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Construções correlativas consecutivas sob perspectiva funcional

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE LETRAS

MESTRADO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM

MARIANNA CORREA SIQUEIRA DO NASCIMENTO

CONSTRUÇÕES CORRELATIVAS CONSECUTIVAS SOB PERSPECTIVA FUNCIONAL

NITERÓI 2017

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MARIANNA CORREA SIQUEIRA DO NASCIMENTO

CONSTRUÇÕES CORRELATIVAS CONSECUTIVAS SOB PERSPECTIVA FUNCIONAL

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade Federal Fluminense, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de mestre em Estudos da Linguagem.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Ivo da Costa do Rosário

NITERÓI 2017

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2. N244 Nascimento, Marianna Correa Siqueira do.

Construções correlativas consecutivas sob perspectiva funcional / Marianna Correa Siqueira do Nascimento. – 2017.

99 f. ; il.

Orientador: Ivo da Costa do Rosário.

Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) – Universidade Federal Fluminense. Instituto de Letras, 2017.

Bibliografia: f. 97-99.

1. Língua portuguesa. 2. Correlação. 3. Consequência. 4. Construção. 5. Linguística funcional centrada no uso. I. Rosário, Ivo da Costa do. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Letras. III. Título.

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MARIANNA CORREA SIQUEIRA DO NASCIMENTO

CONSTRUÇÕES CORRELATIVAS CONSECUTIVAS SOB PERSPECTIVA FUNCIONAL

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem,

como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de mestre em Letras. Área de concentração: Estudos de

Linguagem.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________ Presidente, Prof. Dr. IVO DA COSTA DO ROSÁRIO (UFF) ___________________________________________________________

Prof. Dra. PRISCILLA MOUTA MARQUES (UFRJ)

___________________________________________________________ Prof. Dra. ANA CLÁUDIA MACHADO TEIXEIRA (UFF) ___________________________________________________________

Prof. Dra. ANA BEATRIZ ARENA (UERJ-FFP)

___________________________________________________________ Prof. Dr. MONCLAR GUIMARÃES LOPES (UFF)

NITERÓI 2017

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal Fluminense, por proporcionar um ambiente democrático para estudo e discussão de opiniões.

Ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, por proporcionar um corpo docente rico em conhecimento e diversidade.

Ao Professor Dr. Ivo da Costa do Rosário, mestre e orientador, por toda a contribuição para meu crescimento acadêmico e pessoal e pela supervisão atenta dos meus textos. À banca examinadora, que tão gentilmente aceitou o convite para participar dessa importante etapa em minha vida acadêmica.

À Professora Dra. Violeta Virginia Rodrigues, pela primeira orientação e atenção na fase inicial de estudo para o Mestrado.

À Professora Dra. Mariangela Rios de Oliveira, pelo entusiasmo em discutir assuntos relacionados à linguagem.

À Professora Dra. Silvia Rodrigues Vieira, por ter despertado em mim o interesse pela sintaxe da Língua Portuguesa em suas aulas de Port VI, na UFRJ.

Aos colegas do curso, por tornarem esse período mais divertido. Em especial a Verônica, Jovana, Nice, Vania, Fabiana, Norma e Margarida.

À minha família, por toda orientação e incentivo ao longo da minha vida.

Aos meus amigos, pelo apoio, incentivo e compreensão de minha ausência nos últimos meses.

A todos, Obrigada.

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Esta pesquisa objetiva investigar os padrões microconstrucionais da construção correlativa consecutiva, sob a perspectiva da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU). Partimos do pressuposto de que nosso objeto de estudo se organiza por meio da correlação (cf. Oiticica, 1952; Rosário, 2012), como processo distinto da coordenação e da subordinação. Os pressupostos teóricos que balizam esse estudo partem do princípio de que a língua é resultado do uso, e a sua compreensão se dá de forma online, na situação comunicativa que envolve os usuários. Diante desse contexto, nossa pesquisa investiga os usos e os ambientes em que estão inseridas as construções correlativas consecutivas. O corpus utilizado para a pesquisa é formado por textos da seção Carta ao Leitor, do acervo digital da Revista Veja Online (encontrado no link http://www.veja.abril.com.br). Analisamos o comportamento morfossintático e funcional dessas construções dentro do quadro da correlação, observando, ainda, os valores sintáticos e semânticos de cada type correlativo encontrado. Nossa pesquisa investiga também a sobreposição de valores semânticos nas construções correlativas consecutivas analisadas e os fatores que motivam esse fenômeno. Adotamos o termo construção para nos referir ao nosso objeto de análise, por aderirmos à proposta atual da Gramática de Construções, nos moldes de Croft (2001) e com Traugott (2008a), definindo-a como unidade básica da língua. Dentre os padrões postulados para a construção em análise, destacamos o Padrão 1 por sua prototipicidade e iconicidade e por apresentar maior frequência, correspondendo a 65.07% do total de dados de nosso

corpus. O Padrão 2 destaca-se por recrutar complexos itens para a sua configuração e

tem a intersubjetivação, elaboração e argumentação como características salientes e representa 15.87% do total de dados. O Padrão 3 tem como característica menor grau de prototipicidade e representa 17.46% do total de dados. O Padrão 4 destaca-se por menor grau de prototipicidade e frequência em relação aos demais, representando 1.58% do total de dados. Os resultados principais apontam para elevado grau de esquematicidade, intersubjetividade e prototipicidade da construção correlativa consecutiva.

Palavras-chave: Correlação, consequência, construção, Linguística Funcional Centrada no Uso.

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This research aims to investigate the microconstructional patterns of correlative consecutive constructions from the perspective of the Usage-based Linguistics, tied to cognitive contributions of Construcion Grammar studies. We assume that our object is organized under the Correlation theory (cf. Oiticica, 1952; Rosário, 2012), as a different process of coordination and subordination. The theoretical assumptions that guide this research understand the language as result from usage and its understanding happens in an online manner, in the interative situation that involves the users. In this context, our research investigate the uses and the places where the correlative consecutive constructions are inserted. The corpus is formed by texts from Letters to Readers section, in Veja Online Magazine. We intend to analyze the morphosyntatic and functional behaviors of these constructions in the framework of correlation, watching the syntatic and semantic values from each correlative type found. Our research also extends to the investigation of semantic values overlaping of these constructions and what motivates this phenomenon. We have adopted the construction term to refer to our object of analysis, by joining the current proposal of Construction Grammar, along the lines of Croft (2001) and, based on Traugott (2008a), we define construction as the basic unit of the language. Among the patterns that we found for our construction, we highlight the Pattern 1 for its prototypes, icons and for representing high degree of frequency, corresponding to 65.07% of the total data. The Pattern 2 stands out for recruit complexs items for its configuration and has intersubjectivity, elaboration and argumentation as the central characters, representing 15.87% of the total data. The Pattern 3 its featured by its low degree in its prototypes and frequency, representing 17.46% of the total data. The Pattern 4 stands out for low degree of its prototypes and frequency, corresponding to 1.58% of the total data. The main results point for a high degree of schemas, prototypes and intersubjectivity of our consecutive correlative construction.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO p.13

1. REVISÃO DA LITERATURA p.16

1.1 Correlação p.16

1.2 Construção Correlativa Consecutiva p.21

1.3 Expressões com valor semântico de consequência p.30

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA p.37

2.1 Linguística Funcional Centrada no Uso p.37

2.2 Gramática de Construções p. 39

2.3 Construcionalização e mudança construcional p.42

2.3.1 Princípios da Construcionalização p.42

2.3.2 Hierarquia Construcional p.44

2.4 Breves considerações sobre Fatores de análise p.44

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS p.48

3.1 Caracterização do corpus p.48

4. ANÁLISE DE DADOS p.53

4.1 Análise das microconstruções p.55 4.1.1 Microconstrução tão X que Y p.55 4.1.2 Microconstrução de tal forma X que Y p.67 4.1.3 Microconstrução X tal que Y p.70

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4.1.4 Microconstrução tanto X que Y p.72 4.1.5 Microconstrução X tanto que Y p.75 4.1.6 Microconstrução X tamanha que Y p.78 4.1.7 Microconstrução tal X que Y p.80 4.1.8 Microconstrução tamanha X que Y p.81 4.1.9 Microconstrução com um grau tal X que Y p.82 4.1.10 Microconstrução de tal maneira X que Y p.83 4.1.11 Microconstrução de tal modo X que Y p.85 4.1.12 Microconstrução tão X a ponto de Y p.85 4.2 Padrões microconstrucionais p.87

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS p.94

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Definições de coordenação p.17

Quadro 2 – Definições de subordinação p.18

Quadro 3 – A correlação em obras tradicionais p.19

Quadro 4 – Modelo da estruturação simbólica da construção radical p.41 Quadro 5 - Informações sobre os corpora em fase inicial de pesquisa p.49 Quadro 6 - Informações sobre o corpus em fase final da pesquisa p.51

Quadro 7 – Configuração do Padrão 1 p.88

Quadro 8 – Configuração do Padrão 2 p.89

Quadro 9 – Configuração do Padrão 3 p.89

Quadro 10 – Configuração do Padrão 4 p.90

Quadro 11 - Reunião de padrões e configuração de prótase e apódose p.90

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Os domínios da causalidade p.35

Figura 2 – Rede de hierarquia construcional da Construção Correlativa Consecutiva p.92

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Tabela 1 – Caracterização de corpora e quantificação de dados em fase inicial p.48 Tabela 2 – Quantificação de microconstruções por padrão em fase inicial p.50 Tabela 3 – Percentual por type p.53

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Percentual de frequência type-token p.54

GRÁFICO 2 – Percentual de cada Padrão p.91

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Esta pesquisa tem como objetivo investigar os padrões microconstrucionais da construção correlativa consecutiva no português brasileiro, na sincronia atual, sob a perspectiva da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU).

Nosso objeto de estudo é classificado, tradicionalmente, como oração

subordinada adverbial consecutiva, pertencendo, portanto, ao quadro das orações

subordinadas. No entanto, acreditamos que subordinação e coordenação são estratégias de organização do período insuficientes para explicar as diversas maneiras de integração de cláusulas, como é o caso daquelas que possuem correlatores1 em sua configuração e daquelas que estão umas justapostas a outras, sem qualquer elo de conexão. A esses tipos de integração, correspondem, respectivamente, os fenômenos da correlação e da

justaposição.

No que diz respeito à correlação, adiantamos que há uma polêmica ao redor desse tema: não há unanimidade entre autores tradicionais e mesmo inovadores a respeito de ela ser uma estratégia de organização do período como a coordenação e a subordinação. Diz-se que ora é uma especificidade da coordenação, ora da subordinação. Ao se referir à correlação, Azeredo (1979, p.1) sintetiza a visão tradicional nos seguintes termos: “serve apenas para materializar certas relações fundamentalmente coordenativas ou subordinativas.”

Rosário (2012, p.3), em investigação sobre as construções correlatas aditivas, define correlação como:

uma construção sintática prototipicamente composta por duas partes interdependentes e relacionadas entre si, encabeçadas por correlatores, de tal sorte que a enunciação de uma (prótase) prepara a enunciação de outra (apódose).

Assim posto, pretendemos investigar a correlação na língua portuguesa, na atual sincronia, a partir das construções correlativas consecutivas, por acreditarmos que elas se configuram tal como propõe Rosário (2012, p.3): encabeçadas por correlatores por se distinguirem de outras configurações no que diz respeito ao domínio da consequência. 1 O termo correlatores foi cunhado por Rosário (2012), em analogia a coordenadores e subordinadores, para referir-se aos articuladores sintáticos responsáveis pela correlação.

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Este trabalho se insere em um projeto maior, desenvolvido e liderado pelo Prof. Dr. Ivo da Costa do Rosário, orientador desta dissertação, no âmbito do Grupo de Pesquisa Conectivos e Conexão de Orações (CCO), que pretende, dentre outras atividades, realizar uma descrição de todo o quadro da correlação no português.

Utilizando o referencial teórico da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), que conjugaestudos funcionalistas àGramática de Construções, consideramos que o conhecimento da língua está distribuído em uma rede de construções hierarquizadas e interconectadas entre si (cf. TRAUGOTT e TROUSDALE, 2013). Nesse sentido, nos propomos a investigar não somente as microconstruções (do tipo

‘tão X que Y’) na relação prótase - apódose, mas também a sua relação com todo o

contexto, ou seja, o entorno linguístico, de maneira holística.

A hipótese central que motivou nosso trabalho é a de que a construção correlativa consecutiva tem uma configuração muito especial. Nesse ponto, a abordagem tradicional é insuficiente para descrevê-la. Para tentarmos comprovar nossa hipótese, os objetivos específicos traçados são:

● Demonstrar que as construções correlativas consecutivas possuem características que as diferenciam das demais cláusulas subordinadas.

● Analisar e descrever o comportamento semântico e sintático dessas construções, distribuídas em meso e microconstruções.

● Analisar a emergência de sobreposição de valores semânticos nas construções correlativas consecutivas e quais os possíveis motivadores para esse fenômeno.

No capítulo 1, apresentamos a Revisão da Literatura atinente aos temas aqui abordados. Na primeira parte, empreendemos uma discussão sobre o fenômeno da correlação e revisitamos, com base em autores tradicionais, os conceitos de coordenação e subordinação que permeiam essa discussão. Na segunda parte, revisamos o conteúdo sobre as construções correlativas consecutivas em estudos tradicionais e inovadores. Na terceira parte, por fim, empreendemos discussão a respeito das diversas maneiras de se expressar o valor semântico de consequência na variedade brasileira da língua portuguesa.

No capítulo 2, apresentamos o referencial teórico que baliza essa pesquisa: a LFCU e os estudos em Gramática de Construções. Com base em Croft (2001) e em

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Traugott (2008a), definimos o termo construção. Comentamos, de forma breve, os conceitos de construcionalização e mudança construcional e os princípios que regem essa teoria. Fazemos menção, também, à noção de hierarquia construcional e, finalmente, conceituamos os fatores de análise, que serão retomados ao longo do trabalho.

No capítulo 3, apresentamos a caracterização do corpus utilizado em nossa pesquisa. Detalhamos, aí, o trajeto percorrido por nossa investigação desde seu estágio inicial (texto-piloto) até seu estágio final.

No capítulo 4, procedemos à efetiva análise de dados, em que descrevemos todas as microconstruções encontradas para a construção correlativa consecutiva, caracterizamos os padrões a que essas microconstruções pertencem e apresentamos a quantificação total de dados levantados para a pesquisa.

No capítulo 5, por fim, apreciamos as considerações finais que resumem brevemente a síntese das descobertas e conclusões obtidas a partir da análise de dados, e esclarecemos que a pesquisa não tem como finalidade cessar as discussões sobre esse tipo de construção, se não servir como aporte teórico a outras pesquisas que possam vir a ser empreendidas.

No capítulo 6, encontramos as referências bibliográficas utilizadas nessa pesquisa.

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Este capítulo apresenta a Revisão da Literatura e está dividido em três partes: a primeira aborda o fenômeno da correlação e, concomitantemente, discute temas como coordenação e subordinação; a segunda discute as construções correlativas consecutivas sob os pontos de vistas de estudos tradicionais e inovadores e a terceira apresenta discussão sobre as diversas maneiras de expressão do valor semântico de consequência.

1.1 Correlação

Partindo da hipótese de que nosso objeto de estudo se organiza correlatamente, faz-se necessária uma discussão sobre o fenômeno da correlação. Adiantamos, desde já, que há dissensões substanciais sobre esse tema.

Na literatura, observamos que não há um consenso sobre a correlação ser uma estratégia autônoma de organização do período, ao lado da coordenação e da subordinação. Segundo palavras de Oiticica (1952, p.13), “esse processo de composição do período [a correlação] sempre andou confundido com o da subordinação”. Há que apontar, ainda, que alguns autores vão além: consideram que a correlação ora é uma especificidade da coordenação, ora da subordinação, como Bechara (2003), Cunha e Cintra (2008), Kury (2002), Luft (2002) e Rocha Lima (2011).

Coordenação e subordinação são estratégias de organização do período já previstas na tradição gramatical e incorporadas e difundidas no ensino escolar. A essas estratégias, estão atreladas as noções de (in)dependência formal, semântica ou pragmática (DECAT, 1999, p. 24) apud Rodrigues e Marques (2015). É bem verdade, no entanto, que essas estratégias não dão conta de explicar uma série de fatos da língua, a saber, determinadas formas de integração entre cláusulas, como, por exemplo, as construções correlatas aditivas (ROSÁRIO, 2012) e as construções correlatas alternativas (ACOSTA, 2016).

Apresentamos, a seguir, dois quadros que sintetizam as propostas de definição de coordenação e subordinação segundo diversos gramáticos de língua portuguesa.

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Quadro 1 – Definições de Coordenação2

COORDENAÇÃO

Cunha e Cintra (2001, p.

593-594)

Segundo palavras de Cunha & Cintra, as orações coordenadas são estruturas da mesma natureza, autônomas, independentes, isto é, cada uma tem sentido próprio. Elas não funcionam como termos de outra oração, nem a eles se referem: apenas uma pode enriquecer com o seu sentido a totalidade da outra.

Rocha Lima (1999, p. 260)

Comunicação de um pensamento em sua integridade, pela sucessão de orações gramaticalmente independentes – eis o que constitui o período composto por coordenação.

Luft (2000, p. 47 e 51)

Coordenadas são as orações de igual função, ligadas entre si por meio de conjunções coordenativas, ou por justaposição (assíndeton) na expressão daquelas. [...] As orações do período ‘composto por coordenação’, independentes, levam o nome de coordenadas.

Melo (1978, p.

146-147)

Coordenação é o paralelismo de funções ou valores sintáticos idênticos. Oração coordenada é a que está posta ao lado de outra, de igual natureza e igual função.

Almeida, N. (2004, p. 523)

Oração coordenada é a que vem ligada a outra de igual função, ou seja, as coordenadas entre si podem estar quer independentes, quer subordinadas, quer principais.

Ribeiro, M. (2004, p. 307)

Na coordenação, ocorre uma independência sintática: cada oração coordenada tem seus próprios termos. Coordenação é a sequência de orações em que uma não exerce função sintática de outra.

Bueno (1963, p. 140)

Quando ambas as proposições exercem a mesma função no período, de tal modo que uma pode ser separada de outra, mantendo a sua perfeita significação, serão coordenadas.

Said Ali (1966, p. 130)

A combinação coordenativa é formada de uma oração inicial e uma ou mais orações sequentes ou coordenadas que se caracterizam por alguma das partículas e, mas, ou, portanto, logo, porquanto, etc.

Kury (2003, p. 62)

Se todas as orações de um período são independentes, isto é, têm sentido por si mesmas, e poderiam, por isso, constituir cada uma um período, o período se diz composto por coordenação.

Pereira, E. (1943, p. 206)

A coordenação consiste na combinação de palavras e frases da mesma função gramatical, e, ainda, de termos que se prendem por concordância, como o predicado e o sujeito, o atributo e o substantivo.

Maciel (1931, p.

357-358)

As proposições coordenadas exprimem pensamentos independentes, relacionados apenas pelo sentido ou por conjunção coordenativa.

Bechara (1999, p. 48)

Consiste a parataxe na propriedade mediante a qual duas ou mais unidades de um mesmo estrato funcional podem combinar-se nesse mesmo nível para constituir, no mesmo estrato, uma nova unidade suscetível de contrair relações sintagmáticas próprias das unidades simples deste estrato. Portanto, o que caracteriza a parataxe é a circunstância de que unidades combinadas são equivalentes do ponto de vista gramatical, isto é, uma não determina a outra, de modo que a unidade resultante da combinação é também gramaticalmente equivalente às unidades combinadas. Não sobem a estrato de estruturação superior.

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Quadro 2 – Definições da Subordinação

SUBORDINAÇÃO

Cunha e Cintra (2001, p. 594.600)

Orações subordinadas são orações sem autonomia gramatical, isto é, funcionam como termos essenciais, integrantes ou acessórios de outra oração. O período composto por subordinação é, na essência, equivalente a um período simples. Distingue-os apenas o fato de os termos (essenciais, integrantes e acessórios) deste serem representados naqueles por orações.

Rocha Lima (1999, p. 261-622)

No período composto por subordinação, há uma oração principal, que traz presa a si, como dependente, outra ou outras. Dependentes, porque cada uma tem seu papel como um dos termos da oração principal. Luft

(2000, p. 48 e 53)

Subordinada é aquela que depende de uma principal. É uma oração regida por outra, ou por um termo desta. [...] Onde há uma oração subordinada há também uma principal; são termos correlativos: não há principal sem subordinada, nem subordinada sem principal.

Melo (1978, p. 148-149)

Subordinação é a relação de dependência entre as funções sintáticas. Em toda oração normalmente constituída há necessariamente pelo menos um elo subordinativo, o que prende ao sujeito o predicado. [...] Oração subordinada é aquela que exerce em outra uma função ou subfunção, e que por isso não tem autonomia, não vale por si, é parte de outra oração, chamada principal.

Almeida, N. (2004, p. 524)

Oração subordinada é a que completa o sentido de outra de que depende, chamada principal, à qual se prende por conjunções subordinativas ou pelas formas nominais do verbo.

Ribeiro, M. (2004, p. 308)

Oração subordinada é a que desempenha o papel de termo de uma oração principal.

Bueno (1963, p. 140)

Se no período lógico, uma oração não pode ser separada de outra porque ficará incompleta em sua significação, haverá orações subordinadas.

Said Ali (1966, p. 130)

A combinação subordinativa consta de uma oração principal e uma ou mais secundárias ou subordinadas. Orações secundárias são desdobramentos do sujeito, do complemento ou dos determinantes atributivos ou adverbiais em novas orações.

Pereira, E. (1943, p. 207)

A subordinação dá-se quando uma palavra ou frase se combina ou relaciona com um outro termo de diferente função sintática.

Maciel (1931, p. 360)

Os termos da proposição simples expandem-se, desenvolvem-se, ligando proposições acessórias mediante conectivos subordinantes, isto é, pronomes relativos, conjunções subordinativas, e às vezes os adjetivos ou os pronomes indefinidos.

Bechara (1999, p. 47)

A hipotaxe é a propriedade oposta à hipertaxe: consiste na possibilidade de uma unidade correspondente a um estrato superior poder funcionar num estrato inferior, ou em estratos inferiores. É o caso de uma oração passar a funcionar como “membro” de outra oração, particularidade muito conhecida em gramática.

A observação dos quadros 1 e 2 evidenciou a falta de rigor com que são tratados os procedimentos de organização do período em gramáticas de orientação tradicional: há autores que partem de uma classificação estrutural e outros que partem de uma classificação semântica. Rosário (2012, p. 10) assevera que:

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os critérios semântico e sintático estão presentes na maioria das definições apresentadas, juntamente com o conceito de dependência, mas não são bem definidos, gerando incompreensões e falta de clareza nas exposições teóricas. Essa heterogeneidade evidencia a carência de uma posição precisa por parte dos gramáticos de orientação tradicional e dificulta uma análise gramatical criteriosa.

Apesar de muitos autores terem se debruçado sobre estudos no âmbito da

correlação, ainda não há um consenso sobre esse fenômeno caracterizar um processo

distinto dos demais. Como observado anteriormente, é um processo tratado ora na coordenação, ora na subordinação. Assim, apresentamos um quadro proposto por Rodrigues (2007, p. 230) que sintetiza o tratamento dado a esse fenômeno nas obras tradicionais:

Quadro 3 – Correlação em obras tradicionais

O quadro 3 confirma o que dissemos anteriormente sobre a falta de sistematicidade ao abordar o fenômeno da correlação. Bechara (1987) não explicita a nomenclatura orações correlatas e nem faz menção indireta à correlação. Cunha

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(1990) e Cunha e Cintra (1985) não explicitam a nomenclatura orações correlatas. No entanto, mencionam que as orações comparativas, consecutivas e, às vezes, as

proporcionais podem estar em correlação com um membro da oração principal. Rocha

Lima (1998) não explicita a nomenclatura orações correlatas, mas menciona o termo “fórmulas correlativas” e “expressões correlativas” para se referir às subordinadas

comparativas, proporcionais e coordenadas aditivas.

Já Luft (2002) não só faz menção indireta à correlação ao afirmar que alguns gramáticos consideram orações proporcionais correlativas como explicita a nomenclatura orações correlatas ao se referir às correlatas aditivas, correlatas

comparativas e correlatas consecutivas. Finalmente, Kury (2002) explicita a

nomenclatura orações correlatas para se referir às orações consecutivas e

proporcionais, e menciona indiretamente as aditivas com correlação e as comparativas quantitativas.

Faz-se necessário, portanto, definir o fenômeno da correlação, como forma de esclarecê-lo e diferenciá-lo dos demais processos. A definição de Rosário (2012, p. 3) é a que melhor nos atende (cf. p. 13):

[correlação] é uma construção sintática prototipicamente composta por duas partes interdependentes e relacionadas entre si, encabeçadas por correlatores, de tal sorte que a enunciação de uma (prótase) prepara a enunciação de outra (apódose).

A relação prótase - apódose se verifica em construções que possuem termos correlatos em sua configuração, como é o caso de nosso objeto de análise. Definimos prótase como uma enunciação que tem como função central intensificar um elemento e criar, com ele, um clima de suspense e expectativa que prepara para a enunciação da proposição seguinte, a apódose.

A correlação envolve muito mais do que simples diferença no âmbito da estrutura, visto que envolve, também, diferença no significado. Observemos alguns exemplos3:

3 Exemplos criados por nós para demonstrar os diferentes graus na forma e no significado das construções que envolvem a noção de consequência.

(21)

● João é coerente e deixa todos abismados. ● João é tão coerente que deixa todos abismados.

● João é de tal forma coerente que deixa todos abismados.

É notória a diferença de um exemplo para o outro. No primeiro caso, verificamos uma relação de adição: há o acréscimo de informação por meio da partícula e, prototípica da coordenação aditiva. Há que se comentar que a noção de adição, nesse período, também abarca subsidiariamente a noção de consequência: Pelo fato de João ser coerente é que ele deixa todos abismados.

No segundo caso, observamos um termo intensificador tão que intensifica e/ou realça a qualidade expressa por coerente e, com ela, cria uma expectativa para a enunciação seguinte, introduzida pela conjunção que, que é a consequência da intensificação da qualidade coerente.

No terceiro caso, notamos a diferença em comparação ao segundo, não só no que diz respeito à forma, mas também quanto ao significado. É evidente que, para se estabelecer o valor de consequência nesse caso, foi necessário recorrer a outros itens gramaticais, além do termo intensificador e da conjunção. Nosso estudo pretende investigar as possíveis motivações para essas diferenças e ocorrências.

Na próxima seção, discutimos as características das construções correlativas consecutivas em estudos tradicionais e em estudos inovadores.

1.2 Construção correlativa consecutiva

A construção correlativa consecutiva é tradicionalmente conhecida como oração subordinada adverbial consecutiva e introduz a ideia de consequência do fato expresso na oração anterior, a qual se liga através da conjunção que em correlação a um termo intensivo. Nesse sentido, a construção é estudada dentro do quadro da subordinação, e sua configuração prototípica é que correlacionado a tão, como constatamos no seguinte exemplo.

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(01) A imagem do adolescente oferecia um enigma. Ou o Brasil não avançara tanto, ou a foto era montada. Duas realidades tão contrastantes não poderiam coexistir. O choque foi constatar que, sim, tudo era real naquela cena, tão desumana que já causava repulsa em meados do século XIX, quando o alemão Rugendas exibiu na Europa gravuras de escravos acorrentados ou sendo açoitados.

(Revista Veja Online, Carta ao Leitor, p. 11, Ed. 2360, 2014)4

Como observado na introdução desse capítulo, nem sempre coordenação e subordinação dão conta de explicar as diversas maneiras de integração de cláusulas que emergem no uso e como respaldo a essa afirmação, evocamos Givón (1984, p. 25) apud Rosário e Teixeira (2016) para quem “as línguas podem codificar um mesmo domínio funcional por meio de várias estruturas”.

É bem verdade que a Gramática Tradicional (doravante GT) não impõe um rigor preciso à descrição dos processos de organização do período. Em sua avaliação, ora pauta-se em critérios sintáticos, ora em critérios semânticos. Casos há em que mescla os dois. Outro ponto que merece ponderação é o fato de a GT basear-se em exemplos da linguagem literária. Sabe-se que esses exemplos não correspondem ao vernacular.

A abordagem de nosso objeto de interesse pela GT apresenta alguns problemas: a construção não se integra necessariamente a um predicador do primeiro membro e sim a um termo intensivo; e não exerce função como um dos termos da oração. Posto isso, passemos à observação do tratamento dado à construção correlativa consecutiva em estudos tradicionais e inovadores.

Para Cunha e Cintra (2008, p.618), a classificação das orações subordinadas adverbiais está de acordo com a conjunção subordinativa que as inicia. Nesse sentido, as consecutivas são aquelas iniciadas pela conjunção subordinativa consecutiva ‘que’:

(I) Há segredos, de natureza tal, que é imperdoável imprudência descobri-los.5

4 Os dados extraídos do corpus de análise serão numerados em ordem crescente, em números arábicos. A caracterização do corpus será feita em detalhes no capítulo 3, mais especificamente na seção 3.1 5 Os exemplos retirados de autores abordados nesse estudo recebem numeração românica (I), (II), (III) etc e estão em ordem crescente.

(23)

Rocha Lima (2001, p.350) define a oração consecutiva como o resultado da declaração feita na oração principal. No que tange à sua configuração, o autor diz que seu tipo mais característico é a forma desenvolvida, encabeçada pela conjunção ‘que’ e posposta à oração subordinante, onde se encontram as partículas de intensidade como

‘tão’, ‘tal’, ‘tanto’ e ‘tamanha’:

(II) Ele foi tão generoso, que me deixou pasmado! (III) A rã inchou tanto que estourou.

O autor observa, também, que para dar mais ênfase à construção, recorre-se às locuções de (tal) modo que; de (tal) sorte que; de (tal) forma que e outras do mesmo gênero:

(IV) Esconderam de tal modo o dinheiro que não sabem onde ele está.

Em outra observação, o gramático comenta que a partícula intensiva pode ser omitida, assim, a locução conjuntiva passa a integrar o segundo membro da oração, com valor consecutivo, quando a predicação da oração principal está completa, e assevera para que não se confundam locuções com valor consecutivo com adjuntos adverbiais: as locuções consecutivas introduzem oração de valor consecutivo, ao passo que os adjuntos adverbiais se ligam a verbos (ou advérbios).

(V) Dei-lhe todas as explicações; de sorte que já não há motivo para ressentimentos.

Segundo a avaliação do gramático, o exemplo anterior (V) demonstra que a predicação da oração principal está completa; o termo intensivo (tal) é omitido e a locução conjuntiva de valor consecutivo de sorte que passa a integrar o segundo membro da oração. Diferente é o caso do exemplo a seguir, em que de maneira é

(24)

adjunto adverbial do verbo Procedeste e a oração consecutiva é iniciada pela conjunção

que.

(VI) Procedeste de maneira que não mereces perdão.

Finalmente, o autor argumenta que o pensamento consecutivo pode ser enunciado por oração reduzida de infinitivo, com o verbo regido das preposições de e

sem, ou da locução a ponto de, como vemos a seguir:

(VII) O poleá dissecou a mosca azul a ponto de fazê-la sucumbir

Bechara (2003), em estudo sobre as orações adverbiais, propõe que se isolem as consecutivas e as comparativas em um grupo à parte das demais orações adverbiais propriamente ditas. Segundo o autor, essas exercem, de fato, função sintática como um dos termos da oração a que se ligam, ao passo que as consecutivas não desempenham esse papel: apresentam um elemento que, a que ele chama de transpositor, que se conecta a elementos de natureza intensiva da oração principal.

Em sua avaliação, o autor não admite que essas construções se organizem a partir de um processo distinto de estruturação do período – a correlação – e argumenta que, apesar de a relação entre transpositor que com um termo intensivo manifestar, de fato, uma consequência, o valor semântico principal é o de demonstrar que o termo intensivo reforça o conteúdo do pensamento designado. Nessa linha de raciocínio, a construção consecutiva estaria em um nível inferior ao primeiro pensamento, o que constituiria, para o autor, argumento necessário para não considerá-la dentro do quadro da correlação.

A breve consulta a gramáticos tradicionais como Cunha e Cintra (2008), Rocha Lima (2011) e Bechara (2003) evidenciou que esses autores consideram a correlação apenas como uma especificidade dentro do quadro da subordinação. Isso pode ser justificado pela influência da NGB, que não considerou a correlação como estratégia de organização do período em sua proposta.

(25)

Passemos à revisão do que se diz sobre a construção correlativa consecutiva em estudos inovadores, a fim de verificar se essa abordagem aponta diferenças em relação aos estudos dos gramáticos anteriormente empreendidos.

No que tange à sentença complexa e sua tipologia, Castilho (2014) parte de um enfoque funcional, analisando a língua do ponto de vista de seu valor e função que adquire na situação comunicativa. Isso representa enorme diferencial ao modo de abordar a língua se o compararmos à abordagem tradicional já aqui listada. Para o autor, a sentença complexa organiza-se a partir dos processos de coordenação, subordinação e

correlação, e destaca a existência de quatro (04) tipos de orações correlatas: aditivas,

alternativas, comparativas e consecutivas.

Castilho (2014, p.390) define as correlatas consecutivas como as que “apresentam uma causa na primeira sentença, de que a segunda apresenta a consequência”, e exemplifica:

(VIII) Falou tanto que me deixou confuso.

Segundo o autor, os primeiros elementos conjuntivos das correlatas consecutivas são, geralmente, ‘tanto’, ‘tão’, ‘tamanha’ e ‘tal’6, e formas substantivas entram na composição do primeiro membro da consecutiva, com o elemento tal + substantivo antecedido de preposição: ‘de tal arte...que’, ‘de tal feição...que’, ‘de tal sorte...que’ e formas equivalentes.

Após essas considerações, continuemos a revisão sobre as construções consecutivas em estudos inovadores.

Mateus et alii (2003), ao perceberem peculiaridades das construções consecutivas em relação às demais orações adverbiais que exprimem circunstância de um verbo ou advérbio da oração matriz, separam essas construções em um grupo à parte, juntamente com as conformativas, comparativas e proporcionais e as classificam como construções de graduação e comparação, porque, segundo as autoras, em algum nível, essas construções envolvem a noção de grau.

(26)

Na concepção das autoras, as construções consecutivas expressam a consequência da intensidade de uma qualidade, da quantidade de um objeto, da qualidade de um processo descritos na oração matriz. Em sua proposta, são iniciadas por que na dependência de um termo como tal, tanto, tão, tamanho ou, ainda, por locuções conjuncionais, a saber: de modo que, de maneira que, de sorte que.

Apesar de concordarem que a configuração prototípica das consecutivas é que em dependência de um termo antecedente (tal, tanto, tão, tamanho), tal como propõe a tradição gramatical, atentam para outras configurações que têm valor aproximado ao de consequência, como as que contêm expressões com suficiente ou bastante + para ou, ainda, certas coordenadas conclusivas iniciadas por conectores como logo, portanto,

por isso.

No que diz respeito às consecutivas de intensidade, as autoras contestam seu caráter subordinado e apresentam comportamentos característicos que as diferenciam das adverbiais, ou seja, as autoras submetem as consecutivas a alguns testes que provam sua diferença comportamental, tais como:

● O segundo membro da construção é frásico e não sintagmático. Sendo assim, não pode ser substituído por um pronome de valor anafórico, como ocorre com as comparativas:

Ex.: * O Luis é tão inteligente que a Maria. * O Luis é tão inteligente que isso.

● As consecutivas não podem ser objeto de clivagem nem têm mobilidade. Nesse caso, se aproximam das relativas e das comparativas e se diferenciam das subordinadas adverbiais:

Ex.: * Ela trabalhou tão bem é que escreveu dois capítulos da tese. * Que escreveu dois capítulos da tese ela trabalhou tão bem.

● Não são adjuntos ao SV nem à oração matriz, como as adverbiais. O teste de pergunta como fazer/acontecer pode comprovar isso:

(27)

Ex.: Ela trabalhou tão bem que escreveu dois capítulos da tese.

* O que ela fez que escreveu dois capítulos da tese? Trabalhou tão bem. * O que aconteceu quando ela escreveu dois capítulos da tese? Trabalhou tão bem.

● As consecutivas são caracterizadas pela relação com os sintagmas de que dependem. Nesse sentido, integram-se no SN, no SAdj, no SAdv ou no SV da oração matriz, o que faz com que a expressão de intensidade não possa ser suprimida:

Ex.: * Este filme é cômico que os espectadores riem todo o tempo. * O Antonio tem livros que vai fazer um seguro.

As autoras afirmam que as construções consecutivas de intensidade não são subordinadas adverbiais, portanto, mantêm-nas no quadro especial denominado de

construções de graduação e comparação.

Em estudo mais recente, Raposo et alii (2013) classificam as construções comparativas e consecutivas como construções de grau. A respeito das consecutivas, os autores as classificam como uma consequência da noção de grau, e apresentam o seguinte exemplo:

(IX) O embrulho é tão grande que não cabe no carro.

Segundo a proposta dos autores, O embrulho é grande num grau X que não cabe

no carro, ou, ainda, O grau X é tal que o embrulho não cabe no carro representam a

ideia de consequência, que é expressa por uma oração selecionada por um operador de grau, e pode-se considerar que esse operador e a oração que seleciona constituem uma predicação sobre um grau.

Os autores dizem que os operadores de grau que selecionam a oração consecutiva geralmente são os itens tal, tanto, tão, tamanho ou as locuções

(28)

conjuncionais de tal forma, de tal maneira, de tal modo, de tal ordem, e apresentam os seguintes exemplos:

(X) O vento era tal que ninguém conseguia andar a pé.

(XI) Não está tanto frio que não se possa ir à rua.

(XII) O Paulo está tão cansado que já não consegue correr.

(XIII) Ele disse tamanhos disparates que toda a gente ficou de boca aberta.

(XIV) Ele estava de tal forma cansado que já nem ouvia.

Raposo et alii (2013) também chamam a atenção para dois fatos: a possibilidade de os operadores consecutivos não serem expressos em construções exclamativas:

(XV) Estava um frio que não se podia sair de casa!

Também apresentam construções que têm seu valor aproximado ao das construções de consequência, que são as iniciadas por expressões como suficiente +

para ou bastante + para + verbo no infinitivo:

(XVI) Há bastante luz para conseguirmos ver nitidamente.

Os autores explicam que não se devem confundir as construções consecutivas prototípicas (selecionadas por operadores consecutivos prototípicos) com as

(29)

selecionadas por expressões como suficiente ou bastante e preposição para + verbo no infinitivo. E esclarecem que as primeiras, de fato, representam a consequência da noção de grau, ao passo que as segundas são consecutivas hipotéticas, ou seja, a consequência pode ou não acontecer. No exemplo anterior, apesar de haver bastante luz para que se

consiga ver nitidamente, isso não quer dizer que realmente vá se poder ver nitidamente.

É, portanto, uma hipótese. Em (XVII), apresentamos essa ideia com maior clareza:

(XVII) A Ana é suficientemente esperta para decifrar o enigma.

No exemplo anterior, temos que A Ana é esperta em um grau X para decifrar o

enigma. No entanto, apesar de saber que, em uma escala de “esperteza”, Ana

corresponde a um grau elevado, isso não é o suficiente para afirmar que ela possa decifrar o enigma. Assim, Ana pode decifrá-lo ou não.

Passemos agora à análise das construções correlativas consecutivas em Bosque e Demonte (1999), a fim de se verificar possíveis inovações em relação aos estudos desenvolvidos em língua portuguesa.

Segundo esses autores, as construções consecutivas se dividem em dois grandes grupos: o primeiro grupo abrange as que se apresentam dentro de orações compostas por subordinação, e o segundo caracteriza-se por apresentar as consecutivas dentro das orações compostas por coordenação e justaposição. Nesse sentindo, nos interessa o estudo do primeiro grupo, no qual identificamos a relação de interdependência estabelecida por correlatores.

Os autores assim classificam as orações consecutivas do primeiro grupo: as consecutivas de intensidade, estabelecidas entre uma oração subordinada por que e um antecedente de valor intensivo7 tan, tanto, tal, cada, un, así, <de + adjectivo, <de un +

adjectivo, <una de + sustantivo; as consecutivas de modo, estabelecidas entre alguma

das frases adverbiais de modo, de manera, de forma ou de suerte e uma oração subordinada por que relativo; as consecutivas comparativas, estabelecidas entre quantificadores como tanto, bastante ou suficiente e uma frase introduzida por como 7 Optamos por não traduzir antecedentes de valor intensivo e expressões quantificadoras porque, da mesma forma que há correspondentes em português para esses termos, também há casos que a tradução fica inviável.

(30)

para; as causais-intensivas, que constituem uma paráfrase das consecutivas de

intensidade e se caracterizam por uma frase introduzida pela preposição de, em cujo interior se registra uma estrutura de ênfase com como ou que relativo.

Bosque e Demonte (1999) assinalam que as consecutivas de intensidade não podem registrar-se sem o segundo membro, pois isso acarretaria perda de seu valor de intensidade. No entanto, afirmam que, se fosse em uma oração exclamativa ou de ênfase, tan, tanto ou tal só teriam o sentido preciso se remetessem a conteúdos tácitos no contexto. Diferentemente das relativas e comparativas, os dois termos das orações consecutivas (quantificadores e que) se exigem mutuamente, como termos interdependentes. Essa relação assegura não somente sua viabilidade gramatical como também a sua viabilidade semântica: a característica de uma oração consecutiva não depende somente do conteúdo léxico de seu antecedente, mas sim da construção considerada em seu conjunto (BOSQUE Y DEMONTE, 1999, p. 3749).

Diante do que vimos expondo ao longo dessa seção, há a necessidade de se comentar sobre as diversas maneiras de se expressar o valor semântico de

consequência, haja vista que alguns autores revisitados comentam sobre essas

expressões, sem, no entanto, dar a devida profundidade ao tema. Na próxima seção, debatemos esse assunto.

1.3 Expressões com valor semântico de consequência

Nesta seção, empreendemos uma discussão a respeito de expressões com o valor semântico de consequência. Esse debate tem como justificativa preencher as lacunas deixadas por alguns autores (Mateus et alii, 2003; Raposo et alii, 2013) já revisitados, que mencionam construções que têm valor aproximado ao de consequência, sem, no entanto, abordá-las de uma maneira mais profunda e coerente.

Compreendendo que o domínio da consequência abrange diversas áreas do conhecimento, como, por exemplo, as leis das ciências naturais e está intrinsecamente relacionado ao domínio da causa, concluímos que vale a pena destacar em que âmbitos o valor de consequência é expresso.

(31)

a) No nível do discurso – Nesse nível, o valor de consequência é construído a partir de períodos e elementos linguísticos que promovem a coesão e coerência do texto. A sequência tipológica expositiva ou argumentativa do texto aponta para uma consequência e atua como “pista” linguística para identificar a causa. Os exemplos a seguir, retirados de Cartas ao Leitor, da Revista Veja Online, demonstram como o valor de consequência é construído ao longo do discurso e como o valor de causa é recuperado:

(2) O primeiro efeito de sua candidatura deverá ser benéfico nesse sentido: por meio de sua campanha, ou motivados por ela, milhões de brasileiros poderão informar-se melhor sobre assuntos como a destruição das florestas, a poluição dos oceanos e, consequência disso tudo, o aquecimento global, ameaça maior à sobrevivência da espécie humana. (Revista Veja Online, Carta ao Leitor, p. 9, Ed. 2128, 2009)

O exemplo (2) demonstra como se materializa o valor de consequência no nível do discurso: consequência disso tudo retoma os SN´s destruição das florestas e

poluição dos oceanos, que são a causa e projeta o SN aquecimento global, que, de fato,

é a consequência.

(3) Está sendo assim na COP15, em Copenhague, onde 192 países se encontram reunidos para, com a ajuda de cientistas, tentar afastar o perigo de uma catástrofe climática global provocada pelo acúmulo na atmosfera de certos gases encapsuladores de calor, o que levaria, no cenário extremo, ao derretimento das calotas polares e à consequente inundação de imensas áreas litorâneas do planeta. (Revista Veja Online, Carta ao Leitor, p. 9, Ed. 2143, 2009)

O exemplo (3) também demonstra a construção do valor de consequência:

consequente inundação de imensas áreas litorâneas do planeta constitui a consequência

do derretimento das calotas polares.

b) Em nível proposicional8 - Construções que colaboram para a elaboração do valor de consequência ou que, em alguma instância, têm carga semântica de

consequência. São de, pelo menos, sete tipos distintos:

8 Alguns dados que exemplificam esse nível foram retirados de outras seções da Revista Veja Online, somente a título de exemplificação.

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i) Construções causais:

(04) Como não há solução possível quando não se conhece a origem do que se pretender corrigir, a informação do senhor Emílio Odebrecht serve de guia ao trabalho de faxina.

(Revista Veja Online, Carta ao Leitor, p. 14, Ed. 2527, 2017)

O segmento causal, introduzido pela conjunção como, antecede a porção da informação com carga semântica consecutiva, que, segundo a tradição gramatical, é chamada de oração principal ou oração matriz, por veicular a ideia principal do período. Notamos, aí, a explícita relação causa-consequência: Porque não há solução possível quando não se conhece a origem do que se pretende corrigir, a informação do senhor

Emílio Odebrecht serve de guia ao trabalho de faxina. A construção aqui destacada em

itálico refere-se à consequência da causa de não existir solução possível quando não se conhece a origem do que se pretende corrigir.

ii) Construções aditivas:

(05) Assine Caras e ganhe uma máquina Tres.

(Revista Veja Online, Propaganda, p.29-30, Ed. 2527, 2017)

Em (05), observamos que a construção não só tem leitura de adição como de condição e causa e consequência. A leitura condicional pode ser reinterpretada da seguinte maneira: ‘Se você assinar Caras, você vai ganhar uma máquina Tres’. A leitura de causa e consequência pode ser a seguinte: ‘Ganhar uma máquina Tres é consequência de assinar Caras.’

iii) Construções finais:

(06) Já que as informações sobre a delação premiada de PRC foram obstinadamente cruzadas pelo editor Rodrigo Rangel com fontes diretas, tendo uma delas revelado uma parte do depoimento e confirmando detalhes passados por outra pessoa – de forma que, ao final, Rangel conseguiu ter em mãos um resumo fiel do conteúdo

(33)

principal de 42 horas de conversa de PRC com os delegados da PF e procuradores.

(Revista Veja Online, Carta ao Leitor, p. 12, Ed. 2390, 2014)

A construção final, introduzida pela locução conjuntiva de forma que, certamente tem valor semântico de finalidade, propósito ou meta. No entanto, há que se ressaltar que a noção de finalidade também carrega, mesmo que subsidiariamente, a noção de consequência: chega-se a um ponto; atinge-se um objetivo ou meta.

iv) Construções conclusivas:

(07) Os políticos enrolados querem fazer crer que o caixa dois é um ilícito menor, quase desprezível, e portanto digno de uma anistia geral.

(Revista Veja Online, Carta ao Leitor, p. 14, Ed. 2526, 2017)

O dado anterior apresenta uma construção conclusiva prototipicamente composta pelo conectivo ‘portanto’, que está ligado ao campo semântico da conclusão. A inserção de uma partícula aditiva como ‘e’, no início da construção, reforça a ideia de conclusão. Sabe-se, também, que toda conclusão dialoga com a ideia de consequência.

v) Construções paratáticas:

(08) Não tem sorteio. Assinou. Ganhou.

(Revista Veja Online, Propaganda, p. 29-30, Ed. 2527, 2017)

Construções que estão em mesmo nível sintagmático, como é o caso de ‘Assinou’ e ‘Ganhou’, no dado anterior, além de terem leitura aditiva e condicional, também possuem leitura de relação causa-consequência: ‘Ganhou’ é consequência de ‘Assinou’, a causa.

(34)

(09) Tudo pode mudar com o início da campanha da televisão. Essas oscilações dos candidatos ajudam a explicar por que razão o mercado está tão nervoso e o dólar sobe e desce como linha de eletrocardiograma.

(Revista Veja Online, Carta ao Leitor, p. 9, Ed. 1763, 2002)

Em (09), notamos que a consequência se dá através de um processo de metaforização. A conjunção ‘e’ introduz a consequência e pode ser facilmente relacionada à ideia de adição, no entanto, como vimos anteriormente, à adição também subjaz a ideia de consequência.

Classificamos esse tipo de construção como correlativa consecutiva não-prototípica por possuir, em sua configuração, um segundo correlator não-prototípico, o que a diferencia, portanto, da prototípica. É notório que o elemento ‘tão’ intensifica o adjetivo ‘nervoso’ e cria, com ele, uma expectativa para a enunciação da proposição seguinte, introduzida pela conjunção ‘e’.

vii) Construções correlativas consecutivas prototípicas:

(10) Para começo de conversa, rojão é artefato tão perigoso que sua venda e uso são regulados por lei no Brasil e na maioria dos países civilizados.

(Revista Veja Online, Carta ao Leitor, p. 12, Ed. 2361, 2014)

Em (10), observamos a construção correlativa consecutiva em sua configuração prototípica: o primeiro correlator ‘tão’ intensificando o adjetivo perigoso e estabelecendo, com ele, a expectativa para a enunciação da proposição, introduzida pelo segundo correlator ‘que’, com quem também está relacionado. O que caracteriza a construção foco desse trabalho é a relação de interdependência de pares correlatos.

As considerações a respeito do domínio da consequência em áreas do conhecimento e na linguagem humana levaram-nos à discussão de como a ideia de

consequência se estabelece na língua portuguesa. A análise de dados em nível

construcional evidenciou a relação do domínio de consequência em intercessão com outros domínios, como, por exemplo, da causa, da adição, da finalidade e da conclusão.

(35)

Dentre essas relações, a que mais se destaca é a relação causa-consequência, por acreditarmos que a causa projeta uma consequência e engloba todos os outros domínios. A partir disso, elaboramos a seguinte figura explicativa em que o domínio da causa, aqui chamado causalidade, por sua maior abrangência, se aproxima e, ao mesmo tempo, integra outros domínios listados anteriormente.

Figura 1 – O domínio da causalidade

Após revisarmos o que dizem autores tradicionais e inovadores a respeito da construção em estudo e de tecermos considerações sobre as diversas maneiras de se expressar o valor semântico de consequência na língua portuguesa, deparamo-nos com a necessidade de apresentar a nossa definição para a construção correlativa consecutiva: é uma construção formada por duas partes interdependentes e indissociáveis, encabeçadas por correlatores, em que a primeira parte é a causa e a segunda é a consequência. Dessa maneira, o valor de consequência só ocorre se a construção for compreendida como um “todo”.

Ao longo desse capítulo, procedemos à revisão da literatura atinente aos temas abordados por essa dissertação. Na primeira seção, discutimos os processos de

CAUSALIDADE

Consequência

Adição Finalidade

(36)

coordenação e subordinação em obras tradicionais e o fenômeno da correlação. Na segunda seção, abordamos o tratamento que é dado à construção em estudo em obras tradicionais e inovadoras. Na terceira seção, por fim, demonstramos as diversas maneiras de se expressar o valor semântico de consequência na língua portuguesa. O próximo capítulo apresenta o referencial teórico que guia essa pesquisa.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo contempla os pressupostos teóricos que balizam a pesquisa e está dividido em quatro partes: a primeira aborda, de uma maneira geral, as características da LFCU; a segunda apresenta as contribuições de estudos em Gramática de Construções; a terceira apresenta a teoria da Construcionalização e Mudanças Construcionais, os princípios adotados por essa teoria e a noção de hierarquia construcional e a quarta apresenta e debate fatores de análise da construção em estudo.

(37)

2.1 Linguística Funcional Centrada no Uso

A Linguística Funcional Centrada no Uso (doravante LFCU) apresenta um novo olhar nos estudos linguísticos de orientação funcionalista, principalmente nos de vertente norte-americana. A nova visão está relacionada ao tratamento que antes era dado apenas ao item linguístico: seu estudo de forma isolada cede lugar a um estudo mais holístico, mais abrangente. Em outras palavras, estuda-se a construção.

Essa teoria nasceu da união das tradições deixadas por pesquisadores filiados ao funcionalismo clássico e ao cognitivismo, que consideravam o uso linguístico de suma importância para suas pesquisas (cf. CEZARIO; FURTADO DA CUNHA, 2013, p.13-14). O cotexto e contexto de uso e o papel da cognição humana no momento da situação comunicativa foram grandes contribuições dessas vertentes.

O funcionalismo clássico surgiu na década de 70, como forte resposta aos estudos gerativistas, de base formalista e inatista, que postulavam que o conhecimento linguístico era algo mentalista e estava relacionado a fatores genéticos da espécie humana. Nessa fase, privilegiava-se o estudo do item de forma isolada, em que o foco era sobre aspectos funcionais ou a trajetória específica percorrida por esse item, como comentam Rosário e Oliveira (2016):

Ganham destaque no conjunto das pesquisas funcionalistas os estudos sobre gramaticalização, que se dedicam à detecção de trajetórias históricas de categorias em perspectiva mais atômica, preocupados especificamente com propriedades de forma ou de sentido caracterizadores das referidas categorias. (ROSÁRIO; OLIVEIRA, 2016, p. 235)

A pesquisa funcionalista nessa época tem sua atenção voltada para o estudo de aspectos preponderantemente mais funcionais de um item, caracterizando-se como:

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um modelo de análise que resgata e redimensiona a importância do uso linguístico, relacionando-o a propriedades icônicas e destacando estratégias interacionais como motivadoras da gramática. (ROSÁRIO; OLIVEIRA, 2016, p. 236)

A Linguística Cognitiva também surge na década de 70 e é considerada como dissidente do gerativismo chomskyano, por considerar, ao lado do funcionalismo clássico, o papel do uso linguístico e os contextos de produção comunicativa em suas pesquisas. Uma importante contribuição dessa vertente é o entendimento de que o comportamento linguístico reflete as capacidades cognitivas humanas, ou seja, o comportamento e a organização de uma língua são calcados em habilidades cognitivas de domínios gerais:

assume-se que as categorias linguísticas são baseadas na experiência que temos das construções em que elas ocorrem, do mesmo modo que as categorias por meio das quais classificamos objetos da natureza e da cultura são baseadas na nossa experiência com o mundo. (CEZARIO; FURTADO DA CUNHA, 2013, p.14)

Para a LFCU, interessam os estudos cognitivistas voltados para a descrição e análise da construção gramatical, tendo destaque as obras de Croft (2001), Goldberg (1995, 2006) e Langacker (2008). Esses estudos se dedicam à investigação da língua a partir da aproximação de subpartes (nós) de esquemas maiores e seu nível de vinculação:

A língua, por consequência, define-se como conjunto de construções específicas e hierarquizadas que, interconectadas, compõem uma ampla rede, na qual propriedades fonológicas, morfossintáticas, semânticas e pragmáticas se encontram integradas. (ROSÁRIO E OLIVEIRA, 2016, p. 239)

A versão clássica do funcionalismo norte-americano e o cognitivismo na versão não-chomskyana reúnem vários pressupostos teórico-metodológicos em comum, como, por exemplo, a rejeição à autonomia da sintaxe, a incorporação da semântica e da

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pragmática às análises e a não distinção estrita entre léxico e gramática. Esses pressupostos teórico-metodológicos convergem para apontar o princípio básico da LFCU: o fato de que a estrutura da língua emerge à medida que é usada (BARLOW; KEMMER, 2000; BYBEE, 2010, 2011).

Feitas essas considerações, entendemos que houve uma reorientação quanto ao objeto de estudo na pesquisa funcionalista. Consideram-se os resultados obtidos no campo da gramaticalização e mudança gramatical e alarga-se o foco de observação. Em outras palavras, o estudo da construção é prioritário para a versão contemporânea do funcionalismo.

Na próxima seção, discutimos o estudo em Gramática de Construções, conceituando o termo construção, bem como apresentando a visão de alguns autores que se dedicam a estudar o tema.

2.2 Gramática de Construções

No diálogo estabelecido entre o funcionalismo contemporâneo e o cognitivismo, ganha relevo o estudo em Gramática de Construções. Conforme Oliveira e Rosário (2015) afirmam, o termo construção pode assumir diversas acepções, a depender da ótica sob a qual ele é estudado. O primeiro uso desse termo, no âmbito dos estudos da linguagem, data de Cícero, orador e filósofo romano no século I da era cristã (GOLDBERG E CASENHISER, 2010) apud Oliveira e Rosário (2015).

O estudo de construções, em versões mais recentes, originou-se a partir do interesse de pesquisadores cognitivistas pelas idiossincrasias da língua inglesa, destacando-se os trabalhos de Fillmore (1979) e Lakoff (1977 e 1987). Pautados na visão construcionista, pesquisadores atestaram que certas expressões idiomáticas se estruturavam da mesma forma que as construções ditas canônicas (prototípicas).

O conceito de construção tem forte compromisso com a agenda de estudos cognitivistas (pelo menos na perspectiva adotada por esta pesquisa), visto que o entendimento da língua como uma ampla rede de construções específicas interconectadas é recorrente nessas abordagens. Em outras palavras, a proposta da gramática como rede é central na pesquisa cognitivista “devido à noção chave de que a

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organização da língua não é intrinsecamente diferente da organização de outros aspectos da cognição” (TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013, p. 50).

Como forma de aprofundar a discussão sobre Gramática de Construções, apresentamos conceitos de estudiosos que são referências nessa área. Em Traugott (2008a), observamos que:

construção é uma unidade básica da língua, com forma e sentido que não são capazes de serem alcançados/entendidos apenas pelos elementos individuais que a instanciam, portanto, qualquer item linguístico pode ser considerado uma construção. (TRAUGOTT, 2008a)

Essa autora apresenta uma visão mais refinada do conceito de construção se comparado a versões anteriores, como a de Goldberg (1995), para quem construção pode ser definida da seguinte forma:

C é uma construção se e somente se C é um pareamento forma/significado <Fi, Si>, de modo que algum aspecto de Fi, ou algum aspecto de Si, não é estritamente predizível a partir de partes componentes de C ou a partir de outras construções previamente estabelecidas (GOLDBERG, 1995, p.4).

A visão defendida por Traugott (2008a) ajudou a alargar o conceito de construção que era vigente em diversos estudos (GOLDBERG, 1995), mas que estava circunscrito apenas ao âmbito da cláusula. Para a autora, então, construção poderia ser considerada como qualquer elemento linguístico, do morfema à cláusula.

Para enriquecer essa discussão, evocamos Croft (2001) que trabalha com a chamada Gramática de Construções Radical. Segundo o autor, a construção é um feixe de propriedades correlacionadas em dois eixos centrais – o da forma e o do sentido. A relação entre esses dois eixos é central à construção. O eixo da forma compreende propriedades sintáticas, morfológicas e fonológicas, ao passo que o eixo do sentido compreende propriedades semânticas, pragmáticas e discursivo-funcionais. A título de visualização, reproduzimos, aqui, o quadro de modelo de estrutura simbólica da construção radical de Croft (2001):

(41)

Quadro 4 – Modelo de estruturação simbólica da construção radical

Fonte: Croft (2001, p.18)

A visão de Croft (2001) demonstra que as propriedades ligadas à forma abrangem aspectos mais convencionais da língua, ao passo que o sentido refere-se a aspectos mais funcionais da construção.

Na seção seguinte, complementando as discussões sobre LFCU e Gramática de Construções desse capítulo, abordamos o tema da construcionalização e mudanças construcionais, que estão em franca ascensão no âmbito dos estudos desenvolvidos no funcionalismo contemporâneo.

2.3. Construcionalização e mudança construcional

A construcionalização é uma teoria de mudança linguística que parte do princípio de que a língua é organizada através de redes de pares de forma e significado (cf. TRAUGOTT e TROUSDALE, 2013, p.1). Para a agenda de estudos funcionalistas que incorporam o estudo em Gramática de Construções, o usuário entende que há esquemas disponíveis na língua que recrutam sequências de linguagem para a criação de

Referências

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