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DA APLICAÇÃO DA MEDIDA DE ADVERTÊNCIA

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Menores”, que, no mais das vezes, além de introjetar o sentimento de culpa com a institucionalização, também, causava-lhe sofrimento físico e psíquico, quando, não dessocializava-o pelo favorecimento da assunção de personalidade estigmatizada de “infrator”. (2008, pág. 24)

8.1 DA APLICAÇÃO DA MEDIDA DE ADVERTÊNCIA

O adolescente é um ser humano em fase de desenvolvimento, que possui direitos e garantias frente ao Estado. Como explica Miguel Moacyr Alves de Lima48,

do ponto de vista da Psicologia Evolutiva, a adolescência é um “período crítico de definição da identidade do eu cujas repercussões podem ser de graves consequências para o indivíduo e a sociedade.

A medida de advertência deve ser bem analisada pelo magistrado antes da sua aplicação devido ao que a aplicação representa ao adolescente em desenvolvimento. A intenção da medida é conscientizar o adolescente do ato cometido, de forma que ele entenda o erro e não cometa novamente.

Para o adolescente, é uma fase em que muitas questões de caráter psicológico serão formados, podendo a admoestação verbal ter um efeito positivo ou negativo. É um período de definição de escolhas, de formação do caráter. Expõe Miguel Moacyr Alves de Lima49 que,

além disso, a adolescência é uma fase evolutiva de grandes utopias que, no geral, tendem a tornar mais problemática a relação do adolescente com o ambiente social, porquanto sua pauta de valores e sua visão crítica da realidade, ora intuitiva ou reflexiva, acabam destoando da chamada ordem instituída. (MUNIR CURY, 2010, pág. 555)

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CURY, Munir (coord). Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Comentários Jurídicos e Sociais. 2010, pág. 554)

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Como demonstra o comentário do autor, é uma fase de formação e que muitas vezes, o adolescente acaba saindo do comportamento esperado e podendo vir a agir contra as normas impostas à sociedade.

A advertência é uma forma de coação e controle social, que na estrutura como medida produz efeitos de caráter positivo, se aplicada de forma adequada. A forma de aplicação deverá contar com natureza subjetiva, levando em conta o perfil do adolescente, a situação em que vive e o ato infracional cometido. Wilson Barreira50 comenta a finalidade da medida de advertência que

é mais a de prevenir a ocorrência de situações contrárias aos interesses dos adolescentes do que, propriamente, ministrar-lhes tratamento ressocializador, tem larga tradição e aplicação no Direito do Menor, tendo constado nos Códigos de Menores de 1927, no art. 175 e também no de 1979, no artigo 14, I. Todavia, ao contrário desses diplomas legais que o antecederam, o Estatuto buscou conceituar a advertência e, ao fazê-lo, neste art. 115, pouco ou nada contribuiu para evitar abusos hermenêuticos, mercê de lacônica redação escolhida.

Antes da aplicação de qualquer medida é necessária a prova de materialidade do fato e indícios suficientes de autoria, de forma que deve ser apurado o fato para que a medida não seja aplicada de forma aleatória e sim, ao menor que cometeu o ato infracional e realmente deve receber o caráter coercitivo do Estado. Confirma Cassio Rodrigues Pereira51 que “para que haja medida de advertência é necessária a existência de prova de materialidade do ato infracional e indícios suficientes da autoria (artigo 112, I, 114, parágrafo único).

Sobre a prova de materialidade e indícios de autoria, Roberto João Elias52 comenta que “sendo a medida mais simples, a de advertência não exige que o fato tenha sido apurado tão rigorosamente, uma vez que consistirá em admoestação verbal, sem maior repercussão”.

50

CAVALLIERI, Alyrio. Falhas do Estatuto da Criança e do Adolescente. 1995, pág. 60.

51

PEREIRA, Cassio Rodrigues. Estatuto da Criança e do Adolescente à luz do direito e da Jurisprudência (Anotações ao novo código civil). 2002, pág. 156.

52

ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 2010, pág. 156.

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Paulo Cesar Pereira da Silva53 faz uma crítica ao artigo 114 do ECA, em relação a materialidade do fato e indícios de autoria, pois “não está previsto o contraditório na aplicação da medida de advertência, sem prova de ato infracional, o que fere, no sistema do ECA, o princípio da legalidade”.

A medida de advertência por si só, parece na prática uma medida inofensiva, mas

que produz efeitos quando aplicada adequadamente. Miguel Moacyr Alves de Lima54

afirma que “devemos nos prevenir contra a tentação de transformar a advertência prevista no art. 115 do Estatuto da Criança e do Adolescente em mera rotina ou num ato de mera burocracia”. (grifo do autor)

Continua o autor no mesmo sentido55,

aparentemente inofensiva, a “advertência”, como qualquer outra efetivação desse poder social, que sem manifesta de forma difusa, não deixa de ser uma forma sutil e eficaz de inserção, exclusão, reinserção, reexclusão, e, portanto, também de externação de preconceitos, discriminações e constrangimento, nem sempre legítimo, dos indivíduos em face dos pontos de vista do sistema social dominante (visão do mundo, crenças, valores, condutas “socialmente úteis” etc.).

A medida tem caráter próprio, não devendo ser aplicada pelo simples fato de ser aplicada, sendo de forma isolada ou cumulativa a outras medidas. Tem caráter punitivo e coercitivo de forma implícita, tendo como real objetivo a inserção e adequação da conduta do menor com o padrão da sociedade. Por esse motivo, muitas vezes a aplicação dessa medida parece banal e sem resultados efetivos para alguns aplicadores da lei.

Por ser uma fase de desenvolvimento e formação, a medida tem o poder de produzir efeitos de forma positiva e na prática apresenta bons resultados. Por esse motivo não podemos simplificar e banalizar a aplicação da medida, sobre o risco de piorar a situação do adolescente, muitas vezes constrangendo e motivando-o a prática

53

Obra cit. pág. 60.

54

CURY, Munir (coord). Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Comentários Jurídicos e Sociais. 2010, pág. 554)

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de conduta diversa do permitido legalmente. Miguel Moacyr Alves de Lima56 afirma que “essa simplificação ou banalização da advertência e de seus efeitos será um equívoco tanto mais grave quanto mais frágil e sensível for a estrutura psicológica e quanto mais problemática for a situação vivenciada pelo adolescente”.

Conceição A. Mousneir57 observa que essa modalidade de medida socioeducativa produziria mais efeitos se aplicada à criança, fazendo uma crítica ao legislador que estipulou essa medida somente aplicável aos adolescentes.

Sem embargo, seria desejável que o legislador tivesse previsto a aplicação à criança infratora, da medida de advertência, de que cuida o inciso I do artigo citado, que constitui medida muito positiva, capaz, inclusive, de produzir melhores frutos quando aplicada a uma criança do que a um adolescente.

A advertência é comum à forma de educação imposta pela sociedade, não sendo exclusiva e aplicada somente pelo Poder Público. A forma de repreender em caráter disciplinar é praticado dentro dos núcleos familiares pelos pais ou responsáveis, das escolas através de diretores, professores, entre outros.

Por esse motivo, a forma de reeducação da medida socioeducativa de advertência é em última forma aplicada pelo Estado. A responsabilidade é divida entre Estado, família, a sociedade como um geral, de forma que cada educador deve ter meios para aplicação dessa “advertência” ao menor. Essa medida, fora a aplicação do Estado, tem importante papel à sociedade na educação do menor que está em fase de desenvolvimento e formação de caráter.

O adolescente, conforme Roberto João Elias58, “deve ser inteirado de que a prática reiterada de atos infracionais pode conduzi-lo à internação ou à semiliberdade, pelo espaço de até três anos.

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Obra cit. pág. 554.

57

CAVALLIERI, Alyrio. Falhas do Estatuto da Criança e do Adolescente. 1995, pág. 60.

58

ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 2010, pág. 154.

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A medida tem força coercitiva, produz efeitos positivos, mas a sua verdadeira aplicação é um conjunto de fatores que estão implícitos. Se as instituições familiares, escolares, etc, perdem o poder de educação dos menores, as medidas impostas pelo Poder Público através do Estatuto repercutirá em pouco efeito. Contudo, o juiz através de sua autoridade, ainda impõe um caráter sancionatório, trazendo resultados positivos.