Cleso José da Fonseca Filho
Procurador-Geral da Agência Nacional de Aviação Civil
Integrante do NDSR – Faculdade de Direito da UnB
Roteiro
O Direito Internacional e a Aviação Civil
A Organização do Setor Aéreo no Brasil
TRANSPORTE AÉREO NO BRASIL
(2004 – 2013)
Aumento de 165% no período.
Passageiros transportados em 2013: 109,2 milhões.
Cargas: crescimento médio de 4,6% a.a.
Desde 2010: o avião é o principal meio de transporte utilizado por brasileiros em
viagens interestaduais com distâncias superiores a 75 km.
*No mesmo período, o crescimento médio da economia foi de 3,5% a.a., e da população foi de 1%. ANAC: “
Em
outras palavras, o crescimento médio anual do transporte aéreo doméstico representou mais de 3,7 vezes o
crescimento do PIB brasileiro e mais de 13 vezes o crescimento da população
” (fonte: Anuário do Transporte
Aéreo 2013 – ANAC )
Passageiros transportados - 2005 – 2014
ATRASOS E CANCELAMENTOS - 2005 – 2014
Tais dados exemplificam a realidade setorial em que incide a
atividade reguladora do Estado e os desafios relacionados à
expansão do setor. São relevantes para o dimensionamento
do porte do regulador, do fomento, e das ações repressivas,
dentre outros.
Primórdios do Direito Aeronáutico
Reações tópicas às questões decorrentes
da nova tecnologia
Evolução.
Ideia-força:
Soberania.
Soberania terrestre projetada no espaço
aéreo. Restrições à exploração comercial
internacional.
PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES JURÍDICAS SOBRE A AVIAÇÃO
“Cuius est solum, eius est usque ad coelum” (aquele que é proprietário do solo, é proprietário até os céus) – adágio romano
1784 – França (Paris). Proibição de voos com balões sem aprovação prévia.
1819 – França (Siena). Primeira regulação de segurança (safety). Exigência de paraquedas em
balões e proibição de experimentos aeronáuticos no período de colheitas.
1908 – EUA (Kissimee). Primeira regulação sobre tráfego aéreo. Definição de que o espaço aéreo
sujeito ao controle legal da cidade se estenderia para cima do solo até o limite de 20 milhas, além de
outras previsões. Além da regulação, o órgão legislativo recomendou a compra de uma aeronave
para viabilizar o reforço das normas de controle do espaço aéreo.
1910 – EUA. Primeira regulação relativa ao transporte de correspondência. (no mesmo ano: Conde
Von Zeppelin cria companhia dedicada a explorar serviço de dirigível entre Friedrichshafen e
Dusseldorf)
1919 – Primeiro serviço aéreo regular entre Paris e Londres. Convenção de Paris, considerada o
primeiro ato internacional de Direito Aeronáutico. Projeção da soberania do solo no espaço aéreo.
Anexos voltados a dar uniformidade em questões técnicas (padrões de aeronavegabilidade,
licenças). Criação da CINA (ou ICAN), Comissão Internacional de Navegação Aérea.
O DIREITO INTERNACIONAL E A AVIAÇÃO CIVIL
MECANISMOS MULTILATERAIS. A CONVENÇÃO DE
CHICAGO, de 1944
Principal ato internacional sobre aviação civil.
Contexto. Além do aspecto militar, a aviação já havia evoluído e
os serviços já possuíam dimensão global.
Afirmação da completa e exclusiva soberania sobre o espaço
aéreo nacional. Influência das preocupações de caráter
estratégico-militar. Controle (fechamento) do espaço aéreo em
relação a companhias aéreas estrangeiras.
OS 19 ANEXOS DA CONVENÇÃO E AS 'STANDARDS AND
RECOMMENDED PRACTICES' (SARPS) INTERNACIONAIS
Standard - necessário à segurança ou regularidade da
aviação internacional
Ex. Para atuar como membro da tripulação é
necessária uma licença válida. (Anexo 1, Personnel
Licensing)
Ex. 2. Transporte de bens perigosos devem ser
embalados conforme as regras previstas em capítulo
específico do Anexo 18 (Dangerous Goods).
Recommended Practice – desejável para a segurança ou
regularidade da aviação internacional
Ex. Recomenda-se que o desenho de aeródromos leve
em conta, onde for apropriado, o uso do solo e as
medidas de controle ambiental. (Anexo 14, v. I –
O ESFORÇO DE PADRONIZAÇÃO
A-380
Europa (EASA)
CS 25.803 Emergency evacuation
(a) Each crew and passenger area must have emergency means to allow rapid evacuation in crash landings, with the landing gear extended as well as with the landing gear retracted, considering the possibility of the aeroplane being on fire.
(b) Reserved.
(c) For aeroplanes having a seating capacity of more than 44 passengers, it must be shown that the maximum seating capacity, including the number of crew members required by the operating rules for which certification is requested, can be evacuated from the aeroplane to the ground under simulated emergency conditions within 90 seconds. Compliance with this requirement must be shown by actual demonstration using the test criteria outlined in Appendix J of this CS–25 unless the Agency find that a combination of analysis and testing will provide data equivalent to that which would be obtained by actual demonstration.
Estados Unidos (FAA)
FAR §25.803 Emergency evacuation.
(a) Each crew and passenger area must have emergency means to allow rapid evacuation in crash landings, with the landing gear extended as well as with the landing gear retracted, considering the possibility of the airplane being on fire.
(b) [Reserved]
(c) For airplanes having a seating capacity of more than 44 passengers, it must be shown that the maximum seating capacity, including the number of crewmembers required by the operating rules for which certification is requested, can be evacuated from the airplane to the ground under simulated emergency conditions within 90 seconds. Compliance with this requirement must be shown by actual demonstration using the test criteria outlined in appendix J of this part unless the Administrator finds that a combination of analysis and testing will provide data equivalent to that which would be obtained by actual demonstration.
Brasil (ANAC) RBAC 25
§ 25.803 Emergency evacuation.
(a) Each crew and passenger area must have emergency means to allow rapid evacuation in crash landings, with the landing gear extended as well as with the landing gear retracted, considering the possibility of the airplane being on fire.
(b) [Reserved]
(c) For airplanes having a seating capacity of more than 44 passengers, it must be shown that the maximum seating capacity, including the number of crewmembers required by the operating rules for which certification is requested, can be evacuated from the airplane to the ground under simulated emergency conditions within 90 seconds. Compliance with this requirement must be shown by actual demonstration using the test criteria outlined in appendix J of this part unless the Administrator finds that a combination of analysis and testing will provide data equivalent to that which would be obtained by actual demonstration.
“No tema das relações entre Direito Internacional e Direito Interno,
normalmente são mais enfatizados aspectos formais que materiais. Não obstante,
é neste último campo que os sistemas se afetam mutuamente. As formas dessa
influência são: recepção de várias instituições funcionando no outro sistema
jurídico, a aplicação dos mesmos métodos de interpretação e argumentação
jurídica e, por último, a regulação das mesmas matérias em ambos os sistemas. E
por isso a doutrina procura mitigar as teorias.”
(George Galindo, Tratados
Internacionais de Direitos Humanos e Constituição brasileira, 72)
MECANISMOS BILATERAIS: ACORDOS DE SERVIÇOS AÉREOS
(ASA)
Liberdades do Ar (tráfego)
HISTÓRICO DA LIBERALIZAÇÃO DOS ASAS
2005 – Lei 11.182 prevê o regime de liberdade tarifária
2007 – CONAC (res. 7/2007) recomenda à ANAC que “promova, por ocasião das negociações dos
Acordos sobre Serviços Aéreos, a expansão da capacidade entre os países da América do Sul, de modo
que não haja restrição de oferta para este segmento do mercado internacional intra-regional”.
2008 – Res. ANAC 016/2008 – Altera valores máximos de desconto para as tarifas aéreas
internacionais, com origem no Brasil e destino nos países da América do Sul, até a total liberalização
das tarifas a partir de 1º de setembro de 2008.
Res. ANAC 061/2008 – Altera a política tarifária para voos internacionais regulares com origem
no Brasil e regulamenta o Art. 49 da Lei 11.182, de 2005. A partir de 1º de janeiro de 2009,
passam a ser permitidos descontos progressivos das tarifas, inicialmente 20%, passando a 50% a
partir de 1º de abril de 2009, 80% a partir de 1º de julho de 2008, e liberdade tarifária a partir de
1º de janeiro de 2010.
2010 – A partir de ASA celebrado com o Zimbábue, por decisão da Diretoria da ANAC, os acordos
passam a ser negociados buscando: quadro de rotas totalmente aberto, múltipla designação de
empresas, liberdade tarifária, além de direitos de tráfego até a 5ª. Liberdade.
HISTÓRICO
1º Período: de 22/04/1931 a 20/01/1941 (civil)
Departamento de Aeronáutica Civil (DAeC). Decreto 19.902, de 1931. Vinculado ao
Ministério da Viação e Obras Públicas.
2º Período: de 20/01/1941 a 27/09/2005 (militar)
Decreto 2.961, de 1941. DAeC passa a se vincular ao Ministério da Aeronáutica (instituído
pelo referido Decreto). Em 1969 o DAeC é substituído pelo Departamento de Aviação Civil
(DAC).
3º Período: de 27/09/2005 até os dias atuais (civil)
fase 1: ANAC e Comando da Aeronáutica;
fase 2: Secretaria de Aviação Civil ligada ao Ministério da Defesa (Decreto 6223, de 2007);
fase 3 (atual): Secretaria de Aviação Civil integrando a Presidência da República e
supervisionando a ANAC e a INFRAERO
1º Período: de 22/04/1931 a 20/01/1941 (civil)
Departamento de Aeronáutica Civil (DAeC). Decreto 19.902, de 1931.
Vinculado ao Ministério da Viação e Obras Públicas.
Definição de políticas para o setor e execução;
Regulação e fiscalização (aeródromos, concessões de linhas aéreas,
tarifas, vistoria e matrícula de aeronaves, registro de aeronautas,
aplicação de normas internacionais, etc.)
Ministérios da Guerra e da Marinha mantinham junto ao DAeC dois
oficiais aviadores “como elementos de ligação e colaboração no estudo
das questões de aeronáutica e no desempenho de funções técnicas
especializadas” (art. 14)
2º Período: de 20/01/1941 a 27/09/2005 (militar)
DAeC
Busca de tratamento uniforme e sob a mesma autoridade, da
regulação técnica e econômica
Visão no sentido de que o setor aéreo seria um elemento
estratégico relevante para a segurança nacional – Contexto da II
Guerra Mundial
2º Período: de 20/01/1941 a 27/09/2005 (militar)
Decreto 65.144, de 1969. Cria o Departamento de Aviação Civil
(DAC) e o Sistema de Aviação Civil do Ministério da Aeronáutica
DAC como órgão central do Sistema de Aviação Civil (art. 30
do DL 200/67).
Centralização
Orientação normativa
Supervisão técnica
Fiscalização
2º Período: de 20/01/1941 a 27/09/2005 (militar)
Uma das características do período é a ampla intervenção estatal
do setor aéreo
Estado assume o papel de responsável sobre aspectos de
eficiência do setor (alocação de recursos, etc.). A forma de
operação das empresas e outros aspectos econômicos do setor
poderiam ser objeto de regulação.
Regulação estrita e competição “controlada”. Tarifas, rotas,
2º Período: de 20/01/1941 a 27/09/2005 (militar)
Década de 90
Início do processo de revisão do modelo intervencionista
Decreto 99.179, de 1990. Programa Federal de Desregulamentação. Redução da
interferência do Estado e fortalecimento da iniciativa privada.
“Art. 1º Fica criado o Programa Federal de Desregulamentação, fundamentado no
princípio constitucional da liberdade individual, com a finalidade de fortalecer a
iniciativa privada, em todos os seus campos de atuação, reduzir a interferência do
Estado na vida e nas atividades do indivíduo, contribuir para a maior eficiência e
o menor custo dos serviços prestados pela Administração Pública Federal e sejam
satisfatoriamente atendidos os usuários desses serviços.”
DAC inicia o processo de desregulamentação
3º Período: de 27/09/2005 até os dias atuais (civil)
Fase 1: ANAC e Comando da Aeronáutica;
Fase 2: Secretaria de Aviação Civil ligada ao Ministério da
Defesa (Decreto 6223, de 2007);
Fase 3 (atual): Secretaria de Aviação Civil passa a integrar a
Presidência da República (chefia de Ministro de Estado).
Posição de supervisão da ANAC e da INFRAERO (Lei 10.683, de
2003, com a redação da Lei 12.462, de 2011 (Secretaria de Aviação
Civil e Conselho de Aviação Civil)
PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS COM ATRIBUIÇÕES RELATIVAS À AVIAÇÃO CIVIL
CONSELHO DE AVIAÇÃO CIVIL
Art. 11-A da Lei 10.683, de 2003, com a
redação da Lei 12.462, de 2011
COMISSÃO NACIONAL DE AUTORIDADES
AEROPORTUÁRIAS (CONAERO)
Decreto 7.554, de 2011
SECRETARIA DE AVIAÇÃO
CIVIL
Lei 10.683, de 2003, com a
redação da Lei 12.462, de 2011
ANAC
Lei 11.182, de 2005
MD/COMAER
(DECEA/CENIPA)
LC 97, de 1999
A ANAC regula o setor aéreo civil por normas que emanam de sua Diretoria
Colegiada, órgão que representa a Agência Reguladora, caracterizada pela
independência administrativa, autonomia financeira, ausência de subordinação
hierárquica e mandato fixo de seus dirigentes (art. 4º).
Autonomia orgânica
Art. 12. Os diretores serão brasileiros, de reputação ilibada, formação universitária e elevado
conceito no campo de especialidade dos cargos para os quais serão nomeados pelo Presidente da
República, após serem aprovados pelo Senado Federal, nos termos da alínea f do inciso III do art.
52 da Constituição Federal.
Art. 13.
O mandato dos diretores será de 5 (cinco) anos
.
(...)
Art. 14.
Os diretores somente perderão o mandato em virtude de renúncia, de condenação
judicial transitada em julgado, ou de pena demissória decorrente de processo administrativo
disciplinar
.