Revista da Sociedade Brasileira de M edicina Tropical 18(4): 261-262, Out-Dez, 1985
COMUNICAÇÃO
COMPARAÇÃO ENTRE LEISHMANIA ISOLADAS DE PACIENTES DE TRÊS
BRAÇOS, BAHIA, E DE DIVERSAS REGIÕES, ATRAVÉS DE SEU
COMPORTAMENTO NO TUBO DIGESTIVO DE LUTZOMYIA LONGIPALPIS
(PSYCHODIDAE, PHLEBOTOMINAE)
Julio A. Vexenat, Air C. Barretto, Cesar C. Cuba e Philip D. Marsden.
H á vários m é to d o s p a r a a c a ra c te riz a ç ã o de estoques d e L eish m a n ia co m a finalidade de su a identificação esp ec ífica ou su b específica. A ssim , e x istem o s m é to d o s b a s e a d o s n a m o rfo lo g ia12, c o m p o rtam en to biológico^ 7 , b io q u ím ico 3 4 10 e im uno- lógico9. O s m é to d o s bio ló g ico s abrangem : 1) o c re s cim ento do p a ra s ito e m m eio s artificiais, 2) a inocula- çã o em h a m s te r e p o ste rio r o b se rv a ç ã o d a ev o lu çã o d a lesão e 3) infecção experim ental de L u tzom yia longipalpis (fle b o to m ín eo ) e o b se rv a ç ã o d a evo lu ção do p a ra sito e m seu tu b o digestivo. E s te ú ltim o m éto d o é u tiliza d o p a r a s e p a ra r p rin cip alm e n te o co m p lex o
M exicana, d e co m p o rtam e n to su p ra p ilá ria o u seja um a infecção re strita ao in te stin o m éd io e an terio r, sem atingir o triân g u lo p o ste rio r, d o c o m p le x oB raziliensis
de evolu ção p erip ilária , cu ja in fecção atinge o triâ n gulo p o ste rio r d o tu b o d igestivo do flebotom íneo, o b serv an d o -sè em alg u m as in fecções a o c u p a ç ã o do p ara sito em to d o o tra to d igestivo do in se to 5 8.
U m a c o lô n ia de L u tzo m y ia longipalpis (L u tz e N eiv a, 1 9 1 2 ), o rig in a d a do C e a rá e m a n tid a no In stitu to E v a n d ro C h a g a s em B elém (P a rá ) foi a d a p ta d a n o L a b o ra tó rio de P a ra sito lo g ia M é d ic a d a U n iv ersid a d e de B rasília, co m a finalidade de ser u tilizad a p a r a c a ra c te riz a ç ã o de esto q u es de
Leishm ania.
N e s te tra b a lh o sã o m o stra d o s os resultados o b tid o s em 67 esto q u es iso lad o s de p ac ie n tes de T rê s B raç o s, B a h ia e 23 esto q u es isolados de p acientes registrados em do is hospitais (H o sp ital d e S obradinho e P re sid e n te M éd ici) de B rasília, D F . A principal d iferen ç a en tre os do is grupos é que o prim eiro é co m p o sto de p a c ie n tes a u tó cto n e s de T rê s B raços, B a h ia e o seg u n d o é fo rm a d o de p a c ie n te s de diferentes regiões do p aís, em su a m aio ria o riu n d o s d os E sta d o s d e G o iá s , M in a s e o este d o E s ta d o d a B a h ia 11.
O s fleb o to m ín eo s fo ram in fectad o s em lesões de h a m ste rs in o c u lad o s com m a te ria l colhido p o r bió p sia de lesões d e p a c ie n tes, e cu id ad o sa m en te d issecados após 4 a 5 dias a fim de se o b se rv a r o p a d rã o de d esen v o lv im en to d o p a ra sito no tu b o digestivo do inseto.
O s re su lta d o s são m o stra d o s n a T a b e la 1. C in co d e 23 iso lad o s d e p a c ie n tes d os H o sp ita is (2 1 ,7 % ) e a p e n as u m de 6 7 p a c ie n te s de T rê s B raços, B ahia, (a p ro x im a d a m e n te 1 ,5 % ) tiv eram co m p o rtam en to su p ra p ilá ria o u seja sã o p erte n ce n tes ao com plexo
M exicana. O c o m p o rta m e n to p erip ilária (C o m p lex o
B raziliensis) foi verificad o em iso lados de 1 8 /2 3 p ac ie n tes d os H o sp ita is (7 8 ,2 % ) e de 6 5 /6 7 p acien tes d e T rê s B raço s (9 7 ,0 % ). E m a p e n as um iso lad o de p ac ie n te de T rê s B raç o s n ão foi p ossível d eterm in a r o
T a b e la 1 - Padrões de desenvolvim ento de L eishm ania, isoladas de pacientes, em tubo digestivo de L u tzom yia longip alp is (P sy c h o d id a e , P h leb o to m in ae ).
Origem dos Pacientes N.° de Padrões de D esenvolvim ento F alha de Infecção do inseto
Iso la d o s Suprapilaria (% ) Peripilaria (% ) Np %
T rê s B raço s, B a h ia 67 1 (1 ,4 9 ) 65 (9 7 ,0 ) 1 (1 ,4 9 )
H ospitais B rasília, D F 23 5 (2 1 ,7 ) 18 (7 8 ,2 )
-T o tal 9 0 6 (6 ,6 ) 83 (9 2 ,2 ) 1 (1 ,1 )
T rab a lh o re a liz a d o c o m o au x ílio fin an c eiro d o C o n se lh o N a cio n a l d e D e s e n v o lv im e n to C ien tific o e T ecn o ló g ic o (C N P q ) 4 0 3 6 9 0 /8 2 , U .S . P u b lic H e a lth S ervice A I 1 6 2 8 2 e M in istério d a S a ú d e ( S U C A M ) .
F a c u ld a d e de C iê n c ia s d a S a ú d e - N ú c le o d e M e d icin a T ro p ical e N u triç ã o , U n iv e rsid a d e de B ra sília , D F , 7 0 9 1 0 B rasília, B rasil.
R ecebido p a ra p u b lic a ç ã o em 6 /3 /8 5
p a d rã o de e v o lu çã o p o r n ã o se te r conseguido infecção d o inseto. O p o ste rio r estu d o d a m a io ria desses iso lad o s, atra v é s d e m éto d o s d e cultivo, b ioquím icos e im unológicos p a r a d e te rm in a ç ã o de su bespécies do p a ra sito , co n firm a ra m os com p lex o s previam ente identificados atra v é s d a infecção de flebotom íneos, d em o n stra n d o agsim o v alo r d esse m é to d o p a ra a s e p a ra ç ã o d o s do is com plexos. O b serv a-se tam b ém a
Comunicação. V exenatJA , Barretto A C , C u b a C C , M a rsd en P D . C om paração entre L e ish m a n ia isoladas de pacientes de Três Braços, Bahia, e de diversas regiões, através de seu com portam ento no tubo digestivo de L u tz o m y ia lo n g ip alp is (Psychodidae, Phlebotominae). R evista da Sociedade B rasileira de M edicina Tropical 18: 261-262, O ut-Dez, 1985
q u ase to ta l p re d o m in â n c ia de p a ra sito s do com p lex o
B raziliensis n a região d e T rê s B raç o s, o n d e a leishm aniose h u m a n a co m c o m p ro m etim en to m u co so é co m u m 1, e o n d e c a so s h u m a n o s p o r L eish m a n ia do com p lexo M exicana é ra ro 2 . N o grupo d e p a c ie n tes dos h o sp itais, p ro v en ien tes d e v a s ta á re a d o s E s ta d o s de M in a s G e ra is , G o iá s e o este d a B ah ia, a p e s a r de p red o m in ar p a ra sito s d o C o m p le x o B raziliensis, h á um núm ero significante (2 1 ,7 % ) de p ac ie n tes p o rta dores d e L eish m a n ia do C o m p lex o M exicana.
A u tiliza çã o d esse m éto d o , de sim ples ex e c u ção, desde q ue se te n h a u m a co lô n ia d eL . longipalpis,
é de grande v alo r p a r a a id e n tifica çã o c o rre ta dos com plexos de L eishm ania, so b retu d o em p ac ie n tes que p ro cu ram os h o sp itais, n ão som en te p elas im plicações clín icas d istin ta s, c a u sa d a s p o r esses grupos de p ara sito , co m o ta m b é m p a r a se c o n h e c e r as áreas onde eles p red o m in am .
R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S
1. B a rretto A C , C u b a C C , M a rs d e n P D , V e x e n a t J A , D e B eld er M . C a ra c te rís tic a s e p id e m io ló g ica s d a leish m a niose te g u m e n ta r a m e ric a n a e m u m a reg iã o e n d êm ica do E s ta d o d a B a h ia , B rasil. I. L e ish m a n io se h u m an a . Bo- letin d e la O fic in a S a n itá ria P a n a m e ric a n a 90: 4 1 5 -4 2 4 , 1981.
2. C u b a C C , B a rre tto A C , M a rs d e n P D . L e ish m a n ia M ex ican a: A s p e c to s ta x o n ó m ic o s y ra re z a de la in- fección h u m a n a en T rê s B ra ço s-B ah ia, B rasil. R e v ista Sociedade B rasileira M edicina T ropical 1 7 :1 1 5 -1 2 2 ,1 9 8 4 . 3. G a rd e n e r P J . C h a n c e M L , P e te rs W . B io ch e m ic al
tax o n o m y o f L e ish m a n ;a II. E le c tro p h o re tic v a ria tio n o n m ala te d e h y d ro g en a se . A n n a ls o f T ro p ic a l M e d icin e and P a ra sito lo g y 68: 3 1 7 -3 3 5 , 1974.
4. G o d fre y D F . B io ch em ical c h a ra c te riz a tio n s in the ta
xon o m y o f p a ra sitic P ro to z o a . In: P ro c e d in g o f W o rk sh o p P a n A m e ric a n H e a lth O rg a n iz a tio n B io ch e m ic a l C h a ra c te riz a tio n o f L e ish m a n ia . W a s h in g to n , p. 6 2 -7 9 , 1982.
5. K illic k -K en d ric k R , M o ly n e u x D H , H o m m el M , L ea n y A J , R o b e rts o n E . L eish m a n ia in p h leb o to m id sandflies V. T h e n a tu re anct significance o f in fectio n s o f p y lo ru s a n d ileu m o f th e san d fly b y le ish m a n ia e o f th e brazilien sis c o m p lex . P ro c e ed in g s o f th e R o y a l S o c ie ty o f L o n d o n S érie B, 198: 1 9 1 -1 9 9 , 1977.
6. L ain so n R , S h aw J J . L e ish m a n ia sis o f the N e w W orld: tax o n o m ic p ro b lem s. B ritish M e d ica i B ulletin 2 8 :4 4 - 4 8 , 1972.
7. L a in so n R , S h aw J J . L a s leish m a n ia s y las leish m an io sis dei N u e v o M u n d o , c o n p a rtic u la r refe re n cial al B rasil. B ulletin P a n A m e ric a n H e a lth O rg a n iz a tio n 76: 93-
1 14, 1 9 7 4 .
8. L a in so n R , W a r d R D , S h aw J J . L e ish m a n ia in flebo- to m id sandflies. V I Im p o rta n c e o f h in d g u t d ev elo p m en t in d istin g u ish in g b e tw e e n p a ra s ite s o f th e L eish m a n ia m exicana an d L . braziliensis c o m p lex es. P ro c e ed in g s o f the R o y al S o c iety o f L o n d o n 199: 3 0 9 -3 2 0 , 1977. 9. M c M a h o n - P r a tt D , D a v id J R . M o n o c lo n a l an tib o d ies
th a t d istin g u ish b e tw e e n N e w W o rld species o f L e ish m a n ia . N a tu r e 2 91: 5 8 1 -5 8 3 , 1981.
10. M iles M D , L a in so n R, S h a w J J , P o v o a M , S o u z a A A . L eish m a n ia sis in B razil. X V . B io ch em ical d istin c tio n o f L eish m a n ia m exicana am azonensis, L. braziliensis bra ziliensis a n d L. braziliensis g u ya n en sis a etiological agents o f c u ta n e o u s L e ish m a n ia sis in th e A m a z o n B asin o f B razil. T ra n s a c tio n s o f th e R o y a l S o ciety o f T ro p ic a l M e d icin e a n d H y g ie n e 75: 5 2 4 -5 2 9 , 1981.
11. S a m p a io R N R . T ra ta m e n to h o s p ita la r d e leish m a n io se c u ta n e o m u c o sa . T e s e d e M e s tra d o , U n iv e rsid a d e F e d e ral de M in a s G e ra is , B elo H o riz o n te . 1984.
12. S h aw J J , L a in so n R. L e ish m a n ia sis in B razil. X I. O b s e rv a tio n s o n th e m o rp h o lo g y o f L eish m a n ia o f the braziliensis a n d m exicana co m p le x es. Jo u rn a l o f T ro p i cal M e d ic in e a n d H y g ie n e 79: 9 -1 3 . 1976.
