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Baronesa de Três Serros: parte da história da cidade de Pelotas.

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM PATRIMÔNIO CULTURAL. Verlaine Fátima Wazenkeski. BARONESA DE TRÊS SERROS: PARTE DA HISTÓRIA DA CIDADE DE PELOTAS.. Santa Maria, RS 2017.

(2) Verlaine Fátima Wazenkeski. BARONESA DE TRÊS SERROS: PARTE DA HISTÓRIA DA CIDADE DE PELOTAS.. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação Profissional em Patrimônio Cultural, Área de Concentração em História e Patrimônio Cultural, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Patrimônio Cultural. Orientadora: Profª Drª. Heloisa Helena Fernandes Gonçalves da Costa. Santa Maria, RS 2017.

(3) ____________________________________________________________ © 2017 Todos os direitos autorais reservados à Verlaine Fátima Wazenkeski. A reprodução em partes ou do todo deste trabalho só poderá ser feita mediante a citação da fonte. Endereço: Av. Juscelino K. de Oliveira, 1962 – bloco C, apto. 101 - Condomínio Village IV. Pelotas / RS. CEP: 96075-810 - Fone: (53)981004577 / E-mail: wazenkeski@hotmail.com.

(4) Verlaine Fátima Wazenkeski. BARONESA DE TRÊS SERROS: PARTE DA HISTÓRIA DA CIDADE DE PELOTAS.. Elaborada por Verlaine Fátima Wazenkeski.. Dissertação de mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação Profissional em Patrimônio Cultural, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Patrimônio Cultural.. Comissão Avaliadora: ______________________________________________________ Heloisa Helena Fernandes Gonçalves da Costa, Drª (UFBA) (Presidente/Orientadora – Universidade Federal da Bahia/UFBA). ______________________________________________________ Eloisa Helena Capovilla da Luz Ramos, Drª (Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS). ______________________________________________________ Marta Rosa Borin, Drª (Universidade Federal de Santa Maria/UFSM). Santa Maria, 05 de maio de 2017. 4.

(5) AGRADECIMENTOS. Agradeço em primeiro lugar a Deus por ter colocado em minha vida pais maravilhosos como foram (in memoriam) Estanislau Wazenkeski e Alzira Wazenkeski. A meus filhos, Marcus e Maria, agradeço por dividirem seus conhecimentos, apoio e estímulo, à Renata, Teófilo e aos netos Clara Julia, Cecilia e Raul, pelo carinho por compreenderem o tempo que estive afastada para realizar mais este sonho. À minha queridíssima Heloísa Helena, que desde o primeiro dia em que nos conhecemos pessoalmente na UFSM, me falou que daquele momento até o término desta dissertação eu seria mais uma filha que ela estaria acolhendo, ajudando e dividindo os conhecimentos. Como sempre faz com seus orientandos, e hoje ao término desta orientação, posso garantir que fez muito mais que isto. Foi minha orientadora sim, mas antes de tudo grande amiga que nos momentos de sufoco, sempre teve uma palavra de incentivo e de carinho, e por todos os ensinamentos diários, pelas lições profissionais e de vida, pela paciência e carinho que teve comigo e que guardarei para sempre quero dizer muito obrigada. À querida professora Denise Saad e à secretária Jô Brondani, pelo carinho e atenção que sempre tiveram comigo. Agradeço a todos os professores que tive a oportunidade de ter aula, em especial à Professora Marta Borin, pelas conversas, apoio, amizade, e por participar da banca de qualificação e defesa desta dissertação. À professora Eloisa Capovilla Ramos, por aceitar participar mais uma vez da minha banca antes na qualificação e agora na defesa com suas contribuições e ensinamentos, meu muito obrigada. Ao colega e grande amigo, Gilberto Pilecco, que nunca poderei pagar a ótima estadia, amizade, confiança e carinho que depositou em mim, no momento em que abriu as portas da sua casa durante estes dois anos fazendo da sua a minha casa. Obrigada também por outros auxílios que tu me prestaste durante este tempo. Obrigada Bruna por todo carinho, amizade e confiança que me depositou.. 5.

(6) Ao colega e grande amigo Eduardo Louzado, agradeço por todo carinho, incentivo dedicação, conselhos e ajuda nas discussões sobre leituras e artigos, obrigada por todos os momentos que passei em tua sua casa, ao logo destes dois anos. Às minhas filhas do coração Angélica e Keterine pela amizade, carinho, paciência e grande ajuda sempre que precisei. Obrigada Ideli, Lenita, Liane e Zuleica, minhas irmãs do coração, por todo apoio e incentivo. Agradeço aos meus queridos amigos do Museu da Baronesa, em especial ao Marcelo Madail e Flavia A. Sanes, pelo auxílio com minha pesquisa. Ao seu Zé, que estava sempre com seu chimarrão pronto para oferecer e também à diretora e amiga Annelise Montone, muito obrigada. Aos tantos outros amigos que de uma forma ou outras estiveram comigo durante esta jornada me ajudando com palavras de coragem e de carinho, não poderia citar a todos por que a lista é realmente grande, mas de coração eu agradeço a cada um de vocês, muito obrigada. Aos amigos Tatiana, Marcia e David, agradeço a grande ajuda e amizade demonstrada. Aos colegas de mestrado por dividirem a jornada e expectativas. E por último, mas jamais esquecida, minha mãe do coração Carmen Vera Ferreira, sempre fiel incentivadora na caminhada nesta nova etapa, pelo apoio incondicional, carinho, cuidado e dedicação.. 6.

(7) “Acordei aos poucos, como todas as crianças, gradativamente com o passar dos anos. Descobri a mim mesma e descobri o mundo: depois os esqueci, e os descobri novamente. ” (Annie Dillard). 7.

(8) RESUMO Dissertação de Mestrado Programa de Pós-Graduação Profissional em Patrimônio Cultural Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil. BARONESA DE TRÊS SERROS: PARTE DA HISTÓRIA DA CIDADE DE PELOTAS. AUTORA: VERLAINE FÁTIMA WAZENKESKI ORIENTADORA: PROFª. DRª. HELOISA HELENA FERNANDES GONÇALVES DA COSTA Local da defesa e data: Santa Maria, 05 de maio de 2017.. Esse trabalho de pesquisa, desenvolvido no âmbito do Mestrado Profissionalizante em Patrimônio Cultural da UFSM, foi realizado com o objetivo de pesquisar a vida de Amélia Fortunata Hartley de Brito, Baronesa de Três Serros, a partir de 1864, ano de sua chegada à cidade de Pelotas no Rio Grande do Sul, vinda cidade do Rio de Janeiro, onde morava com seus pais e avós. Considerada uma dama da sociedade pelotense, hoje possui um museu dedicado à sua memória, o Museu da Baronesa, marcou presença no período entre 1864 e final da primeira década do século XX, na cidade de Pelotas/RS. Buscou-se então identificar as referências e as possíveis contribuições da Baronesa no patrimônio cultural de Pelotas analisando sua importância social e política. A partir desta análise, foi criado um glossário de termos de época para contribuir para as práticas educativas formais e não formais, do referido museu, no intuito de valorizar não somente a historicidade, mas também as correspondentes memórias sociais contidas neste período.. PALAVRAS - CHAVE: Pelotas/RS, Baronesa de Três Serros, Museu, Patrimônio Cultural.. 8.

(9) ABSTRACT. Masters dissertation Professional Postgraduate Program in Cultural Heritage Federal University of Santa Maria, RS, Brazil BARONESS OF THREE HILLS: a part of the history of Pelotas city Author: VERLAINE FÁTIMA WAZENKESKI Advisor: Professor. Dr. HELOISA HELENA FERNANDES GONÇALVES DA COSTA Santa Maria /RS, março 2017. This research work, developed within the scope of the UFSM Cultural Heritage Masters, was carried out with the objective of analyzing the life of Amélia Fortunata Hartley de Brito, Baroness of the Three Hills, from 1864, the year of her arrival in the city of Pelotas in Rio Grande do Sul, from the far-away city of Rio de Janeiro, where she lived with her parents and grandparents. Considered a lady from Pelotas society, today she has a museum dedicated to her memory, the Museum of the Baroness; she was very present like a dedicated social woman in the period between 1864 and the end of the first decade of XX century, in the city of Pelotas / RS.The aim was to identify the references and possible contributions of the Baroness in the cultural heritage of Pelotas, analyzing her social and political importance. From this analysis, a glossary of period terms was created to contribute to the formal and nonformal educational practices of the said museum in order to value not only the historicity, but also the corresponding social memories contained in this period.. KEY WORDS: Baroness of the Thee Hills, Museum, Cultural Heritage, Pelotas/RS..

(10) LISTA DE ILUSTRAÇÕES. Figura 01 - Pelota era um bote feito de couro de boi e utilizado para fazer a travessia de arroios ou para navegação em pequenos cursos d’agua. Figura 02 - Escravos guiavam a pelota. Figura 03 - Direita: Planta da Freguesia de São Francisco de Paula, 1815 / Esquerda: Planta da Cidade de Pelotas, 1835. Figura 04 - Caixa D’água. Figura 05 - Obelisco. Figura 06 - Casarão 08 Figura 07 - Casarão 02 Figura 08 - Casarão 06 Figura 09 - Mercado público Figura 10 - Teatro Sete de Setembro Figura 11- Museu Municipal Parque da Baronesa Figura 12 - Doces tradicionais de Pelotas Figura 13 - Foto da Baronesa de Três Serros Figura 14 - Foto do Barão de Três Serros Figura 15 - Pintura da Baronesa de Três Serros lendo Figura 16 - Mulheres dos séculos Figura 17- Antiga casa da Baronesa Amélia Figura 18 - Planta aérea da casa e do parque Figura 19 - Museu Municipal Parque da Baronesa Figura 20 - Mapa da planta baixa Figura 21 - Glossário.

(11) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS. AMBAR - Associação de Amigos do Museu da Baronesa COMPHIC - Conselho Municipal do Patrimônio Histórico do município de Pelotas. FAURB - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FENADOCE - Feira Nacional do Doce FUNDAPEL - Fundação de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo de Pelotas. IBRAM - Instituto Brasileiro de Museus ICOM - Conselho Internacional de Museus INRC - O Inventário Nacional de Referências Culturais é uma metodologia de pesquisa desenvolvida IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional INTEGRASUL - Fundação Municipal de Integração Turístico Cultural do Sul MMPB - Museu Municipal Parque da Baronesa NEAB - Núcleo de Estudos de Arquitetura Brasileira SECULT - Secretaria Municipal de Cultura UFPel - Universidade Federal de Pelotas UFSM - Universidade Federal de Santa Maria UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura FEB - Federação Espírita Brasileira.

(12) SUMÁRIO. 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13 2 A ORIGEM DE PELOTAS ............................................................................................... 16 2.1 Pelotas, o contexto histórico e a influência baronal ........................................................ 23 2.2 A sociedade pelotense e a família Antunes Maciel ....................................................... 26 2.2.1 Sociedade pelotense ............................................................................................................................. 26 2.2.2 A Família Antunes Maciel .................................................................................................................. 29. 2.3 Prédios históricos tombados em Pelotas: Registros Patrimoniais .................................. 31 2.3.1 Caixa D’água ...................................................................................................................................... 33 2.3.2 Monumento Republicano – Obelisco ................................................................................................. 34 2.3.3 Os prédios (casas) números 2, 6 e 8 (conjunto arquitetônico) ............................................................. 35 2.3.4 Mercado Central de Pelotas ................................................................................................................ 38 2.3.5 Teatro Sete de Abril ............................................................................................................................ 39 2.3.6 Museu Municipal Parque da Baronesa ............................................................................................... 41 2.3.7 O Doce de Pelotas ............................................................................................................................... 42. 3 A FEMINILIDADE NO INTERIOR DAS CASAS E NOS LOCAIS PÚBLICOS ...... 45 3.1 Uma história de amor e seus enredos ............................................................................. 48 3.2 Questões sobre o gênero feminino no século XIX ......................................................... 59 4 A CASA-MUSEU DA BARONESA AMÉLIA HARTLEY ........................................... 69 4.1 Memória e a Educação Patrimonial no Museu Municipal Parque da Baronesa ............ 78 5 GLOSSÁRIO COM PALAVRAS COMUMENTE UTILIZADAS NO SECULO XIX NO BRASIL, TERMOS DE UMA ÉPOCA E SEUS SIGNIFICADOS ........................... 88 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 108 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 110 Anexo 1 ................................................................................................................................. 115 Anexo 2 ................................................................................................................................. 122 Anexo 3 ................................................................................................................................. 159.

(13) 13. 1 INTRODUÇÃO Este trabalho teve como objeto de pesquisa a vida de Amélia Fortunata Hartley de Brito, baronesa de Três Serros, a partir de sua chegada à cidade de Pelotas no Rio Grande do Sul, vinda da cidade do Rio de Janeiro, onde morava com seus pais e avós. Buscou-se identificar a importância, as referências e as possíveis contribuições da baronesa de Três Serros em relação ao Patrimônio Cultural de Pelotas e, a partir desta análise, propor subsídios que possam contribuir com as práticas educativas formais e não formais, valorizando a historicidade e as correlatas memórias sociais contidas neste período. O interesse pela história de vida de Amélia veio ao iniciar minha vida acadêmica, uma vez que fui convidada para fazer parte do grupo de estagiários do prof. Dr. Diego Ribeiro, no Museu Municipal Parque da Baronesa. Minha primeira pesquisa sobre esse assunto foi em meu trabalho de conclusão do curso de Bacharel em Museologia, com o tema: “As ações educativas desenvolvidas no Museu Municipal Parque da Baronesa, entre os anos de 2001 a 2009: um inventário de descontinuidades”. Por conta desta experiência adquirida nos anos em que trabalhei como estagiária naquela instituição, fui contagiada pela história de vida da família Hartley de Brito e pela maneira como as pessoas viviam naquele período. Para a construção desta dissertação foram feitas pesquisas baseadas em autores como: Mário O. Magalhães, Ester J. B Gutierrez entre outros, autores que trazem informações sobre a origem e desenvolvimento da cidade de Pelotas, no primeiro capítulo; Nathalia Costa, Jezuina K. Schwanz, e Annelise Montane, que nos descrevem como era a vida da família dos Barões de Três Serros, Paula Claser, que nos faz uma análise das 151 cartas trocadas entre mãe e filha no período entre 1885 a 1918; Mary Del Priore em seu livro “História da vida privada” nos mostra, com sua diversidade de autores, os pontos de vista divergentes entre eles e uma historiografia das mais relevantes para este trabalho. Apoiei-me também nos conceitos de educação patrimonial e de patrimônio intangível dos textos de Maria de Lourdes Horta, Evelyna Grumberg, Adriane Queiroz Monteiro e Maria Célia T.M. Santos, autoras que primam pelo conhecimento e pelo diálogo que deve haver entre a comunidade e o entendimento com as instituições museais. Heloísa Helena F. G. da Costa, também parte do mesmo pensamento, mostrando a importância da educação no museu quando fala de um modelo pedagógico inovador com metodologias para um aprendizado que possibilite aos estudantes ocuparem o lugar de sujeitos na construção dos conhecimentos. Já em vários textos.

(14) 14. de Magali Cabral, a mesma discute sobre o quanto é importante para os museus que haja um programa educativo e cultural voltado à comunidade. Buscou-se também aliar análise de instrumentos de fontes primárias e de fontes secundárias como: cartas que foram escritas entre a Baronesa e sua filha dona Sinhá, certidão de casamento do barão e da baronesa, documentos administrativos da instituição, recortes de jornais, folders de exposições, monografias e dissertações escritas sobre o museu e sites com a história do Museu Municipal Parque da Baronesa / MMPB-Pelotas/RS. O segundo capitulo “Origem de Pelotas”, foi dividido em três partes, onde abordou-se a origem do município de Pelotas/RS, desde a época das disputas entre espanhóis e portugueses até a formação das charqueadas - importante atividade econômica na região, que teria influenciado na escolha do nome da cidade. Foram pesquisados os primeiros povoados, seu intenso desenvolvimento e o decorrente enriquecimento das famílias, tornando Pelotas um centro cosmopolita, com inúmeros títulos de nobreza, casarões e palacetes que agregam um precioso patrimônio material edificado, além do destaque de líderes intelectuais e políticos na Revolução Farroupilha, bem como as mudanças que ocorreram desde a origem do povoado com suas modificações ao longo dos séculos, surgindo assim a cidade de Pelotas, uma metrópole independente cultural e financeiramente perante o resto do país, com sua história constituída há mais de duzentos anos. Em “Pelotas, o contexto histórico e a influência baronal”, aponta-se que nos anos posteriores à Revolução muitos pelotenses receberam títulos nobiliárquicos - alguns pelo dinheiro que possuíam, outros por serviços prestados à nação e alguns por dedicação à cidade e seus habitantes. Entre estes pelotenses, como foi noticiado pelo jornal Correio do Povo,1 nove receberam o título baronal, dois tornaram-se viscondes e um recebeu o título de conde. Na sociedade pelotense destacamos a família Antunes Maciel que contribuiu social, econômica e politicamente com município e como nos influenciou em sua cultura e desenvolvimento. A baronesa, por sua vez, destacou-se por sua generosidade e seus conhecimentos na área religiosa, sendo uma das precursoras, no início do século XX, a divulgar e dirigir grupos de estudos sobre a doutrina espírita.. _____________________________________________________________________ Reportagem do Correio do Povo de autoria de Álvaro Guimarães, com o título: “Cidade: Parte da herança dos barões ainda vive”. Pelotas, Domingo, 0912,2007. 1.

(15) 15. Em “Registros Patrimoniais”, os prédios históricos tombados em Pelotas compõem um expressivo patrimônio cultural material na região e são, também, um invólucro para o patrimônio imaterial, o qual se forma com base na memória coletiva e individual dos pelotenses. Nesta dissertação, são listados os principais prédios tombados, bem como se dá destaque aos famosos doces de Pelotas, rico patrimônio imaterial posto ao qual era das às mulheres a responsabilidade sobre a cozinha da família, sobre o livro de receitas, sobre a qualidade do alimento, doce ou salgado, que seria oferecido aos familiares e visitantes; tudo isso fazendo parte concreta da história aqui apresentada. O terceiro capítulo “A feminilidade no interior das casas e nos locais públicos”, “foi dividido em dois subtítulos: onde mostrou-se hábitos e costumes das mulheres na sociedade e no interior de seus lares; as restrições de gênero no século XIX; “questões sobre o gênero feminino no século XIX”, a convivência em família, a feminilidade e os desafios enfrentados por essas que também foram protagonistas de seu tempo. Em “Uma história de amor e seus enredos”, abordou-se o casamento da baronesa Amélia Harthey, sua relação com o esposo, barão de Três Serros, seus filhos, netos, amigos e a ligação com sua filha dona Sinhá; as atitudes e o modo de agir desses que hoje são considerados personagens históricos, visando perceber quais as influências que tais atitudes levaram ao ambiente social e doméstico no contexto em que a baronesa viveu. Foram descritas e analisadas as questões sobre a repercussão de sua influência na vida cultural, religiosa e social de Pelotas. Em sequência, temos o quarto capítulo: “A casa-Museu da Baronesa Amélia Harthey” e com ele os detalhes sobre a residência desta família, a qual foi transformada, com o passar do tempo em “Museu Municipal Parque da Baronesa”. Segundo o documento de doação do imóvel2 para a prefeitura, feito pela família Antunes Maciel, foi acordado que o solar seria transformado em um museu e seu entorno seria um parque aberto para todas as pessoas. Contextualiza-se aqui, a importância da conservação e da representação deste patrimônio cultural material e imaterial, para as gerações futuras. Finalizando, em “Museus, memória e a educação patrimonial no Museu Municipal Parque da Baronesa”, destaca-se a relação da comunidade com a instituição que abriga a história local e de toda uma geração, desta interação num sentido dialético, de construção de conhecimentos e vivências. No último capítulo, como produto deste trabalho foi elaborado um _____________________________________________________________________ 2. Cópia autenticada do Registro de Imóveis, de 19/03/1982, faz referência à Escritura Pública de Doação, lavrada em 03/07/1978 – este documento encontra-se arquivado com a documentação administrativa do Museu Municipal Parque da Baronesa..

(16) 16. Glossário de cento e noventa e nove palavras, extraídas das cartas trocadas entre a baronesa e sua filha, dona “Sinhá”, livreto este que será mais um instrumento de apoio para as ações educativas que se realizam no MMPB.. 2 A ORIGEM DE PELOTAS “Pelotas é de Pelotas; é filha do próprio esforço em meio às dores e as suas alegrias”. (OSÓRIO, Fernando, apud MAGALHÃES, 2011, p. 13). Para retornarmos à origem do município de Pelotas, é importante destacar eventos marcantes na história de Espanha e Portugal, os quais influenciaram muito as regiões colonizadas por ocasião das “descobertas”, isto é, da posse da terra pelos europeus. Tratado de Tordesilhas: acordo consolidado no ano de 1494, entre Espanha e Portugal, com o objetivo de resolver os conflitos de terras que haviam sito encontradas por estes dois países no final do século XV. Este acordo constituiu uma linha imaginária a 370 léguas a leste das Ilhas de Cabo Verde, sendo uma divisão de terras entre os dois países. Os espaços localizados a oeste desta linha ficaram para a Espanha, já a delimitação do leste para Portugal. Tratado de Lisboa, 1681 (Portugal e Espanha): A Espanha devolveu para Portugal a Colônia do Sacramento. Tratado de Utrecht, 1715 (Portugal e Espanha): a Colônia do Sacramento é reconhecida como território português. Os espanhóis querendo proteger o restante das terras espanholas na América fundaram Montevidéu, em 1724 e, os portugueses, para consolidarem sua presença na região sul, construíram o forte que deu início à cidade do Rio Grande, em 1737. É a partir da construção do forte Jesus, Maria e José que se dá a colonização do Rio Grande do Sul, com a vinda de casais açorianos. Tratado de Madri, 1750 (Portugal e Espanha): A Colônia do Sacramento passa a ser domínio de Espanha e Portugal e fica na posse dos Sete Povos das Missões (missões jesuítas fundadas por espanhóis, no atual estado do RS - em terras espanholas pelo Tratado de Tordesilhas). Este tratado é anulado pelo Acordo de El Pardo, em 1761, devido às Guerras Guaraníticas (os índios missioneiros insuflados pelos jesuítas espanhóis não aceitaram a presença dos portugueses e não aceitaram a mudança para a banda oriental do Rio Uruguai). Tratado de Santo Ildefonso, 1777 (Portugal e Espanha): A Colônia do Sacramento e os Sete Povos das Missões passam ao domínio espanhol, os portugueses se sentindo.

(17) 17. prejudicados não vão sair da região missioneira, além de estabelecer os chamados “campos neutrais” (cinturão deserto em torno do Rio da Prata). Isto se manteve por vários anos e só em 1801 com o Tratado de Badajós, um novo acordo entre as coroas portuguesa e espanhola, possibilitou uma outra divisão de território para suas colônias na América do Sul, a Espanha abre mão do território dos Sete Povos das Missões. A consolidação aconteceu na capital espanhola entre D. João V, de Portugal, e Fernando VI, da Espanha, em 1750. Cabe ressaltar que o tratado de Tordesilhas não foi respeitado entre as partes. No Brasil, com o Tratado de Santo Ildefonso ou Tratado dos Limites, assinado em 1777 entre os países em questão, a Espanha ficaria com a Colônia do Sacramento e a região dos Sete Povos das Missões, entretanto, devolveria para a Coroa Portuguesa as terras que havia ocupado nos atuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Assim, as discussões abertas pelo Tratado de Madri de 1750 foram resolvidas temporariamente. Na mesma época, habitantes da Colônia do Sacramento, fugindo da invasão espanhola em 1763, haviam ido morar na Vila de Rio Grande, distante algumas léguas deste local e assim, buscaram refúgio nas terras pertencentes à Thomáz Luiz Osório, dando início a povoação. Em 1758 têm-se as primeiras citações sobre o surgimento do município por meio de uma doação de terras do Conde de Bobadela, Gomes Freire de Andrade, ao Coronel Thomáz Luiz Osório. Era então um espaço localizado às margens da Lagoa dos Patos. Conforme escreve Flores (2013, p. 77) em seu livro sobre a história do Rio Grande do Sul, o primeiro charqueador a vir para o sul do Estado foi o senhor José Pinto Martins (17471827) que migrou de Portugal para Aracati, no Ceará, onde produzia carne-seca. No ano de 1777, abandonou o Ceará por causa da grande seca, estabelecendo-se na Vila de Rio Grande. Dois anos após o ocorrido, construiu uma charqueada na margem direita do Arroio Pelotas, sendo esta considerada a primeira Charqueada da região. Por ter uma localização privilegiada às margens do arroio e com métodos e conhecimentos adquiridos no Ceará no âmbito de sua visão de industrialista, Pinto Martins estabeleceu uma fábrica rudimentar, de caráter préindustrial, nos arredores da localidade de São Francisco de Paula. Em pouco tempo foi imitado por outros, de maneira que a salgação da carne, já praticada no território gaúcho como atividade econômica de subsistência, transformou-se, a partir daí, numa indústria poderosa, estimulando assim a criação de outras charqueadas e.

(18) 18. dando o início à exploração em larga escala da indústria saladeiril3 o que alavancou o crescimento da região. Pinto Martins possuía 34 escravos, sendo dez carneadores, quatro campeiros, dois salgadores, dois sebeiros, dois graxeiros, além de alfaiate, sapateiro, tafoneiro4 e hortelões5. Na charqueada havia uma casa de morada estruturada com tijolos e coberta de telhas, tendo depósito de charque, uma casa de graxeira, atafona6, senzala, mangueiras e contendo um terreno com varais para desidratar as mantas de carne. Quanto ao manejo do gado, ao chegar à charqueada o animal era conduzido até a mangueira onde ficava encerrado a espera do abate. Os couros eram esticados para facilitar a limpeza na beira do canal e depois para secagem ao sol. A carcaça era erguida por um guindaste e descarnada. A carne era salgada em um tanque de salmoura, ao lado de uma vala que conduzia o sangue e os dejetos até o arroio. As mantas de carne ficavam nos varais para secar ao ar livre. Ao final do processo, o produto era denominado de charque e ficava em pilhas tapadas de couro à espera de um comprador. Praticamente tudo do animal era aproveitado, desde o sebo, até os ossos, o pelo, etc. O horário de trabalho era diferenciado, iniciava à meia-noite e terminava ao meio-dia para evitar as horas mais quentes. De novembro a março, acontecia o abate, época em que o gado estava gordo e a temperatura era mais propícia para a exposição da carne ao sol. A agricultura recebeu um novo incentivo com a vinda dos açorianos 7 que tinham habilidade maior para a agricultura, porém, as famílias quando chegavam ao Sul enxergavam uma nova atividade se desenvolvendo e assim, abandonavam a agricultura para se dedicar a atividade charqueadora, que por sua vez, era menos onerosa e sem a dependência do clima. Existia também uma grande diferença entre as terras que o agricultor recebia com relação ao latifundiário.. _____________________________________________________________________ 3. Industria saladeiril refere-se à fabricação ou comércio do sal.. 4. Entende-se por tafoneiro aquela pessoa que opera um equipamento rústico chamado tafona; nela se coloca a mandioca ou milho para produção de farinha. Seu funcionamento é manual ou à base de força animal. Normalmente este equipamento é utilizado por pequenos agricultores, que fazem a moagem da mandioca ou do milho que é cultivado em sua propriedade. 5. Entende-se por hortelões aqueles que cuidam, tratam da horta.. 6. Atafona: engenho de moer grãos, manual ou movido por animais; moinho, azenha.. 7. Açorianos: imigrantes originários das Ilhas dos Açores, primeiros colonizadores da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul..

(19) 19. Em 07 de julho de 1812, com o desenvolvimento demográfico, Dom João VI, príncipe regente de Portugal, determinou a criação da freguesia de São Francisco de Paula - núcleo inicial da atual cidade de Pelotas, com a colaboração do padre Pedro Pereira de Mesquita; este território rio-grandense foi elevado à denominação de Freguesia de São Francisco de Paula. No ano de 1830, recebe o título de Vila. Já em 1835, o Presidente da Província, Antônio Rodrigues Fernandes Braga, outorgou à Vila o foro de cidade, com o nome de Pelotas. Este nome é dado em razão do desenvolvimento das charqueadas, já que as terras que margeavam o arroio tornam-se o principal acesso da passagem hidroviária da região. Todavia moradores das terras riograndenses usavam uma canoa de couro para atravessar os rios. Essa pequena embarcação era denominada, pelota8 (Figura 1), e por isso, o nome do município. Contudo, existe outra versão sobre essa nomenclatura. A outra hipótese afirma que o uso e o nome do barco têm origem marroquina e foi adaptada pelos habitantes destas terras. Conforme Magalhães (2011, p.15), independente da origem, o certo é que o arroio Pelotas recebeu o nome por causa das embarcações frequentemente utilizadas na sua travessia que tinham o nome de pelota.. Figura 1 – Pelota: embarcação utilizada para travessia de arroios ou para navegação em pequenos cursos d’agua. Fonte: http://ludmilasaharovsky.com/2012/04/rota-das-charqueadas.html. Nos descreve Klécio Santos em seu livro “Sete de Abril, O Teatro do Imperador” (2012, p.14) “que a região onde está assentada a cidade de Pelotas era polvilhada por uma _____________________________________________________________________ 8. Um bote feito de couro de boi e utilizado para fazer a travessia de arroios ou para navegação em pequenos cursos d’agua..

(20) 20. embarcação, semelhante a um bote, feito de couro cru, utilizada para a travessia de arroios e rios”. O uso das “pelotas” para transportar mercadorias e pessoas antecede as origens do povoado, cujas terras e campos eram conhecidos antes mesmo de sua formação como “das Pelotas”. Guiada por uma corda que poderia estar tracionada por seu condutor que seguia a nado fora dela, ou alguém na outra margem (Figura 2).. Figura 2 - Aquarela de Jean-Baptiste Debret, ilustra a travessia do arroio Pelotas, em bote improvisado, utilizando couro de boi. Fonte: http://pelotascultural.blogspot.com.br/2012/07/equipe-reconstituiu-aquarela-de-debret.html. O desenvolvimento significativo das charqueadas fez com que Pelotas fosse considerada a capital econômica da província e já no século XIX por este feito acabou se envolvendo em causas cívicas importantes para todo o país. A cidade apresentava serviços especializados e propiciava o emulsionamento de empresas de pequeno, médio e grande porte. No ano de 20139 esta cidade foi apontada como a segunda maior concentração de curtumes do Estado e uma das maiores capacidades curtidoras de couro e peles do Brasil. O escritor e naturalista francês August Saint-Hilaire, (2002, p.114) entre as anotações de suas experiências por esta região no ano de 1820, registra suas impressões sobre a riqueza da freguesia ao comentar que “não se vê em São Francisco de Paula um único casebre; tudo ___________________________________________________________________ __ 9. Fonte: riograndedos.blogspot.com/2013_03_01_archive.html.

(21) 21. aqui anuncia bem-estar”. Acrescenta ainda que os homens aos quais encontrou “estavam vestidos com asseio, e há várias lojas sortidas com mercadorias de toda a qualidade” (SAINTHILAIRE, 2002, p.114). O autor do mesmo modo comenta as perspectivas de crescimento da freguesia: “Os habitantes de São Francisco de Paula são operários e, principalmente, negociantes. Algumas famílias do Rio Grande mudaram-se para aqui, e acredita-se que, dentro de pouco tempo, esta aldeia será aumentada de um grande número de novos habitantes, atraídos pela posição favorável, pela beleza da região e riqueza dos que já se acham aqui estabelecidos” (SAINT-HILAIRE, p. 114).. Segundo Magalhães (1993, p.70), durante os anos de 1835 e 1845 é “que Pelotas vai dar o salto capaz de situá-la entre as cidades pequenas mais prósperas do Brasil”. Neste período recuperou sua economia e ajustou sua forma urbana, que era se consolidar no período seguinte, mantendo o apogeu entre 1860 e 1890. Vê-se já indicações de atividades intelectuais, como por exemplo, a instalação de uma Biblioteca Pública, publicação de livros e jornais. As famílias pelotenses enriqueciam com a indústria do charque, com destaque na pecuária e produção de leite, plantações de pêssegos e outros derivados da agricultura. Atividades estas que, até as primeiras décadas do século XX, eram sua principal fonte econômica. Assim, o povoado manteve-se à frente da cidade de Porto Alegre em importância cultural e na sofisticação de sua elite Foi neste povoado onde mais tarde nasceria a cidade de Pelotas, conforme a planta projetada em 1815 (Figura 3), por Maurício Inácio da Silveira, em formato de uma espécie de quadro, em quase perfeito xadrez, o qual esquema tornou-se importante, porque foi o núcleo orientador das futuras expansões da vila..

(22) 22. Figura 3 – Direita: Planta da Freguesia de São Francisco de Paula, 1815 / Esquerda: Planta da Cidade de Pelotas, 1835. Fonte: Acervo do Núcleo de estudos de Arquitetura Brasileira (NEAB) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAURB) - Universidade Federal de Pelotas (UFPel).. As plantas de 1815 e 1835 tornam-se importantes para o entendimento da transformação da cidade, onde percebe-se que as áreas em torno da igreja serviram de organização espacial para as construções futuras. Dessa forma Pelotas foi se projetando para o futuro, com a grande relevância do período do charque no século XIX, até as primeiras décadas do século XX, propiciando investimentos em diversos setores, inclusive o da construção civil. Conforme Mário Osório Magalhães: “No espaço urbano é que a vantagem claramente se manifesta. A classe dos charqueadores, enriquecida desde o início do século com a repetição dos intervalos de lazer que lhe são proporcionados pela longa entressafra das charqueadas, vai aos poucos transferindo residência e família para certa distância dos estabelecimentos industriais – de resto, nada aromáticos e nem consensualmente salutares -, construindo sobrados de arquitetura europeia e ajudando a edificar uma cidade bem traçada, de ruas largas e retas, e projetada com uma espaçosa visão de futuro”. (MAGALHÃES, 1993, p. 95)..

(23) 23. Pelotas foi também chamada de “Princesa do Sul”10 por ser considerada a cidade mais importante da província. Cresceu e se desenvolveu exercendo grande influência econômica, cultural e política em todo o Rio Grande do Sul. Desta forma, charqueadores e estancieiros foram contemplados com o acúmulo de fortunas, bem como prestígio social e político. Dado o momento, as famílias mais favorecidas valeram-se do cenário de prestígio e riqueza e enviaram seus filhos à Europa, principalmente à França, para que eles realizassem seus estudos nas melhores instituições de ensino europeias. Durante o período acadêmico os filhos dos charqueadores experimentaram contato com as boas maneiras, as artes, a literatura, a música clássica, entre outros. Na cidade também habitaram nove barões, dois viscondes e um conde, o que colaborou para denominar a sua sociedade como a Aristocracia do Charque, ou, ainda, como os Barões da Carne Seca. Princesa do Sul, de berço privilegiado, desde o cuidado no seu traçado, até seus mínimos detalhes arquitetônicos, ricamente trabalhados em moldes europeus.. 2.1 PELOTAS, O CONTEXTO HISTÓRICO E A INFLUÊNCIA BARONAL. Pelotas também se destacou no cenário dos pampas com a participação de vários líderes intelectuais e políticos na Revolução Farroupilha, dos quais alguns receberam títulos de nobreza. Nos anos posteriores à revolução muitos pelotenses e alguns charqueadores receberam títulos nobiliárquicos11. Guimarães escreve no Jornal Correio do Povo que nos séculos XVIII e XIX o charque originou fortunas às margens do arroio Pelotas. Essa riqueza fez surgir uma nobreza criada em meio à carne e ao sal. Para justificar seus títulos, os barões das charqueadas ergueram casarões e palacetes que alteraram a paisagem do município e, hoje, há mais de um século, se transformaram em um precioso patrimônio, capaz de atrair investimentos e turistas. _____________________________________________________________________ 10 11. Fonte: pelotas.com.br/cidade_atracoes/pelotas_atracoes_princesa.htm. Títulos nobiliárquicos ou títulos de nobreza foram criados com o intuito de estabelecer uma relação de vassalagem entre o titular e o monarca, sendo alguns deles hereditários. Depois do século XV foram usados como forma de agraciar membros da nobreza, por um conjunto de atos prestados à casa real, ao monarca ou ao país, sem que lhe estivesse associada qualquer função pública ou jurisdição ou soberania sobre um território..

(24) 24. Uma pesquisa realizada recentemente na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Pelotas (Faurb/UFPel) mapeou a herança deixada pelos 15 barões da cidade e concluiu: a presença dos nobres do charque é mais viva do que se pensa na Pelotas do século 21. A Rua Félix da Cunha, antiga Rua do Comércio, é apontada como o endereço preferencial da nobreza pelotense; ali estavam estabelecidos quatro dos 11 prédios pertencentes a barões analisados na pesquisa. Um terço das residências comportavam atividades comerciais e foram erguidas - não por coincidência, na Rua do Comércio, no centro da cidade. Ao considerar que apenas o Barão da Conceição e a filha do Barão de Jaguari não dirigiam charqueadas e possuíam comércio, esse dado fornece indícios de que alguns dos charqueadores pelotenses traziam artigos de sua produção para vender na área urbana além do gado. A pesquisa provou que a antiga Rua do Comércio abrigava não só os negócios, mas também as melhores residências. Confirma também a professora Ester Gutierrez, autora do livro: “Barro e Sangue: Mão-deObra, Arquitetura e Urbanismo em Pelotas”. Devido ao seu traçado, Pelotas sempre foi uma cidade de lotes estreitos e compridos, o que levou os barões a buscarem, em sua maioria, terrenos de esquina para erguerem suas imponentes moradias. Isso fica claro na constatação de que 82% dos prédios analisados no trabalho foram construídos em lotes deste tipo. Outro dado apurado é a preferência dos aristocratas pelos sobrados - que representam 37% do total dos imóveis analisados - mesmo diante das dificuldades para construí-los. Mas houve quem foi além. O Barão da Conceição, por exemplo, construiu na rua São Miguel (hoje 15 de novembro) um palacete de quatro pavimentos, sendo que o último era um mirante do qual podia vislumbrar toda cidade. O gosto pelas modas do Velho Mundo fez com que os “senhores do charque” investissem pesado na ornamentação de suas casas, pois 10 dos 11 prédios analisados no estudo possuem telhado escondido por platibandas12, vazadas por balaústres13. A ornamentação era completada com compoteiras, pinhas e estátuas, em sua maioria de louça, distribuídas pelas fachadas dos imóveis.. _____________________________________________________________________ 12. Entende-se por platibanda uma faixa horizontal (muro ou grade) que emoldura a parte superior de um edifício e tem a função de esconder o telhado. É utilizado em diversos tipos de construção, como casas e igrejas, tornouse um ornamento característico durante o estilo gótico. 13 Balaústres são elementos de ornamentação muito usados na arquitetura que têm como base uma tendência estética, seja ela, por exemplo, romana, francesa, grega; sua forma eclética pode ser em pilastra abaulada, em estilo ou estampa grega pan-helênico, jônico com entalhes romanos ou uma forma contemporânea com um toque gótico..

(25) 25. O olhar mais detalhado sobre as residências deu origem a um precioso conjunto de informações que ajuda a compreender o modo de vida e os gostos da elite pelotense do século XIX. Podemos citar alguns nomes de homens ilustres desta época, que por seus feitos em prol da cidade e dos cidadãos pelotenses receberam os títulos de barões. Segundo o Jornal Correio do Povo14, os cidadãos que receberam estes títulos de barões foram: -Domingos de Castro Antiqueira - Barão de Jaguari Foi charqueador e o primeiro a receber um título nobiliárquico na cidade, em 1829, depois de financiar campanhas militares do Império. Sua casa ainda existe na esquina das ruas Félix da Cunha e 7 de setembro. -João Francisco Vieira Braga - Barão de Piratini Charqueador recebeu o título por financiar campanhas militares imperiais. Não há registros de sua residência urbana. -João Simões Lopes- Barão da Graça, foi charqueador recebeu o título por seu apoio político ao Império na Revolução Farroupilha. Em 1876 foi “promovido” a visconde. Foi um dos poucos barões que estudou e se formou em Humanidades no Rio de Janeiro. Sua casa era hoje onde funciona a Casa da Criança São Francisco de Paula. -João Antônio Moreira - Barão de Butuí, charqueador, um dos homens mais ricos de Pelotas. Recebeu o título por sua benemerência social. Foi provedor da Santa Casa. Morava na Casa 2 da esquina da praça Coronel Pedro Osório entre Félix da Cunha e Lobo da Costa. -Francisco Antunes Maciel - Barão de Cacequi, charqueador recebeu o título por “serviços prestados à Nação”. Foi deputado, ministro e conselheiro do Império. Era irmão do Barão de São Luís e genro do Barão de Butuí. Morava na casa 8 da praça Coronel Pedro Osório. -Francisco Gomes da Costa - Barão de Arroio Grande charqueador ganhou o título ao libertar seus escravos quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea. Foi deputado provincial. Sua casa ficava na esquina das ruas Andrade Neves e Dom Pedro II e já foi demolida. -Felisberto Inácio da Cunha - Barão de Corrientes foi charqueador recebeu o título pela libertação antecipada dos escravos. Não há registros de sua residência urbana. -Leopoldo Antunes Maciel - Barão de São Luís, charqueador recebeu o título por conceder alforria antecipada aos seus escravos. Era irmão do Barão de Cacequi. Sua casa era a Casa 6 da praça Coronel Pedro Osório.. _____________________________________________________________________ Autor. Álvaro Guimarães, Cidade: Parte da herança dos barões ainda vive. Jornal Correio do Povo – Pelotas /RS, p. 17, (09/12/2007). 14.

(26) 26. -Annibal Antunes Maciel - Barão de Três Serros foi pecuarista e bacharel em ciências jurídicas, sociais e direito e Comendador da Imperial Ordem de Cristo. Recebeu o título de Barão de Três Serros do Imperador Dom Pedro II, por ter alforriado seus escravos em 1884, quatro anos antes de ser decretada a Lei Áurea. Era primo dos barões de Cacequi e São Luís. Sua residência, após uma reforma, se transformou em um museu, Museu Municipal Parque da Baronesa. -Antônio de Azevedo Machado- Barão Azevedo Machado foi charqueador, sua casa era localizada na esquina das ruas Gonçalves Chaves e 7 de setembro e se estendia até a atual rua Almirante Barroso. Era a única residência em estilo colonial. -Joaquim da Silva Tavares - Barão de Santa Tecla, charqueador ganhou o título ao apoiar financeiramente a Guerra do Paraguai. Sua casa, hoje demolida, ficava localizada na esquina das ruas 15 de novembro e Dr. Cassiano, hoje é um estacionamento. -Joaquim José de Assumpção - Barão do Jarau. Foi charqueador, trabalhou como provedor da Santa Casa. Sua casa ainda existe e localiza-se na esquina das ruas 15 de novembro e General Telles. -Miguel Rodrigues Barcellos - Barão de Itapitocaí, era médico ganhou o título por sua humanidade para com os carentes e chegou a ser conhecido como “pai dos pobres”. Morava na Rua Miguel Barcellos, onde hoje funciona o Colégio Estadual Monsenhor Queiroz. -Manuel Alves da Conceição - Barão da Conceição, era comerciante, empresário e banqueiro, nascido em Portugal, eram o único não brasileiro entre os nobres pelotenses. Sua casa era o prédio de quatro andares na esquina das ruas 15 de novembro e Voluntários da Pátria. -José Júlio de Albuquerque Barros- Barão do Sobral. Sobre o barão do qual existem menos informações. Sabe-se apenas que não vivia da indústria saladeiril. Não há registros de sua residência urbana.. 2.2 A SOCIEDADE PELOTENSE E A FAMÍLIA ANTUNES MACIEL. 2.2.1 SOCIEDADE PELOTENSE. Desde o século XIX a cidade de Pelotas passou a desenvolver e ter laços estreitos com a literatura, a música, o teatro, as artes plásticas e a dança. Já em 1827 o olhar do viajante.

(27) 27. alemão Carl Seidler havia registrado que, na Freguesia de São Francisco de Paula (Pelotas) as mulheres, em sua maioria, “dançavam muito bem” (SEIDLER, 1976, p.94). Sendo uma metrópole bastante abastada pelo enriquecimento de seus moradores com a produção do charque, a cultura e o bem-estar caminhavam juntos. Nos casarões era muito apreciado ser oferecido, pelas senhoras a suas visitas, o famoso chá das cinco, tradição esta oriunda dos ingleses e que chegou na região com os franceses. Nos belos salões dos casarões eram comuns os saraus e bailes, lugar perfeito para um começo de namoro, e até mesmo um futuro casamentos. Estas locais abrigavam moças muito recatadas, que tinham a oportunidade de mostrar seus encantos e suas habilidades, no piano, ou lendo belos poemas ou ainda cantando. Os moços, da mesma forma, recitavam seus poemas e cantavam belas canções. Segundo nos coloca Léon (2014, p.103) “as artes não só entre as baronesas, como mulheres em geral, dedicadas ao cultivo da prática e instrução artísticas: a música, a pintura e a literatura. Poucos registros relatam a história sobre estas criaturas que, apesar do título de nobreza ficaram na obscuridade no que diz respeito ao seu envolvimento na comunidade artística”.. As famílias mais abastadas e cultas procuravam se especializar em pintura, recebendo aulas com grandes pintores. Dois grandes artistas estavam no gosto dos pelotenses: Guilherme Litram (espanhol) e Frederico Trebbi (italiano). Na obra “Uma Corte nos Pampas”, escrita por León (2014), sabemos que a maioria das baronesas recebiam aula de pintura, pois no legado de bens deixados pela nobreza encontrou-se telas com um valor respeitado em relação à perfeição, beleza e bom gosto. No Museu da Baronesa (Pelotas/RS), encontram-se pinturas feitas pela dona Sinhá nos espelhos dos guarda-roupas, e quadros como o que ela pintou em homenagem a seus pais (LEÓN 2014, p 103). O gosto pela música também era forte entre as mulheres, muitas tocavam piano e cantavam. No âmbito das artes, Santos (2012, p16) explica que: “o prédio do Teatro Sete de Abril foi inaugurado no dia 2 de dezembro de 1833, dia do aniversário de Dom Pedro II, ficando assim duplamente ligado à figura do Imperador com a apresentação de um elogio dramático, gênero destinado a solenizar datas às solenidades da monarquia”. A construção do mesmo sempre foi motivo de júbilo, orgulho que atravessou décadas. A arte dramática agora tinha um lugar especial que serviria aos deleites de uma elite e da nobreza. O começo da construção se.

(28) 28. deu em 1831, quando ocorriam espetáculos em um antigo galpão improvisado à Rua Anchieta esquina Major Cícero. No Almanaque do Bicentenário de Pelotas (2012, p. 27) a dança é descrita como muito apreciada pelas moçoilas daquela época, dentre os seus ensinamentos. Se no século XIX a dança surge sobretudo em ambientes privados, na segunda década do século XX o panorama é modificado. A professora Baby Nunes cria uma escola de dança e impulsiona a arte do ballet na cidade, tendo assim um papel fundamental na dança clássica em Pelotas, com seguidoras dessa arte, como: Dicléa de Souza e Antonia Caringi. O carnaval era uma festa onde a elite e as pessoas de mais posses usufruíam com muita alegria, pois era um momento onde todos da família podiam sair para os clubes e aproveitarem para se divertir nos salões todos enfeitados para esta ocasião. Existiam também os desfiles de rua, onde o luxo dos carros alegóricos e as fantasias exibidas eram aguardadas com expectativa da grande massa popular. Este tempo também foi marcado por grande disputa entre os clubes tradicionais da cidade, cada qual querendo um espaço maior para atuar e conseguir mais associados para abrilhantar esta festa. A família Antunes Maciel, com suas meninas, sempre se fazia presente nestas festas como no caso das irmãs Zilda e Déa Maciel. Durante todo o ano havia festas nos clubes e a elite sempre estava presente como podemos constatar com a nota do jornal Pelotense “Diário Popular”, comemorativo aos 85 anos do Clube Diamantinos, o qual tinha tradição de fazer concursos para escolher rainhas: “a coroação de suas rainhas eram (sic) verdadeiros festivais de arte, apresentados no Sete de Abril e mais tarde no Teatro Guarany”.15 Uma brilhante representante desta sociedade regada a muitas festas foi a senhorita Zilda Maciel, neta da baronesa que passou sua juventude aproveitando os bailes que os clubes proporcionavam, também participando de diferentes concursos de beleza em Pelotas, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Zilda foi coroada no final de janeiro de 1917 no Teatro Sete de Abril e a fama que conquistou com o título de rainha do Clube Diamantinos, lhe rendeu várias reportagens nos jornais locais e estaduais. Tais concursos eram bastante frequentes no Brasil. _____________________________________________________________________ 15. A festa acontecia nos teatros, pois só no ano de 1941 o Clube adquiriu sede própria na rua Gonçalves Chaves onde permanece até hoje..

(29) 29. nas duas primeiras décadas do século XX.16 Em 1928, sua irmã mais nova Déa Maciel também recebe o título de rainha do Clube Diamantinos.. 2.2.2 A FAMÍLIA ANTUNES MACIEL. A família dos Barões de Três Serros formou-se da união do jovem Annibal Antunes Maciel com a carioca Amélia Fortunata Hartley de Brito; ele, um rapaz de 26 anos, filho do Coronel do Império e rico fazendeiro Annibal Antunes Maciel; ela, uma menina de pouco mais de 15 anos, moradora na cidade do Rio de Janeiro, neta de banqueiro inglês17. Após o casamento de Annibal e Amélia, no ano de 1864, o casal passou a residir na cidade de Pelotas, onde morava a família de Annibal. O casal teve 14 filhos, mas somente seis chegaram à idade adulta. O terreno onde foi construída a casa para servir de moradia ao jovem casal foi comprado em 186318, pelo pai de Annibal, o já referido Coronel do Império e rico fazendeiro e dado de presente de casamento ao seu filho. O jovem Annibal nesta época era pecuarista e Bacharel em Ciências Exatas. O mesmo, mais tarde, viria a se tornar Barão, recebendo este título do Imperador Dom Pedro II por ter alforriado seus escravos em 1884, quatro anos antes de ser decretada a Lei Áurea. Neste período, os pelotenses preocupavam-se em manter a arquitetura dos edifícios públicos e residências, com a arquitetura clássica, através de adornos excessivos e introdução de elementos da Antiguidade. Não foi diferente com a chácara como era chamada na época, construída com elementos na forma de estátuas greco-romanas colocadas nas platibandas com características românticas, apresentando assim uma das mais belas arquiteturas do século XIX, em estilo eclético. No seu interior amplas salas iluminadas com luz direta, algumas decoradas com azulejos de origem holandesa, requinte e bom gosto revelavam a forma de vida de uma elite que desenvolveu costumes muito próprios. Os móveis, como a mesa Boulle. _____________________________________________________________________ O Diário Popular de 6 de abril de 1991 (material de apoio MMPB), ainda tem uma matéria exclusiva com “A eterna Rainha” Zilda Antunes Maciel, onde ela aos 91 anos rememora acontecimentos marcantes do seu reinado. O mesmo jornal traz uma matéria sobre sua irmã Déa, fazendo alusão ao seu reinado no ano de 1928. 16. 17. Essas informações se encontram em CARVALHO, Mario Teixeira de. Nobiliário Sul-Riograndense. 2ª ed. Porto Alegre: Renascença, 2011; e SANTOS, I. F. de Assumpção. Uma linhagem Sul Rio-grandense: os “Antunes Maciel”. 18 Escritura de compra da chácara pelo Coronel Annibal Antunes Maciel, em 10/07/1863. Fonte: acervo MMPB nº 1337..

(30) 30. estilo Art Nouveau, vasos capo di Monte e Amorines, uma namoradeira19, os mobiliários dos quartos com espelhos bisoté, entre outros objetos, tudo vindo da França revelando o bom gosto da família. Contém ainda um segundo piso e logo acima um torreão (LEÓN, 2002, p.90) Ainda sobre a chácara, Schwanz (2011, p.61) comenta que Annibal mandou construir um jardim na volta da casa, totalmente feito para que dona Amélia não sentisse tanto a falta da bela cidade onde havia nascido e de sua vida social na corte:. Neste local foram construídos, uma gruta com pedras de quartzo incrustadas, um pequeno castelinho para criação de coelhos, um chafariz, um jardim inglês e uma grande extensão de verde, com belas árvores. Foram importadas várias plantas nativas da Europa tornando assim está chácara em uma belíssima propriedade.. Anos depois do casamento teve início a Guerra do Paraguai, na qual Annibal participou como secretário do Conde de Porto Alegre. Ele partiu de Pelotas com um destacamento de mais de cem homens que ficaram conhecidos como os "Voluntários da Pátria". Faleceu com apenas quarenta e oito anos de idade, em 1887, alguns anos após a guerra, provavelmente devido a um ferimento que sofreu em combate, que o prejudicou gravemente, sem deixá-lo totalmente restabelecido. Amélia ficou viúva com trinta e oito anos. Tempos depois, a Baronesa decide voltar a morar no Rio de Janeiro em 1887, deixando sua filha mais velha Amélia Aníbal Hartley Maciel, chamada Dona Sinhá, casada com seu primo Lourival Antunes Maciel, morando na residência e cuidando de todos os seus bens. A Baronesa de Três Serros faleceu na Cidade do Rio de Janeiro no dia 14 de janeiro de 1919. A última pessoa da família a frequentar a chácara foi sua filha mais nova, Déa Antunes Maciel, que vinha seguidamente passar dias no solar, na década de 1970. Com o passar dos anos e idade avançada, não pode mais retornar a Pelotas e ficou somente na cidade do Rio de Janeiro, aonde veio a falecer no ano de 197920. O belo solar guarda lembranças dessa família e o museu que ali se formou intentam contar um pouco da história política, econômica e social da região, homenageando a figura da. _____________________________________________________________________ 19. Conjunto acoplado de três lugares, segundo a tradição um móvel onde sentada o casal de namorados e uma pessoa de confiança para cuidar o namoro. 20 Fonte: todas as informações foram obtidas nos documentos históricos administrativos do acervo do Museu Municipal Parque da Baronesa..

(31) 31. mulher integrada à época, mas também avançada, nas ideias e proposições, vendo o mundo além do seu próprio tempo. Muitos outros casarões restaram na cidade de Pelotas, que também podem contar um pouco de tantas histórias de vida, individual ou coletivamente. Tendo sido essa pesquisa desenvolvida no âmbito de um Mestrado em Patrimônio Cultural, considerou-se importante citá-los, com breve descrição histórica, para suscitar curiosidade e interesse no leitor de tal forma que o tema possa despertá-lo para as atitudes de conservação e preservação de patrimônios locais rio-grandenses, a exemplo do que se fez com o atual Museu da Baronesa.. 2.3. PRÉDIOS. HISTÓRICOS. TOMBADOS. EM. PELOTAS:. REGISTROS. PATRIMONIAIS. A cada dia o crescimento e o desenvolvimento da cidade tornavam-se maiores e novos e magníficos prédios foram construídos. A cultura e o conhecimento passam então a fazer parte do cotidiano das pessoas, nascendo assim um novo sentimento de pertencimento e com ele um novo olhar das pessoas e do próprio poder público. É criado o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – vinculado ao Ministério da Cultura, em 30 de novembro de 1937, pelo Decreto-Lei nº 25. Durante sua existência, vem realizando um trabalho permanente e dedicado de fiscalização, proteção, identificação, restauração e revitalização dos monumentos, sítios e bens móveis do país. Este está submetido a duas leis, Decreto-Lei Federal dos dias 25 e 30 de novembro de 1937, que "organiza a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional", e a Lei Estadual nº 1211, de 16 de setembro de 1953, e assim os prédios passam a ser considerados Patrimônio Cultural Material e as histórias e o modo de fazer que seja passada de geração em geração, consideradas Patrimônio Cultural Imaterial. Alguns prédios já foram tombados21 na cidade de Pelotas; entre os quais estão: Caixa d'água, Monumento Obelisco Republicano, os prédios números 2, 6 e 8 (que formam um conjunto arquitetônico) e o Teatro Sete de Abril.. _____________________________________________________________________ 21. O tombamento é o instrumento de reconhecimento e proteção do patrimônio nacional mais tradicional e foi instituído pelo Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937. Sob a tutela do Iphan, os bens tombados se subdividem em bens móveis e imóveis, sendo que entre esses estão incluídos equipamentos urbanos e de infraestrutura, paisagens naturais, ruínas, jardins e parques históricos, terreiros e sítios arqueológicos. A proteção.

(32) 32. Estes quatro bens foram tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)22, do Ministério da Cultura. Os tombamentos estão registrados no documento que consiste na versão atualizada da publicação “Bens móveis e Imóveis Inscritos nos Livros do Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: 1938-2009”, veiculada no Portal do IPHAN até o início do ano de 2013. A estrutura de apresentação dos bens culturais distribuídos pelo Brasil manteve-se: a partir dos diferentes Estados da Federação, elencados alfabeticamente, existem as indicações dos municípios onde se localizam os bens culturais protegidos pelo IPHAN através do tombamento23. A partir de cada bem tombado, há uma breve sistematização de informações constantes nos Livros Tombo. Em Pelotas temos duas casas que foram tombadas em nível estadual que são a Casa da Banha e o Palacete Payssandu. Seguem, abaixo, detalhes de algumas destas construções tombadas.. é uma das ações mais importantes referentes ao patrimônio de natureza material. Proteger um bem cultural significa impedir que ele desapareça, mantendo-o preservado para as gerações futuras. 22 O IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, é uma autarquia federal, criada na década de 30 do séc. XX (13 de janeiro de 1937) com o intuito de proteger “...os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais. V – Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. ” 23 O tombo é um instrumento de proteção legal do patrimônio cultural aplicado pelo poder público, em nível Federal, Estadual ou Municipal. Os bens tombados, ao contrário dos inventariados, deverão ser preservados integralmente, não podendo ser demolidos e nem descaracterizados..

(33) 33. 2.3.1 Caixa D’água. Figura 4 - Caixa D’água localizada na Praça Piratinino de Almeida. Fonte: da autora (2016). Em 1871, um decreto imperial autorizou a implantação da Companhia Hydráulica Pelotense em Pelotas, sob a direção de Hygino Corrêa Durão. A primeira cláusula do contrato da Companhia previa a colocação de um reservatório de água no centro da cidade. Assim, a caixa d’água foi comprada da empresa Hanna Donald & Wilson, Makers, Abbey Works, localizada na cidade de Paisley, Escócia, no ano de 1875. O reservatório veio de navio em peças para ser montado, juntamente com o engenheiro responsável por coordenar os trabalhos de montagem. Para conduzir o material, a Companhia Ferro Carril estendeu trilhos até a praça. Em maio de 1875, começou a ser erguido no Largo da Caridade, hoje Praça Piratinino de Almeida, e as obras foram concluídas em setembro do mesmo ano. O Reservatório R1 é um monumento de ferro construído com a técnica da préfabricação em peças. Sua planta é em coroa circular, de forma cilíndrica, com a caixa elevada sobre quarenta e cinco elegantes colunas. Tem capacidade para 1500 m³ de água. No centro superior destaca-se uma cúpula, rodeada de colunas, que se destinava ao passeio público da época, com acesso através de uma escada helicoidal, sob vigilância de um guarda. A caixa d’água é ornada com consoles, grades, molduras e arcos em ferro fundido.. Localização: Praça Piratinino de Almeida, antigo Largo da Caridade. Nome atribuído - Caixa D’ água (Figura 4).

(34) 34. Nº Processo 1064-T-82 Livro Belas Artes Nº inscr. 561; Vol. 2; F. 007; Data: 19/07/1984. 2.3.2 Monumento Republicano – Obelisco. Figura 5 – Monumento Republicano: Obelisco. Fonte: da autora (2016). Localização: Av. Domingos de Almeida Construção: 1885 Nº Processo 0531-T-55 Livro Histórico Nº inscr. 313; Vol. 1; F. 072; Data: 14/12/1955..

(35) 35. 2.3.3. Os prédios (casas) números 2, 6 e 8 (conjunto arquitetônico). Figura 6 – Casarão 02: prédio do Casarão Barão de Butuí. Fonte: da autora (2016). O prédio do Casarão Barão de Butuí, também, conhecido como Casarão 2 (Figura 6), foi construído no estilo colonial, antes de 1830. Seu primeiro proprietário foi o charqueador José Vieira Vianna que vendeu a propriedade para o charqueador José Antônio Moreira, então Barão de Butuí. Em 1880, o casarão sofreu uma reforma, possivelmente, realizada pelo arquiteto italiano José Isella, que inseriu uma platibanda vazada com cento e quarenta e um balaústres, pedestais com esculturas e vasos, um frontão central e balcões nas janelas superiores. Estas modificações no prédio alteraram o seu estilo colonial para o estilo eclético. No ano de 1970, o prédio foi vendido para a Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil (APLUB) e as esculturas e vasos em faiança da platibanda foram removidos pela antiga proprietária, Senhora Inah Bordagorry de Assumpsão. Em 1977, o casarão foi tombado pela antiga Secretária do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional — SPHAN e neste momento a Prefeitura Municipal entra com um processo de desapropriação do prédio. Neste período, a partir da Lei Municipal nº 2365/77, foi criada a Fundação Museu de Pelotas que assumiu a responsabilidade de restaurar o prédio. Atualmente a Secretaria de Cultura (Secult), encontra-se neste local..

(36) 36. Figura 7 - Casarão 06. Fonte: da autora (2016). A construção do casarão 6 (Figura 7), foi em 1830, em estilo colonial, de telhado com beiral, foi erguido para o charqueador José Vieira Viana. Não possui porão nem recuos e suas aberturas são pequenas. Sofreu uma substancial modificação por volta de 1880, quando foi adquirido pelo também charqueador José Antônio Moreira (Barão de Butuí), que o presenteou a seu filho Ângelo. O casarão foi construído em 1879, por José Izella Merotte. Seu primeiro morador foi o Barão de São Luís, Sr. Leopoldo Antunes Maciel, sendo mais tarde passado para uma de suas descendentes, D. Othília Maciel, casada com o Sr. José Júlio Albuquerque Barros, que foi prefeito de Pelotas. É a casa central do maior conjunto arquitetônico neorrenascentista preservado na América Latina. Construção no limite do terreno, situada no centro do quarteirão. Simétrica tanto na planta quanto em fachada.. Figura 8 - Casarão 08. Fonte: da autora (2016).

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