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Questões sobre o gênero feminino no século XIX

A sra Amélia Hartley, intitulada Baronesa de Três Serros, apresentou características intelectuais, sociais e religiosas que a destacaram na sociedade pelotense e brasileira durante o século XIX e suas atitudes demonstraram que aquela mulher se diferenciava dos hábitos e costumes usuais da época. Por essa razão, parece pertinente explorar as questões sobre o gênero feminino no século XIX, mais especificamente no Brasil. Inúmeros autores (citar alguns) têm escrito sobre o papel da mulher na sociedade e descrevem que, no século XIX, no Brasil a mulher estava em desvantagem de direitos em relação aos homens, em todas as esferas sociais; por exemplo, não podiam votar; as possibilidades e trabalho fora do lar eram restritas; não havia uma maior liberdade para pensar e agir publicamente. Se discute o papel da mulher na sociedade, no século XIX, tão avançado em conquistas tecnológicas e

científicas, não era muito diferente: a mulher era vista na sociedade como um objeto a ser “lapidado” segundo as vontades da Igreja. Desde criança, ela já era destinada a se casar com o homem que seu pai determinava; após o casamento deveria obedecer seu marido. Seus

desejos não poderiam ser colocados em prática, pois deveriam obedecer aos costumes delegados pelos homens (Figura 16).

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Figura 16- A Educação das mulheres se restringia a atividades que fossem úteis no ambiente doméstico, desprovidas de valor no mercado de trabalho da época, como costurar, aprender música ou desenvolver

habilidades artísticas.

Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/impressao.asp?artigo=203

Na história da formação da sociedade brasileira,42 especialmente no período da , o modelo de família que se formou foi o modelo patriarcal. Como o próprio nome indica, caracteriza-se por ter como figura central o patriarca, ou seja, o “pai”, que é simultaneamente chefe do clã (dos parentes com laços de sangue) e administrador de toda a extensão econômica e de toda influência social que a família exerce. A família começou a formar-se logo no , século XVI, a partir da herança cultural portuguesa, cujas raízes ibéricas estavam, nessa época, fortemente vinculadas com o passado medieval europeu – sem contar a forte influência do modelo de patriarcado muçulmano, de quem os portugueses absorveram muitas características. O modelo da família patriarcal no Brasil gerou, assim, uma forma específica de organização social, que teve grande implicação em nossa organização política.

Conforme nos é colocado por Gaspari:

A educação feminina deveria ser restrita ao doméstico, não deveriam ir em busca do saber, contrário à sua natureza. Aquela época a sociedade exigia que as mulheres ocupassem apenas o papel de mães, guardiãs dos costumes, e dispostas a servir ao homem. Rousseau preconizava a inferioridade feminina, com sua incapacidade de raciocinar como o homem. A falta de autodeterminação da mulher é da sua natureza intrínseca. Resta-lhe somente o poder da sedução (GASPARI, 2003, p. 29)

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42 Autor Cláudio Fernandes, "Família patriarcal no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/historiab/familia-patriarcal-no-brasil.htm>.

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Então este ser feminino servia somente para o propósito de gerar filhos, cuidar das tarefas de casa, enfim tinha a responsabilidade de fazer com que tudo estivesse do gosto do seu marido. Durante o desenvolvimento das sociedades, a história registra a discriminação homem-mulher, principalmente em relação à educação. Ao atribuir aos homens a condição de donos do saber e às mulheres o papel feminino, subordinado ideologicamente ao poder masculino, a história vem salientar as desigualdades. As concepções divulgadas desde o século XVII reforçaram a imagem da mulher como um ser sem vontade.

Nesta época, início do século XX a igreja tinha uma forte influência sobre vida, os costumes e a sexualidade da mulher; as normas impostas eram justificadas por meio da Bíblia. Principalmente, devendo obediência aos homens.

Araújo (2015, p 45) comenta que namoros tiveram seu início nas missas:

De repente uma troca de olhares, um rápido desvio do rosto, o coração aflito, a respiração arfante, o desejo abrasa o corpo. A mulher, acompanhada dos pais, cercada pelos irmãos e criadas, nada podia fazer, exceto esperar. Esperar que o belo rapaz fosse bem-intencionado, que tomasse a iniciativa da corte e se comportasse de acordo com as regras da moral e dos bons costumes, sob o indispensável consentimento paterno aos olhos atentos de uma tia ou de uma criada de confiança (de seu pai naturalmente).

Oportunamente os autores Medeiros, Loyanne e Duarte em seu artigo: Contextualização histórico-social da mulher, podem nos elucidar com este exemplo:

A igreja exercia forte pressão sobre a sexualidade feminina e justificava isso por meio da Bíblia. Essa servia como manual de conduta, orientando as mulheres quanto aos moldes de se comportar, vestir-se, falar e, principalmente, a sempre serem submissas, devendo obediência aos homens. Biblicamente, por elas terem sido criadas da costela do homem, fez gerar o entendimento masculino de que elas dependem dele. Outra vez, a submissão é presente, logo porque depende do homem para a concepção e também para o nascimento do filho, ou seja, que a mulher deveria ser educada de acordo com o seguinte ditado: Uma mulher já é bastante instruída quando lê corretamente suas orações e sabe escrever a receita da goiabada. Mais do que isto seria um perigo para o lar (CRAVO, 1973, p.11).

Ao longo do século XX foram feitos vários estudos acadêmicos que nos mostram como foi grande a dominação dos homens sobre as mulheres e quanto mais pobres elas fossem mais humilhação sofriam. “As trabalhadoras pobres eram consideradas profundamente ignorantes, irresponsáveis e incapazes, tidas como mais irracionais que as mulheres das camadas médias e altas, as quais, por sua vez, eram consideradas menos racionais que os homens [...]” (Rago, 2015). Provavelmente por isto os ofícios como: costureira, operária, lavadeira, doceira, empregada doméstica, florista, artista e várias outras profissões femininas

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eram estigmatizadas e associadas a imagens de perdição moral, de degradação e de prostituição. (RAGO, 2015, p 589).

Com o passar dos anos, a mulher começa a se dar conta que assim como o homem, ela também é um ser pensante, e oportunamente Oliveira, (2012) nos explica que “a mulher aos poucos sai da domesticidade e integra-se finalmente na sociedade, a princípio como escritora ou professora. Em fins do século XIX, o Brasil já possui mulheres que sabiam ler e escrever, limitando-se, no entanto, à esfera medíocre (sic) do romance francês”.

No entanto, apesar da opinião predominante de que as mulheres brasileiras do século XIX viviam sob um regime patriarcal e limitadas a uma vida doméstica, mesmo assim, notava-se uma certa sacralização da mulher que, embora dançasse nos bailes de máscara, pouco falava, pouco fazia para libertar-se da opressão masculina, e permanecia virgem até o casamento. (OLIVEIRA, 2012, p5).

As transformações na conduta das mulheres ocorridas nas três primeiras décadas deste século XIX, irritaram conservadores, deixando perplexos os desavisados estimulando debates com os progressistas. Afinal era muito estranho ver moças das camadas sociais mais altas, chamadas de “moças de boa família”, sozinhas pelas ruas da cidade fazendo compras para casa ou outros afazeres que até pouco tempo não lhes era permitido. As autoras Maluf e Mott em seus escritos: “Recônditos do Mundo Feminino”, comentam que:

as novas maneiras de ser comportar tinham se tornado corriqueiras em menos de duas décadas, a ousadia, no entanto, cobrava seu preço: se a senhora soubesse conservar um “ar modesto e uma atitude seria, que a todos imponha o devido respeito. ”E mais: que a mulher sensata principalmente se fosse casada, evitasse “sair à rua com um homem que não seja o seu pai, seu irmão ou seu marido”. Caso contrário, iria expor-se a maledicência, comprometendo não só a sua honra como a do marido, conforme se lia na revista Feminina, importante publicação do período43. (MALUF e MOTT, 1998, p 368, 369).

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43 A Coleção História da vida privada no Brasil chega ao século XX. As amplas transformações tecnológicas do final do século XIX, o declínio do Império, a emancipação dos escravos, o advento do regime republicano, a chegada dos grandes contingentes de imigrantes vindos de todas as partes do mundo, as migrações internas, o adensamento populacional nas cidades: nunca antes houve tantas mudanças em tão pouco tempo. Os sete capítulos de República: da Belle Époque à era do rádio, terceiro volume da Coleção História da vida privada no Brasil, focalizam as novas práticas e hábitos de consumo surgidos em meio a essas mudanças.

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Após se casar a mulher passava a ter várias obrigações, entre elas a maternidade mesmo correndo um grande que risco de vida, pois a gravidez e o parto eram os maiores causadores de mortes entre as partuentes. O parto praticado em casa por uma parteira era um ato de muito amor, pois a mulher arriscava-se: tanto ela como a criança poderiam morrer na hora do nascimento. Este era o papel mais importante que a senhora tinha que cumprir, mas jamais esquecer das outras obrigações como dar atenção especial ao marido, além de dividir seus dias com tarefas diárias como: cozinhar, lavar, passar, limpar e organizar a casa.

Segundo Priore em seu livro, “Histórias Intimas”:

A mulher deveria ser fêmea e assumir esta condição, deve ser bonita, desejável e mãe. Deve cuidar da casa e dos filhos e esperar o marido de volta do trabalho bem- disposta e arrumada. É exatamente para isto que ela existe. E, longe de diminui-la, isto só pode engrandecê-la. Na verdade, os homens tinham o total controle sobre elas e consideravam um grande privilégio das mesmas, que tinham um tempo maior para usar como almejassem. A verdade é que sempre sobra tempo para elas lerem, para escreverem, para pintar, sei lá, para criar. Isto é até um privilégio, pois nem sempre os homens dispõem deste tempo. (PRIORE,2011, p 185).

Para falarmos um pouco das mulheres do Sul do Brasil, o texto “Mulheres do Sul”, Pedro (2015) pode nos dar uma visão diferenciada, pois o mesmo comenta que escrever sobre as mulheres no Sul não significa traçar um perfil único que as identifique e as diferencie das outras mulheres do restante do país. Entre os primeiros textos que tematizaram as mulheres do Sul, podemos destacar o escritor e botânico Auguste Saint-Hilaire; nascido na França, chegou ao Brasil em 1816 ficando até 1822.

Ele passou por várias províncias e destacou Curitiba e Rio Grande do Sul. Sobre as mulheres de Curitiba ele descreveu que elas “têm as feições mais delicadas do que as de todas as outras regiões do país”. Das mulheres do Rio Grande do Sul observa, “Todas as mulheres que tenho visto do Rio Grande a esta parte são bonitas, e têm os olhos e cabelos negros, cútis branca e têm sobre as francesas a vantagem de serem coradas”. Descreve ainda a existência de inúmeras mulheres comandando estancias, trabalhando, provendo sozinhas a sobrevivência em vista da constante ausência do marido. O viajante conta que enquanto nas regiões do interior não encontrou mulheres nas ruas, na cidade de Porto Alegre elas eram bastante.

Sobre Santa Catarina, Saint Hilaire comenta a presença das mulheres nas ruas da cidade de Desterro44 e discorre, especialmente, sobre a sociabilidade destas em comparação as

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das outras regiões do país, como neste trecho: As mulheres são muito claras, de um modo geral tem olhos bonitos os cabelos negros e, muitas vezes, uma pele rosada (PEDRO, 2015, p 278, 279).

Ainda sobre a virada do século XIX para o comportamento das mulheres, seus pensamentos e atitudes estão cada dia mais aflorados, começaram a viver por conta própria e o homem começa a perder o poder que exercia sobre as mesmas.

Mais uma vez as autoras Maluf e Mott (1998) mostram um pouco da moda destas mulheres:

Na virada do século a moda eram os rebuscados “penteados ornamentais” com as ondas conseguidas com um ferro de frisar. Duas décadas depois, os cortes indicavam que as mulheres não mais se contentavam com a antiga imagem de “frequentadoras do teatro e dos jantares”. Estavam esculpindo uma nova silhueta de mulher moderna. Em dezembro de 1924 a Revista Feminina já indagava se o cabelo curto não seria “um sintoma da emancipação do belo sexo” (MALUF; MOTT, 1998, p 370).

E assim aos poucos a figura estereotipada da mulher começa a se libertar do domínio masculino, começando a viver por conta própria e mostrando sua determinação dentro de seu lar, bem como fora dele. Inclusive com atitudes mais corajosas perante a sociedade e, consequentemente, com o seu trabalho externamente.

Característica empreendedora de uma mulher à frente do seu tempo.

Amélia sempre foi muito boa e estimada por seus amigos, vizinhos e empregados, sempre foi uma mulher muito generosa e preocupada com o próximo; sabendo das pessoas que estavam morrendo todos os dias na guerra, ela, juntamente com a filha Sinhá, resolveram criar uma sucursal da Cruz Vermelha45 em Pelotas, entidade que visava a proteção da vida, prestando auxilio às pessoas afetadas por guerras, calamidades e desastres. Para dar início aos trabalhos comunitários as duas ainda doam uma ambulância.

No Brasil, a instituição Cruz Vermelha foi fundada em 1903. Na cidade de Pelotas, sabe-se que tanto a Baronesa quando a filha, dona Sinhá, estiveram envolvidas com esta entidade iniciando o processo de criação, como mostra esse trecho transcrito de uma das

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45 Cruz Vermelha é uma organização internacional, sem fins lucrativos, cujo objetivo principal é prestar socorro e assistência às pessoas vítimas de guerras e catástrofes naturais (terremotos, tornados, enchentes, etc.). Foi fundada, em 1863, pelo suíço Jean Henri Dunant.

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cartas trocadas entre mãe e filha: Dona Sinhá torna-se a primeira presidente da organização de ajuda humanitária “Cruz Vermelha”.

“Rio, 28 de novembro de 191746. Mt°querida filha

Por carta de Rubens, e os jornais d’ ahi sube da linda festa de caridade, que Zilda fez, bem como tu teres sido escolhida para Presidente da Cruz Vermelha. Envio-te, pois, meus duplos parabéns, pela organização da festa e pela prova de apreço e consideração qui te dispensaram confiando-te essa presidência”.

Nas questões que estão sendo citadas, o autor Costa registra que:

Da sua família, alguns dos filhos seguiram a religião da mãe, tornando-se membros pro-ativos do Movimento Nascente no Sul do país. Dona Sinhá ajudou no erguimento do Hospital Espírita de Pelotas, no início chamado Sanatório Espírita, nos anos cinquenta do século passado. Déa frequentou a Federação Espírita Brasileira (FEB) no Rio de Janeiro por muitos anos. (COSTA, 2012)

Nesta época, como já citado anteriormente, a doutrina já fazia parte de sua vida, mas a maioria da população brasileira ainda era católica e nas fazendas, estâncias e residências dos mais nobres, a capela era uma peça quase que obrigatória, mas no casarão de Amélia e Annibal, nunca houve a construção de uma capela. Este fato nos leva a pensar o quanto esta moça, quase uma menina, teve sempre força e coragem para atingir todos os seus objetivos e assim exercia uma grande influência nas pessoas com que convivia e aproveitava deste carisma para disseminar esta doutrina na qual era tão fiel. Por conseguinte, logo se destaca na comunidade pelotense e teve inclusive seu nome citado em um dos livros de Chico Xavier47, livro48 que contém quarenta crônicas de fatos mediúnicos (XAVIER,1964 p 40).

Comprovando o que foi citado acima, segue um pequeno trecho da referida citação:

18 - DIÁRIO DE UM MÉDIUM (XAVIER, 1964, p 40)

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46 Carta da baronesa enviada do Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1917, diretamente para sua filha Sinhá na cidade de Pelotas/RS.

47 Francisco Cândido Xavier, mais conhecido como Chico Xavier, foi um médium, filantropo e um dos mais importantes expoentes do Espiritismo.

48 Diário de um Médium Pelo espirito irmão X- “Contos Desta e Doutra Vida”, obra psicografada por Francisco Cândido Xavier.

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Quando, por solicitação de amigos, penetramos o quarto de Alfredo Lúcio, para acudi- lo no processo de desencarnação, o diário que o tempo amarelecera estava aberto e podíamos ler, em trechos curtos, a história de sua experiência.

22 de outubro – Nesta noite inesquecível de 22 de outubro de 1928, faço minha profissão de fé. Acompanhei reunião íntima no “Centro Espírita Vicente de Paulo”, na rua Tavares Guerra, 74, aqui no Rio, e pude ouvir a palavra de minha mãe que eu supunha morta. Ela mesma. Falava-me pelo médium, como se estivéssemos em nossa casa do Méier. Chorei muito. Estou transformado. Sou agora espírita. Peço a Deus me abençoe os votos solenes de trabalhar pela grande causa.

23 de outubro – Tentei a mediunidade escrevente e consegui. Maravilhoso! A ideia me escorria da cabeça com a mesma rapidez com que a frase escrita me saía da mão. Recebi confortadora mensagem assinada por D. Amélia Hartley Antunes Maciel, a Baronesa de Três Serros, que foi companheira de infância de minha mãe. Aconselhou- me a aperfeiçoar a mediunidade, a fim de cooperar na evangelização do povo. Sim, sim, obedecerei...

24 de outubro – Procurei o confrade Rr. Augusto Ramos, da Diretoria do "Vicente de Paulo”, na Ponta do Caju, e falei-lhe de meus planos. Encorajou-me. Foi para mim valioso entendimento espiritual. Quero servir, servir.

25 de outubro – Congreguei vários irmãos no “Centro”, em animada conversação sobre os desastres morais. A imprensa está repleta de casos tristes. Suicídios, homicídios. Comentamos o imperativo da mediunidade apostólica. É muito sofrimento nascido da ignorância! Deus de Bondade Infinita, darei minha vida pelo esclarecimento dos meus irmãos em Humanidade! ...

26 de outubro – Avistei-me hoje com o Rr. Leopoldo, Cirne e sua estimada Esposa, na residência deles próprios. Foram amigos de D. Amélia. Oramos. A Baronesa comunicou-se, exortando-me ao cumprimento do dever. Convidou-me a estudos sérios. O Sr. Cirze falou-me, bondoso, quanto à necessidade do discernimento. 10 de novembro – O presidente de nossa casa espírita ponderou comigo que é importante não acelerar o desenvolvimento mediúnico. Entretanto, não concordei. A ignorância e a dor esperam por mensagens do Alto. Nas últimas seis noites, recebi páginas e página" do Espírito que se deu a conhecer como sendo Filon, de Atenas, desencarnado na Grécia antiga. Disse-me que tenho grande missão a cumprir […]

A Baronesa sempre teve boa saúde, mas com o passar dos anos seus olhos começam a cansar, como comenta com a filha na carta escrita na cidade do Rio de Janeiro, no dia 26 de maio de 1909: “...estou a lhe escrever, mas com muita dificuldade, pois meus olhos doem muito ao força-los para te escrever”, "... já estou com os olhos a me arder, por isso nao vou alêm”.

A senhorinha já procurava ler em horário com mais luminosidade, pela manhã, por exemplo, como dá a entender em algumas cartas.

Sua saúde aos poucos vai ficando mais frágil e no dia 14 de janeiro de 1919, na cidade do Rio de Janeiro veio a óbito a Baronesa de Três Serros, estimadíssima senhora Amélia Hartley de Brito Antunes Maciel.

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A notícia sobre a morte da Baronesa entristeceu muito os pelotenses, pois mesmo morando na longínqua cidade do Rio de Janeiro, ela nunca foi esquecida por este povo que sempre a teve como uma mulher muito amável e caridosa, querida por muitos. A divulgação de seu falecimento foi anunciada pelo jornal: “A Opinião Pública” como se se constata a seguir:

Na Opinião Pública, de Pelotas, edição de 15 de janeiro de 1919, número 12, página 3, vemos nos avisos necrológicos o falecimento da Baronesa, momento em que a sociedade reconhece, mais uma vez, a generosidade demonstrada durante toda a sua vida e o seu caráter cativante.

De geração para geração

A vida da Baronesa foi tão marcante que muitos decidiram estudá-la, dentro e fora da academia. Considerando que uma entrevista feita com uma das netas da Baronesa, em 2009, pode trazer mais substância e rigor cientifico a esse texto acadêmico, por ter sido realizada através da metodologia para aquisição de depoimentos já consagrada nas práticas de História Oral, segue a transcrição de parte da referida entrevista.

Trata-se de entrevista que foi feita pelo professor e historiador Fábio Vergara Cerqueira49 com a senhorinha dona Zilda Maciel de Abreu Vicente50, filha de Dona Sinhá e, portanto, neta de Amélia Hartley de Brito Antunes Maciel, a Baronesa de Três Serros. Participou também desta entrevista o filho de Dona Zilda, Aníbal Maciel de

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