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O registro de patentes de organismos geneticamente modificados

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Academic year: 2017

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Stricto Sensu em Direito

O REGISTRO DE PATENTE DE ORGANISMOS

GENETICAMENTE MODIFICADOS

Brasília - DF

2011

(2)

AMANDA COELHO COUTO REIS

O REGISTRO DE PATENTES DE ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito Internacional, Econômico e Tributário da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Antônio de Moura Borges

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7,5cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

03/02/2012

R375r Reis, Amanda Coelho Couto.

O registro de patentes de organismos geneticamente modificados. / Amanda Coelho Couto Reis – 2011.

92f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2011. Orientação: Antônio de Moura Borges

1. Propriedade intelectual. 2. Biotecnologia. 3. Proteção diplomática. 4. Plantas transgênicas. I. Borges, Antônio de Moura, orient. II. Título.

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Dissertação de autoria de Amanda Coelho Couto Reis, intitulada "O Registro de Patentes de Intervenções Biotecnológicas: Caso da Monsanto e o Regístro de Soja

Roundup Ready".

apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Direito pela Universidade Católica de Brasília. em 21 de dezembro de 2011. defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

Orientador

'-f Q ib __

f. Dr Robertô io Santos Pessoa

r

xaminador lemo

Praf. Dr. Nelson Juliano Cardoso Matos I xaminador I .e,...,o

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À minha mãe, símbolo e gratidão.

Ao meu pai, por ser a base de minha estrutura. Ao meu marido, pelo amor e apoio.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu pai, pelo incessante apoio e confiança, e por me fazer crer que o estudo é a bagagem mais leve que se pode carregar; a única bagagem que levamos a qualquer lugar. Mais do que isso, por me fazer acreditar em mim.

Agradeço à minha mãe, por me fazer entender que amor não se mostra apenas com elogios; inclusive porque, mesmo não sendo da área jurídica, teve paciência para ler e criticar o presente trabalho.

Agradeço ao meu sogro, com quem tive a honra de cruzar esta jornada, do início ao fim, pela injeção de ânimo e de coragem, diárias, e pelas lições que ficarão para sempre.

Agradeço ao Procurador do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Luiz Eduardo Lessa Silva, pois, deu-me de presente cópia integral do processo - após ver-me chorando nos corredores do Superior Tribunal de Justiça por não conseguir acesso aos autos que deu origem ao estudo de caso deste trabalho – numa demonstração de interesse no crescimento acadêmico de uma estudante.

Agradeço aos meus irmãos, pela confiança que sempre depositaram em mim.

Agradeço ao meu marido, pela dedicação e carinho sem fim, especialmente pelos dias que deixou de ir trabalhar para cuidar de nosso filho – razão do meu amor e meu ser – só para que eu pudesse ter tranquilidade para escrever.

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RESUMO

Referência: Reis, Amanda. Título: O registro de propriedade intelectual de organismos geneticamente modificados. 90f. Dissertação de Mestrado em Direito Internacional, Econômico e Tributário. Universidade Católica de Brasília. Brasília, 2011.

A utilização da engenharia genética em plantas, com o objetivo de promoção de inovações no campo científico e tecnológico, visando à produção e comercialização com intenção de agregar maior valor econômico encontra-se atualmente circundada por uma série de discussões e debates. O trato dos organismos geneticamente modificados ensejam questionamentos nas mais diversas áreas: como a ambiental, a política, a econômica, a

jurídica, a social, a ética, a religiosa e a filosófica; tratá-las conjuntamente e de modo

harmônico é tarefa das mais difíceis. Um dos temas hoje visados que dizem respeito às plantas transgênicas, especialmente devido à sua intrínseca relação com a pesquisa e o

comércio, é o da propriedade intelectual. Logo, neste trabalho são analisados, em nível internacional, o acordo TRIPS e a Convenção UPOV; em nível nacional, são analisadas a lei de propriedade industrial, a lei de proteção de cultivares e a lei de biossegurança. Os marcos regulatórios internacionais e nacionais que tratam de direitos de propriedade intelectual associados às plantas transgênicas, bem como os marcos regulatórios que se relacionam ao seu desenvolvimento e comercialização, formam um quadro jurídico complexo e imbricado que influenciam a pesquisa e a geração de negócios com transgênicos. Uma melhor compreensão de tais marcos regulatórios e de suas implicações contribui para o aproveitamento do potencial brasileiro – o qual passa pela definição de um quadro regulatório claro e coeso, que atenda às prescrições internacionais e às necessidades nacionais, aliado a políticas de incentivo a outros elementos impulsionadores da inovação local.

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ABSTRACT

The production and marketing of transgenic plants are involved in a series of discussions and debates, as they concern the use of genetic engineering for the promotion of innovations in the fields of science and technology and for the creation of economic value. Genetically modified organisms bring questions in various areas, such as environment, politics, economy, law, society, ethics, religion and philosophy; dealing with them jointly and harmoniously is such a difficult task.

One of the subjects which refer to transgenic plants, especially due to its intrinsic relation to research and commerce, is intellectual property. The international and national regulatory frameworks which tackle intellectual property rights associated to transgenic plants, as well as regulatory frameworks related to their development and

marketing, form a complex and overlapping legal scenario, which influences research and business with transgenic products. This work analyses, at international level, the agreements from the World Trade Organization regarding intellectual property and the conventions for the protection of new varieties of plant. At national level, the Industrial Property Law, the Varieties’ Protection Law, the Biosecurity Law and the Provisional Measure for the access to Brazilian genetic resources are analyzed. From these analyses, tendencies are indicated concerning the future of regulatory frameworks and research, development and business with transgenic plants. A better comprehension of such regulatory frameworks and of their implications contributes to the use of Brazilian potential – it encompasses the definition of a clear and coherent legal scenario, which keeps up with international prescriptions and national necessities, along with policies for the incentive of other elements essential to local innovation.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CDC – Código de Defesa do Consumidor CF – Constituição Federal

CNBS – Conselho Nacional de Biossegurança

CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança EUA – Estados Unidos da América

INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial LB – Lei de biossegurança

LPC – Lei de Proteção de Cultivares LPI – Lei de Propriedade Intelectual MP – Ministério Público

OGM – Organismo Geneticamente Modificado OMC – Organização Mundial do Comércio

OMPI – Organização Mundial da Propriedade Intelectual PNB – Política Nacional de Biossegurança

REsp – Recurso Especial RR – RoundupReady

STJ – Superior Tribunal de Justiça

TRIPS – Agreementon Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights TRF – Tribunal Regional Federal

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11 

1 AS EVOLUÇÕES DAS INOVAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS NO CENÁRIO BRASILEIRO ... 16 

1.1 DEFINIÇÃO DE BIOTECNOLOGIA E O SURGIMENTO DOS TRANSGÊNICOS 18  1.2 A BIOSSEGURANÇA APLICADA AOS TRANSGÊNICOS ... 27 

1.3 OS PRINCÍPIOS NORTEADORES DA BIOSSEGURANÇA ... 30 

2 A ESTRUTURA NORMATIVA DO REGISTRO DE PATENTES DE OGMS ... 42 

2.1.1 Patentes ... 48 

2.2 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE PATENTES E A BIOTECNOLOGIA ... 49 

2.2.1 Lei de Propriedade Industrial ... 51 

2.2.2 Lei de Proteção de Cultivares ... 54 

2.2.3 Lei de Biossegurança ... 57 

2.2.4 Lei de Propriedade Industrial versus Lei de Proteção de Cultivares ... 59 

2.3 A ESTRUTURA NORMATIVA INTERNACIONAL ... 63 

2.3.1 Acordo TRIPS ... 65 

2.3.2 Convenções da UPOV ... 67 

3 ANÁLISE DA INTERPRETAÇÃO DO TRF 2A. REGIÃO NO CASO DO PEDIDO DE REGISTRO DE PATENTE DA SOJA RR PELA MONSANTO ... 69 

3.1 ANÁLISE DO PROCESSO N.º 2006.51.01.537849-4 ... 71 

3.2 BREVE COMPARATIVO DOS CRITÉRIOS DE PATENTEABILIDADE PARA INVENÇÕES BIOTECNOLÓGICAS ENTRE BRASIL E ESTADOS UNIDOS ... 75 

CONCLUSÃO ... 85 

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INTRODUÇÃO

A escolha do assunto partiu da necessidade de aprofundar o conhecimento sobre o processo de registro de propriedade intelectual de organismos geneticamente modificados – OGMs, especialmente nas similaridades e discrepâncias de exigências para este assentamento, comparando-se a legislação brasileira e a americana. Propõe-se o trabalho, portanto, ao estudo das relações privadas envolvendo organismos geneticamente modificados, com ênfase nos direitos de propriedade intelectual conferidos às grandes empresas de biotecnologia e sobre o uso dessa tecnologia pelos agentes da cadeia produtiva de transgênicos.

A polêmica sobre os transgênicos é um terreno fértil para o surgimento de mitos, pois o processo e os impactos não são, ainda, de domínio público e há o interesse econômico de empresas que produzem sementes transgênicas e de empresas que atuam na área de defensivos agrícolas.

Pretende-se, também, analisar o grau de incidência dos princípios da biossegurança na formulação das regras de registro de patentes, que orientam os trâmites entre as relações comerciais. A adoção de um modelo de registro, voltado para a exploração da tecnologia da biodiversidade, impõe a necessidade de observância de padrões mínimos de segurança para a continuidade de investimento no desenvolvimento das pesquisas genéticas.

Sabe-se que o desenvolvimento da biotecnologia representa uma área relevante e estratégica para o país, não só em função do ativo disponível em termos de matéria prima, mas também do potencial científico. Como em qualquer outra área de conhecimento, como já ressaltaram RIVETTE e KLINE (2009) em Discovering new value in Intellectual Property, o potencial econômico decorrente do uso da informação para a criação de produtos e processos só pode ser explorado em sua plenitude com grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Na retaguarda desses investimentos está a propriedade intelectual como garantia do retorno do capital investido.

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Tema atual que se reveste de grande importância não só pela riqueza teórica e substantiva do assunto, mas também porque, segundo estudo realizado por Mário Luiz Possa, interpretado por DEL NERO na obra Propriedade intelectual: a tutela jurídica da biotecnologia (2000):

A temática da biotecnologia engendra uma importância crucial, na medida em que, por um lado, o homem, a partir de sua capacidade criativa e inventiva, manipula e modifica a natureza. Desta forma, podem ser criados produtos e serviços que passam a ser passíveis de apropriação privada. Por outro lado, e, ao mesmo tempo, a partir dessas possibilidades, a ciência e a tecnologia passam a incorporar o sistema produtivo ganhando valor econômico, mercadológico e consequentemente estratégico.

O advento da biotecnologia gerou importantes reflexos no cenário mundial, entre eles, o reconhecimento da proteção jurídica de tecnologias resultantes da engenharia genética, dentro de um contexto de patrimonialização da tecnologia que transformou os sistemas legais nacionais e internacionais de propriedade intelectual.

No Brasil, a regulamentação da propriedade intelectual consolidou-se a partir dos sucessivos avanços tecnológicos, bem como em virtude dos princípios fixados nos tratados internacionais que nosso país reconheceu. Apesar dos enormes progressos em biotecnologia realizados pelos acadêmicos e pela indústria, a adequação do aparato legal no tocante ao registro de propriedade está muito aquém das necessidades e da importância dessa área para o país, sobretudo no setor agrícola.

Destarte, o locus adotado para a aferição da observância aos princípios será o cenário jurídico e institucional dos transgênicos, como no caso Monsanto e o pedido de registro da soja Roundup Ready, com ênfase na interação dos atores que dispõem recursos para estudo e pesquisa de novas tecnologias. Desta forma, permitir-se-á divisar a disputa de focos no contexto dos transgênicos e as diversas implicações decorrentes dos interesses conflitantes que circundam a polêmica da liberação dos produtos no Brasil.

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Para a consecução dos objetivos propostos, proceder-se-á à avaliação da conformação do sistema de proteção de patentes nacional e americano, tendo em vista a polêmica em torno da soja transgênica RoundupReady (RR) no Brasil. Não obstante a existência de legislação atinente à proteção das inovações biotecnológicas, a discussão acerca dos direitos de propriedade intelectual relacionados à biotecnologia somente ocorreu com o episódio desta primeira liberação comercial de transgênicos no país.

Em disputa judicial, a Monsanto, desenvolvedora da soja em questão, conseguiu um registro provisório da patente e a permissão para a cobrança de royalties dos agricultores dispostos a plantá-la. Embora, em seguida, tenha perdido o direito ao registro definitivo por não cumprir as exigências estabelecidas pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), órgão nacional responsável pelo registro das patentes, dentro período determinado.

O processo de liberação de soja transgênica no Brasil foi bastante tormentoso. As primeiras sementes de soja transgênica a ingressar no território nacional foram contrabandeadas da Argentina e cultivadas de forma clandestina no norte do Rio Grande do Sul.

Tendo em vista a constatação do plantio ilegal de soja transgênica RoundupReady (RR) no país, a empresa Monsanto, detentora da tecnologia RR, providenciou requerimento junto à Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia (CTNBio), em 1998, com vistas à liberação comercial da soja RR como meio de salvaguardar seus direitos de propriedade intelectual a posteriori.

A regulamentação pelo Congresso Nacional da liberação da soja RR, entretanto, apenas se deu de forma definitiva, com o advento da Lei de Biossegurança – Lei n.º 11.105, em 2005. O principal reflexo da Lei de Biossegurança no contexto da governança privada da soja transgênica é a imputação de direitos de propriedade industrial à Monsanto do Brasil, pela proteção intelectual da atividade inventiva (tecnologia RR).

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No caso específico da soja RR, com vistas ao registro de sua invenção, a Monsanto solicitou três pedidos subsidiários junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), em 1996 e 1997. As três patentes são explicitamente patentes de genes de plantas: uma, de genes quiméricos, a segunda, uma sequência de DNA para intensificar a eficácia da transcrição e, a terceira, uma construção de DNA para também melhorar a eficácia da transcrição.

O INPI deferiu os pedidos de forma condicionada à apresentação de documentos que comprovassem o registro de concessão de patente original, feito nos Estados Unidos. Para tanto, concedeu o prazo de cinco anos.

Decorrido o prazo sem a apresentação dos documentos, o Instituto cancelou a patente da Monsanto. Inconformada, a multinacional recorreu à Justiça Federal no Rio de Janeiro, por meio de Mandado de Segurança, visando manter o reconhecimento judicial para o registro da patente. Em junho de 2008 houve sentença indeferindo o pedido e extinguindo os direitos de patente sobre a soja RR da Monsanto. A empresa interpôs recurso de apelação que foi recebido pelo Tribunal Regional Federal da 2ª. Região, apenas no efeito devolutivo, ou seja, sem alterar os efeitos da decisão do juiz de 1ª. Instância.

Atualmente, o processo encontra-se em nível de Recurso Especial (REsp 1128660), no Superior Tribunal de Justiça (STJ), concluso ao Ministro Relator desde 15 de setembro de 2009, sem decisão definitiva.

A pesquisa demanda, ainda, a verificação da conformidade da legislação brasileira, bem como das práticas privadas, com as regras internacionais que disciplinam os múltiplos interesses envolvidos no desenvolvimento científico da produção em escala global.

Destarte, tendo por objeto a análise do processo de registro de patente de biotecnologia e o reconhecimento da proteção jurídica das inovações biogenéticas dentro de um contexto de patrimonialização da tecnologia, estudar-se-á a necessidade de profundas reformas políticas, sociais e econômicas com o intuito de dar agilidade ao processo de legalização.

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decisões administrativas do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e as judiciais, especialmente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região, onde tramita o processo de n.º 2006.51.01.537849-4, caso Monsanto, e o registro da patente da tecnologia RoundupReady (RR).

(16)

1 AS EVOLUÇÕES DAS INOVAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS NO CENÁRIO BRASILEIRO

Nas últimas décadas presenciamos um período no qual o domínio do conhecimento é essencial para se obter o poder de negociação. Nesse ponto de vista, o desenvolvimento da ciência é a base da sobrevivência do ser humano e da melhoria na qualidade de vida. O maior questionamento desses temas é a forma de como essa ciência tem sido conduzida, de maneira a contribuir para o desenvolvimento e para a evolução do mercado.

A história da humanidade nos mostra que a cada ciclo de mudança se fazem necessárias adaptações e, atualmente, pela rapidez da evolução, a sociedade se obriga a acompanhar o ritmo veloz das transformações.

No Brasil, a discussão a respeito dos riscos dos alimentos geneticamente modificados (OGMs) provoca a manifestação de diversos segmentos sociais, como vem ocorrendo em todo o mundo. A sociedade tem informação insuficiente a respeito do assunto, e as empresas que estão envolvidas com a nova tecnologia também não realizam a devida divulgação a respeito do tema.

A oposição aos OGMs não se limita apenas aos movimentos preocupados com a saúde dos seres humanos e com o equilíbrio do meio ambiente. É engrossada por opositores ideológicos que enxergam perigo no fato de as grandes empresas multinacionais deterem o domínio da técnica e passarem a exercer controle sobre o mercado, principalmente, com relação aos países subdesenvolvidos.

Os que são contrários a essa tese de dominação argumentam que não, ao contrário, os agricultores se beneficiariam da parceria com as multinacionais, podendo com isso adquirir maquinário moderno, implementos agrícolas e até aviões.

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suas características principais1. Sendo as normas do CDC de ordem pública e interesse social, o código adota princípios gerais das relações de consumo, e dentre eles, com grande importância, os princípios da transparência e devida informação.

Para entender o mínimo necessário para poder discutir a respeito da segurança dos alimentos transgênicos, a sociedade deveria ser bem esclarecida sobre a técnica da transgeníase, para ter dados concretos e decidir pelo seu consumo ou não.

Todos os dias a sociedade é bombardeada com notícias sobre novas tecnologias, que compreendem um conjunto de aplicações de descobertas cientificas, do qual o núcleo central consiste no desenvolvimento de uma capacidade cada vez maior de tratamento da informação e do conhecimento, bem como de sua aplicação direta no processo produtivo: seja por meio da comunicação inteligente entre máquinas, como na microeletrônica e na informática; seja ainda da matéria viva, por intermédio da engenharia genética, base das biotecnologias avançadas.

Nos dizeres de RIFKIN (1999) em o século da biotecnologia: a valorização dos genes e a reconstrução do mundo, “biotecnologias são ferramentas de sonhos, que nos dão poder de criar uma nova visão dos mesmos, dos nossos semelhantes e do mundo vivo e a capacidade de atuar sobre isso”. Assim, vemos que as discussões sobre as novas tecnologias são interessantes, difíceis e desafiadoras. Vive-se num mundo perplexo e constantemente mutativo, e a biotecnologia é uma das principais responsáveis; tornou-se um fenômeno indissociável da vida em sociedade.

Logo, o presente capítulo procura contextualizar as evoluções biotecnológicas no cenário nacional, conceituar termos insólitos ao Direito, demonstrar noções sobre os direitos dos consumidores - a devida informação e transparência - a fim de que possam conhecer seus direitos e tomar decisão. No caso especifico, sobre serem ou não seguros os alimentos geneticamente modificados para sua alimentação e quais as consequências que podem advir para o meio ambiente. Com efeito, enquadra-se, pois, na segunda linha de pesquisa cujo tema é “O Direito Internacional como Instrumento de Integração Tributária, Econômica e Política”. Para tanto, serão demonstradas as principais características da biotecnologia, o que é um organismo transgênico, e comentários a respeito da biossegurança. Como não se tem

1

BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

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garantia de risco zero, deve-se trabalhar sempre com risco mínimo, tendo em vista que os produtos devem ser testados e analisados por órgãos específicos e de acordo com a legislação em vigor, antes da liberação para consumo humano ou animal.

1.1 DEFINIÇÃO DE BIOTECNOLOGIA E O SURGIMENTO DOS TRANSGÊNICOS

As inovações tecnológicas na seara da transgenia decorrem de longo processo evolutivo do setor agrícola em nível mundial. Determinar as ocorrências que culminam no desenvolvimento das sementes geneticamente modificadas por técnicas diversas do melhoramento genético tradicional implica em identificar o advento dos transgênicos na linha evolutiva da produção agrícola, ao tempo em que proporciona o entendimento acerca da importância deste avanço para a sociedade como um todo.

O incremento tecnológico das práticas agrícolas surgiu no pós 2a. Guerra Mundial em atendimento à necessidade de aumento da produtividade das atividades agropecuárias, bem como da busca de soluções para a fome nos países em desenvolvimento. Segundo GIANEZINI (2007) no artigo “Produtos agrícolas geneticamente modificados: um risco controlável da modernidade?” apresentado no congresso brasileiro de sociologia, é neste contexto que surge a chamada Revolução Verde, expressão que determina o implemento de novas tecnologias na área agrícola, em virtude de um ideário produtivo.

A Revolução Verde desabrochou na década de 1950, ocorreu como resultado da adoção de um modelo tecnológico de produção agrícola, baseado na promessa de aumento da produtividade das lavouras, consubstanciando-se no intensivo de agroquímicos pelos países em desenvolvimento, mecanização e diminuição do custo de manejo. O declínio do modelo apoiado no uso de insumos químicos verificou-se em função do surgimento de problemas ambientais, como salinização, erosão do solo; econômicos, como declínio da produtividade, dependência do setor agrícola dos países pobres aos insumos desenvolvidos pelas transnacionais; e sociais, como exclusão de pequenos produtores, concentração de redá? etc. Tudo a partir da década de 1970.

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Para OLIVEIRA (2008) no artigo Cultura patentária e alimentos transgênicos publicado na Revista da ABPI, não obstante os importantes conhecimentos advindos da Revolução Verde, essa política agrícola elaborada pelos Estados Unidos com o ideal de combater a fome e aumentar a produtividade agrícola mais significou a ampliação de mercados nos setores de sementes, fertilizantes, pesticidas e maquinarias norte-americanas que propriamente a solução para os problemas apontados.

A biotecnologia trouxe consigo o aumento das dívidas externas dos países ajudados, além do surgimento de novas variedades de pragas, substituição da agricultura de subsistência com culturas variadas, pela monocultura de cereais, subordinação dos agricultores à agroindústria, entre outros problemas.

Diante do esgotamento do paradigma tecnológico até então adotado, a biotecnologia surgiu como um novo molde tecnológico, ecológica e economicamente sustentável que através do desenvolvimento de sementes geneticamente modificadas mitigou o uso de fertilizantes, herbicidas e pesticidas, tendo em vista uma agricultura sustentável.

De SANTOS e SOUZA JR. (2003) no trabalho Desenvolvimento de plantas transgênicas., a biotecnologia é o termo utilizado para designar o conjunto de técnicas que utilizam organismos vivos, ou parte destes, para produzir ou modificar produtos, melhorar geneticamente plantas ou animais, ou ainda, desenvolver microrganismos para fins específicos. No que diz respeito ao melhoramento genético, a moderna biotecnologia se sobressai por possuir ferramentas que dão rapidez, agilidade e segurança em programas de melhoramento de plantas.

Nesse sentido, verifica-se que o homem vem utilizando biotecnologia desde os primórdios da humanidade. A partir do momento em que começou a domesticar animais e plantas, a utilizar plantas medicinais para curar seus males, microrganismos para fabricar bebidas e alimentos e a produzir vacinas para se imunizar contra doenças; o homem estava dessa forma praticando a biotecnologia.

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Em termos gerais, os organismos modificados como resultado da introdução em um organismo receptor, de gene originado da mesma espécie, de outra espécie ou de outro reino. Esta característica implica na diferenciação entre as terminologias: “geneticamente modificado” e “transgênico”. Para o presente trabalho, consideraremos as duas expressões como sinônimas, como é considerado para fins jurídicos, apesar da diferenciação biológica.

Ora, o melhoramento genético é praticado pelo homem desde os primórdios da civilização. Assim, já na reserva de sementes da melhor safra para o replantio, buscava-se o melhoramento convencional; essa resultante da capacidade de cruzamento entre os organismos difere do melhoramento proveniente da produção pela modificação genética.

O organismo geneticamente modificado pode ser ou não transgênico. Se for modificado geneticamente por um ou mais genes de um organismo da mesma espécie do organismo original, este é considerado um OGM. É considerado transgênico o organismo cujo material genético foi alterado por meio da tecnologia do DNA recombinante, pela introdução de fragmentos de DNA exógenos, ou seja, provenientes de espécies deferentes do organismo originário.

Enquanto o melhoramento convencional decorre de cruzamentos de uma espécie ou de espécies próximas realizados pelo homem, a produção de OGM pode promover a introdução de genes de espécies muito distantes, não alcançadas pelo método convencional.

O advento da biotecnologia gerou, pois, importantes reflexos no ambiente social, entre eles a necessidade da conciliação entre ciência, sociedade e mercado, mediante o controle ou a minimização dos riscos advindos das novas tecnologias. Neste contexto é que surge a biossegurança, encarregada de garantir a segurança das descobertas científicas ou de determinar os limites de riscos decorrentes de atividades potencialmente perigosas que envolvam organismos vivos.

Destarte, cumpre esclarecer acerca da biossegurança aplicada à transgenia, com escopo a delimitar os riscos decorrentes de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados e apresentar os princípios que orientam estas atividades.

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descuidadas e mal-intencionadas. Daí surge a necessidade de uma intervenção do Estado limitando tais ações e, quando necessário, empregando sanções para os casos abusivos.

A substituição do medo pelo respeito e a aceitação dessas novas tecnologias por meio da população somente será alcançada a partir do momento em que forem dadas as devidas informações sobre os mecanismos e as leis naturais que formam a base destas inovações. Contudo, há dificuldades para a maioria das pessoas em entender o que é um alimento transgênico, ou organismo geneticamente modificado.

O OGM é um organismo que possui em seu genoma um ou mais genes provenientes de outra ou da mesma espécie, desde que tenham sido modificados e inseridos pelas técnicas da engenharia genética. Os alimentos transgênicos são definidos como sendo aqueles oriundos de uma planta transgênica ou de frutos, cereais ou vegetais delas extraídos, e que são consumidos diretamente pelos seres humanos ou indiretamente, através dos produtos alimentares produzidos ou elaborados a partir da mencionada matéria prima.

O gene reúne a informação necessária para que o filhote de uma espécie animal ou vegetal? nasça e cresça igual, ou seja, a sequência de genes, ou genoma, representa um tipo de lei fundamental, ou constituição, que permite a uma espécie continuar sendo uma comunidade natural de organismos capazes de gerar descendência.

As técnicas moleculares necessárias para a produção de um organismo geneticamente modificado são capazes de identificar um ou mais genes de interesse, isolá-lo, extraí-lo e integrá-lo no genoma de um outro indivíduo da mesma espécie, ou de outra, de modo que esse gene consiga expressar suas características originais no novo indivíduo.

Após o processo de transformação, as células serão devidamente cultivadas em meios nutritivos, onde serão regeneradas em plantas completas. Esse processo possui uma eficiência muito reduzida, uma vez que a seleção ocorre em várias etapas até a identificação de plantas normais e que carregam uma ou poucas cópias do gene de interesse.

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e tecnológico. De outro, uma corrente que entende ser necessária a imposição de restrições às pesquisas científicas e à disponibilidade de produtos no mercado, por tratarem-se de assunto de segurança pública, uma vez que ainda não se tem uma avaliação concreta das consequências para o meio ambiente e à saúde, gerando riscos e incertezas que não são de todo conhecidos ou ao menos foram esclarecidos, uma vez que essa é uma novidade tecnológica.

Alguns argumentam que a adoção de novas tecnologias favoreceria a subordinação dos interesses nacionais às corporações transnacionais detentoras das patentes de sementes transgênicas, ao passo que outros entendem que a não adesão à transgenia implicaria perda de competitividade em escala global. Adentraremos mais no tema das patentes, no terceiro capítulo do presente trabalho.

A sequência de acontecimentos desagradáveis além da insegurança existente, alerta parte da sociedade para exigir esclarecimentos concretos sobre alimentos transgênicos inseridos no mercado, levantando debates acirrados na comunidade científica. Mesmo com isso, as pesquisas na área não param.

A biossegurança, portanto, visa minimizar estes acontecimentos quando estabelece mecanismos de proteção para o uso da biotecnologia moderna, tanto no que tange a experimentos laboratoriais, como a testes de campo que possam implicar risco biológico, provocando impactos ambientais favoráveis ou indesejáveis ou consequências para a saúde humana. Um dos principais produtos transgênicos disponíveis no mercado atualmente é a soja RR, na qual se constata maior quantidade de hormônio e/ou menor quantidade de isoflafona. Até agora, nenhum dano colateral à saúde humana ou ao meio ambiente foi relacionado ao plantio e consumo deste produto.

Para PESSANHA e WILKINSON, em Cadernos de ciência e tecnologia (2003), a avaliação dos produtos geneticamente modificados deve envolver a investigação das seguintes variáveis: quantidade provável do alimento a ser consumido pela população; descrição do alimento e do seu processo produtivo; histórico e qualquer possível efeito adverso à saúde humana; descrição do processo de modificação genética; avaliação de possíveis efeitos adversos – nutricionais, toxicológicos ou microbiológicos; e avaliação de dados obtidos com pessoas alimentadas com o alimento modificado em condições controladas.

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há uma grande disputa nestes debates, também os de interesse econômico, confrontando-se na adoção de princípios jurídicos para a tomada pública e governamental de decisões sobre a produção e consumo de alimentos transgênicos. Os que são favoráveis à liberação dos OGMs fundamentam sua posição nos princípios da equivalência substantiva e do benefício da dúvida2, enquanto os que são contrários a essa liberação justificam sua posição pela precaução3.

As transformações sociais decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico impõem ao homem a responsabilidade pela geração e remediação de seus próprios males, tendo em vista o surgimento e aumento de novos riscos, catalisadores de situações e eventos perigosos. Diante da consideração de risco, segundo nome FREITAS, em Avaliação de riscos dos transgênicos orientada pelo princípio da precaução. (2003), cabe ao próprio homem desenvolver a capacidade de interpretá-los e analisá-los para melhor controlá-los e os remediar.

A ideia de progresso e desenvolvimento, aprofundada na sociedade contemporânea, para nome MARCHIONI no trabalho Aspectos do projeto de “desenvolvimento” brasileiro e da gestão da sociedade de risco (2006), reflete o novo paradigma tecnoeconômico que, baseado na crença de que o avanço científico pode melhorar a condição humana ilimitadamente, tem repercutido nas relações socioeconômicas, transformando os estilos de vida, o padrão de consumo, o processo produtivo e gerado efeitos questionáveis.

Relativamente aos efeitos provocados pelos transgênicos, sua percepção merece ser analisada com base na compreensão de risco, que para os fins deste trabalho, deve ser entendido como a possibilidade de acontecer determinado evento, relacionado com a concretização de danos ao meio ambiente ou à saúde humana.

A compreensão acerca do risco pressupõe a noção de limites toleráveis, identificados como os padrões de aceitabilidade estabelecidos pela ciência para determinadas situações de risco. Registre-se que esses limites não impedem a concretização de prejuízos, mas apenas selecionam os que sejam aceitáveis. A situação de risco está, em geral, relacionada com o desenvolvimento da razão tecnológica e seus aspectos não conhecidos por parte dos cientistas e pela população em geral.

2

Assim o é nos Estados Unidos e a posição das empresas multinacionais detentoras da tecnologia.

3

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Nome TRENNEPHOL, em Contornos de uma crise ambiental e científica na sociedade qualificada pelo risco (2006) enfatiza que a autoridade conferida à ciência para o estabelecimento destes padrões acabou por dar ensejo à crise científica decorrente da constatação de falibilidade na previsão e controle de alguns riscos. Por isso que, conforme LEITE em Transdiciplinariedade e a proteção jurídico-ambiental em sociedades de risco: direito, ciência e participação. (2004), a incapacidade funcional da ciência para o correto diagnóstico dos riscos revelou-se à constatação de que determinados efeitos de tecnologias inéditas e emergentes não puderam ser convenientemente controlados e, sobretudo regulados pelo grau de conhecimento técnico-especializado disponível no momento de seu desenvolvimento, o que resultou na produção de efeitos negativos que não puderam ser objeto de previsão e antecipação.

Também por TRENNEPHOL (2006), a concepção de risco tem sido cada vez mais objeto de estudo, e em função de seu alcance, já que os riscos presentes na sociedade moderna qualificam-se pelo potencial global de abrangência, onde os danos não mais se limitam ao espaço geográfico em que a atividade perigosa foi produzida.

Entretanto, não é toda a espécie de riscos que mobiliza a sociedade. Muito embora a concepção de risco possa sofrer influência de fatores sociais e culturais, TRENNEPHOL (2006) afirma que a tendência humana é ignorar os riscos simples e comuns e enfatizar os menos frequentes, mas com maior poder de dano. O que gera, por sua vez, uma falsa ilusão de segurança, já que não se consideram os riscos menores e mais prováveis e sim os grandes, que dificilmente ocorrem.

De acordo com NODARI e GUERRA (2007), a necessidade de avaliação de risco decorre da existência de ameaças que podem vir a se concretizar. O prenúncio presente no contexto da diversidade biológica refere-se à situação de liberação de um OGM devido às propriedades do transgene ou de sua transferência ou expressão em outras espécies. O perigo à espécie humana, por sua vez, decorre dos possíveis efeitos provocados pelo consumo de alimentos oriundos de plantas transgênicas.

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adversos de um certo produto ou método, bem como da gravidade destes efeitos potenciais, extensível à saúde humana e ao meio ambiente.

Para nome COVELLO e MUMPOWER, em Risk Analysis and risk managment: anhistorical perspective (2003), analisando o cenário brasileiro, a necessidade de avaliação e gerenciamento de riscos de origem tecnológica surgiu em decorrência do aumento de casos relacionados ao assunto. Casos que alcançaram a esfera judicial e impeliram o Estado a ampliar seu papel institucional, mediante o desenvolvimento da legislação no campo da saúde, da segurança e do meio ambiente.

A concepção de risco aliada aos possíveis impactos gerados pelas novas tecnologias na área agrícola impõe a observância de padrões de proteção adequados ao meio ambiente e à saúde humana, sem que isso signifique a paralisação do desenvolvimento econômico e científico. Desta forma é que emerge a necessidade de ponderar os princípios que asseguram a biossegurança juntamente com as regras públicas e privadas desenvolvidas no contexto dos transgênicos, com ênfase na conciliação da já mencionada estrutura: segurança alimentar, proteção ambiental e desenvolvimento econômico.

Tendo em vista o reconhecimento de possíveis impactos no meio ambiente e na saúde humana, pelo desenvolvimento de atividades que envolvam OGM, ARAÚJO em Sociedade de risco e meio ambiente: reflexões democráticas no mundo globalizado. (2006) evidencia alguns questionamentos: a possibilidade do indivíduo indagar acerca dos perigos que corre ao adquirir determinado produto que lhe é dado para consumir; a razoabilidade de se impor ônus aos que desempenham atividades potencialmente causadoras de danos ao meio ambiente; a preponderância da lógica do mercado ou da racionalidade econômica em face dos interesses sociais.

Nesta medida, princípios básicos devem ser eleitos com vistas a nortear as atividades que envolvam riscos provenientes dos novos produtos. Especialmente para a análise em comento, dois princípios devem compor a base garantidora da biossegurança nas situações relacionadas a OGM: o princípio da precaução e o princípio da informação.

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avaliação de riscos e para processos decisórios relativos ao gerenciamento de riscos, como forma de assegurar seu controle e minimização na sociedade contemporânea.

Busca-se, com a conjugação do princípio da precaução à moderna biotecnologia, evitar que as incertezas quanto aos efeitos dos transgênicos permitam que a dificuldade na avaliação de riscos desses alimentos sirva de justificativa para a tomada de decisões. Decisões essas baseadas em uma abordagem limitada, que considera apenas os efeitos para os quais existem provas e que culmine na aceitação dessas escolhas pelos cidadãos, muitas vezes baseadas na perspectiva de mercado.

Também o princípio da informação deve ser considerado na ponderação dos riscos expostos à sociedade moderna, como forma de salvaguardar a segurança alimentar e, via de consequência, a saúde humana. Ademais, para LEITE e AYALA, no artigo Transdiciplinariedade e a proteção jurídico-ambiental em sociedades de risco: direito, ciência e participação. (2004), importa consignar que somente com uma publicidade adequada, aliada a uma eficiente difusão de informações sobre o conteúdo e extensão dos riscos, a sociedade estará efetivamente preparada para oferecer propostas idôneas e eficazes para lidar com esses riscos.

Em 2000, representantes de 180 países se reuniram em Montreal, na Conferência das Partes da Convenção da Biodiversidade, e decidiram, dentre outras disposições, que deverá ser realizada a identificação dos alimentos transgênicos quando se tratar de carregamento internacional. Esta conferência teve como finalidade a estipulação de regras internacionais de biossegurança, dando origem ao Protocolo de Cartagena, que instituiu o princípio da precaução com relação aos alimentos transgênicos.

O Brasil aderiu ao Protocolo de Cartagena em 2003 e em 24 de março de 2005 foi aprovada a nova Lei de Biossegurança, que dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança, estabelecendo normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, além de criar o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestruturar a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio.

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bioética, assegurar o avanço científico nesta área e, ao mesmo tempo, preservar a saúde humana, animal, a agricultura e o meio ambiente.

No sistema de biossegurança vigente no Brasil, a avaliação da segurança de um alimento transgênico pauta-se na sua equivalência substancial e não na segurança absoluta, vista como uma meta inatingível. O objetivo é garantir que o alimento seja tão seguro quanto seus análogos convencionais. Para a determinação da equivalência substancial, o alimento geneticamente modificado é comparado ao seu análogo convencional, com histórico de uso seguro, identificando-se similaridades e diferenças. Os resultados dessa comparação direcionam o processo de avaliação que segue um procedimento padronizado.

Entende nome VARELLA, em Propriedade intelectual de setores emergentes: biotecnologia, fármacos e informática: de acordo com a Lei n.º 9.279 (1996) que a proteção ao meio ambiente pelo ordenamento jurídico brasileiro é ampla e rica de mecanismos, observando que

a preservação de um meio ambiente ecologicamente equilibrado é reconhecido como direito de todos (princípio determinado pela Constituição Federal), um bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida. Importa notar que a legislação brasileira reconhece também o direito ao meio ambiente das futuras gerações, de pessoas que ainda não nasceram. Trata-se de direito transindividual, mas com caráter de novo, o de pessoas futuras. Destruir o meio ambiente não é ato de violação de direito não só das pessoas presentes, mas também das futuras, das próximas gerações.

Assim, conceitua-se biossegurança como o conjunto de ações, dentre estas normatizações, pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, utilizado para garantir a proteção ao meio ambiente e a preservação da saúde humana e animal.

1.2 A BIOSSEGURANÇA APLICADA AOS TRANSGÊNICOS

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A necessidade de estabelecer normas de segurança decorre da percepção de riscos relativos aos organismos geneticamente modificados, notadamente quanto à proteção ambiental e à segurança alimentar. No que tange ao meio ambiente, atividades como a liberação planejada de OGM e o plantio comercial de plantes transgênicas requerem a análise de risco por Estudos Prévios de Impacto Ambiental, normas de licenciamento e patentes, determinados pelos órgãos competentes.

Conforme WATANABE, NUTTI e TELLES (2003), no artigo Avaliação de segurança dos alimentos geneticamente modificados a avaliação de segurança dos alimentos transgênicos envolve a detecção de efeitos não intencionais, análise da identidade, fonte e composição do OGM, o processo de transformação, os efeitos do processamento, além de análise do produto da expressão da proteína do novo DNA, a fim de analisar os potenciais de toxidade e alergenicidade do produto, entre outros itens a serem observados. Indiferente de ser o caso de segurança alimentar ou de proteção ambiental, é imprescindível a avaliação de riscos, baseada nas melhores e mais atualizadas evidências cientificas disponíveis.

Durante o início dos anos 90 houve as primeiras colheitas de transgênicos no país e com essas começaram as polêmicas. Controvérsias são observadas desde a produção até a comercialização de produtos, sendo o principal argumento em favor da técnica a fome no mundo. No entanto, a sociedade não tem reconhecido como válido esse argumento, questionando sobre a saúde e o meio ambiente, principalmente.

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As ações promovidas pela campanha englobam publicação de cartilhas impressas e boletins eletrônicos, eventos e manifestações públicas, divulgação de resultados de testes para a constatação de OGMs em alimentos, entre outros.

Cada dia mais as organizações sociais vêm se ampliando e os debates sobre os produtos transgênicos se acirram. Diante disto, PESSANHA (2003) distingue conjuntos e políticas públicas por parte dos governos envolvidos no campo da segurança dos alimentos. No que se refere à garantia da qualidade sanitária e nutricional dos alimentos, a segurança significa garantir alimentos com os atributos adequados à saúde dos consumidores, implicando boa qualidade, livre de contaminações de natureza química, biológica ou física, ou de qualquer outra substância que possa acarretar problemas à saúde das populações. A seriedade desse aspecto da segurança cresce em equidade ao desenvolvimento de novos processos de industrialização de alimentos e das novas tendências de comportamento do consumidor.

Com PESSANHA (2003), sabemos que pesquisas são realizadas na área do melhoramento genético das plantas, visando à obtenção de atributos favoráveis a necessidades de diferentes segmentos da cadeia agro-alimentar: a indústria busca o desenvolvimento de sementes resistentes a pragas ou a defensivos químicos; o agricultor pretende o desenvolvimento de semente geneticamente modificada com resistência a pragas e doenças; o distribuidor busca produtos de maior resistência ao transporte e estocagem, e, consequentemente, de maior durabilidade no mercado, e a indústria de alimentos e ingredientes, por sua vez, busca novas qualidades.

Entretanto, o tema traz uma grande ansiedade para a sociedade sobre os riscos dos alimentos transgênicos, foco de debates e questionamentos de forma bastante intensa. É importante que a população conheça todos os aspectos inerentes à produção e ao consumo dos produtos geneticamente modificados. Um alimento é seguro à saúde humana se ele não causa nenhum mal aos que o ingerem em quantidades consideradas normais e após o seu devido processamento.

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PESSANHA (2003) também ensina que a análise dos efeitos da influência das preocupações com os aspectos da segurança alimentar sobre a demanda por alimentos deve considerar o comportamento de três fatores: consumidores, comércio varejista e indústria de alimentos. Dos três, as grandes redes do comércio varejista atuam como um pivô de ligação, ampliando as preferências dos consumidores frente à indústria de alimentos. Quando os varejistas tomam decisões, por exemplo, como a rotulagem dos alimentos transgênicos, eliminação de ingredientes transgênicos de sua marca ou a instituição de uma linha de produtos sem OGMs, essas geram efeitos entre os produtores de alimentos, os grandes comerciantes de grãos e entre os produtores agrícolas. Hoje, há uma grande influência da opinião pública na organização do mercado mundial de alimentos, como também, a capacidade dos grupos da sociedade civil de pressionar as grandes cadeias de supermercados.

Entretanto, o advento dos transgênicos representa uma revolução tecnológica, a qual, por falhas na comunicação com o mercado, resultou em dúvidas para a sociedade. Como exemplo, podemos ressaltar que 80% dos consumidores de Belo Horizonte, Minas Gerais haviam tomado conhecimento do tema, mas desconheciam a técnica e 45% dos entrevistados acreditavam que ao consumir alimentos produzidos com soja RR estavam ingerindo produto químico, no caso, o herbicida Roundup.

1.3 OS PRINCÍPIOS NORTEADORES DA BIOSSEGURANÇA

Princípios podem ser definidos com proposições que remetem o intérprete a valores e a diferentes modos de promover resultados. São, de acordo com ÁVILA, em obra Princípios e regras e a segurança jurídica (2006), os meio legislativos, a segurança jurídica e a justiça geral. Cumpre aqui estabelecer a diferença entre princípios e regras para a continuidade de interpretação da pesquisa. Ainda por ÁVILA (2006), podemos proceder essa diferenciação por quatro critérios, quais sejam: o do caráter hipotético-condicional; o do modo final de aplicação; o do relacionamento normativo e o do fundamento axiológico. Assim, vejamos:

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Disso decorre que enquanto as regras possuem elemento descritivo, os princípios funcionam como diretrizes. A este propósito, ÁVILA (2004) ressalta que o fundamento deste critério não é a ausência de prescrição de comportamentos e de consequências no caso dos princípios, mas o tipo da prescrição de comportamento e de consequências. Nas regras, privilegia-se o aspecto comportamental, nos princípios, o aspecto teleológico.

O critério do modo final de aplicação determina que enquanto as regras são aplicadas de modo absoluto; os princípios são aplicáveis de modo gradual. Desta forma, as regras instituem obrigação definitiva e os princípios estabelecem obrigações prima facie, já que podem ser superadas por outros princípios colidentes.

Importa ressaltar que princípios ou regras permitem a consideração de aspectos concretos e individuais que determinam sua aplicação, com a diferença de que os princípios estabelecem um estado de coisas que deve ser promovido sem descrever diretamente o comportamento devido, ao passo que regras é a própria normatização que determina como razão para a adoção do comportamento.

Continuando a abordagem, vê-se que o critério do conflito normativo, por sua vez, indica que, havendo conflito entre as regras, a antinomia resolve-se pela invalidade de uma das regras ou com a criação de uma exceção, enquanto que o relacionamento entre os princípios permite a solução de conflitos mediante ponderação que atribua uma dimensão de peso a cada um deles.

Registre-se que a diferença entre princípios e regras está menos no fato de as regras serem aplicadas no todo, e os princípios na medida máxima, do que no fato da determinação da prescrição de uma conduta a ser seguida, mas indicam fins normativamente relevantes, cuja concretização depende de um ato institucional de aplicação mediante comportamento necessário à promoção do fim. As regras, por ÁVILA (2004), já contêm o comportamento previamente previsto no corpo da própria norma.

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A definição dos princípios, por sua vez, contempla a proposição de normas finalísticas, com pretensão de complementaridade e parcialidade, para cuja aplicação se demanda a correspondência entre o estado de coisas a ser promovido e os efeitos decorrentes da conduta havida como necessária à sua promoção.

Assim, para os fins deste trabalho, consideram-se princípios como normas finalísticas que exigem a delimitação de um estado ideal de coisas a ser buscado por meio de comportamentos necessários a esta realização. Registre-se que, por ÁVILA (2006), os princípios determinam, entretanto, o meio cuja adoção produzirá efeitos que contribuirão para promovê-lo.

Nesta perspectiva, ÁVILA (2004) delineia em dois aspectos: a eficácia interna, na qual os princípios servem à compreensão do sentido das regras, uma vez que atuam sobre outras normas de maneira direta ou indireta, ou seja, mediante intermediação ou não de um outro princípio ou regra; e a eficácia externa, a qual ultrapassa a atuação sobre a compreensão de outras normas, estendendo-se à compreensão dos próprios fatos e provas, por meio da definição de fatos pertinentes e exame de valoração para a aplicação de princípios, mediante a interpretação dos fatos.

Assim, como os princípios estabelecem indiretamente um valor, através do estabelecimento de um estado ideal de coisas, acabam por fornecer o parâmetro para o exame da pertinência dos fatos e da sua valoração. Na medida em que se busca, a exemplo, a segurança alimentar e a proteção ambiental, a interpretação dos fatos deverá, por conseguinte, ser feita de modo a selecionar todos os fatos que puderem alterar este estado de coisas.

Uma vez identificados os fatos e procedido à valoração destes, aplicam-se os princípios que subjazem as regras, com vistas à composição de um estado ideal de coisas. Desta forma é que, tendo em vista a existência de riscos proporcionados pelos organismos transgênicos, diante da necessidade de preservação da biodiversidade e da proteção da saúde humana, impõe-se a observância de normas assecuratórias destes valores, com ênfase na correlação entre os efeitos da conduta discriminada e o estado ideal de coisas.

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O ponto de partida para um conhecimento adequado do problema é a classificação dos riscos essenciais atribuídos à liberação de organismos geneticamente modificados para plantio e consumo, a partir da qual será possível conjecturar acerca dos princípios que devem nortear os avanços tecnológicos na área agrícola, tendo em vista a segurança alimentar e ambiental.

Os riscos considerados podem ser divididos em duas esferas: riscos relacionados à saúde humana e riscos associados ao meio ambiente. Os riscos relacionados à saúde humana referem-se, basicamente, à segurança alimentar. O processo de produção de OGM envolve a introdução de um gene exógeno na composição original do organismo. O gene introduzido, por sua vez, representa uma proteína a mais no organismo transgênico. Ao ser ingerido pelo ser humano, a preocupação está em que esta nova proteína, presente em determinado produto, possa causar reação alérgica a algumas pessoas..

Outra preocupação refere-se à possibilidade de que genes de organismos transgênicos, que conferem resistência a antibióticos sejam transferidos para bactérias patogênicas presentes no intestino. Estes genes são introduzidos nos organismos transgênicos visando à seleção das células transformadas. Seu consumo pelo ser humano deve ser criteriosamente avaliado a fim de eliminar qualquer risco à saúde.

Acrescente-se, ainda, o aumento de resíduos de agrotóxicos para aqueles transgênicos que apresentam resistência aos seus efeitos, já que esta resistência permitiria a aplicação de mais veneno na plantação, cujos resíduos permaneceriam nos alimentos, além de poluir os rios e o solo. Por fim, ressalte-se a potencialização dos efeitos de substâncias tóxicas causada pela manipulação de plantas que possuem substâncias tóxicas naturais para defesa contra insetos, por exemplo, aumentando o nível dessas toxinas.

Quanto aos riscos associados ao meio ambiente, estes se referem, principalmente, aos genes de resistência a insetos e a herbicidas, como é o caso da tecnologia RoundupReady aqui em pauta. A preocupação está na possibilidade desses genes escaparem da planta geneticamente modificada para seus parentes selvagens ou para ervas daninhas, o que poderia causar consequências desconhecidas a longo prazo. Citem-se, ainda, o aumento de resíduos tóxicos pela elevação do uso de agrotóxicos, a impossibilidade de controle sobre os efeitos da introdução de uma espécie transgênica no meio ambiente e, por fim, a alteração do equilíbrio dos ecossistemas.

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princípio da informação decorre da observância aos direitos dos consumidores, especialmente no que diz respeito ao aspecto do acesso a informações necessárias ao consumo seguro de alimentos, bem como o direito da publicidade quanto aos atos decorrentes da liberação de transgênicos e a possibilidade de participação da sociedade civil nos processos que envolvam a questão da segurança dos transgênicos.

Por outro lado, o princípio da precaução impõe a realização de estudos científicos suficientes para garantir a segurança ambiental, consoante a determinação constitucional referente à obrigação de salvaguardar o direito fundamental ao meio ambiente sadio, com a adoção de medidas antecipatórias e proporcionais, ainda que nos casos de incerteza quanto à produção dos danos.

A proteção ao meio ambiente consolida-se como objetivo primordial para a sociedade. A ideia de que o desenvolvimento econômico e social pode ser considerado independentemente de uma preocupação com a manutenção da diversidade biológica está ultrapassada e inaceitável. Hoje, a busca por um desenvolvimento sustentável, com o equilíbrio entre a atividade econômica, o bem-estar social e a preservação da natureza é meta global.

Portanto, este princípio procura proteger o meio ambiente de maneira antecipada, não deixando que aconteça a degradação para que, depois, se tomem as providências a respeito, pois tudo que atinge o meio ambiente, destruindo-o, causa um mal irreparável, em decorrência da sua lenta recuperação.

A intenção do princípio é - diante de uma ameaça de danos graves para a saúde humana ou meio ambiente, nos casos em que os dados científicos relevantes não forem suficientemente claros ou se apresentem ambíguos, - a não permissão da intervenção humana. A identificação e avaliação desta ameaça devem ser baseadas em análise sensata do risco e deve ser compatível com o atual conhecimento científico.

A aplicação do princípio da precaução comporta diferentes acepções no âmbito dos interesses público e privado. Para a avaliação privada, o enfoque dado ao princípio da precaução comporta acepções relacionadas tanto ao nível de incerteza, que alavanca uma resposta regulatória, e quanto ao instrumento, que deve ser escolhido em face da incerteza.

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em face da incerteza, aqueles que sujeitam pessoas a riscos potenciais devem revelar informação relevante àqueles submetidos a tal exposição. A segunda variação indica que em face de dúvida, incentivos econômicos devem ser usados para reduzir riscos potenciais.

Por sua vez, a avaliação do princípio da precaução no âmbito público requer a interpretação do princípio conforme previsão da Declaração Rio-92, Princípio 15, segundo a qual, quando houver ameaça de danos certos ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas destinadas a prevenir a degradação ambiental.

Aqui, diante de um caso concreto de aplicação da precaução, a concepção do princípio pode assumir três diferentes tendências: a posição maximalista, a posição minimalista e a posição intermediária. De acordo com a posição maximalista, o princípio da precaução é ilimitado e superior a todos os demais e deve ser considerado, independentemente da natureza dos danos que teoricamente devem ser evitados. Para a concepção minimalista, as necessidades econômicas são mais relevantes que a aplicação do princípio, razão pela qual devem ser prevalentes.

A posição intermediária, por sua vez, busca estabelecer um mecanismo de equilíbrio entre todos os aspectos envolvidos no caso concreto, privilegiando a solução de compromisso entre os diferentes atores. Para tanto, o princípio não pode ser considerado como um instrumento de paralisação das atividades e das pesquisas, mas sim como a adoção de medidas de controle e monitoramento para a realização de uma determinada atividade, ressalvando-se a possibilidade de existência concreta de danos. Adota-se, para os fins aqui pretendidos, a posição intermediária.

Nos meios jurídicos não foi diferente. Especificamente no caso da soja transgênica, a posição maximalista parece ter sido subrogada, porquanto na decisão definitiva do Tribunal Regional Federal 1a. Região, rejeitou-se, no caso concreto, o entendimento segundo o qual o princípio da precaução teria o condão de impor ao administrador a ultrapassagem dos padrões legais vigentes.

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Resta saber, no âmbito privado a aplicação do princípio tem se pautado pela concepção intermediária, segundo a qual prestigiam-se as decisões administrativas proferidas pelos órgãos encarregados da proteção ao meio ambiente, da saúde pública e da segurança face ao lançamento de produtos no meio ambiente, ou se a posição minimalista se sobrepôs aos interesses sociais.

Apesar da tendência mundial de preservação do meio ambiente, este princípio não pode constituir barreira à pesquisa científica e às atividades que envolvam a manipulação de OGMs e seus derivados. Pois, se de um lado, é necessário admitir a possibilidade de danos ainda não conhecidos e procurar antecipá-los e dimensioná-los com base nos conhecimentos existentes, resguardando os legítimos interesses da sociedade; de outro, é necessário criar os mecanismos e procedimentos regulatórios capazes de assegurar o desenvolvimento científico com o mínimo de risco.

O desenvolvimento científico na seara dos OGMs que vem acontecendo ainda não foi assimilado pela sociedade, possivelmente em razão da dificuldade de compreender os novos conceitos e os novos desenvolvimentos tecnológicos, como também devido à falta de informação adequada, acarretando insegurança com relação à biotecnologia e à engenharia genética.

Destarte, é importante regular a atividade cientifica com o critério precautório, como bem é estabelecido pela legislação brasileira de biossegurança em vigor. Contudo. isto não deve ser impedimento para que o conhecimento e para que as técnicas avancem, deve sim contribuir para seu aperfeiçoamento, dando condições para que as universidades, os institutos de pesquisa e empresas, credenciados e autorizados, realizem pesquisas e ampliem o conhecimento disponível na engenharia genética, evitando-se que haja risco de atraso e defasagem na pesquisa no âmbito da engenharia genética e na biotecnologia.

O princípio da informação, no que se refere aos transgênicos, guarda estreita pertinência com a questão da segurança alimentar. O ordenamento jurídico brasileiro reflete a preocupação com a atuação estatal na promoção da saúde e na defesa do consumidor em diversos dispositivos. Assim é que, de acordo com a Constituição Federal, a saúde é um direito social4, “um direito de todos e dever do Estado”5, e as ações e serviços de saúde serem consideradas de relevância pública6.

4

(37)

A Carta Magna determina ainda que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”7. A concretização da proteção à saúde realiza-se, por sua vez, através de leis que criam direitos para a população e deveres para os agentes econômicos, como é o caso do Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Com vistas a dar maior transparência às relações de consumo, vários dispositivos do CDC criam para o fornecedor um dever de informar o consumidor (ex vi artigos 4º, caput, 6º, incisos I, II, III, 9º e 31). Sendo assim, é pressuposto da relação de consumo que toda informação relevante seja devidamente propiciada, porquanto somente dispondo de dados completos sobre cada aspecto dos bens ofertados, o consumidor torna-se apto a exercer seu direito de escolha.

O consumidor, destinatário do processo produtivo, deveria configurar-se como o maior beneficiário das transformações ocorridas: é para ele e pensando nele que se produz. É o consumidor quem paga a conta da produção e é dele que vem o lucro do produtor.

O direito do consumidor abrange não somente as relações de consumo como também os crimes contra a economia popular; a livre distribuição de produtos necessários ao consumo do povo e a consequente legislação sobre a intervenção do domínio econômico; bem como apresenta uma nova visão e maior amplitude jurídica das responsabilidades por danos causados não só diretamente ao consumidor, mas também, ao meio ambiente, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

O CDC adota um conceito de caráter econômico para definir consumidor, ou seja, leva em consideração que o mercado de consumo adquire bens ou então contrata a prestação de serviços, como destinatário final, agindo com vistas ao atendimento de uma necessidade pessoal e não para o desenvolvimento de uma outra atividade negocial, sendo consumidor aquele que adquire bens ou serviços como destinatário final8.

5

Ibidem. Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

6

Ibidem. Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.

7

Ibidem. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

8

Ibidem. Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

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