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3.3 A competência e a organização da Justiça Militar da União

3.3.2 Organização

Como bem diz Andréa Tosca, “a justiça castrense não pode ser confundida como órgão das forças armadas.” Ao contrário, acentua ela, a Justiça Militar “constitui uma ordem jurídica particular dentro da ordem jurídica geral do Estado.”16 Esta posição é, de fato,

condizente com o ordenamento jurídico brasileiro.

Nesse aspecto da organização judiciária, é a Constituição que dá as diretrizes principais. Afirma a Carta, no art. 92, inciso IV, que são órgãos do Poder Judiciário os “tribunais e juízes militares”. Diz ainda a Constituição, no art. 124, parágrafo único, que “lei disporá sobre a organização, funcionamento e competência da Justiça Militar”.

Em decorrência da ordem constitucional, a lei que, atualmente, organiza a Justiça Militar da União17 e regula o funcionamento dos seus serviços auxiliares é a Lei n.

8.457, de 4 de setembro de 1992. Além dela, há vários dispositivos do Código de Processo Penal Militar, Decreto Lei n. 1.002, de 21 de outubro de 1969.

Da análise da Lei n. 8457/92, sobretudo, quanto aos órgãos componentes dessa justiça especializada, vê-se, à luz do art. 1º, que são 4 os órgãos da Justiça Militar da União: O Superior Tribunal Militar, a Auditoria de Correição, os Conselhos de Justiça e os Juízes- Auditores (titulares e substitutos).

O Superior Tribunal Militar (STM) é o órgão de cúpula da Justiça Militar Federal. Tem sede em Brasília e jurisdição em todo o território nacional. A sua composição é

16 “TOSCA, Andréa Fernanda. A Justiça Militar da União: a importância de sua existência, seu

funcionamento e seus efeitos atuais. Revista do Superior Tribunal Militar, Brasília, v. 19/20, p. 123-143,

1997/1998.

17 Em consonância com o comando do § 3º do art. 125 da Constituição Federal, a Constituição do Estado do Ceará, no art. 123, incisos I e II, diz que a Justiça Militar estadual é composta, em primeiro grau, da Auditoria e Conselho de Justiça Militar, e, em segundo grau, pelo Tribunal de Justiça. Nesse mesmo sentido é o que diz art. 93, “a” e “b”, da Lei Estadual n. 12.342, de 03/08/94, que institui o Código de Divisão e de Organização Judiciária do Estado do Ceará, sendo que a Auditoria da Militar é prevista como órgão do Poder Judiciário local no inciso VI do art. 3º da referida lei.

dada pelo art. 12318 da Constituição, reafirmada pelo art. 3º da Lei n. 8.457/92. É o órgão de

segunda instância da Justiça Militar. Além de se constituir em instância recursal, tem competência originária para diversas matérias, entre as quais prepondera a competência para processar e julgar, originariamente, os oficiais-generais das Forças Armadas, nos crimes militares definidos em lei. O rol completo das atribuições do STM está disposto nos artigos 6º, 7º e 8º da Lei n. 8.457/92.

Os órgãos de primeira instância da Justiça Militar estão descritos nos artigos 11 ao 31, título IV, da Lei 8.457/92. Tais órgãos são a Auditoria de Correição, as Auditorias da Justiça Militar e os Conselhos de Justiça. É no âmbito das Auditorias que funcionam os Juízes-Auditores.

A Auditoria de Correição, embora referida na lei como órgão de primeira instância é, na realidade, órgão de natureza superior. É exercida pelo Juiz-Corregedor, com jurisdição em todo o território nacional (art. 12). A sua natureza superior é caracterizada, especialmente, por ser a Auditoria de Correição órgão de fiscalização e de orientação judiciário-administrativa (art. 13). Suas atribuições são pois voltadas para o próprio funcionamento da Justiça Militar da União. Prima pelo bom desempenho dessa justiça. Não exerce propriamente a função jurisdicional. É composta pelo Juiz-Auditor Corregedor, cuja competência está elencada no art. 14, da Lei n. 8.457/92, além de um diretor de secretaria e servidores auxiliares.

O foro militar de primeira instância, os órgãos judicantes propriamente ditos

18 “Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis.

Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:

funcionam nas Auditorias da Justiça Militar. Essas auditorias, comparando, equivalem às varas (criminais) da justiça comum. Seria o caso de dizer que as Auditorias da Justiça Militar são as varas dessa justiça. As auditorias estão distribuídas de acordo com a divisão da jurisdição da Justiça Militar no território nacional em 12 Circunscrições Judiciárias Militares, consoante dispõe o art. 2º da Lei n. 8.457/92:

Art. 2° Para efeito de administração da Justiça Militar em tempo de paz, o território nacional divide-se em doze Circunscrições Judiciárias Militares, abrangendo: a) a 1ª - Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo;

b) a 2ª - Estado de São Paulo;

c) a 3ª - Estado do Rio Grande do Sul; d) a 4ª - Estado de Minas Gerais;

e) a 5ª - Estados do Paraná e Santa Catarina; f) a 6ª - Estados da Bahia e Sergipe;

g) a 7ª - Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas; h) a 8ª - Estados do Pará, Amapá e Maranhão;

i) a 9ª - Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso; j) a 10ª - Estados do Ceará e Piauí;

l) a 11ª - Distrito Federal e Estados de Goiás e Tocantins; m) a 12ª - Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia.

Assim, a cada circunscrição judiciária militar corresponderá uma auditoria, na qual exercerá sua competência, exceção feita à primeira circunscrição que conta com seis auditorias; à segunda, com duas e à terceira, com três. A explicação para essas exceções é que as regiões compreendidas pelas primeira, segunda e terceira circunscrições comportam os maiores contingentes militares, daí porque contam com mais auditorias.

Conforme dispõe o art. 15 da Lei n. 8.457, cada Auditoria conta com um Juiz- Auditor e um Juiz-Auditor substituto, além de um diretor de secretaria, dois oficias de justiça avaliadores e demais servidores auxiliares. É na Auditoria que o Juiz Militar de primeira instância exerce seu mister. Esse juiz funciona em termos de um colegiado misto, chamado escabinato, cuja singularidade, objeto principal destes capítulo, será vista no próximo tópico.