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DA APLICAÇÃO DA MEDIDA DE LIBERDADE ASSISTIDA

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forma gratuita à sociedade. Por trás do caráter pedagógico da medida, que é inegável, o cumprimento do serviço tem caráter punitivo, sendo tanto pela apuração da culpa quanto pela forma do cumprimento da medida. Continua Roberto Bergalli69, reforçando o caráter pedagógico da medida:

[...] a submissão de um adolescente a “prestação de serviços à comunidade” tem um sentido altamente educativo, particularmente orientado a obrigar o adolescente a tomar consciência dos valores que supõem a solidariedade social praticada em seus níveis mais expressivos. (MUNIR CURY, 2010, pág. 567) A medida de prestação de serviços vem como uma inovação na previsão de medidas do ECA, no que diz respeito a ideia de “punição” do menor. De forma que além de uma aplicação que prive a liberdade do adolescente, o faz realizar uma tarefa, como uma “pena alternativa”. Dessa forma, Ana Maria Gonçalves Freitas70 reforça a discussão existente, sendo

[...] interessante notar, quanto à abrangência educativa e social da medida, a sua contemporaneidade com relação à profunda e fértil discussão que hoje se delineia e que diz respeito à prevalência da caracterização da pena de maneira diversa da privação da liberdade, considerada no teor de diversos estudos e pesquisas como falida e ineficaz no bojo dos atuais sistemas penais.

O quadro encontrado no Anexo B, pág. 73, sintetiza ações/atividades que pode, ser desenvolvidas com o adolescente no programa.

8.4 DA APLICAÇÃO DA MEDIDA DE LIBERDADE ASSISTIDA

A aplicação da medida de liberdade assistida será aplicada quando for a melhor medida para acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. A medida será aplicada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo ser prorrogada, revogada ou substituída e

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Obra cit. pág. 567.

70

CURY, Munir (coord). Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Comentários Jurídicos e Sociais. 2010, pág. 569.

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haverá um orientador capacitado para acompanhar o caso, conforme disposto no artigo 118, do ECA.

Elias Carranza71 entende que os artigos 118 e 119,

[...] põem ênfase na palavra “assistida”, entendendo os adolescentes já não como objetos de vigilância e controle – caso da liberdade vigiada – senão como sujeitos livres e em desenvolvimento, que requerem apoio ou assistência no exercício de sua liberdade, para se desenvolverem à plenitude.

Essa medida tem caráter mais amplo, visando acompanhar a rotina do adolescente, sua conduta, seu meio ambiente familiar. Essa medida se aplica, conforme Roberto João Elias72,

a menores reincidentes em infrações mais leves, como pequenos furtos, agressões leves ou porte de entorpecentes para uso próprio. Por vezes, aplica-se àqueles que cometeram infrações mais graves, onde, porém, efetuado o estudo social, verifica-se que é melhor deixa-los com sua família, para sua reintegração à sociedade. Ouras vezes, aplica-se àqueles que, anteriormente, estavam colocados em regime de semiliberdade ou de internação, quando se verifica que os mesmos já se recuperaram em parte e não representam um perigo à sociedade.

A liberdade assistida mantém o adolescente no seu meio familiar, de forma que terá auxílio para readequação à sociedade. Fora a ajuda da própria família, terá ajuda do “Estado” através de orientador capacitado.

Roberto João Elias73 explica que

um dos grandes problemas que por vezes impede a ressocialização do menor infrator é a falta de oportunidade de trabalho. Sem sua colocação profissional, o menor não terá recursos para estudar e para suas necessidades normais e, quando for dado aos delitos contra o patrimônio, geralmente voltará à prática de infrações.

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Obra cit. pág. 572.

72

ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 2010, pág. 160.

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A falta de oportunidade de trabalho na prática prejudica a readequação do menor. O trabalho é uma forma de fazer com que o adolescente supra suas necessidades pessoais e mantenha o interesse nos estudos, de forma que inibe sua atuação ao crime.

Antes da determinação da sentença, o juiz terá analisado a conduta e comportamento do menor, o ato infracional cometido, o meio ambiente familiar e a comunidade em que convive. Após análise dessas circunstâncias será avaliado se é possível e adequada à aplicação da medida de liberdade assistida. Se for possível, transfere ao orientador a responsabilidade de vigia e orientação do menor assistido.

O orientador tem como base a indicação do artigo 118 do estatuto, não obrigando a limitar-se somente ao dispositivo. O artigo não é taxativo, mas sim exemplificativo para a orientação do trabalho do orientador. A participação do orientador é obrigatória e deve ser ativa. Ana Maria Gonçalves Freitas74 comenta a responsabilidade do orientador de forma que

enquanto perdurar a execução da medida, a liberdade pessoal do adolescente estará sofrendo restrição legal diante da atividade do orientador, cuja participação deverá ser ativa, e não meramente formal ou apenas burocrática.

A intenção do orientador é apresentar a sociedade de uma nova forma ao menor, podendo este criar uma personalidade diferente perante à sociedade, aprendendo condições novas de comportamento, modificando escolhas e possibilitando novas oportunidades.

Para que a medida resulte em efeitos positivos, Ana Maria Gonçalves Freitas75 coloca que é “razoável supor a indispensabilidade da criação de vínculo entre o técnico, o adolescente e familiares, para criar condições de desenvolvimento de uma relação honesta e produtiva. Deve o plano de trabalho ser proposto e debatido.”

A aplicação de forma efetiva da medida de liberdade assistida é responsabilidade de um conjunto de fatores, como apresentado acima, e uma proposta adequada e

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CURY, Munir (coord). Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Comentários Jurídicos e Sociais. 2010, pág. 573.

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traçada do como será a ressocialização do jovem. O jovem estará em contato com sua família, sendo também de responsabilidade dessa o bom desempenho da proposta de ressocialização. Ana Maria Gonçalves Freitas76 diz que “como se sabe, um dos grandes problemas do adolescente infrator é a inexistência de limites proporcionados pelo seu círculo de convivência”.

Elias Carranza77 destaca que

o legislador tem previsto que o operador apoie sua ação com a cooperação que posa ser oferecida por programas estatais e organizações da comunidade, tais como igrejas. Clubes de bairros, escolas de samba, juntas de vizinhos, sindicatos, sociedade de fomento e outras. O objetivo que persegue é o de fortalecer os laços de solidariedade comunitária que oferecem componentes de contenção e apoio ao adolescente em conflito com a lei penal.

O mesmo autor78 também analisa que é dever do orientador a fiscalização do cumprimento das atividades escolares pelo menor, destacando que na prática observa-se a baixa escolaridade dos menores infratores. Entende que

[...] um dos principais déficits que os adolescentes infratores da lei penal apresentam é sua baixa ou nula escolaridade, condição negativa que suas possibilidades laborais e de inserção social e aumenta sua vulnerabilidade ao sistema da Justiça Penal.

O quadro encontrado no Anexo C, pág.74, sintetiza ações/atividades que pode, ser desenvolvidas com o adolescente no programa.

ϳϲ Obra cit. pág. 574. 77 Obra cit. pág. 576. 78 Obra cit. pág. 576.

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