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O Regime Jurídico do Direito à Nacionalidade na Constituição da República Federativa do Brasil

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Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013

O Regime Jurídico do Direito à Nacionalidade na

Constituição da República Federativa do Brasil

Lucila Carla Squina Albertini Arruda 1 Danilo Vieira Vilela 2

Sumário: 1.Introdução; 2. Direito à nacionalidade; 3. Critérios de aquisição da nacionalidade; 3.1. Aquisição da

nacionalidade originária; 3.2. Aquisição da nacionalidade secundária ou derivada (naturalização); 4. Perda da nacionalidade; 5. Reaquisição da nacionalidade brasileira; 6. Conclusão; Referências.

Palavras-chave: Nacionalidade; Naturalização; Direitos fundamentais; Direito Constitucional.

1. INTRODUÇÃO

Da nacionalidade decorrem inúmeras consequências jurídicas, desde aspectos atinentes a exercícios de direitos civis, até circunstâncias relacionadas a direitos políticos e eleitorais. Diante disso, por opção do constituinte originário, o tema é disciplinado em sede constitucional, estando presente no capítulo III do titulo II, relacionado aos direitos e garantias fundamentais.

Assim, o presente artigo visa desenvolver um estudo aprofundado do direito à nacionalidade dentro dos parâmetros traçados pelo legislador constituinte e analisar as consequências da delimitação de quem são os brasileiros natos, naturalizados e estrangeiros sob o prisma constitucional.

Para tanto, a primeira parte do presente artigo destina-se a analisar quem é brasileiro, os direitos inerentes a esta qualidade, assim como os dos estrangeiros e portugueses residentes no país. A seguir, disserta-se sobre os critérios adotados pelo ordenamento jurídico brasileiro para a aquisição da nacionalidade, seja originária ou secundária, de acordo com o texto constitucional e as alterações que vieram a seguir e, ao final, são descritas as formas pelas quais ocorre a perda da nacionalidade, seja sob a forma de perda punição ou perda mudança, para se concluir com o instituto da reaquisição da nacionalidade.

1 Graduanda em Direito na Universidade de Sorocaba – UNISO. 2

Professor orientador. Advogado. Bacharel em Direito e Mestre em Direito Obrigacional Público e Privado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP, Especialista em Direito Processual pela Universidade do Estado de Minas Gerais, Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela UCDB e MBA em Gestão Empresarial pelo UNESC. Professor no curso de graduação em Direito da Universidade de Sorocaba - (UNISO).

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2. DIREITO À NACIONALIDADE

O direito à nacionalidade é conferido pelos Estados de forma soberana, em conformidade com a sua Constituição. É o vínculo que liga um indivíduo a certo e determinado Estado, fazendo deste indivíduo um componente do povo, da dimensão pessoal deste Estado, podendo exigir sua proteção e sujeitando-o ao cumprimento de deveres impostos3. Nesse aspecto, segundo Vilela:

[...] chega ao século XXI estampado nas principais constituições, dentre elas, na brasileira, com principalmente duas razões de ser: primeiramente como assunto de direito interno, decorrente da atuação soberana do Estado no sentido de determinar quem são seus nacionais e qual alcance de seus direitos e, em segundo momento, como um dos principais elementos de conexão do Direito Internacional Privado 4.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU-1948)5 estabelece em seu

artigo 15º que o Estado não pode arbitrariamente privar o indivíduo de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade, enfatizando, ainda que “todo homem tem direito a uma nacionalidade.”

Um pouco mais além é a disposição da Convenção Americana de Direitos Humanos de 19696 que, ao de reconhecer que, na falta de outra, toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em que tiver nascido, acaba por combater a apatridia. Assim:

Direito à nacionalidade:

1.Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.

2.Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território houver nascido, se não tiver direito a outra.

3.A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua nacionalidade nem dodireito de mudá-la 7.

3CASELLA, Paulo Borba; ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G. E. do Nascimento. Manual de Direito

Internacional Público. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p.507.

4VILELA, Danilo Vieira. A reconstrução do conceito de cidadania numa perspectiva pós-nacional

.In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 93, out 2011. Disponível em:

<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10414>Acesso em: 04 mar. 2013. 5 A Declaração Universal dos Direitos do Homem foi realizada pela Organização das Nações Unidas em Paris no dia 10 de dezembro de 1948. Disponível em: <http://direitoeticaedignidade.webnode.com.br/direitos-humanos/> Acesso em 05 mar. 2013.

6 O Decreto n° 678, de 6 de novembro de 1992 promulgou a Convenção Americana dos Direitos Humanos, realizada no dia 22 de novembro de 1969 em São José de Costa Rica. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm> Acesso em 05 mar. 2013.

7A Convenção Americana de Direitos Humanos também é conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, em vigor no Brasil como Decreto n. 678 desde 06 de novembro de 1992. Disponível em: <http://direitoeticaedignidade.webnode.com.br/direitos-humanos/> Acesso em 05 mar. 2013.

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Sociologicamente, a nacionalidade indica a pertinência da pessoa a uma nação8. Segundo Pontes de Miranda, o conceito de nacionalidade é: “o vínculo jurídico-político de direito público interno que faz da pessoa um dos elementos componentes da dimensão pessoal do Estado.” 9

Firmada a nacionalidade, o indivíduo passa a integrar o povo de determinado Estado. Este direito, nos moldes da Constituição da República Federativa de 1988, corrobora um direito público, material e formalmente constitucional, ainda quando venha instituído em diplomas infraconstitucionais, alguns até de natureza privada (Código Civil, Estatuto do Estrangeiro etc.)10.

Alguns conceitos estão relacionados ao estudo do direito à nacionalidade; dentre eles, há o elemento humano da noção de Estado, povo, e suas relações com o território, decorrentes do vínculo da nacionalidade. Povo pode ser definido como o conjunto de pessoas que fazem parte de um Estado, ou seja, seu elemento humano. Este conceito está ligado ao Estado pelo vínculo jurídico da nacionalidade 11.

Não se confunde “povo” com o termo “população”, já que esta compõe o conjunto de habitantes de um território, de um país, de uma região, de uma cidade. Assim, população é um conceito mais extenso que o anterior, pois engloba os nacionais e os estrangeiros, desde que habitantes de um mesmo território. Nesse sentido, acrescenta Alexandre de Moraes:

O termo população tem um significado econômico, que corresponde ao sentido vulgar, e que abrange o conjunto de pessoas residentes num território, quer se trate de nacionais quer de estrangeiros. Ora o elemento humano do Estado é constituído unicamente pelos que a ele estão ligados pelo vínculo jurídico que hoje chamamos de nacionalidade 12.

O conceito de população engloba os nacionais (brasileiros natos ou naturalizados, ou seja, aqueles que se vincularam pelo nascimento ou naturalização ao território pátrio), os estrangeiros (indivíduos que não são naturais do lugar onde moram ou se encontram) e os apátridas (pessoas que não tem nacionalidade alguma) 13.

Nacionais são as pessoas nascidas num mesmo território, interligadas por afinidades materiais, espirituais, econômicas, culturais, raciais, linguísticas, que mantêm os mesmos

8 SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 204. 9 MIRANDA, Francisco Cavalcante Pontes de. Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda n.1 de

1969. T. IV. p. 352. Apud. SILVA, José Afonso da. Op. cit. p. 204.

10 BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 817. 11 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 218.

12 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 218.

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costumes e tradições dos seus antepassados. Engloba os brasileiros natos e naturalizados, excluindo os apátridas e os estrangeiros.

Cidadão é o nacional em pleno gozo dos seus direitos políticos (ativos: seria o direito de votar e direito políticos passivos: o de ser votado), possibilitando-lhe participar da vida do Estado 14.

Em sentido estrito, o cidadão qualifica o nacional no gozo dos direitos políticos; e, em acepção ampliada, os participantes da vida do Estado, como titulares dos direitos fundamentais (artigos 1°, II, e 14 da Constituição de 1988)15. Vale lembrar que os estrangeiros e apátridas não são cidadãos no sentido estrito, apenas os brasileiros natos e naturalizados é que podem sê-los, há que a nacionalidade é pressuposto para a concessão da cidadania, nessa acepção restrita16.

A distinção é clara e quase pacífica na doutrina, no sentido de que a nacionalidade é o vínculo jurídico que une, liga, vincula o indivíduo ao Estado e a cidadania representa um conteúdo adicional, de caráter político, que faculta à pessoa certos direitos políticos, como o de votar e ser votado. Portanto, a cidadania pressupõe a nacionalidade, ou seja, para ser titular dos direitos políticos, há de ser nacional. E este pode perder ou ter seus direitos políticos suspensos (artigo 15 da Constituição), deixando de ser cidadão17.

É reconhecida a exceção aos portugueses que se encontram no Brasil, aos quais é permitido o exercício de alguns direitos, equiparados aos mesmos direitos dos brasileiros naturalizados 18. Vale ressaltar que esta igualdade será conferida aos portugueses residentes no Brasil, somente se houver reciprocidade em favor dos brasileiros 19.

Os benefícios que os portugueses gozam no Brasil estão estabelecidos no texto constitucional de 1988 e no Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa, celebrado em Porto Seguro, 22 de abril de 2000, e publicado em 10 de setembro de 200120.

O requerimento para aquisição de nacionalidade brasileira pelos portugueses deve ser dirigido ao Ministro da Justiça, comprovando sua nacionalidade portuguesa, capacidade civil

14 BULOS, Uadi Lâmmego. Idem p. 818.

15 SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 204. 16 BULOS, Uadi Lâmmego.Op. cit. p. 818.

17 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: Parte Geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 159.

18 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 230.

19 MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 721. 20 Decreto n. 3.927, de 19 de setembro de 2001 que promulgou o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, entre o Brasil e Portugal, publicado em 20 de setembro de 2001 no Diário Oficial da União. Disponível em: http://planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/D3927.htm> Acesso em: 19 set. 2012.

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e admissão no Brasil em caráter permanente21. Quando reconhecida, esta será nacionalidade gerará igualdade plena, atribuindo-lhes diversos direitos dentre os quais estão: a admissão no serviço público, assim como as funções de mesma natureza (excetuadas aquelas discriminadas expressamente pela Carta Magna, as quais são exclusivas ao brasileiro nato); votar e ser votado (configurando também o dever, a obrigatoriedade do voto). Os portugueses já naturalizados não podem prestar serviço militar no Brasil e estão sujeitos à expulsão e à extradição, neste último caso apenas se requerida pelo Governo português. E mesmo em relação à proteção diplomática no exterior, deverá ser requerida a Portugal e não ao Brasil 22.

O Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa, como citado, confirma em seu texto:

A igualdade de direitos e deveres será reconhecida mediante decisão do Ministro da Justiça, no Brasil e do Ministério do Interior, em Portugal, aos portugueses e brasileiros que a requeiram, desde que civilmente capazes e com residência permanente. 23

O já mencionado art. 12 da Constituição da República de 1988, ao disciplinar a nacionalidade, é complementado por duas leis ordinárias que cuidam especialmente sobre a forma de aquisição de nacionalidade secundária, perda e aquisição da nacionalidade. São elas: Lei 818, de 18 de setembro de 194924 (revogada no que tange à condição jurídica do estrangeiro, inclusive naturalização, pelo Decreto-lei 941/1969), e o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815, de 19.8.1980 25, com alterações da Lei 6.964, de 9.12.1981 26, que revogando o Decreto-lei 941/1969, define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil) 27.

No artigo 1° da mesma Constituição de 1988, dentre os fundamentos da República Federativa do Brasil, como o Estado Democrático de Direito, enunciam-se a soberania e a cidadania, sendo esta última a manifestação dos direitos políticos dos membros componentes do povo, de acordo com o parágrafo único do mesmo artigo.

21 MENDES, Gilmar Ferreira. Op. cit. p. 721. 22 MENDES, Gilmar Ferreira. Idem p. 721.

23 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: Parte Geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 186.

24 A Lei n. 818, de 18 de setembro de 1949, regula a aquisição, perda, reaquisição da nacionalidade e a perda dos direitos políticos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L818.htm> Acesso em: 19 set. 2012.

25 A Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, é também chamado de Estatuto do Estrangeiro. Disponível em: <http://.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6815.htm> Acesso em: 19 set. 2012.

26 A Lei n. 6.964, de 9 de dezembro de 1981, altera disposições da Lei n. 6.815/80, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, o Estatuto do Estrangeiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6964.htm> Acesso em: 19 set. 2012.

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E ainda, o artigo 22, XIII da Carta Magna, estabelece a competência da União para legislar sobre a nacionalidade, cidadania e naturalização. Lembrando que, dentro dos atos legislativos para os quais o texto constitucional veda a delegação, no artigo 68, § 1°, destaca-se a legislação sobre a nacionalidade e a cidadania. Além disso, cumpre destacar a vedação à edição de medidas provisórias acerca da nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral, de acordo com artigo 62, §1°, I, a, do mesmo documento constitucional.

Já aqueles que se encontram no território brasileiro, quer a título permanente, quer de forma provisória, não sendo classificados como nacionais pela norma constitucional, serão tratados como estrangeiros ou apátridas, conferindo-se a estes os mesmos direitos reconhecidos aos nacionais, excetuando-se apenas aqueles mencionados expressamente pela Constituição.

A Constituição brasileira dispõe no seu artigo 5° que: “todos são iguais perante a lei garantindo ao brasileiro e estrangeiro residente no país os direitos fundamentais da pessoa humana”. Apesar da restrição expressa [...] “aos estrangeiros residentes no Brasil” [...], é certo que os direitos fundamentais também se aplicam aos não residentes no país, sobretudo em face da universalidade dos direitos humanos, ratificados pelo Brasil, aos quais, a própria Carta Constitucional faz remissão em seu artigo 5°, §2°. Nesse sentido, fixou o Supremo Tribunal Federal:

[...] ao estrangeiro no Brasil, independentemente da sua residência, [...] que seus direitos fundamentais são garantidos em concreto dentro dos limites da soberania territorial do país. (STF, HC 94477 PR, Relator: Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, Dj de 08-02-2012) 28.

Em relação às possíveis restrições dos direitos aos estrangeiros, destaque-se que estes não exercem os denominados direitos políticos, ou seja, direitos de participar na formação do poder do Estado. Por outro lado, o estrangeiro pode ingressar em cargos públicos, observadas as formas da lei, conforme a Constituição de 1988 em seu artigo12, §3:

São privativos de brasileiro nato os cargos: I – de Presidente e vice Presidente da República; II – de Presidente da Câmara dos Deputados; III – de Presidente do Senado Federal;

IV – de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V – de carreira diplomática;

VI – de oficial das Forças Armadas;

28STF, HC 94477 PR, Relator: Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, Dj de 08-02-2012. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21273555/habeas-corpus-hc-94477-pr-stf> Acesso em 05 mai. 2013.

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VII – de Ministro de Estado de Defesa.

Ainda resta alguma restrição ao estrangeiro diante do controle de empresa jornalística e de radiodifusão sonora, de sons e imagens (reservados aos brasileiros natos e naturalizados há mais de dez anos); também há restrição na aquisição de propriedade rural (de acordo com o artigo 190 da Constituição de 1988); e restrição à ocupação e utilização da faixa de 150 quilômetros de largura ao longo das fronteiras terrestres brasileiras (dependendo de regulamentação legal, de acordo com o artigo 20, §2° do mesmo documento constitucional).

E, em relação ao acesso de estrangeiros a cargos universitários, foi previsto no texto constitucional, em seu artigo 207 que “é facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros na forma da lei”.

3. CRITÉRIOS DE AQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE

Há distinção das formas de se adquirir a nacionalidade. Em relação ao tempo, há que se falar em nacionalidade originária, adquirida no momento do nascimento, e nacionalidade derivada ou secundária, adquirida tempo depois do nascimento, de forma voluntária.

Os modos de aquisição da nacionalidade variam de Estado para Estado, mas em qualquer deles é involuntária a aquisição da nacionalidade primária, e decorre da ligação ao fato natural do nascimento como um critério estabelecido pelo Estado, enquanto é voluntária a aquisição da nacionalidade secundária 29.

Sem prejuízo de outros critérios menos comuns, a nacionalidade geralmente é atribuída por dois critérios: sanguíneo, também conhecido como ius sanguinis, atribuindo-se a nacionalidade aos descendentes de nacionais; critério de origem territorial ou também chamado de ius solis, com base no qual a nacionalidade é adquirida por aquele que nasce no território do respectivo Estado independentemente da nacionalidade de sua ascendência. Há, ainda, Estados que, como o Brasil, adotam o critério eclético ou misto, que se baseia na aplicação de ambos os critérios mancionados.

Jacob Dolinger entende que o domicílio deva servir como critério autônomo para a aquisição de nacionalidade, como se tratasse de um “usucapião aquisitivo” a favor de quem se encontra domiciliado no país por tempo determinado, critério denominado ius domicilii. Entretanto, na aquisição originária da nacionalidade brasileira, o domicílio tão somente serve

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como um dos elementos componentes da aquisição da nacionalidade, que ocorre na hipótese do filho de brasileiros que nasce no exterior e que vem a residir no Brasil (Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 12, I, “c”). Já no caso da nacionalidade secundária, o domicílio pode, efetivamente, tornar-se elemento assegurador da naturalização (artigo12, II, “b”) 30.

Por outro lado, o domicílio serve para solucionar certos conflitos de nacionalidade no plano internacional. É o ocorre no artigo 5° da Convenção sobre Nacionalidade de Haia, 1930, trazendo a situação de que em um terceiro Estado, o indivíduo já possuindo diversas nacionalidades, ainda terá o reconhecimento da nacionalidade deste país onde tenha sua residência principal e habitual.

Alguns estados, por sua vez, admitem o serviço em nome do Estado como componente facilitador para a aquisição da naturalização. Na legislação vigente no Brasil, o fato de prestar ou ter prestado serviços relevantes ao país, reduz de quatro para um ano o prazo de residência no Estado brasileiro como requisito para a naturalização (Lei n° 6.815/80 31, artigo 113, III, parágrafo único) e ao estrangeiro que tenha trabalhado dez anos ininterruptos em representação diplomática ou consular brasileira no exterior, torna-se dispensável o requisito de residência no país para a obtenção da naturalização (Lei n° 6.815/80, artigo 114, II).

Conforme observado, o fato “nascimento” é que, em verdade, determina a nacionalidade primária, relacionado, porém, a um daqueles critérios. A adoção de um ou de outro destes é assunto de cada Estado, mas, tradicionalmente, os países de emigração, como a maioria dos europeus, preferem a regra do ius sanguinis, pois, no caso da diminuição de sua população pela saída para outros países não importará em redução dos integrantes da nacionalidade, como o caso da Itália. Já os Estados de imigração, como a maioria dos americanos, acolhem a teoria do ius solis, pela qual os descendentes da massa dos imigrantes passam a integrar sua nacionalidade, o que não ocorreria se perfilhassem o critério do sangue32.

Ao analisar o tema, o próprio Supremo Tribunal Federal já reconheceu que a delimitação do regime jurídico da nacionalidade significa autêntica projeção da soberania do Estado brasileiro:

30 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: Parte Geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 162-163.

31 A Lei n° 6.815, de 19 de agosto de 1980, define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, o Estatuto do Estrangeiro e cria também o Conselho Nacional de Imigração. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6815.htm. Acesso em: 19 set. 2012.

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As hipóteses de outorga da nacionalidade brasileira, quer se trate de nacionalidade primária ou originária (da qual emana a condição de brasileiro nato), quer se cuide de nacionalidade secundária ou derivada(da qual resulta o status de brasileiro naturalizado), decorrem, exclusivamente, em função de sua natureza mesma, do Texto Constitucional, pois a questão da nacionalidade traduz matéria que se sujeita, unicamente, quanto à sua definição, ao poder soberano do Estado brasileiro. (STF, HC 83.113-QO, Rel. Min. Celso de Mello, Dj de 29-8-2003). 33

De acordo com texto constitucional, não há definição do território nacional quanto aos espaços hídricos, aéreos ou terrestres não submetidos à soberania do Estado. Na concepção de Pontes de Miranda: “são considerados brasileiros natos os nascidos a bordo de navio ou aeronave de bandeira brasileira quando estiverem em espaço neutro”. E ainda “[...] se o nascimento ocorre em espaço submetido à soberania de outro Estado, não há que se falar em nacionalidade brasileira, ainda que se cuide de navio ou aeronave do governo brasileiro.” 34

Em decorrência de conflito positivo entre os princípios do ius solis e do ius sanguinis, a criança pode nascer com dupla nacionalidade sendo, portanto, polipátrida. Ao contrário, no caso de conflito negativo, a criança não adquire a nacionalidade, quer através do critério ius solis, quer do ius sanguinis, será um apátrida 35.

Assim, apátrida, ou heimatlos (termo que significa “sem pátria”), é uma condição na qual se atribui àquele, que, dada a circunstância do nascimento, não se vincula a nenhum critério que lhe determinaria uma nacionalidade 36. Esta situação é imposta por circunstâncias alheias à sua vontade, criando enormes dificuldades, gerando restrições jurídicas enormes em qualquer Estado em que resida.

De acordo com a Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, o termo apátrida “[...] designará toda pessoa que não seja considerada seu nacional por nenhum Estado, conforme sua legislação.” 37

A nacionalidade é, portanto, um direito fundamental e esta situação dos apátridas se torna inadmissível nos dias de hoje, na qual a pessoa é privada involuntariamente deste direito. O Brasil, segundo disposições constitucionais e tratados internacionais, vem agindo de forma significativa de forma a solucionar os conflitos de nacionalidade negativa, merecendo destaque a EC 54/2007 que cuidou de filhos de brasileiros nascidos no exterior.

33 BULOS, Uadi Lâmmego. Curso de Direito Constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva 2011. p. 819.

34MIRANDA, Francisco Cavalcante Pontes de. Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda n.1 de

1969. T. IV. p. 352. Apud. MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo:

Saraiva, 2008. p. 716.

35 CASELLA, Paulo Borba; ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G. E. do Nascimento. Manual de Direito

Internacional Público. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 509.

36 BULOS, Uadi Lâmmego.Op. cit. p. 826.

37 O Decreto n° 4.246 de 22 de maio de 2002, publicado no Diário Oficial da União de 23 de maio de 2002, promulga a Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas realizada em 26 de abril de 1954. Disponível em: <http://planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4246.htm> Acesso em: 19 set. 2012.

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Polipátrida é aquele que tem mais de uma nacionalidade, como descrito anteriormente. Pode ocorrer quando o nascimento vincula dois critérios de determinação da nacionalidade primária. Assim se dá, por exemplo, com filhos oriundos de Estado que adota o critério do ius sanguinis e quando nascem em Estado que acolhe o do ius solis. É o caso de filhos de italianos nascidos no Brasil. Como este país perfilha o critério do ius solis, os filhos de italianos aqui nascidos, se seus pais não estiverem a serviço de seu país, adquirem, necessária e involuntariamente, a nacionalidade brasileira; como a Itália adota o critério do ius sanguinis, os filhos de italianos, mesmo nascidos fora do seu território, como é o caso do exemplo supramencionado, são também, para o ordenamento jurídico da Itália, necessária e involuntariamente, italianos. Assim, os filhos de italianos nascidos no Brasil têm dupla nacionalidade, sendo, portanto, polipátridas. Esta condição ficou explicitada no artigo 12, §4°, II, “a”, adicionado pela Emenda Constitucional de Revisão n° 3/1994 38 ao texto constitucional de 1988, segundo o qual o brasileiro não perde a nacionalidade brasileira no caso de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira 39.

Há previsão de outra situação de dupla nacionalidade, presente na alínea b do mesmo artigo citado anteriormente (artigo 12, §4°, “b”, da CR/88) por força ainda da mesma Emenda Constitucional 3/1994, que é quando a norma estrangeira impõe a naturalização ao brasileiro residente em Estado estrangeiro para então ter permissão de permanecer nesse país, ou então, como condição para o exercício de direitos civis em seu território. Como exemplo desta situação descrita, pode ser citado o brasileiro jogador de futebol Marcos Antônio Senna da Silva (Marcos Senna) que adquiriu a nacionalidade espanhola para jogar pela seleção da Espanha 40.

3.1. AQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE ORIGINÁRIA

38 A Emenda Constitucional de Revisão n°3, de 07 de junho de 1994, altera a alínea “c" do inciso I, a alínea “b” do inciso II, o §1° e o inciso II do §4° da artigo 12 da Constituição Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/ECR/ecr3.htm#art12iib> Acesso em: 03 mai. 2013.

39 SILVA, José Afonso da.Comentário Contextual à Constituição. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 205. 40 SILVA, Daniel Vidinha da; RIGO, Luiz Carlos; FREITAS, Gustavo da Silva. Considerações sobre a

migração, a naturalização e a dupla cidadania de jogadores de futebol. Rev. Educ. Fis. / UEM, v.23, n. 3, p.

457-468, 3 trim. 2012. Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=direitos+dos+estrangeiros&s=jurisprudencia&casas=STF > Acesso em: 11 abr. 2013.

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O texto constitucional de 1988 estabelece em seu artigo 12, §2° que “A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição”.

Entretanto, a condição de brasileiro nato traz algumas vantagens em relação ao naturalizado, as quais, por sua vez, estas jamais poderão representar ofensa ao princípio da igualdade contido expressamente no artigo 5° da Constituição do Brasil:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, [...].

As limitações aplicadas aos brasileiros naturalizados somente são encontradas de forma explícita no texto constitucional. Assim, a Constituição da República de 1988 enumera em seu artigo 12, §3°, os cargos exclusivos aos brasileiros natos (como explicado anteriormente); o artigo 89, VII traz como função privativa de brasileiro nato o de membro do Conselho da República; poderá o brasileiro naturalizado perder a nacionalidade em virtude da prática de atividade nociva ao interesse nacional (segundo artigo 12, §4°, I, da Constituição brasileira; e também, como mostra o artigo 5°, LI, no qual descreve que “nenhum brasileiro será extraditado”, entretanto, pode ser o caso do brasileiro naturalizado em caso de prática de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins; e por fim, a situação descrita no artigo 222, na qual o brasileiro naturalizado há menos de 10 anos, não pode ser proprietário de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens) 41. Vale lembrar que a lei ordinária não poderá criar outras distinções, além destas enumeradas pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 42.

Apesar de a Constituição do Brasil não ter adotado o critério puro, mas sim um critério misto, que mescla a regra do ius sanguinis com a do ius solis, há previsão exaustiva e taxativa na Carta Constitucional das hipóteses de aquisição da nacionalidade originária, ou seja, quem pode ser brasileiro nato de pleno direito, e, somente será aquele que corresponder aos requisitos exigidos pela mesma, no seu artigo 12, inciso I, a, b e c: “São brasileiros: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país”. Nesta alínea, verifica-se a aplicação do critério ius solis,

41SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 211-212.

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enfatizando o aspecto territorial. Assim, somente o artigo 12, do texto constitucional estabelece os critérios e pressupostos para que alguém seja considerado brasileiro nato. Compreende-se a aplicação não somente a regra do ius solis como fonte da nacionalidade primária, mas também a regra do ius sanguinis combinado com outros elementos 43.

Tratando-se do território nacional, entende-se que este deve estar compreendido entre as terras delimitadas pelas fronteiras geográficas, com rios, lagos, baías, golfos, ilhas, bem como o espaço aéreo e o mar territorial, formando o território propriamente dito; os navios e as aeronaves militares brasileiros, onde quer que se encontrem; os navios mercantes brasileiros em alto mar ou de passagem em alto mar ou de passagem em mar territorial estrangeiro; as aeronaves civis brasileiras em voo sobre o alto mar ou de passagem sobre águas territoriais ou em espaços aéreos estrangeiros 44. Nesse sentido, abrange toda a massa territorial brasileira, aqui contempladas as unidades federadas e as diversas entidades municipais. No entanto, o texto constitucional não cuidou das questões atinentes à nacionalidade nos espaços hídricos, aéreos ou terrestres não submetidos à soberania de um Estado (o alto mar, o espaço aéreo, o continente antártico) 45. Analisando esta hipótese, seria flagrante na lei o vício de inconstitucionalidade quando ali fosse detectado o intento de criar, à margem da Lei Maior, um novo caso de nacionalidade originária 46.

A referência aos pais no plural não significa necessariamente que ambos os pais devam estar a serviço de seu país, para que o filho aqui nascido não seja brasileiro, bastando que um deles - pai ou mãe - esteja a serviço de seu país. Exclui-se a operação do ius solis quando um dos pais é estrangeiro e esteja a serviço de seu país, mesmo que o outro genitor seja brasileiro47. A Constituição traz uma única exceção à aplicabilidade do critério ius solis quando exclui da aquisição da nacionalidade brasileira os filhos de estrangeiros, que estejam a serviço do seu país 48. O termo usado no texto constitucional “não estar a serviço do país”

significa que os pais não podem estar exercendo atividade ligada aos seus respectivos Estados originários. E se for esse o caso, os seus filhos não terão como adquirir a nacionalidade brasileira, isso ocorre porque os laços de sangue (critério ius sanguinis) prevalecerão sobre o local do nascimento, critério ius solis.

43 SILVA, José Afonso da.Comentário Contextual à Constituição. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 208. 44 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 45. 45 MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 716. 46 SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 208. 47 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: Parte Geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 168.

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Ao se analisar o artigo 12, I, b, da Constituição: “os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil”, é possível, observar a aplicação da regra do ius sanguinis combinado ao elemento funcional, pois a nacionalidade brasileira é concedida não em decorrência do nascimento no território, mas de acordo com a nacionalidade do pai ou da mãe, ou ainda, de ambos; e também, o fato de estar qualquer um deles a serviço do Brasil 49.

Já o filho do brasileiro ou brasileira, a serviço do Brasil no exterior, que lá nasce, é considerado brasileiro nato. Nesse sentido, acrescenta Pontes de Miranda:

Tanto faz que o pai ou a mãe seja nato ou naturalizado; é preciso, no entanto, que tenha a nacionalidade brasileira no momento de nascimento do filho, para que este seja tido como brasileiro nato. Se for filho póstumo apura-se a nacionalidade brasileira do pai ou da mãe ao tempo da concepção 50.

O termo “estar a serviço da República Federativa do Brasil” abrange toda e qualquer missão do governo federal, dos governos estaduais e municipais, assim como as empresas de economia mista, controladas pelo acionista governamental[...]” 51. Nesse sentido, acrescenta Bulos:

Estar a serviço do Brasil é o mesmo que exercer atividade relacionada à Administração direta ou indireta, ao Poder Público federal, estadual ou municipal, insere-se aí a atividade diplomática, consular, os serviços prestados por órgãos da Administração centralizada, por órgãos da Administração descentralizada da União, dos Estados, dos Municípios, do Distrito Federal e dos Territórios, autarquias, sociedades de economia mista e empresas públicas 52.

Vale ressaltar que o que importa é que a criança seja nascida de pai ou mãe brasileira. Esta situação envolve o disposto no artigo 227, §6°, da Constituição de 1988, segundo o qual “os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.

Diante disso, quanto aos nascidos fora do casamento, e amparados pela origem sanguínea do pai ou da mãe, restará apenas o reconhecimento da sua legitimidade. E a partir de então, conferir-lhe-á a nacionalidade com eficácia ex-tunc, ou seja, desde o nascimento, e não a partir do dia do reconhecimento da sua origem53. Diante dessa matéria, verifica-se a existência da Lei n° 5.145, de 29 de outubro de 1966 54, na qual se exige que o filho prove

49 SILVA, José Afonso da. Op. cit. p. 208.

50 MIRANDA, Francisco Cavalcante Pontes de. Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda n. 1 de

1969. T. IV. p. 352. Apud. SILVA, José Afonso da.Comentário Contextual à Constituição. 7. ed. São Paulo:

Malheiros, 2010. p. 209.

51 DOLINGER, Jacob. Idem p. 169.

52 BULOS, Uadi Lâmmego. Curso de Direito Constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva 2011. p. 821. 53 SILVA, José Afonso da. Idem p. 209.

54 A Lei n. 5.145, de 20 de outubro de 1966, dispõe sobre a naturalização dos filhos menores, nascidos antes da naturalização dos pais, modifica os artigos 3°, 4° e 8° da Lei n. 818/49, revoga a Lei n. 4.404 de 14 de setembro

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que, à época de seu nascimento, pelo menos um dos genitores já era brasileiro, como é mencionado no seu artigo 4°, §1°, do respectivo texto legal (equivale tanto se for brasileiro nato ou naturalizado) 55. Assim, entende o Supremo Tribunal Federal:

A opção pela nacionalidade brasileira só é facultada ao filho de brasileiro, não se estendendo ao filho de estrangeiro. Para tal efeito, não é possível invocar a naturalização concedida ulteriormente ao pai ou à mãe porque ela não retroage. (Recurso Extraordinário n°46.305, Revista Forense 204/131)

Conclui-se, portanto, que a opção pela nacionalidade brasileira é reservada ao filho de pais que já haviam se naturalizado à época de seu nascimento56.

Observa-se, ainda no artigo 12, I, c, do mesmo documento constitucional, a nacionalidade potestativa, a adoção do critério ius sanguinis, acrescido do critério residencial e também da opção confirmativa: “os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente, ou venham a residir na República Federativa do Brasil e, optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira”.

Assim, é considerado brasileiro nato aquele nascido no exterior de mãe ou pai brasileiro, e que registrem em repartição brasileira competente (consulado brasileiro), independentemente de vir ao Brasil e/ou exercer a opção. Seria a aplicação de ius sanguinis puro e simples 57.

O termo nacionalidade potestativa significa que, a qualquer tempo, por vontade livre e espontânea, o interessado confirma seu desejo de conservar a nacionalidade brasileira originária, primária, com declaração unilateral de vontade. A aquisição desta nacionalidade dá-se com a fixação de residência, sendo esta opção uma condição confirmativa e não formativa de nacionalidade, que deverá ocorrer perante a Justiça Federal, a partir da maioridade. Não existe prazo para a opção ser exercida e, seus efeitos ficam suspensos até que haja a referida confirmação. Em sede desta nacionalidade potestativa, os efeitos do ato confirmatório da opção passam a ser plenos, atingindo até mesmo situações pregressas (eficácia retroativa em benefício do titular) 58.

de 1964, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/1950-1969/L5145.htm> Acesso em: 06 mai. 2013.

55DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: Parte Geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 180.

56 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: Parte Geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 180-181.

57 MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p. 719. 58 MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 717.

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Após a promulgação da Constituição Federativa da República do Brasil em 1988, houve a Emenda Constitucional de Revisão n° 3, de 7 de junho de 1994. E esta veio para facilitar a aquisição de nacionalidade originária mediante opção, deixando de exigir-se prazo para a fixação de residência no Brasil, que não mais dependendo da vinda ao país, nem do exercício da opção em prazo determinado. Mas foi com a Emenda Constitucional n° 54 de 20 de setembro de 2007 59, cuja redação consta no texto constitucional atual, é que se define o termo inicial para a realização da opção: quando atingida a maioridade.

De acordo com a posição modernamente consagrada de que não pode haver distinção entre brasileiros natos e naturalizados, ressalvada a que for expressamente prevista em texto constitucional, a situação de crianças nascidas no exterior, filhas de brasileiro (a), abrangem tanto os pais brasileiros natos como os naturalizados60. Então, aquele nascido no exterior de mãe ou pai brasileiro, e seja registrado em repartição diplomática ou consular brasileira competente, ou, ainda, em ofício de registro, localizado em território pátrio, já poderá ser considerado brasileiro nato, sem que precise fixar residência no Brasil, nem necessite de chancela judicial. Esta é a possibilidade de concessão da nacionalidade brasileira originária, ou seja, um brasileiro nato, que nunca tenha vindo conhecer o seu país ou nem falar a língua portuguesa. Ocorre desta maneira, pelo fato de a concessão da nacionalidade brasileira não estar na dependência de residência no território pátrio. É o caso, por exemplo, de um brasileiro casado com uma francesa: moram na França e têm um filho registrado no consulado brasileiro nesse mesmo país. Este filho será brasileiro nato e francês (pelo critério ius sanguinis de origem materna) 61.

Para o Supremo Tribunal Federal, a opção pela nacionalidade só pode ser exercida pelo titular do direito quando atingir a maioridade, não sendo possível que o menor de 18 anos possa ser representado ou assistido pelos pais para exercer a opção, pois se trata de um ato personalíssimo. E este ato deverá ser realizado perante a Justiça Federal, segundo o artigo 109, X, do texto constitucional, como se cita:

Compete aos juízes federais processar e julgar, dentre outros, os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização.

59 A Emenda Constitucional n. 54, de 20 de setembro de 2007, dá nova redação à alínea c do inciso I do art. 12 da Constituição Federal e acrescenta art. 95 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, assegurando o registro nos consulados de brasileiros nascidos no estrangeiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc54.htm> Acesso em: 06 mai. 2013. 60 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: Parte Geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 181.

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Portanto, o filho de pai brasileiro e/ou mãe brasileira nascido no estrangeiro adquire a nacionalidade originária no momento da fixação de sua residência no Brasil, devendo confirmar sua vontade de conservar a nacionalidade brasileira a partir da aquisição da maioridade civil, de maneira personalíssima. Durante o período de fixação da residência até atingir a maioridade civil, por não poder validamente realizar a opção, todos os direitos inerentes à nacionalidade poderão ser exercidos, pois a “aludida condição suspensiva só vigora a partir da maioridade, haja vista que, antes, o menor, por intermédio do registro provisório (Lei n° 6.015/73, art. 3°, §2°), desde que residente no país, é considerado brasileiro nato para todos os efeitos”. (STF – 1° T. – Rextr. n° 415.957/RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 23-8-2005 – Informativo STF n° 398, p.2) 62. E ainda, manifestada a opção, não se pode recusar o reconhecimento da nacionalidade. Por isso, no Brasil, antes de nacionalidade por opção, há a nacionalidade potestativa, pois o efeito pretendido depende exclusivamente da vontade do interessado 63.

Nos casos de adoção de criança estrangeira por brasileiros, não haverá repercussão na sua nacionalidade, ou seja, o filho adotivo de brasileiros, nascido no estrangeiro, não pode optar pela nacionalidade brasileira. É estrangeiro e, como tal, só poderá adquirir a nacionalidade brasileira por via de naturalização 64.

O legislador ordinário brasileiro não poderá criar novas hipóteses para obtenção da nacionalidade originária, além das consagradas pelo artigo 12, I, a, b, c, da Constituição, como é o caso da Lei dos Registros Públicos, Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973 65, artigos 29 e 32, não recepcionados pelo texto constitucional.

3.2. AQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE SECUNDÁRIA OU DERIVADA

(NATURALIZAÇÃO)

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 194866, em seu artigo 15, reconhece o direito de mudar de nacionalidade, em virtude da naturalização como citado a seguir:

62 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 224.

63 SILVA, José Afonso da.Comentário Contextual à Constituição. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 210 64 MIRANDA, Francisco Cavalcante Pontes de. Comentários à Constituição de 1967, com a Emenda n.1 de 1969. T. IV. p. 352. Apud. DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: Parte Geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 181.

65 A Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973, dispõe sobre os registros públicos e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6015.htm> Acesso em: 06 mai. 2013.

66 A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi realizada em 10 de dezembro de 1948 em Paris, na França. Disponível em: <http://direitoeticaedignidade.webnode.com.br/direitos-humanos/> Acesso em: 19 set. 2012.

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Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013 Artigo 15:

1.Todo homem tem direito a uma nacionalidade

2.Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.67

A única forma da aquisição de nacionalidade secundária, posterior ao nascimento, pode ser requerida, mediante a satisfação de requisitos constitucionais e legais, tanto pelo apátrida como pelo estrangeiro 68. Sua ocorrência não se dá pelo fato natural do nascimento, mas sim por um ato voluntário: a naturalização, também chamada de nacionalidade derivada, adquirida ou voluntária.

Trata-se de um processo do qual se adquire uma nova nacionalidade a pedido voluntário da pessoa interessada, resultando na condição de brasileiro naturalizado. Sua concessão, em regra, não é direito público subjetivo, e sim um ato unilateral e discricionário exclusivo do Chefe do Poder Executivo, como extensão do exercício da soberania nacional. Lembrando que, mesmo que haja satisfação das exigências legais69 e constitucionais, é preciso ainda, a deliberação do Executivo sobre a mesma, aprovando ou não o pedido 70.

O Estado não está obrigado a conceder a nacionalidade, conforme expresso na Lei n° 6.815 71, de 19 de agosto de 1980, alterada em alguns dispositivos pela Lei n° 6.964, de 9 de dezembro de 198172, em seu artigo 121: “A satisfação das condições previstas nesta lei não assegura ao estrangeiro o direito à naturalização”73. Diante dessa discricionariedade do Poder Executivo, fundamenta o Supremo Tribunal Federal: “Não há inconstitucionalidade no preceito que atribui exclusivamente ao Poder Executivo a faculdade de conceder a naturalização” (STF, RDA, 20: 13) 74.

A aquisição de nacionalidade secundária pode ser tácita (ou grande naturalização) ou expressa (ordinária e extraordinária). A forma tácita advém da Constituição de 1891, a qual continha em seu artigo 69, §4° o seguinte texto: “São cidadãos brasileiros: os estrangeiros

67 CASELLA, Paulo Borba; ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G. E. Do Nascimento. Manual de Direito

Internacional Público. 18. Ed. São Paulo: Saraiva 2010. p. 509.

68 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 227. 69

A lei para aquisição da naturalização corresponde ao Estatuto do Estrangeiro, Lei n° 6.815/1980 (alterada pela Lei 6.964/1981, regulamentadas pelo Decreto 86.715/1981, em vigor quanto ao tema. Este último está disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D86715.htm> Acesso em: 19 set. 2012.

70 BULOS, Uadi Lâmmego. Curso de Direito Constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva 2011. p. 825.

71 A Lei n° 6.815, de 19 de agosto de 1980, define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, o Estatuto do Estrangeiro. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6815.htm. Acesso em: 19 set. 2012. 72 A Lei n. 6.964, de 9 de dezembro de 1981, altera disposições da Lei n. 6.815/80, o Estatuto do Estrangeiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6964.htm> Acesso em 19 set. 2012.

73 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: Parte Geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 182.

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que, achando-se no Brasil aos 15 de novembro de 1889, não declararem, dentro de seis meses depois de entrar em vigor a Constituição, o ânimo de conservar a nacionalidade de origem”.

Houve a previsão, nesta Carta de 1891, de um preceito que concedia a naturalização, de forma tácita e automática aos estrangeiros e também aos seus filhos, que no país se encontravam, chamado de “grande naturalização”. E para isso, bastava tão somente não declarar a nacionalidade de origem. Este tipo de naturalização perdurou até a Constituição de 1967. Essa modalidade não mais vigora no atual texto constitucional 75.

A Constituição da República Federativa do Brasil prevê em seu artigo 12, II o processo de naturalização, como citado abaixo:

São brasileiros: I -- [...]

II – naturalizados:

a) os que, na forma da lei, adquiriram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

A naturalização prevista no ordenamento jurídico brasileiro é a expressa, e esta se subdivide em duas formas: ordinária ou comum e extraordinária. A alínea a, supra descrita disserta a forma de naturalização expressa ordinária ou comum. Esta, por sua vez, origina um processo que deve respeitar os requisitos constitucionais e legais, como citado anteriormente, e apresenta características administrativas peculiares próprias, uma vez que todo o procedimento até a decisão final do Presidente da República ocorre perante o Ministério da Justiça. E, mais importante ainda, é a entrega do certificado de naturalização ao estrangeiro que pretende naturalizar-se brasileiro, pois constitui o momento de efetiva aquisição da nacionalidade brasileira 76. Nesse sentido, Ministro Rafael Mayer esclarece que o certificado de naturalização ordinária deve ser “entregue pelo magistrado competente. Enquanto não ocorrer tal entrega, o estrangeiro ainda não é brasileiro, podendo, inclusive, ser excluído do território nacional” (STF, pleno, HC 62.795-1/SP, Relator Min. Rafael Mayer, DJU de 22-3-1985, p.3623) 77.

Além dos requisitos previstos constitucionalmente aos estrangeiros originários de países de língua portuguesa (residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral),

75 BULOS, Uadi Lâmmego. Idem p. 827.

76 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 228.

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se necessário o requisito de capacidade civil, já que decorre de um requerimento proveniente de um ato de vontade 78.

Uadi Lâmmego Bulos acrescenta que “para a naturalização ordinária ser concedida ao estrangeiro exige-se um requisito implícito e três expressos.” O requisito implícito (subentendido no art. 12, II, a) seria a aceitação do Chefe do Poder Executivo, e os demais requisitos expressos seriam os demarcados no art. 12, II, a, da Constituição. Deve-se preencher as condições do Estatuto do Estrangeiro - Lei n°6.815 79, de 19 de agosto de 1980, modificado pela Lei n° 6.96480, de 9 de dezembro de 1981) 81.

As condições impostas pelo estatuto supracitado são: capacidade civil; ser registrado como permanente no Brasil; residência contínua no território nacional, pelo prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização; ler e escrever a língua portuguesa; exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família; bom procedimento; inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a um ano; boa saúde (se for estrangeiro que residir no país há menos de dois anos – art. 112, §1°, incluído pela Lei n° 6.964 82, de 9-12-1981); ser estrangeiro originário de Portugal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Açores, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Macau e Timor Leste; e, por último, residir no Brasil por um ano ininterrupto, ter bom procedimento comprovado e conduta ilibada 83.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 diferenciou tratamento aos portugueses aqui residentes, como se observa no artigo 12, §1°: “Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição”.

A equiparação da situação jurídica descrita na Constituição do português ao brasileiro quer dizer ao brasileiro naturalizado, pois foi com a Emenda Constitucional de Revisão n° 3

78 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. São Paulo: Atlas, 2002. p. 520.

79

A Lei n° 6.815, de 19 de agosto de 1980, define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, o Estatuto do Estrangeiro. Cria também o Conselho Nacional de Imigração. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6815.htm. Acesso em: 19 set. 2012.

80 A Lei n. 6.964, de 9 de dezembro de 1981, altera disposições da Lei n. 6.815/80, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, o Estatuto do Estrangeiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6964.htm> Acesso em: 19 set. 2012.

81 BULOS, Uadi Lâmmego.Op. cit. p. 827.

82 A Lei n. 6.964, de 9 de dezembro de 1981, altera disposições da Lei n. 6.815/80, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, o Estatuto do Estrangeiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6964.htm> Acesso em: 19 set. 2012.

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84, de 7 de junho de 1994, que provocou a supressão do adjetivo “nato”. A esta emenda

interpreta-se a equiparação de direitos à condição de brasileiro naturalizado, ficando este último termo implícito no texto constitucional 85.

Refere-se à equiparação de direitos dos portugueses aos direitos dos brasileiros naturalizados. Este instituto é denominado “quase nacionalidade”, também chamado cláusula de admissão de reciprocidade, ou simplesmente, elo de reciprocidade, como descreve o Superior Tribunal Federal acerca do assunto:

A norma inscrita no artigo 12, §1°, da Constituição da República – que contempla, em seu texto, hipótese excepcional de quase nacionalidade – não opera de modo imediato, seja quanto ao seu conteúdo eficacial, seja no que se refere a todas as consequências jurídicas que dela derivam, pois, para incidir, além de supor o pronunciamento aquiescente do Estado brasileiro, fundado em sua própria soberania, depende, ainda, de requerimento do súdito português interessado, a quem se impõe, para tal efeito, a obrigação de preencher os requisitos estipulados pela Convenção sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre brasileiros e portugueses. (STF, Extr. 890, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 28-10-2004) 86.

A mencionada “quase nacionalidade” nada se parece com dupla nacionalidade, já que somente foi estabelecida uma equiparação de benefícios e vantagens, pois, quem é de Portugal e está no Brasil continua português. E, quem é do Brasil e está em Portugal continua brasileiro87.

O português que desejar exercer direitos políticos no Brasil deve requerer à Justiça Eleitoral, além de ter a residência fixa no território nacional durante, no mínimo, três anos 88. Nos termos do Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta 89, os direitos políticos não podem ser usufruídos no Estado de origem e no Estado de residência ao mesmo tempo. Nesse sentido, assegura-se esse direito no Estado de residência e suspende-se no Estado de origem90.

Vale ressaltar que, o benefício de reciprocidade conferido ao português aqui naturalizado será extinto se houver expulsão ou perda da nacionalidade portuguesa. E ainda, caso se verifique a perda dos direitos políticos, em Portugal, ao português aqui residente e

84 A Emenda Constitucional de Revisão n°3, de 07 de junho de 1994, altera a alínea “c" do inciso I, a alínea “b” do inciso II, o §1° e o inciso II do §4° do artigo 12 da Constituição Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/ECR/ecr3.htm#art12iib> Acesso em: 03 mai. 2013.

85 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 230.

86 BULOS, Uadi Lâmmego. Curso de Direito Constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva 2011. p. 828. 87 BULOS, Uadi Lâmmego. Idem p. 828.

88 BULOS, Uadi Lâmmego.Ibidem p. 828.

89 Decreto n. 3.927, de 19 de setembro de 2001 que promulgou o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, entre o Brasil e Portugal, publicado em 20 de setembro de 2001 no Diário Oficial da União. Disponível em: http://planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/D3927.htm> Acesso em: 19 set. 2012.

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titular de igualdade plena conferida pelo mesmo benefício, provocará a perda desses mesmos direitos no Brasil, passando a deter apenas a igualdade civil 91.

Uma vez adquirida a nacionalidade secundária ordinária, configura-se, em regra, impossibilidade jurídica da extradição, já que o brasileiro naturalizado integrou o componente humano do República Federativa do Brasil, e sendo, desse modo, o entendimento do Supremo Tribunal Federal nesse assunto (STF, HC 83.113-QO, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 29-8-2003) 92.

A naturalização extraordinária ou quinzenária, como também é conhecida, está identificada constitucionalmente, no artigo 12, II, “b”, da Constituição. E a Emenda Constitucional de Revisão n° 3/94 93 alterou o prazo exigido de residência fixa no Brasil, que anteriormente, era trinta anos ininterruptos. Além deste requisito, é preciso fazer um requerimento manifestando a declaração de vontade do interessado, e ausência de condenação criminal. Tais requisitos não podem ser ampliados ou reduzidos pelo legislador ordinário 94.

Diante desta hipótese descrita, considera-se que o legislador constituinte não quis impor ao estrangeiro uma naturalização tácita, respeitando a sua nacionalidade originária, e sim, apenas facilitar sua condição no caso de requerimento da nacionalidade brasileira, bastando simples manifestação de vontade. Trata-se de uma prerrogativa à qual o requerente possui direito subjetivo, se houver sanado todos os requisitos exigidos na forma da Carta Constitucional 95.

O Supremo Tribunal Federal disserta ainda mais nesse sentido, reconhecendo que:

O requerimento de aquisição da nacionalidade brasileira, fundado no art. 12, II, b, da CR, possui caráter meramente declaratório, cujos efeitos retroagem à data da solicitação. Dessa forma concluiu [...] anulara ato que invalidara a posse de chilena no cargo público de enfermeira. Considerou-se que, a despeito de a portaria de formal reconhecimento da naturalização ter sido publicada em data posterior à investidura da recorrida no aludido cargo, o requerimento da interessada antecedera à posse, restando atendidos todos os requisitos necessários à naturalização. (STF, RE 264.848, Rel. Min. Carlos Britto, DJ de 14-10-2005) 96.

Conclui-se, portanto, que a naturalização ordinária figura um regime jurídico completamente distinto daquele aplicado à naturalização extraordinária. Nesta vigora um direito subjetivo público e, sendo satisfeitos os requisitos exigidos pelo texto constitucional, as autoridades competentes não poderão negar seu requerimento. Deve o requerente

91 MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 721. 92 BULOS, Uadi Lâmmego. Op. cit. p. 828.

93 A Emenda Constitucional de Revisão n°3, de 07 de junho de 1994, altera a alínea “c" do inciso I, a alínea “b” do inciso II, o §1° e o inciso II do §4° do artigo 12 da Constituição Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/ECR/ecr3.htm#art12iib> Acesso em: 03 mai. 2013.

94 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 231.

95 SILVA, José Afonso da.Comentário Contextual à Constituição. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 211. 96 BULOS, Uadi Lâmmego. Curso de Direito Constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva 2011. p. 832.

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comprovar sua residência ininterrupta por mais de quinze anos e comportamento probo, isento de condenações criminais. Este direito integra o patrimônio individual do requerente de forma automática, sem exigência de nenhum outro elemento formal ou burocrático 97, pois não há

neste preceito o poder discricionário do Estado 98.

A Constituição da República de 1988 não mais prevê os institutos de radicação precoce e conclusão de curso superior, ambos constituem pressupostos de aquisição de nacionalidade secundária. E o Estatuto do Estrangeiro, a Lei n° 6.815/80 99, recepcionado pelo texto constitucional, prevê estas mesmas condições e com plena eficácia, permanecendo válidas no ordenamento jurídico brasileiro 100. Dessa forma, verifica-se no mesmo estatuto os artigos 115, §2°, I e II, e 116, a seguir (alterações inclusas em seu texto pela Lei n° 6.964 101, de 9 de dezembro de 1981):

Art.115, [...] §2° - Exigir-se-á a apresentação apenas do documento de identidade para estrangeiro, atestado policial de residência contínua no Brasil e atestado policial de antecedentes, passado pelo serviço competente do lugar de residência no Brasil, quando trata-se de:I – estrangeiro admitido no Brasil até a idade de 5 (cinco) anos, radicado definitivamente no território nacional, desde que requeira a naturalização até 2 (dois) anos após atingida a maioridade;I – estrangeiro que tenha vindo residir no Brasil antes de atingida a maioridade e haja feito curso superior em estabelecimento nacional de ensino, se requerida a naturalização até 1 (um) ano depois da formatura.[...]Art. 116 – O estrangeiro admitido no Brasil durante os primeiros 5 (cinco) anos de vida, estabelecido definitivamente no território nacional, poderá, enquanto menor, requerer ao Ministro da Justiça, por intermédio de seu representante legal, a emissão de certificado provisório de naturalização, que valerá como prova de nacionalidade brasileira até 2 (dois) anos depois de atingida a maioridade 102.

Não há impedimento destas hipóteses de aquisição de nacionalidade secundária existirem no ordenamento jurídico brasileiro, pois o Estatuto do Estrangeiro103 fora recepcionado pelo artigo 12, II, a, da Constituição, quando disserta: “são brasileiros

97

DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: Parte Geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 182.

98 BULOS, Uadi Lâmmego. Curso de Direito Constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva 2011. p. 832.

99 A Lei n° 6.815, de 19 de agosto de 1980, define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, o Estatuto do Estrangeiro. Cria também o Conselho Nacional de Imigração. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6815.htm. Acesso em: 19 set. 2012.

100 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 232.

101 A Lei n. 6.964, de 9 de dezembro de 1981, altera disposições da Lei n. 6.815/80, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, o Estatuto do Estrangeiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6964.htm> Acesso em: 19 set. 2012.

102 A Lei n° 6.815, de 19 de agosto de 1980, define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, o Estatuto do Estrangeiro. Cria também o Conselho Nacional de Imigração. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6815.htm. Acesso em: 19 set. 2012.

103 A Lei n° 6.815, de 19 de agosto de 1980, define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, o Estatuto do Estrangeiro. Cria também o Conselho Nacional de Imigração. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6815.htm. Acesso em: 19 set. 2012.

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