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Acordam, em conferência, os juízes da secção cível do Tribunal da Relação de Évora:

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Tribunal da Relação de Évora

Processo nº 2374/12.1TBEVR-A.E1 Relator: ELISABETE VALENTE

Sessão: 31 Outubro 2013 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO

PROCEDIMENTO CAUTELAR TRANSACÇÃO JUDICIAL CASO JULGADO

Sumário

I -Num procedimento cautelar, a transacção, em que o acordo põe um ponto final no conflito e é objecto de homologação, é para todos os efeitos uma transacção válida e eficaz e apesar de ser em processo cautelar, esgota a questão, pelo que, se tal decisão não é cumprida deve ser objecto de execução, com base na sentença como título executivo.

II - Não impede a verificação do caso julgado, o facto das partes não serem exactamente as mesmas, pois o pressuposto da identidade das partes deve ser entendido do ponto de vista da sua qualidade jurídica.

III - Também não impede a verificação do caso julgado, o facto de, o pedido da segunda acção ser mais abrangente do que o da acção anterior, se aquilo que se pede a mais é apenas a decorrência lógica do pedido da primeira acção. Sumário da relatora

Texto Integral

Acordam, em conferência, os juízes da secção cível do Tribunal da Relação de Évora:

1. Relatório.

Nos presentes autos de Procedimento Cautelar em que é requerente a «S..., Lda.», pessoa colectiva n.º …, com sede na …, Évora, e requeridos «V...,

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Lda.», JR..., casado, residente no … Évora, portador do c.c. n.º … e contribuinte fiscal n.º …, e FR..., solteiro, residente no …, Évora, pede a requerente que:

«Seja a requerente mantida na posse da referida Herdade, notificando-se os requeridos para se absterem de qualquer acto turbador, nomeadamente o de aí entrarem e/ou permanecerem no propósito de levar a cabo qualquer acto que obste ou coloque em causa a actividade agro-pecuária desenvolvida pela requerente, sob pena de terem de liquidar, solidariamente, uma sanção pecuniária não inferior a 100.000,00€, bem como que seja permitido à requerente liquidar directamente à EDP e à EDIA as facturas relativas ao consumo de energia eléctrica e de água, averbando em seu nome os

respectivos contratos de fornecimento até ao final do contrato celebrado, ou seja, até 31/12/2017.»

Para tal alegou, em síntese:

Em 8 de Dezembro de 2010, CG... celebrou com JR..., um contrato que teria início em 1.01.2010 e fim em 21.12.2016, mediante o qual este último vendeu ao primeiro (ou a empresa de que este fosse sócio) 250 ha de pastagens da Herdade da R... e cedeu a exploração de um sistema de rega, sendo o custo da energia decorrente deste sistema suportado pela requerente. Ainda pelo

mesmo contrato, ficou a requerente autorizada a pastorear com o seu gado a restante área daquela herdade não incluída naqueles hectares, a que

corresponderiam 50ha. Como contrapartida ficou a requerente obrigada a liquidar a quantia anual de 17.500,00€, a qual liquidou.

Mais invocou que, tal contrato foi prorrogado a 28 de Abril de 2011 até ao dia 31 de Dezembro de 2017 e que não obstante se designar de “comodato” a verdade é que consistiria num arrendamento rural atenta a contrapartida financeira que a requerente se obrigou a liquidar e em razão de naquele local desenvolver a sua actividade agro-pecuária. Acresce que teria celebrado com a EDIA, S.A. fornecimento de água naquele local.

Que a 4 de Agosto de 2011 JR... comunicou à requerente que não poderia continuar a utilizar o Pivot e que teria de abandonar a Herdade, tendo desde então ambos os requeridos por diversas ocasiões invadido tal propriedade com o propósito de intimidar a requerente, designadamente a 3 de Abril de 2012, entre o dia 17 e o dia 20 de Abril, ao que a requerente se opôs

designadamente mediante a contratação de seguranças.

Refere ainda que, intentou contra os requeridos uma providência cautelar com a finalidade de cessar aqueles actos por parte dos requeridos, tendo no dia 9 de Julho de 2012 as partes alcançado acordo no sentido do cumprimento do contrato celebrado, comprometendo-se JR..., nomeadamente, a não cortar a água nem o fornecimento de electricidade ao Pivot cedido e a não realizar

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quaisquer actos turbadores do exercício da actividade da requerente, tendo naquele mesmo dia os requeridos vedado o acesso à área do depósito do

adubo colocado naquela propriedade instando a requerente a retirar o mesmo, não tendo a requerente acedido naquele ponto em virtude de tal por em causa as ligações de electricidade e água, tendo os próprios requeridos deslocado aquele depósito em Agosto de 2012.

Mais alegou que, no dia 30 de Agosto de 2012, após terem recebido uma factura da EDP referente ao consumo de electricidade daquela propriedade, os requeridos exigiram o pagamento da mesma, tendo a requerente se

comprometido a pagar ainda nesse dia ou no dia seguinte, tendo na sequência os requeridos cortado a alimentação eléctrica ao Pivot até às 13h00m do dia seguintes, altura em que a requerente procedeu ao pagamento. Invocou que tal situação se tem vindo a repetir, ameaçando os requeridos com o corte de fornecimento de energia eléctrica que alimenta o Pivot sempre que são notificados para pagar a respectiva factura da EDP.

Acresce que, JR... tem interpelado terceiras pessoas indagando do seu interesse em adquirir a propriedade ou celebrar contrato de arrendamento, informando essas pessoas que a requerente irá abandonar aquela

propriedade, tendo também vindo a impedir que a requerente utilize aquela área de 50ha na qual poderia pastorear o seu gado, e deixado de pagar as facturas emitidas pela EDIA e referentes ao consumo de água naquela propriedade a fim de lograr que o respectivo fornecimento cesse, sendo o mesmo essencial para a manutenção e desenvolvimento da exploração agro-pecuária da requerente.

Mais invocou que já abordou JR... no sentido de ser averbado em seu nome o fornecimento de energia eléctrica e de água, sendo que aquele igualmente não entrega à requerente as respectivas facturas, impedindo-a de contabilizar as respectivas despesas para efeitos fiscais.

Finalmente, alegou que, a delonga de uma acção principal é incompatível com o receio e prejuízos que advêm para a requerente que pretende continuar a explorar a Herdade nos termos contratualmente previstos, sendo que a colheita da seara de milho iria ocorrer em Novembro de 2012.

Foi proferida sentença que julgou a acção procedente e em consequência:

«Determinou que a requerente seja mantida na posse da referida Herdade da R..., notificando-se os requeridos para se absterem da

prática de qualquer acto perturbador da mesma, designadamente de aí entrarem e/ou permanecerem no intuito de levar a cabo qualquer acto que obste ou coloque em causa a actividade agro-pecuária ali

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Condenou cada um dos requeridos na quantia de € 750,00 a título de sanção pecuniária compulsória por cada infracção no cumprimento de tal ordem (quantia esta que se destina em partes iguais, ao requerente e ao Estado)

Determinou que sejam averbados em nome da requerente os

respectivos contratos de fornecimento de energia eléctrica e de água, junto da EDP e da EDIA, até ao dia 17.12.2017»

Desta sentença recorreu JR..., e alegou com as seguintes CONCLUSÔES:

1. O despacho que ordenou o desentranhamento da oposição deduzida pelo requerido é nulo por ter sido proferido antes de esgotado o prazo legal para cumprimento do disposto no n.º 5 do artigo 486.º-A do CPC.

2. Por ser nulo o despacho que ordenou o desentranhamento da oposição do requerido JR..., não pode considerar-se verificada a situação de revelia

absoluta prevista no artigo 483.º do CPC e indiciariamente confessados os factos.

3. A Sentença recorrida, ao declarar a revelia absoluta com fundamento em falta de oposição e, em consequência, julgando indiciariamente provados os factos alegados pela requerente, viola o direito de defesa do requerido. 4. Ao ordenar o desentranhamento da oposição e declarar a revelia absoluta do requerido, a Sentença recorrida viola o disposto nos artigos 486.º-A, n.º 5 e n.º 6 e 483.º e 484.º, todos do CPC.

5. Resulta da petição inicial que o contraente CG..., na qualidade de

contraente do “Contrato de Venda de Pastagem e Comodato” celebrado em 8 de dezembro de 2010, instaurou contra os aqui requeridos JR… e FR...,

procedimento cautelar destinado à manutenção da posse da Herdade da R..., que correu termos pelo 1.º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Évora sob o n.º 972/12.2TBEVR.

6. Resultando dos autos ter o próprio CG..., assumido a posição de titular dos direitos emergentes do contrato celebrado com o requerido no procedimento cautelar n.º 972/12.2TBEVR, não poderia o Tribunal a quo ter considerado a S..., Lda. parte legítima no presente procedimento cautelar.

7. Não se verificam os requisitos do procedimento cautelar, designadamente o perigo na demora.

8. A requerente não alega factos que justifiquem a adoção das medidas cautelares por forma a evitar o perigo na demora, limitando-se a alegações vagas e conclusivas.

9. A Sentença recorrida sustenta-se, em parte, em factos alegadamente ocorridos desde 2011 até 9 de julho de 2012, data em que foi decretada

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Juízo Cível do Tribunal Judicial de Évora e, por conseguinte, insuscetíveis de fundamentar o receio de lesão iminente que justifica o periculum in mora. 10. Tendo a providência cautelar sido instaurada em novembro de 2012, a deslocação do depósito de adubo ocorrida em agosto de 2012 e depois de o requerente ter afirmado que aceitaria deslocar o depósito se o requerido pagasse os custos, não pode sustentar o perigo na demora.

11. Os rumores relativos à venda ou arrendamento da herdade, sem qualquer concretização de datas e exibição, por exemplo, de um anúncio de venda, de um contrato – promessa ou de qualquer outro documento nesse sentido, não pode fundamentar o perigo na demora.

12. O facto de os requeridos utilizarem a área de 50 ha para cultivo é inerente ao contrato celebrado e não implica a perturbação da prerrogativa da

requerente de pastorear os restolhos, nem a a sua posse.

13. A exigência do pagamento da fatura da EDP, no dia 30 de agosto de 2012, com interrupção do fornecimento de energia ao pivot até ao respetivo

pagamento não constitui, ao contrário do entendimento perfilhado na douta Sentença, fundamento de receio de lesão grave do direito da requerente.

14. Como é comum e, ademais, de conhecimento público, as faturas relativas a contratos de fornecimento de água e de energia elétrica vencem-se no final do mês, correspondendo o dia 30 de agosto de 2012 à data limite do pagamento da fatura da EDP..

15. Na falta de tal pagamento até à data limite, não seria de exigir ao

requerido que a requerente continuasse a consumir eletricidade sem pagar a fatura vencida, não consubstanciando a interrupção do fornecimento até ao pagamento ato perturbador da posse.

16. Os factos alegados no artigo 71 - “Na realidade, sempre que o Requerido, JR..., é notificado pela EDP para liquidar uma fatura, reportada ao consumo de electricidade na propriedade dada de arrendamento, a sociedade Requerente é imediatamente ameaçada do corte de fornecimento de energia eléctrica que alimenta o pivot”- e no artigo 72. - “Por conseguinte, é enorme o stress e a ansiedade criada na sociedade Requerente, provocada pelos Requeridos, JR… e FR….” – não são fundamento válido e suficiente para fundamentar a decisão “cautelar” de transferir a titularidade dos contratos para a requerente até dezembro de 2017.

17. A alteração da titularidade dos contratos mostra-se desadequada ao caso concreto, porquanto o “Contrato de Venda de Pastagem e Comodato” não abrange a parte urbana do prédio, sendo o requerido mero titular do direito de exploração da parte rústica, e não proprietário do prédio.

18. O facto de a requerente não poder contabilizar as faturas para efeitos fiscais não constitui um prejuízo sério e irreparável, não podendo o

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procedimento cautelar servir para alterar, unilateralmente, as condições acordadas com o requerido.

19. O pedido formulado pela requerente de alteração da titularidade dos contratos de fornecimento de água e de energia elétrica até ao termo do contrato (17/12/2017), não é admissível por violar o princípio da

provisoriedade inerente à tutela cautelar.

20. O decretamento do averbamento dos contratos de fornecimento de água e de luz em nome da requerente até 12/12/2017 contende, em termos absolutos, com os limites intrínsecos da tutela cautelar e, designadamente, com a sua natureza instrumental e provisória, sendo legalmente inadmissível.

21. A decisão proferida consubstancia uma mera antecipação provisória dos efeitos da decisão final a proferir, mas sim uma autêntica decisão final e definitiva que, além do mais, interfere com os termos e condições de um contrato negociado e celebrado entre as partes.

22. Por não revestir a provisoriedade inerente à tutela cautelar e, ademais, traduzir uma ingerência nas condições contratuais acordadas entre as partes, não é admissível “Determinar que sejam averbados em nome da requerente os respectivos contratos de fornecimento de energia eléctrica e de água, junto da EDP e da EDIA, até ao dia 17/12/2017.”

23. A douta Sentença recorrida viola, por conseguinte, o disposto nos artigos 486.º-A, 483.º e 484.º, 27.º e 381.º, todos do CPC.

Termos em que, e nos mais de Direito que Vexas. doutamente suprirão, deve o presente recurso merecer provimento, revogando-se a douta Sentença

recorrida.

Foi proferida Decisão Singular neste Tribunal da Relação considerando que se verifica a excepção dilatória do caso julgado, de conhecimento oficioso e que consequentemente absolveu os requeridos da instância. Para tal, foi considerado o facto de, antes desta acção, CG... ter instaurado contra JR… e FR..., outro procedimento cautelar destinado à manutenção da posse da Herdade da R..., que correu termos pelo 1.º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Évora sob o n.º 972/12.2TBEVR.

E no dia 9 de Julho de 2012, nessa acção, as partes terem alcançado acordo no sentido do cumprimento do contrato celebrado, comprometendo-se o 1.º

requerido, nomeadamente, a não cortar a água nem o fornecimento de electricidade ao Pivot cedido e a não realizar quaisquer actos turbadores do exercício da actividade da requerente, tendo naquele mesmo dia os requeridos vedado o acesso à área do depósito do adubo colocado naquela propriedade instando a requerente a retirar o mesmo, não tendo a requerente acedido naquele ponto em virtude de tal por em causa as ligações de electricidade e água, tendo os próprios requeridos deslocado aquele depósito em Agosto de

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2012.

Acordo que foi homologado judicialmente.

Inconformado com o despacho do Relator, a requerente «S…, Lda.»/ recorrida, reclamou para a conferência.

2 – O mérito do despacho reclamado:

A questão submetida à conferência consiste em saber se se verifica ou não a excepção de caso julgado.

Entendemos que sim, sendo que tal facto deveria ter sido impeditivo do conhecimento de mérito dos autos.

Com efeito, a situação foi regulada numa acção anterior. Como já foi referido na decisão em causa.

Anteriormente, em 27.04.2012, foi intentado Procedimento Cautelar por CG… (sócio da «S..., Lda.») contra JR… e FR… .

Nessa acção o pedido era o seguinte:

«O requerente ser mantido na posse da Herdade da R..., notificando-se os requeridos para se absterem de qualquer acto turbador, nomeadamente o de aí entrarem, permanecerem e levarem a cabo quaisquer actos que obstem ou coloquem em causa, na aludida propriedade, a actividade agro-pecuária desenvolvida pelo requerente.»

- Como causa de pedir invocavam:

Um contrato de “Venda de pastagem e Comodato” de 8.12.2010, segundo o qual o, mediante contrapartida monetária, o requerido vendeu ao requerente as pastagens de 250 ha da herdade da R..., cedeu a exploração de um sistema de rega e autorizou o gado a pastorear por outros cerca de 50 ha da herdade, contrato que foi sujeito a prorrogações, sendo o período total de 7 anos.

Em 4 de Agosto de 2011 o requerido ordenou que o requerente abandonasse a herdade, já invadiu a propriedade inúmeras vezes acompanhado por outros homens, com o propósito de intimidarem o requerente e que provocaram danos e prejuízos ao requerente.

- No dia 9 de Julho de 2012, nessa acção, as partes alcançado acordo no sentido do cumprimento do contrato celebrado, comprometendo-se o 1.º requerido, nomeadamente, a não cortar a água nem o

fornecimento de electricidade ao Pivot cedido e a não realizar

quaisquer actos turbadores do exercício da actividade da requerente, tendo naquele mesmo dia os requeridos vedado o acesso à área do depósito do adubo colocado naquela propriedade instando a

requerente a retirar o mesmo, não tendo a requerente acedido naquele ponto em virtude de tal por em causa as ligações de electricidade e

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água, tendo os próprios requeridos deslocado aquele depósito em Agosto de 2012.

- Tal acordo foi homologado judicialmente – cfr. fls. 25 e 36 dos autos. Do confronto entre ambas as acções verifica-se que, na anterior acção o

requerente pretendia exercer o mesmo direito que agora formula, ou seja, reagir contra os danos resultantes do comportamento dos requeridos em virtude do incumprimento contratual.

Invocam a mesma causa de pedir.

Só aparentemente o pedido dos autos é maior que o da acção anterior, já que o que se pede a mais é apenas a decorrência lógica do primeiro pedido.

Por outro lado, embora não sejam exactamente as mesmas partes, o

pressuposto da identidade das partes deve ser entendido do ponto de vista da sua qualidade jurídica – art. 498º nº 2 do CPC, ou seja apesar de numa das acções figurarem como parte o sujeito individualmente e noutra a sociedade, não é afastada a identidade pois do ponto de vista jurídico as partes em causa representam os mesmos interesses o que não obsta a que se fale em identidade de partes.

(É aliás por essa razão que o recorrente, nas suas alegações de recurso, levanta a questão de ser o próprio CG..., que assumiu a posição de titular dos direitos emergentes do contrato celebrado com o requerido e por isso a S..., Lda. não ser parte legítima no presente procedimento cautelar.)

Em suma, estamos perante uma repetição da acção em dois processos

diferentes, ou seja, perante o mesmo direito, pois ainda que nestes autos seja formulado um pedido um pouco mais abrangente, trata-se da mesma questão, já antes colocada no Procedimento Cautelar.

A obrigação que se pretende ver reconhecida já consta da sentença anterior, que é título executivo.

No nosso entendimento, a sentença proferida criou a obrigação de JR… não cortar a água nem o fornecimento de electricidade ao Pivot cedido e a não realizar quaisquer actos turbadores do exercício da actividade da requerente. Verifica-se assim uma situação de excepção de caso julgado que obsta ao conhecimento do referido mérito.

Se tal decisão não foi cumprida como é referido no requerimento inicial deveria ter sido objecto de execução, com base na sentença como título executivo.

E não colhe o argumento trazido pela requerente de que a figura do caso julgado não é apropriada ao caso das providências cautelares porque a decisão da mesma não tem autonomia e é provisória, citando o Ac. RC de 22.03.2011.

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Com efeito, no caso do Acórdão citado, trata-se de uma sentença que regula a situação do Procedimento cautelar e nada mais.

Após será intentada a acção principal.

Situação diferente é a dos presentes autos, em que não se trata de uma sentença mas de uma transacção, onde é regulada a situação em litígio sem qualquer carácter de provisoriedade.

«A transacção é o contrato pelo qual as partes previnem ou terminam um litígio mediante recíprocas concessões, podendo envolver a constituição,

modificação ou extinção de direitos diversos do direito controvertido” – vide A. Lopes Cardoso, «A confissão, desistência e transacção em Processo Civil e do Trabalho» Almedina, 1990, p. 55.

No nosso entender, da análise do teor desta transacção efectuada entre as partes, extrai-se que estas pretenderam pôr termo ao litígio com uma solução definitiva da situação (note-se que não se faz qualquer alusão a um período temporal limitado de vigência da solução).

“Não afecta o valor da transacção o facto de a mesma ter sido conseguida e lavrada num procedimento cautelar e as decisões proferidas nesta sede terem regra geral, a sua validade condicionada à prolação de sentença definitiva” – vide Ac. RC de 23.03.1999, proc. nº 1924/98 e Ac. STJ de 29.04.08, proc. 08A1097, www.dgsi.pt.

De resto, não é por acaso que não foi intentada qualquer acção principal na sequência do procedimento Cautelar no período de 30 dias legalmente

previsto para o efeito, certamente porque a transacção traduziu um ponto final no litígio.

No entanto, não se verificou a caducidade do Procedimento Cautelar,

exactamente porque foi efectuada uma transacção homologada por sentença – neste sentido, vide Ac. RL de 25.3.10, já citado.

Quando o acordo excede o objecto e âmbito do procedimento cautelar e das medidas nele procuradas, tendo antes visado pôr um ponto final no conflito, sem necessidade da propositura da acção principal, origina uma sentença de homologação que constituirá título executivo e é para todos os efeitos uma transacção válida e eficaz e apesar de ser em processo cautelar esgota a

questão – a propósito, Ac. da RL de 25.03.2010, proc. nº 878/07.7TBMFR.L1-6. Por outro lado, tal decisão, se não foi cumprida como é referido na PI deveria ter sido objecto de execução, com base na sentença homologatória como título executivo.

Não colhe o argumento de que nesta acção os factos se reportam a um período temporal subsequente à homologação da transacção.

Claro que sim. A questão é que no período em causa já vigora a transacção. Nem outra coisa poderia ser, pois a transacção não foi obviamente feita para o

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passado, mas sim para o futuro.

Nesta medida, aquele que faz tal transacção não pode intentar nova acção com o mesmo objecto.

Se assim não se entendesse, teríamos que concluir que a transacção no

Procedimento Cautelar não servia para nada, o que seria absurdo – A eficácia ou não de uma transacção não pode ficar na disponibilidade das partes,

vinculando-se á mesma ou não, conforme lhes apeteça, pois com a outorga da transacção vincularam-se ao seu cumprimento nos termos desse contrato e das obrigações nele assumidas, como efeito do princípio da

auto-responsabilidade das partes.

«O caso julgado consiste na propositura de uma acção idêntica a outra, a

repetição de outra já decidida por sentença com trânsito em julgado» - A. Reis, CPC anotado 3º, 91.

O caso julgado é uma excepção dilatória nos termos dos arts. 494º nº 1 al. i) e 497º do CPC, que conduz à absolvição da instância – art. 493º nº 2 do mesmo diploma, impedindo o conhecimento do mérito do recurso.

De resto, só este entendimento evita a possibilidade de ocorrerem casos julgados contraditórios, possibilidade que existiria caso a situação – que é a mesma - fosse de novo reavaliada nesta acção. 3 – Decisão:

Pelo exposto, acordam os juízes da secção cível deste Tribunal da Relação em indeferir a Reclamação.

Condenar a Reclamante nas custas. Évora, 31.10.2013

Elisabete Valente

Maria Cristina Cerdeira

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