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Onironauta: roteiro de media metragem ficcional

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

COMUNICAÇÃO COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

ALBANO GOMES MOURA

“ONIRONAUTA” – ROTEIRO DE MÉDIA-METRAGEM FICCIONAL

Salvador

2014.1

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ALBANO GOMES MOURA

“ONIRONAUTA” – ROTEIRO DE MÉDIA-METRAGEM FICCIONAL

Roteiro ficcional e Memorial do Trabalho de

Conclusão de Curso apresentados à

Faculdade de Comunicação da Universidade

Federal da Bahia, como requisito parcial

para obtenção de grau de bacharel em

Comunicação

com

habilitação

em

Jornalismo.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Sadao

Nakagawa

Salvador

2014.1

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RESUMO

Roteiro cinematográfico de média-metragem ficcional que narra as relações entre o cotidiano, os distúrbios de sono e o ambiente onírico dos sonhos por meio do personagem Rodrigo, um rapaz de 17 anos. O roteiro é acompanhado de um memorial que visa discorrer sobre o processo de elaboração do próprio roteiro.

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BANCA EXAMINADORA

___________________________________

Fábio Sadao Nakagawa

____________________________________

Regina Lucia Gomes Souza e Silva

__________________________________________

Iara Regina Demetrio Sydenstricker Cordeiro

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Sumário

Introdução ... ...6

PARTE I – A METALINGUAGEM DO ROTEIRO ONIRONAUTA...8

1.1. A elaboração da ideia ... 9

1.2. A Story Line ... 10

1.3. A sinopse ... 12

1.4. Os personagens ... 19

PARTE II – O ROTEIRO “ONIRONAUTA”...27

Considerações finais ... 80

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Introdução

A elaboração deste trabalho surgiu a partir de um interesse pelo estudo do audiovisual dentro da universidade, em especial pela crítica e teoria cinematográfica. Frequentei workshops de linguagem cinematográfica do professor André Setaro e o curso de introdução ao cinema com o produtor Walter Webb, da LUWA Filmes, ambos em Salvador. Além do interesse pela teoria cinematográfica, tive experiências profissionais com audiovisual no setor de produção, durante o ano de 2009 e 2010, trabalhando com filmes publicitários na produtora baiana de audiovisual Malagueta. Após 2011, trabalhei como freelancer em editoriais de fotografia publicitária e de moda, nacionais e internacionais, participei da produção do calendário de fotografia Pirelli em 2013, catálogos anuais para Macy’s em 2011 e 2012, para a sueca Stadium em 2013, dentre outras. Atuei em produção de eventos em Salvador na festa Hypnose Beats quinzenalmente durante todo o ano de 2012, e no Rio de Janeiro, trabalhei no evento da Nike Batalha das Quadras em 2013 e na produção da festa de encerramento da volta ao mundo do veleiro da marca alemã Hugo Boss, a Hugo Boss Boat Sailing Tour, além de participar da produção do programa de televisão “Amazing Race Israel”. Dessa maneira, a rotina de realização da produção audiovisual e de fotografia tornou-se natural para mim. Vocacionalmente, meu interesse aproxima-se mais da redação para produtos audiovisuais, motivo que me levou a escolha do curso de Comunicação com habilitação em Jornalismo.

O roteiro para cinema é um dos meus maiores interesses profissionais, por unir a escrita criativa a um leque amplo de possibilidades de realização, que envolve, por exemplo, uma pesquisa mais extensa e uma análise do tema a ser tratado no roteiro. Foi a partir desse interesse que surgiu “Onironauta”, um roteiro de média-metragem

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audiovisual ficcional, com duração aproximada de 30 minutos. Uma história sobre o jovem Rodrigo nascido na década de 90 e sua maneira distinta de ver o mundo. “Onironauta” é fruto de experiências próprias e textos escritos durante a minha própria adolescência.

Meu objetivo foi produzir um roteiro audiovisual de cinema ficcional, com uma narrativa ocorrida em Salvador, trazendo uma temática que não é muito explorada nos produtos desenvolvidos pelos realizadores soteropolitanos. A referência mais atual em narrativas ficcionais sobre sonhos do cinema baiano está no filme “O homem que não dormia”, de Edgard Navarro, lançado em 2011, no qual um pesadelo compartilhado por um grupo de pessoas de uma mesma cidade dá início ao filme. O exemplo me motiva ainda mais a trazer para o cenário de Salvador uma narrativa ficcional que se relacione com o ambiente onírico dos sonhos.

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1.1 A elaboração da ideia

Meu primeiro texto que serve como referência para criação deste roteiro é “A garota que (não) conheci”, publicado no blog em que escrevia pequenas crônicas, em 2009. O texto trata de um rapaz de dezessete anos que encontra uma carta, escrita oito meses após o término do relacionamento. Ele lê a carta que escreveu em seu caderno para a ex-namorada, enquanto a voz do inconsciente do garoto fala durante a sua leitura, descrevendo ambos os personagens.

Meu segundo conto foi escrito dois anos depois, “Infinito”, que já descreve um sonho, no qual um rapaz se encontra com sua própria projeção, que assume diferentes formas, entre elas a de uma garota misteriosa. Ambas as narrativas foram construídas para criar um ambiente de onirismo a partir da perspectiva psicológica do personagem principal, que era alternada com a perspectiva da garota.

O roteiro “Onironauta” começou a ser escrito no início de 2013 e narra a história de Rodrigo, um rapaz de 17 anos, que sofre de distúrbios de sono e parassonias leves. A sua dificuldade em dormir levou a um atraso das fases do sono, que se acumula em débito de sono e pode causar sonolência excessiva diurna, paralisia do sono, entre outros distúrbios. Sonhos e imagens do passado ficam gravadas na memória de Rodrigo e se repetem durante as noites de sono, perseguindo-o. Em “Onironauta”, a misteriosa garota recebeu pela primeira vez um nome, Yana, e recebeu elementos narrativos para consolidá-la como um importante personagem coadjuvante, com um aprofundamento do seu passado. Yana é a peça que muda o rumo que Rodrigo irá seguir em sua vida. Ao fim do dia narrado no roteiro, Rodrigo tem um sonho que une os elementos das suas lembranças e acontecimentos diários que marcam seu inconsciente.

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O roteiro busca relacionar a teoria do cinema com a psicologia e a pesquisa sobre o sono, com a intenção de propor uma quebra da narrativa clássica por meio de ideias e informações que fazem parte do inconsciente do personagem. A representação dos sonhos de Rodrigo é produzida por um distúrbio de sono recentemente denominado como Distúrbio do ritmo circadiano ou Síndrome de Atraso das Fases do Sono. O distúrbio é descrita no livro de Yaron Dagan, “Circadian Rythm sleep disorders (CRSD)”: “a misalignment between the patient’s sleep pattern and that, which is desired or regarded as the social norm.”(2002, p. 45), ou seja, um desequilíbrio entre o padrão de sono do paciente e a norma social. Os períodos confusos de sono e vigília e a sonolência excessiva também são citados pelo autor: “sleep episodes occur at inappropriate times and as a result, Wake periods occur at undesired times, therefore, the patient complains of insomnia or excessive daytime sleepiness.” (2002, p. 46).

1.2. A Story Line

A parte inicial do processo de construção do roteiro é a story line, um pequeno texto que descreve a mensagem principal a ser transmitida no roteiro. No livro “Da Criação Ao Roteiro”, o roteirista Doc Comparato define a story line como “a condensação do conflito básico cristalizado em palavras” (1995, p. 23) Ainda, de acordo com o autor, “uma storyline deve ser breve, concisa e eficaz. Não deve ultrapassar as cinco linhas, e através dela devemos ficar com noção daquilo que vamos contar” (1995, p. 24). A visão de Comparato dá muita importância à story line como forma de apresentar o conflito que serve como base para a trama, e através de

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quais fatos ele será apresentado. A definição de Flávio de Campos, em seu livro “Roteiro de Cinema e Televisão”, acrescenta que a story line é importante não apenas para iniciar um roteiro, mas “é bem-vinda em todos os momentos do processo narrativo” (2007, p. 88). Ou seja, o autor não posiciona a story line como um ponto de partida do conflito básico, mas como o “sumo do resumo da trama principal” (2007, p. 87).

Para Flávio de Campos, conflito é “o jogo de ações que se dá através de embate” (2007, p. 149), acontece a partir da “troca de ações dramáticas” (2007, p. 149) entre os personagens, diferente do que estabelece Comparato, que cita o conflito como principal elemento da sinopse, uma forma de entender a essência do filme, e por onde se inicia a story line. Dessa forma, Flávio de Campos direciona a importância da story line para o espectador, dando como exemplo a frase do diretor Alfred Hitchcock, na qual a story line é a resposta dada por uma garota que acabou de sair do cinema a sua mãe, que lhe pergunta: “sobre o que era o filme?” (CAMPOS, 2007, p. 87). Além disso, o exemplo dado pelo autor de story line, o conto “Iaba”, de Carybé, tem um tamanho maior do que aquele sugerido por Comparato. A story line de “Onironauta”, em termos de formatação e extensão, se aproxima mais da definição de Comparato, mas apresenta menos o conflito matriz e mais um relato resumido da trama principal com as ações dramáticas. Para iniciar o processo de roteirização e tendo como base a definição de story line proposta por Comparato e Flávio de Campos, desenvolvi a seguinte linha narrativa:

“Diagnosticado com um distúrbio de sono grave, Rodrigo, um rapaz de 17 anos, confunde realidade e sonho durante situações cotidianas. Um encontro com Yana, uma garota de sua idade, traz lembranças de um pesadelo antigo de Rodrigo, no

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qual presencia a morte de uma menina. O rapaz tem o pesadelo novamente durante a noite e descobre, ao acordar, que Yana e a menina são a mesma pessoa”.

A story line estrutura a narrativa em um dia na vida de Rodrigo e, também, centraliza o encontro entre Rodrigo e Yana como o elemento narrativo que se encaixa na definição de “conflito-matriz” (1995, p.23), proposto por Comparato. Acredito que a ação dramática que envolve o distúrbio de sono e a confusão entre realidade e sonho nas situações cotidianas, assim como o próprio sonho com a menina, também se caracterizam como conflitos básicos do roteiro. Campos descreve separadamente a story line e o conflito, esse último descrito como “incidente” (2007, p. 88). Por exemplo, na story line de Iaba são descritos os diversos incidentes que acontecem e variam na narrativa, o autor não centraliza a story line como condensação de apenas um deles: “Como vemos, o tamanho de um incidente pode variar enormemente.” (2007, p. 90). São relatados os choques das ações dramáticas dos personagens principais, através de forças que podem se equivaler ou serem totalmente desequilibradas. Por fim, a story line de “Onironauta” tem o tamanho no formato que Comparato exemplifica, mas descrever resumidamente a trama principal, e além de descrever o conflito-matriz, apresenta conflitos que surgem do encontro entre o personagem principal e secundário, no caso Rodrigo e Yana, exemplificados como “o jogo de ações” por Flávio de Campos (2007, p. 149).

1.3. A sinopse

A sinopse é o elemento que media a relação entre a story line e o roteiro. Ela deve ser direta, objetiva e, apesar de variar em tamanho, no cinema é comumente escrita em tamanho reduzido, estruturando-se como uma espécie de resumo objetivo do que é o roteiro, contendo uma breve descrição dos personagens e da história principal. Para Comparato, a sinopse tem estreita relação com o personagem,

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chegando a chamá-la de “reino da personagem” (1995, p. 25), e ainda dizendo que é “fundamental a descrição do caráter das personagens principais” (1995, p. 25). Flávio de Campos não segue a mesma linha, sugerindo que na sinopse os “personagens venham apenas indicados e em estilo tosco” (2007, p. 242). O autor define três razões que definem a importância de realizar a sinopse: “dar forma à massa de estória que você imaginou, fornecer uma referência a vocês e a seus parceiros, e apresentar aos produtores a estória que será narrada no roteiro” (CAMPOS, 2007, p. 242).

Ambos os autores utilizam os termos sinopse e argumento, e concordam também ao citar dois tipos de sinopse a serem realizadas na produção do roteiro. Comparato as destrincha em “basicamente dois tipos de sinopses: a pequena sinopse e a grande sinopse. A pequena sinopse vai de duas a cinco folhas, contém os personagens principais e a respectiva história, de forma reduzida. [...] A grande sinopse, está mais relacionada com a tradição europeia e o roteiro literário” (1995, p. 114). Flávio de Campos também divide a sinopse em duas, mas com terminologias distintas, para o autor, a primeira sinopse é denominada “sinopse de apresentação” (2007, p. 242), e indica que “deve ser de leitura fácil e agradável. Ao escrevê-la, busque clareza, concisão e simplicidade” (2007, p. 242). A grande sinopse é chamada de sinopse de trabalho, mais pessoal e voltada para uso referencial do roteirista durante a produção do roteiro: “a sinopse de trabalho é ponto de partida e referência para escrever a sinopse de apresentação, a escaleta e o roteiro” (CAMPOS, 2007, p. 241). Outra similaridade é que os autores referem-se à grande sinopse ou sinopse de trabalho como “bíblia” e colocam a sinopse como elemento importante de referência para a produção, Campos citando que “a sinopse de apresentação é o centro das suas primeiras reuniões com o pessoal de produção” (2007, p. 242), e Comparato que “com uma boa sinopse é possível ter uma visão de aproximadamente 85% do custo de

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uma produção” (1995, p. 116). Para realizar o roteiro “Onironauta”, foi escrito um argumento nos moldes da pequena sinopse, ou sinopse de apresentação:

“No dia 11 de agosto de 2008, um carteiro pedala por uma rua arborizada de casas, entrega um pacote para uma mulher de 45 anos, Analice, cumprimenta-a e vai embora. A mulher anda até o quarto onde está dormindo Rodrigo, um jovem de dezessete anos, e deixa o pacote em cima de sua mesa. No entanto, o rapaz não está dormindo. Ele acordou de uma péssima noite de sono e, ao tentar se mexer, percebeu que está paralisado na cama. Rodrigo está sofrendo de paralisia do sono (um distúrbio que costuma ser mais frequente durante a infância e adolescência). Após superar a crise, ele se levanta e vai até o banheiro para tomar banho, olha para seu rosto com olheiras no espelho. Rodrigo começou a sentir dificuldades com seu sono aos 12 anos, que tornaram-se crescentes até atingir estado de patologia. Rodrigo é um paciente com síndrome do atraso das fases do sono, distúrbio causado por um ritmo irregular do ciclo circadiano (biológico), que cria incompatibilidades entre o padrão de sono pessoal e social. O rapaz visita desde os quinze anos um terapeuta especialista, que o auxilia a lidar com o débito de sono.

Rodrigo conversa com sua mãe enquanto toma café da manhã e ela lhe pede que entregue uma caixa com equipamentos num escritório. Rodrigo consente e sai em direção a sua consulta com Dr. Carlos, seu terapeuta, pela manhã. Na sala do Dr. Carlos, o rapaz narra um pesadelo intenso que o persegue de forma recorrente. Rodrigo vê uma pequena garotinha se atirar da janela do prédio, corre até o parapeito e grita. Ao correr para o elevador, Rodrigo esboça uma reação que ele próprio, racionalmente, não imaginava que iria ter. Ao se olhar no espelho, se vê sorrindo. Se questiona sobre a própria reação e, naquele momento, percebe que não é real, que está

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presenciando seu sonho. Nesse momento, Rodrigo desperta. A imagem daquela criança, uma menina, pulando do prédio, persegue Rodrigo de forma intensa, a impotência que sente ao não poder ajudá-la, é sempre uma angústia e ao mesmo tempo um alívio quando descobre que está sonhando. O terapeuta conversa sobre o que conhece da experiência do sonho lúcido, diz para o rapaz e para o espectador pela primeira vez o termo “Onironauta”, que significa viajante dos sonhos.

Ao sair da sessão, um tanto incomodado com a maneira como aquele sonho mexe com sua cabeça, Rodrigo pega um ônibus para ir até o escritório. Ao sentar-se na cadeira, o sono toma conta do rapaz, que recebe um bilhete incomum de uma pedinte, onde está escrito: “O onironauta escolhe a primeira porta”. Rodrigo estranha, mas o momento é tão surreal e curto que passa despercebido quando a pedinte pega o bilhete das suas mãos e vai embora do ônibus.

Rodrigo chega nos prédios do centro da cidade de Salvador, antigos e com as marcas do tempo expressas na estrutura. Quando chega no andar e lê o endereço, se vê de frente para duas portas com o mesmo número, sem descrição de qual delas seria a correta. Lembra-se do que veio escrito no papel que recebeu no ônibus e entra na primeira porta, como o Onironauta deveria fazer. O cenário é uma sala com uma parede espelho, colchões e bolas de pilates, na qual Rodrigo conhece Sylvia, uma professora de ioga interessada na temática dos sonhos e na cura de problemas psicológicos através deles. Ela fala sobre a técnica de yoga do estado do sonho, expressa em um manifesto tibetano do século VIII, que consiste na indução de sonhos lúcidos através da meditação.

Rodrigo sai da sala totalmente embasbacado com a coincidência daquele momento, com o como sua mente parecia estar brincando com a realidade e, também, com a estranheza daquele dia que passava de forma estranhamente silenciosa. A

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segunda porta revela um grande escritório no qual o rapaz visita uma sala de computadores, guardando uma enorme quantidade de dados da empresa e entrega dispositivos para um analista de sistemas, também fissurado por tecnologia.

Após essa situação, Rodrigo vai até um restaurante do centro para almoçar, comida a quilo. Enquanto almoça e assiste um dos programas policiais que passam ao meio-dia em Salvador, recebe uma ligação da empresa em que trabalha, avisando que precisa sair para comprar equipamentos que pifaram. Rodrigo vai até a loja, conversa com Anderson, seu chefe, pega o dinheiro e se locomove de táxi para um shopping. Vai até uma loja de departamento, comprar o tal equipamento. Ao entrar na loja, um movimento suave de câmera transfere a narrativa para uma cena que acontece na mesma loja, no corredor de celulares. Yana e Aderbal, seu pai, discutem sobre comprar um celular. A garota juntou dinheiro pra comprar seu próprio aparelho, mas o pai não a quer usando celular, sendo menor de idade. Os dois tem um relacionamento complicado e a atitude arrogante do pai desperta a ira na garota, que corre para o último corredor da loja e senta-se no chão. Rodrigo está no mesmo corredor e se aproxima de Yana, perguntando se está tudo bem. Os dois se olham e um momento marcante se passa, o rapaz automaticamente sente-se atraído pela beleza curiosa da garota. Os dois conversam e o diálogo entre os dois flui. Mesmo durando pouco tempo, a cena parece ter se estendido para os dois. Aderbal aparece novamente e leva Yana embora da loja. Com esperanças de que um dia se encontrariam novamente, Rodrigo volta para casa. Lá, toma banho e senta-se no sofá, enquanto Yana está lendo um livro na cama, pegando no sono. Rodrigo vivencia nessa noite o sonho que o persegue. Nele, surgem elementos da realidade trazidos pelo seu inconsciente, fazendo com que Rodrigo reviva sentimentos confusos, o encontro com a garota, toda a conversa sobre os sonhos e o dia complicado que teve. Numa menção

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a Sherlock Jr., Rodrigo se levanta do mesmo local em que dormiu, mas dessa vez dentro do sonho, e percebe novamente que está sonhando, dessa vez indo mais a fundo nas suas próprias memórias. O sonho transporta Rodrigo para uma o meio de uma estrada escura perto de uma casa abandonada. Trata-se de cena sombria, como se fosse uma espécie de previsão de futuro. Anda até a casa, passa pelo muro do portão e vai até a entrada. Parado em frente à porta da frente, Rodrigo ouve um clique nas suas costas, vira-se para olhar e soa o barulho de um tiro de espingarda. Ao acordar do sonho, Rodrigo está no sofá, pegou no sono assistindo televisão. São quatro horas da manhã, o rapaz se levanta e anda até seu quarto, ainda confuso e mexido com o pesadelo intenso. Seu rosto parece um pouco melhor, menos olheiras e aparência menos cansada. Ao sentar-se na cama para tentar entender melhor o que significava tudo aquilo, Rodrigo vê o pacote que sua mãe deixou na mesa pela manhã. O põe no colo e vê que é um álbum de fotos antigas. Rodrigo começa a passar uma por uma. Uma foto o chama a atenção: é da turma de escola de Rodrigo, com cinco anos, na escola Raízes. Analisando novamente a foto, o rapaz nota algo incomum. O rosto de uma das crianças, uma menina. É exatamente o mesmo rosto que viu no sono. Isso o deixa extremamente impressionado. Rodrigo percebe que aquela menina não está em seus sonhos subjetivamente, mas sim como alguém que ele de fato conhece. Rodrigo pensa em Yana, e a similaridade do sentimento que tem pela criança e por ela, mesmo tendo a conhecido rapidamente. Reflete sobre o momento em que a encontrou durante aquele dia, como tudo aquilo estava predestinado para o momento em que entendeu que aquele sonho fazia sentido. Aquela era a primeira vez que algo que ele acreditava ser inconsciente se revela como realidade. O onironauta teve a sensação de que, aos poucos, as respostas para as dúvidas da sua própria mente iriam se apresentar”.

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Para Flávio de Campos, os elementos principais da sinopse de apresentação devem ser:

Título; storyline; descrição do momento e dos lugares que a história percorre; resumo da estória a ser narrada; lista dos personagens e figurantes, perfis dos personagens e, facultativamente, o mapa das relações entre eles e suas biografias sucintas; definição do ponto de vista do narrador e as razões dessa opção; definição do estilo da narrativa e razões dessa opção (CAMPOS, 2007, p. 243).

A sinopse apresenta grande parte desses elementos: o dia exato em que a estória se passa, 11 de agosto de 2008; os diversos locais por onde se passa a trama principal, consultório do Dr. Carlos, empresa onde Rodrigo trabalha, loja de departamento, casa de Rodrigo, sala de ioga de Sylvia, empresa de contabilidade, o apartamento que vê em seu sonho, escola infantil; os principais personagens que compõem “Onironauta”, Rodrigo, Yana, Analice, Aderbal, Dr. Carlos, Sylvia; o objetivo principal da trama: a tentativa de Rodrigo em compreender o distúrbio que sofre; e, por fim, o desfecho da narrativa: o rapaz entende que o sonho tem relação com seu encontro com Yana, com lembranças da sua infância escolar.

O ponto de vista da história é na terceira pessoa, uma observação da vida de Rodrigo, pois a estória apresenta um dia na vida da personagem. Em relação ao estilo da narrativa, “Onironauta” se foca quase exclusivamente na percepção que Rodrigo tem dos acontecimentos de sua vida, principalmente pelo fato de que a sonolência excessiva advinda do distúrbio o afeta durante todo o tempo.

Flávio de Campos distingue

[...] três os estilos de narrativa: realista, impressionista e expressionista. É realista o estilo ditado pela postura que prioriza o objeto, os elementos da história. É impressionista o estilo dado pela postura que prioriza a impressão, a percepção dos elementos da história. É expressionista o estilo ditado pela postura que prioriza a expressão dos elementos da estória (CAMPOS, 2007, p. 221).

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Para a definição de estilo de Campos, “Onironauta” se encaixa mais no estilo impressionista.

Em Comparato, as perguntas a serem respondidas na sinopse incluem menos elementos, sua visão não é de buscar uma “sabatina” da estória, mas se focar nos “principais elementos da história e das personagens” (1995, p. 112). O autor busca que se esclareçam a “temporalidade; localização; perfil dos personagens; decurso da ação dramática” (COMPARATO, 1995, p. 120), além de focar-se novamente na questão do conflito, na explicação do conflito-matriz. Diferentemente da extensa lista de elementos da sinopse realizada por Campos, a sinopse de “Onironauta” expressa os conteúdos da sinopse definidos por Comparato. Quando o autor pergunta se “o problema levantado será suscetível de gerar conflito” (COMPARATO, 1995, p. 113), a reflexão ao redor do problema levantado, o distúrbio de sono que impede que Rodrigo durma, é o que gera o conflito, e consequentemente leva a história ao seu desfecho, o sonho, a capacidade enfim, de dormir, de modo que o conflito está presente no roteiro do começo ao fim. O autor questiona especificamente sobre o clímax em suas perguntas sobre a sinopse, elemento que Campos não insere em sua lista. O clímax em “Onironauta” está no encontro de Rodrigo com Yana, um momento que divide a narrativa em duas, pois insere na percepção do rapaz um elemento novo, real e consciente, que é a garota.

1.4. Os personagens

Em “Onironauta”, a grande maioria dos personagens gira em torno de Rodrigo, sendo o principal deles a garota Yana. Rodrigo é um jovem de 17 anos, que mora com sua mãe, Analice. O distúrbio de sono do rapaz o levou, aos 16 anos, a se

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consultar com Dr. Carlos, terapeuta especializado na área de pesquisa do sono. No dia em que se passa a estória, Rodrigo relata o pesadelo recorrente que tem para Dr. Carlos. Rodrigo segue a sua rotina diária, sofrendo com momentos de intensa narcolepsia. Ao ir entregar um documento numa empresa de contabilidade e confundir-se de portas, Rodrigo acaba entrando por acaso na sala de Sylvia, professora de ioga, que percebe seu estado de sonolência e se interessa pelo caso do rapaz, explica-lhe que existem técnicas de meditação voltadas especificamente para o sono. Após um longo diálogo com Sylvia, Rodrigo vai até a sala da empresa de contabilidade e entrega o documento para Wagner, responsável pelo setor de tecnologia de informação da empresa. O rapaz recebe uma ligação do trabalho, onde é requisitado que tire o dia para comprar equipamentos para a empresa numa loja de departamento e informática. Ao chegar na loja, Yana, uma garota de 17 anos e seu pai, Aderbal, estão discutindo sobre a compra de um celular. A relação entre as duas personagens é muito complicada, com brigas constantes. Yana chega a um ponto incontrolável de ódio em relação a seu pai e chora, sentada no fim de um dos corredores da loja. Rodrigo a vê, e começam a conversar um com o outro, quase naturalmente. Após esse breve apresentação dos personagens de “Onironauta” e o contexto no qual são inseridos na narrativa, descrevo o perfil detalhado de cada personagem mencionado, que pode ajudar o ator na construção do personagem.

Rodrigo

Rodrigo é um jovem de dezessete anos, branco, de cabelos pretos cacheados, um metro e setenta de altura, magro, cerca de sessenta e cinco quilos. Ainda frequenta o colégio, mas devido a sua habilidade com a área de informática dos contatos de sua mãe, conseguiu um trabalho como aprendiz numa loja de computadores do centro da

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cidade. Rodrigo nasceu em Salvador, mas sempre se sentiu deslocado na cidade, pelos seus interesses por tecnologia, música eletrônica, skate, pela maneira urbanizada como se veste e pensa. Seus pais se separaram durante a sua infância, e Rodrigo aprendeu a lidar com isso, na época tinha apenas cinco anos, e se acostumou à vida com duas famílias, duas casas. Seu pai não mora na cidade de Salvador, vive em São Paulo, e tem mais dois filhos, o que dificulta que vá morar com ele. Rodrigo não quer deixar a mãe sozinha, mas ao mesmo tempo tem muita vontade de ir morar com o pai. Os dois encontram-se pouco, mas se comunicam por internet e tem uma boa relação. Rodrigo é um rapaz quieto, voltado para sua própria vida, mas não é tímido ou introvertido. Dentre amigos e conhecidos, Rodrigo é descontraído e entusiasmado, tem senso de humor, é inteligente e tem sede de conhecer mais sobre temas interessantes, sendo entendedor de internet, novidades tecnológicas e cultura midiática. Suas características negativas são um exagero na auto-estima e ansiedade excessiva. Apesar de ser visto como “nerd” no colégio em que estuda, Rodrigo costuma atrair as garotas que compartilham seus interesses, principalmente pela sua maturidade em trabalhar ainda estando no colégio. Apesar de sempre ter tido casos de sonambulismo e perturbação do sono, foi somente no início da adolescência que Rodrigo passou a ter grande dificuldade com as noites de sono, tendo fases onde não conseguia dormir, ou só dormia muito tarde e não tinha condições de acordar no dia seguinte, pesadelos constantes, motivo que o levou a se consultar com o Dr. Carlos. é um entusiasta da tecnologia, do audiovisual, e gosta de analisar como o mundo será no futuro.

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Yana é uma jovem garota de dezessete anos, morena, de longos cabelos castanhos, com cerca de um metro e sessenta, e cinquenta quilos. Filha de pai militar, Yana passou toda a sua infância viajando de cidade em cidade, mudando de casa e morando em vilas militares pelo país. Devido a essa constante mudança, nunca fez amigos, somente conhecidos, nunca conseguiu cultivar uma amizade por tempo o bastante. A garota não conheceu sua mãe, Débora, que faleceu durante o seu parto, e isso é uma complicada lacuna familiar em sua vida. Seu pai é um homem extremamente conservador, pertencente a uma realidade antiga, com visões machistas e discriminatórias. Yana não consegue ter compatibilidade com seu pai, ambos mantém uma constante atitude hostil um com o outro. A extrema proteção que seu pai implica em sua vida é vista por ela como egoísmo da parte dele, o que acaba se tornando em um ódio incontrolável. A viuvez só piorou as coisas, pois suas madrastas sempre a trataram mal e se aproveitaram do dinheiro do seu pai. Yana nasceu no Espírito Santo, de mãe capixaba e pai baiano, e quando seu pai se aposentou definitivamente, foram morar em Salvador. Yana desenvolveu um rancor e um senso de autopreservação muito intenso, não é uma pessoa aberta, e acaba culpando os outros pelos seus problemas. Assim como Rodrigo, Yana é uma garota que também aprendeu a ser madura antes do tempo, por estar acostumada a ficar sozinha em casa desde criança, é inteligente, interessada por literatura e cinema. Para os outros, no entanto, Yana é vista como uma garota extremamente tímida, introvertida, retraída, o tipo de pessoa com potencial para suicídio. O momento que Yana passa durante “Onironauta” é, talvez, um dos piores de sua vida, sente-se cada vez mais sozinha, com medo de se relacionar amorosamente, seu pai sendo cada vez mais irracional e controlador, e agora está finalmente estabelecida em uma cidade. Tudo que a garota

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deseja é tornar-se maior de idade e poder sair de casa, trabalhar e ter seu próprio dinheiro, sua própria paz.

Analice

Analice é mãe de Rodrigo, uma mulher branca de quarenta e cinco anos, de um metro e sessenta e cinco, cabelo castanho, curto e cacheado, e olhos verdes. Nascida em Petrolândia, filha de comerciante de gado e couro, Analice teve uma vida típica de família de interior no sertão da Bahia, com dificuldades mas sem nunca ter passado fome, teve acesso a escola e a uma vida digna. Analice saiu adolescente do sertão e foi fazer faculdade em Salvador, onde ficou e se estabeleceu. Formou-se em administração e trabalha no atendimento da Loginet Informática, viaja pelo país fechando contratos com outras empresas, fornecedores, é uma mulher extremamente ocupada. Rodrigo é seu único filho, e Analice se orgulha muito das escolhas profissionais e da maturidade do rapaz, sempre sentiu-se na responsabilidade pelo divórcio tão cedo. Sua vida profissional está na sua melhor fase, com estabilidade e possibilidade de ascensão na empresa. Analice é um exemplo da mulher profissionalmente bem resolvida, mas com problemas nos quesitos de relacionamento e incompatibilidade com a visão machista da sociedade. Rodrigo teve alguns padrastos, mas nada que durasse mais do que um ano, e Analice tem muito medo do momento em que Rodrigo vai sair de casa e deixá-la sozinha. Devido à alta carga de stress do trabalho, Analice desenvolveu interesse por terapia e budismo.

Aderbal

Aderbal tem cinquenta e cinco anos, é um homem moreno, de cabelo raspado em VO, forte e robusto, com corpo de militar. Um metro e oitenta cinco e cem quilos,

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sisudo e com um temperamento rígido, severo e conservador, Aderbal se considera um defensor da pátria e da família, uma pessoa que sabe os verdadeiros valores que devem reger o mundo. Um militarista nato até na maneira de se vestir, Aderbal é a favor da pena de morte, da redução da maioridade penal e aterrorizado pelos ideais socialistas. Nascido na cidade de Cachoeira, no recôncavo baiano, filho de família humilde, conseguiu estudar até a oitava série, e veio para Salvador direto para o serviço militar. Entrou como recruta, depois de cinco anos conseguiu estudar e prestar prova para oficial, passando depois de diversas tentativas. Considera-se um homem que conseguiu vencer na vida e ser bem-sucedido, gerenciando uma loja de material de construção no interior, que lhe rende um bom dinheiro. Aderbal possui uma personalidade extremamente grosseira e rude, é egocêntrico e infantil, apesar de muito enérgico. Não é um homem ruim ou cruel, mas guarda uma profunda raiva do mundo pela morte de Débora, sua ex-mulher, a mãe de Yana. Aderbal nunca mais amou uma mulher como amava Débora, viveu com ela por mais de 15 anos antes do nascimento de Yana. Ele vê a morte de Débora como uma maldição feita por alguém contra ele, o que denota o profundo medo que sente de tudo, ao ver um mundo totalmente mudado, onde já não se encaixa, é um homem endurecido pelo tempo e pela vida.

Dr. Carlos

Dr. Carlos é um senhor de sessenta anos, um metro e setenta e cinco, com oitenta quilos, calvo com cabelos grisalhos, nariz proeminente e óculos de grau. Psicanalista renomado em Salvador, especializado nos distúrbios relacionados ao sono, é um homem bem resolvido na parte profissional e pessoal, casado há trinta e cinco anos com sua esposa, com quatro filhos e três netos. Nascido em Vitória da Conquista, no interior da Bahia, Dr. Carlos fez carreira como psicanalista na cidade e

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transferiu-se para Salvador, onde poderia ganhar mais com uma clínica própria. Conforme foi ficando mais velho, interessou-se pela terapia como uma forma de ajudar as pessoas, afastando-se da análise e buscando tratar pelos diversos campos da e psicologia analítica e psicoterapia. É um homem tranquilo, bem-humorado, aficionado por pescaria e futebol, torcedor do EC Vitória. Atende Rodrigo em seu consultório há um ano, e tem um interesse especial por seu caso, por ser um diagnóstico complicado, que envolve episódios de sonambulismo e narcolepsia. Apesar de manter a posição distante de paciente e doutor, Rodrigo intriga Dr. Carlos, que não entende muito de tecnologia, pede ajuda constantemente para o rapaz, tem interesse de forma geral em sua vida, ideias e projetos.

Sylvia

Sylvia é uma mulher de trinta e seis anos, branca, com um metro e oitenta e sete de altura e cinquenta e cinco quilos, cabelos grandes e lisos, olhos azuis e óculos. Muito magra e alta, Sylvia é professora de ioga, desenvolve técnicas para curar pessoas através da meditação. Filha de um americano com brasileira, Sylvia nasceu na cidade de Santa Barbara, na Califórnia, e veio para o Brasil com dez anos de idade. Primeira filha, sua mãe tinha trinta e nove anos quando Sylvia nasceu, e seu pai já tinha cinquenta e cinco. Os dois se conheceram quando discípulos de uma entidade filantrópica de meditação em Los Angeles, chamada SRF (Self Realization Fellowship). Vieram para o Brasil pois sua mãe queria que Sylvia conhecesse o país antes de sua adolescência. O que seria uma viagem temporária acabou resultando em paixão à primeira vista de seu pai pelo país, e assim família se estabeleceu em Salvador. Ambos faleceram quando Sylvia tinha trinta e dois anos, e resolveu ficar no Brasil, começando a ensinar as técnicas aprendidas com seus pais. Veste-se com

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roupas leves, tem um ar de calma e tranquilidade, sorriso acolhedor. Sylvia encontra Rodrigo aleatoriamente e desperta interesse por seu caso, visto que aprendeu a técnica dream yoga, voltada para os sonhos, uma meditação que visa melhorar as noites de sono.

Wagner

Wagner é um homem de trinta e seis anos, um metro e setenta e oito e cento e vinte quilos. Branco, barbudo, calvo com cabelos pretos e óculos de grau, Wagner é fissurado por death metal e música clássica, jogos online tipo MMORPG, desde muito cedo é um “nerd” por excelência. Pela sua grande experiência com computadores e internet, Wagner tem uma boa posição como gerente de TI da Loginet, empresa de informática na qual trabalha Analice, está bem profissionalmente. No entanto, Wagner vive uma vida dupla: é um hacker famoso na internet, conhecido como o Navio Fantasma. Nascido em São Paulo, Wagner foi para Salvador ainda criança com os pais, e mora sozinho num apartamento em Brotas. Seu pai faleceu e sua mãe mora no interior da Bahia com sua família, Wagner manda dinheiro mensalmente para a mãe. É muito sozinho e aprecia sua solidão, tem amigos que compartilham seus interesses, mas está satisfeito com a vida que tem.

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ONIRONAUTA

ROTEIRO DE MÉDIA-METRAGEM ESCRITO POR ALBANO GOMES MOURA

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CENA 1 EXT. RUA DE CASAS MANHÃ

Cidade com céu ao fundo. O dia ainda escuro começa a clarear devagar. O silêncio impera.

CLOSE-UP Uma coruja empalhada está em cima do batente de uma casa que dá para a rua.

O dia já está claro. Ouve-se um ranger de bicicletas. Do alto de uma árvore o CARTEIRO passa de bicicleta. CARTEIRO pedala e se aproxima de uma casa. Chega até a porta e toca a campainha. ANALICE, uma mulher de 45 anos, abre a porta e pega das mãos do carteiro uma caixa vermelha.

ANALICE

Obrigado! Bom dia pro senhor!

CARTEIRO

Bom dia!

ANALICE fecha a porta de entrada e entra em casa.

CENA 2 INT. CASA DE ANALICE MANHÃ

ANALICE anda pela sala e sobe a escada, até um quarto.

CENA 3 INT. QUARTO RODRIGO MANHÃ

ANALICE entra no quarto. Deixa a caixa vermelha em cima da mesa. RODRIGO está deitado na cama de lado, com o rosto virado para a parede. ANALICE toca gentilmente o braço de RODRIGO e sai do quarto.

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CLOSE-UP do Rosto de RODRIGO, que está de olhos abertos. Seus olhos mexem-se rapidamente, mostrando que está acordado e assustado.

RODRIGO sofre de paralisia do sono, ele está acordado mas não consegue se mexer.

RODRIGO(Voice OVER)

Você já sentiu isso alguma vez? Acordar e ficar paralisado? Sem conseguir se mexer nem falar?

DONA DINAH, com um lenço na cabeça e roupas de empregada doméstica, está sentada na cama ao lado de RODRIGO. Por estar paralisado, ele não consegue se virar para vê-la.

DONA DINAH

Acontece porque você tem que decidir, meu filho, se vai acordar ou continuar no sonho.

PLANO DETALHE dos olhos de RODRIGO. Estão arregalados.

RODRIGO tenta se mexer.

PLANO DETALHE da mão da DONA DINAH, que toca as costas de Rodrigo. Inserir música de suspense.

RODRIGO acorda assustado. Senta-se na cama. Limpa o suor da testa. Olha para o lugar na cama e não vê DONA DINAH.

CENA 4 INT. BANHEIRO DA CASA DE RODRIGO MANHÃ

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CENA 5 INT. COZINHA DA CASA DE RODRIGO MANHÃ

ANALICE está em pé tomando café com roupa de executiva. RODRIGO entra na cozinha.

RODRIGO

Oi mãe.

ANALICE

Oi filho. Dormiu melhor essa noite?

RODRIGO balança a cabeça negativamente.

RODRIGO

Que nada.

ANALICE

Você tem aula hoje?

RODRIGO

Não, hoje é dia do estudante. Só vou pro trabalho a tarde.

ANALICE

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RODRIGO

Onde? Me passe esse endereço direito. Toda vez que você me manda entregar algo dá um problema.

ANALICE

Oxe menino! Você se perde e a culpa é minha é?

RODRIGO

Deixa eu ver.

ANALICE entrega o pacote para RODRIGO.

RODRIGO

Tá bom, passo lá depois do meu terapeuta.

ANALICE

Ah é, você tem terapia né? Eu posso te dar uma carona pra lá.

RODRIGO

Não, não precisa. Eu to com pressa e vou acabar te atrasando.

ANALICE

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Tchau, mãe.

RODRIGO dá um beijo em ANALICE, pega sua mochila e skate e anda em direção à porta.

CORTA PARA

CENA 6 EXT. RUA DA CASA DE ANALICE MANHÃ

RODRIGO abre o portão de entrada, passa e fecha-o. Sobe no skate e desce a rua.

CENA 7 EXT. RUA DA CLINICA MANHÃ

RODRIGO chega de skate na rua em direção a clínica de seu terapeuta. Aperta o interfone.

RECEPCIONISTA (voz off)

Bom dia.

RODRIGO

Rodrigo.

Ouve o clique do intefone e a porta branca é aberta. RODRIGO entra.

CENA 8 INT. RECEPÇÃO DA CLINICA DIA

RODRIGO entra na recepção da clínica. Uma sala pequena com uma mesa de centro e um balcão onde está sentada a RECEPCIONISTA. Cadeiras de criança, brinquedos e revistas no canto da sala. RECEPCIONISTA sorri para

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RECEPCIONISTA

Bom dia Rodrigo, tudo bem? O doutor Carlos já vai te receber.

RODRIGO senta-se. DIEGO, um garoto de 12 anos, está sentado com a mãe ao lado, jogando no celular. RODRIGO anda até DIEGO, que sorri para sua mãe. Apertam as mãos.

RODRIGO

E aí Dieguinho, beleza?

DIEGO

Beleza!

DIEGO volta os olhos para o celular. RODRIGO senta-se, pega seu próprio celular e começa a ver suas mensagens. RODRIGO olha ao redor, repara que a recepcionista também está usando o smartphone. Outras pessoas também. Toques de mensagem são ouvidos. São interrompidos pelo som da porta sendo aberta. DR. CARLOS, um senhor de sessenta anos, baixo, narigudo e de cabelos brancos, abre a porta. Olha para RODRIGO.

DR CARLOS

Vamos lá, Rodrigo?

RODRIGO levanta-se e entra na sala.

CENA 9 INT. SALA DO DR. CARLOS MANHÃ

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cadeira do Dr. há uma estante com livros. RODRIGO E DR. CARLOS entram na sala. RODRIGO senta-se na poltrona enquanto o Dr. CARLOS vai até a sua estante para pegar seu caderno de anotações. Ainda em pé, fala com RODRIGO.

DR. CARLOS

Como está você? Você continua sem dormir direito, pelo visto.

RODRIGO

Pois é, continuo tendo noites muito ruins. Sem conseguir dormir cedo e sem conseguir acordar cedo. Já tem uma semana mais ou menos.

DR. CARLOS pega seu caderno e senta-se, olhando para RODRIGO.

DR. CARLOS

Preciso que você me diga como tem sido sua rotina, precisamos analisar esse débito de sono acumulado. Tudo que aconteceu que você considera importante. Você tem sentido muito sono durante o dia?

RODRIGO

Demais, acho que está até pior. Muitas vezes não consigo segurar e durmo. No ônibus, no banco...

DR. CARLOS

É um sintoma comum quando se acumulam muitos dias com períodos de sono e vigília confusos.

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Ah, tem uma coisa. Você lembra daquele sonho que eu tinha? Aquele que sempre paro na mesma parte.

DR. CARLOS

Sim, o sonho da criança.

RODRIGO

Pois é, eu tenho pensado muito sobre esse sonho de repente.

dr. carlos

Certo. Agora você vai tentar se lembrar de novo do sonho e me contar tudo.

RODRIGO

Ok. Eu até anotei ele pra não esquecer. Você quer ler?

dr. carlos

Não, não, isso é seu. Leia você mesmo pra se lembrar melhor.

RODRIGO

Eu não preciso.

RODRIGO põe o caderninho de lado. DR. CARLOS ouve atento.

CENA 10 INT. QUARTO APARTAMENTO DIA/SONHO

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Eu estou sempre sentado no chão de um quarto vazio com essa menina.

Há apenas alguns brinquedos pelo chão e YANA COM 3 ANOS brinca

calmamente enquanto RODRIGO observa. Um grito ao longe chama a atenção de RODRIGO.

Alice (VOZ OFF)

AAAAH!!! AAAAAAAAAAAH!!

RODRIGO pega YANA COM 3 ANOS pela mão, se levanta e anda em direção à porta.

CENA 11 INT. corredor APARTAMENTO DIA/SONHO

RODRIGO dá alguns passos pelo corredor com YANA COM 3 ANOS, tentando ouvir de onde vem o som. YANA COM 3 ANOS solta sua mão e corre de volta para o quarto. RODRIGO a vê correr, faz menção de ir atrás de YANA COM 3 ANOS.

ALICE (VOZ OFF)

SOCORRO!!! SOCORROOOOOOOO!!

RODRIGO fica mais assustado e curioso. Anda até a sala.

CENA 12 INT. SALA APARTAMENTO dia/SONHO

RODRIGO entra na sala vazia. Não há nada.

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CENA 13 INT. CORREDOR APARTAMENTO DIA/SONHO

RODRIGO corre de volta para o quarto com pressa. Passa pelo corredor até a porta do quarto.

CENA 14 INT. QUARTO APARTAMENTO DIA/SONHO

YANA COM 3 ANOS está encostada na janela, olhando para baixo. Olha para RODRIGO.

PLANO DETALHE do rosto de RODRIGO assustado.

YANA COM 3 ANOS pula da janela. RODRIGO corre até a janela.

CLOSE-UP de seu rosto, que expressa surpresa, mas não espanto.

RODRIGO corre para fora do apartamento.

CENA 15 INT. LOBBY APARTAMENTO DIA/SONHO

RODRIGO abre a porta do apartamento e corre para o elevador. O elevador está com a porta aberta.

CENA 16 INT. ELEVADOR APARTAMENTO DIA/SONHO

RODRIGO aperta o botão e vira-se de costas para se olhar no espelho. A porta não se mexe.

CLOSE-UP de RODRIGO, que se olha no espelho. Está sorrindo.

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Eu vi a criança cair, mas não pareceu real. Eu pensava: eu nunca sorriria se tivesse visto uma criança morrer. Aí nesse momento eu me dei conta: Eu só posso estar sonhando.

RODRIGO vira-se e olha para fora do elevador. A feição de seu rosto muda enquanto tateia as paredes tentando entender como pode estar sonhando. Olha para as mãos. O elevador começa a tremer. Tudo começa a tremer. INSERT Som de suspense crescente.

FADE OUT

CENA 17 INT. SALA DO DR. CARLOS DIA

RODRIGO

E aí, eu sempre acordo nesse momento. Eu fico apavorado com toda a situação no sonho. Mas a verdade é que quando eu acordei eu me senti... bem. Quando eu vi a criança cair foi ruim, mas na hora que eu me olhei no espelho e entendi que tava sonhando, eu senti um alívio. Foi muito estranho.

DR. CARLOS

É um pesadelo. Esse sonho de crianças caindo é muito comum em pessoas com filhos pequenos.

RODRIGO

E o que esse sonho significa?

DR. CARLOS

Vamos analisar o sonho. Você viu uma criança pequena. Sentiu afeto por ela. Ou necessidade de proteger.

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RODRIGO

Sim.

DR. CARLOS

Talvez alguém próximo de você, que esteja doente, ou que você não vê há uns 3 ou 4 anos. Parece que você está tentando protegê-la e sofre com a impotência. Você conhece a criança?

RODRIGO

Eu não me lembro do rosto dela. Por quê?

DR. CARLOS

Quando a gente sonha com alguém que não vê há tempos, ou alguém que é talvez conhecido de sua família mas não desempenha um papel efetivo na sua vida ou não é importante, não dá pra dizer que a pessoa é uma representação de uma coisa externa na sua psicologia. Mas, ás vezes acontece, a mente é muito imprevisível.

RODRIGO

Como assim?

DR. CARLOS

Se a pessoa com quem você sonhou nunca apareceu na realidade consciente para você, você não poderia sonhar com ela, não? Mas comumente essas pessoas aleatórias que vemos em sonhos representam uma maneira da sua mente de criar uma projeção de você mesmo, ou alguém próximo a você, que por algum motivo ali foi substituído por ela.

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RODRIGO

Isso quer dizer que eu conheço ela de alguma forma?

dr.carlos

Sim. Mas isso pode ser desde alguém que você viu na rua por um momento até alguém íntimo.

RODRIGO

Entendi.

DR. CARLOS

Quanto a coisa de perceber que está sonhando, é comum em algumas pessoas e raro em outras. Tem até uma palavra pra definir quem tem esse tipo de sonho: Onironauta.

RODRIGO

Onironauta? Nunca tinha ouvido essa palavra.

DR. CARLOS

Pois é. Eu gosto de uma frase de Sartre sobre sonhos: cada sonho é um mundo. Mais do que isso, cada imagem do sonho é um mundo.

RODRIGO

Claro.

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Quanto a questão das noites mal dormidas, você precisa tentar se cansar. Fazer um exercício, algo que torne o sono inevitável. E é claro, você precisa tomar cuidado com o sono excessivo durante o dia. Você pode acabar apagando numa situação de risco.

RODRIGO

Sim. Isso tem acontecido comigo. Eu estou ficando preocupado, cansaço acumulado, esses sonhos, não sei o que significam. Queria entender melhor.

DR. CARLOS

Se você está interessado em saber mais sobre os seus sonhos, comece a sempre anotar eles quando acordar de manhã. Quando acontecer outro sonho desses onde você percebe que está sonhando, faça o que você quiser, tente voar, qualquer coisa, é a sua mente. Descubra quem é essa criança que pulou da janela.

CLOSE-UP de RODRIGO, que está pensativo.

DR. CARLOS anota algo em um papel. Entrega para RODRIGO.

DR. CARLOS

Olha, Rodrigo, vai na farmácia e compra um suplemento de melatonina. Toma de noite antes de ir dormir, vai ajudar no sono. Nosso tempo fica aqui. A gente se vê na semana que vem.

CENA 18 EXT. RUA Da clinica DIA

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Quem faz terapia sabe que você sai da sessão se sentindo bem. Ou pelo menos se sentindo um pouco menos inseguro, fazendo promessas pra você mesmo. Gostei do que ele tinha dito, de cada imagem do sonho ser um mundo...

RODRIGO anda até um ponto de ônibus próximo e espera. Param mais de um ônibus no ponto, RODRIGO olha atentamente tentando ler o roteiro de cada um, vê que um deles vai para o seu destino e entra.

CENA 19 int. ÔNIBUS DIA

O ônibus não está cheio, o cobrador está sentado na cadeira ao lado do

motorista, e vai até sua cadeira para pegar o dinheiro. RODRIGO paga a sua passagem e senta-se ao lado de uma MULHER de 30 anos. Alguns minutos se passam, mais pessoas entram. RODRIGO boceja com sono. CEGA anda pelo ônibus entregando papeizinhos para os passageiros. CEGA entrega um bilhete para RODRIGO.

PLANO DETALHE do bilhete, onde vem escrito: "O segredo do cadeado está na primeira caixa, não na segunda."

CLOSE-UP de RODRIGO olhando para o bilhete.

RODRIGO(OFF)

"O segredo do cadeado está na primeira caixa."

RODRIGO olha confuso para a janela, volta o olhar para o bilhete novamente. CEGA passa por RODRIGO e pega o bilhete. RODRIGO olha para a MULHER ao seu lado.

RODRIGO

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mulher

Ela é cega, tava pedindo 1 Real.

RODRIGO fica ainda mais confuso. Olha para a rua e percebe que está perto da sua parada. Rodrigo puxa a corda para o ônibus parar. O ônibus para no ponto.

CENA 20 ext. rua centro da cidade dia

RODRIGO anda por uma avenida do centro da cidade, em direção a um prédio comercial.

CENA 21 int. portaria prÉDIO comercial DIA

RODRIGO entra pelo saguão de entrada do prédio. Passa pelo PORTEIRO que está conversando com outra pessoa. RODRIGO faz sinal de positivo.

RODRIGO

Bom dia.

PORTEIRO

Bom dia.

RODRIGO abre a mochila, pega o pacote, olha o endereço escrito. Anda em direção ao elevador. Um EXECUTIVO de 50 anos está parado, esperando o elevador.

CENA 22 INT. ELEVADOR DIA

RODRIGO e o EXECUTIVO entram no elevador. RODRIGO aperta o botão 7. EXECUTIVO aperta o 9. O botão 12 está aceso. RODRIGO lê novamente o

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PLANO DETALHE do endereço no pacote, nele está escrito: "EDF. ********, número *****, SALA 12"

CENA 23 INT. LOBBY PREDIO COMERCIAL DIA

RODRIGO sai do elevador. Olha para os lados e vira a direita.

CENA 24 INT. CORREDOR PREDIO COMERCIAL DIA

RODRIGO chega em frente a porta de número 12. Há duas portas. 12A E 12B. RODRIGO olha para o envelope novamente. Então ele se lembra do bilhete.

RODRIGO (VOICE OVER)

O segredo está na primeira caixa.

RODRIGO olha para a sala 12A. Aperta um botão. Ouve o som do CLIQUE da porta se abrindo.

CENA 25 INT. RECEPCAO SALA DE SYLVIA DIA

RODRIGO entra e fecha a porta. Está em uma pequena sala com duas poltronas, há uma porta aberta com uma cortina de miçangas. Silêncio. RODRIGO olha para o quadro de um iogue e percebe que deve estar no lugar errado. Tenta abrir a porta para sair, mas parece ter se trancado quando ele a fechou. Vira-se, olha para a porta de miçanga e passa por ela.

CENA 26 INT. SALA DE SYLVIA DIA

RODRIGO entra em uma sala aberta, com um espelho grande. Parece ser uma sala de ioga. SYLVIA, uma mulher de 35 anos, magra, cabelos castanhos. Está sentada em um tapete, em posição de lótus, meditando. Olha para RODRIGO.

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SYLVIA

Sim?

RODRIGO

Bom dia, eu vim entregar essa encomenda, mas acho que entrei no lugar errado.

RODRIGO entrega para SYLVIA o pacote.

Sylvia

É, acho que é na sala ao lado.

RODRIGO

Tudo bem, desculpe incomodar a sua meditação.

SYLVIA anda até RODRIGO para acompanhá-lo para fora da sala. Para por um momento e olha para ele.

SYLVIA

Nossa. Você tá com olheiras enormes.

RODRIGO

É. To com problemas pra dormir.

CLOSE-UP de SYLVIA, que olha para RODRIGO.

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Isso é óbvio. Mas... posso perguntar por quê?

RODRIGO

Não sei dizer direito, são várias coisas, é estranho, tenho pesadelos, demoro pra pegar no sono, não consigo acordar cedo.

SYLVIA olha para ele.

SYLVIA

Isso é interessante. Sabe, a minha especialidade é usar a ioga para tratar pessoas com distúrbios de sono. Você se importaria de me contar mais como são esses problemas?

RODRIGO

Depende, você vai querer que eu vire seu aluno ou alguma coisa do tipo?

SYLVIA sorri.

SYLVIA

Não, pode ficar tranquilo, eu sei que é estranho. Eu estou fazendo uma pesquisa especificamente sobre distúrbios de sono durante a juventude e idade adulta. Muitas vezes as pessoas não se tratam nessa idade, e depois os problemas aumentam.

RODRIGO

Entendi. Tudo bem. Só não posso demorar muito.

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Certo. Você quer uma água, café?

RODRIGO

Uma água seria bom.

SYLVIA

Sente ali um pouco, vou pegar.

RODRIGO se senta. SYLVIA retorna rapidamente com a água.

SYLVIA

Eu vou fazer algumas perguntas e anotar. Você se importa?

RODRIGO

Não.

SYLVIA

Há quanto tempo você tem problemas com o sono?

RODRIGO

Há um ano, um ano e meio mais ou menos.

SYLVIA

Você acorda quantas vezes por noite?

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Só quando tenho pesadelos. Eu demoro para dormir. Tenho problemas para acordar.

SYLVIA

Você tem sono durante o dia?

RODRIGO

Sim. Muito.

SYLVIA

Já teve sonambulismo?

RODRIGO

Já. Eu falo e me mexo muito durante a noite. Já acordei de um pesadelo falando, já acordei em pé no meio da sala uma vez.

SYLVIA

Como são seus pesadelos?

RODRIGO

Ah, eu já tive todos os pesadelos que todo mundo fala. Cair, falar e não sair a voz, tentar atirar uma arma e não conseguir, correr e não sair do lugar, ficar sem roupa na escola. Há pouco tempo eu tive um sonho muito esquisito em que eu percebi que tava sonhando.

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Um sonho lúcido?

RODRIGO

Sonho lúcido?

SYLVIA

É. Sonhos lúcidos são muito interessantes. Muitas pessoas treinam pra ter esse tipo de sonho toda noite. Tem uma técnica de ioga para estimular os sonhos lúcidos. Eu aprendi com meus pais.

RODRIGO

Sério?

SYLVIA

Sim. O sonho lúcido é uma coisa que o homem já conhece há muito tempo. Muitos filósofos e iogues tibetanos já escreveram sobre eles. Um dia nós podemos conversar sobre isso se você quiser marcar outra entrevista como essa.

RODRIGO

Ótimo! Eu quero sim.

SYLVIA

Vou te dar uma coisa. É um amuleto. Ajuda a iluminar nas horas mais escuras. Dê para alguém que você gosta e sinta que precisa de proteção.

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CENA 27 INT. RECEPCAO SALA DE SYLVIA DIA

RODRIGO e SYLVIA passam pela porta. Ela abre a porta com uma chave e aproveita para dar-lhe um cartão.

SYLVIA

Pode passar aqui quando quiser. Só liga antes para avisar.

RODRIGO

Ok. Tchau!

RODRIGO sai da sala.

SYLVIA

Tchau!

SYLVIA fecha a porta.

CENA 28 CORREDOR PREDIO COMERCIAL DIA

RODRIGO sai e se vê diante da outra porta. Abre-a.

CENA 29 INT. RECEPÇÃO DA EMPRESA DE CONTABILIDADE DIA

RODRIGO entra na recepção de uma empresa de informática, com um setor de telemarketing. Na entrada há uma pequena recepção e um corredor que leva para as outras salas. É possível ouvir o digitar de computadores, impressoras, pessoas falando.

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RODRIGO

Boa tarde.

MARCELA

Boa tarde.

RODRIGO

Vim deixar esse pacote com os HDs externos, da dona Analice.

MARCELA

No final do corredor, você entra na sala escrito TI e fala com o Wagner.

CENA 30 INT. CORREDOR DA EMPRESA DIA

RODRIGO anda pelo corredor.

CENA 31 INT. SALA DE TI DIA

RODRIGO abre a porta de uma sala com diversos computadores e servidores. WAGNER está sentado de costas. Se vira para RODRIGO. WAGNER Levanta-se e anda até RODRIGO.

wagner

Bom dia.

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WAGNER

Ahhh obrigado!

WAGNER pega o pacote. RODRIGO olha ao redor. São muitos computadores.

RODRIGO

Sinistro.

WAGNER

É né. Eu amo esse lugar. Se tiver comida, fico pra sempre. São 25, computadores de alta geração. A gente mexe com big data, tem que ter material de peso.

RODRIGO se aproxima do computador de WAGNER.

RODRIGO

Muito legal. Posso?

WAGNER balança a cabeça positivamente.

WAGNER

Claro.

RODRIGO

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É o nome de uma ópera que eu gosto muito.

RODRIGO

Irado. Você tem um cartão? Eu trabalho com informática também, sempre tenho alguma dúvida.

WAGNER

Claro!

WAGNER anota num papel seu e-mail e dá para RODRIGO.

RODRIGO

Valeu, Wagner.

WAGNER

Nada!

RODRIGO sorri, pega o papel e sai da sala.

CENA 32 INT. CORREDOR PREDIO COMERCIAL DIA

RODRIGO anda até o elevador novamente e entra.

CENA 33 INT. LOBBY PREDIO COMERCIAL DIA

RODRIGO sai do elevador e anda para fora do prédio, passa novamente pelo PORTEIRO e acena com sinal de positivo novamente.

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RODRIGO anda pela rua. RODRIGO olha para seu relógio. PLANO DETALHE do seu relógio: 13h. Passa por um restaurante de Prato Feito do centro. Está passando algum jogo na televisão.

CENA 35 INT. RESTAURANTE DE PRATO FEITO TARDE

Restaurante boteco, de azulejo branco, com uma televisão LCD no alto, mesas de madeira, quase vazio, somente dois trabalhadores sentados, comendo.

RODRIGO vai até o balcão onde tem o caixa e olha um cardápio. Uma

GARÇONETE está sentada numa cadeira, conversando com a cozinheira pela janela da cozinha. RODRIGO a chama.

RODRIGO

Me veja um pf de carne do sol por favor!

GARÇONETE assente e fala pela janelinha.

GARÇONETE

UM CARNE DO SOL!!

RODRIGO

Obrigado.

RODRIGO senta-se e assiste o jogo. De repente, o canal muda. Começa a passar um dos programas policiais do tipo Se Liga Bocão, Cidade Alerta.

PLANO DETALHE da televisão, que transmite algo incrivelmente violento. GARÇONETE traz o almoço, e RODRIGO começa a comer.

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Olha só, vamo aqui pra Massaranduba. Um rapaz matou a mãe deu pro cachorro comer! Olha lá!

NARRADOR

A espécie de elemento que faz uma atrocidade dessas, eu vou lhe dizer, é um negócio inaceitável. Queria agradecer e polícia pelo bom trabalho que vem fazendo na cidade de Salvador.

RODRIGO volta-se para o FUNCIONÁRIO do restaurante.

RODRIGO

Vei, bote lá de novo no programa pra eu ver quanto foi o jogo do Bahia.

O FUNCIONÁRIO pega o controle e muda o canal. Encosta no balcão e assiste também. RODRIGO volta a comer. O celular de RODRIGO toca no seu bolso, ele pega-o e atende.

RODRIGO

Alô?

FATIMA (voz off)

Oi Rodrigo!

RODRIGO

Oi Fátima...

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O chefe disse que precisa que você venha urgente.

RODRIGO

Ok, mas eu tô no horário de almoço agora. Vou sair daqui e vou.

RODRIGO desliga o telefone. Levanta-se e anda até o balcão.

RODRIGO

Quanto foi?

GARÇONETE

15,90

RODRIGO paga para GARÇONETE.

RODRIGO

Aqui. Obrigado.

RODRIGO põe os óculos escuro e sai do restaurante.

CENA 36 EXT. RUA CENTRO DA CIDADE TARDE

RODRIGO anda até um ponto de ônibus próximo. AMBULANTE toca um som alto de arrocha. PLANO DE DETALHE da CAIXA DE SOM. Soa o SOM AGUDO do FREIO do ônibus. O ônibus vai embora com RODRIGO. O arrocha da caixa de som continua.

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CENA 38 EXT. RUA DO CANELA TARDE

RODRIGO anda até um prédio empresarial. Há uma lanhouse no andar térreo. Entra na lanhouse.

CENA 39 INT. LANHOUSE TARDE

RODRIGO entra numa lanhouse. Alguns garotos jogam, todos usam fones de ouvido. NATALIA, atendente da lanhouse, está sentada. RODRIGO encosta no balcão.

RODRIGO

Oi, Nati. Tudo bem?

NATALIA

Oi, tudo... Você não fica na lanhouse hoje né.

RODRIGO

Pois é, o Anderson quer alguma coisa aí. Vou lá ver o que é.

NATALIA

Tá bom. Tchau!

RODRIGO

Tchau.

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CENA 40 INT. CORREDOR DO TRABALHO DE RODRIGO TARDE

RODRIGO anda pelo corredor. Para em frente a uma das portas e bate duas vezes. Abre-a devagar.

CENA 41 INT. RECEPCAO SALA ANDERSON TARDE

RODRIGO entra na recepção. CARLA, a recepcionista está sentada na cadeira.

RODRIGO

Oi Carla, posso entrar?

CARLA

Pode.

RODRIGO abre a porta da sala de ANDERSON, seu chefe.

CENA 42 INT. SALA ANDERSON TARDE

ANDERSON está no telefone, sentado na poltrona. Parece ser uma conversa pessoal. Acena para RODRIGO pedindo que sente-se.

anderson

Posso te ligar daqui a um minuto? Tá, um beijo, gata.

ANDERSON desliga o telefone.

ANDERSON

(60)

RODRIGO

Você não quer que eu vá de ônibus, né?

CHEFE

Pode pegar um táxi. Mas traga a nota amanhã senão não tem reembolso! Agora vai que eu tenho mais o que fazer.

ANDERSON faz um sinal com a mão para que RODRIGO saia. RODRIGO abre a porta e sai da sala.

CENA 43 INT. RECEPCAO SALA ANDERSON TARDE

RODRIGO põe a mochila na cadeira. CARLA pega a lista na gaveta da cômoda e entrega para RODRIGO. CARLA abre um pequeno armário, pega um bolo de notas, tira algumas e dá para RODRIGO.

RODRIGO

Ok, obrigado CARLA. Tchau!

CARLA

Tchau!

RODRIGO abre a porta e sai da sala.

CENA 44 EXT. RUA DO CANELA TARDE

RODRIGO espera na rua por um táxi. Aparece um, RODRIGO acena e o táxi encosta. Entra.

Referências

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