Semin´
ario - MA604: Teorema de Baire
Tales Rick Perche e Juliane C. Baiochi Dalben
Novembro 2017
´
Indice
1 O Teorema De Baire 2
2 Princ´ıpio da Limita¸c˜ao Uniforme 4
3 Teoremas do Mapeamento Aberto e Gr´afico Fechado 4 4 Aplica¸c˜oes para Adjunticidade de Operadores em Espa¸cos de Hilbert 6
1
O Teorema De Baire
Lema 1.1. Seja X um espa¸co m´etrico completo e Fn⊂ X conjuntos fehcados n˜ao vazios limitados
para n ∈ N tais que F1⊃ F2⊃ ... ⊃ Fn ⊃ ... e diam Fn−→ 0, ent˜ao
F ≡ ∞ \ n=1 Fn ´e um ´unico ponto.
Demonstra¸c˜ao: Defina dn= diam(Fn), logo dn−→ 0, ent˜ao tome para cada n ∈ N um xn∈ Fn,
de forma que teremos uma sequˆencia (xn) que ser´a de Cauchy. De fato, se > 0, temos que
∃ n0∈ N tal que dn< ∀ n ≥ n0. Assim, se n, m ≥ n0, teremos xn, xm∈ Fn0 e ent˜ao d(xn, xm) ≤
diam(Fn0) = dn0 < . Como temos uma sequˆencia de Cauchy em X, que ´e completo, esta sequˆencia
converge, digamos xn−→ x. Como cada Fn ´e fechado e (xn) ´e uma sequˆencia convergente em Fm
para n ≥ m, temos que x ∈ Fm∀ m ∈ N, pois cada Fm ´e fechado, logo cont´em todos seus pontos
de acumula¸c˜ao. Assim x ∈ Fm∀ m ∈ N e temos x ∈ F .
Teorema 1.2. Seja X espa¸co m´etrico completo e (An) uma sequˆencia de conjuntos abertos densos
em X, ent˜ao o conjunto A =
∞
\
n=1
An ´e denso em X.
Demonstra¸c˜ao: Seja x ∈ X e > 0. Basta mostrar que ∃ x0 ∈ A tal que d(x, x0) < , isto ´e,
basta mostrar queA ≡ A ∩ B(x, ) 6= ∅. Afim de utilizar o lema anterior, vamos construir uma sequˆencia de bolas fechadas contidas cuja interse¸c˜ao estar´a emA .
n=1: Como A1´e denso em X, ent˜ao ∃x1∈ A1tal que d(x1, x) < ⇒ x1∈ A1∩B(x; ) ≡A1. Como
A1 e B(x; ) s˜ao abertos, sua interse¸c˜ao ser´a um aberto, pois ´e uma interse¸c˜ao finita, assim,
A1´e aberto e x1∈A1, logo, ∃ s1> 0 tal que B(x1; s1) ⊂A1. Tome ent˜ao r1= min{1, s1/2}
e teremos que B[x1; r1] ⊂A1.
n=2: Como A2´e denso em X, ent˜ao ∃ x2∈ A2tal que d(x2, x1) < r1⇒ x2∈ A2∩ B(x1; r1) ≡A2.
Como A2e B(x1; r1) s˜ao abertos, sua interse¸c˜ao ser´a um aberto, assim,A2´e aberto e x2∈A2,
logo, ∃ s2 > 0 tal que B(x2; s2) ⊂ A2. Tome ent˜ao r2 = min{1/2, s2/2} e teremos que
B[x2; r2] ⊂A2.
H.I.: Suponha que temos xn∈ An∩ B(xn−1; rn−1) ≡An e 0 < rn≤ 1/n tal que B[xn; rn] ⊂An.
n+1: Como An+1 ´e denso em X, ent˜ao ∃ xn+1 ∈ An+1 tal que d(xn+1, xn) < rn ⇒ xn+1 ∈
An+1∩ B(xn; rn) ≡ An+1. Como An+1 e B(xn; rn) s˜ao abertos, sua interse¸c˜ao ser´a um
aberto, assim,An+1´e aberto e xn+1∈An+1, logo, ∃ sn+1> 0 tal que B(xn+1; sn+1) ⊂An+1.
Tome ent˜ao rn+1= min{1/(n + 1), sn+1/(n + 1)} e teremos que B[xn+1; rn+1] ⊂An+1.
Assim constru´ımos uma sequˆencia de fechados limitados, Bn≡ B[xn; rn] tais que:
e diam Bn ≤ 2/n ∀ n ∈ N ⇒ diam Bn −→ 0. Assim, pelo lema anterior, ∞
\
n=1
Bn = {x0}, e, como
x0∈ Bn⊂ B(x; ) ∩ An∀ n ∈ N, temos que x0∈ B(x; ) ∩ A =A . Assim, A 6= ∅ e temos que A ´e
denso em X.
Teorema 1.3. Sejam X um espa¸co m´etrico completo e (Fn) uma sequˆencia de subconjuntos
fecha-dos de X com interior vazio. Se F =
∞
[
n=1
Fn, ent˜ao int(F ) = ∅.
Demonstra¸c˜ao: Seja X um espa¸co m´etrico completo. Considere (An) uma sequˆencia de
subcon-juntos abertos em X e denote por Fn = Anc. Assim, observe que:
An= X ⇐⇒ Xc= (An)c= int(Anc) ⇐⇒ int(Fn) = ∅
Temos tamb´em, pelas leis de DeMorgan, que:
X = ∞ \ n=1 An ⇐⇒ Xc= ∞ \ n=1 An c = int ∞ \ n=1 An !c = int ∞ [ n=1 Anc ! ⇐⇒ int ∞ [ n=1 Fn ! = ∅. Portanto, An= X =⇒ X = ∞ \ n=1 An ⇐⇒ int(Fn) = ∅ =⇒ int ∞ [ n=1 Fn ! = ∅. E isto demonstra a equivalˆencia dos teoremas.
Defini¸c˜ao 1.4. Seja X um espa¸co m´etrico. Dizemos que M ⊂ X ´e nunca denso se int(M ) = ∅. Defini¸c˜ao 1.5. Seja X um espa¸co m´etrico. Um subconjunto M ⊂ X ´e dito magro em X se ´e uni˜ao enumer´avel de conjuntos nunca densos. Isto ´e, se M =
∞
[
n=1
Mn, com Mn ´e nunca denso ∀ n ∈ N.
Proposi¸c˜ao 1.6. Seja X um espa¸co m´etrico completo, ent˜ao todo conjunto magro em X tem interior vazio.
Demonstra¸c˜ao: Seja M ⊂ X magro, ent˜ao existe uma sequˆencia de conjuntos magros (Mn) tais
que M =
∞
[
n=1
Mn. Como cada Mn ´e magro, temos int Mn = ∅ ∀ n ∈ N. Assim, Mn s˜ao fechados e
o teorema 1.3 garante que int
∞ [ n=1 Mn ! = ∅. Assim: M = ∞ [ n=1 Mn⊂ ∞ [ n=1 Mn ⇒ int(M ) ⊂ int ∞ [ n=1 Mn ! = ∅.
Observa¸c˜ao 1.7. Assim, se (Xn) ´e uma sequˆencia de subconjuntos fechados de X tais que X = ∞
[
n=1
Xn,
2
Princ´ıpio da Limita¸
c˜
ao Uniforme
Teorema 2.1. Sejam X e Y espa¸cos de Banach e (Ti)i∈I uma fam´ılia de operadores lineares
cont´ınuos de X para Y . Se sup i∈I ||Tix|| < ∞, ∀ x ∈ X, ent˜ao sup i∈I ||Ti|| < ∞, ∀ i ∈ I.
Demonstra¸c˜ao: Para todo n ∈ N, considere
Xn= {x ∈ X : ||Tix|| ≤ n, ∀ i ∈ I}.
Ent˜ao Xn ´e fechado e, como supi∈I||Tix|| < ∞, temos que X = ∞
[
n=1
Xn. Logo, pela observa¸c˜ao 1.7,
existe n0 ∈ N tal que int(Xn0) = int(Xn0) 6= ∅. Tome x0 ∈ X e r > 0 tais que BX(x0; r) ⊂ Xn0.
Assim, ∀ z ∈ BX(0; 1) e ∀ i ∈ I, temos:
n0≥ ||Ti(x0+ rz)|| ≥ r||Tiz|| − ||Tix0|| ⇒ n0+ ||Tix0|| ≥ r||Tiz||
Assim, tomando o supremo sobre todos os z ∈ BX(0; 1), temos:
sup z∈BX(0;1) r||Tiz|| = r||Ti|| ≤ n0+ ||Tix0|| ⇒ sup i∈I ||Ti|| < ∞ pois sup i∈I
||Tix0|| < ∞, por hip´otese.
3
Teoremas do Mapeamento Aberto e Gr´
afico Fechado
Teorema 3.1 (Mapeamento Aberto). Sejam X e Y espa¸cos de Banach e T : X −→ Y um operador linear cont´ınuo sobrejetor, ent˜ao T ´e um mapa aberto.
Demonstra¸c˜ao: Por simplicidade, vamos denotar BX(0; r) e BY(0, r) por BX(r) e BY(r),
respec-tivamente e utilizaremos sem pudor que B(v0; r) = v0+B(r), pois a transla¸c˜ao ´e homeomorfismo em
espa¸cos vetoriais. Primeiramente, vamos mostrar que ∃ > 0 tal que BY() ⊂ T (BX(2)): Temos que
X =
∞
[
n=1
BX(n), logo, como T ´e sobrejetora, Y = T (X) = ∞
[
n=1
T (BX(n)) e, pelo teorema de Baire,
deve existir n0 ∈ N tal que int(T (BX(n0))) 6= ∅. Ainda, como T (BX(1)) = n1
0T (BX(n0)), pois o
produto por escalar ´e homeomorfismo e T ´e linear, ent˜ao T (BX(1)) tem interior n˜ao vazio. Assim,
tome y0∈ T (BX(1)) e existe > 0 tal que y0+ BY() ⊂ T (BX(1)) ⇒ BY() ⊂ T (BX(1)) − y0.
Mostremos que T (BX(1)) − y0 ⊂ T (BX(2)): Seja y ∈ T (BX(1)), ent˜ao existe uma sequˆencia
(xn) em BX(1) tal que T xn −→ y. Como y0 ∈ T (BX(1)), tamb´em existe uma sequˆencia (zn)
||xn− zn|| ≤ ||xn|| + ||zn|| < 2 ⇒ (xn− zn) ´e sequˆencia em BX(2) que converge a y − y0. Assim,
y − y0 ∈ T (BX(2)) e conclu´ımos que T (BX(1)) − y0 ⊂ T (BX(2)). Desta forma, ∃ > 0 tal que
BY() ⊂ T (BX(1)) − y0⊂ T (BX(2)).
Note, em partiucular, que para todo α > 0 temos que BY(α) ⊂ T (BX(α2)), pois, dado
y0∈ BY(α), y ≡ y0/α ´e tal que y0∈ BY() ⊂ T (BX(2)), logo existe uma sequˆencia (xn) em BX(2)
tal que T xn −→ y. Assim, tomando zn = αxn, zn ∈ BX(2α) e T zn −→ αy = y0, logo existe uma
sequˆencia (zn) em BX(2α) tal que T zn−→ y0⇒ y0 ∈ T (BX(2α)) ⇒ BY(α) ⊂ T (BX(α2)).
Agora, vamos mostrar que para o mesmo acima, vale que BY(/4) ⊂ T (BX(1)): Seja y ∈
BY(/4) ⊂ T (BX(1/2)), ent˜ao existe x1 ∈ BX(1/2) tal que ||y − T x1|| < /8 ⇒ y − T x1 ∈
BY(/8) ⊂ T (BX(1/4)), ent˜ao existe x2 ∈ BX(1/4) tal que ||y − T x1− T x2|| < /16 ⇒ y −
T x1− T x2 ∈ BY(/16) e ent˜ao conseguimos construir indutivamente uma sequˆencia (xn) tal que
||y −Pk n=1T xn|| < /2k+2∀ k ∈ N e ||xn|| < 1/2n∀ n ∈ N. Assim, se definirmos zn =P n k=1xk teremos, para m > n: ||zn− zm|| = m X k=n+1 xk ≤ m X k=n+1 ||xk|| ≤ m X k=n+1 1 2k < 1 2n
de forma que a sequˆencia (zn) ´e de Cauchy e, como X ´e Completo por hip´otese, converge. Digamos
zn−→ z. Al´em disso, ||z|| = ∞ X k=1 xk ≤ ∞ X k=1 ||xk|| < ∞ X k=1 1 2k = 1.
Desta forma z ∈ BX(1) e, claramente, T zn −→ y, por constru¸c˜ao, mas, como T ´e cont´ınua,
T zn −→ T z = y, assim, existe z ∈ BX(1) tal que y = T z, logo BY(/4) ⊂ T (BX(1)), como
quer´ıamos demonstrar. Al´em disso, ´e claro, temos que se α > 0, ent˜ao BY(α/4) ⊂ T (BX(α)), pois
T ´e linear e produto por escalar ´e homeomorfismo.
Podemos finalmente concluir a demosntra¸c˜ao: seja A aberto em X, basta mostrar que T (A) ´e aberto em Y . Assim, seja y ∈ T (A), ent˜ao ∃ x ∈ A tal que T x = y, e, como A ´e aberto, existe r > 0 tal que x + BX(r) ⊂ A ⇒ T x + T (BX(r)) ⊂ T (A) ⇒ y + T (BX(r)) ⊂ T (A). Mas, pelo que
fizemos at´e ent˜ao, temos que BY(r/4) ⊂ T (BX(r)), logo:
y + BY(r/4) ⊂ T (A)
e conclu´ımos que y ´e ponto interior de T (A). Assim, T mapeia abertos em abertos e ´e uma fun¸c˜ao aberta.
Corol´ario 3.1.1. Sejam X e Y espa¸cos de Banach e T : X −→ Y um operador linear cont´ınuo bijetor. Ent˜ao T−1 ´e cont´ınuo, e, por tanto, T ´e homeomorfismo.
Demonstra¸c˜ao: Seja U ⊂ X subconjunto aberto qualquer. Ent˜ao, pelo teorema 3.1, T (U ) ´e aberto em Y . Assim, (T−1)−1(U ) = T (U ) ´e aberto em Y , para todo U ⊂ X aberto. Logo, T−1 ´e cont´ınuo, pois a pr´e-imagem de qualquer aberto por T−1´e aberta.
Corol´ario 3.1.2. Seja X espa¸co vetorial munido de duas normas, ||.||1 e ||.||2. Se X ´e um espa¸co
de Banach por ambas as normas e existe uma constante c > 0 tal que ||x||2 ≤ c||x||1, ∀ x ∈ X,
Demonstra¸c˜ao: Considere o operador identidade I : (X, ||.||1) −→ (X, ||.||2), que claramente
´e linear e bijetor. Al´em disso, como existe c > 0 tal que ||x||2 ≤ c||x||1, ∀ x ∈ X, ent˜ao I ´e
lipschitziano, logo I ´e cont´ınuo. Assim, pelo corol´ario 3.1.1, I ´e homeomorfismo, logo os espa¸cos em quest˜ao s˜ao homeomorfos.
Defini¸c˜ao 3.2. Sejam X e Y espa¸cos normados, D subespa¸co de X e T : D −→ Y operador linear. Dizemos que T ´e fechado se seu gr´afico, Γ(T ) = {(x, T x) : x ∈ D}, ´e fechado.
Observa¸c˜ao 3.3. A defini¸c˜ao acima ´e equivalente a dizer que toda sequˆencia em Γ(T ) que converge, converge para um ponto de Γ(T ). Ou seja, se (xn) ´e uma sequˆencia em D tal que xn −→ x e
T xn−→ y, temos que ter x ∈ D e T x = y.
Teorema 3.4 (Gr´afico Fechado). Sejam X e Y espa¸cos de Banach e T : D ⊂ X −→ Y um operador linear fechado com D fechado. Ent˜ao T ´e limitado.
Demonstra¸c˜ao: Sabemos que X × Y ´e um espa¸co de Banach com a norma ||(x, y)|| = ||x||X+ ||y||Y
e, como T ´e linear, Γ(T ) = {(x, T x) : x ∈ D} ´e um subespa¸co de Y , pois (x, T x) + (y, T y) = (x + y, T (x + y)) ∈ Γ(T ). Al´em disso, por hip´otese, Γ(T ) ´e fechado em um completo, logo ´e completo e, ent˜ao, Γ(T ) ´e Banach. Assim, considere Π : Γ(T ) −→ D tal que Π(x.T x) = x. Temos, ent˜ao, que Π ´e uma bije¸c˜ao linear cont´ınua, logo ´e aberto, pelo teorema 3.1, e Π−1 : D −→ Γ(T ) ´e cont´ınua, pelo corol´ario 3.1.1, logo ´e limitada e, se x ∈ D, temos que
||x||X+ ||T x||Y = ||Π−1(x, T x)|| ≤ c||x||
⇒ ||T x|| ≤ (c − 1)||x|| Logo, T ´e limitado em D, portanto cont´ınuo.
4
Aplica¸
c˜
oes para Adjunticidade de Operadores em Espa¸
cos
de Hilbert
Defini¸c˜ao 4.1. SejaH um espa¸co de Hilbert e D ⊂ H um subconjunto denso. Se T : D −→ H ´e um operador linear, ent˜ao definimos o conjunto:
D∗= {h ∈H : ∃ h∗∈H tal que hT x, hi = hx, h∗i ∀ x ∈ D}
e o operador T∗: D∗−→H tal que T∗h = h∗. ( ´E poss´ıvel mostrar que se D ´e denso emH , ent˜ao
de fato existe um ´unico h∗ ∈H para cada h ∈ H de maneira que T∗ est´a bem definido e ´e um
operador linear.)
Adicionalmente, se o operador T ´e tal que T = T∗, ent˜ao dizemos que T ´e um operador auto-adjunto, ou hermiteano. (Note que temos que ter, em particular, que D = D∗para que um operador seja hermiteano).
Teorema 4.2. Se H ´e espa¸co de Hilbert e T : D ⊂ H −→ H ´e operador linear densamente definido, ent˜ao T∗: D∗−→H ´e um operador fechado.
Demonstra¸c˜ao: Seja (hn) sequˆencia em D∗ tal que hn −→ h ∈H e T∗hn −→ k ∈H . Como
hn ∈ D∗, ∀ x ∈ D temos hT x, hni = hx, T∗hni. Como o produto interno e T s˜ao fun¸c˜oes cont´ınuas,
podemos tomar o limite da sequˆencia hn e obteremos hT x, hi = hx, T∗hi. Ou seja, existe h∗ =
T∗h ∈ D∗ tal que hT x, hi = hx, h∗i, logo h ∈ D∗ e T∗h = k, o que implica que T∗´e fechado, pela
observa¸c˜ao 3.3.
Corol´ario 4.2.1. Seja T : D −→H um operador auto-adjunto com D = H , ent˜ao T ´e limitado. Demonstra¸c˜ao: Pelo teorema 4.2, temos que T∗ ´e fechado, ent˜ao, pelo teorema 3.4 temos que T∗´e limitado, mas como T ´e auto-adjunto, T = T∗, e ent˜ao T ´e limitado.
Exemplo: Neste exemplo trabalharemos com o espa¸co de Hilbert
L2(R) = {ψ : R −→ R : Z ∞
−∞
|f (x)|2dx < ∞}
que, apesar de n˜ao termos definido precisamente no curso de MA604, podemos trabalhar com suas propriedades essenciais.
Considere ent˜ao o operador X em L2
(R) que age em fun¸c˜oes ψ ∈ L2
(R) da seguinte forma: Xψ(x) = xψ(x). N˜ao definimos por hora o dom´ınio de X, pois vamos acabar esbarrando em sua defini¸c˜ao ao longo do exemplo. Mostremos que o operador em quest˜ao ´e ilimitado: Considere a sequˆencia de fun¸c˜oes ψn(x) = H(12− |x − n|), onde H(x) ´e a fun¸c˜ao de Heavyside. Assim temos
que: ||ψn||2= Z ∞ −∞ |ψn(x)|2dx = Z ∞ −∞ H(1/2 − |x − n|)dx = Z n+12 n−1 2 dx = n +1 2 − (n − 1 2) = 1. Ent˜ao os ψn s˜ao normalizados ∀ n ∈ N. Ent˜ao, se X fosse limitado dever´ıamos ter ||Xψn|| ≤
||X|| ∀ n ∈ N. Mas temos que:
||Xψn||2= Z ∞ −∞ x2H2(1/2 − |x − n|)dx = Z n+12 n−1 2 x2dx = 1 3 n +1 2 3 − n −1 2 3! = n2+ 1 12. Assim temos ||Xψn|| = q n2+ 1
12 e se X fosse limitado ter´ıamos
q n2+ 1
12 < ||X|| ∀ n ∈ N, que
seria um absurdo.
N˜ao entraremos em detalhes sobre o fato que o operador X pode ser definido de forma a ser auto-adjunto (levando em conta detalhes de dom´ınio), mas utilizaremos este fato, de forma que, pelo teorema 4.2, X n˜ao pode estar definido em todo L2
(R). De fato, considere a func˜ao:
φ(x) = ( 1 2|x| |x| ≥ 1 1 2 |x| < 1. Ent˜ao temos: ||φ||2= Z ∞ −∞ |φ(x)|2dx = 2 Z ∞ 0 |φ(x)|2dx = 2 Z 1 0 1 4dx+2 Z ∞ 1 1 4x2dx = 1 2+ 1 2 − lim x−→∞ 1 x+ 1 1 = 1
De forma que φ ∈ L2
(R). Mas, mesmo assim, aplicando o operador X em φ obtemos:
Xφ(x) = xφ(x) = ( x
2|x| |x| ≥ 1 x
2 |x| < 1.
Que claramente n˜ao ´e quadrado integr´avel, pois φ(x) = 1 ∀ x ∈ [1, ∞). Assim, o operador X n˜ao pode ser aplicado a esta fun¸c˜ao sem que se saia do espa¸co L2(R).
Para consertar este problema, basta definir o dom´ınio do operador X como: D = {ψ : R −→ R : xψ(x) ∈ L2(R)}
E teremos que, neste dom´ınio o operador em quest˜ao est´a bem definido e ´e auto-adjunto.
Apesar de parecer um exemplo trivial no sentido matem´atico, temos uma s´erie de complica¸c˜oes que podem aparecer em mecˆanica quˆantica com fun¸c˜oes de onda que n˜ao pertencem ao dom´ınio do operador posi¸c˜ao, pois estes estados quˆanticos n˜ao tem posi¸c˜ao bem definida.
Bibliografia
[Ale] Liviana Palmisano Alexander Gorodnik. MATH 36202/M6202 Functional Analysis. url: https://people.maths.bris.ac.uk/~mazag/fa17/.
[Bre10] H. Brezis. Functional Analysis, Sobolev Spaces and Partial Differential Equations. Uni-versitext. Springer New York, 2010. isbn: 9780387709130. url: https://books.google. com.br/books?id=GAA2XqOIIGoC.
[Kre] Erwin Kreyszig. Introductory Functional Analysis with Applications. Wiley classics library. Wiley India Pvt. Limited. isbn: 9788126511914. url: https://books.google.com.br/ books?id=osXw-pRsptoC.