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Temas de Filosofia da Natureza

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Academic year: 2019

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REFERÊNCIA

ABRANTES, Paulo. Metafísica e Ciência: o caso da Filosofia da Mente. In:

CHEDIAK, Karla;

VIDEIRA,

Antonio

Augusto Passos (Org.). Temas de Filosofia da Natureza. Rio de Janeiro:

(2)

Temas de Filosofia da Nat u r eza

Organizadores

(3)

Me t a fís ic a e Ciê n c ia :

0 Cas o da F ilo s o fia da Me nt

P rof. P aulo A b ra n te s

D e p a rta m e n to d e Filosofia | U N B

1 | Me ta fís ic a = > Ciê n c ia

0 séc. XX in icio u -se co m um a fo rte op osiçã o, por p a rte dos filósofo s (para não dizer dos cie n tista s) a qu alquer p re te nsã o de se te r c o n h e c im e n to e de se poder c o n stru ir um a im ag e m de N atureza, um quadro de M u n d o ,

a príori-

isto é, através de m é to d o s nos quais a e x p e riê n cia não d e s e m p e n h e um p ape l ce n tra l (seja 'in stru in d o ' essa co nstru çã o, seja 'se le cio n a n d o -a '). S o m e n te os m é to d o s científicos seriam adeq ua dos para se e len car o que e xiste na N atureza.

Os e xc esso s da

Naturphilosophie

no séc. XIX se g u ra m e n te tiv e ra m um papel ce n tra l nessa re sistê n cia a qu aisquer c o n stru çõ e s

a príori.

S urgia um a tensão que p a re c ia in s u p e rá v e l e n tre a s p re te n s õ e s e p o s s ib ilid a d e s da M e ta fís ic a (p a rticu la rm e n te na concepção que se fazia dessa área num a tra d içã o que remontava a A ris tó te le s 1) e as da Ciência.

0 M a n ife s to do Círculo de V iena (CV), pu blica do em 1929, "A concepção c ie n tífic a do m u n d o ..." radicalizou um a p o stura a n ti-m e ta fís ic a s o b re tu d o entre filó s o fo s da ciê n cia a n glo-saxônico s, e m especial os que se en gaja ram no programa do "e m p iris m o ló g ic o " (EL), ta m b é m co n h e cid o por "n e o -p o s itiv is m o ".2

(4)

Já e m d 'A le m b e rt vislu m b ra -se um p ro to -p o s itiv is m o , evid enciado pela sua desconfiança co m re sp e ito à noção n e w to n ia n a de 'fo rç a '. A s diversas m od alida des de p o sitiv ism o p ro p o sta s ao longo do século XIX- rep re se n ta d a s por C om te, M a ch , Poincaré, D uhem , e n tre o u tro s- tê m em co m u m a te s e de que não há p o ssibilida de de co n h e cim e n to c ie n tífic o do que é in observável (as causas dos fe n ô m e n o s seriam tip ic a m e n te in o bserváveis, co m o o que H um e ch am ava de "p o d e re s "). A h ip ó te se atôm ica fo i, c o n s e q u e n te m e n te , um alvo privile g ia do dos ataq ue s p o sitivis ta s. Para o "n e o -p o s itiv is m o " do séc. XX, re p re se n ta d o pelo CV, a de m a rca çã o e n tre C iência e M e ta física m a n té m -s e um a qu estão ce n tra l.

N o e sp írito da "v ira da lin g u ístic a ", o EL esco lh e u a ling ua gem co m o o ca m p o no qual o "p ro b le m a da d e m a rc a çã o " seria a b ordá ve l.3 Essa escola pro pôs um a se m â n tic a e m p iris ta na te n ta tiv a de re s o lv e r o p ro b le m a da d e m a rc a ç ã o : os enunciados m e ta fís ic o s passam a ser co nsid e ra do s de sp ro vid os de sig n ifica d o já que não po deríam os exib ir um m é to d o para a sua ve rifica çã o . Seguindo esse crité rio , tais enunciad os não po ssu em sig nificad o e, co n s e q u e n te m e n te , não lhes po dem os ta m p o u c o a trib u ir um v a lo r de ve rd a d e (ou se ja , a rig o r não se ria m , de fa to , p rop osiçõ es)4.

S chlick, n um liv ro 5pu blicado em 1918, já propunha um crité rio ve rifica cio nista de sign ificad o nos seguintes te rm o s : o sign ifica do de um a prop osição é o m é to d o de sua ve rific a çã o . Um co ro lá rio desse crité rio é que to d o en unciado que não possa ser form ulado em te rm o s em píricos, ou que não seja lógico, seria destituído de significado.

M u ito s do s p ro b le m a s tra d ic io n a is da F ilo s o fia e, p a rtic u la rm e n te , da M e ta fís ic a se ria m o riu n d o s do m au uso da lin g u a g e m ou do e m p re g o de um a linguagem in adequada (im pre cisa , e tc .)6.

Carnap fo i um dos que levou m ais longe esse pro gram a, a p onto de de snudar as suas lim ita çõ e s. Seu p onto de partida no tra ta m e n to do problem a da d em arcação foi a "a p a rê n cia de co rreçã o lin g u ístic a " dos enun ciad os m e ta físico s, ou seja, a aparência de se re m en unciados sig n ifica tiv o s ve icu la n d o c o n h e cim e n to a resp e ito do m un do . Para Carnap, essa aparência indicava a ne cessidade de se d is tin g u ir co rreçã o lóg ica de co rreçã o g ra m a tic a l (sin tá tic a ) nas linguagens na turais. Essa co n sta ta çã o lev o u -o a co n s tru ir linguagens a rtific ia is nas quais a co rreçã o lógica acom panhasse a co rreção gram atical. Desse m odo po der-se-ia desm ascarar pseudo- p ro blem as e m Filosofia.

(5)

1. 2 | A F ilo s o fia da C iê n c ia do E m p ir is m o Lógic o

e a Me ta fís ic a

Para o EL, a M e ta fís ic a pode se im is c u ir na C iência p o r duas vias: atra vé s da presença de te rm o s te ó ric o s 7 na ling uagem das te o ria s cie n tífica s e através da form a m a te m á tic a co m o as te o ria s, e m especial as da Física, se a p re se n ta m . Foi funda­ m e n ta l, p o rta n to , da p e rs p e ctiv a da Filosofia da c iê n cia do EL, e s c la re c e r esses dois pro b le m a s: o do

status

da lingu age m te ó ric a e o do pa pel da m a te m á tic a nas teorias cien tífica s.

Em ú ltim a in stâ n cia , esses dois p ro b le m a s re c o lo c a m a d is tin ç ã o kantiana e n tre p ro p o s iç õ e s s in té tic a s e a n a lítica s. Para o EL, tra ta v a -s e de c o n te s ta r a po ssibilida de do s in té tic o

a príori,

seja na fo rm a de um a lin g u a g e m te ó ric a sem base o b se rvacio nal, seja de um cá lcu lo (m a te m á tic o ).

Na cha m ad a "c o n c e p ç ã o o rto d o xa "

[received view]

da e s tru tu ra das teorias cie n tífic a s, as te o ria s são.considera da s o b je to s lin g u ístic o s, a se re m an alisados em te rm o s de sua sin ta xe e de sua se m â n tic a (a p ra g m á tic a ganhará ên fase , mais ta rd e , e n tre os c rític o s do EL). V erem os que essa re c o n s tru ç ã o lin g u ístic a pe rm itiu a b orda r ta n to o p ro b le m a dos te rm o s te ó ric o s q u a n to o do papel da m a te m á tic a nas te o ria s cie n tífica s.

(6)

O se gundo p ro b le m a que a "c o n c e p ç ã o o rto d o x a " da e s tru tu ra das te o ria s cie n tífica s te n to u re so lve r fo i o do papel da m a te m á tic a . A po ss ib ilida d e de te rm o s um "n ú c le o s in té tic o

a priori"

e m n o sso c o n h e c im e n to , p a rtic u la rm e n te no co n h e cim e n to c ie n tífic o , fo i um dos p o nto s de discussão para as Filosofias da ciê ncia do séc. XIX, m a rcad a s pela ¡m ensa in flu ência de Kant.

A s d ificu ld a d e s que e n fre n ta va m ta n to o e m p iris m o q u a n to o racio n a lism o para re sp o n de r ao p ro b le m a de co m o a m a te m á tic a se ap lica à expe riê n cia , fo ra m e n fre nta d as p o r K ant sup ond o que e x is te m fo rm a s para a nossa in tu iç ã o sensível: o e s p a ç o e o te m p o . A e s tru tu ra da n o ss a e x p e riê n c ia se n s ív e l se ria , e n tã o , con dicio n ad a pela nossa e s tru tu ra psíquica. Com o co n se qu ê n cia do m od o co m o nossa experiência é e strutura da pelas fo rm a s da intuição, os enunciados da ge om e tria (euclideana) e da a ritm é tic a e xp re ss a ria m , nessa p e rsp e ctiva , s im u lta n e a m e n te ve rda des necessária s e s in té tic a s (se ria m re la tiv o s ao espaço e ao te m p o co m o "fo rm a s pu ras" da intu içã o ). Os en unciados m a te m á tico s se distin g u em , desse m odo, das "le is " da ló gica pois esta s, em b o ra ne cessárias, nada a firm a m a re sp e ito da exp eriên cia sensível (são an alítica s, p o rta n to ).

0 d e s e n v o lv im e n to das g e o m e tría s n ã o -e u clid e a n a s no séc. X IX abalou p ro fu n d a m e n te essa co n ce p çã o kantiana da natureza das m a te m á tic a s.

C ontra esse pano de fu n d o do ka n tism o , o papel cada vez m ais im p o rta n te de sem pen ha do pela ling ua gem m a te m á tic a nas te o ria s da Física, fez da M a te m á tic a o que pareceu aos p o s itiv is ta s um a p o rta de en tra da para o s in té tic o

a priori

no c o n h e c im e n to c ie n tífic o . Os p o s itiv is ta s p re te n d ia m to m a r, co n tu d o , a M a te m á tic a c o m o p u ra m e n te fo rm a l, e não "in tu itiv a " c o m o em Kant. M e s m o n e sta hip ó te se , ou seja, não se a d m itin d o o s in té tic o

a priori

kantiano, e xistiria um e le m e n to

a priori

no c o n h e c im e n to c ie n tífic o , pelo m e no s de ca rá te r form al?

M a c h , e m 1868, a d m itiu a e xistê n cia de prin cíp ios fu n d a m e n ta is

a priori

de ca rá te r fo rm a l. M a is ta rd e ele re je ita ria to d o

a priori

no c o n h e c im e n to c ie n tífico . Nas duas ú ltim a s dé cad as do séc. XIX, C lifford, Pearson e H ertz a d m itira m um e le m e n to

a priori

fo rm a l, co n c e itu a i, m as se m co n te ú d o e m p íric o '0. A ling ua gem m a te m á tic a não po deria co rre sp o n d e r e x a ta m e n te a esse e le m e n to

a prioril

C om os d e sen vo lv im e n to s da Lógica a p a rtir do final do séc. XIX, esta questão pode te r um a resposta sis te m á tica . Os

Principia Mathematica

de W h ite h e a d e Russell ab riram a po rta para um a redu çã o da M a te m á tic a à Lógica. Por sua vez, W ittg e n s te in

(7)

passou a d e fe n d e r que as "le is " da Lógica são m eras ta u to lo g ía s, isto é, enunciados d e stituíd o s de qu alqu er co n te ú d o e m pírico, h a bilita nd o -a s a se rem vá lidas em todos os m undos possíveis. Os enunciados lógicos (e, ta m b é m , os enunciados m atem áticos, no caso de se rem m e sm o re du tíveis aqueles) pode m , por isso m e sm o , "a p lica r-se ", qual urna fo rm a , a um co n te ú d o qualquer. Os e n unciad os m a te m á tic o s deixam , p o rta n to , de p ossu ir qu alq u e r ca rá te r s in té tic o

a priori.

0 EL a d o to u e sta filosofia lo g icis ta da M a te m á tic a . Carnap co lo ca ta l posição de m od o exe m p la r:

"... a ad ju nçã o da ciê n cia fo rm a l à ciê n cia do real não in tro d u z nenhum e le m e n to o b je tiv o novo, co m o crê e m m u ito s filó so fo s, os quais o p õe m aos objetos 'rea is' da ciê n cia do real os o b je to s 'fo rm a is ', 'e s p iritu a is ' ou 'id e a is ' da ciên cia for­ m a l. A c iê n c ia fo rm a l não te m a b s o lu ta m e n te n e n h u m o b je to ; é um siste m a p ro posicion al auxiliar, de sliga do de to d o o b je to e vazio de to d o c o n te ú d o " (apud B lanché, 1983, p. 114).

A Filosofia da ciê n cia do EL deixou de lado, atra vé s de p ro c e d im e n to s desse tip o , te m a s m e ta físic o s tra d icio n a is e co n ce n tro u -s e nos e p is te m o ló g ic o s ." Um e x e m p lo d is s o e s tá na a b o rd a g e m q ue os e m p iris ta s ló g ic o s a d o ta ra m no e scla re cim e n to da natureza da explicação cie n tífic a . 0 m o d e lo no m o ló g ico -d e du tiv o p ro p os to por H e m pel-O ppe nhe im , enqu an to re co n stru çã o ló gica da e stru tu ra da explicação cie n tífic a , fo i um a te n ta tiv a engenhosa de e vita r te m a s m e ta físic o s como os da ca usalidade, das esp écie s na turais, das leis da natureza, etc.

O b e h a v io ris m o ilu s tra a in flu ê n c ia d e sta Filosofia so b re a m e to d o lo g ia c ie n tífic a : segundo essa co rre n te , a P sicologia deve te r co m o o b je tiv o d e sc o brir leis en volvendo e xclu siv a m e n te observáveis, no caso os e stím u lo s e as re sp osta s do o rga nism o. Os p sicó lo g o s b e ha vio rista s são, c o e re n te m e n te , n ã o -re a lista s com re sp e ito às disp o siçõ e s c o m p o rta m e n ta is 12.

1. 3 | Poppe r e a Me ta fís ic a

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que e n co n tra m o s nas te oria s ace ita s co m o cie ntífica s. Popper foi e n fá tic o e m a firm ar que a sua p ro p os ta de solução para o p ro b le m a da d e m a rca çã o - o fa ls ific a c io n is m o - não possui um ca rá te r se m â n tic o m as m e to d o ló g ic o .

A o a d m itir a M e ta fís ic a co m o um d iscu rso co m sig n ifica d o , Popper abre as portas para o re co n h e cim e n to do seu papel no c o n te x to de d e sc o b e rta , c o m o um a das fo n te s inspiradoras do tra b a lh o cie n tífic o . C on tra riam ente aos e m p irista s lógicos, que p re te n d ia m "a n iq u ila r a m e ta fís ic a ", Popper a d m ite um a in flu ê nc ia p o sitiva das cren ça s m e ta física s ao longo da h istó ria da c iê n c ia .’3

Na opinião de Radnitzky, o EL ao e xtirp a r a m etafísica, ou "h ip ó te se s a respeito de um q uad ro de m u n d o ", in c a p a c ito u -s e para "c o m p re e n d e r q u a lq u e r tip o de pro dução de c o n h e c im e n to que seja m ais avançado que o de te s te de h ip ó te se s e te s te d e e x p lic a ç ã o " (R a d n itz k y , 1 9 7 0 , p .x x ix ). Os e m p iris ta s ló g ic o s , ao e sta b e le ce re m um a d ic o to m ia e s trita e n tre pro p os içõ es an alítica s e s in té tic a s, e ao co n c e n tra re m -s e no co n te x to de ju s tific a ç ã o , "n ã o p odiam ve r o s in té tic o

a príori

(no qual se en quadram as p ro p o s içõ e s m e ta físic a s ou filo só fica s) co m o um a parte im p o rta n te dessas p ré -c o n d iç õ e s que fo rm a m o núcleo de cre s c im e n to de te o ria s cie n tífic a s ..." (Radnitzky, ibid. p. 23).

N u m c e rto se n tid o , ao nível do c o n te x to de d e sc o b e rta , Popper a d m ite a im p o rtâ n cia do "s in té tic o

a príori",

em b o ra e sta expressão não m ais se refira a e stru tu ra s c o g n itiv a s de um s u je ito tra n sce n d e n ta l, co m o em Kant, m as a um a d e te rm in a d a co n ste la çã o de "s a b e re s ", de h ip ó te se s- m u ita s delas de a ce ita çã o in de cid ível por m é to d o s e m p íricos num d e te rm in a d o m o m e n to h is tó ric o .

A títu lo de exe m p lo , as e sp e c u la ç õ e s da

Naturphilosophie-

tã o vilipen dia da s pelos p o sitivis ta s- exerce ram um a im p o rta n te influência sobre O ersted na desco berta da indução ele tro m a g n étic a. Evidências histó ricas desse tip o podem ser acom odadas pela Filosofia da ciê n cia de Popper e de seus se guidores, co m o Lakatos. Popper re co n h ece , por exe m p lo , que o a to m is m o clá ssico , e m bo ra fosse o rig in a lm e n te um a te o ria 'm e ta fís ic a ' (no se n tid o p o ppe ria no de 'n ã o-fa ls eá ve l') co n trib u iu , ao longo da histó ria , para a geração de te o ria s cie n tífica s, isto é, false áveis. Os pro gra m as de pesquisa cie n tífic a de Lakatos, por sua vez, são cara cterizad os por um "n ú c le o " m e ta fís ic o 14 que possui um a im p o rtâ n cia he urística fu n d a m e n ta l para a geração e m o d ific a ç ã o da série de te o ria s do pro gram a.

A histó ria da ciên cia forne ce, de fa to , evidências de que, em qu alquer período,

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os c ie n tis ta s a d m itir a m , c o n s c ie n te ou in c o n s c ie n te m e n te , e x p líc ita ou im p licita m e n te , d ete rm ina das "im a ge n s de natureza" que não podiam ser subm etidas diretam en te ao crivo da experiência. Tais "im a ge n s"- que eve ntu a lm en te são sugeridas pela M e tafísica filosó fica ou originam -se de outras fo nte s- fu nciona m com o ontologias, em geral a ssis te m á tic a s e tá c ita s , fixa nd o os c o n s titu in te s que são considerados ú ltim o s ou essenciais da rea lida de, suas m oda lida des de in te ra çã o , be m co m o os processo s fu nd a m e n ta is dos quais p a rtic ip a m . Essas im ag en s de natureza forne cem a m a té ria p rim a para m o d e lo s e m e tá fo ra s , que são g e ra triz e s e e le m e n to s c o n s titu tiv o s das te o ria s cie n tífic a s. A s im agens de natureza in flu e n c ia m , por outro lado, as de cisõ e s a re sp e ito da a ce ita b ilid a d e de e xp lica çõ e s e o de se n vo lvim e n to de m é to d o s co n sid e ra do s adequ ado s à inve stig a çã o, re trin g in d o e o rie n ta nd o a a tiv id a d e c ie n tific a .15

0 su cesso dos p ro gra m a s de pesquisa cie n tífic o s n a tu ra lm e n te levam a um (m aior) enraizam ento de um a pa rticu lar im agem de natureza ou, no caso de insucesso, à sua revisão ou seu d e sca rte p o r co m p le to . Isso sugere que um a in flu ê n c ia inversa, agora da C iência em dire çã o à M e ta fís ic a filo só fic a é, em prin cíp io , ad m issível. Ou seja, não só as m eta física s e sp eculativas dos filó so fo s p odem co n dicio n ar as imagens de natureza dos c ie n tis ta s - c o m o no caso de O ersted - m as, ao inve rso , a própria din â m ica da C iência (o su ce sso ou insuce sso dos p ro gra m a s de pe squisa científica) pode, e ve n tu a lm e n te , te r um im p a c to sobre a M e ta físic a co m base no enraizam ento das im agens de natureza pre ssu p os ta s por ta is pro gra m as, ou no d e sca rte de tais im age ns por p arte dos c ie n tis ta s .'6

Na segunda p arte d e ste a rtig o , go staria de co lo ca r ju s ta m e n te a questão: o co n he cim e n to cien tífico pode (ou deve) co n trib u ir m ais d ire ta m e n te para a M etafísica filo só fica ? N essa h ip ó te se , é ainda possível prese rva r um a (relativa) a u to n o m ia en­ tre as in ve stig a çõ e s c ie n tífic a e m e ta físic a e a trib u ir um

status

e p iste m o ló g ico d ife re n cia do aos seus re sp e ctivo s resultados?

(10)

0 n a tu ra lis m o a n g lo -a m e ric a n o das p rim e ira s d é c a d a s do s é c u lo X X, repre se n ta d o p o r no m e s co m o D e w e y e Santayana, e n tre o u tro s, fo i g ra d ua lm e nte eclipsado pela "virada lin guística", a em e rgencia do e m p irism o lógico e outras escolas filo só fic a s. K itch e r (1998) associa o clim a a n ti-n a tu ra lis ta que e ntã o se insta lo u a urna e p is te m o lo g ía pó s-fre g e an a e w ittg e n s te in ia n a , m arcad a por um a co n ce p çã o do tra b a lh o filo s ó fic o que o isolou das C iencias, fra n c a m e n te a n ti-p s ic o lo g is ta e ca racte riza do p o r um a m e to d o lo g ia 'a p rio ris ta ': um m is to de análise co n c e itu a i e de re co n stru çã o ló g ica . N a prim e ira parte do a rtig o dei e xe m p lo s da ap lica çã o de sta m e to d o lo g ia no EL.

A perda de he ge m on ia da filo so fia a nalítica e do e m p iris m o ló gico , a p a rtir dos anos 50, fo i a co m pa nha da pelo "re to rn o dos n a tu ra lis ta s ".’7

Em E pistem o log ía, e s p e c ifica m e n te , o na tu ra lism o co n te m p o râ n e o ressurgiu com o a rtig o de Q uine, "E p is te m o lo g y n a tu ra lize d " (1987a) que, salvo engano, foi quem fo rjo u essa de nom inação. Q uero sublinhar as im plica çõ e s na turalistas da crítica de Q uine aos "d o gm a s do e m p iris m o "- em p a rticu la r à noção de a n a litic id a d e -, e do seu p ro fe ssa do h o lism o, que o levam a re je ita r o alegado

status a príori

dos princípios e te o ria s e p is te m o ló g ic a s . Q uine rom pe, alé m disso, co m o a n ti-p sic o lo g ism o de cepa fre g e an a , d e fe n d e nd o um na tu ra lism o e lim in a tiv is ta , no qual a E pistem ología seria absorvid a pela P sicologia. Há que se de stacar, ta m b é m , o apelo de Q uine ao d a rw in is m o num a te n ta tiv a de re sp o n de r ao c e tic is m o e de elaborar um a resposta ao problem a da indução, no seu artigo "N atural Kinds" (1987b).

Os n a tu ra lista s re je ita m , de m odo geral, a po ssib ilida d e da ju s tific a ç ã o

a

príori

e, de m odo particular, o

status a príori

da própria Epistem ología. A E pistem ología, na co n ce p çã o n a tu ra lista , é conside rada um e m p re e n d im e n to tã o falível qu anto o c ie n tífic o e s ta n d o , de fa to , e m c o n tin u id a d e c o m e s te ú ltim o . Os n a tu ra lis ta s a rg u m e n ta m que as te s e s e p is te m o ló g ic a s se m p re pre ssu p õe m , co n scie n te ou in c o n s c ie n te m e n te , h ip ó te se s co n tin g e n te s (em píricas) a resp e ito do m undo e a re sp e ito de n ó s -m e s m o s e n qu an to sis te m as co g n itivo s. A E pistem ología perde, assim , o seu

status

privile giado de "filo s o fia p rim e ira ", de p onto fixo que p e rm itiria alavancar um a crític a , d iga m os, "e x te rn a " às p re te nsõ e s e p is tê m ic a s da C iên cia .18

2 .1 | O P r o g r a m a N a t u r a lis t a

(11)

2 .2 | Me ta fís ic a N a t u r a liza d a

A o lado de um a E pistem ología naturalizada há qu em defen da ta m b é m uma naturalização da M e ta fís ic a . K orn blith , por exe m p lo , co n sid e ra que as questões e p iste m o ló g ic a s e as q u estõ e s m e ta física s são m u tu a m e n te im b ric a d a s 19 e propõe que o p ro g ra m a n a tu ra lista as ab ord e na sua in te rd e p e n d ê n c ia , se m a d m itir a p rio ridad e de qu alqu er um a dessas áreas.

U m a M e ta fís ic a na turalizada seria, para K orn blith , 'd e stila d a ' das te orias c ie n tífic a s a ce ita s num d e te rm in a d o m o m e n to e, de m od o alg um , re su lta d o de uma e s p e c u la ç ã o

a priori.

E sp e c ific a -s e os c o n s titu in te s , tip o s de s is te m a e níveis o n to ló g ic o s na N atureza co m base nas m e lh o re s te o ria s cie n tífic a s disponíveis:

"As a tua is te o ria s cie n tífic a s são ricas e m suas im p lica çõ e s m e ta física s. A ta re fa do m e ta físico na turalista, co m o vejo, é sim p le sm e n te de e x tra íra s im plicações m e ta fís ic a s da C iê n c ia c o n te m p o râ n e a . U m a m e ta fís ic a q u e v a i a lé m dos co m p ro m isso s da ciên cia sim p le sm e n te não se apóia na m e lh or evidência disponível. U m a m e ta física que não a d m ite c o m p ro m is so s tã o ricos qu anto a que les de nossas m e lh o re s te o ria s c ie n tífic a s atua is, p e d e -n o s para e s tre ita r o e sc o p o da nossa o n to lo g ia de um m o d o qu e não re s is tirá ao e s c ru tín io . Para o n a tu ra lis ta , s im p le sm e n te não há ro ta e xtra cie n tífic a para a com p re e n sã o m e ta fís ic a " (Kornblith, 1998, p. 149).

K o rn b lith não a c e ita , p o rta n to , m e ta fís ic a s qu e vã o a lé m d o s lim ite s autorizado s pelas nossas m e lh o re s te o ria s cie n tífic a s a tu a is 20, nem aquelas que restring em tais lim ites, co m o seria o caso de posições fisicalista s-redu tivas. Tampouco ele a ce ita a postura de várias c o rre n te s da Filosofia da ciê n cia do sé cu lo passado, que se arrog avam m e n to ra s da p rá tic a cie n tífica :

"A essa altura da histó ria , a filo so fia não te m cre d e n cia is para fazer isto. Eu cre io que os filó so fo s d evem ser m ais m o d e sto s, e te n ta r co n s tru ir te o ria s filosóficas que se jam c ie n tific a m e n te bem in fo rm ad as, em vez de te n ta r in fo rm a r as ciências co m algum a espécie de in tu içã o e x tra c ie n tífic a " (K o rnblith, ibid., p. 169).

(12)

"... e não po rque haja um a razão a

priori

para se co n fia r na ciê n cia a cim a da filo so fia , m as sim po rque há um co rp o te ó ric o -c ie n tífic o que provou seu va lo r na previsão, exp lica çã o e a p lica çã o te cn o ló g ic a . Isso dá ao tra b a lh o c ie n tífic o um a esp éc ie de fu n d a m e n to que ne nhum a te o ria filo só fica te v e a té hoje. S o m e n te ao to rn a r a filo s o fia con tín u a co m as ciên cia s, c o n fo rm e Q uine su geriu, po de re m os pro vê-la co m um fu n d a m e n to adequado. Isto é o que, cre io eu, os p o sitiv is ta s ló gico s e sp era vam fazer, m as seu desejo de dar à filo s o fia ta l base fo i fru stra d o pelo m é to d o a

priori

que eles e m p re g a ra m , um m é to d o que te v e sucesso so m e n te em isolar a te o riza çã o filo s ó fic a dos re su lta d os cie n tífic o s e dos m é to d o s cie n tífic o s que os p o s itiv is ta s ta n to re sp e ita v a m " (K o rnblith, 1998, p. 168).

Em c o n s o n â n c ia c o m e sse n a tu ra lis m o , s o m e n te d e v e m o s p o s tu la r a e xistê n cia da quelas e n tid a d e s e p ro ce sso s d e scrito s pelas te o ria s cie n tífica s "b e m su ce d id a s ''22. Pode ser m o tiv o de co n tro vé rsia , e n tre ta n to , quais ciê n cia s in clu ir na lista. K orn blith , p o r e xe m p lo , não faz re striçõ e s e in clui a té as ciê n cia s hum anas.

D is c u te -s e , ta m b é m , e m que m e did a o n a tu ra lism o im p lic a num a o n to lo g ia p a rticu la r c o m o , p o r e xe m p lo , o fisica lis m o (ou m a te ria lis m o )- o n to lo g ia que re je ita a e xistê n cia de e n tid a d e s, p ro p rie d a de s e p ro ce sso s a lé m da que les p o stu la d o s pela Física colo ca ndo , por e xe m plo , sob suspeita qualquer m odalidade de dualism o m e n te / co rpo (seja um d u alism o de su b stân cia, seja de pro prie da des).

P e ttit (1 9 9 4 ), p o r e xe m p lo , d efine o na tu ra lism o da se g uinte fo rm a : "E sta é a d o utrin a de que so m e n te e x is te m co isa s na turais: só p a rtic u la re s na turais e só p ro p rie d a de s n a tu ra is ". 0 te rm o "n a tu ra l" é am bíguo e de pe n d e do que d e cid im o s in clu ir no â m b ito da N atu reza. M a s P e ttit, logo a seguir, d e fin e m e lh o r o seu sen tid o: "[O n a tu ra lis m o ] é um p a re n te p ró xim o da d o u trin a do m a te ria lis m o ou fis ic a lis m o , de a co rd o c o m a qual so m e n te e xis te m as co isas físicas ou m a te ria is " (1 99 4, pp. 2 9 6 -7 ).

Resta saber se essas "coisas físicas" são unicam ente as reveladas pela nossa experiência ordinária do m undo m acroscópico ou se incluem ta m bé m , num a perspectiva naturalista, as entidades descritas pelas teorias da m icrofísíca, por e xe m p lo .23

R elacionada c o m a qu estã o a n te rio r (m as não se id e n tific a n d o co m ela) está a qu estã o de se os n a tu ra lista s d e fe n d e m a red ução das C iências de "n ível a lto ", ou "e s p e c ia is " (co m o a P sicologia, por e xe m p lo ), às C iências "b á s ic a s " co m o a B iologia e a Física.

(13)

Em bora K o rnb lith (1998) co nsid ere que as C iências fo rn e ce m evidência a fa vo r do fis ic a lis m o , elas não ap on ta m , co n tu d o , no seu está gio atual, para um re d u c io n is m o . U m a m e ta fís ic a re d u c io n is ta , na visã o de K o rn b lith , "re s trin g e " in d e vid a m e n te "a o n to lo g ia o fe re cid a pela c iê n cia ". De to d a fo rm a , K ornblith não d efe n d e o m a te ria lis m o em bases

a priori,

o que e sta ria e m co n tra d iç ã o co m o seu professa do n a tu ra lism o :

"S e vié ss e m o s a d e sco b rir que os e sta d o s m e n ta is não são fis icam e nte co n stitu íd o s, isto não seria evidê ncia para sua n ã o -e x istê n cia m as, em vez disso, evidê ncia de que o m a te ria lism o é fa lso . 0 m a te ria lis m o não deve ser v is to com o algum a e sp éc ie de re striçã o

a príori

para a teorização sobre o m e n ta l" (Ibid., p. 151).

Para K orn blith , a co n sta ta çã o da dive rsid a d e das C iências te m im plicaçõe s m e ta física s. Essa d iversidad e, segundo ele, deve a p o n ta r no se n tid o de reconhecer a e xistê n cia de "e s p é c ie s n a tu ra is "

[natural kinds]

ao nível das C iências especiais, ga ran tindo a a u to n o m ia dessas ú ltim as. Fodor d e fe n d e um a posição se m elh an te:

" 0 re d u cio n ism o (...) não se su ste n ta fre n te aos fa to s acerca da institu içã o c ie n tífic a : a e xis tê n cia de um va sto e a rtic u la d o

[interleaved]

co n g lo m e ra d o de d isciplina s cie n tífica s e sp eciais que fre q u e n te m e n te p a re ce m de se n vo lv er-se com , no m á xim o , um re co n h e cim e n to ocasional

[casual]

da con diçã o

[constraint]

de que suas te o ria s de ve m , 'a longo prazo', to rn a r-s e física . Q uero dizer que o fa to de se a ce ita r essa co n diçã o fre q u e n te m e n te de sem p en h a p ouco ou ne nhu m papel na valida çã o p rá tica das te o ria s " (Fodor, 1991, p. 4 3 9).

U m a po siçã o n ã o -re du cion ista u su alm e n te inclu i a te s e de que as Ciências especiais d e sc re ve m "e s p é cie s n a tu ra is " e que estas espé cie s tê m po deres causais a u tô n o m o s (re la tiva m e n te às espécies na turais d e scrita s no â m b ito da Física):

(14)

e-tidas co m a existência de relações causais entre os eventos sobre os quais q u a n tific a m , nós d e ve m o s nos c o m p ro m e te r do m e sm o m o d o " (Kornblith, ibid. p. 1 5 3 -4 ).24

K o rn blith é, p o rta n to , re a lista c o m re sp e ito às esp écies na tu ra is p ostulada s por Ciências de nível alto com o a Psicologia (e.g. tip o s de estados m entais) e considera que ta is e s p é c ie s tê m p o d e r c a u s a l g e n u ín o . Ele re je ita , e m p a rtic u la r, o e p ife n o m e n is m o em filo so fia da m e n te (K o rnb lith, 1998, p. 15 1).25

Ele rec o n h ece , c o n tu d o , que a m e ta física nã o-re du cion ista , e stra tific a d a , que propõe, em b ora seja com patível e, acre dita , fundada no estágio atual do con hecim en to c ie n tífic o , não é consensua l e n tre os n a tu ra lista s. A ad oção de um a m e ta física par­ ticu la r re string e , de to d o m odo, as posiçõe s e p istem ológ ica s que p ode m ser adotadas pelo n a tu ra lista .

P e ttit (1994) ta m b é m percebe um a am biguidade ontológica no naturalism o: há aqueles que de fendem um reducionism o, ou seja, um a ontologia m ais restrita, e os que a dotam um a ontologia m ais am pla, na qual ta m b é m tê m lugar espécies (tipos) distintas das e sp é c ie s física s (e.g. p ro p rie d a d e s que su p e rvê m às p ro p rie d a d e s fís ic a s 26).

P ode-se suste nta r, e n tre ta n to , que o n a tu ra lism o é o n to lo g íca m e n te neutro, c o m p ro m e n te n d o -s e so m e n te co m um a p a rticu la r m e to d o lo g ia , a das C iências. Ou seja, o n a tu ra lism o p ressu poria, nessa le itu ra , um m o n ism o m e to d o ló g ic o e não um m o n is m o o n to ló g ic o (co m o o fis ic a lis m o ).27

3 | A Re v it a liza ç ão d a Me t a fís ic a na F ilo s o fia

Co nt e mpo r âne a : O Cas o da F ilo s o fia Da Me nte

A Filosofia da M e n te ve m d e se m p en h a n do , nas ú ltim a s dé cadas, um papel cru cia l no a b ra n d a m e n to da po stura a n ti-m e ta fís ic a que p re va lece u na Filosofia, em e sp ec ia l a de o rie n ta çã o n e o -p o s itiv is ta 28.

0 q u e p re te n d o c o lo c a r é o s e g u in te : h a v e ria e s p a ç o , na F ilo s o fia c o n te m p o râ n e a , para um a in v e s tig a ç ã o m e ta fís ic a (re la tiv a m e n te ) d is ta n te , ou m e sm o in d e p e n d e n te , dos co n h e c im e n to s espe cífico s produzidos no â m b ito das dive rsa s C iências, co n tra ria n d o a po siçã o de n a tu ra lista s co m o Kornblith? N essa h ip ó te s e , co m o se dá ou d a r-se -ia a in te rre la çã o M etafísica-C iência?

A n te s de re to m a r o te m a do fisicalism o reducionista, abordado a n teriorm e nte,

(15)

considerem os o caso do fu ncionalism o em Filosofia da M e n te , co m o urna das soluções m a is a c e ita s para o p ro b le m a m e n te /c o rp o (que c o n s titu i, in e g a v e lm e n te , um p ro ble m a o n to ló g ic o ). Em que m edida a posição fu n c io n a lista fo i influ e nc ia da pelos re su lta dos das Ciências?

N u m p rim e iro m o m e n to , po de m os dizer que o fu n c io n a lism o re su lto u de p ro ble m a s inte rn o s à Filosofia (da m e n te ), em especial de p ro b le m a s colocados pela ch am ada "te o ria da id e n tid a d e " (que, por sua vez, te m um a clara inspiração fis ic a lis ta -re d u tiv a ). Para a te o ria da ide ntidad e, tip o s m e n ta is são id ê n tic o s a tipos físicos. A te o ria da id e n tid a d e , em sua fo rm u la çã o o rigin al, p are cia fe rir um a intuição cara a dive rso s filó so fo s: a de que m e n te s p ode m ser m ú ltip la m e n te realizadas.

0 fu n c io n a lism o surgiu com o um a a lte rn a tiv a à te o ria da ide n tid a d e , tom ando a sério a referid a in tu içã o , ao m e sm o te m p o que m a n te ve um co m p ro m is s o claro co m o fis ic a lis m o - só que e ste fisica lism o se p re te n d ia , agora, n ã o -re d u tiv o . 0 fu n cio na lism o fez uso e xte nsivo da m e tá fo ra c o m p u ta cio n a l, já que a d istin çã o entre 's o ftw a re ' e 'h a rd w a re ' fo rn e ce um e xce le n te exe m p lo de m ú ltip la realização. A ciên cia da co m p u ta çã o passa, en tão , a fo rn e c e r um a an alogia, m od e lo s, para se pensar a relação (on toló gica ) en tre m e n te e corpo. Essa fo rm u la çã o do funcionalism o é co n hecid a co m o "fu n c io n a lis m o de m áquina de Turing".

A a n a lo g ia c o m p u ta c io n a l p o de , e v id e n te m e n te , tra n s fo rm a r-s e num a co n ce pçã o co m p u ta cio n a l lite ra l de m e n te (foi o que o co rre u nas m ãos de N e w e ll e S im on), m as isso não é ne cessário. 0 im p o rta n te para os m e u s fin s é assinalar uma m odalidade de relação entre a M e tafísica e as Ciências: o funcio nalism o é um exemplo de que e sta s ú ltim a s ta m b é m p o de m fo rn e c e r m o d e lo s e a n alog ia s para uma inve stig a çã o m e ta física .29

N esse se n tid o , essa relação não difere da rela çã o e n tre te o ria s nas diversas Ciências, o que pode ser con side rado um p o nto a fa vo r do n a tu ra lista . Do m esm o m o do que um a te o ria cie n tífica pode fu nc io na r co m o fo n te de m o d e lo s para novas áreas de inve stig a çã o c ie n tífic a 30, o co n h e cim e n to c ie n tífic o pode ser a fo n te de m o d e lo s para a in ve stig a çã o filo s ó fic a .3'

(16)

q u e d e s e m p e n h a , in te rm e d ia n d o e n tra d a s (e s tím u lo s o u

inputs),

s a íd a s c o m p o rta m e n ta is

(outputs)

e o u tro s e sta d o s m e n ta is.

O fu n c io n a lism o parece ser, na verd ad e, c o m p a tíve l co m duas m e ta físic a s d ife re n te s. A p rim e ira m e ta física c o m p ro m e te -s e c o m um d ualism o de pro priedades e disting ue as propriedades de seg und a-o rde m (relacionais, extrínsecas) que de fine m um tip o m e n ta l, das pro p rie d a de s físicas (intrínse ca s) que d e fin e m o tip o físico que realiza a q ue le 32. N o caso da "d o r", por e xe m p lo , suas pro p rie d a de s se ria m d is tin ta s das p ro p rie d a de s do tip o ce rebral que a realiza (por h ip ó te se , a "a tiv a ç ã o da fib ra C", em hu m an os). N essa prim e ira m e ta física , d u alista , n ã o-re d u tiv a , os tip o s m e n ta is tê m poderes causais au tônom os: a dor que sinto ao ser queim ado causa (diretam ente) a re tra çã o do m e u braço (um c o m p o rta m e n to ou e fe ito físico ).

A seg un d a m e ta fís ic a d e s titu i os tip o s m e n ta is (ou as p ro p rie d a d e s de s e g un d a -o rd e m ) de p ode r causal a u tô n o m o , id e n tific a n d o -o s co m os tip o s físicos (ou as p ro p rie d a d e s de p rim e ira -o rd e m ) que os realizam . N o exem p lo, a dor em h u m a n o s se ria id ê n tic a à a tiv a ç ã o da fib ra C. N a p e rs p e c tiv a d e s ta seg un d a m e ta física , o fu n c io n a lism o seria, no fin a l das co n ta s, co m p a tíve l co m a te o ria da id e n tid a d e (em bora as ide n tid a d e s sejam , agora, re s trita s a cada um a das espécies b io ló g ica s capazes de se n tire m "d o r"). N essa segunda m e ta física , os tip o s m e n ta is tê m po de re s causais so m e n te na m e did a em que são id ê n tico s aos tip o s físico s que os realizam . C aím os, desse m od o, num a po siçã o re d u cio n ista : não há prop rieda des m e n ta is alé m e a cim a de pro p rie d a de s físicas.

3.1 | O P r o ble ma d a Im p o t ê n c ia Ca us a l

dos Es ta dos Me ntais

0 ch a m a d o "p ro b le m a da cau sa ção m e n ta l" e stá no ce n tro dos de bate s a tua is e m Filosofia da m e n te . Os tra b a lh os de Kim sobre e ste te m a e xe m p lific a m , a m e u ver, u m a d e te rm in a d a m o d a lid a d e de e x e rc íc io m e ta fís ic o na F ilo s o fia c o n te m p o râ n e a , no que ta n g e ao seu g rau de d e p e n d ê n c ia c o m re s p e ito ao c o n h e c im e n to produzido no â m b ito das Ciências.

K im d e sen vo lve um a rg u m e n to segundo o qual os fisica lis ta s n ã o-re du tiv os (e v im o s que os p rim e iro s fu n c io na listas to m a v a m -s e co m o tal) ao a d o ta re m a

(17)

sup erve niên cia co m o a relaçã o adeq ua da e n tre p ro p rie d a d e s m e n ta is e físicas, c o lo c a m -s e fa c e a um d ile m a : "s e a s u p e rv e n iê n c ia - e n q u a n to re la ç ã o entre prop rie d a de s m e n ta is e as pro p rie d a de s da sua base física - vale, e n tã o a causação m e n ta l falha; se não vale, a ca usação m e n ta l é in co m p re e n síve l" (K im , 1999, p.46).

0 a rg u m e n to que fu n d a m e n ta um dos p o lo s do d ile m a , de fo rm a bem s in té tic a 33, a p re se n ta -s e da se g u in te m an e ira : se a s u p e rve n iê n cia é a relação e x is te n te e n tre p ro p rie d a d e s m e n ta is e p ro p rie d a de s física s (realizadoras) e se a d m itirm o s , além disso, o fe c h a m e n to causal do m u nd o fís ic o - e xclu in d o -s e ao m e s m o te m p o a p o ss ib ilid a d e de s o b re d e te rm in a ç ã o ca u sa l- e n tã o os estados m e n ta is p e rd e m p o d e r ca u sa l a u tô n o m o . C o rre -s e , e n tã o , o ris c o de ca ir no e p ife n o m e n ism o (um a po siçã o que, em bo ra co n siste n te , não é a c e ita p o r Kim e pela m aioria dos filó so fo s da m e n te ).

0 a rg u m e n to de Kim a d m ite , p o rta n to , os se g uinte s p re ss u p os to s: 1. a superveniência é a relação existen te e ntre propriedades m e n ta is e proprie­ dades física s (realizadoras). Isso sign ifica que um a pro p rie d a de m e n ta l não pode instanciar-se sem que se instancie, ao m esm o tem po, uma propriedade física, e a instan­ cia çã o de sta ú ltim a é n o m o lo g ic a m e n te su fic ie n te para a in sta n cia çã o da prim eira;

2. Há fe c h a m e n to causal do m u nd o físico . Trata-se de u m co m prom isso essencial do fis ic a lism o , que exclui a causação d e sc e nd e n te , ou seja, a possibilidade de um e ve nto m e n ta l causar, de fo rm a d ire ta - sem in te rm é d io de sua base física su b ve n ie n te - um e ve nto físico ;

3. Está excluída a possibilidad e de so b re d e te rm in a çã o causal, ou seja, de um e sta d o físico ser causado, ao m e sm o te m p o , p o r um e sta do m e n ta l e p o r um outro e sta do físico da base sub ve nien te ;

(18)

não te m

status

o n to ló g ic o . Em o u tra s pa la vra s, se a c e ita m o s a c o n c lu s ã o do a rg u m e n to de K im , os c o n c e ito s m e n ta is (co m o o de 'd o r'), na sua p re te nsã o de u nive rsa lida de (ou seja, de a p lica r-se a d ife re n te s e sp éc ie s b io ló g ica s: ho m ens, ca ch orros, g o lfin ho s, e tc .) não se re fe re m a algo no m u nd o (co m o, p o r exe m p lo , tip o s d e fin id o s p o r p ro p rie d a d e s de se gu n d a -o rd e m ) e m b o ra po ssa m e s tru tu ra r c la s s ific a ç õ e s c o n v e n ie n te s (d im e n s ã o p ra g m á tic a ) d o s e v e n to s a s s o c ia d o s c a ra c te ris tic a m e n te à m e n ta lid a de .

C om isso, a única m e ta física a ce itá ve l redundaria na id e n tid a d e m e n te -c o rp o res trita a e sp é c ie s: tip o s m e n ta is são idê n tic o s a tip o s físicos num a p a rticu la r espécie biológica (por e xe m p lo , d o r 0 ativa çã o da fib ra C e m hu m an os; d o r 0 a tiv a çã o da fib ra D em g o lfin ho s, e tc .). S a lvam os, de um lado, a in tu içã o da m ú ltip la in sta n cia çã o dos co n ce ito s m e n ta is. De o u tro lado, resgu ard am os o p o d e r causal dos esta do s (ou das pro p rie d a de s) m e n ta is sim p le sm e n te porque e ste s são co n sid e ra do s id ê n tico s a estado s físico s. M a s não haveria nada de o n to lo g ic a m e n te c o m u m às d ore s que sen tem os in divíd uos de d ife re n te s espé cie s b io ló g ica s.34

Se te m o s que in e v ita v e lm e n te ab ra ça r e sta (segunda) m e ta física , não m ais tería m os u m d u alism o de p ro prie da des e, p o rta n to , um fis ic a lis m o n ã o-re d u tiv o , que era a pro m e ssa inicia l do fu n c io n a lism o . C aím os, no fin a l das co n ta s, num a posição re d u cio n ista .

A s im plicações desse reducionism o são am plas. Em particular, co m o afirm a Kim, "... a po ss ib ilida d e da p sico lo g ia co m o um a ciê n cia te ó ric a capaz de gerar e xp lica çõ e s n o m o ló g ic a s do c o m p o rta m e n to hu m an o d e p e n d e da re a lid a d e da causação m e n ta l..." (K im , 1999, p. 31).

Se não há ca u sa çã o m e n ta l a u tô n o m a , e stá a b e rta a red ução da Psicologia à N e u ro fis io lo g ia , o u m e s m o a e lim in a ç ã o da p rim e ira . A s im p lic a ç õ e s pa ra a E pistem ologia e para a Ética ta m b é m se ria m dra m á tic a s.

E squem atizei a cim a um tip o de in cursão m e ta físic a que, a p a re n te m e n te , pouco ou nada d eve a co n h e cim e n to s espec ífico s, especializados, produzidos no âm bito das C iências. Em particu lar, Kim não se apóia e m ne nhum re su lta d o seja da Psicologia c o g n itiv a , seja da N e u ro fis io lo g ia para d e sen vo lv er o seu a rg u m e n to . N o m áxim o, p o d e m o s v e r o c o m p ro m e tim e n to c o m o fe c h a m e n to causal do m u nd o físico (o segundo pre ss u p os to que de staca m os) co m o te n d o um ca rá te r c ie n tific is ta : ele é m o tiv a d o , e m ú ltim a in stân cia , pelo sucesso do p ro gra m a das C iências físicas

(19)

desde o séc. XVII. Essa seria, dig a m o s, um a in flu ência m ínim a, poderia m e sm o dizer 'in d ire ta ', do c o n h e cim e n to cie n tífic o (ou m elhor, da sua dinâm ica pro gressiva) sobre a a rg u m e n ta çã o m e ta física que d e sen vo lve K im .35 Em outras palavras, o fisicalism o en qu an to po sição m e ta física ve m sendo c o n s is te n te m e n te fo rta le c id o pelo sucesso das C iências físicas.

E su gestivo co m p a ra r essa m o d a lid a d e de inve stig a çã o m e ta física com a que pro põe o na tu ra lista K ornblith. Seus re su lta d os são, in clusive, d ia m e tra lm e n te oposto s: Kim te nde para o redu cion ism o enquanto Kornblith, co m o vim os, desautoriza esse re d u cio n ism o em nom e da d ive rsidad e das ciê n cia s co n tem p orân e a s.

U m o u tro p o n to q ue g o s ta ria de fris a r, de p a s s a g e m , é o s e g u in te : a a rg u m e n ta ç ã o de Kim p re ss u p õe n o çõ e s co m o as de e v e n to ', 'e s ta d o ', 'tip o ', 'o co rrê n c ia '

[token],

'p ro p rie d a d e s' (de prim e ira e de orde m sup erio r), 'su bstân cia', 're la çõ e s', e tc .. Tais no ções p o de m ser o b je to de um a M e ta fís ic a Geral entendida, co m o quer Loux, co m o um a "te o ria das ca te g o ria s ". S eguindo um a das co ncepções de "M e ta fís ic a ", que e n co n tra m o s e m A ris tó te le s (ver nota 1), Loux vê a tarefa de sta área co m o a de "c o n sid e ra r to d a s as co isas que e xis te m e cla ssificá -la s

[sort

them]

nas esp écies m ais gerais a que são su b su m id a s" e xp licita n d o rela çõ e s entre as ca te g o ria s re su lta n te s dessa op eração (Loux, 1998, pp.13; 16-7).

Que participação o co n he cim e n to cie n tífic o pode te r nessa "M e ta fís ic a geral"? C olocar à disp osição do m e ta físico um a a m o stra g e m de o b je to s a p a rtir da qual o m e ta físico poderia, através de "p ro c e d im e n to s in d u tiv o s", ch egar às ca te go rias mais gerais? 0 tra b a lh o do m e ta físico te ria , nesse se n tid o, um grau m ais elevado de a b stra çã o - o que é co m p a tíve l co m a a u to -co m p re e n sã o que os filó s o fo s tê m a re sp e ito da e sp ec ificid a d e do seu tra b a lh o - e, ao m e sm o te m p o , isso seria ta m bém co m p a tíve l, creio, co m po siçõ es n a tu ra lista s co m o as d e fen did as por K ornblith, na m e d id a em que o trab a lh o filo só fico e o c ie n tífic o m a n te r-s e -ia m em co ntinuid ad e e a lim e n ta r-se -ia m m u tu a m e n te .

Loux a rgu m e nta, no e n ta n to , que d ian te dessa visão do e n vo lv im e n to das C iências no e m p re e n d im e n to m e ta físico , fica difícil co m p re e n d e r as divergências co m u n s e n tre os filó so fo s que a ele se de dica m :

(20)

to ta lid a d e . 0 fa to é, e n tre ta n to , que os filó so fo s d isco rd a m a ce rca das ca te g o ria s , d is co rd a m a re sp e ito de quais o b je to s há. N ão existe um co n ju n to dado de objetos sobre os quais todo s os m etafísicos co ncordam " (Loux, 1998, p. 14).

U m e xe m p lo dessas dive rg ê n cia s é o cha m ad o pro ble m a dos un iversa is, que opôs n o m in a lista s a re alista s. Para os n o m in a lista s não há pro p rie d a de s (e, p o rta n to , esp éc ie s), já que são un iversais, m as so m e n te (indivíduos) pa rticu la re s. Os rea listas, por sua vez, su põe m a e xis tê n cia de un iversais, ao lado de p a rtic u la re s... Essas d iv e rg ê n c ia s re v e la m um c e rto g rau de a u to n o m ia , p o rta n to , da e sp e c u la ç ã o m e ta físic a re la tiv a m e n te aos p ro d u to s da a tiv id a d e c ie n tífic a (m ais p re cis a m e n te , fre n te a um a a m o s tra g e m de o b je to s d e scrito s pelas C iências). Os filó s o fo s p ode m re je ita r as c a te g o ria s que p o d e ria m su b su m ir esses ob je to s.

T en tativas de ela b orar um a 'te o ria das ca te g o ria s ', co m o a de Loux- p o r m ais au tôn om as que sejam co m respe ito ao co n he cim e n to cie n tífic o - não devem , contudo, ser co n fu n d id a s co m tra b a lh o s que se a u to -d e n o m in a m de "Filo so fia da N atu reza", que a in d a se p u b lic a m h o je e m d ia , e que p re s s u p õ e m as ve lh a s c a te g o ria s a ris to té lic a s ou to m is ta s !36

3 .2 | O Ri sco de se Ge ne r a liza r o Ar g ume nto de Kim

V olte m os, porém , a Kim . Há um a im plicação incôm oda da posição red ucionista a que ele che ga: seu a rg u m e n to que, co m o vim o s, im plica na im p o tê n c ia causal dos tip o s m entais, não poderia ser generalizado e atingir os tipos (espécies naturais) de ou tra s C iências e sp ec ia is (co m o a G eologia, a Q uím ica, a B iologia, e tc.) re strin g in d o a p o tê n cia causal som e n te ao dom ínio dos tipos/pro prie dad es reconhecidos pela Física?

K im te n ta e v ita r essa g e neralização que re tiraria , em ú ltim a in stâ n cia , a a u to n o m ia de to d a s as C iências esp ecia is, levando a um re d u cio n is m o radical. Para ta n to ele d istin g u e as no çõe s de "o rd e m " (que se ap lica a prop rieda des) da noção de "n ív e l" (que se ap lica a e n tid a d e s, p o r exe m p lo , cé lulas, m o lé cu la s, áto m o s, partículas elem e ntares, e tc.). U m a propriedade de se gunda-ordem (que, com o vim os, é d e fin id a fu n c io n a lm e n te ) e um a p ro pried ade de p rim e ira -o rd e m são p ro prie da des de um m e sm o o b je to (e n tid a de ou sis te m a ). A m b a s as pro p rie d a de s a p lic a m -se , p o rta n to , a o b je to s num m e sm o nível:

(21)

"A série criada pela relação se g un da -orde m /rea lizado r não acom pa nha

[track]

a série ordenada de níveis m ic ro -m a c ro : ela m a n té m -s e in te ira m e n te d e n tro de um único nível na hierarquia m ic ro -m a c ro " (Kim , 1999, p. 82).

A d is tin ç ã o e n tre p ro p rie d a d e s de p rim e ira e de s e g u n d a -o rd e m não co rresponde, po rta nto, à distinção e ntre m acro-pro prie dad es de um a en tidad e (com o a "tra n s p a rê n c ia " da água) e as m icro -p ro p rie d a d e s dos seus c o n s titu in te s (no caso as pro p rie d a de s das m o lé cu las de h id rog ênio e de oxigê nio). Em o u tro s te rm o s , a relaçã o m ic ro -m a c ro é um a relação inter-níve is, enqu an to que a relação segunda- o rd e m /p rim e ira -o rd e m é intra-nível.

Kim ace ita , p o rta n to , a e xistê n cia de um a hierarquia de níveis o n toló gico s, cada um deles co n te n d o suas prop rieda des de p rim e ira -o rd e m e de se gunda-ordem , as prim eiras sendo as únicas p o te n te s cau sa lm en te. A ssim , em cada nível ontológico, que co rresponde a um a ciência particular, as propriedades de prim e ira -o rd e m situadas ne ste nível te ria m po deres causais irre du tíve is aos po deres causais de propriedades situ ad as num nível inferior.

D essa m aneira, Kim co n te sta Lycan que te n d e a co n fu n d ir "n ív e l" e "o rd e m " relativizando, p o rta nto , a ú ltim a noção: o que co n s titu i um a prop ried ade de segunda- o rd e m co m re sp e ito a um nível in fe rio r é, ao m e sm o te m p o - sugere Lycan- uma p ro prie da de de p rim e ira -o rd e m co m re sp e ito a um nível superior. Na e stru tu ra de níveis que Lycan (1999) propõe, há um a rela tivização da d ic o to m ia fu nç ã o /e stru tu ra , cada nível sendo "fu n c io n a l" co m relaçã o ao nível inferior, m as "e s tru tu ra l" com relação ao nível superior. 0 risco disso é a possibilidade de se generalizar o argum ento da su perve niên cia e se co n clu ir que so m e n te as pro p rie d a de s do nível m ais básico p ossu em p ode r causal.37

A n te s de co n clu ir esta seção go staria de m e n cio n a r o e lim in a tiv is m o com o um a a lte rn a tiva ao red u cio n ism o . R C hurchland de fen d e que a p sico lo g ia de senso co m u m

[fotk psychology]

seria um a te o ria falsa e, p o rta n to , não fa ria s e n tid o tentar reduzi-la, e sim e lim in á-la . Em ou tra s palavras, a ling u a ge m te ó ric a da psicologia in te n c io n a l- en volvendo esta dos de cren ça , de sejo, e tc .- não faria re fe rê n cia a nada no m undo.

(22)

e lim in a tiv is m o 38. N e m m e sm o a te o ria da id e n tid a d e parece ser um a ca n dida ta , já que e sta te o ria pressu põe a e xistê n cia dos tip o s m e n ta is da p sicolo gia in te nc io na l. O e lim in a tiv is m o ta lve z pressuponha, sim p le s m e n te , um m a te ria lism o m u ito geral e a re je içã o de to d a fo rm a de d ualism o, in clu sive o de p ro p rie d a de s.39

3.3 | Em Dir e ção a uma Filos ofia Natur alis ta da Me nte

In d e p e n d e n te m e n te dessa co n tro vé rs ia e m to rn o da p o tê n cia causal das e sp éc ie s na tu ra is nas ciê n cia s esp ec ia is, há filó s o fo s da m e n te co m o Lycan (1999) que, d is tin ta m e n te de Kim , te n ta m a p ro xim a r-s e m ais dos re su lta d os das C iências. Lycan, e m pa rticu lar, te n ta im p o rta r o c o n c e ito de 'fu n ç ã o ' co m o é e m p re g a do em b iolog ia (co m seu nítid o ca rá te r te le o ló g ic o ) para c o n to rn a r p ro ble m a s e n fre n ta d o s pelos fu n c io n a lis ta s 40.

A obra de D e n n e tt ta m b é m ilu stra um a m a io r p a rticip a çã o do c o n h e c im e n to c ie n tífic o e m te m a s de Filosofia da m e n te . 0 seu livro

Consciousness explained,

por e x e m p lo , s e rv e -s e e x te n s iv a m e n te de re su lta d o s o b tid o s nas diversas C iências co g n itiv a s. Em

Darwin's dangerous idea

D e n n e tt explora as im p lica çõ e s da te o ria d a rw in is ta , a p lica n do -a aos m ais dive rso s p ro b le m a s filo s ó fic o s (cf. nota 31).

É im p o rta n te assinalar que ao m e sm o te m p o e m que o tra b a lh o filo s ó fic o de D e n n e tt a p ro xim a -se do tra b a lh o c ie n tífic o , ele se co m p ro m e te m e no s co m um a p a rtic u la r m e ta físic a (e.g. co m um a p a rtic u la r re sp o sta ao pro b le m a m e n te -c o rp o ). 0 "fu n c io n a lis m o " de D e n n ett, p o r e xe m p lo , é m ais "m e to d o ló g ic o " e m seu ca rá te r do que "o n to ló g ic o ". Isso d e ve -se , a m eu ver, ao seu pro fessa do a n ti-re a lis m o co m re sp e ito às a trib u iç õ e s de esta dos m e n ta is (inte ncion ais) e de fu nç õe s aos sistem a s.

D e n n e tt d e fen de , p ra g m a tic a m e n te , a adoção de d ife re n te s p e rsp e ctiva s

[stances]

c o m re s p e ito a um sis te m a , d ife re n te s tip o s de d e s criç ã o /e xp lic a çã o , d e pe n d en d o de nossos in te re ss e s. A ssim , c o m re sp e ito a um te rm o s ta to , po de m os d e scre ve r o seu fu n c io n a m e n to a d ota n d o seja um a pe rsp e ctiva física, seja um a p e rs p e c tiv a de p ro je to

[design stance

]- e m que a tribu ím os fu n çõ e s reg ula tívas a esse dispositivo- seja, m esm o, um a perspectiva intencional-atribuindo'crenças', 'desejos', e tc . ("a titu d e s p ro p o s icio n a is ") a esse m e sm o siste m a (co m o su gerira M cC a rth y).

D e n n e tt é um "in s tru m e n ta lis ta " (um não-rea lista) co m re sp e ito à adoção de

(23)

um a dessas p e rsp e ctiva s [sfances] p a rticu la re s. N ão fa ria se n tid o , por exem plo, co m p ro m e te r-m o -n o s co m a realidade das a titu d e s p ro p os icio n ais atrib uída s a um te rm o s ta to ! De m od o m ais p o lê m ico , D e n n e tt ta m b é m é um in s tru m e n ta lis ta com re sp e ito às a trib u g õ e s que fa zem os ro tin e ira m e n te de e sta d o s m e n ta is intencionais aos nossos se m e lh a n te s, co m base na psico lo g ia do senso co m u m , co m o objetivo de prever o seu c o m p o rta m e n to .

A o rie n ta çã o de D e n n e tt é, co m o disse, m ais m e to d o ló g ic a : ela fa vo re ce as m e to d o lo g ia s "to p -d o w n " ad otadas pela ciê n cia co g n itiv a - c o m o a de sub-dividir um s is te m a c o g n itiv o em m ó d u lo s d e s e m p e n h a n d o d e te rm in a d a s fu n ç õ e s de p ro ce ssa m e n to de in fo rm a çã o - em d e trim e n to de m e to d o lo g ia s "b o tto m -u p " que, p o r e x e m p lo , p a rta m de um a d e s c riç ã o do s p ro c e s s o s n e u ro fis io ló g ic o s que 'su bja ze m ' aos p ro ce sso s co g n itivo s nos an im ais:

"(...) a té te rm o s um a co m p ree nsão clara e p recisa da a tiv id a d e do sistem a no m ais alto dos níveis "c o m p u ta c io n a is ", nós não p o de m os lid a r apropria dam ente co m q u e stõ e s d e ta lh a d a s nos níveis m ais ba ixos, ou in te rp re ta r os da dos que po dem os já te r sobre a im p le m e n ta çã o de p ro ce ss o s ne sses níveis m ais baixos" (D en ne tt, s.d., p. 29).

Na m e sm a dire çã o, Tyler Burge e Lynne Baker- e m sua p o lê m ica co m Kim- p ro p õ e m que se "re v e rta as p rio rid a d e s e n tre a m e ta fís ic a e a e x p lic a ç ã o ", privileg iand o as "p rá tic a s e xp lica tiv a s" que tê m su ce sso - c o m o as que a d ota m o s na p sicolog ia inte n cio n a l de senso co m u m - em d e trim e n to de po sturas m e tafísicas- co m o as inve stig a d as p o r Kim co m resp e ito ao p ro b le m a da cau sa ção m e n ta l (Kim, 1999, pp. 60 -1).

Kim, por sua vez, defende a "indispensabilidade da m etafísica", que resulta a seu ver de um "rea lism o" com respeito às nossas a trib u iç õ e s de a titu d e s pro posicionais: "A m e ta física é o dom ínio em que d ife re n te s lingu age ns, te o ria s, explicações e sis te m a s c o n c e itu a is se a p ro xim a m

[come together]

e tê m as suas relações on tológ icas m útuas explicitadas

[sortedout]

e esclarecidas. Que exista um tal domínio co m u m é o pre ss u p os to de um rea lism o a m p lo e não te n d e n cio so

[untendentious]

co m re sp e ito às nossas a tivida des co g nitiv a s. Se vo cê a cre d ita que não existe um ta l dom ínio co m u m , bem , isso ta m b é m é m e ta fís ic a " (Kim , 1999, p .6 6 ).41

(24)

p o rta n to , e v ita r um e n v o lv im e n to m ais d ire to c o m a M e ta fís ic a , à se m e lha nça, p o rta n to , dos cie n tis ta s . U m a e stra té g ia co m u m é a de co n v e rte r te se s m e ta física s em regras m e to d o ló g ica s. Por exem plo, ao invés de assu m ir a o ntolo gia funciona lista, p ro p õ e -s e m e ra m e n te um a m e to d o lo g ia "to p -d o w n ", co m o D e n n e tt. Popper, a de spe ito do seu realism o (nã o-essencialista), defendeu um a conversão m e tod oló gic a análoga com respeito à ca usalid ade . Isso não sig n ifica , e n tre ta n to , que o tra b a lh o de filósofos que adotam essa atitu de "deflacionista", bem com o o de cien tistas num regim e de "c iê n c ia n o rm a l" (Kuhn), se ja m to ta lm e n te livres de co m p ro m is s o s m e ta físico s.

3 .4 | Co nc lus ão

De um p o nto de vis ta n atu ra lista não faz se n tid o dem arcar, de fo rm a absoluta, o tra b a lh o filo s ó fic o do tra b a lh o c ie n tífic o , ta n to ao nível da natureza dos seus re sp e ctiv o s p ro d u to s te ó ric o s , qu anto ao nível dos m é to d o s em p reg ado s.

A Filosofia, e m p a rtic u la r a M e ta físic a , que e sta m o s e n focan do ne ste te x to , d is tin g u e -s e da C iência so m e n te quanto ao grau de g e neralid ad e e de a b stração dos seus pro duto s. Q uanto m ais geral e a b stra to o pro d uto (ou o problem a enfocado), m e n o s d e p e n d e n te é a e sp e c u la ç ã o m e ta fís ic a de re su lta d o s p a rtic u la re s das C iências. Q uanto m e n o s geral e a b stra to , m ais a espec ulaç ão m e ta física pressupõe conhecim e nto científico (em pírico) específico. Na outra direção, podem os supor que quanto m ais 'fundacional' e abstrato é o trabalho desenvolvido pelos cientistas, m ais ele se ap ro xim a da e sp ec ulaç ão m e ta física e filo só fica e m geral. A s discu ssõ es atuais em to rn o das in te rp re ta çõ e s da M e câ n ica Q uântica são e lo que ntes nesse c o n te x to .42 N o p lan o m e to d o ló g ic o , d e pe n d en d o do tip o de p ro b le m a e n fo ca d o , os m é to d o s e m p íricos

[data-dríven]

são cla ra m en te lim ita d o s e pre cisa m os nos apoiar em co n stru çõ e s te ó ric a s, em m é to d os

theory-driven,

m ais especulativos , ou m esm o lançar m ão de

Gedankenexperimente

e vários tip o s de sim ula çã o. Os m é to d os m ais especulativos não são "p ró p rio s " da Filosofia- podem ser e são, e fe tiva m e nte , usados em áreas de p onta nas Ciências (ou em pesquisas de fu n d a m e n to s). 0 uso exte nsivo que se fez de experiê n cia s de pe nsa m en to na física re la tiv ís tica e qu ântica é um exe m p lo disso.

A im a g e m do barco de N e ura th, em bo ra não tenh a rep re se n ta d o , de fo rm a

(25)

algum a, a posição que se to rn o u d o m in a n te e n tre os e m p iris ta s ló g ico s no to ca n te ao rela cio n a m e n to e ntre a Filosofia e a C iência, m a n té m -s e um a su gestiva ilustração da in te rd e pe n d ên cia e n tre essas áreas.

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