www.bjorl.org
Brazilian
Journal
of
OTORHINOLARYNGOLOGY
ARTIGO
DE
REVISÃO
Different
clinical
presentation
of
intralabyrinthine
schwannomas
---
a
systematic
review
夽
Thaís
Gomes
Abrahão
Elias,
Adriana
Perez
Neto,
Ana
Tereza
Silveira
Zica,
Marcos
Luiz
Antunes
∗e
Norma
de
Oliveira
Penido
UniversidadeFederaldeSãoPaulo(Unifesp),DepartamentodeOtorrinolaringologiaeCirurgiadeCabec¸aePescoc¸o,SãoPaulo, SP,Brasil
Recebidoem31dejaneirode2018;aceitoem17demaiode2018
KEYWORDS
Schwannoma; Neuroma; Neurilemmoma; Intralabyrinthine schwannoma
Abstract
Introduction:Intralabyrinthineschwannomaisarare,benigntumorthataffectsthemost termi-nalportionsofthevestibularandcochlearnerves.Thistumorcanbeclassifiedinto10subtypes, accordingtoitsinnerearlocation.
Objective: Tocarryoutacomprehensivereviewofthemostfrequentauditorymanifestations secondarytotheintralabyrinthineschwannoma,describingthepossibleunderlying pathophy-siologicalmechanisms.
Methods:Systematicreview oftheliteratureuntil October2017usingthePubMed,Web of ScienceandScopusdatabases.Theinclusioncriteriawereclinicalmanifestationsofthe intra-labyrinthineschwannoma.Threeresearchersindependentlyassessedthearticlesandextracted relevantinformation.Thedescriptionofacaseofanintravestibularsubtypeintralabyrinthine schwannomawithmultipleformsofclinicalpresentationswasusedasanexample.
Results:Twenty-sevenstudiesmetourinclusioncriteria.Themostcommonintralabyrinthine schwannomasubtypewastheintracochlear,followedbytheintravestibulartype.Allthecases demonstratedhearingloss,usuallyprogressivehearingloss.
Conclusion: Thediagnosisofintralabyrinthineschwannomasisbasedonhigh-resolution mag-neticresonanceimagingandshouldbeincludedinthedifferentialdiagnosisofpatientswith vestibulocochlearcomplaints.Althoughthereareapproximately600casesintheliterature,we stilllackadetaileddescriptionoftheclinicalevolutionofthepatients,correlatingitwithMRI findingsoftemporalbonesandtumorsubtype.
© 2018 Associac¸˜ao Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C´ervico-Facial. Published by Elsevier Editora Ltda. This is an open access article under the CC BY license (http:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
DOIserefereaoartigo:https://doi.org/10.1016/j.bjorl.2018.05.007
夽 Comocitaresteartigo:EliasTG,Perez NetoA,ZicaAT,AntunesML,PenidoNO.Differentclinicalpresentationofintralabyrinthine
schwannomas---asystematicreview.BrazJOtorhinolaryngol.2019;85:111---20. ∗Autorparacorrespondência.
E-mail:mantunes@uol.com.br(M.L.Antunes).
ArevisãoporparesédaresponsabilidadedaAssociac¸ãoBrasileiradeOtorrinolaringologiaeCirurgiaCérvico-Facial.
PALAVRAS-CHAVE Schwannoma; Neuroma; Neurilemoma; Schwannoma intralabiríntico
Diferentesapresentac¸õesclínicasdoschwannomaintralabiríntico---umarevisão sistemática
Resumo
Introduc¸ão:Schwannomaintralabirínticoéumtumorbenigno,raro,queafetaasporc¸õesmais terminaisdosnervosvestibularecoclear.Estetumorpodeserclassificado,deacordocomsua localizac¸ãonaorelhainterna,em10subtipos.
Objetivo:Realizarumarevisãoabrangentedasmanifestac¸õesauditivasmaisfrequentes secun-dárias ao schwannoma intralabiríntico e descrever os possíveismecanismos fisiopatológicos subjacentes.
Método: Revisãosistemáticadaliteraturaatéoutubrode2017nasbasesdedadosPubMed,Web ofScienceeScopus.Ocritériodeinclusãofoimanifestac¸õesclínicasdoschwannoma intralabi-ríntico.Trêspesquisadoresavaliaramdeformaindependenteosartigoseextraíraminformac¸ões relevantes.Exemplificamoscomadescric¸ãodeumcasodeschwannomaintralabirínticosubtipo intravestibularcommúltiplasformasdeapresentac¸õesclínicas.
Resultados: Vinteseteestudoscontemplaramnossoscritériosdeinclusão.Osubtipodo schwan-nomaintralabirínticomaiscomumencontradofoiointracoclear,seguidopelointravestibular. Todososcasosapresentaramalterac¸ãoauditiva,normalmenteperdaauditivaprogressiva.
Conclusão:Odiagnósticodeschwannomasintralabirínticosbaseia-seemexamesderessonância magnéticadealtaresoluc¸ãoedeveserincluídonodiagnósticodiferencialdepacientescom queixasvestibulococleares.Apesardetermosaproximadamente600casosnaliteratura,ainda nosfaltadescric¸ãodetalhadadaevoluc¸ãoclínicadospacientesemcorrelac¸ãocomachadosna ressonânciamagnéticadeossostemporaiseosubtipotumoral.
© 2018 Associac¸˜ao Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C´ervico-Facial. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este ´e um artigo Open Access sob uma licenc¸a CC BY (http:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
Introduc
¸ão
Schwannomaintralabirínticoéumtumorbenigno,raro,que
afeta as porc¸ões mais terminais dos nervos vestibular e
coclear. Pode localizar-se no vestíbulo, cóclea ou canais
semicirculares.1Ospacientesnormalmenteapresentam
sin-tomas inespecíficos, inclusive perda auditiva, zumbido e
vertigem.2Dentreossintomasresultantes,omaisfrequente
éaperdaauditiva,acomete95%dospacientes.Namaioria
dasvezesessaperdaélentaeprogressiva,pode,noentanto,
sersúbitaouflutuante.Sintomasmenosfrequentesincluem
zumbido(51%),desequilíbrio(35%),vertigem(22%)e
pleni-tudeaural(2%),quepodemestarpresentesdeformaisolada
oucombinada.3,4
Em1972,Karlan etal.5relataram osprimeirosachados
intraoperatórios de schwannoma intralabiríntico, achados
queforamcomplementadosem 1979coma descric¸ão
his-topatológica deumosso temporalde umpaciente com a
mesmalesão.6Porém,apenasapartirde1987foram
publi-cadosestudosqueressaltaramaimportânciadaressonância
magnética(RM)nodiagnósticodessadoenc¸a.7Atualmente,
o exame considerado padrão-ouro para diagnóstico de
schwannomaintralabirínticoéaRMdeossostemporais,que
podeevidenciarrealcedo tumor nasimagens em T1
pós--gadolíneoefalhadepreenchimentonasimagensemT2.5,6
O schwannomaintralabirínticopodeserclassificadode
acordocomsualocalizac¸ãonaorelhainterna.Inicialmente,
foramidentificados sete subtipos por Kennedyet al.
Pos-teriormente,em 2013,VanAbeletal.,comoobjetivode
adotarnomenclaturamaisespecíficaquantoàlocalizac¸ãodo
tumor,acrescentarammaistrêssubtipos(tabela1).7,8Ainda
existem controvérsias sobre qual subtipo do schwannoma
Tabela1 SistemadeClassificac¸ãodeKennedymodificado7 Subtiposde
schwannoma
Localizacão
Intravestibular Vestíbuloe/ouCSC
Intracoclear Cóclea
Intravestibulococlear Vestíbuloe/ouCSC+ cóclea
Transmodiolar Cóclea+MAI
Transmacular Vestíbuloe/ouCSC+MAI Transótico Vestíbuloe/ouCSC+
Cóclea+MAI+ Orelhamédia
Timpanolabiríntico Vestíbuloe/ouCSC+ cóclea+Orelhamédia Translabiríntico Vestíbuloe/ouCSC+
cóclea+MAI
EnvolveoAPC APC±Cóclea±vestíbulo e/ouCSC±MAI±Orelha média
Nãoespecificado
±Cóclea±vestíbulo e/ouCSC
APC,ângulopontocerebelar;CSC,canaissemicirculares;MAI, meatoacústicointerno.
intralabiríntico seria o maiscomum; no entanto, a
maio-ria dos estudosafirma que a localizac¸ão intracoclear é a
maisfrequentementeencontrada,oscanaissemicirculares
sãomaisraramenteenvolvidos.9
Paraonossoconhecimento,nenhumestudoprévio
Tabela2 Estratégiadebusca Basede
dados
Estratégiadebusca Artigos
Pubmed (NeurilemmomaorNeuromaor Schwannoma)and(Intralabyrinthine)
100
Webof Science
(NeurilemmomaorNeuromaor Schwannoma)and(Intralabyrinthine)
113
Scopus (NeurilemmomaorNeuromaor Schwannoma)and(Intralabyrinthine)
117
secundária ao schwannoma intralabiríntico e sua relac¸ão com o subtipo dalesão. Assim,o objetivo deste trabalho éfazerumarevisãoabrangentedasmanifestac¸õesauditivas maisfrequentessecundáriasaschwannomaintralabiríntico, edescreverospossíveismecanismosfisiopatológicos subja-centes. Paralelamente, relatamos o caso de umpaciente comperdaauditivasecundáriaaoschwannoma intralabirín-ticosubtipointravestibular.
Métodos
Revisãosistemática
Fizemosrevisãosistemática nosbancosdedadosPubmed, WebofScienceeScopusatéoutubrode2017.Foramusados
Artigos selecionados na busca de dados ( n = 330 )
Após análise de título e resumo ( n = 115 )
Após remoção de artigos duplicados ( n = 40 )
Após leitura na íntegra os artigos ( n = 27)
Figura1 Fluxogramaquedemonstra oprocessode selec¸ão dosartigos.
os seguintes descritores, indicados pelo DeCS, na língua portuguesa (Schwannoma, Neurilemoma, Neuroma) e na línguainglesa(Schwannoma,Neurilemmoma,Neuroma).As estratégiasde busca para asdiversas bases encontram-se natabela2.
Tabela3 Principaissubtiposdosschwannomasintralabirínticos
Autor Ano N Localizac¸ão
Gosselinetal. 2015 66 50,9%Intracoclear 38,2%Intravestibular 10,9%Intravestibulococlear Dubernardetal. 2014 110 50%Intracoclear
19,2%Intravestibular 14,5%Transmodiolar 11,8%Intravestibulocolear 2,7%Transmacular 1,8%Timpanolabiríntico VanAbeletal. 2013 234 51%Intracoclear
29%Intravestibular 9%Intravestibulococlear 5%Transmodiolar 1%Transmacular 1%Translabiríntico Salzmanetal. 2012 45 31,11%Intracoclear
28,88%Transmodiolar 15,55%Intravestibular 11,11%Intravestibulococlear 8,88%Transmacular
4,47%Transótico Tielemanetal. 2008 52 80,7%Intracoclear
13,5%Intravestibular 5,8%Intravestibulococlear Kennedyetal. 2004 28 32%Intracoclear
Usaram-se como critérios de inclusão estudos que descreviammanifestac¸õesclínicasdoschwannoma intrala-biríntico,independentementedeseusubtipo.Inicialmente, otítuloeoresumoeminglêsforamlidoseosestudosque obedeciamaoscritériosdeinclusãoforamlidosnaíntegra. Trêspesquisadoresavaliaramdeformaindependenteos artigoseextraíraminformac¸õesrelevantesediscrepâncias foram resolvidas por consenso. De forma complementar, exemplificamos os achados da revisão de literatura com
a descric¸ão clínica deum caso de schwannoma intralabi-ríntico (subtipo intravestibular) com múltiplas formas de apresentac¸ãoclínica.
Resultados
Descric¸ãodasbuscassistematizadasnaliteratura
Abuscaporartigosnasbasesdedadosidentificou330 arti-gos,dentreosquais27foramincluídosnestarevisão(fig.1).
Tabela4 Principaismanifestac¸õesdosschwannomasintralabirínticos
Autor Ano N Quadroclínico
Plontkeetal. 2017 12 100%Perdaauditiva
Covellietal. 2017 1 Flutuac¸ãoauditivaevertigem Fukushimaetal. 2017 1 Perdaauditivasúbita
Plontkeetal. 2017 1 Perdaauditivasúbita
Sabatinoetal. 2017 1 Perdaauditivarapidamenteprogressivaevertigem Jerinetal. 2016 5 40%perdaauditivaprogressiva
40%perdaauditivasúbita 20%vertigem
Shupaketal. 2016 7 95%perdaauditivaprogressiva Gosselinetal. 2015 66 Nãohádescric¸ãodocasoclínico Leeetal. 2015 1 Perdaauditivasúbitaevertigem Dubernardetal. 2014 110 94,5%perdaauditivaprogressiva
59,1%vertigem
Bittencourtetal. 2014 1 Flutuac¸ãoauditivaetinnitus Kimetal. 2013 1 Perdaauditivasúbita
Schuttetal. 2013 1 Flutuac¸ãoauditivaplenitudeauralevertigem VanAbeletal. 2013 234 84%perdaauditivaprogressiva
3%flutuac¸ãoauditiva 43%vertigem
Salzmanetal. 2012 45 60%perdaauditivaprogressiva 31,11%perdaauditivasúbita 8,89%flutuac¸ãoauditiva 35,56%vertigem
Gordtsetal. 2011 1 Flutuac¸ãoauditivaetinnitus Magliuloetal. 2009 1 Perdaauditivasúbitaevertigem Brozek-Madryetal. 2009 1 Perdaauditivasúbitaevertigem Tielemanetal. 2008 52 83,67%perdaauditivaprogressiva
14,28%perdaauditivasúbita 19,23%vertigem
Jiaetal. 2008 4 75%perdaauditivaprogressiva 25%perdaauditivasúbita 75%vertigem
Nishimuraetal. 2008 1 Perdaauditivasúbitaetinnitus Lellaetal. 2007 7 71,42%perdaauditivaprogressiva
28,5%perdaauditivasúbita 57,14%vertigem
Kennedyetal. 2004 28 61%perdaauditivaprogressiva 32%perdaauditivasúbita 7%flutuac¸ãoauditiva 71%tinnitus
29%vertigem
Greenetal. 1999 4 75%perdaauditivaprogressiva 25%perdaauditivasúbita 75%vertigem
Deuxetal. 1998 3 Perdaauditivaprogressiva,tinnitusevertigem Weedetal. 1994 1 Perdaauditivaprogressivaetinnitus
51,85% 51,85%
25,93% 25,93%
66,67%
n = 27 artigos
7,41% 7,41%
PA progrssiva PA súbita PA flutuante PA Não especificada Vertigem Zumbido Plenitude aural
Figura2 Principaismanifestac¸õesdosschwannomasintralabirínticosnos27artigos.
De acordo com a classificac¸ão do Oxford Centre for Evidence-BasedMedicinesobreosníveisdeevidência cien-tífica dos 27 artigos lidos na íntegra, cinco eram revisão sistemática (com homogeneidade) de estudos de coorte (nível2A), umdeobservac¸ãoderesultadosterapêuticos, estudoecológico(nível2C),e21relatosdecaso(nível4).
Emrelac¸ãoàprincipallocalizac¸ãodotumor,houve con-senso entreos estudosde que o subtipo intracoclear é o
maisfrequente.Nasequência,omaisfrequentefoio intra-vestibularemtodososestudos,àexcec¸ãodopublicadopor Salzmanetal.,queencontrouosubtipotransmodiolarcomo segundomaisfrequente(tabela3).
Quanto ao quadro clínico dos pacientes, as principais
manifestac¸õesclínicasestãoexpressasnatabela4efigura2.
Tem-se relato da conduta tomada em 486 pacientes. Em
276 pacientes(56%) optou-se por seguimento clínicocom
RM de forma seriada. Em 210 (44%) pacientes, optou-se
pelo tratamento cirúrgico, por tratar-se, na maioria das
vezes,depacientescomperdadeaudic¸ãoprofundae
cres-cimentotumoral evidenciado em examede imagem e/ou
vertigemincapacitantesem melhoriacom tratamento
clí-nico. Dentre os 210 pacientes submetidos ao tratamento
cirúrgico,hárelatosobrecirurgiadeimplantecoclear
simul-taneamenteousequencialmenteàexéresedotumorem11
pacientes.
Descric¸ãodaapresentac¸ãodeumcaso
deschwannomaintralabirínticointravestibular segundoaclassificac¸ãodeKennedymodificada7
Paciente do sexo feminino, 38 anos, comparece em
con-sultaambulatorialcomotorrinolaringologistaporquadrode
tonturatipoinstabilidadehaviatrêsanos.Referequecada
episódiotinhadurac¸ãofugaz(algunssegundos),sem
quais-querfatoresdesencadeantesoudemelhoria oupioriados
sintomas. Os quadros eram de pequena intensidade, não
atrapalhavamodesempenhodeatividadesdodiaadia.Após
algumassemanasdoiníciodoquadro,atonturasetornou
rotatória,foidesencadeadapormovimentac¸ãocefálicapara
esquerda.Essatonturadenovacaracterísticatinhadurac¸ão
deminutos e também cessavaespontaneamente. Quando
perguntada, negou cefaleia, sintomasvisuais ouauditivos
associadosàtontura.Tambémnegoucomorbidadesou
inges-tãocontínuademedicamentosparaqualquerdoenc¸a.
Oexamefísicogeral,aavaliac¸ãootorrinolaringológicae
ostestesneurológicosnãoevidenciaramalterac¸ões,assim
como avaliac¸ão auditiva (audiometriae imitanciometria).
A paciente também foi submetida a
videoeletronistagmo-grafia, que demonstrou hipofunc¸ão à esquerda na prova
calórica.Considerandoosresultadosdoexamefísico,
audi-ométricoedefunc¸ãovestibular,introduziu-seterapiacom
-histina,cujadosefoiaumentadagradativamentenos
pri-meiros 60 dias até atingir a dose máxima recomendada
(216 mg/dia), alémde meclizina. Porém, a paciente não
apresentoumelhoriacomousodasmedicac¸ões.
Quatromesesapósaconsultainicial,apaciente
perce-beupiorianafrequênciaeintensidadedatonturarotatória
quandoexpostaasonsespecíficos,comoalarmesesirenes;
atontura cessavatãologo osomcausadordatonturaera
interrompido.Seismesesapósoiníciodoquadro,percebeu
tambémplenitudeauralemorelhaesquerdaassociadaà
tin-nitus tipochiado,alémdedificuldadedecompreensãode
sonsnessaorelha.
Taissintomas(plenitude, tinnituse alterac¸õesde
com-preensão) eram flutuantes, com momentos de pioria e
melhoria espontânea --- nos momentos de pioria auditiva,
percebiatambémpioriadatonturarotatória.Considerando
a pioria dos sintomas, paciente fez novas audiometrias
seriadas, que evidenciaram flutuac¸ão dos limiares
auditi-vos compatíveis com a pioria clínica. Solicitou-se, então,
Figura5 A)Audiometriaqueevidenciaperdaneurossensorialleveemorelhaesquerda.B)RMdeossostemporaisT2,corteaxial, comhipossinalemvestíbuloesquerdo.C)RMdeossostemporais,corteaxial,T1comcontraste,lesãohipercaptante,emvestíbulo esquerdo.
RMdeossostemporais,queevidencioulesãoemvestíbulo
esquerdo(fig.3).
Ao fazer exame da func¸ão vestibular pela detecc¸ão
de reflexo vestíbulo-ocular por teste do impulso cefálico
nessemomento,evidenciou-sereflexovestíbulo-ocular
nor-malemtodososcanaissemicircularesdireitospesquisados.
Em contrapartida, paraos canais esquerdos,houve ganho
de reflexovestíbulo-ocular diminuídonos canais laterale
anterior, com sacadas corretivas cobertas e descobertas,
porém ganho do reflexo vestíbulo-ocular do canal
poste-rioresquerdoapresentou-senormal(fig.4).Combasenesse
exameconcluiu-sehipofunc¸ãodefunc¸ãovestibularna
topo-grafiadenervovestibularsuperioresquerdo.
Porserumalesãomilimétrica,compoucarepercussãodo
pontodevistaauditivo,optou-seporacompanharpaciente
comrepetic¸ãodeRMeaudiometriaanualmente(fig.5).
No terceiro ano de seguimento a paciente apresentou
perdasúbitadaaudic¸ãoàesquerda,sempioriadasqueixas
vestibulares. Nova audiometria evidenciou perda auditiva
profundaemorelhaesquerda,compatívelcomodiagnóstico
desurdezsúbita(fig.5).
Nessemomento,iniciamostratamentocomprednisolona
oral (1mg/Kg/dia) por21 dias em dose regressiva e
soli-citamos RM de ossos temporais (fig. 6). A RM evidenciou
crescimentotumoraldecercade1mmemcomparac¸ãocom
últimoexamefeitodoisanosantes(fig.5).Audiometria
evi-dencioupioriaconsideráveldoslimiaresauditivosemorelha
esquerda(fig.6).
Repetindo-seoexamedafunc¸ãovestibularpeladetecc¸ão
de reflexo vestíbulo-ocular por teste do impulso
cefá-liconessemomento,manteve-seanormalidadedoscanais
Figura6 A)Audiometriaqueevidenciaperdaneurossensorialprofundaemorelhaesquerda.B)RMdeossostemporaisT2,corte coronal,comhipossinalemvestíbuloesquerdo.C)RMdeossostemporais,corteaxial,T1comcontraste,lesãohipercaptante,em vestíbuloesquerdo.
importantedoganhoàesquerdaem todososcanais
semi-circularespesquisadoscomsacadascompensatórias(fig.7).
Apósos21diasdetratamentoproposto,apacientenão
apresentou melhoria do ponto de vista auditivo ou do
equilíbrio corporal. Optou-se, portanto, por
trata-mento cirúrgico via translabiríntica, já que paciente
não apresentava mais audic¸ão para ser preservada como
anteriormente.
Discussão
Aindaé difícilestimar a real prevalênciado schwannoma
intralabiríntico,devidoaopequenonúmerodecasos
relata-dosepelainespecificidadedesuasmanifestac¸õesclínicas,
oquedificultaseudiagnóstico.Ainda,oquadroclínicopode
sugerir outros diagnósticos mais frequentes, que incluem
doenc¸a de Menière, neurite vestibular ou surdez súbita
idiopática.10 Em nossa revisão, encontramos 526 casos
relatados de schwannoma intralabiríntico. Em relac¸ão ao
subtipomaisfrequente,metanáliseserevisõessistemáticas
sugerem que o subtipo mais encontrado é o intracoclear,
seguidoconsecutivamentepelointravestibulare
intravesti-bulococlear(tabela3).
Outrotemaaindadiscutidoemdiversosestudoséa
ori-gemdesse tumor.Apesar dealgunsestudossugeriremque
nãoépossívelidentificarclaramenteaorigemdotumor,11
Neffetal.,12emumarevisãode55casos(23intracocleares,
25intravestibularesesete queenvolveramcócleae
vestí-bulo),concluíram quenãoparecehaverdiferenc¸aentrea
incidência dagênesedotumor nonervococlear ounervo
Figura7 Testedoimpulsocefálicoqueevidenciahipofunc¸ãodefunc¸ãovestibularàesquerdaemtodososcanaissemicirculares pesquisados.
Quanto ao quadro clínico dos pacientes com
schwan-noma intralabiríntico,aindafaltam estudosque consigam
fazercorrelac¸ão dalocalizac¸ãodotumorcomaqueixado
paciente. Além disso, estudosque descrevem seguimento
de longoprazo, alterac¸ões noquadro clínicoao longoda
evoluc¸ãoe evoluc¸ãoradiológicadotumorsãorarose com
casuísticalimitada.Portanto,onossoestudo parecesero
primeirodaliteraturaacorrelacionar,baseadoemrelatode
umcaso,osubtipodotumorcomasmanifestac¸õesclínicas,
alémdedescreveraevoluc¸ãoclínicaeresultadosdeexames
auditivosedeimagememseguimentodelongoprazo.
Em nossa revisão, a principal manifestac¸ão clínica
encontrada nos pacientes com schwannoma
intralabirín-tico, independentemente do subtipo, é perda auditiva,
normalmente neurossensorial, progressiva, com baixa
discriminac¸ãodefala.12 Estima-seque15%a32%dos
paci-entesapresentemperdaauditivasúbitacomomanifestac¸ão
inicial do quadro, são raros os casos com perda auditiva
flutuante.13,14Asegundaqueixamaisfrequenteévertigem,
quepodeocorrer secundariamentea todosossubtiposde
schwannomaintravestibular.
Apesar deainda nãohaver consenso sobrea
fisiopato-logia daperda auditivanesses casos,acredita-se que, no
schwannomaintracoclear,aperdasejaconsequênciaa
com-pressãooudestruic¸ãodiretadonervococlear.Nostumores
localizadosnointeriordovestíbulo,aperdaauditivapode
serexplicadapelahidropsiahidrolinfática,que provocaria
compressãodasestruturasadjacentes.15Emambososcasos,
otumor podecausar, também,mudanc¸asmetabólicasnos
líquidosdaorelhainternaelevarcomoconsequênciaàperda
daaudic¸ãoeaodesequilíbrio.16
Apesardenãoserexclusiva,aqueixadevertigemocorre
mais frequentemente no schwannoma intravestibular.17,18
Sobre o tratamento dos schwannomas intralabirínticos,
na maioria dos casos relatados nos estudos selecionados
optou-seporseguimentoclínicoeradiológicoseriado,
con-siderando a baixa porcentagem (15%) de pacientes que
apresentam crescimento tumoral dentro de período de
evoluc¸ão de cinco anos.18 Em algumas situac¸ões,
pode--se optar por excisão cirúrgica da lesão, as principais
indicac¸ões são (1) há evidência de crescimento
tumo-ral que leva a envolvimento do ângulo ponto cerebelar,
meato acústico interno ou orelha média; (2) perda total
da audic¸ão; (3) sintomas vestibulares que não melhoram
com tratamento clínico; ou (4) dúvida diagnóstica.1 Uma
pacientescomdiagnósticodeschwannomalabiríntico
sub-metidos a seguimento clínico estimou que somente 3%
necessitaramdetratamentocirúrgico.Considerandooalto
riscodecomplicac¸õesdacirurgiapararemoc¸ãodo
schwan-nomaintralabiríntico(inclusive surdez,tonturaeparalisia
facial) e o baixo potencial de crescimento desses
tumo-res, os estudos sugerem que o seguimento clínico é a
melhor forma de seguimento, reserva-se a cirurgia para
situac¸õesespecíficasousinaisdeintratabilidadedos
sinto-mas.
Conclusão
Aprincipalmanifestac¸ãoclínicadospacientescom
schwan-noma intralabiríntico é a perda auditiva, presente em
aproximadamente100%dos casosrelatados.19,20 Otipode
perda auditiva mais frequente é neurossensorial,
carac-teristicamente progressiva; perdas súbitas ou flutuantes
são menos frequentes. Apesar de haver quase 600 casos
de schwannoma intralabiríntico relatados na literatura,
descric¸õesdetalhadasdaevoluc¸ãoclínicadospacienteseas
devidascorrelac¸õesradiológicassãoescassas.Os
mecanis-mosembriológicos efisiopatológicosenvolvidos na gênese
do tumor e sua consequente sequela auditiva ainda não
estãocompletamenteelucidados.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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