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Rem Koolhaas / OMA|AMO : a busca de uma arquitetura livre (projetos de 1976 a 2002

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1 GLAUCO CORRÊA PORTO TONON

REM KOOLHAAS / OMA|AMO

A busca de uma arquitetura livre (projetos de 1976 a 2002)

Dissertação de Mestrado Acadêmico apresentada ao programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para obtenção do titulo de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

ORIENTADOR: PROF. DR. CANDIDO MALTA CAMPOS NETO

SÃO PAULO, 2020

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T665r Tonon, Glauco Correa Porto.

Rem Koolhaas / OMA|AMO : a busca de uma arquitetura livre (projetos de 1976 a 2002) / Glauco Correa Porto Tonon.

340 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020.

Orientador: Candido Malta Campos Neto.

Referências bibliográficas: f. 330-340.

1. Rem Koolhaas. 2. OMA. 3. AMO. 4. Nova York. 5. Crítica- paranoica. 6. Arquitetura livre. I. Tonon, Gauco Correa Porto, orientador. II. Título.

CDD 720.1 Bibliotecária Responsável: Aline Amarante Pereira - CRB 8/9549

(3)
(4)

Agradecimentos

À Alessandra e Raíssa, pelo amor, incentivo e apoio.

Ao Prof. Candido, pela paciência

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5 RESUMO

Este trabalho analisa a produção arquitetônica e teórica de Rem Koolhaas no período compreendido entre 1976 e 2002, portanto desde a fundação de seu escritório, OMA.

Neste processo procura identificar nos seus projetos a aplicação e amadurecimento de conceitos, princípios, ou procedimentos desenvolvidos inicialmente em seu livro Nova York Delirante: Um Manifesto Retroativo. Conceitos que, somados a outros, formulados posteriormente, definiriam uma arquitetura aparentemente livre das restrições da história, ideologia e política. Liberdade essa que permitiria à arquitetura se desenvolver nos seus próprios termos.

Palavras-chave: Rem Koolhaas, OMA, AMO, Nova York, crítica-paranoica, arquitetura livre.

(6)

ABSTRACT

This work analyzes the architectural and theoretical production of Rem Koolhaas in the period between 1976 and 2002, therefore since the foundation of his office, OMA. In this process, he seeks to identify in his projects the application and maturation of concepts, principles, or procedures developed initially in his book "Delirious New York:

A Retroactive Manifesto". Concepts those that added to others, with later formulation, would define an architecture apparently free from the restrictions of history, ideology and politics. Such freedom would allow architecture to develop on its own terms.

Keywords: Rem Koolhaas, OMA, AMO, New York, paranoiac-critical, free architecture.

(7)

7

INTRODUÇÃO ... 9

1 REM ... 15

1.1 História ... 16

1.2 Arquitetura ... 22

2 A NOVA YORK DE KOOLHAAS ... 42

2.1 Início, a primeira conquista ... 45

2.2 Coney Island, o laboratório ... 50

2.3 Manhattan, o teatro da invenção ... 67

2.4 Os europeus, a segunda conquista ... 88

3 OMA ... 104

3.1 O(s) começo(s) ... 107

3.1.1 O primeiro começo – 1975 ... 107

3.1.2 O segundo começo – 1978 ... 118

3.1.3 O terceiro, e definitivo, começo - 1980 ... 123

3.2 Trajetória ... 123

3.2.1 1980-1990 / da arquitetura de papel à primeira dose de grandeza ... 124

3.2.2 1991 – 2002 / a segunda década ... 161

3.3 Textos ... 174

4 S, M, X, XL ... 184

4.1 Tamanho pequeno (S) – até 5.000 m2 ... 184

4.1.1 Patio Villa, Roterdã, 266 m2, / 1984-1988 ... 184

4.1.2 Villa Dall’Ava, Paris, 1.350 m2, 1984-1991 ... 190

4.1.3 Nexus World Housing, Fukuoka, 3.315 m2, 1988-1991 ... 199

4.1.4 Maison à Bordeaux, Floriac, 500 m2, 1994-1998 ... 206

4.2 Tamanho médio (M) – 5.000 a 15.000 m2 ... 212

4.2.1 Netherlands Dance Theater (NDT), Haia, 7.260 m2, 1980-1987/2015 ... 212

4.2.2 Kunsthal, Roterdã, 7.000 m2, 1987-1992 ... 220

4.2.3 Educatorium, Roterdã, 11.000 m2, 1992-1995 ... 232

4.2.4 McCormick Tribune Center, Chicago, 10.690 m2, 1997-2003 ... 243

4.2.5 Netherlands Embassy, Berlim, 8.500 m2, 1997-2003 ... 250

(8)

4.3 tamanho grande (L) – 20.000 a 100.000 m2 ... 259

4.3.1 Lille Grand Palais (Congrexpo), Lille, 45.000 m2, 1990 - 1994 ... 259

4.3.2 Casa da Música, Porto, 68.000 m2 / 1999 - 2005 ... 270

4.3.3 Seattle Central Library, Seattle, 38.300 m2, 1999-2004 ... 284

4.4 tamanho extragrande (XL) – acima de 100.000 m2 ... 299

4.4.1 Euralille, Lille, 800.000 m2, 1989-1994 ... 299

4.4.2 De Rotterdam, Roterdã, 162.000 m2, 1997-2013 ... 307

4.4.3 CCTV - Sede, Beijing, 473.000 m2, 2002-2012 ... 315

CONSIDERACÕES FINAIS ... 325

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 330

(9)

9 INTRODUÇÃO

Eu sou um pensador1. - Rem Koolhaas Só o pensamento, fruto do trabalho, é transmissível2.

- Le Corbusier

Desde os anos 1970, quando lança seu livro Nova York Delirante: um manifesto retroativo para Manhattan, e cria o OMA (Office for Metropolitan Architecture), Rem Koolhaas tem defendido uma arquitetura aparentemente livre das restrições da história, ideologia e política. Uma liberdade que permitiria a arquitetura se desenvolver nos seus próprios termos, como uma atividade excitante, provocante e estimulante.3 Essa procura por uma arquitetura livre é o tema de nossa dissertação, com seus alcances e limitações.

Identificar no trabalho do OMA a aplicação e amadurecimento de conceitos, princípios ou procedimentos desenvolvidos nessa procura é o objetivo deste trabalho.

Pretendemos, com ele, estabelecer uma contribuição para os estudos e melhor compreensão dos trabalhos do arquiteto holandês. Apesar de sua importância, tanto na academia quanto na produção arquitetônica, entendemos que no Brasil ainda há poucos trabalhos sobre OMA/Koolhaas com o alcance e nos moldes proposto nesta dissertação.

Sendo assim, delimitamos um período que abrange os projetos desde 1976, logo após a fundação do OMA, até 2002. Nesse processo veremos desde a relativa inocência do grupo de jovens liderados por Koolhaas, em seus primeiros projetos

“metafóricos-conceituais”4, até os projetos gigantescos e pragmáticos do já, então, mundialmente famoso OMA. Começamos com um concurso considerado como o debut do OMA, o de Moradias para a Roosevelt Island em Nova York, e terminamos com outro, o concurso para a China Central Television (CCTV) em Beijing.

1 ZAERA, Alejandro, Finding Freedoms: conversations with Rem Koolhaas, 1987-1998 OMA/Rem Koolhaas, El Croquis, Nº 53+79, 1998, p. 21. Declaração de Koolhaas ao entrevistador.

2 CORBUSIER, Le. Mise au point, disponível em http://www.tourlecorbusier.com acessado em 20/05/2020.

3 GERREWEY, Van Christophe. Oma/Rem Koolhaas: a critical reader, EPFL Press, 2019, p. 12.

4 Uma das três classificações dos projetos iniciais do OMA, as outras eram: “projetos idealizados” e

“projetos realistas”.

(10)

Mas antes desse percurso pela obra de Koolhaas e de seu escritório, compreendidos nos dois últimos capítulos, entendemos que também é necessário descrever os contextos, sejam históricos ou de formação, que contribuíram de forma importante para o desenvolvimento teórico de Rem Koolhaas, razão primeira das suas inquietações intelectuais responsáveis pela sua arquitetura. Sendo assim, chegamos ao formato final desta dissertação, em quatro capítulos.

O primeiro deles, “REM”, foi dividido em duas partes. Na primeira, “História”, elaboramos uma biografia resumida de Koolhaas. Começando com sua infância na Indonésia (algo que influenciará muito sua ideia de cidade) até a sua escolha definitiva pela carreira de arquiteto. Definitiva porque antes foi roteirista e jornalista, profissões que serão determinantes e modeladoras do modo de fazer arquitetura de Koolhaas, como ficará claro várias vezes neste estudo.

Já na segunda parte, “Arquitetura”, é abordada a sua formação especifica na disciplina. Começa em Londres, em 1968, na Architectural Association (AA) – School of Architecture, até sua conclusão em Nova York. São dois períodos muito distintos, ambos importantes, e assim são tratados no texto.

No período europeu, chamemos assim, focamos nas primeiras referências que Koolhaas tem contato: o Construtivismo Russo (representado por Ivan Leonidov, a quem ele citará em muitos projetos anos depois), e os grupos italianos Superstudio e Archizoom. Algumas influências para Koolhaas se tornam quase permanentes, e serão citadas explicitamente em projetos durante toda sua carreira. Leonidov é o primeiro, talvez, a ser incorporado a esse repertório teórico/histórico. Assim como o Muro de Berlim, que se tornará uma das obsessões de Koolhaas e é objeto do seu primeiro trabalho teórico: The Berlim Wall as Architecture. Esse estudo, somado às observações dos trabalhos de Leonidov e dos grupos italianos, resulta no primeiro projeto relevante que citamos no capítulo e na dissertação: Exodus, or the Voluntary Prisioners of Architecture. Na análise feita, encontramos várias pistas de como Koolhaas entende e propõe arquitetura. O projeto é ainda o catalisador de um grupo formado por Koolhaas; um professor dele e sua esposa, Elia Zenghelis e Zoe Zenghelis; e finalmente Madelon Vriesendorp, artista como Zoe, e futura esposa de Koolhaas. Este grupo formará o OMA alguns anos mais tarde, já em Nova York, para onde Koolhaas tinha se mudado com Vriesendorp, após concluir o curso na AA. É quando inicia a segunda etapa de sua formação.

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11 Nesta parte, que finaliza o primeiro capítulo, tratamos do período americano de Koolhaas. A começar por sua relação com Oswald Mathias Ungers, motivo por ter optado por estudar no College of Architecture da Cornell University, em Ithaca (NY), de quem se tornará principal discípulo e com quem mais tarde trabalhará. Nosso foco é sua pesquisa sobre Nova York, especificamente Manhattan, que norteará sua carreira. O primeiro resultado dela será uma interpretação teórica da malha da ilha, com participação de Elia Zenghelis, e desenhado por Vriesendorp: The City of the Captive Globe, onde Koolhaas já explicita algumas de suas influências (entre elas, Leonidov, Ungers, Le Corbusier, Salvador Dalí) e dá sinais de sua leitura da retícula de Manhattan. A teoria completa estará desenvolvida em um livro, resultado da pesquisa citada acima, lançado em 1978.

O segundo capítulo de nosso trabalho, “A Nova York de Koolhaas”, é dedicado totalmente a essa obra seminal dele, e que lhe deu fama mesmo antes de construir qualquer edifício: o livro Nova York Delirante: Um Manifesto Retroativo para Manhattan. Entendendo o livro como um roteiro, optamos por seguir a linha condutora dada pelo autor. Assim o acompanhamos no seu processo de construção de uma narrativa teórica, que lhe possibilitou formular conceitos modeladores de seu modo de pensar arquitetura. Já sobre o método de investigação usado por Koolhaas, fazemos ao contrário do livro, e revelamos logo no início do capítulo que ele se baseia na atividade crítico-paranoica de Salvador Dalí, de onde vem a palavra chave do título, Delirante. Essa escolha foi necessária para poder qualificar, corretamente, nossos comentários.

O capítulo é dividido em quatro partes. Na primeira, “Início, a primeira conquista”, tratamos da leitura feita por Koolhaas da colonização holandesa da ilha, e de suas estratégias intelectuais para caracterizar o desenho inicial da malha da cidade ao seu interesse teórico. Assim como a sua narrativa das feiras mundiais, que nos prepara para uma das partes mais interessantes do livro. Ela está descrita e analisada na segunda parte, “Coney Island, o laboratório”, onde abordamos as

“descobertas” de Koolhaas no que ele chama de “apêndice clitoriano” de Nova York.

Acompanhando os seus entusiasmados relatos sobre os parques temáticos, analisamos os conceitos iniciais desenvolvidos por ele, como “irresistível sintético” ou

“tecnologia do fantástico”. Apesar de parecer secundária, Coney Island tem papel essencial na narrativa de Koolhaas: ela seria o laboratório onde foram testadas tecnologias e experiências, depois transplantadas para Manhattan. Da observação

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que faz dos parques, surge outra obsessão: a de criar sensação de instabilidade ou de desequilíbrio em seus edifícios, gerar emoções.

Na próxima parte, “Manhattan, o teatro da invenção”, descrevemos o que seria a Manhattan de Koolhaas. Uma cidade resultado das experiências antes testadas em Coney Island. Se no laboratório, a tecnologia (Koolhaas chama de parafernália) foi usada para gerar ilusão, agora será aplicada para atingir eficiência.

Seguimos Koolhaas pelos prédios que escolheu para celebrar sua “cultura de congestão”. São eles os atores desse teatro da invenção, e através de sua (peculiar) leitura desses prédios icônicos (Flatiron, Equitable, Waldorf-Astoria, etc.) desenvolve os conceitos que analisamos, como “lobotomia”, “extrusão”, “massa-crítica” ou “auto monumento”. Um desses conceitos, o do “corte livre” acaba por transformar o prédio, instrumento de sua formulação, também em um ícone, agora da produção de Koolhaas: o Downtown Athletic Club. Outro ícone, a torre RCA do Rockefeller Center, será a metáfora utilizada por Koolhaas para descrever o que seria um atentado contra os arranha-céus originais de Nova York, perpetrada por uma nova invasão europeia.

Este é o tema da última parte do capítulo, chamada de “Os europeus, a segunda conquista”. Salvador Dalí é o primeiro europeu do título e, através dele, ficamos sabendo que Koolhaas usara o método crítico-paranoico para escrever seu livro. Para propiciar um melhor entendimento desse método, fazemos uma análise um pouco mais detalhada do quadro Angelus, pintado por François Millet entre 1857-59.

Essa pintura, como veremos, é o símbolo principal usado por Koolhaas para interpretar o método. Num segundo, e último, momento descrevemos o embate, sobre o qual Koolhaas vinha nos preparando desde o início: entre a cidade que entende como realmente moderna (e enxerga como sendo espontânea, hedonista, a cidade da congestão) relatada até aqui em seu livro, e a cidade moderna utópica, representada na figura de Le Corbusier. É disso que o livro trata. Entendemos ter esse segundo capítulo, especial relevância, visto Nova York Delirante ser essencial para o entendimento da obra de Koolhaas, descrita no próximo capítulo.

“OMA”, é dividido em três partes. Na primeira, “O(s) começo(s)”, falamos da história da fundação do escritório a partir de 1975 (já que foram três). Na segunda,

“Trajetória”, temos um percurso pelos projetos do arquiteto dentro do nosso recorte temporal: de 1976 a 2002.

Visto que quase todos projetos relevantes e executados serão descritos no capítulo seguinte (embora constem desta linha temporal), aproveitamos para

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13 apresentar alguns projetos pouco conhecidos, propostas iniciais de outros (o que propicia material interessante, quanto ao seu processo de desenvolvimento, como o Kunsthal) e, principalmente, projetos do OMA para concursos. Afinal, formam praticamente a única produção do escritório em seus primeiros dez anos, quando praticamente nada construíram. Propostas como a da Prefeitura de Haia, que embora vencedora, não foi construída, pois o escritório que ficou em segundo lugar foi o contratado. Ou ainda, a feita para a Deux Bibliothèques em Paris, quando mais uma vez o OMA vence o concurso, mas o projeto não é executado. Nesse trajeto de quase 30 anos, através de uma linha cronológica, e até pragmática, verificamos como Koolhaas aplica não só os conceitos desenvolvidos em Nova York Delirante, mas também outros desenvolvidos durante esse período, num processo natural de amadurecimento e refinamento teórico.

A parte final deste capítulo, “Textos”, é dedicada a outro livro de Koolhaas, o S, M, X, XL, que em seu título já demonstrava uma nova categorização dos projetos, agora por escala. Numa recapitulação de sua produção, Koolhaas nos apresenta, em 1.344 páginas, uma mistura de descrição dos projetos do OMA, diário do arquiteto e uma lista em ordem alfabética de citações. Entremeado a isso tudo, ensaios importantes, como Grandeza, ou o problema do Grande onde teoriza sobre o problema de trabalhar em grandes escalas, e Cidade Genérica. As análises dos dois fecham o capítulo.

Quinze dos projetos listados no terceiro capítulo foram selecionados formando o quarto e último capítulo: “S, M, L, XL”, onde são analisados de uma maneira mais detalhada. As diretrizes que nortearam a escolha deles foram: a) projetos executados;

b) projetos relevantes na produção de Koolhaas e c) projetos onde Koolhaas fosse o arquiteto principal. Se antes a organização era cronológica, agora ela se baseia na proposta por Koolhaas, nas escalas dos projetos: pequeno, médio, grande e extra- grande. Começando em 266 m2 (Patio Villa) e chegando em 473.000 m² (CCTV), o que nos deu oportunidade de observar o modo do OMA lidar, não só com diferentes programas, mas também com diferentes escalas e complicações inerentes.

A metodologia da pesquisa se baseou na revisão e reinterpretação do material bibliográfico e iconográfico. As traduções, exceto onde indicado o contrário, são nossas.

Além dos textos e livros obrigatórios de Koolhaas, o material bibliográfico é extenso, até pela forma de nossa dissertação, onde há elementos estritamente

(14)

históricos, outros absolutamente teóricos e, por fim, análises de projetos. Portanto se usamos uma base bibliográfica até o segundo capítulo, ela praticamente muda para os outros dois, quando nosso foco passa a ser os projetos.

Entre os arquitetos consultados, podemos destacar Adrián Gorelik, Rafel Moneo, Peter Eisenmann, Guilherme Wisnik e Igor Guatelli; entre os historiadores, Hubert Damisch, Charles Jencks e Stanislaus von Moss; entre os críticos, Jeffery Kipnis, Hal Foster, Alejandro Zaero-Polo, Geert Bekaert e Bart Lootsma.

Entretanto, algumas obras merecem destaque, por motivos distintos. A primeira é Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, de Roberto Giargiani (2011), quase uma enciclopédia da obra de OMA/Koolhaass, útil especialmente para verificação histórica e análises mais técnicas. A segunda é Oma/Rem Koolhaas: a critical reader, de Christophe van Gerrewey (2019), publicado quase no final de nossa pesquisa, cuja coletânea de 150 artigos (alguns que tinham sido publicado apenas na Holanda), das mais variadas perspectivas, nos permitiu aumentar muito a base crítica.

O terceiro é o Inquietação Teórica e Estratégia Projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos, de Rafael Moneo (2008), menos por sua analise da obra de Koolhaas, e mais pelo modo que a fez (como fez as dos outros sete arquitetos), se tornando a referência do método adotado, na nossa análise dos projetos. O critério não é essencialmente gráfico, embora use de desenhos e/ou ilustrações; nosso objetivo é identificar/verificar conceitos aplicados nos projetos. Não muito diferente do que Moneo, em seu livro, diz ser sua intenção dentro do conceito estratégia, quando procura identificar procedimentos, paradigmas e artefatos formais que, em aparecem repetidamente nas obras dos arquitetos5. No nosso caso, o arquiteto é Rem Koolhaas, de quem começamos a falar agora.

5 MONEO, Rafael. Inquietação Teórica e Estratégia Projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos. Editora Cosac Naify, 2008. p. 9.

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15 1 REM

Figura 1.1 - Koolhaas aos 21 anos, Roterdã, 1965. Fonte: PINTEREST, disponível em

<https://www.pinterest.com/pin/497647827547560898/>, acessado em 10/08/2019.

Rem Koolhaas e sua trajetória pessoal antes de sua produção, ideias e conceitos se fundirem e/ou confundirem com as do OMA, escritório quase sinônimo de seu fundador: este é o tema deste capítulo inicial, que dividimos em dois blocos principais.

No primeiro, uma pequena biografia e descrição da sua formação multidisciplinar que, além da arquitetura, conta com cinema e jornalismo, que terão grande impacto no modo que Koolhaas entende e atua na sua profissão final.

Já no bloco seguinte, passamos à sua formação final e às principais linhas de pensamento arquitetônicas, desde seu ingresso na Architectural Association (AA) – School of Architecture, em Londres, até sua estadia em Nova York, fundamentais na formação do arquiteto.

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1.1 História

Começamos com uma breve, mas necessária, biografia onde encontramos as origens da arquitetura produzida por Koolhaas: “os acontecimentos de sua infância gravitam sobre sua carreira”1.

Remment Lucas "Rem" Koolhaas nasce em Rotterdam em 1944, em uma família que contava com um escritor e roteirista (seu pai, Anton Koolhaas) e arquitetos (seu avô Dirk Roosenburg e seu primo Teun Koolhaas). Não por acaso, duas das profissões em que atuará.

Passa parte da infância em Jacarta na Indonésia, quando seu pai é convidado por Sukarno, primeiro presidente da República e também um arquiteto, para dirigir Instituto Cultural na ex-colônia que acabara de conquistar sua independência2. O garoto de 8 anos que deixou uma Holanda devastada pelos alemães durante a 2ª Guerra Mundial, se encontra agora num caos similar: o de um país em processo desordenado de construção. Ao voltar, 4 anos depois, a Holanda e Roterdã que encontra são outras. Estavam em reconstrução como acontecia no resto da Europa, seguindo um processo ordenado, limpo e chato aos olhos de uma criança. O provisório e inacabado da Indonésia eram muito mais interessantes e instigantes.

Eu cresci numa cidade que não existe mais, Roterdã, que havia sido completamente devastada pelos alemães. Para as crianças, claro, um ótimo lugar para descobertas. Então quando eu tinha oito anos, nos mudamos para Indonésia, onde de novo tudo estava em movimento, já que o país tinha acabado de se tornar independente. [...] Eu entendo que devo minha veia Asiática a esse período. [...] Bem, quando voltamos para Roterdã, tudo lá era ordenado e limpo, tudo terrivelmente chato como várias cidades hoje em dia, que na verdade não são cidades, mas subúrbios. Eu percebi na época o quanto eu tinha gostado da Indonésia, onde tudo era provisório e inacabado. 3

1 MONEO, Rafael. Inquietação Teórica e Estratégia Projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos. Editora Cosac Naify, 2008, p. 283.

2 GLANCEY, Jonathan. Architect Rem Koolhaas: Our cities are the brainchildren of Reagan and Thatcher. The Telegraph, 06/07/2014. Disponível para a consulta:

<https://www.telegraph.co.uk/culture/art/architecture/10862921/Architect-Rem-Koolhaas-Our-cities- are-the-brainchildren-of-Reagan-and-Thatcher.html>, acessado em 14/05/2019.

3 RAUTERBERG, Hanno. Talking Architecture: Interviews with Architects. Munich: Prestel Verlag. 2012.

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17 O começo de uma percepção consciente de Koolhaas para oposições radicais e descontinuidades pode estar na Jacarta recém independente, com sua mistura da remanescente ordem colonial e o caos do novo país em construção.4

Foi uma estranha coexistência entre partes muito organizadas frente a outras em desordem [...] Essa foi a origem de um tipo de divisão fundamental entre lealdade ou extensão/ampliação de extremos em meu trabalho.5

Após sua volta para Holanda, e já morando na efervescente (como as demais capitais europeias) Amsterdam dos anos 1960, trabalha como roteirista (The White Slave é seu roteiro mais conhecido), participa do grupo de cinema 1, 2, 3 Group6 (Fig.

1.2) e também atua como jornalista no Haagse Post. As três atividades serão determinantes não só na sua formação intelectual, mas também no modo como pratica arquitetura.

4 LUBOW, Arthur. Rem Koolhaas Builds: The world’s most influential architectural mind finally has something to show for it. The New York Times Magazine. NY, 09/07/2000. Disponível para consulta em

<https://archive.nytimes.com/www.nytimes.com/library/magazine/home/20000709mag-

koolhaas.html?utm_medium=website&utm_source=archdaily.com>, acessado em 15/05/2019.

5 ibidem

6 Jan De Bont, diretor de “Speed”, acaba se tornando o mais conhecido cineasta do grupo completado por Rene Daalder, Kees Meyering, Frans Bromet.

Figura 1.2 - 1, 2, 3 Group (Koolhaas acima e à esquerda), 1966. Fonte: ARCHDAILY, disponível em

<https://www.archdaily.com.br/br/757377/a-carreira-de-koolhaas-no-cinema-12-3-group>, acessado em 10/08/2019

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Se o próprio arquiteto algumas vezes se diz mais escritor que arquiteto, remetendo a atividade de roteirista e/ou jornalista, não é de estranhar que tenha se tornado primeiro conhecido por uma obra escrita, o seu Manifesto Retroativo.

No cinema Rafael Moneo enxerga uma grande relevância na formação de Koolhaas, refletido, por exemplo, nas fotos de maquetes (Fig. 1.4 e 1.5) em começo de carreira ou até mesmo em fotos para publicação de obras executadas7(Fig. 1.6) Koolhaas entende que a arquitetura segue processo de elaboração similar ao do cinema.

7 MONEO, Rafael. Inquietação Teórica e Estratégia Projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos. Editora Cosac Naify, 2008, p. 301.

Figura 1.3 - Cartaz de um dos filmes do Grupo 1, 2, 3, 1966. Fonte: ARCHDAILY, disponível em

<https://www.archdaily.com.br/br/757377/a-carreira-de-koolhaas-no-cinema-12-3-group>, acessado em 10/08/2019.

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19

Figura 1.4 - maquete para concurso da Prefeitura de Haia, Roterdã, 1986. Fonte:

OMA, disponível em <https://oma.eu/projects/city-hall-the-hague>, acessado em 10/08/2019.

Figura 1.5 - maquete para concurso da Prefeitura de Haia, Roterdã, 1986. Fonte:

OMA, disponível em <https://oma.eu/projects/city-hall-the-hague>, acessado em 10/08/2019.

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Em paralelo também se dedica à carreira que, segundo ele mesmo, o ensinou a ter curiosidade e aceitar a realidade: o jornalismo.

[...] penso que posso fazer arquitetura como um jornalista, e uma das coisas mais instigantes sobre o jornalismo é ser uma profissão sem uma disciplina. O jornalismo é apenas um regime de curiosidades, aplicável a qualquer assunto, e eu diria que esse ainda é um dos fatores importantes quem movem minha arquitetura. 8

Começa a trabalhar no semanário De Haagse Post em 1963, aos 19 anos, elaborando layouts e escrevendo sobre cinema, literatura, música, esporte, política, sexualidade, arte e arquitetura (artigos sobre Hendricus Theodurus Widje e Le Corbusier), assim como entrevistas com Fellini e Constant Nieuwenhuys9 (Fig. 1.7).

Seguindo a linha editorial que preconizava uma não interpretação, mas sim uma aceitação descompromissada da realidade, Koolhaas eliminava de seu trabalho

8 EISENMAN, Peter. Supercrítico: Peter Eisenman, Rem Koolhaas. Título original: Supercritical.

Tradução Cristina filho. Cosac Naify, 2013, p. 14.

9 Escultor, pintor, autor, músico holandês com trabalhos na área de arquitetura e urbanismo. Ver Fondation Constant, disponível em: https://stichtingconstant.nl/about-fondation-constant.

Figura 1.6 - Residência Pátio Villa, Roterdã, 1988 (foto de Hans Werlemann).

Fonte: OMA, disponível em <https://oma.eu/projects/patio-villa>, acessado em 10/08/2019.

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21 qualquer comentário além da descrição dos fatos. Nas entrevistas não eram feitas perguntas, mas apenas ofertado um microfone ao convidado.10

Nos seus depoimentos, declarações ou até no documentário recente feito por seu filho11, o arquiteto deixa claro que é o jornalismo a atividade pré-arquitetura mais valorizada por ele. Porém é importante ressaltar que, como em outros assuntos que veremos adiante, Koolhaas nem sempre é coerente. Uma característica de sua personalidade ou, o mais provável, uma opção consciente do arquiteto compatível com sua postura provocadora e/ou polêmica. Em alguns momentos dirá que uma ou outra atividade exercida antes da arquitetura foi a mais determinante na sua formação.

Koolhaas identifica a sua conversão definitiva para a arquitetura quando fazia uma palestra sobre filmes para plateia de arquitetos na University of Delft. Ali percebeu que queria construir.12,13 Muda para Londres e começa seus estudos na Architectural Association (AA) – School of Architecture.

10 GARGIANI, Roberto, Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011. p. 3.

11REM, Tomas Koolhaas, Journeyman Pictures, 2018. Disponível em:

https://vimeo.com/ondemand/rem2/253397016, acessado em 30/11/2018

12 GARGIANI, Roberto, op. cit.

13 LUBOW, Arthur. Rem Koolhaas Builds: The world’s most influential architectural mind finally has something to show for it. The New York Times Magazine. NY, 09/07/2000. Disponível para consulta em

<https://archive.nytimes.com/www.nytimes.com/library/magazine/home/20000709mag- koolhaas.html?utm_medium=website&utm_source=archdaily.com> acessado em 15/05/2019.

Figura 1.7 - Koolhaas e Betty V. Garrel com Constant Nieuwenhuys. Fonte: FONDATION CONSTANT, disponível em < https://stichtingconstant.nl/documentation/betty-van-garrel-rem-koolhaas-and- constant >, acessado em 10/08/2019

(22)

1.2 Arquitetura

Na Londres hippie de 1968, “a AA era totalmente dominada pela influência dos arquitetos do Archigram, que ofereciam [...] uma visão da arquitetura em que prevalecia a ação e tecnologia, com um esquecimento deliberado da forma.”14 Apesar dessa frase de Rafael Moneo nos remeter a conceitos caros e importantes à arquitetura de Koolhaas, este relata o ambiente e arquitetura da época, representada pelo grupo Archigram15 (Fig. 1.8, 1.9 e 1.10), como algo que lhe causaram horror e/ou repulsa:

[...] em setembro, eu estava na escola de arquitetura de Londres, cidade que estava dominada pelo Archigram. Eu realmente não me sentia confortável naquela época: eu tinha horror do “Flower Power” e da arquitetura hippie, que estava no seu ápice então com o Archigram.

Foi difícil sobreviver em Londres sob aquelas condições.16

14 MONEO, Rafael. Inquietação Teórica e Estratégia Projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos. Editora Cosac Naify, 2008, p. 83.

15 Grupo formado por Peter Cook, Warren Chalk, Dennis Crompton, David Greene, Ron Herron e Michael Webb.

16 SOWA, Axel. L'architecture d'aujourd'hui: OMA - Projets récents N° 361, 2005.

Figura 1.8 - The Plug-in City, Archigram, 1962. Fonte: ARCHDAILY, disponível em

<https://www.archdaily.com.br/br/01-166703/the-plug-in-city-1964-slash-peter-cook-archigram>, acessado em 10/08/2019.

(23)

23

Figura 1.9 - The Plug-in City, Archigram, 1962. Fonte: ARCHDAILY, disponível em

<https://www.archdaily.com.br/br/01-166703/the-plug-in-city-1964-slash-peter-cook-archigram>, acessado em 10/08/2019.

Figura 1.10 - The Walking City, Archigram, 1964. Fonte: ARCHDAILY, disponível em

<https://www.archdaily.com.br/br/01-166703/the-plug-in-city-1964-slash-peter-cook-archigram>, acessado em 10/08/2019.

(24)
(25)

25 Koolhaas se impressiona muito com esses projetos, em especial por sua força simbólica, e parte para seu primeiro trabalho de investigação teórica: The Berlim Wall as Architecture20 (Fig. 1.13).

20 GARGIANI, Roberto. Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011. p. 5.

Figura 1.12 - Quartieri Paralleli per Berlino, Archizoom, 1969. Fonte: GARGIANI, Roberto, Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011, p. 5.

Figura 1.13 - "Field Trip", The Berlim Wall as Architecture, 1971. Fonte: KOOLHAAS, Rem, MAU, S, M, L, XL Nova York: Ed. Monacelli Press, 1995

(26)

O resultado desse estudo é a base de um projeto, em parceria com seu professor Elia Zenghelis (e participação de Madelon Vriesendorp e Zoe Zenghelis), para concurso promovido pela revista italiana Casabella em 1971: Exodus, or the Voluntary Prisioners of Architecture.

É verdade que as pessoas, não apenas os arquitetos, gostam de ser

“prisioneiros voluntários da arquitetura”? A história da arquitetura pode, realmente, ser vista como um auto imposto encarceramento entre paredes, arranha-céus, globos e torres? No contexto de um sonho, sim, e é este sonho não escrito que Koolhaas deseja registar e reafirmar.21

No trabalho se vê claramente a influência do muro de Berlim, do Palácio da Cultura de Ivan Leonidov (Fig. 1.14), dos trabalhos dos grupos italianos e do Archigram. Koolhaas, em 1988, diz que o projeto (Fig. 1.15, 1.16, 1.17, 1.18 e 1.19) foi uma reação à inocência dos trabalhos desses últimos: “um projeto para enfatizar que o poder da arquitetura é mais ambíguo e perigoso”. 22

21 JENCKS, Charles. The new moderns: from late to neo-modernism. Rizzoli, 1990.

22 KOOLHAAS, Rem. Sixteen Years of OMA. A+U, 1988, Nº 217, p 16.

Figura 1.14 - Palácio da Cultura, Ivan Leonidov, 1930 (concurso). Fonte: HONDA, Akiko, A New Vision in Architecture: Ivan Leonidov’s Architectural Projects between 1927 and 1930, disponível em

<https://www.waseda.jp/inst/wias/assets/uploads/2017/03/RB008-079-094.pdf, acessado em 10/08/2019.

(27)
(28)
(29)

29 Central) desse bloco. De um platô é possível visualizar todas atividades da Faixa

“assim como a decadência da velha Londres.”24 De um lado, o grande vazio da Praça do Cerimonial onde são informados sobre as regras e rituais da Faixa. Do outro lado, enormes escadas rolantes os levam a Área de Londres (6), onde ficam temporariamente para uma gradual adaptação, em residências londrinas preservadas.

Só depois são levados para os Alojamentos (2) com seus “pequenos palácios”

construídos com materiais caros e luxuosos, um local surreal com capacidade de provocar sentimentos de gratidão e satisfação (de certa forma similar às células residenciais imaginadas pelos Metabolistas – outra referência de Koolhaas).25 Os fugitivos passam os dias em diversas atividades culturais e recreativas pelos demais blocos (ou áreas): Parque dos 4 Elementos (3), onde aprendem sobre os elementos primordiais; educação artística na Praça de Cultura (8); pesquisas científicas no bloco de mesmo nome (10); se conhecem e “materializam suas intenções”26 na área Os Banhos (7) e se gladiam/combatem no Parque das Agressões, antigo A Universidade (9), para resolver conflitos ideológicos e/ou de convivência inerentes ao convívio em tão restrita área.

24 GARGIANI, Roberto. Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011, p. 9.

25 Ibidem, p. 9.

26 Ibidem, p.10.

Figura 1.18 - Exodus, or The Voluntary Prisioners of Architecture (os alojamentos e primeira citação do Angelus, pintado por François Millet entre 1857-59, mais detalhes nas páginas 79 a 81 deste trabalho), Koolhaas e Zenghelis, 1971. Fonte: GARGIANI, Roberto, Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition 2011, p. 13.

(30)

O material que configura este trabalho com forte carga teórica, utópica e artística (composto por texto, desenhos, aquarelas e imagens, formando um denso storyboard) remete às experiências anteriores de Koolhaas como jornalista e roteirista e pretende ser entendido como um cenário factual e ficcional para uma metrópole contemporânea.27

Embora elaborado ainda em época da formação de Koolhaas na AA, citamos Exodus, or The Voluntary Prisioners of Architecture não só para explicitar primeiras referências e/ou influências, mas também pela equipe que o elabora: Koolhaas, Elia Zenghelis, Madelon Vriesendorp e Zoe Zenghelis, que formam o grupo Dr. Caligari

27 MoMA. Texto da exposição 9 + 1 Ways of Being Political: 50 Years of o Stances in Architecture and

Urban Design, September 12, 2013 disponível em:

https://www.moma.org/collection/works/104692?artist_id=6956&locale=en&page=1&sov_referrer=artis t acessado em 20/05/2019.

Figura 1.19 - Exodus, or The Voluntary Prisioners of Architecture, Koolhaas e Zenghelis, 1971- 72. Imagem do desenho original do Concurso: praça do cerimonial, área central/recepção, área de londres. Fonte: MoMA, disponível em <https://www.moma.org/collection/works/>, acessado em 10/08/2019.

(31)

31 Cabinet of Metropolitan Architecture28. Portanto, o projeto foi um “catalisador para a fundação de um escritório de prática arquitetônica coletiva, o OMA”.29

Após completar seus estudos na AA (embora Peter Eisenman afirme em entrevista que ele, na verdade, teria abandonado a escola por não concordar com método de ensino30), Koolhaas decide se mudar para Nova York.

A escolha do destino não é gratuita. A já citada revista Casabella (Fig. 1.20), promotora do concurso descrito anteriormente, publica uma reportagem sobre pesquisa urbana conduzida pelo Institute for Architecture anda Urban Studies (IAUS) com participantes como Peter Eisenman e Kenneth Frampton. No texto, o diretor do instituto, Emilio Ambasz, contribuía com importante interpretação da metrópole norte americana (“Manhattan pode revelar um imprevisto potencial para conceber uma diferente noção de cidade”).31

28 GARGIANI, Roberto. Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011, p. 6. O nome do grupo remetia a dois filmes: Das Cabinet des Dr Caligari (Robert Wiene, 1920) e Metropolis (Fritz Lang, 1926) e também era título de um ensaio de Ludwig Hilberseimer, publicado em 1927.

29 MoMA. Texto da exposição 9 + 1 Ways of Being Political: 50 Years of o Stances in Architecture and

Urban Design, September 12, 2013 disponível em:

https://www.moma.org/collection/works/104692?artist_id=6956&locale=en&page=1&sov_referrer=artis t acessado em 20/05/2019.

30 CIUFFI, Valentina. Rem Koolhaas is stating "the end" of his career, says Peter Eisenman. Dezeen, 09/06/2014, disponível em: https://www.dezeen.com/2014/06/09/rem-koolhaas-at-the-end-of-career- says-peter-eisenman/, acessado em 20/05/2019.

31 AMBASZ, Emilio. Manhattan: capitale del XX secolo. Casabella, Nº 359-360, 1971. p. 92-93.

Figura 1.20 - Capa Revista Casabella 359-360, 1971. Fonte: CASABELLA, disponível em

<https://casabellaweb.eu>, acessado em 10/08/2019.

(32)

Além disso, o International Institute of Design, de Londres, organizava mostras e workshops sobre Manhattan e o MoMA, em Nova York, programava para o ano seguinte uma exposição com participação do Superstudio e Archizoom, os italianos que tanto chamaram atenção de Koolhaas antes.

Tudo parecia levar aos Estados Unidos e assim, no outono de 1972, Koolhaas e Vriesendorp desembarcam no país para estudar em Ithaca (NY), no College of Architecture da Cornell University, dividida então por duas personalidades distintas e influentes: o alemão Oswald Mathias Ungers e o britânico Colin Rowe.32 (Décadas depois a expansão do prédio da escola de arquitetura teria o desenho de Koolhaas/OMA).

Se Moneo descreve o ambiente de Cornell como um dos mais vibrantes e atraentes dos Estados Unidos (exatamente pela rivalidade de Ungers e Rowe),33 Koolhaas parece enfrentar a mesma estranheza que vivenciou quando mudou para Londres, e assim diz em carta para Adolfo Natalini (com Cristiano Toraldo di Francia, um dos fundadores do Superstudio):

[...] chegamos num ponto de intensa nostalgia da Europa, quando nos perguntamos, o que fazemos a cada duas semanas, qual o propósito desse tipo de expedição autopunitiva para lugar nenhum…pela primeira vez em nossas vidas nós temos uma vida rural e chata e fazemos pesquisas estúpidas com cartões postais [...].34

Na carta ao amigo cita ainda visitas, pelo menos a cada três semanas, à cidade de Nova York: suas anotações para Nova York Delirante começam já aí, em 1972.

Nesse mesmo ano é lançado Learning from Las Vegas35 (Fig. 1.21), que traz um novo modo de ler e compreender as cidades americanas, o que ajudou Koolhaas a observar Nova York sem uma camada utópica como a, por exemplo, do Monumento Contínuo.

32 MONEO, Rafael. Inquietação Teórica e Estratégia Projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos. Editora Cosac Naify, 2008, p. 283.

33 Ibidem. p. 283.

34 Carta de Rem Koolhaas para Natalini em 08/02/1973, publicado em GARGIANI, Roberto, Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011. p. 20-21.

35 Cf. VENTURI, Robert; SCOTT, Denise Brown; IZENOUR, Steven. Learning from Las Vegas. MIT Press 1972.

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33 “Um arquiteto alemão muito bom”,36 assim Koolhaas define Ungers (de quem logo se torna o discípulo preferido), enquanto conta as novidades da nova vida nos Estados Unidos para Natalini.

Oswald Mathias Ungers, o “alemão muito bom”, foi um representante do racionalismo radical, em especial frente a tendências de vanguarda em determinado período. Ungers desempenhou um papel fundamental na cena da arquitetura europeia na segunda metade do século XX, graças à base teórica consistente de seus projetos, fundada na concretude, rigor e lógica geométrica. Além do módulo "quadrado"

recorrente em seus projetos, Ungers é lembrado como um dos mais importantes arquitetos envolvidos na reconstrução da cidade de Berlim. Entre os museus que projetou na Alemanha, o de Colônia é considerado um resumo de suas ideias sobre arquitetura a partir dos anos 80 (os outros foram em Frankfurt e Hamburgo)37.

Moneo levanta a hipótese que a escolha de Koolhaas pela linha de Ungers em detrimento da de Rowe, se deve à importância que o segundo sempre dedicou à história, e que isso teria sido um fator determinante. Mas artigo publicado no Journal

36 Carta de Rem Koolhaas para Natalini em 08/02/1973, publicado em GARGIANI, Roberto, Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011. p. 20-21.

37 Biografia disponível em https://www.floornature.com/oswald-mathias-ungers-48/, acessado em 20/05/2020.

Figura 1.21 - Capa de Learning from Las Vegas, Venturi, Scott Brown, Izenour, 1972. Fonte: MITPRESS, disponível em <https://mitpress.mit.edu/books/learning-las-vegas-facsimile-edition>, acessado em 10/08/2019.

(34)

of Architecture 38 afirma que Koolhaas, ainda em Londres, já tendo conhecimento dos trabalhos do alemão em desenho urbano (Fig. 1.22), optou por Cornell exatamente para estudar com ele. Ungers percebe o talento de Koolhaas e o introduz nos círculos arquitetônicos de Nova York, e esse se beneficia dos ensinamentos do mestre alemão e aprende a fazer da “cidade a referência obrigatória para toda intervenção arquitetônica, bem como a estar consciente da importância da cultura do movimento moderno na arquitetura recente.”39

Sua relação com Ungers irá muito além de professor/aluno, enveredando pelo lado profissional (inclusive no começo do OMA quando trabalharam juntos, como veremos no 3º capítulo) e afetivo. Logo passa também a fazer parte da equipe de Ungers, juntamente com Hans Kollhoff, Peter Alisson e Arthur Ovaska e chega, com outros colaboradores, a participar das equipes lideradas por Ungers para concursos em Berlim40 (Fig. 1.23).

38 SCHRIJVER, Lara. OMA as Tribute to OMU: exploring resonances in the work of Koolhaas and Ungers. The Journal of Architecture, Volume 13, Number 13, Faculdade de Arquitetura de Delft, Holanda, 2008, disponível em <https://doi.org/10.1080/1360236080221492>, acessado em 20/05/2019.

39 MONEO, Rafael. Inquietação Teórica e Estratégia Projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos. Editora Cosac Naify, 2008. p. 283.

40 GARGIANI, Roberto, Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011. p. 23.

Figura 1.22 - A City Made of Rooms (maquete), Colônia, Alemanha, O. M.

Ungers ,1961-1964. Fonte: STOCK, disponível em <http://socks- studio.com/2014/02/05/the-neue- stadt-of-koln-1961-1964-by-o-m- ungers/>, acessado em 10/08/2019.

Figura 1.23 - KOOLHAAS, Rem. Croqui para equipe de O.M. Ungers, Concurso “Tiergarten”, Berlim, Alemanha, 1973-74. Fonte:

GARGIANI, Roberto, Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011, p. 24.

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35 É em The City of the Captive Globe de 1972 (Fig. 1.24), (projeto elaborado em conjunto com Zenghelis que o visitava nos Estados Unidos41) onde Koolhaas mostra a sua primeira leitura de Nova York, ou melhor, de Manhattan.

Um episódio a mais, ou passo adiante, do roteiro começado por Exodus, or the Voluntary Prisioners of Architecture. Se neste os muros não respeitam o tecido urbano de Londres, se sobrepondo a eles, agora é o oposto: a malha é respeitada, a realidade do grid é aceita e assumida.

A fantasia e metáfora acontecem sobre os blocos de granito formados pelas quadras e estipulados pela Lei de Zoneamento de 1916. Em cada bloco surge uma

“cidade fantástica dentro da cidade.”42 A ideia do uso do grid cartesiano, a retícula de Manhattan e sua infraestrutura, como elemento que propiciaria arquitetura de vanguarda, já é levantada e defendida por Emilio Ambasz em artigo citado na revista Casabella.

41 GARGIANI, Roberto, Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011. p. 15.

42 O Texto retirado de ensaio: Riley, Terence, Matilda McQuaid, Envisioning Architecture: Drawings from MoMA, New York, 2002, disponível em: https://www.moma.org/collection/works/104696, acessado em 20/05/2019.

Figura 1.24 - The City of the Captive Globe – Rem Koolhaas, Madelon Vriesendorp com Zoe

Zenghelis, 1972. Fonte: MoMA, disponível em

<https://www.moma.org/collection/works/104696?artist_id=6956&locale=en&page=1&sov_referrer=

artist>, acessado em 10/08/2019.

(36)

Referências, autoproclamadas por Koolhaas emolduram o globo (Fig. 1.25)

“numa metáfora do status de Manhattan como uma enorme incubadora do mundo"43. Vale lembrar como ele se mantém fiel às referências que o marcaram, o que se manterá por toda sua carreira. Assim, se Leonidov (e Construtivismo Russo) e Superstudio são bases para Exodus, or the Voluntary Prisioners of Architecture, aqui são citados literalmente (8) (9) (13), assim como o cinema (4), e surrealismo (7), somados às novas referências como Ungers (2), e ícones de Nova York (5) e (12). No

43 O Texto retirado de ensaio: Riley, Terence, Matilda McQuaid, Envisioning Architecture: Drawings from MoMA, New York, 2002, disponível em: https://www.moma.org/collection/works/104696, acessado em 20/05/2019.

Figura 1.25 - Referências identificadas na visão de The city of the captive globe: 1) religião em ruínas;

2) Um retrato subconsciente da arquitetura de O.M. Ungers; 3) Duas torres do Plan Voisin, de Le Corbusier, 1922-1925, sobre grama; 4) O Gabinete do Dr. Caligari, 1920; 5) Waldorf-Astoria Hotel, 1931; 6) Homenagem para Mies Van Der Rohe; 7) “ The Architectonic Angelus of Millet”, Salvador Dalí, 1933; 8) Ministério da Indústria Pesada, de Ivan Leonidov, 1934; 9) “Lenin Stand”, El Lissitsky, 1930;

10) “Outdoor Indoor”; 11) “Gota Architecton”, Kazimir Malevich, 1923; 12) RCA Building, Rockefeller Center, 1933; 13) Homenagem para Superstudio; 14) Trylon and Perisphere, de Wallace Harrison, Feira Mundial – NY, 1939. Fonte: LUCARELLI, Fosco, Socks, disponível em < http://socks- studio.com/2014/12/05/rem-koolhaas-and-the-bourgeois-myth-of-new-york-gabriele-mastrigli-2013/>, acessado em 10/08/2019.

(37)

37 caso do volume (7), usa de uma lembrança mais sofisticada: cita Dalí, que se referencia a uma obra de Millet que estava presente no Exodus, or The Voluntary Prisioners of Architecture onde Angelus era representado nas colagens que apresentavam os Alojamentos.

Nesses primeiros trabalhos fica clara a importância que Koolhaas dá às artes (especialmente ao Surrealismo), não só nas referências e/ou citações, mas também nas imagens, ilustrações, aquarelas e colagens de Madelon Vriesendorp, (tanto neste trabalho, quanto no Exodus, or The Voluntary Prisioners of Architecture, demais projetos da época e mais ainda em Nova York Delirante) que se tornam o instrumento primeiro para representar ideias de Koolhaas e OMA no seu início.

Em 1994 Vriesendorp revisita The City of the Captive Globe para uma exposição no Centro Pompidou e adiciona, furtivamente, uma referência a mais (Fig.

1.26): o projeto de Koolhaas/OMA para a Grande Biblioteca de Paris, de 1989.44

44 MOJAS, Javier. References, a+t, Nº 48, architecture + technology, a+t architecture publisher, Spain, 2017.

Figura 1.26 - The City of the Captive Globe Revisited, Madelon Vriesendorp, 1994.

Fonte: WORLD of MADELON VRIESENDORP, disponível em

<https://www.madelonvriesendorp.com/remandoma>, acessado em 10/08/2019.

(38)

The City of the Captive Globe, segundo Koolhaas, seria “a primeira exploração intuitiva da arquitetura de Manhattan, traçada antes que a pesquisa desse corpo a suas hipóteses”.45

A pesquisa que ele se refere é a começada em 1972 e finalizada em 1978, com lançamento de seu livro Nova York Delirante: Um Manifesto Retroativo para Manhattan.

Em meados dos anos 1970, Koolhaas deixa Cornell e muda-se para Nova York.

Nesse período (1974 – 1978) participa de várias atividades (concursos, ensaios, início de vida acadêmica, etc.). A maioria dessas práticas já estava vinculada ao OMA (fundado em 1975) e será tratada em capítulo dedicado ao escritório.

Instalado na cidade, começa a trabalhar no Institute of Architectural and Urban Studies, (Fig. 1.27) agora dirigido por Peter Eisenman (sobre quem falaremos várias vezes adiante, visto a relação entre ele e Koolhaas) que comenta sobre esse período:

Nós começamos juntos muito tempo atrás. Eu ajudei a publicar seu primeiro livro. Eu consegui o dinheiro para publicar Delirious New York, eu estava no júri que lhe deu o primeiro prêmio que ele ganhou […] dei a ele um escritório onde escrever Delirious New York […] 46

45 KOOLHAAS. Rem. Nova York Delirante: um manifesto retroativo para Manhattan, Tradução de Denise Bottmann, Cosac Naify, São Paulo, 2008. p. 332.

46 CIUFFI, Valentina. Rem Koolhaas is stating "the end" of his career, says Peter Eisenman. Dezeen, 09/06/2014, disponível em: https://www.dezeen.com/2014/06/09/rem-koolhaas-at-the-end-of-career- says-peter-eisenman/, acessado em 20/05/2019.

Figura 1.27 - Rem Koolhaas e Wallace Harrison, enquanto prepara exposição deste no IAUS, 1975.

Fonte: ARCHINECT NEWS, disponível em <https://archinect.com/news/article/91152369/on-the- legacy-of-the-institute-for-architecture-and-urban-studies>, acessado em 10/08/20109.

(39)

39 O prêmio é o recebido pelo projeto da Casa Spear (Fig. 1.28), projeto em parceria com sua aluna Laurinda Spear para os pais dela. O prémio foi dado pela revista Progressive Architecture, em 1974. Citamos esse projeto não apenas por ser o primeiro prêmio de Koolhaas, como lembra Eisenman, mas por uma frase do arquiteto em 1985: “Este projeto representava mais meus objetivos do que os desenhos de Nova York Delirante” 47.

A casa, juntamente com o projeto do Museu da Fotografia de Amsterdam (Fig.

1.29), formam os chamados “projetos retangulares” de Koolhaas, com plantas como os blocos de Manhattam48.

47 GOULET, Patrice. L'architecture d'aujourd'hui, N° 238, 1985.

48 GARGIANI, Roberto, Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011. p. 21.

Figura 1.28 - Casa Spear, Rem Koolhaas e Laurinda Spear, 1974. Fonte: GARGIANI, Roberto, Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011, p. 22.

Figura 1.29 - Museu de Fotografia de Amsterdam, Rem Koolhaas e Martha Polak, 1975. Fonte:

GARGIANI, Roberto, Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011, p. 23.

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(41)

41 Culture of Congestion(Fig. 1.31).Uma nota avisava ser parte de um livro/teoria sobre a cultura da congestão a ser publicado com o título de Delirious New York.50

O livro é lançado em 1978, impresso em Nova York, Oxford e Paris em inglês e francês e traria notoriedade ao seu autor, não apenas no meio acadêmico, antes mesmo que qualquer projeto seu tivesse sido construído.

Não são poucas as análises feitas por outros arquitetos. Moneo, por exemplo, considera essa obra essencial não só para estudar a obra de Koolhaas, mas também para entender a arquitetura da última década do século XX.51 Já Foster diz que Koolhaas, ao relatar o pragmatismo de Nova York em oposição direta à utopia de um modernismo defendido por Le Corbusier, cria “um modernismo renovado” 52 em época do ápice da arquitetura pós-moderna e em confronto às proposta urbanas em voga:

reacionarismo histórico e populismo comercial.

O livro foi publicado no Brasil apenas 30 anos depois de sua 1ª edição. É dele que trataremos no próximo capítulo.

50 KOOLHAAS, Rem. ‘Life in the Metropolis’. Architectural Design, Nº 05, 1977, p.319,320.

51MONEO, Rafael. Inquietação Teórica e Estratégia Projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos. Editora Cosac Naify, 2008. p. 284.

52 FOSTER, Hal. Design e Crime (e outras diatribes), Editora UFMG, 2016, p. 63.

Figura 1.31 - Artigo de Koolhaas para Architectural Design de maio de 1977, o texto era uma parte do futuro Delirious New York lançado no ano seguinte. Fonte: GARGIANI, Roberto, Rem Koolhaas | OMA: The Construction of Merveilles, tradução para inglês de Stephen Picollo, EPFL Press, Second Edition, 2011, p. 57.

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2 A NOVA YORK DE KOOLHAAS

O que Koolhaas descobre em Nova York e afirma em seu livro é que ela é a cidade moderna por excelência, construída simplesmente sob a pressão da economia e pelas forças de um capitalismo desenfreado.1

Nossa análise do livro tem intenção de criar um fio condutor, através dos fatos históricos narrados por Koolhaas e suas interpretações, que demonstre como a sua pesquisa de Nova York lhe possibilitou formular conceitos que redefiniram seu modo de pensar arquitetura e o modernismo, linhas mestras identificadas até hoje em sua obra. Dividimos o capítulo em quatro partes: “Início, a primeira conquista”; “Coney Island, o laboratório”; “Manhattan, o teatro da invenção” e “Europeus, a segunda conquista”.

1 MONEO, Rafael. Inquietação Teórica e Estratégia Projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos. Editora Cosac Naify, 2008. p. 284.

Figura 2.1 - Capa da 1ª Edição de Delirious New York, Oxford University Press, 1978. Fonte: OMA, disponível em <https://oma.eu/publications/delirious-new-york>, acessado em 10/08/2019.

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43 A palavra chave do título, Delirious, é um tributo ao método de investigação científica baseado em atividade crítico-paranóica de Salvador Dalí 2, o instrumento de Koolhaas para sua análise de Manhattan (interessante notar que só próximo ao final do livro é mencionado o uso do método). O método seria ferramenta proposta por Dalí, para a apreciação da arte surrealista, baseado em uma aceitação das projeções motivadas pela paranoia. O artista deveria captar e reproduzir em tela o seu delírio, servindo-se da “hiper-acuidade objetiva e ‘comunicável’” que o fenômeno provoca para atingir o público3.

O público, dentro dessa lógica, seria atingido pelas imagens como se elas tivessem sido criadas por sua própria mente. Não se trataria mais de apreciá-las pelo viés do artista, cujo simbolismo só a ele pertence, mas sim através dos olhos do próprio espectador, com os significados por ele atribuídos e projetados. Uma vez experimentadas por intermédio da obra de arte, essas projeções deveriam ser analisadas de forma crítica, avaliadas pelas pessoas para quem elas significavam algo4.

Gorelik resume o entendimento de Koolhaas do método como sendo “um modo de realizar especulações conceituais para produzir uma realidade autônoma, através de uma racionalidade extrema nos ‘procedimentos’ que tem como resultado um hiper- realidade delirante”.5 Ou, nas palavras de Koolhaas: “a atividade crítico-paranoica é a fabricação de provas para especulações improváveis e sua posterior inserção no mundo, de modo que um fato ‘falso’ ocupa seu lugar indevido entre os fatos ‘reais’”.6

Portanto, ele não está preocupado com uma exata reconstituição do passado, mas sim especular usando fragmentos escolhidos da história, ou seja: assumidamente manipula e fabrica material histórico, confundindo verdade e especulação.7 Assim, o

2 Cf. Dalí. Salvador. Sim ou A Paranoia – Método crítico-paranoico e outros textos. Editora Artenova, Rio de Janeiro, 1974 (originalmente publicado em 1933).

3 LIMA, Álvaro. Método crítico-paranoico, disponível em

<https://www.ufrgs.br/psicopatologia/wiki/index.php?title=M%C3%A9todo_cr%C3%ADtico- paran%C3%B3ico>, acessado em 20/04/2020.

4 Ibidem.

5 GORELIK, Adrián. “Arquitetura e Capitalismo: os usos de Nova York”. Introdução de Nova York Delirante. São Paulo: Cosac Naify, 2008. p.15

6 KOOLHAAS. Rem. Nova York Delirante: um manifesto retroativo para Manhattan, Tradução de Denise Bottmann, Cosac Naify, São Paulo, 2008. p. 272.

7 BAPTISTA, Luís Santiago. Artigo: “Delirious New York” explicado às crianças. 2008, disponível para consulta em https://www.artecapital.net/arq_des-37--delirious-new-york-explicado-às-criancas, acessado em 01/07/2019.

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