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UNIOESTE - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

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Autorização concedida ao Repositório da Universidade de Brasília (RIUnB) pela editora, em 06

de fevereiro de 2014, com as seguintes condições: autorizo a divulgação no sítio da UnB dos

artigo publicados em nossa revista.

Authorization granted to the Repository of the University of Brasília (RIUnB) by the publisher,

at February, 6, 2014, with the following conditions: authorize disclosure in the UnB website all

articles published in our magazine.

(2)

C

a m pu sd e

T

o l ed o

Tempo da Ciência

Volume 10 Números 19 e 2 0 I ° e 2o semestres 2003

(3)

Nad a e n eg ação (En t r e Wit t g en st ein e Sar t r e)

lu lio Cabrera/

RESU M O : N est e t rab alh o se m ostram em ação d o is est ilo s d e p ensam ento d if er en t es acer ca d a Questão d o n ad a e d a n eg ação , o s ap resen t ad o s p o r Wit t g en st ein e Sart re. Num p rim eiro m om ento, arrisca- se um co n fro n to ent re am b os, co n t ra as p rát icas usuais d e m anter o s p ensad ores em seu s m arcos d e referên cia, sem m istura- los ou cruzá- los. Part in d o d e um a in tu ição com um (a t o t al "af irm at ivid ad e" d o m u nd o), chega- se à tratam ent os op osto s d a Questão, num viés p ro p o sicio n al em Wit t g en st ein , ou ex p erien cial em Sar t re. Num caso, a af irm at ivid ad e d o m und o é levad a à p ro p o sição ; no o ut ro , a n eg ativid ad e da ex p eriên cia (hu m ana) é levad a p ara o m und o. Num seg un d o m om ento d o t r a­ b alh o , t en t o m o st rar co m o um a d as teses cen t rais d a m inha “ét ica n eg ativa" p recisa, ao m esm o tem p o , d e elem en to s p ro p o sicio n ais w itt g en st ein ean o s e ex p erien ciais sartrean o s p ara a sua co rret a fo rm u lação .

PA LAVRA S- CH A VE: Nada- negação; proposicional; ex periencial (ex istencial); ética.

A BST RA C T : Sar t r e an d Wit t g en st ein ex h ib it tw o rat h er d if f er en t st yles o f p h ilo so p h ical t h in k in g co n cern in g th e issu e o f n eg atio n and not hin g n ess. In th is pap er, I f irst in ten d som e co m p arison b etw een them , ag ainst usual acad em ic at t it u d es o f iso lat io n . St ar t in g from a com m om r o o t (t h e id ea o f th e p lain afirm ativen ess o f th e w o r ld ), b oth th in k ers arr ive to very d if feren t p laces, via p r o p o sit io n al an alysis o r via ex ist en cial p h en o m en o lo g y: in o n e case, th e afirm ativen ess o f th e w o rld is tran sp o sed to p ro p o sit io n ; in th e o th er o ne, the n eg ativen ess o f ex p erien ce is taken to th e w o rld . Seco n d ly, I try to sho w how o n e o f th e m ore cru cial theses o f m y "n eg ative et h ics" (th at co n cern in g th e lack o f sen sib le and m oral valu e o f hum an life) need s a fo rm u latio n in clu d in g b oth p ro p o sit io n al and p h en o m en o lo g ical p ieces o f arg um ent and in tu it io n s. K EYW O RD S: N o t h in g n ess; N eg atio n ; Pr o p o sit io n al; Ex ist en cial; Et h ics.

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In t r o d u ç ã o

Certos estilos d e p en sam en t o tratam da negação com o d e um fenôm eno p uram ente ling ü ístico ou p ro p osicio nal. Trata- se, com o em Witt g en stein , d o mero sinal de negação, da sua inserção na linguagem , das proposições negativas e da sua relação referencial com o m undo. Outros estilos de pensam ento (com o o heideggeriano- sartreano) tratam da negação em relação a um tip o p eculiar de ex periências. A o longo d e m eu percurso filosófico, tenho m e d ebatid o entre estes d ois estilo s d e pensam ento, entre um a filosofia da linguagem logicam ente articulada, e outra ex pressa em ex periên­ cias2. Neste texto, ouero repensar a Quest ão d o negativo, d o nada e da n eg ação neste viés m etafilosófico de confronto entre estilo s d e pensam ento. N o final, falarei sob re a negatividade na ética, à luz desta indag ação m etafilosófica.

Isto será feit o com o Que flu tu an d o en tre d o is filó so fo s Que m e acom p a­ nham d esd e sem p re na m inha cam inhad a reflex iva: Wit t g en st ein e Sart re. O "en t re” d o t ít u lo é p ro p o sital: alu d e a um a reflex ão p ró p ria, vag am ente in sp irad a nestes p ensad ores. N ão m e p ro p o n h o “ ex p o- los" nem m uito m enos “ in terp ret a- lo s” , mas ap enas usa- los com o am ostra d o t ip o d e f ilo so far o scilan t e Que ven h o d esen vo l­ ven d o d esd e a d écad a d e 9 0 , e já ex em p lificad o em vário s tex tos an terio res3. Este est ilo ex p o sit ivo tent a m o strar d e Que form a certo s p rob lem as (co m o a neg ação ) são m elh or tratad o s Quando não resp eit am o s os lim it es acad êm ico s im p o sto s hoje fo rtem en te ao p ensam ento, t ais co m o “ filo so fia an alít ica” , “ f ilo so f ia co n t in en tal", et c. D e Sart re e Wit t g en st ein m e interessa ex clu sivam en te o o u e e|es possam o fe­ recer p ara ex p rim ir a m inha reflex ão so b re nada e neg ação4.

1. Pen sa n d o c o mWit t g en st ein s o br en eg a ç ã o pr o po sic io n a l.

1.1. N eg ação e falsid ad e.

A Questão oue, em g eral, p arece cru cial a resp eito das p ro p o siçõ es nega­ tivas, é a sua relação com o m undo. Há alg o d e negativo no m undo, ou a neg ação é apenas um recurso da linguagem , ou am bas co isas? A o n d e está o neg ativo? Em seu estilo anunciativo, freoüentem ente ob scu ro e sem pre sem alternativas, Wit t g en stein parte, no Tractatus. de alg o assim com o de um a “ ont olo g ia ló g ica", ond e o m undo estaria com posto de fatos oue “estão ai", com ind ep end ên cia d e nossa vontad e. O

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Nad a e negação (En tre Wittgen stein e Sartre)

m undo ap arece com o o oue sim p lesm ente É. (Tractatus. 1-1.2, 2 ). Po d eríam o s ex p ri­ m ir esta id éia d iz end o oue o m undo é “ pura afirm ativid ad e” . Entretanto , esta m aneira de falar é arriscad a, p oroue in tro d u z iria no m undo um a d u alid ad e oue ele não ad m i­ te, a d o afirm ativo/ negativo. M as m e p erm it irei, p or enouanto, falar do m undo com o pura afirm ativid ad e, som ente p ara acen tuar o contraste com a p ro p o sição negativa.

A est ru tura cap az d e fig u rar o m undo (2.1-2.225) é a p ro p o sição ele­ m entar art icu lad a (3.1- 3.3, 4.0 1 ). Est a p areceria estar, Quando é verd ad eir a, em p lena sin t o n ia com a p ura “ af irm at ivid ad e" d o m undo. M as a p ro p o sição em geral carreg a, d e m aneira essen cial, a art icu lação afirm ativo / neg ativo , e isto , p elo m e­ nos, d e duas m aneiras: p ro p o siçõ es p od em ser n eg ativas, p ro p o siçõ es p od em ser falsas. Est es são d o is tip o s d if eren t es d e n eg ativid ad e. É o p rim eiro t ip o ou e nos faz ab an d o nar o p atam ar d a p ro p o sição elem entar: elem en tares p odem ser falsas, m as não neg ativas. Q u e as p ro p o siçõ es sejam neg ativas (o u e tenham elas a o co r­ rên cia d e um “ não” em algum lu g ar), p arece um a caract eríst ica sin t át ica o ue se p od e ap o n tar com o d ed o ; o ue as p ro p o siçõ es sejam falsas, p elo co n t rário , p arece um a relação d elas com o m und o. Q u e estas duas n eg ativid ad es, a p r in cíp io , não co in cid em deix a- se ver no fato d e, às vez es, p recisarm o s neg ar as nossas p ro p o ­ siçõ es p ara elas "afin arem ” com o m und o, ou seja, p ara elas serem verd ad eiras (co m o em “ Plat ão não está vivo ", “ N ão estam os no sécu lo X X " , "N ão ex istem filó so fo s na U SP” , et c). D e tal m an eira, p ro p o siçõ es afirm ativas p od em ser falsas, p ro p o siçõ es neg ativas podem ser verd ad eir as. Im p o rtan te é ver o u e a p ro p o sição (afirm at iva ou n eg ativa) p o d e d iz er ou não o oue é o caso (4 .02 3 , 4 .02 4 ).

M as "não p " e “ falso ou e p " (d ig am os, “ Platão não vive" e “ É falso oue Platão vive") parecem d iz er o m esm o. Isto p areceria aprox im ar neg ação d e falsid ad e: negar p é a m esm a co isa o ue d iz er o ue p é falsa. M as Quando a neg ativa “ não p ” é verd ad eira (com o em “ Plat ão não vive” ), ela é sem pre eo u ivalen te à falsid ad e d ao u ilo oue ela nega (“ Platão vive" é falsa).

A

q u í

I

o oue ela nega é falso, m as ela m esm a,

ap esar d e neg ativa - ou em vir t u d e d e sê- lo - é verd ad eira. “ N ão p " p o d e ser vista com o um a p rop osição elíp t ica, Querendo d izer: “ 'não p ’ é verd ad eira" (ou: é o caso ). A neg ativid ad e da p ro p o sição “ não p " não lhe im pede ser verd ad eira (p elo co ntrário, é isso o oue a cond uz à verd ad e), m as ela, "não p ", d iz o m esm o ou e "falso ou e p ". A p ro p o sição oue, ao falar d e “ p ” , d iz oue “ p ” é falsa, d iz o m esm o oue a p rop osição oue, ao falar de "não p ", d iz o ue "não p ” é verd ad eira. N eg ativid ad e e falsid ad e continuam , p ois, d iferenciad as: o o ue a p ro p o sição neg ativa afirm a não é o m esm o oue a p ro p o sição falsa afirm a. O o u e a p ro p o sição afirm ativa falsa afirm a não é o caso; o Que a p ro p o sição neg ativa verd ad eira afirm a, é o caso.

(6)

Mas é cu r io so Que, en Quant o n ão p recisam os, em g eral, acrescen t ar “é ver d ad eir o " à "p " ou a "n ão- p " Quando estas são verd ad eir as (a t eo ria da verdad e

co m o r ed u n d ân ci a) - p o is Quan do d i z em o s "Plat ã o n ão vive", n ão p r eci sam o s

d iz er " ‘Plat ão n ão v iv e ’ é ver dadeira" - p recisam os acrescen t ar “é falso ” à "p ” ou à “ n ão- p ” Quan do estas são falsas. A falsid ad e n ão é, p o is, red un d an te. Se alguém falasse: “ Plat ão vive” e ficasse calad o , e lhe resp ond esse- m o s Que se eouivoca, o u e Plat ão não vive, e ele rep licasse: “Sim , eu sei; Quan do d isse 'Plat ão vive’ eu

Qu eria d izer algo co m o “ ‘Plat ão v iv e ’ é falsa", n ão aceitaríam o s esta ex p licação. Po is a falsid ad e é alg o Que se d eve d eclarar. D iz er Qu alQu er co isa (afirm at iva ou n eg ativa) e ficar calad o , é com o p ro clam ar a verd ad e d o o u e está send o d it o , até novo aviso . A falsid ad e, p elo co n t rário , tem Que ser “ avisad a".

A ssim , em lu g ar d e d i z er “ ‘Plat ão vi ve’ é f al sa” , p o d em o s u t iliz ar , em vir t u d e d o oue f o i d it o , o sin al d e neg ação, e d iz er: "Plat ão não vive". M as tam bém ao u i p r eci sam o s acr escen t ar um sin al (o sin al “ n ão ” ) p ara d i z er Que alg o n ão é o caso, en ouanto o ue não p recisam os d e um sin al "si m " p ar a d iz er ou e alg o é o caso . O “ s i m ” é red u nd ant e, e é p o r i sso o u e n ão p r ecisam o s d e um o p erado r “ sim ”

em n o sso s cálcu lo s ló g ico s. E co m o se a rea l i d a de f o sse d e tal n at u r eza Qu e as

p r o p o si çõ es “ em f avo r " d ela n ão p r ecisassem ser ex p licit ad as: ap en as as Que vão "co n t r a" d a realid ad e o p r ecisar iam . É co m o se as co i sas já est ivessem “ a l i ” , de m an eir a Que d i z er Que elas são o caso co n si st e em sim p l esm en t e alu d i- las; Quan ­

d o Qu er em o s d i z er , p e l o co n t r á r i o , Qu e algo n ão é o caso , i s t o d e ve s e r ex p l i ci tado .

Par a rejeitar precisam os faz er alg o; p ar a confirm ar, é su f icien t e ficar Quieto. M ais t ar d e vo l t ar ei p ar a est a i n t u ição d a “ p r im az i a da af i r m ação ” , já n o p lan o d a ética.

1.2. Fato s n eg ativo s?

O

Que

co rresp o nd e, no m undo, a uma p rop o sição n egativa verd ad eira? Pro ­ posições negativas não são m ais elem entares, m as “ m oleculares". Isto já p arece afasta-

las da p ossib ilid ad e d e figurar o m undo. Po is p arece p rivileg io das elem entares verda­ d eiras figurar algo (o dar- se d e um estado d e coisas), corresp ond endo plenam ente ao

m ero “ dar- se" d o m undo. A s elem entares verdadeiras dizem o

Que

é o caso, dizem

Que

os ob jetos se com binam de certa m aneira.

"A especificação de todas as proposições

elementares verdadeiras descreve o mundo completamente"

(4 .2 6 ). Isto p arece fazer com

Que

as negativas verdadeiras, se pretendessem ser figurativas, não possam d izer com o o m undo é: no m undo não há “fatos negativos"

Q

ue

lhes correspondam 3. M as o

(7)

Nad a e negação (En t re Wit t g en st ein e Sartre)

p onto é oue, às vezes, precisam os da negação para m udar de sentido a p roposição e assim ating ir o m undo: ao negar oue Platão está vivo, conseguim os d iz er o cjue é o caso. Trata- se da atualização d e uma p o ssib ilid ad e do espaço lóg ico com o outra oual- ouer. Se não há "fatos negativos", sig nifica cjue o m undo é um só ("plenam ente afirm a­ tivo", p oderíam os dizer, usando a term inolog ia p erigosa), e oue as proposições nega­ tivas referem - se ao m esm o m undo oue as afirm ativas, oue o m esm o m undo oue torna verd ad eiras as p rop osições afirm ativas, torna verd ad eiras as negativas. À s p ro p osi­ ções negativas correspondem , sim plesm ente, fatos, nem afirm ativos nem negativos.

Para in d icar o caráter to talm en te "afir m at ivo " d o m undo, se p o d eriam u t iliz ar conex ões lex icais tais com o as oue ex istem entre “ estar vivo " e "est ar m orto” , p o r ex em plo, e d iz er oue à p rop osição negativa “ Platão não está vivo " co rresp ond e o fato, p lenam ente afirm ativo, d e Platão estar m orto (em lug ar d e nom ear um fato com o sinal d e “ não" - com o em "Plat ão não está vivo " - p on d o assim a neg ação no m und o). Se p oderiam u t iliz ar paráfrases sem elhantes em o utros casos, m esm o Quando a conex ão lex ical en vo lvid a não fosse an alítica: p or ex em plo, em lugar de d iz er oue a p r o p o sição n eg at iva “ Lo n d res n ão é a cap it al d a Fr an ça” é ver d ad eir a p o r co rresp o n d er ao fato (n eg ativo ?) d e Lond res não ser a cap ital da França, p odem os d iz er o ue a tal p ro p o sição corresp o nd e o fato, p lenam ente afirm ativo, d e Paris ser a cap ital da França. Se é fato Que Paris é a cap ital da França, “ Lond res não é a cap ital da Fran ça" é verd ad eira em virtu d e d esse fato; e assim p or d iante. M as não há ló g ica no Tractatus para conex ões lex icais d e Qualouer tip o, nem sen sib ilid ad e para cap tar tod as as form as d e negação oue ex istem na linguagem , e oue não se utilizam d o sinal 7“ não” (não apenas a antonim ia - com o em vivo / m o rto ), m as tam bém ex pressões com o "ap át rid a", “ in co nscien te", e t c )6. Aten d en d o para esses outros recursos para negar, a tentação d e im ag inar “ fatos neg ativos" p o d eria t er sid o m enor. Po is o p ro­ b lem a era em oue lug ar do m undo co lo car o “ não" d a p ro p o sição negativa.

E o Que aco n tece com o falso ? O o u e é Que co rresp o n d e, no m undo, à um a p r o p o siçã o f alsa (af ir m at iv a ou n e g a t iv a )? À s p r o p o siçõ es f alsas n ão co rresp o n d e rig oro sam en te n ad a. O o ue não é o caso, sim p lesm ent e, não é, não está ai. não p recisa t er Qualouer “ rep resen tant e n eg ativo ” no m undo, ap esar d o falso ser um a leg ít im a p o ssib ilid ad e d en t ro d o esp aço ló g ico , d esd e o ue as p ro p o ­ siçõ es falsas têm sen tid o (se não o tivessem , nem falsas p o d eriam ser ) (4.061- 4 .0 62 , 4 .0 6 21 ). Wit t g en st ein d iz o u e “ p r o p o siçõ es são co m o f lechas” (3 .1 4 4 ).

O ra, a flecha ver dadeira (afirmat iva ou n egat iva) e a flecha falsa (afirmat iva ou

n egat iva) rem et em ao m esm o alvo, p orém em d ireçõ es op ostas: a p rim eira crava- se n ele, a seg u nd a sai d isp arad a em d ir eção co n t rária. (4 .0 6 41 ). Esta ú lt ima n ão

(8)

ap onta p ara um não- fat o, mas, sim p lesm en t e, d eix a d e ap on tar p ara um fato, para

alg o o u e é o caso . Wit t g en st ein se afasta assim da t en d ên cia d os filó so fo s de h ip o st asiar a negação, p ro jetan d o o n eg ativo num m und o Que é “ p ura afirm ação ".

Nesta m inha leitura, o co rreto seria, para co nseg uir a ad eouad a relação linguagem / m undo, não oue a linguagem levasse a neg ação p ara o m undo, m as, p elo co ntrário, o ue o m undo levasse a pura afirm ação para a linguag em : p ara um m undo totalm ente afirm ativo, um a p ro p o sição totalm ente afirm ativa. M as com o seria isto p o ssível? Com o p odem os viver sem a negação, em sua d u p la dim ensão, ou seja, sem negar as nossas p ro p o siçõ es (p ara elas afinarem com o m und o), e sem a p o ssib ilid a­ de d elas não afinarem com o m undo em ab so luto (ou seja, d elas serem falsas)? O

id eal seria oue tod as as p rop osições verd ad eiras (afirm ativas ou neg ativas) tivessem com o m undo a m esm a relação p uram ente afirm ativa das elem entares verd ad eiras, o ue a sua com p o sição lóg ica (p o r ex em plo, a sua com p o sição neg ativa) estivesse o m enos afastada p ossível d o p lano elem entar, ou oue as p rop osições com plex as esti­ vessem vin cu lad as às elem entares m ed iante vín cu lo s internos.

A r esp o st a ao p ro b lem a d a af irm at iviz ação d a p r o p o sição (p ara ela corresp ond er à plena afirm atividade d o m undo), nas pegadas wittgensteineanas, pare­ ce ser alg o com o o seguinte: no caso das p rop osições negativas verdadeiras, p recisa­ m os d e um recurso cap az de “em b utir" a negação d entro da p rop osição; com isto, ficaria m inim izad a a tentação ontológ ica d e dar um a referência m undana para a nega­ ção. N o caso das p ro p osiçõ es falsas (afirm ativas ou negativas) tratar- se- ia de algo mais forte, d e uma esp écie d e elim inação . A total afirm ativid ade d o m undo "em p arelha­ ria" as negativas verdad eiras com as p roposições afirm ativas correspondentes, e sim ­ plesm ente elim inaria as proposições falsas. Vejam os com o isto funciona.

1.3. O charm e d iscret o d o “stro k e” d e Sch eff er.

O "em b u t id o " d a neg ação na p ro p o sição d eve ser o b t id o at ravés d e al­

gum t ip o d e "n eg ação in tern a” . Wit t g en st ein acred it a en co n t rar essa neg ação na “ b arra" ("st r o k e") d e Sch ef f er ("/ ") (5.1311). Mediant e esta neg ação p od em ser d ef i­ nid as tod as as co nst ant es ló g icas d e Frege e Ru ssell, com o o u e se m o st raria não serem elas g enuínas p rim it ivas. A neg ação usual é red u z id a d esta m aneira:

~ P (P/ P)

A p ro p o sição at ôm ica é ex p and id a assim :

P o (P/ P)/ (P/ P)

(9)

Nad a e negação (En t re Wit t g en st ein e Sart re)

Ist o leva Wit t g en st ein a co n ceb er

Q

ue

a t otalid ad e das p rop osições, seja Qual for o seu nível de com plex idade, p oderá ser g erad a a p artir das atôm icas (5.2-

5.2341), u t ilizan do som en t e a negação in t ern a d e Sch effer. (5.32, 5 .4, 5 .4 2 ). A sup er­ fluid ad e da neg ação usual co nsistiria em seu caráter ex terno ao negado. O “/ ” faz p art e essencial d o o ue Wit t g en st ein chama “forma geral d a p ro p o sição ” , um m eca­

nism o recu rsivo cap az d e g erar a t otalid ad e das p rop osições a p art ir das atôm icas (5.5- 5 .5 1 l;6 - 60 0 2 ), r ecu rso o u e co n st it u i, p ara ele, a ú n ica co n stan te ló g ica d o

Tractatus (5 .4 7 ). O funcionam ento d este recurso m inim iza a p róp ria d iferença entre p rop osições elem entares e não elem entares (já Que se ap lica a am b as), e in clu sive entre verd ad eiras e falsas: ele gera cegam ente to d o t ip o d e p rop osição a p art ir d e um certo p o nto d e p art id a (um “ im p u t” ). O recu rso é com o um a d efin ição em uso, p uram ente form al, da p ró p ria noção de p ro p o sição (GLO CK, 1998, p. 183).

Est e recu rso tran sfo rm aria to d a e Qualo uer p ro p o sição num a sucessão de n ivelan d o tam b ém sin t at icam en t e to d as as ex p ressões. Assim co m o não p recisam o s d e um o p erad o r “sim ” o ue d eva acrescentar- se às p ro p o siçõ es afirm a­ tivas, p o is já b ast a com a p ró p ria afirm ação , d e m aneira sem elhante não p r ecisa­ m os m ais d e um o p erad o r “ não” ou e deva acrescentar- se à p ro p o sição neg ativa. O recu rso co n seg u iria levar a p ro p o sição p ara o n ível d e to tal af irm at ivid ad e d o m undo, faz en d o com o ue a p ro p o sição tenha as suas p ró p rias n eg ações co m o “ em b ut id as". M as ao ui, novam ente, não se co m p reen d e a vantagem d e p assar da ling uag em o rd in ária, Que p ossui m ú lt ip las m aneiras d e negar, p ara a linguag em form al, o ue tem ap enas um a (o “ não ” ), send o o u e m uitas d aou elas m ú ltip las m a­ neiras (co m o “ estar m o rt o ", “ ap átr id a” , "in co n scien t e” , et c) “em b utem " to talm en te a negação, se rendem d iant e da "afir m at ivid ad e" d o m undo, Que é o oue Wit t g en st ein p ret end e co n seg u ir com o “stro k e” d e Sch eff er. (É p o ssível oue sejam co n sid era­ ções d est e t ip o o u e levaram Wit t g en st ein a r ejeit ar d ep o is o o ue co n sid erava p o ­ b reza an alít ica d a ló g ica form al no estud o d a ex ub erância da ling u ag em ).

A sit u ação d o neg ativo em bases p uram ente lo g ico - p ro p o sicio n ais, na lin h a d o T ract at u s. não é, p o is, das m elh o res: a n eg ação usual é lo g icam en t e su p érflu a; a “ neg ação in tern a" é ap enas um recu rso g erad o r d e p ro p o siçõ es, das Que não im p o rta se são neg ativas ou afirm ativas. Po r últim o , a falsid ad e não o cu p a lug ar nenhum no m und o. O t riu n f o da af irm ativid ad e p arece, p ois, to tal. O neg a­ tivo ap arece com o alg o sem p resença no m undo.

(10)

2. Pen sa n d o c o m Sa r t r eso br en eg a ç ã o ex ist en c ia l. A c o n c epç ã o sa r t r ea n a d a

pr o po siç ã o.

2.1. Ex p eriên cias n egativas.

Na ótica wittgensteineana, toda a questão da negação se resolve no plano da linguagem , entendida com o estrutura objetiva. Mudem os de p erspectiva filo sófica para ver se as coisas m elhoram para a negação, na sua atorm entada relação com o mundo.

O p o n t o d e part ida sart r eano parece cu r io sam en t e sem elhant e ao de

Wit t g en st ein . O ser é, co m o o t Ve/ íw ittg ensteineano, pura p o sitivid ad e, ele sim p les­ m ente É, está ai, rejeita QualQuer tip o d e negação. A esta form a d e ser, Sart r e chama

“ser em si” . Ele

"(...) não mantém relação alguma com o Que não é. (...) É o Que é

(...)" Ele não im plica nenhuma negação, é "(...) plena positividade"

(SN , In t ro d u ção ,

seção V I, p. 3 9 ). Co m o se vê, Sart r e u t iliza aoui, sem escrú p u lo s, a t erm in olog ia p erig osa, m as é p lenam ente co nscient e dos p erig os: ele d iz o ue a co nsistência do ser- em - si acha-se

"...além da negação e da afirmação. Afirm ação é sempre afirmação

de alguma coisa, çuer dizer, o ato afirm ativo se distingue da coisa afirm ada..."

(SN ,

p. 3 8 ), en ouanto Que o ser- em - si n ão p o d eria ser d it o “afirm ativo ",

"por excesso de

plenitude"

(ld ). M as o dar- se d o m und o (a sua “p lena af irmat ividade") n ão vem aoui

ex pressa, co m o em Wit t g en st ein , através do m ero dar- se d e “fatos", m as com o um m odo d e ser. D e todas form as, trata- se d e uma estru t u ra cuja p len it u d e p arece rejei­

tar tod a negação. M as enouanto, na “ont olo g ia ló g ica" d e Wit t g en stein , esta rejeição da neg ação p or parte do m undo apenas tinha um efeito n orm aliz ad o r do regim e das p r o p o siçõ es s ig n if ic a t iv a s e v e r d a d e ir as d a lin g u ag em , p ara a “ o n t o lo g ia feno m enoló g ica" de Sart r e tal rejeição p erm it e uma an álise m inuciosa

daouele parti­

cular tipo de ser Que fica excluído do ser,

aouele Que Wit t g en stein deix a sem análise, nos lim ites ind iz íveis da linguagem e d o m undo.

N o contex to w ittg ensteineano, se afirm o alg o com o "M ax não estava na estação Quando foram receb e- lo” , refiro- m e apenas a um fato p o ssível n o espaço lóg ico

de possib ilid ad es, a alg o oue, sendo o caso, tornará aouela p rop osição verdadeira. M as a ação de ir receb er um a pessoa na estação e N ÃO en cont ra- la ali p o deria ser algo

m ais do oue um m ero fato no espaço ló g ico de possib ilid ad es; poderá ser um a ex peri­ ência no espaço fenom enológ ico de ações e ex pectativas, um tip o p ecu liar d e ex periên­ cia hum ana Que pode ser fenom enologicam ente d escrita. M esm o oue seja incab ível

(11)

Nad a e negação (En t r e Wit t g en st ein e Sart r e)

faiar-se em “ fatos n egativos” , poder- se- ia falar em “ ex p eriên cias negativas” . O negativo

o u e co rresp o n deria às p rop osições negativas verdad eiras (com o aouela sob re o não com p arecer d e Max à estação) pod erá co nsistir num certo registro d e ex periências.

É certo cjue o m undo, para Sart re, é indep endente da m inha liberdade. Mas, v»

p o r o u t ro lado, a liberd ade tem

um

t ip o d e ser o ue p o sitiva a-exclusão da

Qual

ela é objeto, pondo “em atividade” a sua própria negatividade, “furando” o m undo d o Qual fora ex clu­ ída, entrando novam ente nele d e "penetra” (o hom em é o "p enetra" d o ser, se poderia d izer).

“ O nada não pode senadificar a não ser sobre um fundo de sei2'

SN , 6 4 ). Se um

nada po d e ex istir é

"no bojo do ser, em seu coração, como um verme"

(Id ). A sua ex clusão d o sèr constitui seu esp ecífico m odo d e ser. Isto Sart re m ostra prim orosam ente em suas

análises d a interrogação, a d est ruição, a ausência e a d istância, na Part e 1 d e SN . Ele

m ostra, cont ra Wit t g en st ein , a ex ist ên cia d e negpções ob jetivas, não com o pretensos

“fatos negativos”, mas com o tipos d e ações hum anas num m undo oue as ignora.

O m u nd o o u e ig n ora a neg ação receb e co m o resp osta, em Wit t g en st ein ,

o t o t al su b m etim en to d a p ro p o sição à af irm ativid ad e d o m und o, at ravés d o p ro ­ cesso d e in co rp o ração d a n eg ação via Sch ef f er e a t ravés da elim inação d as p r o p o ­

siçõ es falsas. O m u n d o o u e ig n o ra a neg ação r eceb e co m o resp o sta, em Sart r e, a su b versão d o n egat ivo ex clu íd o n a form a d e um a p art icu lar fo rm a d e ser, cap az d e ter "ex p eriên cias n eg ativas". Long e d e sub m eter- se à af irmat ividade d o m u nd o, o

n egat ivo hum an o (o u e Sa rt r e cham a Para- si) alag a o m u n d o d e n egat ividade. W it t g en st ein leva a af irmat ividade d o m u n d o para a p ro p o sição ; Sa rt r e leva a

negat ividade da ex p er iên cia p ara o m u nd o.

2 .2 . Po ssib ilidades ló g icas, p o ssib ilidades viven ciais.

A q u í, a passagem d e p ossib ilid ad es puram ente lóg icas p ara p ossib ilid ad es fenom enológicas é fundam ental:

“O mundo não revela seus não- seres a Quem não os

colocou previam ente como possibilidades”

(SN , 4 7 ). Essas p o ssib ilidades são

ex p erienciais, inserid as em universos d e vivências, não apenas em espaços lóg icos wittg ensteineanos. A ausência de algo ou d e alguém só p od e ser vivid a sob re o p ano de fundo d a ex pectativa e a interrogação: a presença d e Witt g en stein nesta sala é um a p ossib ilid ad e ló g ica (não co ntrad it ória), m as não um a p o ssib ilid ad e fenom enológica oue possa ser vivid a. Se ag uardo Cab rera no En co n t ro d e Filo so fia de To led o e Cab rera

n ão ap arece (p o r t êr caíd o o avião d a T A M ), p o d eríam os d iz er, p arafrasean d o um

céleb r e tex to sartrean o, o u e “ (...) a au sên cia d e Cab rera p ressu p õe um a relação prim

(12)

ra en t re m im e o En co n t ro d e Toled o; há um a in fin id ad e d e pessoas sem Qualcjuer

relação com o En co n t ro d e Toled o, à falt a d e um a espera real Que as con st at e com o

ausentes (...) ju íz os o ue p osso form u lar co m o p assatem p o - ‘Wit t g en st ein não veio no

En co n t ro d e Toled o, Sart re tam p ouco, et c’- são m eras sig n ificaçõ es ab stratas, puras

ap licaçõ es d o p rin cíp io d e negação (...)" (Cfr. SN , 51). Há nas ex p eriên cias negativas

uma co nst it u ição d o o b jet o ausente, um nada vivido , o ue está vin culad o não apenas

com um universo d e discurso, m as com um universo d e vivências.

A o s d o is n eg ativos w it tg en st ein ean o s, a neg ação e o falso , corresp on d em , em Sart r e, d if eren t es ex p eriên cias n egativas. N a verd ad e, o Para-si n ão p o d e ser a

não ser n eg at ivam en t e, p ara ele n ão há d if er en ça essen cial en t r e n egat ivo e

af irmat ivo , en t r e ver dadeir o e falso, em sen t id o p ro p o sicio n al, p o is ele viven ciará tod as as p ro p o siçõ es, to d o s os valo res d e verd ad e, sem p re e in evit avelm en t e num reg istro neg ativo . (N est e sen tid o , a ex istên cia não é b ip o lar ). A n eg ativid ad e está, ao u i, p ro fun d am ente en raizad a não no m undo, m as no ser- n o- m u n d o d o Para-si. M esm o a p ro p o sição afirmativa, m esm o a p ro p o sição verd ad eira, d evem to d as ser vivid as so b re o p ano d e fun d o d e n eg ativid ad e o u e as faz ser. Po is o n eg ativo é a

ú n ica ch ance d o h om em ser n o m u n d o . A neg ação p r o p o sicio n al é ap enas um

acid en te d e linguag em ; a falsid ad e, ap enas um a vicissit u d e das p ro p o siçõ es em relação com o m und o. O n egat ivo vivid o é algo d e m u it o mais fu n d o Que o s d o is

neg ativos w it tg en st ein ean o s: trata-se d a p r ó p r ia inserção d o ser h u mano n o m un­ d o , algo d o r eg ist r o d o ser, e n ão p r imar iam en t e d o falar ou d o fazer p ro p o siçõ es.

A s puras p o ssib ilid ad es ló g icas d o esp aço w ittg ensteineano d e p o ssib ili­ dades podem , p elo contrário, não t er QualQuer alu sivid ad e ao vivid o , QualQuer rele­ vância ex p erien cial. Isto se vin cu la d iretam ente com a busca d e um a neg ação “ inter­ na", alg o oue tam bém interessa a Sar t r e:

“Se, por exemplo, afirm o Que um tinteiro

não é um pássaro, tinteiro e pássaro permanecem intocados pela negação. Esta é

uma relação externa oue só pode ser estabelecida pelo testemunho de uma realidade

humana. Ao contrário, há um tipo de negação Que estabelece uma relação interna

entre o Q_ue se nega e aQuilo ao Qual isso é negado"

(SN , 136). Ele m en cion a a “ falta” com o um a t íp ica negação interna:

“Esta falta não pertence à natureza do Em- si, todo

positividade. (...) É unicamente no mundo humano Que podem haver faltas"

(Id ). A “ in tern alid ad e” da neg ação de Sch eff er p o d erá ser p erfeitam ente não alu siva ao oue

nega, ou seja, p erfeitam ente “ex terna” d e um p onto de vista fenom enologico - ex isten -

cial7. Para Sart r e, é o Para-si humano Quem é cap az d e r ealiz ar a neg ação interna, e não a p rop osição o b jetiva gerada p ela “form a g eral da p ro p o sição ” . É a ação (o u a om issão) hum ana Que podem to rn ar “ in tern a" um a negação.

(13)

Nad a e negação (En t r e Wit t g en st ein e Sart r e)

D o lado w ittg en st eineano, se p od eria rep licar a Sart r e oue não é n ecessário afundar nas o b scu ras águas da “ ex istência" para captar “ negações internas” deste tipo,

pois seria su ficiente com enriouecer a linguagem d o Tractatus ad m itind o, p or ex em plo,

conex ões lex icais co m o as o ue foram m en cion ad as em 1.2 e 1.3. Assim , vo lt an d o ao

ex em plo d e Sar t r e, se p o d eria cap t ar a natu reza "ex t erna” d a conex ão en t re "ser p ássa­

ro” e "ser t in t eir o ” co n sid eran d o estes p red icad o s co m o faz en d o p art e d e um a red e

p red icat iva, e ven d o Quais são o s "p assos d e d erivação ” Que p od eriam levar d e um p ara

o o u t ro . Nesta ló g ica d e red es, seria po ssível d ef in ir “ d ist ân cias lex icais" en t r e

p red icado s, cjue d eterm inariam Qual d eles p od em n egar o u t ros p red icado s, e Quais

não. O caráter "in tern o " ou “ex terno" das negações p od eria ser d efinido em term os de distâncias lex icais e com plex idade dos cam inhos d e d erivação8.

M as Sartre, seguind o pegadas heideggerianas, não consid era estes cam inhos

interm ed iários (m uito mais ligados com a filo sofia d a segunda m etade d o sécu lo X X ). A s suas categorias fenom enologico- ex istenciais d e pensam ento m ostram Que a o p eração de

assim ilação d o negativo p elo afirmativo, o u e Witt g en st ein p ret en d eria o b ter m ed iante

puros recursos ló gico s, não p o deria ser feita no plano fenom enológico- ex istencial: o negativo nunca pod eria ser reduzido, ou "sugado” , p elo m undo, ele se mantém em irresolúvel

con flit o com ele, rebela-se regularm ente cont ra a afirmatividade t irân ica d o em - si. N ão há

algo co m o uma "ex p eriên cia afirmativa” d o m undo o u e fosse p rim ordial, e à Qual d everi­

am reduzir- se as ex p eriên cias negativas. M esm o o u e a negação pud esse ser p rovada

com o log icam en te supérflua, ela parece ex istencialm ente indispensável. M as ela não é logicam ente supérflua: m esm o em sistem as lógicos form alizados parece d ifícil desfazer-

se dela, algum t ip o d e negação, m esm o a neg

3

ção interna in corp orad a na “ forma geral da

prop osição” , ap arece n o plano da linguagem . M as tudo isso é precisam ente o oue será jogado fora no final d o Tractatus. p ara ficar com o u ê? Sen d o Que tod a vez o u e falam os

tem os o ue negar, não é o silên cio o p leno reconhecim ento da negatividade d o ser- no-

m undo, da Qual Witt g en st ein recusa- se a d iz er coisa algum a?9

2 .3 . Valo r es e lin g u ag em em Wit t g en st ein e Sar t r e.

N a p art e II d e SN , cap . I, so b re as “ est r u t uras im ed iatas d o Para- si” , Sart r e e Wit t g en st ein se en contram , esta vez , no terren o d os valo res. Est e en co n ­ t r o m e in t er essa esp ecialm en t e p ara a reflex ão ét ica Que m e p r o p o n h o fazer no

final dest e t rab alho . Par à am b os, o m u n d o r ejeita valo r es (6 .3 7 4 ).

"Todas as pro­

posições têm igual valor"

(6 .4 )

"(...) No mundo tudo é como é e tudo acontece

(14)

como acontece; não há nele nenhum valor (...)"

(6 .41 ).

“É por isso oue tampouco

podem haver proposições na ética"

(6 .42 ). Sart r e vai rep et ir aoui a estrat ég ia oue já usara resp eit o da neg ação em g eral, estas vez em relação aos valo res (n a seção tit u lad a "O Para-si e o ser d o va lo r "), p o is o s valo r es são um t ip o p ecu liar de n egat ividade. Ele co lo ca, já d e in ício , a Questão d o s valo r es numa o scilação não

co n t em p lad a no Tract at u s. en t r e a ex clu são d o valo r p o r p art e d o ser (t ese p art i­

lh ad a p o r am b o s) e o esp ecíf ico ser d esse v a lo r ex clu íd o , a su a car act er íst ica

“ (...)d e ser incondicionalm ente e de não ser. (...) Seu ser é ser valor, Quer dizer,

não ser ser. Assim , o ser do valor, enouanto valor, é o ser daouilo oue não tem ser

(...)"

(SN , 143/ 44). O valo r é in capt ável, p o is se t entam os cap ta- lo co m o ser, o

transfo rm am os num fato en tre fatos, e se tentam os cap ta- lo em su a id ealid ad e, su p rim im o s seu esp ecíf ico m od o d e ser (1 4 4 ). M as en o u an t o , n o p lan o p u ram en te

p r o p o sicio n al w it t g en st ein ean o , o s valo r es ficam est at icam en t e ex clu íd o s, na ab or­

dagem ex ist en cial o s valo r es assum em at ivam en t e seu n ão - ser em co n t at o com a

lib er d ad e h um an a, co m o lib er d ad e d e cr iar valo r es à r evelia d o ser, d ian t e d e sua

t o t al in d if er en ça (1 4 4 ). Q u e n ão há valo r es n o m u nd o n ão im p lica Qu e n ão possa

h aver valo r es co n t r a o m u n d o . Po ssivelm en t e Wit t g en st ein aceit ar ia est a id éia,

m as se r ecu sar ia, cer t am en t e, a f alar so b re ela.

M as, não será, afinal, no p ró p rio âm b it o d a linguagem o n d e Sar t r e acertará

suas cont as com Wit t g en st ein ? Po is d a linguagem n ão p recisam os t er a visão ob jet iva

d o Tractat us. um a visão ex ist en cial é tam bém p o ssível10. N a p art e III, cap . 3 de SN, Sartre co lo ca a linguagem diretam ente no registro d o Para- outro, m as não com o algo ex terno:

“A linguagem não é um Fenômeno acrescentado ao ser- para- outro: é originari­

amente o ser- para- outro..."(4 6 4 )". Sen d o a relação com o out ro o b jet ivação (p elo

olhar) e p rojeto d e recuperação d e si, isso m esm o será, em term os sartreanos, a lin­ guagem . Nesse sentido, a relação com a linguagem é um a relação de ser. O m om ento da ob jetivação p elo outro está entrelaçad o firm em ente à linguagem :

“Pelo simples fato de,

não importa o Que Faça, meus atos livremente concebidos e executados e meus projetos

rumo a minhas possibilidades adouirirem lá Fora um sentido oue me escapa e oue

experimento, eu sou linguagem” (464/ 5). A linguagem faz parte da co nd ição humana,

e é, p or interm édio do outro, co nd ição d e meu ser (4 6 5). Há, pois, um a luta entre o oue o outro m e faz ser e meu ato recuperad or: “A palavra é sagrada çuando sou eu oue a

utilizo, e mágica Quando o outro a escuta" (ld ).

N a sua co n cep ção ex ist en cial d a frase, Sar t r e acen tua o uso o u e se faz d ela (num viés, d ig am os, “ p rag m ático ") (6 32 ). A n t es d e ser afirm ativa ou neg ativa p elo s sin ais oue carrega, a frase em g eral é co n st it u íd a neg ativam ente, no sen tid o

(15)

Nad a e negação (En t re Wit t g en st ein e Sart r e)

d e ser uma fo rmação nad if icant e d o d ado , ou seja, do léx ico e das reg ras g ram ati­

cais o u e, num a p rim eira visão ab st rata, p areciam im por- se d e maneira t ir ân ica so b re a liber dade h uman a. Sart r e ain d a insist e:

"(...) a frase é um momento da

livre escolha de mim m esm of...)"

(6 3 3 ). A d esig n ação não é alg o ou e ven h a com as p alavras o ue uso, com o um fato im p o sto à m eu livre p ro jeto d e d esig nação , p o is será no d iscu r so o u e essa d esig n ação será co n st it u íd a. Ela n ão p o d e ser p r evista po r uma fo rma g eral o u e g aranta o sen tid o das ex p ressões m ed ian te um a sintax e p révia e d eterm in an te, fo ra d o âm b it o d iscu rsivo . A ssim ,

"(...) é falando

Que fazemos com oue haja palavras (...) é falando Que faço a gram ática; a liberda

de é o único fundamento possível das leis da língua”

(6 3 4 ).

Co n tra Wit t g en stein , alg o co rresp o n d e aoui às p ro p osiçõ es negativas e ao falso no m undo, não certam ente no m undo in erte e p o sit ivo d o em- si, mas nao uilo Que o em- si tem d e su p o rtar sob a form a d e ações e ex periências hum anas, vin cu lad o com o ser- no- m undo d o hom em . No b uraco d o falso há ex p eriências da falsidad e, da falta, d a ausência, da d estru ição. O falso refere- se a nad a, mas a um nad a vivido o u e n ão se d eix a em b u tir em p ro p o siçõ es, Que não é p lenam ente “d iscu rsivo ” . Sart r e co n t estaria a "int er nalid ade" meram ente lóg ico- lin g ü íst ica d a n eg ação n o Tract at u s: a in t er n alid ad e so m ent e p o d erá ob ter- se a t ravés d e um m od o d e ser o u e in t er n aliz e

a n eg ação num livr e p r o jet o d e fala. Nenhum a norm alização m eram ente lin g ü ística co nseg u iria o b ter um a neg ação g enuinam ente interna12.

3.

A NEGAÇÃO NA ÉTI

CA NEGATIVA (UMA REFLEXÃO METAFILOSÓFICa).

Sart r e com Wit t g en st ein : para o u e?

Co n vo car Sart r e e Wit t g en st ein num ú n ico t ex to é já uma o usad ia est ilíst ica e um a t r an sg r essão às r eg ras acad êm icas d e d ep ar t am en t aliz ação d o sab er (ex ist en cialist as com ex ist en cialist as, an alít ico s com an alít ico s). M as o trat am en ­ to d a n eg ação g anha com a co n t rap o sição co n flitan te, m elh o r oue em ex p o sições sep arad as. N a m aneira co m o eu assum o a f ilo so fia, na in fin d ável co n t rap o sição d e p osturas, p rat ico um a esp écie d e “ ascensão f ilo só f ica" a um seg un d o n ível reflex i­ vo, o n d e m e p erg u n to p elo sen t id o d a p ró p ria co n t ro vérsia, e p elas vias d e seu trat am en to m et a- reflex ivo . Wit t g en st ein o f er ece elem en t o s p ara co lo car ar t icu la­

d am en t e a Qu est ão d a n eg ação , p ara ex p lica- la em seu fu n cio n am en t o o p er at ó r io ,

g erat ivo e r eco rren t e. Ele t eve a r esp o n sab ilid ad e su icid a d e levar est e p o n t o d e

vist a at é o lim it e, p ar t in d o d a ar t icu lação ló g ica d a n eg ação e en co n t ran d o seu

(16)

lim it e ex ist encial, d iant e d o Qual só cab e o silên cio . M e in teressa p art icularm en te est a ex p eriên cia ex trem a d e um filo so far nas b o rd as, d e um a reflex ão ou e não b usca a sua au t o - su st en t ação , m as a su a p len a co n su m ação reflex iva.

Est ran h o em Sar t r e o m esm o m o vim en t o , em sen t id o o p o st o . Ele não

leva SN p ara o su icíd io , na m ed id a em oue não faz com Que a ex p eriên cia ex isten­ cial toQue seus lim it es ló g ico- lin g ü íst ico s. A falt a d e su f icien t e tem atiz ação da linguagem o leva a assu m ir um a p o stura d em asiad o d esco n tr aíd a a resp eit o das cap acid ad es ex p ressivas d a linguagem , gerand o um d iscu rso falsam en te auto- sufi- cien t e, sem au t o cr ít ica. So m en t e

en passant

refere- se Sart r e às “ d if icu ldades lin ­

g ü íst icas" d o p r ó p r io d iscu r so so b re o nad a e as nad if icações. Po r ex em p lo, ao

cun h ar o t erm o “ co n sciên cia n ão - p osicional de si", ele se refere às “ necessid ad es

d e sintax e" ou e o levaram a co lo car o “ d e" sem p re en tre p arênt eses,

“para indicar

Que satisfaz apenas a uma im posição gram atical’

(2 5 ). A m esm a Queix a en co nt ra­ rem os na sua ten t at iva d e fo rm u lar o “ser- em - si” (3 8 . Ver tam b ém 125). Mas este

lim it e lin g ü íst ico - p r o p o sicio nal d o d iscu r so ex ist en cial n ão é, nem d e lo ng e, d e­

sen vo lvid o co m o tem a cr u cial d e SN . A o b ra ap resenta um est ilo ap arentem ente arg um ent ativo ("car t esian o "), m as as suas teses fund am ent ais descansam em grand es in tu içõ es, cu ja fo rm u lação b eira, às vezes, a in co n sistên cia. O flu x o d o p ensad o não p arece ter achad o seu lim it e ló g ico- p r o p o sicio nal, co m o o u e t er ia co n su mad o

sua p ró p ria d isso lu ção : não há escad a p ara jo g ar fo ra ap ós a leit u ra d e SN .

A o suicidar- se, o Tractat u s m ost ra o u e seu s cr it ér io s são lim it ad o s, e, p or co nseg u in t e, tam b ém as suas o b st ru çõ es ao d iscu rso so b re o nada. O nad a deverá

ap arecer co m o “ d o lado d e f o ra” d as o b st r u çõ es. D eve r ão co lo car- se b ases

fen o m en o lo g ico - ex ist en ciais p ara p o d er visu aliz ar o nad a e en ten d e- lo co m o cat e­

g o ria d e p ensam ent o. M as, p o r o u t ro lad o, ao su icid ar- se, ao m o st rar suas in su p erá­

veis d eficiên cias ex p ressivas, SN m o straria oue suas ex p eriências são lim itad as e,

p o r conseg uinte, tam bém as suas ob struções ao d iscu rso ló g ico articulad o . Am b os esfo rços d e p ensam ento fracassam , e cada um d eles é o fracasso d o out ro, seu ob stácu lo irrem o vível, alg o Que fica d isfarçad o no hab itual “ d efen d er p o siçõ es” .

Em m eus escrit o s ét icos13, p art o d e um a cr ít ica d as m orais afirm ativas vi­

gentes, o ue assum em o “valo r da vid a hum ana" co m o ax iom a. Ent ret an to , tom ar alg o

co m o ax iom a não é fo rn ecer um a solu ção; antes p elo co nt rário , o tom ar alg o com o

p rim itivo p o d eria in d icar o u e ao u ilo ax iom atizad o é d ú b io e resist ent e à d em onstração,

alg o o ue se recom en d a co m o p r im it ivo não p or co n st it u ir algum a verd ad e fundam ental

e inco nt roversa, m as, p elo co nt rário , p or ser alg o vag o e in ju st ificad o . Q u e a vid a

hum ana tem um “valo r in t rín seco ", Que o hom em tem valo r p elo sim p les fato d e ser, de

(17)

Nad a e negação (En t re Wit t g en st ein e Sart re)

ter nascido, é, de fato, um a tese afirm ativa oue atravessa a história do pensam ento, m esm o após a Queda dos referências religiosos oue lhe davam sustentação e plena in telig ib ilid ad e. (Vid e Bio ét ica contem porânea com o um ex em plo). A q u í encontram os um a esp écie de m undo afirm ativo p rim ord ial, não apenas a im p erturb ab ilidad e do

Welt

wittgensteineano ou d o

en- soi

sartreano, mas um a esp écie d e “valor orig inário ". Esta m e p arece a versão ético- valo rativa da "p rim azia do afirm ativo", Que foi antes encontra­ da no plano da linguagem . Assim com o a verdade de p co in cid ia com o p ró p rio p, tam bém o valor d e p p arece coincid ir, no afirm ativism o ético vigente, com o p ró p rio p.

Ser, ser verd ad eiro e ser valioso, se afirm am todos juntos.

Ent retanto, um "valo r da vid a humana" no p uro plano d o ser tornou- se p rob le­

m ático nos term os das categorias d o século X X . Tanto Wit t g en stein Quanto Sartre (um

p ensad or m ístico e um at eu) pareceriam concordar em oue os valores são inventados,

entre os Quais haverá o ue in clu ir os valores oue os hom ens se d ão a si m esm os. Esses

valores são inteiram ent e intram undanos, não são dados no ser. O ser humano oue nasce

é aind a incap az d e dar-se um valor, mas os outros o inventarão para ele. O b eb ê não é

valioso p or nascer, mas p elo Q_ue os outros fazem com seu nascim ento, dentro d e seus

próp rios p rojetos d e invenção d e valores. Posteriorm ent e, o nascid o se en carregará pes­

soalm ente, e com veem ência, de sua p róp ria valorização. M as um valor d e ser não parece

decorrer nem das atitudes de valorização de cada pessoa a respeito de si mesma, nem das valorizações dos outros. Sem um deus, o nosso p retenso “valo r " fica at relado ao plano dos entes. No ser m esm o (n o m undo m esm o, no ser- em - si) não há valor.

A p o stura ag nóstica representa um cert o tip o d e neg ação do valo r da vid a, a tese cét ica d e o u e não há um valo r (in t rín seco ) d a vid a. M as há um a segunda negação, m ais rad ical - p recisam en te a transitad a p ela ét ica neg ativa - co n sist en t e

em sustentar não ap enas o não- valor, o agn o st icism o axio ló g ico , mas o d esvalor, o valo r n egativo, d a vid a hum ana. Passa- se d o n ão - valor p ara o valor- n ão , d e uma n eg ação d e d ict o p ara uma n eg ação d e re d o valo r da vid a humana. O s temas da d or

sen sível (um tema d e in spiração sch op enh au reana, m as oue eu d esen vo lvo d e m anei­ ra ind ep end ente, sem m etafísica da vontad e) e d ao u ilo oue cham o d e in ab ilitação m oral (co n sisten te no sistem ático im p edim ento de realiz ar a articulação m oral do resp eit o p elos o utros num m undo estreit o e inósp ito, on d e to d os som os ob rig ad o s a defender- n os e a o fen d er ) levam fo rt es su b síd io s p ara a id éia d a vid a humana não

apenas “ n ão ser valio sa", mas a d ela “ser não valio sa", tanto no p lano sen sível Quan­ to no p lano m oral. O s valo r es são inventad os no intram und o, m as no p lano do

p ró p rio ser (no fato b ruto d e term os nascid o) acontecem a d o r sensível e a inabilita

(18)

ção m o ral co m o d ad os d isp o níveis, in clu sive, antes d a p essoa nascer: sab em os oue

Quem vai nascer sofrerá a d o r d e seu ser d efinh ant e (d esvalo r sen sível) e a necessi­ d ad e im p erio sa d e defender- se e d e o f en d er (d esvalo r m oral).

A

q u í se su sten ta, p o is, um t ip o d e n egativid ad e "in d ep en d en te d e nossa vo n t ad e” , um a tese o ue se p o d eria form ular assim : "A vid a hum ana tem um valor negativo, tanto no p lano sensível ouanto no p lano m o ral” (Cham arei isto d e Tese V ). Eu cr eio ser esse valo r n eg at ivo p rim o rd ial o Que leva ao s h om ens a inven tarem

valo res (e a dar- se um valo r a si m esm o s), co m o num p r o cesso d e co m p en sação p ela

h u m ilh ação o n t o ló g ica so frid a, p ela co n sciên cia ex trem a d a su a r ad ical falt a d e valo r

em seu p r ó p r io ser. Tan to Wit t g en st ein o u an t o Sar t r e se o p o r iam ferren h am en t e à

Tese V. Par a eles (e t am b ém p ara m eus est u d an t es d e Br a sília14, e p ara t o d o m und o)

seria o m ero "d ar- se” d o m und o, ou seja, a su a t o t al isen ção d e Qu alo u er valo r -

afirm at ivo ou n eg at ivo - ao u ilo o u e levar ia ao s h om ens a in ven tarem o s valo res.

Co n t r a est a at it u d e g en eraliz ad a, eu Quero t erm in ar a m in h a reflex ão m os­

t r an d o o u e um a p o ssível d efesa d a Tese V p r ecisaria t an t o d e elem en t o s p ro p o sicio n ais

w it t g en st ein ean o s o u an t o d e elem en t o s fen o m en o lo g ico - ex ist en ciais sart rean o s p ara

sust en tar- se. Po is a Tese V n ão afirm a o u e ex ist a em b r u t o um d esvalo r n o m u n d o .

Pod er- se- ia aceit ar o u e n ão há valo res nem d esvalo res n o

Welt

w it t g en st ein ean o ou

n o

em- soi

sart rean o , sem o u e isso d erru b asse a Tese V. Est a t ese est ab elece o u e o

d esvalo r d a vid a h um ana n ão est á nem n o m u n d o nem , est rit am en t e, n o hom em , m as

n o seu relacio n am en t o , no ser- no- m undo d e um ser feit o co m o o ser h um ano. Sig n i­

f ica o u e p ara um t ip o d e ser co m o o ser hum an o, co m seu s an seio s, seu t ip o de

sex u alid ad e, seu m ecan ism o d esejan t e, su a in co m p let u d e, seu d esam p aro, su a b u sca

in cessan t e d e g r at if icaçõ es, d e sen t id o , et c, é d esvalio so est ar (e n ão p o d er não

est ar) num m u n d o "p u ram en t e af irm at ivo ” e co m p let am en t e isen t o d e valo res, e o n d e

o s p r o jet o s d e valo r iz ação in tram u n d an a são co n st an t em en t e p r eju d icad o s p ela d or

e a in ab ilit ação m o ral. Long e d e negar a t ese w itt g en st ein ean o - sart rean a d e n ão haver

valo res n o m u nd o, a Tese V p recisa d ela p ara form u lar- se com su cesso : p art e d o

d esvalo r d a vid a h um ana co nsist e, p r ecisam en t e, em est ar num m u n d o o n d e n ão há

valo r es, sen d o um t ip o d e ser o u e o s p r ecisa im p erio sam en t e, e sen d o o u e sua

in ven ção é reg u lar m en t e p r eju d icad a p ela sua co n d ição in su p erável.

M eu p o n t o m et afilo só fico é, p o is, o u e, p ara sust en tar- se a Tese V, se

p recisa, p o r um lad o, t en t ar m ost ra- la co m o sen d o ver d ad eir a, co m o p r et en d en d o

d iz er, em t erm o s w it tg en st ein ean o s, o o u e é o caso . A d escrição d a co n d ição hum ana

p o d e ser feit a d en t r o d o arcab o u ço t r act arian o . Est e seria o elem en t o p r o p o sicio n al

(19)

N ad a e n egação (En t re Wit t g en st ein e Sart re)

d a t ese V. Mas, p o r out ro lad o, um elem ento fenom enolog ico - ex ist encial sartreano é tam bém in d isp ensável, d esd e o ue o d esvalo r m encionad o p ela Tese V n ão é alg o o u e

d eco r r a p u ra e sim p lesm en t e d a d escrição p r o p o sicio n al da co n d ição hum ana, m as

alg o Que d eve p assar p o r um âm b it o d e n eg at ivid ad e vivid a, d e vivên cias d e d o r e d e

in ab ilit ação . Est e é o elem en t o fen o m en o lo g ico - ex ist en cial d a Tese V. O d esvalo r da

vid a human a é, ao m esm o tem po, o b jet ivo e ex p eriencial, um a o b jet ivid ad e o u e só p o d e ser cap tad a em ex p eriências, um a an álise fen om enolog icam ente m ediada.

A ssim , p ro p o siçõ es com o “O s h om ens m o rrem ” , "O s h om ens so f rem ” , “ O s h om ens tran sformam aos ou tro s em o b jeto s", etc, pretendem d iz er o Que é o caso. A im ort alid ad e, a isenção d e sofrim en to e d e ag ressivid ad e mú tua, et c, são sim p lesm en t e ex p u lsas d o m und o p o r não serem o caso . Pr o p o siçõ es n eg ativas co m o “o s seres hum anos não vivem p ara sem p re” são verd ad eiras, não ofendem a afirm ativid ad e d o m undo, m as, p elo co n t rário , d izem com o o m und o é. Esta é a

d im en são p r o p o sicio nal d a Tese V. M as, p o r o u t ro lad o, essa m o rt alid ad e é vivid a

co m o n eg at iva p o r seres co m o o s h u m anos: o sen t im en t o p rim o rd ial p eran t e a m or­

t alid ad e, a d o r e a ag ressão m oral (p o r ex em p lo, a in ju st iça) é a rejeição , o d esag ra­

d o , a an g ú stia, o t erro r, ou o só b r io in co nfo rm ism o , m as n u n ca a aceit ação , nem

m u it o m en o s o ag rad o . To d a aceit ação é p o st erio r, ap ó s o t r ab alh o d a lib erd ad e

cr iad o r a d e valo r es e a o cu lt ação (o u o Que Pascal ch am ava o

divertissem ent).

A s

vid as h um anas são , sart rean am en t e vist as, co m o “ fu ro s” n o co r p o in d if eren t e (d a

m o rt alid ad e) d o ser. E est a é a d im en são fen o m en olo g ico - ex ist en cial d a Tese V.

A t ese fund am ent al d a ét ica negativa, em seu carát er d u p lo , ex em p lifica,

p ois, m eu p o n t o m et afilo só fico acerca d a art icu lação d e est ilo s d e p ensam ent o ab ord a­

d a n este tex to. Op erad a a ascensão filosófica, o co nflit o torna- se vital, e n ão apenas acadêm ico. O s d o is p o n to s d e vista se negam m utuam ente, não para destruir- se, mas para viver ju n to s na negação . Po r o u e d everíam os ex cluir o elem ento ex istencial ou o p ro p osicio nal d e nossas filo sofias? O s d o is p od em n os ser in d isp ensáveis15.

Co m isto , t en t ei t r az er a o u est ão d o n eg at ivo p ara as m in h as reflex ões

m et afilo só ficas e ét icas, ap ós t er ap resen t ad o o co nfro n t o Wit t g en st ein / Sart re sob re

nada e n eg ação . Sei o u e p ensar p o r si m esm o é alg o m al vist o n o Br asil, e Que eu ser ia

m ais celeb rad o se t ivesse p arad o, bem com p ort ad am en te, na g lo sa d e m eus d o is au t o ­

res. Peço p erd ão, p o rt an to , p o r m ais um a vez t er ousad o p ensar em p rim eira p essoa.

(20)

No tas

1 Pro fesso r d a Un iver sid ad e d e Brasília

2 Esta m u lt ip licid ad e d e filo so fias d a ling uag em é o t em a cen t ral d e m eu livro,

Margens das filosofias da linguagem

(CA BRERA , 2 0 0 3 ). 3 Ver C A BRERA (1 9 9 6 ; 1 9 9 8 a; 1 9 9 8 b ; 1 9 99 ).

4 A cerca d est a m an eir a d e faz er f ilo so fia, t en h o su st en tad o u m a p o lêm ica co m o filó so fo ecu at o r ian o Go n z alo Arm ijo s, d e Go iân ia. (Cfr. C A BRE& \ , 2 0 01 ).

5 Cfr. RU SSELL (1 9 7 8 , p .8 0 ); U RM SON (1 9 7 8 , p. 8 3 ); G LO C K (1 9 9 8 , p. 9 6 ).

6 Wit t g en st ein co m eço u a interessar- se p or estas co n ex õ es n o seu art ig o "Alg um as o b servaçõ es so b re fo rm a ló g ica", e tam b ém as ab o rd o u ao t rat ar d a p ro b lem ática d as co res, assim co m o em suas d iscussões co m Sch lick e Waism an n no Cír cu lo d e V ien a (Cfr. W A ISM A N N , 1 9 7 3 , p p . 5 8 , 70- 72 , 8 0 , et c).

7 D e fato, é d if ícil p ensar seq u er em ex p eriên cias reais vin cu lad as co m o "st ro k e" d e Sch effer. O fato cu rioso das ex pressões se alo n g arem in cr ivelm en t e q u an d o escri­ tas em no tação p rim itiva, m ostra co m o esta "in t ern alid ad e" d a neg ação ob staculiza en o rm em en t e a ex p eriên cia h um an a (neste caso, a m an ip u lação d e sinais), q u e .fica m uito m ais à vo n t ad e q u an d o lid a co m a notação d erivad a usual (Frege, Russell).

8 Est e fo i o cam in h o tran sitad o p elo professor O lavo D a Silva Filh o e p o r m im , em nosso livro "In f erên cias lex icais e interp retaçõ es- red e d e p r ed icad o s" (A ap arecer).

9 Eu p en so q u e Wit t g en st ein sen t iu p lenam en t e, em seus D iário s e N o tas, a ex p e­ r iên cia d a n eg at ivid ad e d o ser- no- m undo d o h o m em , m as ten t o u evitá- la p or to d o s os m eio s, o cu ltan d o - a p o r trás d o estig m a d a Un sin n ig k eit .

10 Ger d Bo rn h eim , em seu estu d o so b re o p ro b lem a d a ling u ag em em Sart re, af ir ­ m a q u e, em SN , Sart re ocup ar- se- ia ap en as d uas vez es d a q u estão d a ling uag em , co m p o n d o ao t o d o set e p ág in as so b re o assunto. Eu c r e io q u e isto seja ver d ad e ap en as se at en tarm o s às t em at iz açõ es ex p lícit as d o t ó p ico d en t ro d o livro . M as a q u estão d a lin g uag em "vem à t o n a" m u itas o ut ras vez es. Po r ex em p lo , q u an d o Sart re se refere r ep et id am en t e às "d if icu ld ad es d e lin g u ag em " d e sua p ró p ria ex p o sição , co m o se lin g uag em e o n t o lo g ia f en o m en o ló g ica estivessem em p er­ m an en t e cu r t o - cir cu it o (2 5 , 3 8 , 1 2 5 ). N o fin al d a Part e III, so b re o Para- outro, Sart re d eclar a q u e t o d a a relação en t re lin g uag em e p en sam en t o d ever ia ser rep en sad a à luz d as an álises an terio res sob re a q u estão d o o u t ro (5 1 2 ). O p r o b le­ ma d a n o m eação , cen t ral na filo so fia an alít ica d a lin g u ag em , receb e tr at am en t o ex ist en cial na p assagem d o ex em p lo d e A d ão e a m açã (Par t e IV, 1 , 1, p. 5 7 6 ). A q u est ão d a linguag em , pois, está m ais p resente no livro d e Sart re d o q u e Bo rn h eim p ensara. (BO RN HEIM , 2 0 0 0 )

11 É n o t ável co m o esta d im en são d o o u t ro está t o t alm en t e au sen t e d a ab ord ag em d a ling uag em no

Tractatus.

12 Neste sen tid o , Sart re se m an t eria cét ico a resp eit o d e um p ro jet o d e en r iq u eci­ m en to d a ló g ica d o Tractatus, co m o aq u ele m en cio n ad o na n ot a 8.

(21)

Nada e negação (En t r e Wit t g en st ein e Sartre)

13 Ver C A BRERA (1 9 8 9 ; 1 9 9 6 ).

14 Esta passagem d o p lan o d escrit ivo d a co n d ição h u m an a p ara um a m o ralid ad e est á sen d o f o r t em en t e crit icad a p o r jo ven s filó so fo s d e Brasília üorg e A lam Perei­ ra e M ar co s Paiva, esp ecialm en t e). O mat erial d as p o lêm icas será p u b licad o no livro , at u alm en t e em p rep aração ,

Ética negativa: problem as e discussões.

15 Nesse sen tid o , p arece- m e q u e H eid eg g er e Sart re p o lariz aram d esn ecessaria­ m en t e a q u est ão d a n eg ação ao co lo ca- la em t erm o s d a alt ern at iva: "o q u e vem an tes, o n ad a ou a n eg ação "?

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Referências

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