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A n˜ao enumerabilidade do conjunto

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Academic year: 2021

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Texto

(1)

A n˜ ao enumerabilidade do conjunto R dos n´ umeros reais e a desordem no conjunto C dos n´ umeros complexos.

The non-enumerability of the set R of the real numbers and a disorder in the set C of the complex numbers.

Josimauro Borges de Carvalho

1

Jhonny Oliveira Pereira, Rodrigo Coelho Gomes

2

Resumo

O ensino de An´ alise Real e ´ Algebra Linear ´ e de importˆ ancia incalcul´ avel na ´ area da matem´ atica superior, dada sua grande utiliza¸c˜ ao nas mais diver- sas linhas de pesquisa nos cursos de p´ os-gradua¸c˜ ao. A sua abordagem na parte de topologia, n´ umeros reais e espa¸cos vetoriais traz uma contribui¸c˜ ao para o aprendizado paralelo ` a sala de aula. Esse texto se mostra como um instrumento de aux´ılio, de pesquisa e coopera¸c˜ ao para a comunidade esco- lar e, claro, fortificando o conhecimento e a aprendizagem dos acadˆ emicos.

H´ a alguns questionamentos a serem esclarecidos: ´ E poss´ıvel enumerar o con- junto R dos n´ umeros reais? O conjunto C dos n´ umeros complexos ´ e ordenado e completo? Existem dois corpos ordenados n˜ ao isomorfos? Apresentando algumas propriedades e exiomas mostramos a resposta para cada um des- tes questionamentos. O texto tem car´ ater elementar pelo fato de que, a princ´ıpio, os resultados terem sidos escritos para acadˆ emicos iniciantes do curso de matem´ atica, embora, se estendesse tamb´ em aos amantes da ma- tem´ atica em geral. Os resulados aqui apresentados s˜ ao produto de estudos e semin´ arios que foram realizados pela equipe.

Palavras-chave: Corpo, enumerabilidade, reais, complexos.

Abstract

The teaching of Real Analysis and Linear Algebra is of incalculable im- portance in the area of higher mathemats,ic given its wide use in the most diverse lines of research in graduate courses. Its approach in the area of topology, real numbers and vector spaces brings a contribution to parallel learning in the classroom. This text shows itself as an aid, research and coo- peration instrument for the school community and, of course, strengthening the knowledge and learning of academics. There are some questions to be clarified: It is possible to enumerate the set R of the real numbers? Is the C set of complex numbers ordered and complete? Are there non-iomorphic or- dered bodies? Presenting some features and language, we show the answer to each of these questions. The text has an elementary character due to the fact

1

Departamento de Matem´ atica-UEA-jbcarvalho@uea.edu.br

2

Acadˆ emicos do curso de Matem´ atica-UEA.

(2)

that, at first, the results were written for academic beginners of the mathe- matics course, although it also extended to mathematics lovers in general.

The results presented here are the product of studies and seminars that were presented by academics from CEST-UEA and also from NESEIR-UEA.

Keywords: Field, enumerability, real, complex.

Introdu¸ c˜ ao

A matem´ atica dedutiva, tal qual a conhecemos hoje, tem sua origem com Tales de Mileto, no s´ eculo VI a.C. [5] destaca que at´ e esse tempo a Ma- tem´ atica grega era herdeira direta daquela que se desenvolveu na Babilˆ onia e no Egito. Os conhecimentos matem´ aticos de ent˜ ao, tanto nessas regi˜ oes do oriente M´ edio, como na ´India e na China, eram de natureza emp´ırica.

Mas a partir de Tales a Matem´ atica grega vai assumindo o aspecto de um

corpo de proposi¸c˜ oes logicamente ordenadas. Bernhard Bolzano foi quem

primeiro falou livremente de conjuntos infinitos. Ele escreveu um livro sobre

os paradoxos do infinito, publicado postumamente em 1859, no qual abor-

dava v´ arias quest˜ oes de natureza filos´ ofica e matem´ atica acerca dos conjuntos

infinitos. Richard Dedekind foi mais longe que Bolzano, utilizando a no¸c˜ ao

de conjunto na constru¸c˜ ao dos n´ umeros reais. Mas foi Georg Cantor quem

mais avan¸cou no estudo dos conjuntos. Ent˜ ao aparece a defini¸c˜ ao de con-

junto: por conjunto entenderemos qualquer cole¸ c˜ ao numa totalidade M de

objetos distintos, produtos de nossa intui¸ c˜ ao ou pensamento. Para alguns

dos conjuntos que conhecemos ´ e poss´ıvel enumerar seu elementos, ainda que

seja uma tarefa intermin´ avel. No entanto, para o conjunto R dos n´ umeros

reais surge uma pergunta: ´ e poss´ıvel emumerar os elementos de R ? Existem

muitos axiomas e propriedades que apresentam os n´ umeros R dos n´ umeros

reais como um corpo ordenado completo. Um esp´ırito mais cr´ıtico indaga-

ria sobre a existˆ encia dos n´ umeros reais, ou seja, se realmente se conhece

algum exemplo de corpo ordenado completo. Em [8] Um processo de cons-

tru¸c˜ ao dos n´ umeros reais a partir dos racionais ´ e importante porque prova

que corpos ordenados completos existem. A partir da´ı tudo o que importa ´ e

que R ´ e um corpo ordenado completo. Neste contexto, surge uma pergunta

relevante: ser´ a que existem dois corpos ordenados completos com proprie-

dades distintas? Esta ´ e a quest˜ ao da unicidade de R , ou seja, existem dois

corpos ordenados completos n˜ ao-isomorfos? Existe outro conjunto, a saber

o conjunto C dos n´ umeros complexos, que tamb´ em ´ e um corpo. No entanto,

existem algumas propriedades que s˜ ao satisfeitas em R mas em C n˜ ao. Da´ı

ent˜ ao surge uma outra pergunta relevante: O conjunto C nos n´ umeros com-

plexos ´ e ordenado? No decorrer do texto farems algumas dmonstra¸c˜ oes pois

segundo [6] as demonstra¸c˜ oes s˜ ao necesss´ arias para assegurar a verdade dos

teoremas.

(3)

Conjunto finitos e infinitos

Um segmento de N ´ e um conjunto limitado e n˜ ao vazio de naturais que cont´ em todos os naturais menores do que seu elemento m´ aximo. Um conjunto X n˜ ao vazio arbitr´ ario ´ e dito finito se for equipotente a algum segmento de N . Dado ∈ N , dizemos que um conjunto tem n elementos se for equipotente I

n

. Ou seja, o conjunto dos n´ umeros naturais de 1 at´ e n. isto ´ e equivalente a dizer que existe uma fun¸c˜ ao bijetiva

f : I

n

−→ X.

Intuitivamente, uma bije¸c˜ ao signifca uma contagem dos elementos de X.

Por exemplo, o conjunto J = {1, 2, 3, 4, 5} ´ e finito, ´ e equipotente ao I

5

. Um conjunto X chama-se infinito quando n˜ ao ´ e finito. Mais precisamente, X

´

e infinito quando n˜ ao ´ e vazio e, para qualquer n ∈ N n˜ ao se tem a bije¸c˜ ao f : I

n

−→ X.

Conjunto enumer´ aveis e n˜ ao enumer´ aveis

O primeiro conjunto com que nos familiarizamos ´ e o conjunto N dos n´ umeros naturais. ´ Avila em [1] traz a ideia de enumerabilidade como sendo conjunto enumer´ avel a todo conjunto equivalente a N . Um fato surpreen- dente que surge na considera¸c˜ ao de conjunto infinitos diz respeito ` a possibili- dade de haver equivalˆ encia entre um conjunto e um seu subconjunto pr´ orpio.

Por exemplo, a correspondˆ encia n 7−→ 2n, que ao 1 faz corresponder 2, ao 2 faz corresponder 4, ao 3 faz corresponder 6, etc., estabelece equivalˆ encia entre conjuntos dos n´ umeros naturais e o conjunto dos n´ umeros pares posi- tivos. Note que o conjunto dos n´ umeros pares positivos ´ e um subconjunto pr´ oprio do conjunto N ; no entando, tem a mesma cardinalidade de N , ou seja,

´

e equipotente a N , tem o mesmo n´ umero de elementos. Este fenˆ omeno ´ e uma peculiaridade dos conjuntos infinitos e em nada contradiz o que j´ a sabemos sobre conjunto finito. Segundo [8] um conjunto X diz-se enumer´ avel quando

´

e finito ou quando existe uma bije¸c˜ ao f : N −→ X. No segundo caso dize- mos que X ´ e infinito enumer´ avel. Um fato mais surpreendente ainda ´ e que o conjunto Q dos n´ umeros racionais tamb´ em ´ e equivalente a N , isto ´ e, Q ´ e enumer´ avel. Para provar este fato, considere o conjunto Q

+

dos n´ umeros ra- cionais positivos. Vamos usar o fato de que dados os conjuntos A

1

, A

2

, A

3

, ..., todos eles enumer´ aveis, ent˜ ao, sua uni˜ ao A = A

1

∪A

2

∪A

3

∪... ´ e tamb´ em enu- mer´ avel . Reunindo as fra¸c˜ oes que s˜ ao irredut´ıveis e cuja soma do numerador com o denominador seja constante, temos, por exemplo,

1 7 , 2

6 , 3 5 , 4

4 , 5 3 , 6

2 , 7

1

(4)

´

e o conjunto das fra¸c˜ oes com numerador e denominador somando 8. Agora, note que

1 5 , 2

4 , 3 3 , 4

2 , 5 1

´

e o conjunto das fra¸c˜ oes com numerador e denominador somando 6. ´ E claro que cada conjunto desses tem um n´ umero finito de elementos. Basta ent˜ ao escrevermos todos os conjuntos, em ordem crescente das somas correspon- dentes, e enumerar as fra¸c˜ oes na ordem em que aparecem. Todos os n´ umeros racionais positivos aparecer˜ ao nesta lista. Assim, temos uma enumera¸c˜ ao dos n´ umeros racionais. O conjunto Z dos inteiros ´ e enumer´ avel. Agora, pas- saremos a responder ` a pergunta feita inicialmente sobre a enumerabilidade do conjunto R dos n´ umeros reais. Em 1874, Geroge Cantor, surpreendeu o mundo com uma de suas principais descobertas importantes sobre con- juntos, a de que o conjunto R dos n´ umeros reais n˜ ao ´ e enumer´ avel, isto ´ e, possui cardinaidade diferente da do conjunto dos n´ umeros naturais. Um fato surpreendente ´ e que o intervalo (0, 1) possui a mesma cardinalidade da reta toda. Em [4] h´ a uma demonstra¸c˜ ao de que o intervalo unit´ atio (0, 1) de R ´ e n˜ ao enumer´ avel. Segundo [9], sendo I

1

⊃ I

2

⊃ I

3

⊃ ... ⊃ I

n

⊃ ...

uma sequˆ encia decrescente de intervalos limitados e fechados I

n

= [a

n

, b

n

], a interse¸ c˜ ao ∩

n=1

I

n

n˜ ao ´ e vazia. Na verdade este resultado ´ e conhecido na literatura em geral como Princ´ıpio dos Intervalos Encaixados. Agora note que R n˜ ao ´ e enumer´ avel, de fato, raciocinando por absurdo, suponha- mos que todos os n´ umeros reais estivessem contidos numa sequˆ encia (x

n

).

Seja I

1

= [a

1

, b

1

] um intervalo que n˜ ao contenha x

1

. Em seguida tomamos um intervalo I

2

= [a

2

, b

2

] ⊂ I

1

que n˜ ao contenha (x

2

), depois um intervalo I

3

= [a

3

, b

3

] ⊂ I

2

, que n˜ ao contenha (x

3

), e assim por diante. Dessa maneira obtemos uma sequˆ encia (I

n

) de intervalos fechados e encaixados, tal que ∩I

n

conter´ a ao menos um n´ umero real c. Isto contradiz a hip´ otese inicial de que todos os n´ umeros reais est˜ ao na sequˆ encia (x

n

), visto que (x

n

) ∈ ∩I /

n

. Assim, abandonamos a hip´ otese inicial e conclu´ımos que o conjunto R dos n´ umeros reais n˜ ao ´ e enumer´ avel. Vale destacar que o conjunto dos n´ umeros irracionais, denotado por R − Q n˜ ao ´ e enumer´ avel. Segundo [8], tem-se R = Q ∪( R − Q ).

Sabemos que Q ´ e emumer´ avel. Se R − Q tamb´ em o fosse, R seria enumer´ avel, como reuni˜ ao de dois conjuntos enumer´ aveis, pois a reuni˜ ao de conjuntos enu- mer´ aveis ´ e tamb´ em enumer´ avel.

Corpo

De acordo com [8] um corpo ´ e um conjunto K , munido de duas opera¸c˜ oes,

chamadas adi¸ c˜ ao e multiplica¸ c˜ ao, que satisfazem a certas condi¸c˜ oes chamadas

de axiomas de corpo. Para que um conjunto seja considerado um corpo ele

(5)

precisa satisfazer ` as seguintes propriedades:

(i) Comutativa da soma: a + b = b + a.

(ii) Associativa da soma: a + (b + c) = (a + b) + c.

(iii) Associativa do produto: a · (b · c) = (a · b) · c.

(iv) Distributiva ` a direita: a(b + c) = a · b + a · c.

Distributiva ` a esquerda: (a + b) · c = a · c + b · c.

(v) Elemento neutro do produto: 1 · a = a · 1 = a.

(vi) Comutativa do produto : a · b = b · a.

(vii) Elemento inverso aditivo: a + (−a) = (−a) + a = 0.

(viii) Elemento neutro da soma: a + 0 = 0 + a = a.

(ix) O produto de dois elementos n˜ ao-nulos ´ e um elemento n˜ ao-nulo: a · b = 0 ⇒ a = 0 ou b = 0.

(x) Invesro multiplicativo:a · (a)

−1

= (a)

−1

· a = 1.

Os conjunto Q , R e C s˜ ao corpos. Todos eles satisfazem essas dez propri- edades. Os conjuntos N dos n´ umeros naturais e Z dos inteiros n˜ ao s˜ ao corpos.

Ordem e completude

Em Z temos uma ordem linear compat´ıvel com a ordem do suconjunto N dos naturais, a saber, −n < 0 < n, com qualquer naturaln e −n < −m, sempre que m < n, quaisquer que sejam os naturais m e n. Em Z vale o algoritmo da divis˜ ao geral, qual seja, dados qualquer inteiro m e qualquer natural n, sempre existem certos inteiros q e r unicos tais que ´ m = nq + r e 0 ≤ r < n. A ordem de Z ´ e estendida a Q definindo, como m, p ∈ Z e n, q ∈ N ,

m n < p

q ⇔ mq < np

Essa ordem de Q ´ e linear e faz de Q um corpo ordenado. Dizer que R ´ e um corpo ordenado ´ e dizer que dentro deste conjunto existe uma ordem, ou seja, existem elementos que s˜ ao maiores ou menores que outros. Por exemplo, 2 < 5. Isso n˜ ao ocorre em C , isto ´ e, dados dois n´ umeros complexos z

1

e z

2

n˜ ao se pode dizer que z

1

> z

2

ou que z

1

< z

2

. Pois bem, vejamos aqui as propriedades que fazem de R um corpo ordenado. Pode ser que em livros diversos vocˆ e encontre estas propriedades escritas separadamente ou de maneira diferente, mas a essˆ encia ´ e a mesma.

Dados x, y, z ∈ R

(6)

(P1) Transitividade: se x < y e y < z ent˜ ao x < z.

(P2) Tricotomia: dados x, y ∈ R , ocorre exatamente uma das alternativas x = y, x < y ou y < x.

(P3) Monotonicidade da adi¸c˜ ao: se x < y ent˜ ao, para todo z ∈ R , tem-se x + y < y + z.

(P4) Monotonicidade da multiplica¸c˜ ao: se x < y ent˜ ao, para todo z > 0 tem-se xz < yz. Se z < 0 ent˜ ao x < y implica em yz < xz.

(P5) 0 < x

2

, qualquer que seja x 6= 0 ; em particular 0 < 1.

Com estas propriedades fica estabelecida a ordem dentro do conjunto dos n´ umeros reais. Estas propriedades s˜ ao minuciosamente demonstradas em [4]

e [9]. Agora vamos responder ` a outra pergunta que fizemos inicialmente:

o conjunto C dos n´ umeros complexos ´ e um corpo ordenado? A resposta ´ e negativa. De acordo com [3] os n´ umeros complexos podem ser definidos como pares ordenados (x, y) de n´ umeros reais, que s˜ ao interpretados como pontos do plano complexo, com coordenadas retangulares x e y, da mesma forma que pensam,os em n´ umeros reais x como pontos da retra real. ´ E costume denotar um n´ umero complexo (x, y) por z, ou seja

z = (x, y) = x + iy

em que x = Rez, y = Imz e i ´ e a unidade imagin´ aria de modo que i

2

= −1.

De acordo com [2] nenhuma rela¸c˜ ao de ordem definida no corpo dos complexos

´

e compat´ıvel com as opera¸c˜ oes usuais definidas em C . Pela propriedade [P 5]

acima, C n˜ ao pode ser odenado, pois i

2

= −1 < 0. Qualquer que seja o n´ umero complexo z, temos z ≤ 0 ou 0 ≤ z. Se 0 ≤ z, obtemos

0 · z ≤ z · z ⇒ 0 ≤ z

2

. Se z ≤ 0, obtemos

z − z ≤ 0 − z ⇔ 0 ≤ −z ⇔ 0(−z) ≤ −z(−z) ⇔ 0 ≤ z

2

.

Ou seja, 0 ≤ z

2

qualquer que seja z ∈ C . Em particular, podemos ter 0 ≤ (1 + 0i)

2

⇒ 0 ≤ 1.

E tamb´ em,

0 ≤ (0 + i)

2

⇒ 0 ≤ −1.

(7)

De 0 ≤ −1, obtemos

0 + 1 ≤ −1 + 1 ⇒ 1 ≤ 0.

Chegamos numa contradi¸c˜ ao. Logo C n˜ ao ´ e ordenado.

Se C n˜ ao ´ e ordenado, j´ a podemos levantar alguma hip´ otese sobre sua completude. Passaremos agora a responder ao outro questionamento que fizemos inicialmente: Existem dois corpos ordenados completos? A resposta

´

e negativa. Segundo [7] a distin¸c˜ ao fundamental entre R e Q reside no fato de que todo conjunto X n˜ ao vazio de n´ umeros reais que ´ e limitado superiormente possui um supremo. Q n˜ ao tem esta propriedade. De acordo com [4], existe o Axioma Fundamental da An´ alise Matem´ atica: cada subconjunto n˜ ao vazio de R que possui alguma cota superior tem supremo. Pra entender esta terminologia, vejamos que os elementos de R s˜ ao denominados n´ umeros reais ou, simplesmente, reais. Um conjunto X ⊂ R ´ e limitado superiormente quando existe algum b ∈ R tal que x ≤ b para todo x ∈ X. Ou seja, o n´ umero b ´ e maior que qualquer elemento do conjunto X. Dado algum subconjunto X ⊂ R e algum real c, dizemos que c ´ e cota superior de X se nenhum elemento de X for maior do que c. Observe que qualquer n´ umero maior do que uma cota superior de X tamb´ em ´ e uma cota superior de X, ou seja, n˜ ao h´ a maior cota superior. Se exixtir uma cota superior de X, ant˜ ao a menor dentre todas essas cotas superiores de X ser´ a denominada supremo de X, que denota-se por supX. O supremo, se existir, ser´ a ´ unico.

Raciocinando de maneira an´ aloga definimos ´ınfimo do conjunto X. Assim, no corpo ordenado completo R , existe o supremo de qualquer conjunto n˜ ao vazio limitado superiormente. Por defini¸c˜ ao, s =supX se, e somente se,

(S1) x ≤ s qualquer que seja o elemento x ∈ X e

(S2) se o real y for tal que y < s, ent˜ ao existir´ a algum elemento x ∈ X tal que y < x.

Veja os casos abaixo.

1. X = {x ∈ R ; 2 ≤ x ≤ 5}, o n´ umero 2 ´ e ´ınfimo do conjunto X e 2 ∈ X.

O n´ umero 5 ´ e supremo do conjunto X e 5 ∈ X. O n´ umero 5 ´ e o maior elemento de X por isso ´ e tamb´ em chamado de m´ aximo. O n´ umero 2 ´ e o menor elemento de X por isso ´ e tamb´ em chamado de m´ınimo.

2. Y = {x ∈ R ; 2 < x < 5}, o n´ umero 2 ´ e ´ınfimo do conjunto Y e 2 ∈ / Y . O

n´ umero 5 ´ e supremo do conjunto Y e 5 ∈ / Y . O conjunto Y n˜ ao possui

maior e nem menor elemento, logo n˜ ao tem m´ aximo e nem m´ınino.

(8)

Fimalmente responderemos ao ´ ultimo questionamento: Existem dois cor- pos ordenados n˜ ao isomorfos? A resposta ´ e negativa. Dois corpos ordenados completos quaisquer sempre podem ser considerados iguais, ou seja, do ponto de vista alg´ ebrico, chamamos de isomorfos. Assim, podemos dizer que R ´ e o

´

unico corpo ordenado completo.

Seja K um corpo ordenado completo. Ent˜ ao existe um isomorfismo ϕ : R −→ K de corpos ordenados, ou seja, uma bije¸c˜ ao que preserva as opera¸c˜ oes e a ordem dos corpos. Mais precisamente, a bije¸c˜ ao ϕ satisfaz as propriedades seguintes:

(1) Dados x, y ∈ R , vale ϕ(x + y) = ϕ(x) + ϕ(y).

(2) Dados x, y ∈ R , vale ϕ(x · y) = ϕ(x) · ϕ(y).

(3) Dados x, y ∈ R , se x < y ent˜ ao ϕ(x) < ϕ(y).

Estas propriedades dizem que o conjunto R dos n´ umeros reais ´ e ´ unico com a caracter´ıstica de corpo ordenado completo, se existe um outro corpo ordenado e completo ent˜ ao ´ e igual a R .

Conclus˜ ao

Do que foi estudado, entendemos que o conjunto R dos n´ umeros reais ´ e

n˜ ao enumer´ avel, ou seja, a cardinalidade de R ´ e diferente da carnidalidade

de N . Note que entre dois n´ umeros naturais consecutivos n˜ ao se tem outro

n´ umero natural. Em rela¸c˜ ao aos n´ umeros reais esta quest˜ ao n˜ ao se aplica,

pois em R n˜ ao se tem consecutivos, ou melhor, entre dois n´ umros reais exis-

tem infinitos outros n´ umeros reais. N˜ ao ´ e poss´ıvel enumerar os elementos

de R . Outro fato ´ e que os conjuntos Q , R e C s˜ ao corpos, em Q e R pode-

mos definir umaordem, mas em C isso n˜ ao ´ e poss´ıvel. Logo, C n˜ ao ´ e corpo

ordenado. Veja que se Q e R s˜ ao corpos ordenados, o que diferencia estes

dois conjuntos? A resposta est´ a na completeza de R , ou seja, R ´ e um corpo

ordenado completo. A caracter´ıstica que o faz assim ´ e ´ e que todo conjunto

X ⊂ R limitado superiormente possui supremo. Mostrou-se a unicidade de

R quanto a este fato. No universo dos n´ umeros reais ainda existem muitas

coisas a serem estudadas. A teoria da topologia, limites e sequˆ encias s˜ ao

ferramentas que nos ajudam a explorar tal conjunto.

(9)

Referˆ encias Bibliogr´ aficas

[1] ´ AVILA, Geraldo S de Souza. Introdu¸c˜ ao ` a An´ alise Matem´ atoca.2.ed.rev.- S˜ ao Paulo: Edgar Blucher, 1999.

[2] BASTOS, Raimundo. COSTA, Eudes Antˆ onio. Colocando ordem nos complexos. Colloquium Exactarum, v.4, n.1, Jan-Jun. 2012, p. 33-38. DOI:

105747/ce.212.v04.n1.e043.

[3]BROWN, JAMES WARD. REUEL, V. CHURCHILL. Vari´ aveis complexas e aplica¸c˜ oes. Tradu¸c˜ ao Claus Ivo Doering. 9.ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.

[4]DOERING, Claus I. Introdu¸c˜ ao ` a An´ alise Matem´ atica na reta. Rio de Janeiro: SBM, 2015.

[5]EVES, HOWARD. Introdu¸c˜ ao ` a hist´ oria da matem´ atica. Tradu¸c˜ ao: Higino Domingues. - Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2004. .

[6]FOSSA, John A. Introdu¸c˜ ao ` as t´ ecnicas de demonstra¸c˜ ao na matem´ atica.2.

ed.ampl.e ver.S˜ ao Paulo: Editora Livraria da F´ısica, 2009.

[7] LIMA, ELON LAGES. Elementos de topologia geral. Textos univer- sit´ arios. Rio de Janeiro: Editora SBM, 2009.

[8] LIMA, ELON LAGES. Curso de an´ alise. V.1.14.ed. Projeto Euclides. Rio de Janeiro: Associa¸c˜ ao Instituto Nacional de Matem´ atica Pura e Aplicada, 2014.

[9] LIMA, ELON LAGES. An´ alise real, fun¸c˜ oes de uma vari´ avel. V.1.10ed.

Cole¸c˜ ao Matem´ atica Universit´ aria. Rio de Janeiro: IMPA 2010.

Referências

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