e produtividade dos trabalhadores de escritórios e, por fim contribui para a identidade e coesão de comunidades.

Figura 32 – Horta Urbana no centro de Lisboa.

Neste sentido, estes espaços fortalecem os laços da população urbana e da sociedade em geral, pois como já foi referido permitem a valorização da saúde e do ambiente, nomeadamente no que se refere aos fundamentos naturais da agricultura e protecção da natureza. Assim, Meireles (2013) classifica a Horta Urbana como uma infraestrutura de primeira ordem e defende a sua integração nas políticas de planeamento, bem como na Estrutura Verde Urbana, assunto que será explorado mais adiante.

No artigo Towards the Classification of Urban Allotment, Rodrigues et al. (2014) classifica as Hortas Urbanas (Figura 33), de acordo com os seus objectivos, funções, bem como o tipo de utilizadores e respectivo contexto. Assim, seguem-se:

- Horta de Subsistência (Subsistence allotment - SA): este tipo de Horta Urbana visa a produção de alimentos e não a recreação urbana. O espaço disponível é dividido em parcelas, cujo objectivo é produzir os produtos alimentares de forma a auxiliar a economia familiar.

65 - Horta Ocupacional (Occupational allotment garden - OAG): Ao contrário da Horta anterior, esta destina-se à recreação urbana. Desta forma, toda a área disponível também é dividida em parcelas. No entanto, o objectivo não é a produção de alimentos mas sim a interacção social, ou actividades relacionadas com lazer e a terapia ocupacional.

- Horta de Subsistência e Recreio (Subsistence and recreational allotment – SRA): esta tipologia de Horta pretende unir os dois objectivos das hortas anteriores, ou seja, destina-se à produção de alimentos, mas ao mesmo tempo permite a realização de actividades de lazer bem como interacção social.

Figura 33 – Classificação das diferentes tipologias de Hortas Urbanas. Fonte: Rodrigues et al (2014).

As primeiras formas de agricultura urbana que surgiram em Portugal ocorreram em Lisboa (Rodrigues et al, 2014), devido aos movimentos migratórios que se verificaram entre os anos 60 e 70, tal como indica Babo (2014). Este aspecto já foi abordado no subcapítulo intitulado O Campo na Cidade, para responder à evolução dos primeiros espaços de cultivo no interior das cidades e na sua periferia.

É importante destacar a horta comunitária (Horta Ocupacional, na tipologia de Rodrigues et al), pois esta tipologia de Horta é a mais popular, bem como a mais utilizada nos países desenvolvidos, tal como referencia Fadigas (1993: 100):

“O ressurgir das hortas sociais permitiu a jardinagem como actividade de ocupação de tempos livres e de recreio de ar livre, tornando-a possível para quem não dispunha, para tal, de um espaço próprio e privado.”

Pinto (2007) menciona que estas hortas sociais proporcionam o desenvolvimento do convívio, o que, por sua vez, facilita a criação de novos conhecimentos e amizades e a prática de actividades de ocupação de tempos livres. Além disso, o autor acrescenta que estes espaços suportam a paisagem natural e define as condições que contribuem para a redução do desequilíbrio orçamental das famílias economicamente desfavorecidas, pois permite a autoprodução de espécies vegetais classificadas como de primeira necessidade alimentar e ainda a criação de pequenos animais domésticos produtores de carne e ovos. São estas características que permitem enquadrar este tipo de hortas na tipologia definida por Rodrigues et al. (2014) como Horta de Subsistência e Recreio.

66 Revela-se cada vez crucial manter estas áreas e preservá-las, pois além de permitirem o contacto com a natureza e desfrutá-la, garante a presença do espaço natural e rural na cidade, como instrumento de presença da natureza e da biodiversidade, tão importante para a espécie humana (Pinto, 2007).

No entanto, Rodrigues et al (2014) referem que na última década, a implementação de Hortas Urbanas em Portugal tem vindo a aumentar significativamente, sendo a lista de casos de sucesso cada vez mais extensa e abrange desde aglomerados mais densos, até aglomerados mais pequenos. Como exemplo disto, Babo (2014) indica os Parques Hortícolas Municipais de Lisboa, Horta Pedagógica e Social de Guimarães e as Hortas Biológicas da Área Metropolitana do Porto (Projecto Horta à Porta).

Este projecto – Horta à Porta – é um dos exemplos mais significativo. Foi criado em Julho de 2003 pela LIPOR, em parceria com outros municípios da Região Metropolitana do Porto, cujo objectivo consiste em articular “as várias entidades para a viabilização de uma estratégia para a região do Grande Porto no domínio da compostagem caseira, na criação de hortas e na promoção de práticas da agricultura biológica” (Meireles, 2013: 36).

Contudo, todos estes exemplos de casos de sucesso de implementação de Hortas Urbanas serão abordados no capítulo posterior, em particular o projecto Horta à Porta, uma vez que o objecto de estudo, bem como o objectivo desta dissertação é a criação e definição de uma rede de Hortas Urbanas na cidade do Porto.