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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CARINA CRISTIANE DE OLIVEIRA

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CARINA CRISTIANE DE OLIVEIRA

A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL E A

RESPONSABILIDADE DO ESTADO NA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

CURITIBA 2012

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CARINA CRISTIANE DE OLIVEIRA

A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL E A

RESPONSABILIDADE DO ESTADO NA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção de Título de Bacharel em Direito.

Professora: Dra. Simone Franzoni Bochnia

CURITIBA 2012

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TERMO DE APROVAÇÃO

CARINA CRISTIANE DE OLIVEIRA

A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL E A

RESPONSABILIDADE DO ESTADO NA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, _____ de____________________ de 2012.

Bacharelado em Ciências Jurídicas Universidade Tuiuti do Paraná

Orientadora: Profª Doutora Simone Franzoni Bochnia UTP

Prof.

Instituição

Prof.

Instituição

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“Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados”.

(Mahatma Gandhi)

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho aos meus pais, Vanderléia e Rogério que me proporcionaram uma criação e educação que me tornaram a pessoa que sou.

Especialmente ao meu pai, por acreditar na minha força.

Dedico a “minha” Angelita, pelo amor, apoio e compreensão em todos os momentos.

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RESUMO

Trata da doutrina da proteção integral e a responsabilidade do Estado na aplicação das medidas socioeducativas. A questão da responsabilização de um ato infracional cometido por um adolescente é bastante polêmica, o que gera a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre as formas de aplicação das medidas socioeducativas.

Pretende-se demonstrar a teoria que modificou a ótica do direito brasileiro em relação aos menores e a verdadeira aplicação das medidas que na realidade acabam muitas vezes não atingindo o objetivo proposto pelo legislador. Serão analisadas opiniões de diversos doutrinadores e juristas, bem como apresentação de programas relacionados à prática das medidas socioeducativas. A análise permitiu identificar as dificuldades da aplicação da lei que necessita na prática de diversos fatores para atingir a eficácia de suas normas.

Palavras-chave: Adolescente. Doutrina da Proteção Integral. Medidas Socioeducativas. Responsabilidade do Estado.

(7)

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – ANEXO A - Quadro comparativo...71

TABELA 2 – ANEXO B - Prestações de serviços...73

TABELA 3 – ANEXO C - Liberdade assistida...74

TABELA 4 – ANEXO D – Semiliberdade...76

TABELA 5 – ANEXO E – Internação...78

TABELA 6 – ANEXO F - Ato infracional...84

TABELA 7 – ANEXO G - Atribuições dos Órgãos e esferas do Poder Público na organização e execução dos programas de socioeducação...85

(8)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...10

2 LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA...11

3 HISTÓRICO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE...11

3.1 DIFERENÇAS ENTRE O ANTIGO CÓDIGO DE MENORES E O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE...13

4 DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL...14

5 DIREITOS E GARANTIAS AO MENOR...16

5.1 DOS DIREITOS INDIVIDUAIS...16

5.2 DAS GARANTIAS PROCESSUAIS...19

6 ATO INFRACIONAL...20

7 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS...22

7.1 ANÁLISE CONCEITUAL DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS...25

7.1.1 DA ADVERTÊNCIA...25

7.1.2 DA OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO...27

7.1.2.1 A responsabilidade dos pais ou responsável legal...27

7.1.3 DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE...28

7.1.4 DA LIBERDADE ASSISTIDA...29

7.1.5 DO REGIME DE SEMILIBERDADE...30

7.1.6 DA INTERNAÇÃO...31

(9)

8 DA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS...33

8.1 DA APLICAÇÃO DA MEDIDA DE ADVERTÊNCIA...34

8.2 DA APLICAÇÃO DA MEDIDA DE OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO..38

8.3 DA APLICAÇÃO DA MEDIDA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE...43

8.4 DA APLICAÇÃO DA MEDIDA DE LIBERDADE ASSISTIDA...44

8.5 DA APLICAÇÃO DA MEDIDA DE SEMILIBERDADE...48

8.6 DA APLICAÇÃO DA MEDIDA DE INTERNAÇÃO...49

9 A RESPONSABILIDADE DA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS...52

9.1 DO ESTADO...55

9.2 DA SOCIEDADE...57

9.3 DA FAMÍLIA...59

9.4 A DISTÂNCIA ENTRE AS NORMAS E A REALIDADE...61

10 LEI 12.594/2012...62

11 CONCLUSAO...64

REFERÊNCIAS...67

ANEXOS...70

(10)

ϭϬ

1 INTRODUÇÃO

Há décadas o direito à criança e ao adolescente é um tema polêmico. Polêmico ou por sua falta de direitos, atuação estatal, eficácia; ou de forma contrária, pelo excesso de direitos etc.

O tema proposto é amplo, porém difícil seria trabalhar os temas de forma separada. O direito à criança e ao adolescente é multidisciplinar, necessitando de diversos fatores para sua funcionalidade e eficácia.

Por ser polêmico, muito se questiona sobre a eficácia do Estatuto da Criança e do Adolescente na aplicação das medidas socioeducativas. Por diversas vezes quando ocorre algum ato cometido por um menor e choca a sociedade, as opiniões aparentemente descredibilizam a eficácia do Estatuto. Quais seriam os reais motivos que descredibilizam a aplicação do Estatuto?

Para um melhor entendimento é necessário um estudo mais aprofundado, que ao seu fim, revela as dificuldades encontradas na aplicação das medidas e a busca pela ressocialização do adolescente.

As dificuldades são muitas trazendo esse trabalho apenas alguns pontos analisados, buscando um melhor entendimento da realidade da aplicação das medidas.

O foco principal do trabalho será encontrado na relação do art. 1º e 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente com a incidência do artigo 227 da Constituição Federal.

O direito à criança e ao adolescente é de extremo interesse nacional e necessita de tratamento prioritário pelo Estado.

(11)

ϭϭ

2 LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS

As convenções internacionais tiveram grande importância em relação à proteção de crianças e adolescentes no mundo todo. As convenções trouxeram uma nova ótica sobre o assunto e também trouxeram alterações e base ao direito brasileiro para a instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente. As convenções importantes a essas transformações são:

1) Declaração de Genebra em 1924 – marco da discussão em relação a proteção à criança e o adolescente.

2) Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1948.

3) Declaração Universal dos Direitos da Criança em 1959.

4) Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça, da Infância e da Juventude – Regras de Beijing em 1985.

3 HISTÓRICO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

No Brasil, a evolução do direito da criança e do adolescente ocorreu de forma lenta. Desde a descoberta do Brasil até a década de 20, não houve uma legislação específica de proteção ao menor.

Com a colonização do Brasil passaram a valer as leis vigentes em Portugal.

Durante todo esse período não houve demonstrações de preocupação com o direito do menor. Em 1890 surgiu o governo republicano, porém somente em 1926, através do Poder Executivo é promulgado o decreto n. 5.083 que institui a primeira legislação no Brasil direcionada aos menores.

Em 1927, com o Decreto Federal 17.943-A, foi instituído o segundo Código de Menores do país. Esse código foi vigente por mais de 50 anos. Somente em 1979 com

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ϭϮ

a Lei 6.697, na época da ditadura, foi instituído o último Código de Menores, tendo vigência por uma década.

Em 1990 foi instituído o Estatuto da Criança e do Adolescente através da Lei 8.069. Em seu artigo 267 revoga expressamente o último Código de Menores.

O ECA traz normas que regulam os direitos da criança e do adolescente. Muitas inovações foram trazidas, fazendo desse diploma legal uma nova visão da situação das crianças e dos adolescentes. De acordo com Cássio Rodrigues Pereira1:

É inegável que, de acordo com os ordenamentos jurídicos atuais, foi dado um grande passo legislativo, de âmbito nacional, ao ser elaborado, fora do Código Civil, este microssistema, isto é, um texto em defesa do menor, buscando protegê-lo de forma abrangente e completa, com visão de conjunto do fenômeno de maneira global e imune à contaminação de regras de outros ramos do direito.

O desenvolvimento do Estatuto veio inspirado nas diretrizes trazidas pela Constituição Federal de 1988. O Estatuto também foi inspirado nas diretrizes de normas internacionais, como a Declaração dos Direitos da Criança; nas Regras mínimas das Nações Unidas para administração da Justiça da Infância e da Juventude e nas Diretrizes das Nações Unidas para prevenção da Delinquência Juvenil. Da mesma forma que a nossa Constituição Federal, o Estatuto veio à luz de novas diretrizes internacionais que trazem um novo conceito de tratamento ao homem. Da mesma forma é o entendimento de Cássio Rodrigues Pereira2: “Tanto esse texto legal como o Estatuto pertencem ao mesmo momento histórico e respondem a idêntica tendência política e social”.

O conceito brasileiro de criança e adolescente está em conforme com o conceito adotado pela Organização das Nações Unidas. Os efeitos de âmbito internacional estão previstos no ECA.

1 PEREIRA, Cassio Rodrigues. Estatuto da Criança e do Adolescente à luz do direito e da Jurisprudência (Anotações ao novo código civil). 2002, pág. 15.

2 Obra cit. pág. 16.

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ϭϯ

O antigo Código de Menores se demonstrava autoritário e ineficaz. O Estatuto instituído pela lei 8.069/90 veio com intuito de regular de uma nova forma os direitos das crianças e dos adolescentes, não considerando e modificando alguns conceitos existentes até então.

Com o antigo Código de Menores havia categorias distintas de crianças e adolescentes, tendo os filhos socialmente e integrados que eram as crianças e adolescentes e os “menores” que eram as crianças e adolescentes em situação irregular. De acordo com Cássio Rodrigues Pereira3: “Pelo velho regime, os direitos conferidos aos hipossuficientes eram inferiores à legislação que está em vigor, pois dispunha apenas sobre “assistência, proteção e vigilância de menores”.

O Estatuto prevê normas em relação à educação, à saúde, o trabalho e a assistência social.

O Estatuto está dividido em duas partes. A primeira prevê os direitos fundamentais a pessoa em desenvolvimento e a segunda prevê os órgãos e procedimentos protetivos.

3.1 DIFERENÇAS ENTRE O ANTIGO CÓDIGO DE MENORES E O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Algumas diferenças entre o antigo Código de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente podem ser observadas no ANEXO A pág. 71. Alguns pontos foram selecionados tendo como fonte a pesquisa da obra de Antonio Carlos Gomes da Costa4.

ϯPEREIRA, Cassio Rodrigues. Estatuto da Criança e do Adolescente à luz do direito e da Jurisprudência (Anotações ao novo código civil). 2002, pág. 16.

4 COSTA, Antonio Carlos Gomes da. É possível mudar: A criança, o Adolescente e a Família na Política Social do Município. 1993, págs. 85,86,87.

(14)

ϭϰ

4 DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

O artigo 1º do Estatuto prevê a proteção integral à criança e ao adolescente. Já em seu primeiro artigo, o Estatuto revela a sua nova posição que assumi frente aos menores: a doutrina da proteção integral. Para Válter Kenji Ishida5, “o Estatuto da Criança e do Adolescente perfilha a ‘doutrina da proteção integral’, baseada no reconhecimento de direitos especiais e específicos de todas as crianças e adolescentes.

A doutrina da proteção integral, segundo Mário Luiz Ramidoff6,

a partir das ideias de autonomia e garantia, reconhece não só aos adolescentes autores de ações conflitantes com a lei os direitos próprios a todo sujeito de direito, com a cautela, no entanto, de demarcar a peculiar condição em que se encontra toda pessoa com idade inferior a dezoito (18) anos, haja vista a sua condição peculiar de desenvolvimento da personalidade. A subjetividade que se estabelece aqui é a titularidade de direitos, em perspectiva emancipatória, fundada nos valores e Direitos Humanos.

Comenta José de Farias Tavares7 que “declara o primeiro artigo do Estatuto quem são os sujeitos desse direito especial: a criança e o adolescente. E o objeto: a proteção integral desses titulares”.

A doutrina da proteção integral é uma inovação trazida pela Lei 8.069/90 ao direito do menor. Até então, a visão do direito do menor era muito diferente e não trazia direitos e garantias. Dessa forma comenta Wilson Donizeti Liberati8 sobre o antigo Código de Menores em comparação com o atual Estatuto:

5 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009, pág. 1.

6 RAMIDOFF, Mário Luiz. Lições de direito da criança e do adolescente: Ato Infracional e Medidas Sócioeducativas. 2008, pág. 23.

7 TAVARES, José de Farias. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 2010, pág. 7.

8 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 2010, pág.

15

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ϭϱ

o código revogado não passava de um Código Penal do “Menor”, disfarçado em sistema tutelar; suas medidas não passavam de verdadeiras sanções, ou seja, penas, disfarçadas em medidas de proteção. Não relacionava nenhum direito, a não ser aquele sobre a assistência religiosa; não trazia nenhuma medida de apoio à família; tratava da situação irregular da criança e do jovem, que, na realidade, eram seres privados de seus direitos.

José de Farias Tavares9 também comenta sobre a nova abrangência do Estatuto, sendo que “o regime anterior circunscrevia–se aos menores em situação irregular. O atual se estende a toda criança e a todo adolescente em qualquer situação jurídica.

A doutrina da proteção integral vem juntamente com a Constituição Federal de 1988 trazendo garantias e direitos aos menores. A Constituição, em seu artigo 227, coloca a criança e o adolescente como uma prioridade nacional. O dever da doutrina da proteção integral é do Estado, da sociedade e da família.

Isso traz uma nova visão ao direito do menor e uma nova forma de se pensar nesses direitos e garantias resguardados pela Constituição em 1988 e logo posteriormente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990. A criança e o adolescente não tinham direitos resguardados e passaram a serem sujeitos de direitos e esses direitos são de responsabilidade de vários fatores da sociedade para que seja possível concretizar a idealização da legislação. Wilson Donizeti Liberati10 comenta sobre a doutrina da proteção integral:

é integral, primeiro, porque assim diz a CF em seu art. 227, quando determina e assegura os direitos fundamentais de todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de qualquer tipo; segundo, porque se contrapõe à teoria do

“Direito tutelar do menor”, adotada pelo Código de Menores revogado (Lei 6.697/1979), que considerava as crianças e os adolescentes como objetos me medidas judiciais, quando evidenciada a situação irregular, disciplinada no art.

2º da antiga lei.

9 TAVARES, José de Farias. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 2010, pág.7.

10 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 2010, pág.

15.

(16)

ϭϲ

A teoria da doutrina da proteção integral tem sua base na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, adotada pela Nações Unidas em 1989 e o Brasil adotou-a em sua totalidade. Com o surgimento do Estatuto à luz da Constituição e trazendo a doutrina da proteção integral visa-se um direito mais sensível e que pretende trazer mais retorno em sua aplicação perante à sociedade. Cury, Garrido e Marçura11, em sua obra comentam que

a proteção integral tem como fundamento a concepção de que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, frente à família, à sociedade e ao Estado.

Rompe com a ideia de que sejam simples objetos de intervenção do mundo adulto, colocando-os como titulares de direitos comuns a toda e qualquer pessoa, bem como direitos especiais decorrentes da condição peculiar de pessoas em processo de desenvolvimento.

5 DIREITOS E GARANTIAS AO MENOR

O Estatuto trouxe essa inovação: a de direitos e garantias aos menores. Pensando como um todo, o adolescente é um menor que tem proteção específica. Caso ocorra de cometer um ato infracional será tutelado pelo Estado o processo de ressocialização.

5.1 DOS DIREITOS INDIVIDUAIS

Está previsto no Título II, do ECA, no capítulo dos direitos fundamentais, diversos direitos atribuídos ao menor. Estes direitos são válidos para as crianças e os adolescentes, de forma geral. São direitos previstos, o direito à vida e a saúde, o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à

ϭϭCURY, GARRIDO E MARÇURA. Estatuto da Criança e do Adolescente. 3ª Edição. Revista dos Tribunais, 2002, pág 21.

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ϭϳ

educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, à profissionalização e a proteção no trabalho.

Além dos direitos acima previstos, para o menor que cometa ato infracional, estão elencados direitos individuais específicos e garantias processuais, apresentados no Título III, do ECA.

Sobre os direitos especiais destinados às crianças e adolescentes, comenta Mário Luiz Ramidoff12 que

direitos da criança e do adolescente são especiais e específicos e, assim, devem ser universalmente reconhecidos, haja vista a peculiar condição de pessoas em desenvolvimento da personalidade – física, moral, cultural, etc..As leis internas, no Brasil, devem garantir a satisfação da necessidades destas pessoas que se encontram na peculiar condição de desenvolvimento de suas personalidades.

O artigo 106 prevê que nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem descrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.

Assim comenta Válter Kenji Ishida13: “Para ser tecnicamente custodiado, a lei exige duas situações: (1) flagrante de ato infracional; (2) através de mandado judicial”.

A hipótese prevista nesse artigo segue a regra do artigo 302 do Código de Processo Penal. Conforme o parágrafo único do mesmo artigo, o adolescente tem o direito de identificar o responsável pela sua apreensão. Também possui o direito de informação acerca de seus direitos.

Somente ao adolescente pode ser prevista a medida de privação de sua liberdade.

Entende Roberto João Elias14, como “a autoridade judiciária competente, que é o Juiz da Infância e da Juventude, devendo ser obrigatoriamente, fundamentada”.

12 RAMIDOFF, Mário Luiz. Lições de direito da criança e do adolescente: Ato Infracional e Medidas Sócioeducativas. 2008, pág. 31.

13 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009, pág. 162.

14 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 2010, pág. 146.

(18)

ϭϴ

O mesmo doutrinador entende como a decisão fundamentada que dá direito ao Estado à privação da liberdade do adolescente: [...] “há de se dar os motivos relevantes que levaram à medida, como a presença de provas da prática do ato infracional e indícios suficientes da autoria”.

Quando ocorrer de um adolescente ser apreendido, deve ser imediatamente comunicado à autoridade judiciária, à pessoa da família ou que mantenha responsabilidade. A possibilidade de liberação será analisada desde o início. Assim é o entendimento de Válter Kenji Ishida15,

seguindo mandamento constitucional, a apreensão do adolescente deve ser comunicada à pessoa com quem mantenha relacionamento. A autoridade competente, tanto a policial, a ministerial e a judicial devem examinar a possibilidade de liberação, sob pena de responsabilidade.

O ECA prevê o prazo máximo de 45 dias para a internação provisória, antes de sentença. A jurisprudência demonstra a possibilidade de internação provisória por um prazo maior que os 45 dias previstos, desde que provada a periculosidade do menor.

Válter Kenji Ishida16 opina que “[...] desde que justificável, o excesso de prazo não obriga a liberação do adolescente, inexistindo constrangimento”.

Caso exista excesso no prazo de internação provisória cabe pedido de desinternação do menor.

Para Cassio Rodrigues Pereira17,

no que tange o artigo 108, o legislador infraconstitucional determina, de modo taxativo, que a duração do período de internamento provisório não poderá ser superior a 45 dias, que é o prazo máximo e improrrogável para a conclusão do procedimento que for instaurado para apuração do ato infracional atribuído a Adolescente (artigo 183).

ϭϱISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009, pág. 163.

ϭϲKďƌĂĐŝƚ͘ƉĄŐ͘ϭϲϰ͘

ϭϳPEREIRA, Cassio Rodrigues. Estatuto da Criança e do Adolescente à luz do direito e da Jurisprudência (Anotações ao novo código civil). 2002, pág. 154.

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ϭϵ

O adolescente não será submetido a identificação compulsória, caso seja civilmente identificado. Somente o será, caso exista dúvida fundada na veracidade da identificação apresentada. De acordo com o comentário de Péricles Prade18 ”o que se questiona é a exigência da humilhante identificação criminal se já houve a civil”.

A ideia do legislador é não causar constrangimento ilegal e atingir o princípio da presunção da inocência.

5.2 DAS GARANTIAS PROCESSUAIS

De acordo com o artigo 110, que inicia o capítulo das garantias processuais, nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal. Esse artigo segue a regra constitucional de que ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal, artigo 5º, LIV, CF. Desta forma, entende Cassio Rodrigues Pereira19, “[...] isso se aplica ao adolescente, que não poderá ser colocado em regime de internação ou semiliberdade sem que se lhe dê todas as garantias e possibilidade de defesa”.

Está elencado no artigo 111, as seguintes garantias ao adolescente: 1) pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente; 2) igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa; 3) defesa técnica por advogado; 4) assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei;

5) direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente; 6) direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento.

18 CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Comentários Jurídicos e Sociais. 2010, pág. 520.

19 PEREIRA, Cassio Rodrigues. Estatuto da Criança e do Adolescente à luz do direito e da Jurisprudência (Anotações ao novo código civil). 2002, pág. 150.

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ϮϬ

6 ATO INFRACIONAL

O ECA traz no artigo 103, a definição de ato infracional, considerando como conduta descrita como crime ou contravenção penal. De acordo com a doutrina de Válter Kenji Ishida20: “Pela definição finalista, crime é fato típico e antijurídico. A criança e o adolescente podem vir a cometer crime, mas não preenchem o requisito da culpabilidade, pressuposto de aplicação de pena.”

Como já visto, o menor é inimputável, de forma que a Constituição Federal e o Código Penal consideram imputável e responsável para ser processado em uma ação penal, somente aos 18 anos. Antes de atingir essa idade, o adolescente que cometa uma infração penal estará cometendo um ato infracional e será responsabilizado com a legislação específica através de medidas previstas no Estatuto.

Para o Desembargador Napoleão X. do Amarante21:

a incidência de tais dispositivos poderá ter origem na violação de norma criminal ou contravencional. O seu agente responderá segundo as regras do Direito repressivo e, se for o caso, também do Direito Civil, pelo fato cuja ilicutude seja objeto de consideração, ao mesmo tempo, desses dois ramos da Ciência Jurídica. Mas, se for menor de 18 anos, a punibilidade cede passo à aplicação de medidas sócio-educativas e o dano deverá ser apurado, para efeito de imputação e responsabilização, segundo a disciplina própria do Código Civil e do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 116).

(2010, pág 493)

Apesar de muitos dos artigos previstos no ECA ser taxativos, o assunto da delinquência infantil-juvenil não está esgotado. O assunto é discutido por diversos juristas e doutrinadores, na intenção de encontrar os melhores métodos de aplicação da lei nos casos de cometimento de ato infracional.

ϮϬISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009, pág. 158.

21 CURY, Munir (coord). Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Comentários Jurídicos e Sociais. 2010, pág.493)

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Ϯϭ

O mesmo jurista explica o ato infracional: “Significa dizer que o fato atribuído à criança e o adolescente, embora enquadrável como crime ou contravenção, mas, na linguagem do legislador, simples ato infracional.” (MUNIR CURY, 2010, pág. 494)

É uma definição técnica, a diferenciação entre uma infração penal, um crime, uma contravenção, de um ato infracional. O tratamento será específico ao agente conforme a legislação específica. De acordo com Roberto João Elias22,

há de ser, portanto, se, à época da prática do ato, a conduta era típica. Em caso afirmativo, o adolescente poderá ser processado, com todas as garantias do denominado “devido processo legal” (arts. 110 e 111). Se não se configurar a tipicidade, somente poderão ser aplicadas as medidas específicas de proteção.

As medidas socioeducativas serão aplicadas somente aos adolescentes. As crianças que cometam conduta consideradas crimes ou contravenções penais serão aplicadas as medidas de proteção previstas no artigo 101 do Estatuto.

O legislador considera a capacidade de discernimento do menor para a aplicação das medidas. Assim observa Roberto João Elias23, “O critério adotado deve-se, certamente, à presunção de que, a partir dos doze anos completos, o menor já possua o discernimento que o capacita a entender os atos que pratica, tendo uma certa maturidade, que , por si mesmo, o induz a agir licitamente”.

Em relação à idade considerada, Cássio Rodrigues Pereira24 entende que “logo, os menores de 18 anos que praticarem tais infrações penais estão sujeitos às medidas previstas no Estatuto, sendo considerada para o Adolescente a idade à data do fato”.

Sobre o adolescente em conflito com a lei, comenta Mario Luiz Ramidoff25 que

ϮϮELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 2010, pág. 143.

ϮϯKďƌĂĐŝƚ͘ƉĄŐ͘ϭϰϱ

ϮϰPEREIRA, Cassio Rodrigues. Estatuto da Criança e do Adolescente à luz do direito e da Jurisprudência (Anotações ao novo código civil). 2002, pág. 148.

ϮϱRAMIDOFF, Mário Luiz. Lições de direito da criança e do adolescente:Ato Infracional e Medidas Sócioeducativas. 2008, pág. 28)

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ϮϮ

diversamente, o adolescente envolvido ou não, num acontecimento como este, deve ser reconhecido por sua própria existência humana, pois somente assim será possível a superação emancipatória transcendental de sua dignidade enquanto pessoa humana. O desenvolvimento humano importa, assim, num empenho pessoal pelos valores humanos. A verdadeira maturidade é alcançada quando da correspondência entre a conjugação do desenvolvimento pessoal pela assunção consciente e ideológica dos valores humanos e um comportamento humanitário.

O adolescente ainda está em processo de formação e desenvolvimento, por isso possui um direito especial e cometendo um ato infracional será aplicada a medida específica.

7 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

O ECA ganhou destaque através da inserção de princípios constitucionais, sendo antes um direito de menor relevância. Com o Estatuto instituído, o direito da criança e do adolescente passa a ser visto de uma forma técnica, com procedimentos específicos.

Passou a ter uma maior veiculação desses direitos, causando repercussões tanto quanto aos direitos atribuídos quanto à aplicabilidade e efetividade das medidas de proteção e socioeducativas.

Com a Constituição Federal de 1988 não há mais distinções entre raça, classe social, proibindo qualquer forma de discriminação. As crianças e adolescentes, sem qualquer distinção, passaram a serem sujeitos de direitos, considerando a fase de desenvolvimento, com base na teoria da proteção integral.

O Estatuto rompe com a situação da legislação anterior, tirando a ideia de discriminação, abandono e delinquência. A ideia de menor não é mais utilizada, de forma que o Estatuto regula que é criança a pessoa com idade até 12 anos incompletos e adolescente entre 12 aos 18 anos de idade. A partir disso, conforme a idade foram

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Ϯϯ

estabelecidas determinadas normas específicas para cada faixa etária. Esta previsão encontra-se no artigo 2º do Estatuto. Comenta Cássio Rodrigues Pereira26,

Por conseguinte, este artigo, além de dar as definições de Criança e Adolescente, traz como corolário as idades de 12 a 18 anos não só como limite entre tais pessoas naturais, como também fixa o termo final da adolescência, tomando como parâmetro a idade inicial da responsabilidade penal, tal como dispõem os artigos 228 da Cf/88 e 27 do Código Penal.

O mesmo autor27 comenta a necessidade do legislador em fazer essa distinção entre a criança e o adolescente: “Houve, ademais disso, a intenção do legislador em fazer uma distinção entre Criança e Adolescente, visando às consequências no caso de ocorrer algum ato infracional, e com isso afastou-se do critério biológico.”

Com a distinção definida pelo código, o Estatuto separa no Título II, III, IV as medidas de proteção estipuladas para as crianças e em determinados casos aos adolescentes, dispostas a partir do artigo 98; da prática de ato infracional e das medidas socioeducativas que são aplicadas aos adolescentes.

A intenção do legislador é de proteção ao adolescentes com a aplicação das medidas socioeducativas. A aplicação dessas medidas preveem que o adolescente se redima do ato errado cometido, de forma a reeducar, desenvolver para que não cometa determinadas condutas não tradicionalmente aceitadas pela sociedade. Isto pode ser visto, conforme a jurisprudência exposta na doutrina de Válter Kenji Ishida28:

se o objetivo da lei é a proteção da criança e do adolescente com a aplicação de medidas socioeducativas tendentes a permitir a sua remissão dos maus atos e de procedimento irregular que possa impedir seu desenvolvimento e integração na sociedade, o que deve ser analisado é a sua conduta, sob o aspecto da sua adequação social e da sua conformação com os hábitos e costumes tradicionalmente aceitos. Em outras palavras, não se exige que o menor tenha praticado um crime para, só então, aplicar-lhe medida socioeducativa. Se assim for, a medida perderá esse caráter de proteção social e educativa, para transformar-se em verdadeira pena. (TSJ – C. Esp. – Ap.

24.020-0 – Rel. Yussef Cahali – j. 23-3-95)

26 PEREIRA, Cassio Rodrigues. Estatuto da Criança e do Adolescente à luz do direito e da Jurisprudência (Anotações ao novo código civil). 2002, pág. 20.

27 Obra cit. pág. 20.

28 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009, pág. 175.

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Ao adolescente não é imposto pena, pois este é inimputável. A medida socioeducativa é uma forma de reeducação e não uma imposição penal. Assim, é visto na sentença do MM. Juiz de Direito Judimar M. Biber Sampaio, transcrita na doutrina de Cássio Rodrigues Pereira29:

[...] o Estatuto não impõe pena de caráter punitivo, mas tão-somente medidas socioeducativas, que visam a um fim pedagógico útil, o de acautelar o próprio interesse do infante, delineando sua conduta em face do ordenamento penal repressor e buscando reabilitá-lo diante de sua própria ação.

Da mesma forma, continua o Meritíssimo Juiz30, demonstrando que a aplicação da medida socioeducativa é uma forma coercitiva do Estado controlar as ações dos adolescentes antijurídicas:

nesse particular, com muita propriedade, criou o processo de apuração e aplicação de medida socioeducativa, no intuito de mostrar aos jovens a face punitiva do Estado, com a finalidade não de infundir-lhes temor, mas sim de ensinar-lhes que o futuro pode não ser o esperado e que cada ação antijurídica poderá desencadear a persecução penal, levando-o fatalmente, a uma condenação criminal e impondo-lhe uma sanção aflitiva.

De toda forma, deve-se respeitar o princípio constitucional que “não há crime sem lei anterior o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Assim observa Roberto João Elias31: “Embora estejamos tratando de pessoas inimputáveis, o certo é que tais princípios devem ser respeitados, sob pena de nulidade”.

O Estatuto prevê que o adolescente comete ato infracional e não crime, pois são os adolescentes inimputáveis e seguem a legislação específica, porém os princípios constitucionais e direitos previstos no Estatuto devem ser respeitados. Não podem ser atribuídas atividades ao adolescente que sejam além do que ele possa cumprir ou tarefa que atrapalhe seu horário escolar. A intenção da lei é fazê-lo corrigir o ato antijurídico

ϮϵPEREIRA, Cassio Rodrigues. Estatuto da Criança e do Adolescente à luz do direito e da Jurisprudência (Anotações ao novo código civil). 2002, pág. 165.

ϯϬKďƌĂĐŝƚ͘ƉĄŐ͘ϭϲϲ͘

ϯϭELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 2010, pág. 154.

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Ϯϱ

cometido, porém sem fazer do mesmo um castigo ao adolescente, visando modificar a conduta do menor. Assim sustenta o mesmo autor32,“[...] há de se observar a capacidade do menor em cumprir a medida. Não se pode, por exemplo, exigir-lhe a prestação de um serviço que desconhece ou a reparação se não tiver condições para isso.”

Somente podem ser aplicadas medidas que estejam previstas no artigo 112 do ECA. É um rol taxativo de medidas, não permitindo que sejam aplicadas medidas que não estejam previstas no Estatuto. Da mesma forma, somente através de autoridade competente a medida será aplicada ao adolescente.

7.1 ANÁLISE CONCEITUAL DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

As medidas socioeducativas estão elencadas no artigo 112, ECA. De acordo com Válter Kenji Ishida33,

O artigo em tela reproduz as medidas cabíveis que encontram certa semelhança com as aplicadas na esfera penal: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços, liberdade assistida, regime de semiliberdade, internação e ainda medidas de proteção. Ainda prevê a lei os parâmetros de aplicação ao menor sindicado que se assemelham ao regramento do art. 59 do CP.

7.1.1 DA ADVERTÊNCIA

A medida da advertência está prevista no artigo 115, do ECA. Prevê que “A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e

ϯϮELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 2010, pág. 155.

ϯϯISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009, pág. 175.

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Ϯϲ

assinada”. Esta medida vem com o caráter de repreensão, advertindo o menor que praticou um ato infracional. Para Válter Kenji Ishida34

prevê o ECA a medida de advertência consistindo em admoestação, ou seja, a leitura do ato cometido e comprometimento de que a situação não se repetirá.

Assim, atos infracionais como de adolescente que cometa, pela primeira vez, lesões leves em outro ou vias de fato, podem levar à aplicação desta medida.

A advertência é a primeira possibilidade de medida exposta pelo Estatuto e é a mais simples das formas. Por ter caráter mais simplificado, não estão afastadas as formalidades exigidas para cumprimento da medida. Assim observa Roberto João Elias35: “Assim sendo, feita verbalmente pelo Juiz da Infância e da Juventude, deve ser reduzida a termo e assinada”.

Essa medida só pode ser instruída pelo Juiz competente, não sendo permitida que outro o faça. Nessa medida também é necessária a presença dos pais ou responsável legal pelo menor. O artigo 33 do Estatuto prevê que “A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais”. O adolescente é um ser humano em fase de desenvolvimento e que necessita de assistência.

O magistrado fará a admoestação verbal devendo esclarecer a conduta antijurídica cometida pelo adolescente. O juiz deve informar sobre as consequências e da reincidência do ato. Os pais ou responsável legal são responsáveis pela conduta do adolescente, de forma que serão alertados sobre a possibilidade de perda do poder familiar ou tutela.

O magistrado é o responsável à aplicação da medida, pois ele detém um papel de coerção, podendo impor algo a alguém.

ϯϰISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009, pág. 178.

ϯϱELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 2010, pág. 157.

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Ϯϳ

7.1.2 DA OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO

A medida de obrigação de reparar o dano está prevista no artigo 116, do ECA.

Prevê “Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano ou, por outra formam compense o prejuízo da vítima”.

No caso de ocorrência de ato infracional que tenha caráter patrimonial, a medida que será enquadrada será a de obrigação de reparação do dano. Assim compreende Válter Kenji Ishida36 que

a obrigação de reparar o dano, como medida socioeducativa, deve ser suficiente para despertar no adolescente o senso de responsabilidade social e econômica em face do bem alheio. A medida deve buscar a reparação do dano causado à vítima tendo sempre em vista a orientação educativa a que se presta.

Todas as medidas vem com a ideia de inserir a responsabilidade ao adolescente sobre o ato que cometeu. Nesse caso, ressarcindo o dano, prejuízo a que deu como resultado. Caso não tenha a possibilidade de arcar com o custo da reparação, o magistrado poderá ponderar e considerar outra medida aplicável ao caso.

A aplicação da medida exige formalidades. Para que haja validade do ato, explica Válter Kenji Ishida37 que “[...] é necessária a presença dos genitores ou do responsável legal, ou, na sua ausência, a nomeação de um representante legal para assistir ou representar o menor (art. 142)”.

7.1.2.1 A responsabilidade dos pais ou responsável legal

A responsabilização dos pais pelo dano material e a devida obrigação de reparação de danos não está expressa no Estatuto da Criança e do Adolescente.

ϯϲISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009, pág. 178.

ϯϳKďƌĂĐŝƚ͘ƉĄŐ͘ϭϴϬ

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Ϯϴ

Legislações anteriores, como no Código Civil de 1916 e o antigo Código de Menores, previam uma responsabilização. O atual Estatuto prevê apenas a responsabilização do adolescente pelo ato cometido. Através de uma interpretação doutrinária e através de jurisprudências, os magistrados também entendem como responsáveis os pais ou responsável legal.

Válter Kenji Ishida38 comenta que o artigo 933, do Código Civil “disciplina ainda a responsabilidade dos pais, independentemente de culpa”.

7.1.3 DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE

A medida de prestação de serviços está disposta no artigo 117, do ECA. Prevê:

“A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais. Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou a jornada normal de trabalho”.

A legislação prevê a medida de prestação de serviços pelo adolescente. A tarefa será realizada em entidades através de convênios com a Vara de Infância e Juventude, podendo ser escolas, hospitais, etc. O juiz poderá estipular o prazo de até 6 meses de cumprimento da medida, conforme o estipulado na lei, independente da vontade do menor.

ϯϴISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009, pág. 181.

(29)

Ϯϵ

7.1.4 DA LIBERDADE ASSISTIDA

Essa medida está prevista no artigo 118, do ECA. Diz no texto legal: A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento. § 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvindo o orientador, o Ministério público e o defensor”.

O juiz poderá designar o prazo de até 6 meses para cumprimento da medida, podendo prorrogar esse período, caso seja necessário.

Essa medida prevê a vigilância do menor, após ser entregue aos pais ou responsável legal, na intenção de evitar que um novo ato infracional seja cometido. A vigilância vem no caráter de garantir a reeducação do adolescente.

Para aplicação da medida, o artigo 119 continua prevendo a responsabilidade do orientador que deverá promover socialmente o adolescente e sua família, supervisionando a frequência do adolescente na escola e auxiliar também na inserção do mesmo no mercado de trabalho.

Explica Válter Kenji Ishida39 que,

ao adolescente submetido a medida de liberdade assistida ou regime de semiliberdade, caberá acompanhamento pelo Setor Técnico, na promoção social do menor e de sua família; no que relaciona ao ensino, sua profissionalização e apresentação de relatório que se requer também no caso de internação.

ϯϵISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009, pág. 186.

(30)

ϯϬ

Essa medida conta com a intervenção do Estado na família do menor que comete ato infracional juntamente com a supervisão e a inserção da própria família. Mostra-se um trabalho em conjunto na intenção de reeducação do menor.

Destacando a importância do orientador, Roberto João Elias40 expõe que

nesta espécie de medida a figura do orientador é de suma relevância, sendo ele o elo entre o adolescente problemático, que precisa de ajuda, e o Juiz da Infância e da Juventude, que deposita a confiança em alguém para prestar esta ajuda”.

Quanto ao prazo, poderá o juiz fixar o tempo que achar necessário para aplicação da medida.

7.1.5 DO REGIME DE SEMILIBERDADE

Essa medida está prevista no artigo 120, do ECA. Prevê: O regime de semiliberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização judicial. § 1º É obrigatória a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade. § 2º A medida não comporta prazo determinado, aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação”.

Como explicação dessa medida expõem Válter Kenji Ishida41,

ϰϬELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 2010, pág. 162.

ϰϭISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009, pág. 187.

(31)

ϯϭ

a lei prevê também o regime de semiliberdade, onde o adolescente permanece internado, podendo contudo realizar atividades externas. Dentre estas atividades, incluem-se a escolarização e a profissionalização. Não há prazo de duração determinado, dependendo de avaliação elo Setor Técnico.

Essa medida estabelece uma relação entre a medida de internação e inserção do adolescente na sociedade. Desta forma, pode interagir com o meio externo, auxiliando em sua reeducação e convivência com os demais.

Roberto João Elias42 explica sobre a aplicação dessa medida, indicando que

a possibilidade de atividades externas é inerente a esta espécie de medida e não depende de autorização judicial. Dependerá evidentemente, do responsável pelo estabelecimento em que estiver o menor, com base em um estudo multiprofissional, que observará a sua convivência. Sendo imprescindíveis ao pleno desenvolvimento da personalidade do menor, são obrigatórias a escolarização e a profissionalização. Há de se procurar, como quer o dispositivo, os recursos que a comunidade oferece. Nada impede, e isso muitas vezes ocorre, que os estabelecimentos tenham os seus próprios cursos.

A intenção da medida, como em todas as outras é a reeducação e inserção do adolescente à sociedade, de forma que se comportamento seja adequado ao padrão moral da nossa sociedade.

7.1.6 DA INTERNAÇÃO

A medida de internação está prevista no artigo 121, do ECA. Prevê o texto legal:

A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. §1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. § 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua

ϰϮELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 2010, pág. 164.

(32)

ϯϮ

manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses. § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos. § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público”.

A medida de internação é a medida mais grave prevista no Estatuto. De toda forma, a Constituição Federal por força de seu artigo 227, prevê a preferência para que o adolescente permaneça em seu lar junto de sua família. Porém a partir de um ato infracional de natureza grave, será analisado a possibilidade de internação, com períodos de verificação da necessidade de permanência em estabelecimento específico.

Roberto João Elias43 confirma a observação a essa medida de que

quando o menor comete uma infração mais grave, ou é reincidente, deve ser feito um estudo pormenorizado, por equipe multiprofissional, podendo-se decidir por sua internação. Considerando-se que o ideal para o adolescente é a permanência no seu lar, junto com seus familiares, por força até do preceito constitucional do art. 227, um dos princípios a ser observado é o da brevidade.

A medida é a mais rigorosa, mas não tem caráter de punição rigorosa, e sim de trazer o adolescente à sociedade reeducado a sociedade o quanto antes, podendo assim que possível a modificação da medida. Desta forma, continua o autor44 explicando a intenção da medida,

a rigor, tal medida não deve ser cumprida por longo tempo, devendo ser reavaliada periodicamente e, sempre que possível, substituída por outra. É medida excepcional, aplicada de forma restrita em casos específicos, e, convém ressaltar, de cunho pedagógico, nunca punitivo.

ϰϯELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 2010, pág. 165.

ϰϰKďƌĂĐŝƚ͘ƉĄŐ͘ϭϲϲ͘

(33)

ϯϯ

Conceitua Válter Kenji Ishida45 que,

constitui a medida de internação a mais grave dentre as socioeducativas, constituindo, a teor do caput, em medida privativa de liberdade. Difere do regime de semiliberdade, tendo em vista que, neste, dispensa-se autorização judicial para a saída.

Atenta o mesmo autor, concordando com Roberto João Elias46, sobre a importância de ser observado o princípio da brevidade e excepcionalidade no caso da aplicação dessa medida, pois

o ECA, visando garantir os direitos do adolescente, contudo, condicionou-se a três princípios mestres: (1) o da brevidade, no sentido de que a medida deve perdurar tão-somente para a necessidade de readaptação do adolescente; (2) o da excepcionalidade, no sentido de que deve ser a última a ser aplicada pelo Juiz quando da ineficácia de outras; e (3) o do respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, visando manter condições gerais para o desenvolvimento do adolescente, por exemplo, garantindo seu ensino e profissionalização.

8 DA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Ao adolescente que cometer ato antijurídico, considerado um ato infracional, cumprirá a medida judicial que lhe for designada. Na prática as medidas encontram algumas dificuldades em sua aplicação.

Mário Luiz Ramidoff47 comenta as medidas socioeducativas com caráter ressocializador:

ao se admitir restrições através de medidas socioeducativas, em alguns casos concretos, isto por si só não pode jamais significar a restauração do antigo poder de punir particularmente próprio ao “código de

ϰϱISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009, pág. 188.

ϰϲELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 2010, pág. 188.

ϰϳRAMIDOFF, Mário Luiz. Lições de direito da criança e do adolescente: Ato Infracional e Medidas Sócioeducativas. 2008, pág. 24.

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