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Uma história de amor e seus enredos

A história de amor dos jovens Amélia (Figura 13) e Annibal (Figura 14) teve início em um baile na corte; por serem de famílias abastadas lhes era permitido que frequentassem a corte do Império do Brasil.

Amélia Fortunata Hartley, era filha do comendador João Diogo Hartley e de Isabel Fortunata, neta paterna de John James Hartley e de Maria Carolina Hartley, fundadores do

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London and Brazilian Bank31, no ano de 1862, na cidade do Rio de Janeiro. Annibal Antunes Maciel era filho de proprietários de terras no Brasil, no Uruguai e na Argentina e com várias fazendas de gado que forneciam para os charqueadores da região. Era também Bacharel em Ciências Físicas e Matemática. O mesmo, mais tarde, viria a se tornar Barão de Três Serros, recebendo este título do Imperador Dom Pedro II por ter alforriado seus escravos em 1884, quatro anos antes de ser decretada a Lei Áurea.

Figura 13 – Retrato da Baronesa de Três Serros Amélia Hartley Antunes Maciel. Fonte: Acervo MMPB nº 1901

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31 Essas informações se encontram em CARVALHO, Mario Teixeira de. Nobiliário Sul-Riograndense. 2ª ed. Porto Alegre: Renascença, 2011; e SANTOS, I. F. de Assumpção. Uma linhagem Sul Rio-grandense: os “Antunes Maciel”.

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Figura 15 – Barão de Três Serros Annibal Antunes Maciel. Fonte Acervo MMBP nº 1821.

O casamento naquela época era acertado entre as famílias, procurando atender aos interesses das mesmas, principalmente pelo fator econômico, o direto da mulher de casar por amor só aos poucos foi sendo conquistado.

A união do jovem casal Annibal e Amélia teve um início bem diferente - apesar da sua origem abastada, Annibal não foi bem aceito pela família da moça, talvez porque desconhecessem os seus ascendentes. Mesmo assim, o amor daqueles jovens venceu as resistências familiares e, com alguma resistência familiar, Amélia e Annibal se casam.

Segundo a certidão32 de casamento do casal, a cerimônia foi realizada no dia 11 de agosto de 1864, na antiga Freguesia de Santo Antônio, atual cidade de Teresópolis. Amélia tinha quinze anos e Annibal vinte e seis. Após o casamento o casal passou a residir no Rio de Janeiro, onde moraram em uma das casas do próprio Annibal. A família Maciel, como a maioria das ricas famílias rio-grandenses, tinha propriedades e imóveis no Rio de Janeiro. No ano de 1864 o jovem casal deixa a cidade grande e vai residir na longínqua cidade de Pelotas no Sul do Rio Grande do Sul, onde Annibal tinha sua família.

Seguindo uma tradição de gênero no Brasil do século XIX, o casal teve uma família numerosa com quatorze filhos, dos quais seis morreram na infância. Dentre estes filhos e

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netos, podemos destacar sua filha mais velha Amélia Annibal Hartley Antunes Maciel, nascida em janeiro de 1869, que era chamada afetuosamente de “Dona Sinhá”, por sua bondade e filantropia. Dona Sinhá casou com seu primo Lourival e tiveram treze filhos, mas somente seis chegaram à idade adulta. Ela faleceu no ano 1966 aos noventa e sete anos.

Entre as netas da baronesa, podemos destacar Zilda Antunes Maciel, nascida em 1889, falecida em 1992, aos cento e três anos, em Pelotas. Foi uma das primeiras mulheres do Rio Grande do Sul a voar33, em junho de 1918. Podemos citar a outra neta que se chamava Déa Antunes Maciel, nascida em 1909, falecida em 1979, com setenta anos na cidade do Rio de Janeiro. As duas eram filhas da dona Sinhá.

Déa, assim como sua irmã Zilda, também participava de vários concursos de beleza, sendo inclusive eleita, em 1928, Rainha do Clube Diamantinos. Em relato de Zilda ao Diário Popular encontramos: “No momento da coroação da rainhazinha, o Diamantinos conservava o mesmo savoir-faire de antigamente, e à noite, no momento da sua coroação no Teatro Guarany, a orquestra foi formada por mais de cinquenta integrantes, os melhores de todo o Estado. Nesse dia a chácara amanheceu repleta de flores para a rainhazinha”.34

A Baronesa de Três Serros foi casada por 23 anos (1864 a 1887), ficando viúva aos trinta e oito anos, em virtude da Guerra do Paraguai, na qual Annibal participou como secretário do Conde de Porto Alegre. Ele partira de Pelotas com um destacamento de mais de cem homens que ficaram conhecidos como os "Voluntários da Pátria". Annibal foi ferido em combate e nunca se restabeleceu totalmente e aos quarenta e oito anos de idade veio a falecer, no ano de 1887. A partir de então, a Baronesa passa a ser tutora de seus oito filhos, com idades entre dezoito anos e um ano e dez meses. Para manter seus bens foi orientada, no testamento deixado por seu falecido marido, que não contraísse novo matrimônio. Continuou a morar e a cuidar da casa, da chácara e do espaço doméstico.

Nesta época em que o barão estava na guerra, ele escreveu muito saudoso à sua esposa uma carta a qual encontra-se no acervo do MMPB, as outras cartas citadas na mesma, de números 6ª, 7ª e 8ª não se tem conhecimento que a Baronesa as tenha recebido, pois as mesmas não se encontram na instituição.

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33 No MMPB encontra-se uma fotografia que de acordo com a descrição no verso da mesma, Zilda foi a primeira mulher a voar no Rio Grande do Sul. (Não existe maiores informações na fotografia).

34 Diário Popular de 6 de abril de 1991. Entrevista com Zilda Antunes Maciel em edição comemorativa aos oitenta e cinco anos do Clube Diamantinos.

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Cidade de Jaguarão…1865 Minha amada Amélia,

Confirmo minhas cartas 6ª, 7ª e 8ª idas ontem pelo Rio Grandense e quanto de minha parte te diria e Luis Vignolo a quem pedi para ir positivamente(?) dar-te minha querida Amélia notícias minhas e entregar te uma caixinha com botões de punho que como lembrança te mando.

Nada mais te digo sobre tua vinda porque estou certo tanto como eu a desejava e só [...] em sangradouro terei o prazer de abraçar te. Fico contando os dias que nos devem ainda separar, como conta o usurário o fruto de sua mesquinha vida.

O Guarany resolveu sair já por aproveitar o vento e por isso não te escrevo como desejava, apesar da grande [...] que terás em ler as extensas cartas 6ª 7ª e 8ª. Adeus minha querida Amélia, e vem o quanto antes dar paz a meu coração.

Um beijo e mil abraços te dá o [...] do coração. Marido e amor verdadeiro (ou amigo verdadeiro)

Esta carta pode nos dar uma ideia de que realmente esta união se fez por amor e não por interesse, Amélia e Annibal realmente se amavam.

Depois de alguns anos da morte de Annibal, a baronesa deixa sua filha dona Sinhá e seu esposo Lourival administrando o casarão e seus bens, mudando-se definitivamente para o Rio de Janeiro, pois já tinha o hábito de passar longas temporadas em sua cidade natal. Dona Sinhá por sua vez, tendo sua mãe morando no Rio e seus filhos na idade de estudar também passam a morar com a avó, começa a ficar longos períodos nesta cidade, o que se tornou mais frequente nas décadas de 1940 e 1950. Desta forma a chácara passou a um local praticamente só de veraneio recebendo seus filhos e netos, até aproximadamente o início da década de 197035.

O prédio foi doado à Prefeitura Municipal pela família Antunes Maciel no final do ano 1970, e assim o "Solar da Baronesa” foi transformado em um museu, onde a história da família ficaria preservada.

Características da Baronesa de Três Serros que marcaram sua presença em Pelotas

A filantropia era uma das características marcantes da família Antunes Maciel e Amélia também demonstrava ser, por temperamento próprio, uma mulher muito caridosa. Talvez por ser espírita sempre foi muito fraterna com as pessoas que a rodeavam e com seus escravos, mesmo vivendo em uma época onde o preconceito era bastante intenso. Annibal era

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35 Informações obtidas nos documentos históricos do acervo do museu: cartas trocadas entre a Baronesa e Dona Sinhá, quando a primeira residia no Rio de Janeiro e cartas dos filhos de Dona Sinhá das primeiras décadas do século XX.

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igualmente caridoso e ao morrer deixou muitos benefícios a várias pessoas, em seu testamento: a família e os inúmeros afiliados, compadres e comadres, ex-escravos, viúvas pobres, detentos da cadeia pública e internos do asilo de mendigos.

O casal sempre teve visão e consciência de como cuidar e tratar os seres humanos; ver os escravos serem tratados com imensa crueldade, como se fossem animais, para eles era difícil de aceitar principalmente em suas propriedades, pois ambos sempre estiveram envolvidos em ações humanitárias, e sem dúvida nenhuma a mais extraordinária foi a libertação dos seus escravos. A primeira propriedade a libertá-los foi justamente a que residiam Amélia e Annibal, no Estado do Rio Grande do Sul. Este fato aconteceu no ano de 1884, quatro anos antes da libertação de todos os escravos do país.

De acordo com Ivomar Costa, os barões tiveram bastante conflito ao libertar os escravos das suas propriedades:

Haviam diversos problemas envolvidos nesta causa. Um deles é que a libertação sem preparação dos libertos causaria mais problemas do que soluções. Havia também a resistência dos Barões do Charque, para quem Annibal vendia seu gado. Com efeito, a libertação realizada no casarão deve ter gerado problemas para o casal. No entanto, já haviam clubes e sociedades abolicionistas na cidade desde a década anterior e este ato fez com que outras propriedades, inclusive de membros da família, também alforriassem os seus cativos. (COSTA, 2012)

Ainda segundo Costa:

Amélia, sempre procurou tratar seus escravos e empregados com grande respeito. Em sua propriedade (no casarão) eles andavam de tamancos, um tipo de calçado com solado de madeira e recoberto de couro, quer dizer, não andavam descalços; dormiam em colchões de palha e se protegiam do gelado e úmido inverno pelotense em cobertas recheadas de penas de ganso, que aquecem muito bem. Eram bem alimentados e jamais submetidos a castigos corporais. Com estas atitudes e ações ela conseguiu criar e difundir gradativamente uma cultura de atenção com aqueles seres humanos Aníbal ao alforriar seus escravos os manteve em suas propriedades como empregados, pagando salários, tendo abrigo, não permitindo, dessa forma, que se desgarrassem e ficassem extraviados pelas estradas, sem lugar fixo e sem meios de subsistência, os escravos de Amélia ficaram morando em terrenos doados pelo casal. E foi assim que surgiu com casas de ex-escravos um dos maiores bairros da cidade, o bairro Areal. (COSTA, 2012).

Esta atitude do casal fez com que outros senhores de escravos de Pelotas tivessem a mesma atitude libertando seus escravos também. Muitos destes homens que fizeram este “bem” provavelmente, ao fazê-lo, já tinham intenções de reivindicar títulos de nobreza. Ou

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seja, libertaram seus escravos com interesses próprios e não por bondade como aconteceu com Amélia e Annibal.

Por esses fatos descritos, pode-se perceber que o casal, Barão e Baronesa de Três Serros vivia de maneira distinta, e até avançada para a época. Seu comportamento filantropo e humanista influenciou de maneira diferenciada a sociedade daquele tempo. E até mesmo pode-se dizer que influenciou a forma de viver em coletividade, além de contribuir para a expansão urbana, quando estimulou indiretamente o surgimento do bairro Areal. Segundo Costa (2012), foi por esses feitos que Annibal recebeu do Imperador do Brasil, D. Pedro II, em seis de julho de 1884, o título de barão. Nascia assim em Pelotas o Barão e a Baronesa dos Três Serros. Esta condecoração oferecida pelo Imperador não foi só pela libertação dos escravos, mas também pelo espírito humanitário de Amélia e Annibal. Quatro anos depois da libertação de seus escravos e de uma longa batalha dos abolicionistas para acabar com a escravidão no Brasil no século XIX, Amélia e Annibal veem no dia 13 de maio de 1888, a Lei Áurea finalmente ser aprovada como uma lei que dá total liberdade aos escravos.

O barão só usufrui por poucos anos seu título, pois veio a falecer em 1887 no dia 22 de março, portanto quatro anos após receber a honraria como vemos na publicação do jornal da cidade de Pelotas, lemos em “A Ventarola”, Folha Ilustrada e Humorística. Anno 1, Pelotas 1887, n° 01. PP. 2-3 do acervo da Biblioteca Pública Pelotense a seguinte notícia: “Noticiamos com grande pesar a morte do Barão de Tres Serros senhor Anibal Antunes Maciel”.

Ao completar dois anos da morte de Annibal, Amélia praticou mais um ato de solidariedade, unindo alta espiritualidade com ação consequente.

A Baronesa mandou, como homenagem ao seu falecido marido, distribuir esmolas aos pobres à porta da catedral de São Francisco de Paula, a catedral de Pelotas. Vemos no Correio Mercantil de 22 de março de 1889, nº 69, p. 02, a seguinte notícia: “Esmolas – Às 8 horas da manhã, hoje, a porta da Igreja Matriz, serão distribuídas esmolas aos pobres, por ordem da Exma. Baroneza de Tres Serros e em homenagem à memória de seu esposo, de cujo

passamento se completa o 2º aniversário”. Esta atitude da Baronesa é distinta dos hábitos e costumes da sociedade em que vivia,

ainda mais quando praticada por uma mulher. Tradicionalmente as famílias nestas datas de aniversário de mortes dos seus familiares, mandavam rezar uma missa em sua memória;

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Amélia, por sua fé e caridade, preferiu fazer algo que mostrasse seu desapego de bens materiais e sua preocupação com o próximo: distribuiu esmolas na frente da catedral.

Outra característica influenciadora de seus hábitos: Amélia teve a sorte de nascer em uma família que valorizava a instrução feminina; sendo assim, desde muito nova já tinha o habito da leitura, uma pessoa privilegiada fazendo parte de um pequeno grupo de alfabetizados. Segundo Paula Clasen (2008,) num total de quatro milhões de habitantes no final do século dezenove e início do século vinte, nesta época somente quinhentos e cinquenta mil da população eram alfabetizados, ou seja, quatorze por cento da população. Dessa forma, Amélia era realmente uma mulher muito além do seu tempo, pois mesmo pertencendo à alta sociedade nunca fez pouco das pessoas mais humildes, suas relações de amizade se estendiam desde os mais carentes até os governantes da igreja católica - mesmo os padres sabendo que ela tinha optado pelo espiritismo, o que para a época era bastante criticado e desconhecido.

A Baronesa sempre foi muito ativa, entretanto, entre as coisas de que mais gostava de praticar estava a leitura; e entre seus vários livros os de doutrina espírita estavam entre os seus prediletos.

Segundo o pesquisador João Artur Ott Cardoso, que manteve correspondência com membros da família - descendentes diretos de Amélia e Annibal, o mesmo defende a ideia de que o espiritismo aportou em Pelotas em 1865 na bagagem da jovem senhora Amélia Hartley de Brito Antunes Maciel, pois a mesma ao completar 15 anos ganhou de presente de uma amiga francesa um exemplar do “Livro dos Espíritos”, o primeiro livro sobre a doutrina espírita, publicada por Alan Kardec, começando assim os primeiros contatos entre Amélia e o espiritismo. Neste período esta nova doutrina estava se espalhando por toda a Europa.

Após casar e mudar para Pelotas, a jovem senhora organizou uma biblioteca em sua residência, demostrando assim sua fé e amor por esta religião. E assim aos poucos, através do empréstimo dos seus livros espíritas esta nova “religião” começava a se espalhar e conquistar as pessoas da cidade. Até nesse aspecto, a Baronesa de Três Serros foi inovadora e proativa e não se sentiu, ao que parece, tolhida por regras e convenções. Sua personalidade forte e segura, sua honestidade de princípios lhe garantiam o respeito e a aceitação da sociedade e da Igreja naquela cidade bem ao sul do Rio Grande do Sul e se expandiu até o Rio de Janeiro, como se apresentará a seguir.

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Com o passar dos anos e a morte de seu esposo, a Baronesa resolve retornar a sua cidade natal e começa a frequentar as reuniões mediúnicas na sede da Federação Espírita Brasileira, no Rio de Janeiro, para poder praticar com mais afinco a sua religião. A carta que escreveu a sua filha dona Sinhá no dia 06 de outubro 1906,36 nos mostra um pouco como era sua afinidade com o espiritismo:

Como bem sabes, o principal motivo que me trouxe aqui, foi praticar um pouco a minha santa religião, da qual me vejo absolutamente privado ai! É esse, minha querida, e bôa filha, o pão do meu espirito, o meu único consôlo nas horas de amargura; o brilhante pharol que iluminando o Caminho da Eternidade, me faz encaral-o sem pavor, mas com o coração de esperança, por que me dá a certeza, de que lá encontrarei todos aquelles, que na vida tão caros me fôrâo! Tenho, pois, ido as sessões, na federação, onde são ellas admiráveis em seus ensinamentos! João37, apesar de suas ideias positivistas, é quem me acompanha, e, leva sua condescendência à ponto de assistil-as até o fim, mostrando n”isso a melhor boa vontade. Acredita que os poucos momentos que ali passo, orando, e ouvindo a explicação do Evangelho, em Espirito e Verdade, julgo me feliz! Adeus o papel acaba-se. Recomenda-me mt° todos os nossos d”ahi....

Como se pode observar na leitura atenta dessa carta, para a Baronesa era uma alegria e um conforto participar destas reuniões mediúnicas se tornando aos poucos uma rotina que muito a ajudou com suas tristezas. Tem-se notícia de que muito antes de mudar para o Rio de Janeiro, já não frequentava a vida social da cidade de Pelotas, mesmo quando algumas reuniões aconteciam no casarão. Preferia viver rodeada por seus familiares, seus amigos mais íntimos e de seus livros espíritas.

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36 Carta da baronesa enviada do Rio de Janeiro no dia 06 de outubro 1906, para sua filha dona Sinhá. 37 João era neto da baronesa e estava morando com ela no Rio de Janeiro.

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Figura 15 – Baronesa de Três Serros. Fonte: http://likaweymar.blogspot.com.br/2009/11/museu-da-baronesa.html

Depois de já estar morando no Rio de Janeiro e não tendo levado todos seus livros, escreve à filha, pedindo que a mesma lhe remeta os mesmos. A carta foi enviada para sua filha dona Sinhá no dia, 30 de julho de 190938:

[...] estão fazendo aqui mtª. falta, alguns dos meus livros espiritas, peço-te para me mandares o mais bréve que puderes, todos os que se acham no meu armario, mas na 3ª. Prateleira. Os outros, não precisa. Destes mesmo, não presisa mandares os – folhetos- mas sómente os encadernados. Conta as pratelheiras,de cima para baixo, porq. não me lembro se, de baixo para cima, tem mais alguma. A pratelheira de cima tem o naviosinho do Rubens, na outra, há tambem livros, mas os que estão, na prateleira abaixo, é que eu peço. Não precisas subir ao sótão, para isso, manda a D. Eulalia que mais ou menos já sabe, e tudo fará bem, sem que te encommodes. Bóta tudo em um caixãosinho, e pede ao Chico para me remeter.

Amélia, ao ficar viúva, recebeu uma grande herança, pois seu marido disfrutava de uma ótima condição financeira e social, deste modo deixou-a com uma boa renda e várias propriedades, mas nem por isto se descuidou da situação financeira, continuou cuidando de seus gastos pessoais, e na mesma carta do dia 30 de julho de 190939, comenta com sua filha da preocupação com o dinheiro (a Baronesa se referia ao dinheiro como arame), como nos mostra o trecho da carta:

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38 Carta da baronesa enviada da cidade do Rio de Janeiro no dia, 30 de julho de 1909 para dona Sinhá. 39 Carta da baronesa enviada do Rio de janeiro no dia 30 de julho de 1909 para dona Sinhá.

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[...] teremos em Dezembro, calôr excessivo, o que sem duvida prejudicará a vinda de vocês! Como custa a passar o tempo, quando se espera! Não te esqueças, me mandar o – arame- pela Chiquinha, pois preciso comprar alguma cousa para mim, e não me animo, com mêdo que o que tenho, não chegue até Março.

Na carta do dia 12 de janeiro40 a senhora continua a pedir “arame” como está escrito nesta carta dirigida à filha:

[...]comprei á mais de 2 mezes, um chapéo para mandar á Odilla, como presente de annos, mas em seguida fizéram annos também, o Ismar e Osmy, e faltou-me o arâme

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