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Aspectos da justiça militar federal: singularidades do órgão julgador em 1º grau de jurisdição, do réu e do órgão acusador na justiça militar da união

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO

DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO

JOÃO ANTONIO SÁ LIMA

ASPECTOS DA JUSTIÇA MILITAR FEDERAL: SINGULARIDADES DO ÓRGÃO JULGADOR EM 1º GRAU DE JURISDIÇÃO, DO RÉU E DO ÓRGÃO ACUSADOR NA

JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO.

FORTALEZA 2006

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JOÃO ANTONIO SÁ LIMA

ASPECTOS DA JUSTIÇA MILITAR FEDERAL: SINGULARIDADES DO ÓRGÃO JULGADOR EM 1º GRAU DE JURISDIÇÃO, DO RÉU E DO ÓRGÃO ACUSADOR NA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO.

Monografia, requisito para conclusão do Curso de Bacharelado em Direito, apresentada na Universidade Federal do Ceará, sendo o autor pertencente à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, conforme convênio ANDIFES de mobilidade acadêmica.

Professor Orientador: Edmilson Francelino

FORTALEZA 2006

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À Fátima, Gabriele e Beatriz. A meus pais e toda família.

Ao Povo Brasileiro que, ainda, financia a Universidade Pública.

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AGRADECIMENTOS

A Deus.

A todos os Professores, funcionários e servidores da Universidade de Brasília – UnB, da Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal – AEUDF; da Universidade Potiguar – UnP; da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN e da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará – UFC, instituições pelas quais passei e das quais me beneficiei durante o curso.

Especialmente, ao meu Professor Orientador, Edimilson Francelino, pela generosidade e liberdade a mim conferidas.

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“é que narciso acha feio o que não é espelho” Caetano Veloso, Sampa.

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RESUMO

Compreender alguns aspectos da Justiça Militar da União é o objetivo do trabalho. Para tanto, a abordagem restringe-se a descrever as principais características dos três atores principais atuantes nessa justiça especializada: o juiz de primeiro grau de jurisdição, o réu e o acusador. Cada aspecto é tratado em capítulo distinto que se seguem a um capítulo de notas introdutórias relativa ao tema. Quanto ao primeiro aspecto, o juiz, estuda-se o escabinato, órgão colegiado misto, composto por juiz togado e juízes militares; quanto ao segundo, o réu, são vistas as hipóteses legais em que militares e civis são autores de crime militar; quanto ao terceiro, descreve-se o Ministério Público Militar, organização, estrutura e função, como acusador nesse órgão do Poder Judiciário. Baseia-se, sobretudo em pesquisa bibliográfica e legal. É descritivo. Tem relevância por abordar um campo de atuação jurídica importante e pouco compreendido, posto que pouco estudado.

Palavas-chave: Militar. Justiça Militar. Juiz Militar. Crime militar. Réu. Ministério Público Militar.

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ABSTRACT

To comprehend some aspects of the Union Military Justice is the purpose of this work. The approach restricts to describe the principal characteristics of the three mayor agents who act in this specialized justice: The First Degree Jurisdiction Judge, the accused and the Public Prosecutor. Each aspect is considered in different chapter which followed by another of introductory notes relative to the theme.As the first aspect, about the judge, we study the escabinato, Mixed Collegiate Organ, composed by: The Magistrates Judges (with toga) and the Militaries Judges; as the second agent, the accused, we’ll see the legal hypotheses where militaries and civil persons are actors of military crimes. As the third and last agent we’ll describe the Military Public Ministry and its organization, structure and function as the public prosecutor on this Judiciary Power Organ. This work is based over all on legal and bibliography researches. It has a descriptive shape and it is to relevant to approach an important and almost unknown Juridical field of actuation, once that is little studied.

Keywords: Military. Union Military Justice. Military Judge. Military crime. Accusad. Military Public Ministry.

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SUMÁRIO

1 Introdução... 8

2 Noções introdutórias... 11

2.1 Introdução... 11

2.2 Direito Penal Militar como campo especializado do direito...11

2.3 O contexto de aplicação do Direito Militar e a importância de sua Justiça...13

2.4 Abordagem com base nos atores processuais... 17

2.5 Conclusão...19

3 O órgão julgador do 1º grau de jurisdição da Justiça Militar da União... 20

3.1 Introdução... 20

3.2 Breve histórico da Justiça Militar da União...20

3.3 A competência e a organização da Justiça Militar da União... 25

3.3.1 Competência... 25

3.3.2 Organização... 30

3.4 O Juiz Militar da União em 1º grau: o Escabinato...33

3.5 Conclusão...41

4 O réu na Justiça Militar da União... 42

4.1 Introdução... 42

4.2 O conceito de crime militar...42

4.3 Classificação do crime militar... 46

4.4 Sujeitos ativos do crime militar (análise do art. 9º do CPM)...50

4.5 Conclusão...59

5 O acusador na Justiça Militar da União... 60

5.1 Introdução... 60

5.2 O Ministério Público no quadro constitucional... 60

5.3 Estrutura e organização do Ministério Público Militar – MPM... 65

5.4 Funções do MPM junto à Justiça Militar da União... 70

5.5 Conclusão...74

6 Considerações finais... 75

7 Referências...78

Anexo I...83

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1 Introdução

Conhecer antes de criticar. Este é o motivo e o propósito dessa monografia que versa sobre aspectos da Justiça Militar da União1. Não se presta o trabalho a fazer juízo

valorativo a respeito dessa justiça especializada federal. O propósito é simplesmente procurar esclarecer quais são as principais características que singularizam o órgão julgador de primeiro grau de jurisdição, o réu e o acusador no âmbito dessa Justiça. São portanto, sobre esses três objetos que lançaremos vistas para estudarmos os aspectos da Justiça Militar da União. É uma tentativa de contribuir para o debate sobre esse tema pouco conhecido pelos operadores do direito e pouco debatido no mundo acadêmico.

Nesse sentido, adota-se uma abordagem descritiva, que se pretende didática. Para tanto, o trabalho estrutura-se em quatro capítulos. Um de caráter introdutório e três versando, cada qual a seu modo, sobre um dos objetos acima referidos.

O primeiro capítulo (ponto 2) tem natureza introdutória. Intitulado como noções introdutórias, procura situar a questão e justificar o estudo. São três os pontos tratados no capítulo: no primeiro será abordado o Direito Penal Militar, como campo especializado do Direito; no segundo, o contexto de aplicação desse direito e a importância da Justiça Militar da União; o terceiro, por sua vez, trata da idéia de estudar a Justiça Militar da União, alguns de seus aspectos, como base no estudo das características dos principais atores processuais que atuam nela, o juiz, o réu e o acusador. É capítulo preparatório e base para o restante do trabalho.

O segundo capítulo (ponto 3) trata das singularidades do órgão julgador de

1 É certo que há uma Justiça Militar estadual em cada estado da federação. Não se negligencia isso. Mas o trabalho terá como objeto de estudo exclusivamente a Justiça Militar da União, portanto, federal. Contudo, em algumas ocasiões, ao longo do texto, a título informativo, será feita menção à Justiça Militar estadual em nota de rodapé.

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primeiro grau de jurisdição da Justiça Milita da União. Para situar a questão, tratou-se, em primeiro lugar, de traçar um breve histórico sobre esse órgão do Poder Judiciário; em segundo lugar, da sua competência e da sua organização e, em terceiro lugar, finalmente, do juiz militar de 1º grau de jurisdição, configurado sob a forma de escabinato, ou conselhos julgadores mistos, compostos por juiz togado e por juízes leigos.

O terceiro capítulo (ponto 4) aborda o réu, sujeito ativo potencial, nos crimes de competência da Justiça Militar da União. Para esclarecer as características definidoras daqueles que se sujeitam a essa justiça, faz-se, inicialmente, um estudo do crime militar e do seu conceito, seguido de alguns critérios de classificação desse tipo penal especial para, então, atingir o objetivo central do capítulo que é saber as circunstâncias em que o militares e civis são sujeitos ativos de crime militar em tempo de paz, tendo em vista o artigo 9º do Código Penal Militar em vigor.

O quarto capítulo (ponto 5) estuda as principais características do órgão acusador no âmbito da Justiça Militar da União. O Ministério Público Militar (MPM) é o objeto central do estudo no capítulo, que tratará, primeiro, de mostrar o Ministério Público no quadro constitucional brasileiro; segundo, de descrever o MPM em termos de sua estrutura e organização institucional e, terceiro, de apresentar as principais funções que singularizam o MPM como órgão acusador perante a Justiça Militar da União.

Em cada capítulo, para efeitos didáticos, haverá uma pequena introdução e uma breve conclusão com o objetivo de interligar os assuntos. Ao final do trabalho, serão feitas algumas considerações finais em arremate. Logo após a essas considerações, consta a lista de referência dos trabalhos consultados, aos quais devotam-se os méritos e acertos do trabalho, se houver; posto que os erros e/ou equívocos são reivindicados integralmente pelo autor da monografia. Há ainda dois anexos informativos, o primeiro transcreve o quadro de círculos e

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escala hierárquica nas Forças Armadas; o segundo, mostra o rol de crimes militares relacionados no Código Penal Militar brasileiro.

A metodologia empregada foi, eminentemente, bibliográfica. Usa-se também muitas referências legais e, em menor medida jurisprudenciais. As fontes de consulta, na maioria das vezes, são indicadas em nota de rodapé, sendo que nas referências são todas listadas.

Espera-se, em vista do que será dito a seguir, ao menos, despertar no leitor a curiosidade e o interesse no estudo desse importante campo de atuação jurídica, ainda pouco conhecido, que é a Justiça Militar da União.

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2 Noções introdutórias 2.1 Introdução

Este capítulo tem natureza introdutória. Intitulado como noções introdutórias, procura situar a questão e justificar o estudo que se seguirá a ele. São três os pontos tratados no capítulo: no primeiro será abordado o Direito Penal Militar, como campo especializado do Direito; no segundo, o contexto de aplicação desse direito e a importância da Justiça Militar da União; o terceiro, por sua vez, trata da idéia de estudar a Justiça Militar da União, alguns de seus aspectos, como base no estudo das características dos principais atores processuais que atuam nela, o juiz, o réu e o acusador. É capítulo preparatório e base para o restante do trabalho.

2.2 Direito Penal Militar como campo especializado do Direito

Para permitir a vida em coletividade, o homem criou diversos objetos culturais facilitares do modo de vida gregário. Destaca-se entre esses objetos o Direito. Entendido aqui, nos termos da lição de Paulo Nader, como o “conjunto de normas de conduta social imposto coercitivamente pelo Estado, para a realização da segurança, segundo critérios de justiça”.2

Nesse sentido, resta que o Direito é instrumento de controle social. Como tal, usa-se para ordenar e organizar a sociedade de modo geral e em suas diversas dimensões e particularidades.

A sociedade é múltipla e plural. A variedade social está diretamente relacionada à pluralidade de grupos sociais distintos, cada um com suas peculiaridades, interagindo uns com os outros. Entre as muitas causas da distinção e especialização dos grupos ou categorias sociais, destaca-se a divisão do trabalho social. É em razão dela, por exemplo, que há os trabalhadores e as diversas profissões, os patrões e os mais variados empreendimentos, os

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liberais, os servidores do Estado, os Militares, os religiosos etc.

Sendo o Direito um facilitador social, como tal, desdobra-se dentro do ordenamento jurídico em diversos ramos ou campos especializados, para dar conta das diversas manifestações decorrentes da interação entre os indivíduos, seja em grupos particulares, seja em contados difusos. Assim é que, por exemplo, há o Direito Civil para regular as relações privadas dos indivíduos; há o Direito do Trabalho para as relações entre trabalhadores e empregadores; há o Direito Administrativo para as relações entre o Estado-Administração e os administrados; o Direito Penal para dar contas das relações criminosas sancionar condutas ilícitas etc. Cada um desses ramos, por sua vez, também se especializa em categorias mais específicas.

Assim, no Direito, tendo em vista às várias manifestações da vida social, destaca-se a distinção entre direito comum e direito especial. De modo que o direito comum é aquele que é aplicado a todos os indivíduos indistintamente. É o caso do Direito Civil e Penal comuns. Já o direito especial é o que se aplica apenas a determinado grupo de pessoas segundo certas características que possuem.

A nota característica da distinção do direito em especial3, comparado com o

comum, para alguns autores, está na justiça ou órgãos judiciários encarregados de aplicar a lei aos casos concretos, ou seja, aplicar o direito objetivo. Para outros, que consideram o critério do órgão judiciário insuficiente, a distinção do direito em especial, deve-se, por um lado, à sua aplicação a determinado grupo, classe ou categoria de indivíduos com características peculiares e, por outro, ao bem jurídico que procura tutelar, ou seja, às relações jurídica sobre as quais deve incidir.

3 É Célio Lobão, in LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar Atualizado. Brasília: Brasília Jurídica, 1999. pp 33-39, que explica as posições doutrinárias que classificam o Direito em especial, com base órgão aplicador do direito (entre os quais, Frederico Marques, seguido por Damásio de Jesus) e a outra que se baseia mais no grupo e no bem jurídico tutelado, à qual se inclui.

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Para os limites deste trabalho, interessam as duas correntes. Aqui tanto é importante ver o direito especial pelo lado do grupo de pessoas com características especiais a ele sujeito e pelo bem jurídico tutelado; quanto vê-lo pelo ângulo do órgão judiciário encarregado de concretizá-lo.

E o interesse mais específico, neste ponto inicial, recai sobre a diferenciação entre o Direito Penal comum e o Direito Penal Militar, como ramo especializado. Na esteira do que se disse acima, o Direito Penal Comum é o que se aplica a todos os cidadãos, como base nas leis penais e processuais comuns (Código Penal e Código Processual Penal comuns), tutelando bens jurídicos comuns que interessam a todas as pessoas e aplicado pela justiça comum. Por seu turno, o Direito Penal Militar especializa-se porque aplicado a uma certa categoria de indivíduos, segundo um Direito Penal e Processual especiais, tutelando bens jurídicos específicos e aplicado por uma justiça singular e especializada.

Como aproximação aos objetivos propostos no trabalho, veremos, no ponto seguinte, o contexto de aplicação do Direito Penal Militar, em termos da categoria de indivíduos a que se aplica, de sua legislação especial, do bem jurídico tutelado especialmente e dos órgãos judiciários encarregados de aplicá-lo.

2.3 O contexto de aplicação do Direito Militar e a importância de sua Justiça

O fundamento primeiro do Estado brasileiro, sobre o qual todo o arcabouço jurídico se constrói é, nos termos do art. 1º, I, da Constituição de 1988, é a soberania. E o Estado Soberano materializa-se, no seu poder extroverso, e se torna eficaz por meio do uso legítimo, em última instância, por meio do aparelho de violência institucionalizado, ou seja, por meio de suas forças de segurança externa e interna. Essas forças são garantidoras da realização da soberania do Estado, isto é, garantidoras da sua existência e da aplicação mesma

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do Direito regulador da sociedade. Assim, assenta-se o Estado, quanto à segurança externa, em grande medida, sobre as Forças Armadas, composta pela Marinha, Exército e Aeronáutica; e, internamente, pelos Militares dos Estados (policiais e bombeiros). Quanto às Forças Armadas, sua destinação mesma é dada pelo art. 142 da Constituição, quando trata da defesa do Estado e das instituições militares, nos seguintes termos:

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

Corrobora essa assertiva constitucional o art. 2º da Lei n. 6.880/80 (Estatuto dos Militares), assim redigido:

Art. 2º As Forças Armadas, essenciais à execução da política de segurança nacional, são constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, e destinam-se a defender a Pátria e a garantir os poderes constituídos, a lei e a ordem. São instituições nacionais, permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República e dentro dos limites da lei.

Militares são aquelas pessoas que pertencem às Forças Armadas, conforme dispõe o art. 3º da Lei n. 6.880/80 (estatuto dos militares), onde reza que “os membros das Forças Armadas, em razão de sua destinação constitucional, formam uma categoria especial de servidores da Pátria e são denominados militares”. Militares são também por disposição Constitucional “os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios” (art. 42, CF/1988). São também, no seu conjunto, as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares, por disposição do art. 4º da Lei n. 6.880/80, II, “a” e “b”, considerados reservas das Forças Armadas.

Os Militares ainda são considerados pelo ordenamento como uma categoria especial por muitas outras razões entre as quais destacam-se: estão permanentemente em

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estado de treinamento e prontidão para alguma eventual, ainda que improvável, emergência bélica, convivendo sempre com a possibilidade com a defesa material da nação até com o sacrifício da própria vida; estão sujeitos a uma vida baseada na hierarquia e na disciplina rígidas; não se beneficiam da ação de habeas corpus relativamente a punições disciplinares (art. 142, § 2º, CF/88); não têm direito à sindicalização ou à greve, bem como, enquanto no servido ativo, não podem estar filiados a partido político (art. 142, § 3º, IV e V, CF/88.

O Direito Militar volta-se, portanto, para regular as relações dentro desse importantíssimo grupo social que são os militares, se bem que vai interessar ao trabalho, exclusivamente, a categoria de Militares pertencentes às Forças Armadas4 da Marinha, do

Exército e da Aeronáutica, que vão se sujeitar à Justiça especializada de que mostraremos algumas de suas singularidades nos capítulos seguintes.

O bem jurídico tutelado pelo Direito Militar são as relações decorrentes da vida militar. Especificamente quanto ao Direito Penal Militar, tutela-se o Estado, pela preservação do bom funcionamento das Forças Armadas, que funcionam sobre os princípios da hierarquia e disciplina5. Assim, em última instância, regula o Direito Militar, em especial o penal, a

preservação da hierarquia e disciplina nos seio das Forças Armadas, como forma de garantir o desempenho de sua missão, além evidentemente, dos bens, da administração e dos serviços por conta das Forças Militares. De todo modo, registramos, com efeito, os conceitos de hierarquia e disciplina, que se verificam nos mais diversos grupos sociais, mas que no meio militar são relevantes e imprescindíveis, são dados pelo Estatuto dos Militares, Lei n. 6.880/80, como segue:

Art. 14. A hierarquia e a disciplina são a base institucional das Forças Armadas. A autoridade e a responsabilidade crescem com o grau hierárquico.

§ 1º A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas. A ordenação se faz por postos ou graduações; 4 Os militares pertencentes à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros sujeitam-se à Justiça Militar estadual. 5 Ao final, no Anexo I, encontra-s o quadro anexo a que se refere o art. 16 da lei n. 6.880/80, do qual constam

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dentro de um mesmo posto ou graduação se faz pela antigüidade no posto ou na graduação. O respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à seqüência de autoridade.

§ 2º Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam o organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo.

§ 3º A disciplina e o respeito à hierarquia devem ser mantidos em todas as circunstâncias da vida entre militares da ativa, da reserva remunerada e reformados.

A legislação básica aplicável a esse agrupamento especializado atualmente em vigor é, como suporte na Constituição Federal, o Código Penal Militar (Decreto Lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969), o Código de Processo Penal Militar ( Decreto Lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969), o Estatuto dos Militares ( Lei n. 6.880/80 de 9 de dezembro de 1980), a lei de organização judiciária da Justiça Militar da União (Lei n. 8.457, de 4 de setembro de 1992), além dos regulamentos especiais e disciplinares aplicáveis à Marinha, ao Exército e à Aeronáutica. Subsidiariamente, quando for o caso, aplicam-se-lhes as leis comuns.

Para aplicar a lei militar, no âmbito federal, ou seja, aos membros das Forças Armadas, precipuamente – além dos civis - existe uma justiça especializada que é a Justiça Militar da União, com base na Constituição (parágrafo único, do art. 124), organizada com base na Lei n. 8.457/92. No âmbito estadual a Justiça Militar é exercida como uma especialização da justiça estadual, no mais das vezes em varas especializadas. A Justiça Militar Propriamente dita, como órgão autônomo do poder Judiciário é a Justiça Militar da União. É a singularidades especificas dela que se destina o trabalho.

Nesse sentido, para ilustrar, diga-se que a vida militar requer uma justiça especializada que, como veremos, é composta, também por juízes militares leigos capazes de compreender melhor a vida castrense, bem assim melhor aplicar o direito; serve, desse modo, à preservação da soberania. Alem disso, como ramo particular do Poder Judiciário, como informa Alexander Perazo, destacam-se as seguintes características importantes:

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a) a especialidade, pois sua competência é para julgar crimes militares, assim definidos em lei;

b) a rapidez com que seus casos são julgados, não perdendo os princípios da hierarquia e disciplina, inerentes à caserna;

c) a mobilidade da justiça castrense, assim chamada porque derivada do vocábulo

castrensis, ou seja, relativo a acampamento, pois deve a Justiça Militar acompanhar,

na retaguarda, seus Exércitos, apurando e punindo de imediato seus membros recalcitrantes.6

O objeto central deste trabalho é relatar singularidades da Justiça Militar da União, com base em alguns caracteres que singulares os principais atores processuais que atual nela. Antes, porém, no ponto seguinte, como veremos aspectos singulares dessa Justiça, com base nos atores processuais principais.

2.4 Abordagem com base nos atores processuais

A monografia versa sobre características da Justiça Militar da União. Desse tema amplo, optou-se por estudá-lo por meio dos principais sujeitos processuais que atuam nela. É dizer, apresentar uma visão da Justiça Militar da União com base nas singularidades do julgador de primeiro grau de jurisdição, do réu e do órgão acusador.

A idéia dessa abordagem tem em vista, em termos gerais, conhecer melhor essa importante justiça especializada, e, em termos práticos, conhecer os atores processuais centrais responsáveis pela realização do Direito Militar. Pelas características dos sujeitos processuais é possível uma visão minimamente esclarecedora desse órgão de jurisdição especial.

É que o processo é instrumento de realização do direito material. Ele se desenvolve por meio da relação jurídica processual, isto é, da atividade jurisdicional quando a solução de um conflito social não é possível seja porque as partes não querem ou não conseguem sozinhas. E o processo, como afirma Fernando Capez, “pressupõe ao menos a

6 CARVALHO, Alexander Perazo Nunes de. Pequena introdução ao estudo da Justiça Militar da União:

importância, funcionamento e seus efeitos atuais. Revista do Superior Tribunal Militar, Brasília, v. 19/20, p.

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existência de três sujeitos: ordinariamente as partes da relação material (...) e o juiz, que as substituindo, aplica à vida o direito substancial”.7 As partes no Processo Penal comum ou no

Processo Penal Militar são o réu, suposto autor de um crime militar, e o acusador, órgão do Ministério Público com atribuição para aturar nessa justiça.

Certo é que no Processo atuam vários sujeitos, mas os principais são o juiz o réu e o acusador. O juiz, a rigor não é parte no processo. Ele é o agente por meio do qual o Estado atual pondo em prática a sua função jurisdicional. É, assim, o agente estatal dotado prerrogativas especiais, que substitui por meio de uma sentença (decisão) as vontades das partes em conflito. Para tanto, detém o juiz poderes tanto de polícia administrativa, quando gerencia o processo e os serviços do foro, no sentido de a ordem e a regularidade dos trabalhos; quanto, principalmente, o poder jurisdicional para impulsionar o processo por meio de atos ordinatórios e instrutórios, bem assim, sobretudo, quando decide o mérito de uma causa, isto é, sentencia, e executa essa decisão, submetendo as partes a ela. O capítulo 2 tratará das singularidades do órgão julgador de primeiro grau de jurisdição da Justiça Militar da União.

O réu é, também, sujeito processual principal. No Processo Penal, no contexto da Justiça Militar da União, ele é quem sofre a ação estatal de pretensão punitiva. É ele o sujeito passivo da ação. Sobre o réu recai a decisão judicial, principalmente. Para ser réu, sujeito passivo no processo, necessário se faz que tenha, em tese, por meio de indícios suficientes, perpetrado algum delito e preencha certos requisitos legais, tais como a capacidade de ser parte (legitimidade) ou não esteja imune à ação punitiva do Estado. O capítulo 3 abordará os sujeitos passivos potenciais submetidos á Justiça Militar da União. Nesse ponto, com base no conceito e classificação do crime militar, serão vistas as hipóteses em que o crime militar é cometido, propriamente, por militar e, impropriamente, por civis.

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O Ministério Público, como instituição permanente e essencial á função jurisdicional do Estado é, no polo oposto ao do réu, ator principal de atuação processual. É o Ministério Público o órgão estatal acusador. É a instituição pública que representa o Estado-Administração no domínio da ação penal, materializada em uma denúncia, com o objetivo de levar a termo a pretensão punitiva solicitada ao Estado-Juiz. O capítulo 4 tratará de algumas características que singularizam o Ministério Público Militar (MPM) como órgão acusador no contexto da Justiça Militar da União.

É, portanto, assim, com base nesses atores processuais principais, tendo em vista algumas de suas singularidades, que veremos alguns aspectos da Justiça Militar da União.

2.5 Conclusão

Vimos neste capítulo introdutório que o Direito Militar se diferencia do Direito Comum, que se aplica a todos os cidadãos, porque aplicado a uma certa categoria de indivíduos, segundo um Direito Penal e Processual especiais, tutelando bens jurídicos específicos e aplicado por uma justiça singular e especializada. Além disso, registrou-se que a vida militar, no contexto da Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) é uma atividade especializada e fundamental para o Estado brasileiro, razão pela qual toma relevo e importância a Justiça Militar da União. Esta, como se sugere, pode ser estudada em alguns de seus aspectos, com base nos principais atores processuais que nela atuam, o juiz de 1º de grau, o réu e o acusador. As características que singularizam o juiz de primeiro grau de jurisdição dessa instituição é o que será visto no próximo capítulo.

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3 O órgão julgador do 1º grau de jurisdição da Justiça Militar da União 3.1 Introdução

O capítulo trata das singularidades do órgão julgador de primeiro grau de jurisdição da Justiça Milita da União. Para situar a questão, tratou-se, em primeiro lugar, de traçar um breve histórico sobre esse órgão do Poder Judiciário; em segundo lugar, da sua competência e da sua organização e, em terceiro lugar, finalmente, do juiz militar de 1º grau de jurisdição, configurado sob a forma de escabinato, ou conselhos julgadores mistos, compostos por juiz togado e por juízes leigos.

3.2 Breve histórico da Justiça Militar da União

Sabido é que o Direito é objeto cultural caracterizador mesmo das sociedades que alcançaram um certo grau de especialização e de organização. É plenamente acertada a conhecida afirmação de que “onde há sociedade, há, com certeza, o Direito”. Logicamente, havendo o Direito, necessariamente haverá um órgão (pessoa ou instituição) encarregado de fazer sua aplicação. Não fosse assim, perderia o Direito, como conjunto normativo organizador e limitador da vida em sociedade, sua finalidade, tanto na sua dimensão geral, quanto nos seus ramos especializados.

Nesse sentido, o Direito Militar, como ramo especializado do Direito, tem história própria. Essa história reflete a sua construção tanto em sentido normativo, quanto em relação às instituições encarregadas de aplicá-lo. Loureiro Neto diz que já “há evidências históricas da existência de delitos militares entre os povos civilizados da antigüidade como Ìndia, Atenas, Pérsia, Macedônia e Catargo”, mas foi com Roma que o Direito Militar – com ele seus órgãos de aplicação – ganhou relevo próprio. Divide o ilustre autor (com base em GUSMÃO, 1915:223) a evolução histórica do Direito Militar nesse contexto romano em

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quatro fases:

a) Época dos Reis, em que os soberanos concentravam em suas mãos todos os poderes, inclusive o de julgar.

b) segunda fase, em que a justiça militar era exercida pelos Cônsules, como poderes de imperium majus. Abaixo dele, havia o Tribuno militar, que possuía o chamado

imperim militae, que simbolizava a dupla reunião da justiça e do comando.

c) Terceira fase, época de Augusto, em que a justiça militar era exercida pelos prefeitos do pretório, com jurisdição muito ampla.

d) Quarta fase, época de Constantino, em que foi instituído o Consilium, com a função de assistir o juiz militar. Sua opinião era apenas consultiva.8

É razoável supor que a proeminência dos Direito Militar, sobretudo, a partir das instituições romanas, seja diretamente proporcional à ampliação da conjuntura belicista da época. É que a categoria dos guerreiros era fundamental para as ambições imperiais. Logo, para essa atividade importantíssima, haveria de ter uma legislação específica a ser aplicada.

Foi, então, na Idade Moderna, tendo a Revolução Francesa como marco, que os princípios da jurisdição militar moderna foram estabelecidos. Fase em que, livrando-se dos laços feudais da Idade Média, o foro privilegiado militar restringe-se em razão de certas pessoas e certas matérias verdadeiramente afetas à sociedade castrense.

Entre nós, a Justiça Militar tem origem na justiça militar portuguesa. Teve a Justiça Militar o privilégio de contar com o primeiro órgão com jurisdição nacional, abarcando todo o território do Império. Esse órgão foi o Conselho Supremo Militar, criado por ato do príncipe regente, D. João VI, por meio do Alvará de 1º de abril de 1808. Esse Conselho foi o embrião do atual Superior Tribunal Militar.

Nessa linha, o desenrolar histórico da Justiça Militar da União pode ser vislumbrado a partir dos marcos constitucionais brasileiros9, partindo-se da constituição

imperial de 1824 até a atual Carta Política de 1988.

8 LOUREIRO, José da Silva Neto. Direito Penal Militar. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 19.

9 A abordagem que segue tem por base o trabalho de: MENNA BARRETO, Bruno Ocampo. A Justiça Militar

da União: a importância de sua existência, o seu funcionamento e seus efeitos atuais. Revista do Superior Tribunal Militar, Brasília, v. 19/20, p. 107-121, 1997/1998.

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A Constituição do Império de 1824 incluiu o Poder Judiciário como um dos quatro poderes do Estado, ao lado do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do Poder Moderador. Não há, nessa Carta, enumeração dos órgãos componentes do Poder Judiciário (chamado Poder Judicial). Não há nela também referência a foro especial para os militares. A Justiça Militar é, assim, desde 1808, de natureza eminentemente administrativa.

Veio a República. Com ela, a Constituição de 1891. Essa Constituição abandona a excrescência do Poder Moderador, adotando o modelo tripartite das funções do poder estatal. Ao lado do Executivo e do Legislativo, o Judiciário foi verdadeiramente institucionalizado no Brasil, ocasião em que obtém grande autonomia. É dessa época a criação do Supremo Tribunal Federal. Ainda assim, a Justiça Militar não é incluída como órgão do Poder Judiciário, continuando a ser órgão de jurisdição administrativa apenas. Mesmo assim, sob essa Constituição, por meio do Decreto Legislativo de 18 de junho de 1893, foi criado o Supremo Tribunal Militar, como o conselho supremo militar e de justiça, em substituição àquele Conselho imperial criado em 1808, sendo que os seus membros, à essa época, foram todos mantidos em seus cargos. Contudo, a Carta de 1891 assegurou foro especial por prerrogativa de função aos militares.

Foi a Constituição de 1934 que, apesar de não ter saído do papel, inovou bastante quanto à Justiça Militar da União. Por meio dela, a Justiça Militar passou efetivamente a pertencer ao Poder Judiciário, deixando, assim, de ser mero órgão judicante administrativo. No entanto, mantém praticamente intactas as suas funções já existentes desde 1808.

Por seu turno, a Constituição de 1937, de viés autoritário, imposta por Getúlio Vargas, manteve a configuração da Justiça Militar como se achava na Carta de 1934. Não inovou, portanto, nessa matéria.

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linhas gerais, manteve as disposições das duas últimas que lhe antecederam. Entretanto, trouxe algumas importantes inovações. Primeiramente, muda o nome do Supremo Tribunal Militar para Superior Tribunal Militar, mantido até hoje. Depois, atribuiu ao legislador ordinário a competência para dispor sobre a organização judiciária militar, sobre o número e a forma de escolha dos Ministros do STM. Também, além de ter ampliado a garantia da inamovibilidade aos juízes militares, equiparou seus vencimentos aos dos juízes federais. Quanto à competência, na aplicação do foro militar aos civis, essa Constituição aboliu a possibilidade de julgamento destes nas zonas de operações bélicas. Outrossim, manteve a competência da Justiça Militar para julgar civis por crimes praticados contra as instituições militares ou contra a segurança externa do País.

Vieram os episódios “revolucionários” de 1964 que elevaram os militares ao mais alto protagonismo social e político do Brasil. Ainda sob a égide do regime da Constituição de 1946, foi instituído o Ato Institucional n. 2, de outubro de 1965, pelo qual é ampliada a competência da Justiça Militar para processar e julgar civis autores de crimes contra a segurança nacional interna e externa. Esse fato, somado à ampliação competencial da Justiça Militar para processar e julgar os crimes contra o Estado e contra a ordem política, dada pela Lei n. 1.802/1953, colocou a justiça castrense como um dos órgãos judicantes mais importantes do País, nessa época.

A carta ditatorial de 1967 pouco acrescentou à configuração da Justiça Militar da União, senão para incluir um privilégio. Pois permitiu, pela primeira vez, a admissibilidade de Recurso Ordinário ao STF, nos casos expressos em lei, contra decisões da Justiça Militar, proferidas contra Governador ou Secretário de estado.

A Constituição de 1967 sofreu as alterações decorrentes da Emenda Constitucional de 1969 – que, para muitos, tratou-se de nova Constituição. Quanto à Justiça

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Militar da União praticamente não inovou. Mas foi por seu intermédio que dotou de competência a Justiça Estadual10 para processar e julgar, em foro militar, em simetria com a

legislação material e processual usada na Justiça Militar Federal, os policiais e bombeiros militares, nos crimes militares definidos em lei.

Atualmente, a Justiça Militar da União, como órgão judicante goza de plena autonomia e tem jurisdição em todo território nacional. Está prevista como órgão do Poder Judiciário nos artigos 92, IV e nos artigos 122 ao 124, compondo a Seção VII, do Capítulo III, do Título IV,da Constituição Federal de 198811. A competência constitucional e a

configuração organizacional infraconstitucional da Justiça Militar da União será vista no próximo tópico.

10 Como o nosso propósito é examinar apenas aspectos da Justiça Militar da União, ao longo do texto, algumas considerações relativamente à Justiça Militar Estadual, quando for necessário, serão feitas em notas de rodapé.

11 Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: (...)

VI - os Tribunais e Juízes Militares; (...)

Art. 122. São órgãos da Justiça Militar: I - o Superior Tribunal Militar;

II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.

Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis.

Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:

I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional;

II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público da Justiça Militar. Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.

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3.3 A competência e a organização da Justiça Militar da União 3.3.1 Competência

É o Poder Judiciário, o poder-função do Estado, que desempenha a função de jurisdição. Esta é, de modo amplo, o poder das autoridades judiciárias, consitucionalmente investidas, de dizer o direito, isto é, de aplicá-lo aos casos concretos, pacificando os conflitos caracterizados, via de regra, por um pretensão resistida.

Neste sentido, a jurisdição é uma função estatal. É dizer, é do Estado a função de dizer o direito, que se expressa por meio dos órgãos do judiciários. Contudo, por ser ampla e complexa, para facilitar sua aplicação, faz-se uma divisão de trabalho, de modo que o poder de julgar seja distribuído, primeiramente pela Constituição e, depois, pelas leis, aos vários órgãos do Poder Judiciário.

Dependendo da natureza do litígio, ou do conflito social, submetido à jurisdição, a causa pode ser penal, administrativa, eleitoral, trabalhista ou militar. Sendo que dentro dessas matérias a outras subdivisões menores. A esse conjunto de subdivisões racionalizadoras da função jurisdicional do Estado dá-se o nome de Competência.

Assim, na letra de MIRABTE, tem-se que “competência é, assim, a medida e o limite da jurisdição”12. Ou seja, quanto se estabelece competências o que se faz é dividir o

trabalho da função jurisdicional, de modo a garantir-lhe racionalidade e eficiência, dando conta das inúmeras especialidades no campo do Direito. Daí porque para atender aos conflitos no âmbito do Direito e da vida militar é que existe uma Justiça Militar especializada com sua competência própria.

No contexto da Justiça Militar da União, como vimos, sua história marca-se pelo processo de sua inclusão ao Poder Judiciário, deixando de ser uma função administrativa, e

12 MIRABETE, Julio Fabrine. Código de Processo Penal Interpretado. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 269-270.

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pela modificação de sua competência. Esse processo, em grande medida, relaciona-se ao protagonismo militar na cena política brasileira. De sorte que, conforme o poder político dos militares se acentua, mais importante torna-se a jurisdição militar e mais ampla, a sua competência. É de se presumir que uma vez relativizado o poder político das Forças Armadas, seja restringido o escopo competencial da Justiça Militar.

Mesmo depois do advento da Constituição Federal de 1988, persistiu uma polêmica sobre a competência da Justiça Militar para apreciar os crimes contra a segurança nacional, de natureza política, definidos na Lei de Segurança Nacional (Lei n. 7.170, de 14/02/1983). conforme expõe o ex-Procurador-Geral da Justiça Militar, Milton Menezes da Costa Filho, “houve quem entendesse, por meio de uma interpretação diferente do inciso IV, do art. 109, da CF/1988, que dispõe sobre a competência dos juízes federais, ressalvando a competência da Justiça Militar do alcance deles, que ficara mantida a competência da Justiça Castrense para os casos da Lei de Segurança Nacional”13. Todavia, face a uma interpretação

sistemática da Constituição, não havia de prevalecer essa visão.

É que a Constituição de 1988 foi ela mesma um marco de ruptura histórica com o regime autoritário militar inaugurado em 1964. Se antes, na ditadura militar, havia sido ampliada a competência da Justiça Militar; com a nova Carta democrática, a lógica indicava para a restrição da abrangência dessa competência.

Foi o que ocorreu. A Constituição atual restringiu, limitou a competência da Justiça Militar da União14 para restringi-la ao essencial dessa justiça especializada. Conforme 13 COSTA FILHO, Milton Menezes da. A justiça militar e o Ministério Público Militar no Brasil em face da

Constituição Federal. Boletim de Serviço [do MPM], Brasília, n. 46, nov. 1991. Suplemento.

14 Por seu turno, a Justiça Militar dos estados é competente para julgar apenas os “militares dos estados” (policiais e bombeiros militares) nos crimes militares e, depois da ampliação competencial dada pela Emenda Constitucional n. 45/04, “as ações judiciais contra atos discipilnares militares”. Excetuam-se, expressamente, da competência dessa justiça os crimes dolosos contra a vida de civil, que são da alçada do Tribunal do Juri. (cf. § 4º do art. 125, da CF/88). Conforme a Lei Estadual n. 12.342, de 03/08/94, que institui o Códido de Divisão e de Organização Judiciária do Estado do Ceará, art. 96, “a” e “b”, compete à Justiça Militar, por seus órgãos: “a) processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares definidos em lei”, e “b) cumprir as precatórias expedidas pela Justiça Militar de outros Estados da Federação, bem

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dispõe o artigo 124 da Constituição, “à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.”. Nem mais, nem menos. E a lei a que se refere o dispositivo constitucional é basicamente o Código Penal Militar, Decreto-Lei n. 1.001, de 21.10.1969, recepcionado pela Constituição. Portanto, em regra, a Justiça Militar da União é competente para processar e julgar os crimes militares consoantes definidos pelo Código Penal Militar.

Vê-se, como isso, que a competência da Justiça Militar é, antes de tudo, de natureza penal. Não cabe a ela adentrar e conhecer de outras questões, sobretudo, as de natureza cíveis, pelo menos até a efetivação da segunda etapa da reforma do Judiciário que não coube na Emenda Constitucional n. 45, de 2004.

No entanto – ao par do ocorrido no âmbito das Justiças Militares estaduais referida na nota de rodapé n. 14 – na segunda parte da reforma do Judiciário, já aprovada no Senado Federal e devolvida para apreciação na Câmara do Deputados, a Justiça Militar Federal também sofrerá alterações. Pelo texto que voltou à Câmara, propõe-se, em suma, a redução do número de Ministros do Superior Tribunal Militar para 11, com ampliação da proporção de civis em relação aos militares; não altera o nome do juiz-auditor para juiz de direito, nem lhe dá a presidência dos Conselhos como ocorreu na Justiça Estadual; a competência da Justiça Militar Federal é mantida para o processamento dos crimes militares definidos em lei, sejam quais forem autores ou vítima. Mas a principal proposta de alteração diz respeito a ampliação da competência da Justiça Militar Federal para abarcar o controle judicial sobre as punições militares. Significa isso, em simetria com a parte da reforma que atingiu a Justiça Militar dos estados, que também, no nível federal, será a Justiça Militar competente para julgar as ações judiciais contra atos disciplinares.

Ainda quanto à competência, é importante registrar a polêmica em torno da Lei n. 9.299/96, que transferia, mediante alteração no Código Penal Militar (art.) e no Código de

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Processo Penal Militar (art. ), à Justiça Comum, ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes dolosos contra a vida – mesmo definidos em lei como crimes militares, v.g. art. 205, do CPM (homicídio) – se a vítima for civil.

Antes da EC/45, contrariamente a muitas organizações da sociedade civil defensoras dos Direitos Humanos, doutrinadores de alta conta15, com razão, manifestavam-se

pela inconstitucionalidade da referida lei, vez que é inadmissível, por meio de lei ordinária, alterar competência jurisdicional firmada na Constituição, como é o caso da competência da Justiça Militar Federal. Assim, tratou-se de um erro de técnica legislativa. Pois para atingir a essa finalidade de levar à Justiça Comum e ao Tribunal do Júri os crimes dolosos contra a vida de civis, praticados por militar, no exercício de sua função; bastaria dizer na Lei que tais e quais crimes, descritos na lei penal militar, perderiam tal qualificação caso a vítima fosse civil. Desta forma ter-se-ia evitado a inconstitucionalidade da Lei.

Tal controvérsia chegou ao Supremo Tribunal Federal, em sede de Recurso Extraordinário, que, dando interpretação conforme a Constituição à Lei 9.299/96, pronunciou-se nos pronunciou-seguintes termos:

No artigo 9º do Código Penal Militar que define quais são os crimes que, em tempo de paz, se consideram como militares, foi inserido pela Lei nº 9.299, de 7 de agosto de 1996, um parágrafo único que determina que ‘os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum’. Ora, tendo sido inserido esse parágrafo único em artigo do Código Penal Militar que define os crimes militares em tempo de paz, e sendo preceito de exegese (assim, Carlos Maximiliano, ‘Hermenêutica e Aplicação do Direito’, 9ª ed., nº 367, ps. 308/309, Forense, Rio de Janeiro, 1979, invocando o apoio de Willoughby) o de que ‘sempre que for possível sem fazer demasiada violência às palavras, interprete-se a linguagem da lei com reservas tais que se torne constitucional a medida que ela institui, ou disciplina’, não há demasia alguma em se interpretar, não obstante sua forma imperfeita, que ele, ao declarar, em caráter de exceção, que todos os crimes de que trata o artigo 9º do Código Penal Militar, quando dolosos contra a vida praticados contra civil, são da competência da justiça comum, os teve, implicitamente, como excluídos do rol dos crimes considerados como militares por esse dispositivo penal, compatibilizando-se assim com o disposto no caput do artigo 124 da Constituição Federal. Corrobora essa interpretação a circunstância de que, nessa mesma Lei 9.299/96, em seu artigo 2º, se modifica o caput do artigo 82 do Código de Processo Penal Militar e se acrescenta a ele um § 2º, excetuando-se do foro militar, que é especial, as pessoas a ele sujeitas quando se tratar de crime doloso contra a vida 15 Cf. LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar Atualizado. Brasília: Brasília Jurídica, 1999. pp. 111-112.

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em que a vítima seja civil, e estabelecendo-se que nesses crimes 'a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum'. Não é admissível que se tenha pretendido, na mesma lei, estabelecer a mesma competência em dispositivo de um Código — o Penal Militar — que não é o próprio para isso e noutro de outro Código — o de Processo Penal Militar — que para isso é o adequado." (RE

260.404, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 21/11/03).

Com o advento da EC/45, ainda que não tenha adentrado à seara da Justiça Militar da União, foi dada nova redação ao parágrafo 4º, do art. 125, da CF/1988. Dispondo sobre a competência da Justiça Militar estadual, faz ressalva expressa à competência do Júri quando a vítima for civil, obviamente, quando o crime for doloso contra a vida. Parece claro que se fizer uma interpretação abrangente da Constituição, tendo em conta o pronunciamento do supremo sobre a constitucionalidade da Lei n. 9.299/96, como visto acima, nesse aspecto, já se operou alteração da competência da Justiça Militar da União. Sendo assim, doravante, os crimes dolosos contra vida cometidos por militar, ainda que previstos na lei penal militar serão processados e julgados pelo Tribunal do Júri. No entanto, ressalte-se que se a vítima for militar, prevalecera a competência da Justiça Militar.

Por fim, quanto à competência, uma nota sobre os crimes militares de menor potencial ofensivo. Tais crimes não existem para a Justiça Militar. Pois não se aplica aos crimes militares a Lei n. 9.099/95 (Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências), por força do art. 90-A, onde reza que “ as disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar; nem a Lei n. 10.259/01 (Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal), à qual se aplica o procedimento da Lei n. 9.099/95. Assim, mesmo que exista crime militar, com pena máxima cominada até 2 anos, é o caso, por exemplo do crime do art. 195 do CPM (abandono de posto), cuja pena máxima do tipo é de detenção de 3 meses a 1 ano, não se aplica, no âmbito da justiça castrense, o rito das leis dos juizados especiais.

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3.3.2 Organização

Como bem diz Andréa Tosca, “a justiça castrense não pode ser confundida como órgão das forças armadas.” Ao contrário, acentua ela, a Justiça Militar “constitui uma ordem jurídica particular dentro da ordem jurídica geral do Estado.”16 Esta posição é, de fato,

condizente com o ordenamento jurídico brasileiro.

Nesse aspecto da organização judiciária, é a Constituição que dá as diretrizes principais. Afirma a Carta, no art. 92, inciso IV, que são órgãos do Poder Judiciário os “tribunais e juízes militares”. Diz ainda a Constituição, no art. 124, parágrafo único, que “lei disporá sobre a organização, funcionamento e competência da Justiça Militar”.

Em decorrência da ordem constitucional, a lei que, atualmente, organiza a Justiça Militar da União17 e regula o funcionamento dos seus serviços auxiliares é a Lei n.

8.457, de 4 de setembro de 1992. Além dela, há vários dispositivos do Código de Processo Penal Militar, Decreto Lei n. 1.002, de 21 de outubro de 1969.

Da análise da Lei n. 8457/92, sobretudo, quanto aos órgãos componentes dessa justiça especializada, vê-se, à luz do art. 1º, que são 4 os órgãos da Justiça Militar da União: O Superior Tribunal Militar, a Auditoria de Correição, os Conselhos de Justiça e os Juízes-Auditores (titulares e substitutos).

O Superior Tribunal Militar (STM) é o órgão de cúpula da Justiça Militar Federal. Tem sede em Brasília e jurisdição em todo o território nacional. A sua composição é

16 “TOSCA, Andréa Fernanda. A Justiça Militar da União: a importância de sua existência, seu

funcionamento e seus efeitos atuais. Revista do Superior Tribunal Militar, Brasília, v. 19/20, p. 123-143,

1997/1998.

17 Em consonância com o comando do § 3º do art. 125 da Constituição Federal, a Constituição do Estado do Ceará, no art. 123, incisos I e II, diz que a Justiça Militar estadual é composta, em primeiro grau, da Auditoria e Conselho de Justiça Militar, e, em segundo grau, pelo Tribunal de Justiça. Nesse mesmo sentido é o que diz art. 93, “a” e “b”, da Lei Estadual n. 12.342, de 03/08/94, que institui o Código de Divisão e de Organização Judiciária do Estado do Ceará, sendo que a Auditoria da Militar é prevista como órgão do Poder Judiciário local no inciso VI do art. 3º da referida lei.

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dada pelo art. 12318 da Constituição, reafirmada pelo art. 3º da Lei n. 8.457/92. É o órgão de

segunda instância da Justiça Militar. Além de se constituir em instância recursal, tem competência originária para diversas matérias, entre as quais prepondera a competência para processar e julgar, originariamente, os oficiais-generais das Forças Armadas, nos crimes militares definidos em lei. O rol completo das atribuições do STM está disposto nos artigos 6º, 7º e 8º da Lei n. 8.457/92.

Os órgãos de primeira instância da Justiça Militar estão descritos nos artigos 11 ao 31, título IV, da Lei 8.457/92. Tais órgãos são a Auditoria de Correição, as Auditorias da Justiça Militar e os Conselhos de Justiça. É no âmbito das Auditorias que funcionam os Juízes-Auditores.

A Auditoria de Correição, embora referida na lei como órgão de primeira instância é, na realidade, órgão de natureza superior. É exercida pelo Juiz-Corregedor, com jurisdição em todo o território nacional (art. 12). A sua natureza superior é caracterizada, especialmente, por ser a Auditoria de Correição órgão de fiscalização e de orientação judiciário-administrativa (art. 13). Suas atribuições são pois voltadas para o próprio funcionamento da Justiça Militar da União. Prima pelo bom desempenho dessa justiça. Não exerce propriamente a função jurisdicional. É composta pelo Juiz-Auditor Corregedor, cuja competência está elencada no art. 14, da Lei n. 8.457/92, além de um diretor de secretaria e servidores auxiliares.

O foro militar de primeira instância, os órgãos judicantes propriamente ditos

18 “Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis.

Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:

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funcionam nas Auditorias da Justiça Militar. Essas auditorias, comparando, equivalem às varas (criminais) da justiça comum. Seria o caso de dizer que as Auditorias da Justiça Militar são as varas dessa justiça. As auditorias estão distribuídas de acordo com a divisão da jurisdição da Justiça Militar no território nacional em 12 Circunscrições Judiciárias Militares, consoante dispõe o art. 2º da Lei n. 8.457/92:

Art. 2° Para efeito de administração da Justiça Militar em tempo de paz, o território nacional divide-se em doze Circunscrições Judiciárias Militares, abrangendo: a) a 1ª - Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo;

b) a 2ª - Estado de São Paulo;

c) a 3ª - Estado do Rio Grande do Sul; d) a 4ª - Estado de Minas Gerais;

e) a 5ª - Estados do Paraná e Santa Catarina; f) a 6ª - Estados da Bahia e Sergipe;

g) a 7ª - Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas; h) a 8ª - Estados do Pará, Amapá e Maranhão;

i) a 9ª - Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso; j) a 10ª - Estados do Ceará e Piauí;

l) a 11ª - Distrito Federal e Estados de Goiás e Tocantins; m) a 12ª - Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia.

Assim, a cada circunscrição judiciária militar corresponderá uma auditoria, na qual exercerá sua competência, exceção feita à primeira circunscrição que conta com seis auditorias; à segunda, com duas e à terceira, com três. A explicação para essas exceções é que as regiões compreendidas pelas primeira, segunda e terceira circunscrições comportam os maiores contingentes militares, daí porque contam com mais auditorias.

Conforme dispõe o art. 15 da Lei n. 8.457, cada Auditoria conta com um Juiz-Auditor e um Juiz-Juiz-Auditor substituto, além de um diretor de secretaria, dois oficias de justiça avaliadores e demais servidores auxiliares. É na Auditoria que o Juiz Militar de primeira instância exerce seu mister. Esse juiz funciona em termos de um colegiado misto, chamado escabinato, cuja singularidade, objeto principal destes capítulo, será vista no próximo tópico.

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3.4 O Juiz Militar da União em 1º grau: o Escabinato

Antes de adentrarmos às singularidades do Escabinato, como órgão julgador de 1º grau de jurisdição militar, cabe uma breve palavra sobre o princípio do juiz natural, base para a observância do princípio constitucional do devido processo legal. Para tanto, nos valemos das palavras do Professor Francisco Dirceu Barros. Diz ele:

Entende-se por juiz natural ou constitucional o órgão do Estado que, por previsão constitucional, esteja investido de jurisdição e que exerça este poder de julgar dentro das atribuições fixadas por lei, segundo prescrições constitucionais. Portanto, para que um órgão se eleve à categoria de juiz natural, podendo assim exercer validamente a função jurisdicional, necessário se toma que este poder de julgar esteja previsto na Magna Carta.19

É dizer, é juiz natural aquele com previsão constitucional, de modo que o autor de um ilícito só pode ser processado e julgado por um juiz regularmente investido nas suas funções, com competências e atribuições prévias. Abarca o princípio do juiz natural a obediência ao preceito de que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” (art. 5º, inc. LIII, CF/88) e de que “não haverá juízo ou tribunal de exceção” (art. 5º, inc. XXXVII, CF/88).

O juiz militar de que tratamos enquadra-se no princípio do juiz natural. Tem previsão constitucional no art. 122, onde elenca como órgãos da Justiça Militar o STM, os Tribunais e Juízes militares instituídos por lei. Os juízes militares de que fala a Constituição funcionam conforme as disposições da Lei n. 8.457/92 e do Código de Processo Penal Militar. Uma primeira singularidade desse juiz já aparece no seu conceito dado pelo § 1º do art. 36 do CPPM, segundo o qual “sempre que este código se refere a juiz abrange, nesta denominação quaisquer autoridades judiciárias, singulares ou colegiadas, no exercício das

19 BARROS, Francisco Dirceu. Direito Processual Penal: teoria, jurisprudência e mais de 1.000 questões

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respectivas competências atributivas ou processuais.”

Seguindo a essa conceituação do CPPM, focaremos agora as singularidades principais desse julgador militar de 1º grau, cujo traço principal é manifestar-se sob a forma de Escabinato ou colegiado jurisdicional misto, cujos conceito, origem histórica, ocorrência em outros Estados e vantagens são muito bem mostradas pelo Ministro Jorge Alberto Romeiro, em seu discurso de posse como ministro do STM, em 1979. Dizia ele da honra de participar como juiz

em um tribunal, raro no Brasil, mas bastante comum na maioria dos países civilizados, refletindo as tendências contemporâneas de organização judiciária: - O escabinato ou escabinado, tribunal colegiado misto, composto por juízes togados e laicos – o Richter ohno Rab, o juiz sem toga, no jargão dos processualistas germânicos.

No mosaico da Organização Judiciária dos Povos cultos, o colorido desse tipo de tribunal não tinge, apenas, a limitada área das justiças especializadas, como a militar, o marítima administrativa, a trabalhista, etc. Ostenta-se como um back-ground, envolvendo a justiça comum, notadamente no campo penal.

Depara-se, assim, o escabinato nas Cortes Regionais e Locais alemãs, as primeiras correspondentes aso nossos Tribunais de justiça estadual, respectivamente, no Schwurgericht e no Schöffengericht.

Nas corte d'Assisse francesas, copiadas pela Bélgica e por vários Cantões Suíços, como os de Berna, Neuchâtel e Vald.

Nas Corte d'Assisse italianas.

Nos Tribunais do Povo, russos, onde impera o chamado escabinato bi-sexual pela exigência da presença de mulheres entre os juízes leigos, exigência essa que vem ganhando terreno na Grã Bretanha e nos Estados Unidos, em se tratando de Tribunais de Menores.

(...)

De origem polêmica, vislumbrado, por alguns, no colégio de Rachimburgos da época Merovíngia; por outros, no Tribunal de Escabinos, - daí a denominação escabinato – instalados, com a grande reforma judiciária, empreendida, no século VIII, pelo Imperador Carlos Magno; e entendido, por uns poucos, como instituição moderna, criada, neste século, por juristas italianos; - centenas de estudos e publicações vêm proclamando, na literatura jurídica estrangeira contemporânea, as excelências desse tipo de Tribunal.

Assegurando o concurso das mais variadas classes sociais nas decisões do Poder Judiciário, permite o escabinato que elas possam refletir melhor e democraticamente, acima de tecnicismos jurídicos, a consciência coletiva do povo a respeito do justo e do injusto.”

(...)

Essas indiscutíveis vantagens dos colegiados mistos no julgamento de causas penais, pela contribuição psicológica, ética, social e política de juízes não diplomados em

(36)

Direito.20

Entre nós, não é novidade o juiz sob a forma de escabinato. A Justiça Militar, embora administrativa já se configurava sob a forma de escabinato, desde o Regulamento Processual de 16 de julho de 1985. Esse instituto previa que a Justiça Militar era administrada por três conselhos: o conselho de investigação, o conselho de guerra e o Supremo tribunal Militar (art. 1º). Na época, o processo criminal era bifásico. A formação da culpa pela pronúncia ou impronúncia era feita pela conselho de justificação. Depois, o processo era remetido ao conselho de guerra que julgava o mérito em 1ª instância.

Já o Código da Justiça Militar, Decreto Lei n. 925, de 02/12/1938, delineou a composição dos conselhos, órgãos julgadores de 1º grau, em três: o conselho especial, composto por um Juiz-Auditor e quatro militares de alta patente (presidido por oficial superior ou general); o conselho permanente, composto por um Juiz-Auditor e quatro militares (um oficial superior e três oficiais no posto de capitão ou capitão-tenente; e o conselho de disciplina de corpos do exército, para julgar desertores e insubimissos. Estes últimos foram extintos pela Lei n. 8.236/91.

Atualmente, os Conselhos21 da Justiça Militar Permanente e Especial, órgãos

jurisdicionais colegiados, são disciplinados pela Lei n. 8.457/92, que serão vistos, a seguir, em suas peculiaridades, primeiro o Conselho Permanente, depois o Conselho Especial e, por fim, veremos alguns aspectos da figura do Juiz-Auditor.

O Conselho Permanente de Justiça tem as seguintes características principais:

20 ROMEIRO, Jorge Alberto. Discurso de posse como Ministro do STM. DJU, seção I, 30 nov. 1979. p. 9004 21 O Conselho da Justiça Militar estadual deve guardar simetria com a configuração dos Conselhos da Justiça

Militar da União. É o que diz a Lei de Organização Judiciária do Ceará, no art. 95, in verbis: “no que respeita à composição dos Conselhos de Justiça Militar, observar-se-á, no aplicável, o disposto no Código de Justiça Militar da União.”

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a) Constitui-se de cinco membros. Um juiz togado que é o Juiz-Auditor e 4 Juízes militares, pertencentes à Força22 que pertencer o acusado, sendo um oficial superior e

três oficiais de posto até capitão-tenente ou capitão (art. 16, “b”, Lei n. 8.457/92);

b) Tem competência para processar e julgar civis e militares que não sejam oficiais, acusados da prática de crimes previstos na legislação militar (art. 27, III, Lei n. 8.457/92);

c) Funcionam, um vez constituídos, durante três meses consecutivos, coincidindo com os trimestres do ano civil. Há possibilidade de prorrogação desse prazo nos casos previstos em lei. Sendo certo que, a exceção de insuficiência de oficias na Circunscrição, o oficial que tiver integrado o Conselho não deverá ser sorteado para o trimestre seguinte (art. 24, Lei n. 8.457/92);

c) São os Juízes militares e dois suplentes recrutados por meio de sorteios realizado pelo Juiz-Auditor – com base em lista elaborada pelos comandantes de Distrito Naval ou Comando Naval (Marinha), de Região Militar (Exército) e de Comando Aéreo Regional (Aeronáutica), nas respectivas Circunscrições – em audiência pública, entre os dias cinco e dez do último trimestre anterior, na presença do Procurador da Justiça Militar e do

22 Na prática, existe, em cada auditoria, três conselhos permanentes, sendo um para o Exército, um para a Aeronáutica e um para a Marinha. Os textos que tratam do assunto também dizem que o militar será sempre julgado por um conselho composto de militares da força a que pertencer. Contudo, não foi possível verificar na legislação tal previsão. Não consta da Lei de Organização da Justiça Militar da União atual (Lei n. 8.457/92), nem na lei anterior revogada (Decreto-Lei n. 1003/69). Consultado sobre o assunto, o Procurador da Justiça Militar, Dr. Antonio Cerqueira, informou que a razão de existir um conselho para cada força deve-se às particularidades de cada uma das Forças Armadas Federais deve-ser regida por regulamento disciplinar específico. Bem assim, que pode tratar-se de omissão legislativa de regra prevista na lei anterior ao DL n. 1003/69, tendo se transformado em uma norma processual costumeira; ou ainda, como decorrência de interpretação em sentido contrário do disposto no § 2º do art. 93 da Lei n. 8457/62, quanto trata dos Conselhos em tempo de guerra. Diz a lei, caput do art. 93, que em tempo de guerra, “o Conselho de Justiça compõe-se de um Juiz-Auditor ou Juiz-Auditor Substituto e dois oficiais de posto superior ou igual ao do acusado, observado, na última hipótese, o princípio da antigüidade de posto”, completado pelo § 2º, segundo o qual diz que, nessas circunstâncias, “os Oficiais da Marinha, do Exército e da Aeronáutica serão julgados,

quando possível, por juízes militares da respectiva Força.” (negrito nosso). Restaria o entendimento de que

nos tempos de normalidades é quase sempre possível e até mesmo recomendável que o militar seja julgado por militares da mesma farda.

Referências

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