DANIEL C ASSIN DUTRA ALVES
H2 O2
Hélio por Hélio;
Oiticica pós Oiticica
DANIEL C ASSIN DUTRA ALVES
H2 O2
Hélio por Hélio;
Oiticica pós Oiticica
Disse rta ç ã o a p re se nta d a a o Pro g ra ma d e Pó s-G ra d ua ç ã o e m Arte s d a Esc o la d e Be la s Arte s – UFMG –, c o mo re q uisito p a rc ia l p a ra a o b te nç ã o d o título d e Me stre e m Arte s.
Áre a d e c o nc e ntra ç ã o : Arte s Visua is O rie nta ç ã o : Pro f. Dra . Ya c y-Ara Fro ne r C o -o rie nta ç ã o : Pro fa . Dra . Lúc ia Pime nte l
iii
Disse rta ç ã o a p re se nta d a no Pro g ra ma d e Pó s-G ra d ua ç ã o e m Arte s d a Esc o la d e Be la s
Arte s – UFMG –, d e a uto ria d e Da nie l C a ssin, a p ro va d a p e la b a nc a e xa mina d o ra
c o nstituíd a p e lo s se g uinte s p ro fe sso re s:
_________________________________________ Pro fa . Dra Ma rília And ré s
__________________________________________ Pro fa . Dra Ma ria Ang é lic a Me le nd i
__________________________________________ Pro fa . Dra Ya c y Ara Fro ne r
Be lo Ho rizo nte , 30 d e no ve mb ro d e 2007
Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Belas Artes
AG RADEC IMENTO S:
Ao s fa milia re s.
À o rie nta d o ra Pro f. Dra . Ya c y-Ara Fro ne r q ue d e sd e se mp re a b ra ç o u o p ro je to ,
p e lo inc e ntivo e p a rtic ip a ç ã o p o r me io d e te mp o mó ve l, instá ve l o u d isp a ra ta d o .
À c o -o rie nta d o ra Pro f. Dra . Lúc ia Pime nte l q ue te m p a rtic ip a d o d e sse tra b a lho
d e sd e 2002 e q ue se mp re se d isp ô s a e sfo rç o s, c o mp re e nsã o e e nvo lvime nto c o m a
p e sq uisa .
Ra fa e l Ma rtins, q ue se mp re se d isp ô s a le itura d e ste tra b a lho , d a nd o sug e stõ e s
d e b ib lio g ra fia , info rma tiza ç ã o , d ig ita liza ç ã o , p e sq uisa d e c a mp o , d e ntre o utra s
c o ntrib uiç õ e s d e suma ne c e ssid a d e p a ra q ue e sta p e sq uisa se re a liza sse .
Da nie l Sa ra iva , p e la c o ntrib uiç ã o b ib lio g rá fic a , d isc ussõ e s re la c io na d a s a o s
te xto s e a p o io té c nic o .
Pro fe sso re s d a EBA p e lo s q ua is fui a luno e o utro s func io ná rio s d e ssa e sc o la q ue
d e sd e 1997 p a rtic ip a ra m d o p ro c e sso d isc e nte . Assim c o mo o s p ro fe sso re s d a FALE,
FAFIC H e FAE q ue p a rtic ip a ra m.
Ao me u p a i Anto nio .
v So me nte a p a rtir d a sup re ma fo rç a d o p re se nte te nd e s a o d ire ito d a inte rp re ta r o p a ssa d o : so me nte na ma is inte nsa te nsã o d e vo ssa s q ua lid a d e s ma is no b re s d e sve nd a re is o q ue há no p a ssa d o d ig no d e se r c o nhe c id o e c o nse rva d o . O ig ua l o p e lo ig ua l! De o utro mo d o , vó s c o nd uzire is o p a ssa d o p a ra b a ixo junta me nte c o nvo sc o .
RESUMO
vii ABSTRAC T
Lista de Im a g e ns
1. Pa ra ng o lé , C e ntro d e Arte Hé lio O itic ic a , 1992, fo to Ac e rvo HO ... p á g . 28 2. Me rzb a u ... p á g . 29 3. Mo rro d a Ma ng ue ira , Rio d e Ja ne iro , 1965, fo to Ac e rvo HO ... p á g . 32 4. Ro me ro ve ste Pa ra ng o lé, No va Yo rk, 1972, fo to Hé lio O itic ic a ... p á g . 35 5. Nild o d a Ma ng ue ira ve ste Pa ra ng o lé, Rio d e Ja ne iro , 1964, fo to a c e rvo HO .
... p á g . 38 6. Bó lid e s, Rio d e Ja ne iro , 1964, fo to C é sa r O itic ic a Filho ... p á g . 39 7. Pe ne trá ve is, Rio d e Ja ne iro , 1977, fo to C é sa r O itic ic a Filho ... p á g . 39 8. Éd e n, White c ha p e l Exp e rie nc e , Lo nd re s, 1969, fo to d o c a tá lo g o d a
Exp o siç ã o ... p á g . 39 9. Hé lio O itic ic a e To rq ua to Ne to , White c ha p e l Exp e rie nc e , 1969, fo to d o
c a tá lo g o d a e xp o siç ã o ... p á g . 40 10. Ima g e m d o te xto Ba rnb ilô nia , No va Yo rk, 1971, fo to a c e rvo HO ... p á g . 48 11. Bo b Dyla n ... p á g . 54 12. Da vid Bo wie , c a p a d e The Ma n Who So ld The Wo rld , 1973 ... p á g . 64 13. Da vid Bo wie ... p á g . 65 14. C a p a d e Ve lve t Und e rg ro und a nd Nic o , No va Yo rk, 1967, té c nic a mixta d e
And y Wa hro l ... p á g . 66 15. C a p a d e Tra nsfo rme r d e Lo u Re e d , No va Yo rk, 1972, fo to d e Mic k Ro c k
... p á g . 66 16. C o ntra – Bó lid e , De vo lve r a te rrra a Te rra , 1979, Rio d e Ja ne iro , Fo to a rc e rvo
HO ... Pá g . 86
ix 18. C e ntro d e Arte Hé lio O itic ic a , Rio d e Ja ne iro , 1992, fo to a c e rvo HO ... Pá g .
89
19. Re le vo s Esp a c ia is e Bila te ra is, Witte d e With, C e nte r fo r
C o nte mp o ra ny Art, Ro tte rd a m,1992, fo to d e Bo b G o e d e Wa a g e n...p á g . 121 20. Pa ra ng o lé s, C e ntro d e Arte Hé lio O itic ic a , Rio d e Ja ne iro , 1992, fo to
Ac e rvo HO ... Pá g . 123 21. C o smo c o c a s, 1973, We xne r C e nte r fo r the Arts, 2002, fo to d e Ric ha rd K.
Lo e sc h... Pá g . 125
22. C e ntro d e Arte s Hé lio O itic ic a ., Rio d e Ja ne iro , 1992, Fo to d o Ac e rvo HO ... Pá g . 128
S
UMÁRIORe sumo ... vi
Ab stra c t ... vii
Intro duç ã o ... 11
Ca pítulo I: ... 25
Hé lio p o r Hé lio : a Ba se Und e rg ro und d a s Exp e rime nta ç õ e s Ca pítulo II: ... 49
Ba b ylo ne sts: A C o r d o So m Ca pítulo III: ... 85
O itic ic a p ó s O itic ic a Co nc lusã o ... 130
11
INTRODUÇÃO
Este tra b a lho te m p o r o b je tivo re a liza r um e stud o a c e rc a d a s a tua is e xib iç õ e s1 e c o nd iç õ e s d e le itura , d o s tra b a lho s d e Hé lio O itic ic a . A q ue stã o é
d isc utir c o mo o c o rre a e xp o siç ã o d e ssa s o b ra s e q ua l o c o ntra p o nto d e sse s p ro je to s e m re la ç ã o a o s d e p o ime nto s d o a uto r. C o m isso , a b o rd a -se , a p a rtir d e um d e te rmina d o re c o rte d e sua o b ra , uma q ue stã o ma is a mp la , q ue se e ste nd e na s re la ç õ e s e ntre a s ne o va ng ua rd a s d o s a no s se sse nta e sua a tua l re c e p ç ã o e e nc e na ç ã o p e la s instituiç õ e s a rtístic a s d e ho je : Hé lio p o r Hé lio;
Hé lio p ó s Hé lio.
Assim, me smo re c o nhe c e nd o a s sing ula rid a d e s d a s p rá tic a s d e O itic ic a , se re mo s le va d o s a a p ro ximá -la d e uma q ue stã o q ue nã o se limita so me nte à sua o b ra . Esta q ue stã o é : c o mo o c o rre m a s a tua is e xib iç õ e s d e o b ra s, a p a rtir d e p re missa s c o mo “ o c o nvite à p a rtic ip a ç ã o ” e a fusã o e ntre “ a rte e vid a ” ? A id é ia q ue p e rp a ssa é q ue , lo ng e d e sup rimir a a rte , e ssa s va ng ua rd a s c ria ra m um no vo c a mp o d e p o ssib ilid a d e s p a ra a a tua ç ã o a rtístic a . Sã o a p o nta d a s, d e ssa ma ne ira , a s re la ç õ e s d a o b ra d e Hé lio O itic ic a c o m a s instituiç õ e s e p rá tic a s muse o ló g ic a s e c ura to ria is c o nte mp o râ ne a s, a lé m d e o b se rva r e m q ue me d id a a o b ra d e Hé lio e a s ne o va ng ua rd a s vê m se nd o re c o nfig ura d a s p e lo mo d o d e e xib iç ã o na a rte c o nte mp o râ ne a .
Fo ra m e le ito s p o r o b je to d e e stud o a lg uns te xto s p ro d uzid o s p e lo a rtista e te xto s c ura to ria is d e a lg uns c rític o s re la tivo s à s e xp o siç õ e s p ó stuma s d e Hé lio O itic ic a . A a b o rd a g e m p ro p õ e um e stud o so b re o s te xto s d e Hé lio O itic ic a p o r Hé lio O itic ic a e d e Hé lio O itic ic a re d e finid o p o r e stra té g ia s c ura to ria is c o nte mp o râ ne a s. Num p rime iro mo me nto va mo s a na lisa r a lg uns d o s te xto s q ue O itic ic a e sc re ve u so b re o s Pa ra ng o lé s, p re se nte s e m livro s, c a tá lo g o s e e m
ma nute nç ã o p e lo Pro g ra ma Hé lio O itic ic a . Num se g und o mo me nto , va mo s a na lisa r o Hé lio p ó s Hé lio , o u se ja , o s te xto s p ro d uzid o s p o r c rític o s e c ura d o re s re la tivo s à s re mo nta g e ns d o s tra b a lho s d e Hé lio e m e xp o siç õ e s p ó stuma s.
A le itura d a s o b ra s e te xto s d o a rtista to ma c o mo re fe rê nc ia , a q ui, uma b a se music a l, p o uc o e xp lo ra d a e p e sq uisa d a , q ue no rte ia a p e sq uisa : a re la ç ã o d e Hé lio O itic ic a c o m o ro c k’ n’ ro ll. O ro c k p e rmitiu a o a rtista vislumb ra r uma sa íd a p a ra o Pro g ra ma Amb ie nta l e nq ua nto d isp o sitivo d e c o nstruç ã o d e um c o tid ia no e xp e rime nta liza d o . Esse vié s é e xp e rime nta d o p o r Hé lio e m No va Yo rk a p a rtir d a mud a nç a d e e stra té g ia a rtístic a q ue re p re se nto u o c o nc e ito “ p ó s-Tro p ic á lia ” d e Sub te rra ne a n. Ab o rd a -se a p a rtir d e ssa no va re fe rê nc ia music a l e c o mp o rta me nta l sua p ro d uç ã o no va -io rq uina q ue é uma mistura d e p la no s e p ro je to s c o ntid o s e m c a d e rno s, c a rta s, d e se nho s, fo to g ra fia s e filme s. To d o e sse p ro c e sso to ma va c o mo b a se a mistura d e “ se xo , d ro g a s e ro c k’ n ro l” se a fa sta nd o d o s se to re s ma is re a c io ná rio s e c o nse rva d o re s, ta nto d e e sq ue rd a q ua nto d e d ire ita . O a rtista d e ntro d e sse c o nte xto , nunc a p a ro u d e tra b a lha r e mb o ra e nc o ntra sse d ific uld a d e s p a ra e nc o ntra r a p o io p a ra se us no vo s p ro je to s. As e xp e riê nc ia s c o m a s c a p a s Pa ra ng o lé inic ia d a s no Mo rro d a Ma ng ue ira sã o e ste nd id a s a p a rtir d e ssa no va b a se music a l, sã o c o lo c a d a s q ue stõ e s d e id e ntid a d e e d e no sso s p a p é is e nq ua nto se re s c o le tivo -ind ivid ua is e e sp e c ta d o r/ p a rtic ip a nte (BRETT, 1992, p .223). O tra b a lho d a a rtista d e ntro d e ssa p e rsp e c tiva ma ntinha -se a fa sta d o d a s instituiç õ e s.
13 uma p re o c up a ç ã o c o m a id é ia d o a to c o rp o ra l e m c o ntínua tra nsfo rma ç ã o . Alé m d isso , e ssa e xp e riê nc ia fo i fund a me nta l p a ra a p o siç ã o é tic a d o s
Pa ra ng o lés e d o s d e se nvo lvime nto s d a Anti-a rte Amb ie nta l q ue vie ra m p o ste rio rme nte (O ITIC IC A, 1986, p .82).
Ap ó s a s e xp e riê nc ia s c o m Éde n e a White C ha p e l Exp e rie nc e (1969) e d e sua mud a nç a p a ra No va Yo rk (1970) o a rtista se a fa sta d a s instituiç õ e s a rtístic a s e se inte re ssa p o r ma nife sta ç õ e s c o le tiva s e p rá tic a s d e g rup o s mino ritá rio s q ue vive m e m No va Yo rk. C o ntinua a fund ir c o r-e strutura -d a nç a , p ro p o nd o um no vo se ntid o p a ra o d e se mp e nho a tra vé s d o Pa ra ng o lé. O a rtista se inte re ssa p o r c o nc e rto s d e ro c k e p o r p e q ue na s a ç õ e s inse rid a s no c o tid ia no .
Ne sse mo me nto , e m me a d o s d o s a no s 1970, o Pa ra ng o lé p a ssa p o r uma fa se d e ne c e ssid a d e d e d e smitific a ç ã o2. Ac e le ra nd o o p ro c e sso q ue re d und a na c o nve rsã o d o p a rtic ip a d o r e m p ro p o sito r, o s Pa ra ng o lés sã o c o nve rtid o s e m
Pa ra ng o p la ys, a p re se nta nd o a lg uma s d ife re nç a s e m re la ç ã o a o s Pa ra ng o lés d e se nvo lvid o s e m a ç õ e s no Bra sil. As p e ç a s a p re se nta m uma ve rtic a lid a d e q ue d ia lo g a c o m o s a rra nha -c é us d e No va Yo rk. O s Pa ra ng o lés p a re c e m se fund ir c o m o c o nc e ito d e Bó lide c o mp o nd o uma simb io se a mb ie nta l, a p a rtir d a c ria ç ã o d e um c o rp o -c ie nte (LAG NADO , 2002, p .73). Ne sse mo me nto o a rtista inic ia um d iá lo g o c o m a s mino ria s e c o m a s c o munid a d e s q ue vive m à ma rg e m na c id a d e d e No va Yo rk. Alé m d isso , sua s a ç õ e s sã o p e nsa d a s d e ntro d o fe nô me no c o ntra -c ultura l d o ro c k, d e sd o b ra nd o a “ ne c e ssid a d e d e d e sinte le c tua liza ç ã o ” inic ia d a c o m o sa mb a .
O itic ic a fo i um a rtista c o m uma p ro d uç ã o e xte nsa e múltip la , q ue a no to u o b se ssiva me nte tud o a re sp e ito d o s se us tra b a lho s. Esse s d o c ume nto s c o mp õ e m o Arq uivo HO,3 c o nstituíd o d e no ta s, e sc rito s, a rtig o s e c a rta s. Ne sse
2. O artista grafou esse termo dessa maneira para que não se confunda com desmistificação. Essa grafia ressalta a dimensão mítica e ritual dos Parangolés e das ordens do Programa Ambiental.
c o njunto d e e sc rito s p o d e -se d e sta c a r a p re se nç a d e c a d e rno s, d iá rio s, a lé m d o s Ne wyo rka ise s (1973), c o ng lo me ra d o d e te xto s, nunc a fina liza d o , a b o rd a nd o d ive rso s tó p ic o s, o nd e sã o c o la d a s a no ta ç õ e s, no ta s, re c o rte s d e jo rna l e fra g me nto s. Ne le p o d e mo s ve r a no ta ç õ e s d e tra b a lho s d a fa se no va -io rq uina c o mo o RAP in p ro g re ss, Sub te rra ne a n TRO PIC ÁLIA Pro je c ts e so b re a re inve nç ã o d o s Pa ra ng o lés, c ha ma d o s a g o ra d e Pa ra ng o p la ys. O itic ic a inve nta um no vo lé xic o d e c o nc e ito s, a no ta ç õ e s d e tra b a lho q ue c o mp õ e m uma e sc ritura te ó ric a -p rá tic a . Se us e sc rito s se d ivid e m e m c a rta s e no ta s fo c a d a s e m p ro b le ma s d e p o siç õ e s a rtístic a s. Ne le s p o d e mo s e nc o ntra r instruç õ e s d e p ub lic a ç ã o e instruç õ e s d e mo nta g e m. Alé m d isso , e xiste m ne sse s e sc rito s vá rio s p ro je to s d e tra b a lho s, a lg uns e xe c uta d o s, o utro s nunc a c o lo c a d o s e m p rá tic a e o utro s q ue nã o se sa b e se fo ra m e xe c uta d o s.
Se g und o Lise tte La g na d o (2002), o Pro g ra ma Amb ie nta l nã o so me nte mud a q ua lq ue r e nte nd ime nto d a s instituiç õ e s c ultura is, ma s se to rna uma fe rra me nta e sse nc ia l p a ra d isc ussã o d o e sp a ç o p úb lic o . O c a rá te r c o le tivo d o se u Pro g ra ma Amb ie nta l é g a ra ntid o p e lo se ntid o d e p a rtic ip a ç ã o , q ue livra o p ro g ra ma d o s imp a sse s d a te o ria ne g a tiva d a s va ng ua rd a s e sua p re te nsa a uto no mia , ma s a ve nta um p la no é tic o q ue e xig e um d e vir a tivo e m c o nsta nte tra nsfo rma ç ã o . As c a p a s d e p e nd ura d a s e m muse us num c a b id e se ria m o b je to s va zio s e e sté re is já q ue ne c e ssita m d a p a rtic ip a ç ã o d o e sp e c ta d o r p a ra a tivá -la s. As o rd e ns q ue c o mp õ e o Pro g ra ma Amb ie nta l se d e se nvo lve m na s p a la vra s d e O itic ic a , in p ro g re ss, e m d e se nvo lvime nto c o ntínuo , se m a c o lo c a ç ã o d e um p o nto . As a no ta ç õ e s p a ssa m a p rivile g ia r o s d o is p o nto s e a s se ta s na a p re se nta ç ã o d a e sc ritura , c o m o o b je tivo d e d e ixa r o p ro je to e m e xp a nsã o c o ntinua d a (LAG NADO , 2002, p .63).
O s Pa ra ng o lés se a ve nta m c o mo uma ne c e ssid a d e d e c o nsta nte
15 tra nsfo rma ç ã o e ina ug ura ç ã o d e no va s o rd e ns a mb ie nta is. As o rd e ns p a ra O itic ic a nã o e stã o e sta b e le c id a s a p rio ri, ma s sã o c ria d a s se g und o uma ne c e ssid a d e c irc unsta nc ia l c re sc e nte . O s Pa ra ng o lés sã o o d isp o sitivo te ó ric o p rá tic o q ue d isp a ra re la ç õ e s e m c o nsta nte d e vir, a lé m d e la nç a r uma p o siç ã o é tic a no Pro g ra ma . O itic ic a já a nunc ia e ssa s c a ra c te rístic a s no te xto Ba se s Funda me nta is do Pa ra ng o lé, d e 1964:
Há c o mo q ue uma hie ra rq uia d e o rd e ns na p la sma ç ã o d e Núc le o s, Pe ne trá ve is e Bó lides, to d a s e la s, p o ré m d irig id a s p a ra e ssa c ria ç ã o d e um mund o a mb ie nta l o nd e e ssa e strutura d a o b ra se d e se nvo lva e te ç a a tra ma o rig ina l. A p a rtic ip a ç ã o d o e sp e c ta d o r é ta mb é m a q ui c a ra c te rístic a e m re la ç ã o a o q ue ho je e xiste na a rte e m g e ra l: é uma p a rtic ip a ç ã o a mb ie nta l p o r e xc e lê nc ia . Tra ta -se d a p ro c ura d e ‘ to ta lid a d e s a mb ie nta is’ q ue se ria m c ria d a s e e xp lo ra d a s e m to d a s a s sua s o rd e ns, d e sd e o infinita me nte p e q ue no a té o e sp a ç o a rq uite tô nic o , urb a no e tc . Essa s o rd e ns nã o e stã o e sta b e le c id a s a p rio ri, ma s se c ria m se g und o a ne c e ssid a d e c ria tiva na sc e nte (O ITIC IC A, 1986, p .69).
Em No va Yo rk o s Pa ra ng o lés p a ssa m p o r uma fa se c ha ma d a p o r O itic ic a d e d e smistific a ç ã o . Ne ssa fa se o c o rre m vá ria s so ma s, simb io se s: o a mb ie nte se fund a no c irc unsta nc ia l e na rua , re sulta nd o e m Pa ra ng o p la y, sínte se c rític a d a p e rfo rma nc e e d a d a nç a . O Pa ra ng o lé ve rtid o e m Pa ra ng o p la y so fre a lg uma s tra nsfo rma ç õ e s. Se g und o La g na d o (2002) O itic ic a d e no mina , a p a rtir d e 1972, se us p ro g ra ma s d e Pro g ra ma s do C irc unsta nc ia l. Vá ria s e xp e riê nc ia s sã o re a liza d a s no c o tid ia no , a lg uma s d e la s d e ntro d o me trô no va -io rq uino . Fo to g ra fia s sã o tira d a s e m fre nte o s a rra nha -c é us d a Big Ap p le c o m mo d e lo s ve stind o o Pa ra ng o lé. O p ro je to e nvo lve a tra nsg re ssã o c o ntínua d o c o tid ia no p e rmitind o o c o ntínuo re fa ze r-se , a tra vé s d o uso e d a a ç ã o d o p a rtic ip a d o r a g o ra ve rtid o e m p ro p o sito r (LAG NADO , 2002). C o m o Pa ra ng o lé O itic ic a a mb ic io na um p ro g ra ma d e imp la nta ç ã o d o C re la ze r4 ra d ic a liza nd o no Pro g ra ma o se u c a rá te r p o lític o e te sta nd o sua s p ro p o siç õ e s na rua p a ra a lé m d a s instituiç õ e s a rtístic a s. É o “ Alé m d a Arte ” a lme ja d o p e lo Pro g ra ma d e sd e a s
e xp e riê nc ia s na g a le ria White c ha p e l e c o m Éde n, e xp e riê nc ia s sínte se d a s o rd e ns a mb ie nta is le va d a s a c a b o e m 1969.
Po r te re m sid o re a liza d a s fo ra d o Bra sil e p o r O itic ic a te r se a fa sta d o d o c irc uito a rtístic o , p o uc o se sa b e d e ssa s e xp e riê nc ia s. Bo a p a rte d a histo rio g ra fia b ra sile ira e inte rna c io na l se c o nc e ntra no s tra b a lho s d e se nvo lvid o s no s a no s 1960 e e m a lg uma s e xp e riê nc ia s d o s a no s 1970, c o mo C o smo c o c a s. Existe m me nç õ e s a o s Pa ra ng o lés p ro d uzid o s no s a no s 1970, ma s nã o e xiste um e stud o a p ro fund a d o so b re isso , p o r c o nta d a d ific uld a d e d e d isp o nib ilid a d e d e ma te ria is e d o c ume nto s so b re o a ssunto . Ao q ue tud o ind ic a p o uc a s instituiç õ e s re a liza ra m e xp o siç õ e s utiliza nd o e ssa s p e ç a s e p o uc o s e nsa ísta s e sc re ve ra m a se u re sp e ito . Le va nd o -se e m c o nta o vié s é tic o e e xp e rime nta l d e sta o b ra s, a lé m d a c re sc e nte e sc a la d a d a me mó ria no o c id e nte , a ve ic ula ç ã o d a s o b ra s d e va ng ua rd a p e la s instituiç õ e s, ind ic a d a p o r And re a s Huysse n (1996), g o sta ría mo s d e le va nta m-se a lg uma s q ue stõ e s: c o mo o s te xto s c ura to ria is d isc ute m Hé lio O itic ic a ? Q ua is sã o o s c rité rio s d e e xib iç ã o d o s Pa ra ng o lés e d e o utra s o b ra s d o a rtista ? De ve m se r re mo nta d o s se g uind o a s instruç õ e s d o a rtista o u o s c ura d o re s d e ve m se g uir se us p ró p rio s c rité rio s p a ra a mo nta g e m? De ve m p e rma ne c e r e nq ua nto te xto e ima g e m fo to g rá fic a no Arq uivo HO ? C o mo e xib ir uma o b ra q ue p ro p unha uma e xp e rime nta ç ã o e m c o ntínua tra nsfo rma ç ã o , ma nte nd o -se a fa sta d a d a s instituiç õ e s a rtístic a s? De q ue ma ne ira o s te xto a uto ra is d e Hé lio p o d e m so luc io na r (o u nã o ) e sse e nig ma ?
Nã o se o fe re c e a q ui uma re sp o sta p a ra e ssa s q ue stõ e s. A inte nç ã o é a nte s susc ita r d úvid a s d o q ue re sp o nd e r a s q ue stõ e s q ue p e rme ia m o p ro b le ma . Esse p ro b le ma é inso lúve l e é d e b a tid o c o m ve e mê nc ia d e sd e a mo rte d e Hé lio .
17 Hé lio O itic ic a . Pa rtind o d o p re c e ito d a re c o d ific a ç ã o e d a s no va s c o nd iç õ e s d e le itura d o s tra b a lho s d e O itic ic a , e sta b e le c e mo s a re la ç ã o e ntre um tra b a lho c o m um se ntid o d e p a rtic ip a ç ã o é tic o / p o lític o e a s instituiç õ e s a rtístic a s q ue c uid a m d e sua ma nute nç ã o . Pa ra isso c o nta mo s, p rinc ip a lme nte , c o m a Te se d e Do uto ra me nto d e Lise tte La g na d o , “ O Ma p a d o Pro g ra ma Amb ie nta l” (2002), e o s e sc rito s d e Wa ly Sa lo mã o e m “ Q ua l é O Pa ra ng o lé? ” (1996), te xto s fund a me nta is so b re o p e río d o e a o b ra a b o rd a d a , ra stre a nd o re fe rê nc ia s so b re o o b je to d e inve stig a ç ã o . Alé m d isso , sã o to ma d o s c o mo re fe rê nc ia o s tra b a lho s e o a c e rvo ma ntid o p e lo Ita ú C ultura l, o Pro g ra ma Hé lio O itic ic a e o C e ntro d e Arte Hé lio O itic ic a instituiç õ e s re sp o nsá ve is p e lo Arq uivo HO e q ue p o ssue m um a c e rvo d e o b ra s re le va nte d o a rtista .
No p rime iro c a p ítulo a s no ç õ e s d e é tic a / e sté tic a / p rá tic a s d e si fo uc a ltia na s sã o re la c io na d a s c o m o s Pa ra ng o lés o u Pa ra ng o p la ys, e o s d o c ume nto s re la tivo s a e ssa s o b ra s, no sso o b je to d e e stud o . Num p rime iro mo me nto re a liza mo s uma le itura d e c e rto s a sp e c to s é tic o s d a o b ra d e Hé lio situa d o s ê nfa se d e va ng ua rd a d e tra nsfo rma ç ã o c ultura l d o c o tid ia no . As no ç õ e s d e Fo uc a ult e De le uze sã o usa d a s p a ra re ssa lta r o s a sp e c to s é tic o s d o s
Pa ra ng o lés. Essa s no ç õ e s sã o re la c io na d a s c o m o s te xto s q ue a c o mp a nha m o s
Pa ra ng o lés e e stã o Pre se nte s no s a rq uivo s HO . O utro s te xto s d e a p o io utiliza d o s sã o o s te xto s d e Lise tte La g na d o , c o o rd e na d o ra d o Arq uivo Hé lio O itic ic a .
e m a lg uns a sp e c to s, d e a rtista s d e se u te mp o , c o mo Ro b e rt Smithso n e G o rd o n-Ma tta C la rk. O s e sc rito s d e O itic ic a fo rma m o Arq uivo HO o nd e imp e ra uma p rá tic a a rtístic a b a se a d a na e xp e rime nta ç ã o . O a rtista va i c o m isso d a nd o “ a d e us a o e ste tic ismo ” , re c usa nd o a s tra d ic io na is o p e ra ç õ e s a rtístic a s
O itic ic a nã o fo i a p e na s um te ó ric o d e se u p ró p rio tra b a lho , ma s ta mb é m d e muito s inte rlo c uto re s, d ire to s o u d ista nte s. O Arq uivo HO c o mp re e nd e tip o s va ria d o s d e d o c ume nto s: a g e nd a s, c a d e rno s c o m p a uta s e fo lha s so lta s, o ra e sc rita s à mã o , o ra d a tilo g ra fa d a s. O s a ssunto s se a g rup a m e m d o ssiê s te má tic o s, c o m e stud o s, p la nta s o u ma q ue te s p a ra a c o nstruç ã o d e um tra b a lho , ro te iro s p a ra p e rfo rma nc e s e filme s, ho me na g e ns e fo to g ra fia s d e a rtista s q ue e le a c o mp a nha va ; a no ta ç õ e s p a ra a rtig o s e m a nd a me nto , p a ra nã o fa la r d o s ra sc unho s e m d ife re nte s e stá g io s; ve rsõ e s p re p a ra tiva s e d e finitiva s, se mp re c o m muita s c ó p ia s, ig ua is o u mo d ific a d a s; tra nsc riç õ e s d e livro s d e O itic ic a e sta va m le nd o , fo rma nd o a d e nd o s inva ria ve lme nte re p le to s d e instruç õ e s d e to d a so rte (LAG NADO , 2002, p .13 ).
No s a no s 1960 e 70, O itic ic a utilizo u fic há rio s e c a d e rno s, sup o rte s p rivile g ia d o s p a ra a rtista s, c o mo And y Wa ho l (1928-1987) e Vito Ac c o nc i (1940-). Assim, O itic ic a ta mb é m p e rte nc e à tra d iç ã o d e a rtista s a p e g a d a a re g istro s d o c ume nta is, a no ta ç õ e s d e rua , no ta s e o utra s a no ta ç õ e s o b se ssiva s fe ita s no Ô nib us e d a tilo g ra fa d a s e m p a p e l c a rb o no . O s d o c ume nto s q ue e le c rio u re g istra va m so b re o no me NTBK.5. Alé m d isso , usa va a c a rta c o mo d isp o sitivo d e c o munic a ç ã o , p o ntua nd o vá ria s fa se s d o se u p ro c e sso . O a rtista uso u o te rmo d iá rio p a ra re unir c e rta s id é ia s e imp re ssõ e s d o c o tid ia no .
Esse d iá rio é p a ra mim, d e se nvo lvime nto d e p e nsa me nto s q ue me a flig e m no ite e d ia , ma is o u me no s ime d ia to s e g e ra is. Nã o se i se há c o ntinuid a d e d e um d ia p a ra o o utro o u se há fra g me nta ç ã o d e a ssunto s o u id é ia s, o q ue se i é q ue é vivo d o c ume nto d o q ue q ue ro fa ze r e d o q ue p e nso . Pa ra mim a no ta ç õ e s e nã o fo rmula ç õ e s d e id é ia s o q ue sã o ma is imp o rta nte s. Sã o p e lo me no s, me no s ra c io na is e ma is e sp iritua is, c he ia s d e fo g o e te nsã o . De te sto fo rmula ç õ e s e d o g ma s. C he g a d e inte le c to (O ITIC IC A a p ud LAG NADO , 2002, p . 14).
No p e río d o e m q ue vive e m No va Yo rk O itic ic a p rivile g ia uma e sc rita
19 d e lira nte q ue se a lte rna c o m sua e sc rita te ó ric a . Esse s te xto s c o mp õ e m o s
Ne wyo rka ise s tra ze m, a ind a , info rma ç õ e s so b re a me tró p o le no va -io rq uina e so b re o Bra sil, a tra vé s d e e xp re ssõ e s c o mo sub so lo, sub Ame ric a, sub te rrâ ne o
d o d e sc o nhe c id o e ntre o utro s. C unha a e xp re ssã o sub te rrâ nea p a ra fa ze r me nç ã o a o unde rg ro und e a c o nd iç ã o d e p a ís p e rifé ric o d o Bra sil.
Alg uma s e xp re ssõ e s e ra m fo rma d a s p o r ra d ic a is d e a lg uma s p a la vra s e p o r sufixo s d ife re nte s p a ra q ue nã o se c o nfund isse c o m te rmo s já e xiste nte s. Um e xe mp lo é Tro p ic á lia , q ue re úne o ra d ic a l “ tro p i” , d e tro p ic a l, c o m o sufixo “ à lia ” . O a rtista p ro c ura va c o m isso nã o ha ve r c o nfusõ e s c o m o utro s “ ismo s” , ta l c o mo tro p ic a lismo . O utra s e xp re ssõ e s c o mo p ro p o r-p ro p o r e c o r-c o r e ra m g ra fa d a s a p re se nta nd o c e rta re d und â nc ia . O a rtista a ind a c unho u to d o um lé xic o q ue a p re se nta va um rig o r na g ra fia nã o p o d e nd o se r c o nfund id o c o m o utro s te rmo s ho mô nimo s d a a rte c o nte mp o râ ne a e q ue d e via m se r tra nsc rito s d a fo rma c o mo e sta va m no te xto : Amb ie nta l, Ap ro p ria ç ã o , C o nstrutivo ,
Exp e rime nta l, e Va ng ua rd a Bra sile ira . O a rtista fa z q ue stã o d e uma g ra fia rig o ro sa me nte d e ma rc a d a a fim d e re ssa lta r a d ife re nç a d o se u Pro g ra ma c o m o utra s p rá tic a s a rtístic a s e m vig o r e m se u te mp o . De ssa ma ne ira e xig e -se , a tra vé s d e instruç õ e s p ra sua insc riç ã o , a ssim c o mo e nc o ntra mo s instruç õ e s d e mo nta g e m p a ra se u tra b a lho .
O se g und o c a p ítulo e xp lo ra um no vo a sp e c to d a o b ra d e O itic ic a q ue p o uc a s ve ze s fo i a b o rd a d o d ura nte e sse p e río d o d o s a no s 1970: a s no va s re la ç õ e s music a is e c o mp o rta me nta is e sta b e le c id a s c o m sua re la ç ã o c o m o ro c k. Ne ste p e río d o O itic ic a , vive nd o e m Ne w Yo rk, se a fa sta d o c irc uito o fic ia l d e a rte s e me rg ulha no unde rg ro und. Sua s p ro p o siç õ e s se ra d ic a liza m no se ntid o é tic o e na re c o nstruç ã o d o c o tid ia no e d a vid a . As no ç õ e s d e Má rio Pe rnio la (2000) e Mic he l Fo uc a ult re lid o p o r G ille s De le uze (1990) sã o usa d a s p a ra a p ro fund a r a o s d e sd o b ra me nto s d e e xp e rime nta ç õ e s q ue p a rte m d e c é lula s g e rmina tiva s a mb ie nta is q ue sã o o s Pa ra ng o lé s e a s no va s fo rma s d e vive r q ue sã o o s Ba b ylo ne sts. Ne sse tó p ic o va mo s a p re se nta r a lg uns d o s
Pa ra ng o lés no va -io rq uino s e o s p rinc íp io s no rte a d o re s q ue re g e m sua e xp e rime nta ç ã o , a lé m d e sua d ife re nç a e m re la ç ã o a o s Pa ra ng o lés p ro d uzid o s no Bra sil.
Sã o a b o rd a d a s a s b a se s e p iste mo ló g ic a s q ue se re la c io na m c o m o o b je to d e e stud o p a ra re ssa lta r e ste s a sp e c to s. Utiliza -se p a ra ta nto a lg uma s no ç õ e s p a ra a b o rd a r e ssa s q ue stõ e s: A re fle xã o d e Fo uc a ult so b re é tic a e sub je tivid a d e e m livro s c o mo “ Mic ro físic a d o Po d e r” e a “ Vo nta d e d e Sa b e r” e a le itura q ue De le uze (1990) re a lizo u so b re e la .
21 c uid a d o d e si. O s c o nc e ito s d e d isp o sitivo e é tic a / e sté tic a / p rá tic a s d e si sã o fe rra me nta s d e le itura p a ra o b ra s q ue se a b re m a o d e vir e a lib e rd a d e d e e xp e rime nta ç ã o .
No te rc e iro c a p ítulo é re a liza d a uma inve stig a ç ã o so b re a a tua l re la ç ã o d a s ne o va ng ua rd a s e o muse u. Prime ira me nte , te mo s o fa to , já a p o nta d o p o r te ó ric o s c o mo Ha l Fo ste r (1996) o u And re a s Huysse n (1996), d e q ue , d e p o is d e to d a s a s c rític a s à instituiç ã o a rtístic a , a s inúme ra s p ro c la ma ç õ e s so b re a fusã o d a a rte e vid a p a re c e m nã o te r sup rimid o o muse u, ma s a nte s, e ste nd id o sua s fro nte ira s. Evid e nte me nte , c o m e sta s a ç õ e s nã o se sup rimiu a instituiç ã o d a a rte , ma s a ind a a ssim ta is a ç õ e s p ro mo ve ra m um imp o rta nte d e slo c a me nto d e sua s funç õ e s tra d ic io na is. Assim, a lé m d e sua s no va s p o ssib ilid a d e s d e d ivulg a ç ã o , ta mb é m p o ssib ilita ra m uma a mp lia ç ã o d a instituiç ã o muse o ló g ic a . Inve stig a mo s, p o r me io d o s te ó ric o s e stud a d o s, a s re la ç õ e s e ntre a s o b ra s c o mo a s d e Hé lio O itic ic a e a instituiç õ e s d o siste ma d e a rte . Essa s re la ç õ e s sã o c a ra c te riza d a s a p a rtir d a tra nsfo rma ç ã o d o muse u e a p a rtir d a q uilo q ue Huysse n c ha mo u d e muse a liza ç ã o , o u se ja , a c o nstruç ã o d e uma se nsib ilid a d e muse a l q ue p e rme ia e o c up a e sp a ç o s ma io re s d a e xp e riê nc ia c o tid ia na (HUYSSEN, 1997, p . 223).
A no ç ã o d e p a ssa d o s p re se nte s, p ro p o sta p o r Huysse n (2004, p . 10), usa d a p a ra e ssa “ ve rd a d e ira e xp lo sã o d o d isc urso d a me mó ria (um g ra nd e sinto ma c ultura l d a s so c ie d a d e s o c id e nta is) q ue p re se nc ia mo s há q uinze o u vinte a no s” , a p o nta p a ra uma mo d ific a ç ã o d a e xp e riê nc ia e a se nsib ilid a d e no te mp o q ue c a usa ra m uma re c o d ific a ç ã o d o p a ssa d o , q ue se inic io u d e p o is d o mo d e rnismo . De ntro d e sse â mb ito te mo s a p rinc ip a l he ra nç a e liç ã o d o
e tho s va ng ua rd ista : a tra nsfo rma ç ã o c ultura l d o c o tid ia no (1996, p . 27). Se o muse u nã o fo i sup rimid o p e la s va ng ua rd a s, p e lo me no s sua s fro nte ira s fo ra m e ste nd id a s e a p o ssib ilid a d e d e c o nta to d o g ra nd e p úb lic o c o m a s o b ra s va ng ua rd ista s e sua d ime nsã o c rític a ta mb é m fo i a la rg a d a .
a q ue la ima g e m d a unid a d e p o lític a e a rtístic a d a va ng ua rd a , a tua lme nte p e rd id a , e q ue p o d e no s a jud a r a fo rja r uma no va unid a d e e ntre p o lític a e c ultura , a d e q ua d a a o no sso te mp o . Já q ue se to rno u ma is d ifíc il c o mp a rtilha r a c re nç a d a va ng ua rd a histó ric a d e q ue a a rte p o d e se r c ruc ia l p a ra a tra nsfo rma ç ã o d a so c ie d a d e , a q ue stã o nã o é simp le sme nte re vive r a va ng ua rd a . (...) Em ve z d isso , a q ue stã o é c o nsid e ra r a ê nfa se d a va ng ua rd a histó ric a na tra nsfo rma ç ã o c ultura l d o c o tid ia no e a p a rtir d a í d e se nvo lve r e stra té g ia s p a ra o c o nte xto c ultura l e p o lític o d e ho je (HUYSSEN, 1996, p .27).
Essa s no ç õ e s sã o e sta b e le c id a s c o mo c rité rio d e a ná lise d e e xp o siç õ e s d o c o njunto d e o b ra s e sp e c ífic a s d e Hé lio O itic ic a . De ntro d e ssa p ro b le má tic a d a me mó ria na s so c ie d a d e s c o nte mp o râ ne a s, c o mo uma o b ra d e na ture za c ita d a lo g o a c ima é tra ta d a ? De ntro d e ssa p e rsp e c tiva c o nsid e ra mo s o s
Pa ra ng o lés c o mo o b ra e te xto já q ue a e xistê nc ia ma te ria l d e a lg uns d e le s e stá c o mp ro me tid a . As instituiç õ e s re sp o nsá ve is p e lo g e re nc ia me nto d e sse s tra b a lho s o s tra ta m a ssim. Isso se d e ve a o fa to d o a rtista te r e xe rc id o a c o nstruç ã o d a e sc rita , o nd e o s te xto s e a p rá xis nã o c e ssa m d e se a tra ve ssa .
Sã o a na lisa d a s a lg uma s e stra té g ia s d e e xib iç ã o d o s tra b a lho s d e Hé lio O itic ic a . O o b je tivo é c o nstruir uma a ná lise so b re a s e xib iç õ e s ma is re c e nte s d o tra b a lho d o a rtista . C o mo e sta s re -e xib iç õ e s vê m re c o d ific a nd o o tra b a lho d o a rtista ? Q ua is o s c rité rio s p a ra a re -e xib iç ã o d o s tra b a lho s? Q ua is a s c o nd iç õ e s d e re c e p ç ã o d o s tra b a lho s ne ste no vo c o nte xto ? Ne ste mo me nto va mo s no s a p o ia r no s te xto s c ura to ria s, utiliza nd o a no ç ã o d e p a ssa d o s p re se nte s, re ssa lta nd o a s e stra té g ia s muse a is e sua re la ç ã o c o m a me mó ria . Pa ra isso re c o rre -se a o s te xto s c ura to ria m d e e xp o siç õ e s p ó stuma s p re se nte s e m c a tá lo g o s. Re c o rre -se , a ind a , a o Arq uivo HO e a o s tra b a lho s e a c e rvo s d o C e ntro C ultura l Hé lio O itic ic a e a s instituiç õ e s q ue c uid a m d e sse s tra b a lho s.
23 o b je to d e a ná lise a s c inc o p rinc ip a is e xp o siç õ e s ind ivid ua is re a liza d a s e ntre 1992 e 2007: Hé lio O itic ic a (1992); Hé lio O itic ic a : O b ra e Estra té g ia (2002); C o r, Ima g e m, Po é tic a (2003); Q ua si-C ine ma s (2002), Bo dy o f C o lo r (2007). C o mo c rité rio e sc o lhe u-se a re le vâ nc ia d e ssa s e xp o siç õ e s no q ue ta ng e a a p re se nta ç ã o d o c o njunto d e sua o b ra , b e m c o mo a a p re se nta ç ã o d e a sp e c to s nunc a a nte s visto s o u e xib id o s p a ra o g ra nd e p úb lic o .
A le itura d o s e sc rito s d e c ura d o re s d e e xp o siç õ e s p ó stuma s, situa d o s d e ntro d a ê nfa se d e va ng ua rd a d e tra nsfo rma ç ã o d o c o tid ia no e xp õ e a s re la ç õ e s d e p o d e r-sa b e r q ue p e rme ia m a s re la ç õ e s muse a is, a lé m d a s no va s c o nd iç õ e s d e re c e p ç ã o d o s tra b a lho s d e Hé lio .
Em suma tra ta -se d e fa ze r-se re ve la r p a rte d a o b ra d e um a rtista q ue fo i p o uc o e xp lo ra d a . A re la ç ã o q ue e sta e sta b e le c e c o m o a tua l e sp a ç o d e e xp o siç ã o e c o m a s instituiç õ e s q ue c uid a m d e sua ma nute nç ã o p o d e susc ita r uma p ro b le má tic a q ue c o lo c a e m q ue stã o o e le me nto sub ve rsivo d e sua s instâ nc ia s e a té a na ture za d e ssa s instituiç õ e s q ue c uid a m d e sua ma nute nç ã o . C o lo c a r a q ue stã o d e uma o b ra q ue a ve nta p a ra si a c o nd iç ã o d e va ng ua rd a é c o lo c a r a q ue stã o d o muse u. As va ng ua rd a s d e d ic a ra m sua e xistê nc ia a d e struiç ã o d o muse u e d a instituiç ã o a rtístic a . As va ng ua rd a s, p o ste rio rme nte , fo ra m d o me stic a d a s p e lo s muse us. Esse s, q ue r q ue ira o u nã o , sã o re sp o nsá ve is p o r ne g o c ia ç õ e s simb ó lic a s d a me mó ria e d a so c ie d a d e . Ta lve z p a ra nó s re sta sse a ta re fa d e re p e tir d ife re nte me nte o e tho s va ng ua rd ista e inve nta r e stra té g ia s p a ra o no sso c o tid ia no . C o mo d e c la ro u Wa ly Sa lo mã o :
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Capítulo 1
Hélio por Hélio: A Base Underground
da Experimentação
Um d o s a sp e c to s p rimo rd ia is na o b ra d e Hé lio O itic ic a é sua c a p a c id a d e d e c o nstruir ne xo s c o nc e itua is à sua o b ra . No Bra sil, e le é um d o s p rime iro s a rtista s a intro d uzir b a se s e p iste mo ló g ic a s d e te o ria s a d vind a s d a s c iê nc ia s huma na s p a ra a e strutura ç ã o d e se us tra b a lho s. Assim, o a rtista , p a ra le la me nte à sua p ro d uç ã o , se mp re b usc o u p ro d uzir te xto s q ue a c o mp a nha va m sua s e xp e rime nta ç õ e s. Esc rito s, a rtig o s, c a rta s, no ta s, a no ta ç õ e s, O itic ic a e sc re via o b se ssiva me nte e e ssa e sc rita nã o se c o nstituía c o mo simp le s re la to so b re a s o b ra s. Po ssuía m uma a uto no mia q ue a s suste nta va e ma ntinha -a s ind e p e nd e nte s e a o me smo te mp o lig a d a s a o s tra b a lho s. Vive nd o e m No va Yo rk, O itic ic a c o ntinua a e sc re ve r e c o nstituir um a rq uivo q ue d o c ume nta sua s e xp e riê nc ia s e ind a g a ç õ e s inte le c tua is. Exp e rime nta uma vivê nc ia c o smo p o lita na c id a d e , e a p ro xima -se d o g rup o C o nc re to p a ulista a p a rtir d a s c a ra c te rístic a s d a e sc rita d e se nvo lvid a ne sse p e río d o , q ue te m um c a rá te r id e o g ra má tic o . A e sse c o njunto d e e sc rito s o a rtista d a o no me d e
Ne wyo rka ise s.
d e a ç ã o . Alé m d isso , sã o inte g ra d o s na c o nstruç ã o d e situa ç õ e s urb a na s, lo ng e d o c irc uito d e a rte , e m p ro p o siç õ e s q ue re me te m à s c o nstruç õ e s d e situa ç õ e s e p ro p o sta s situa c io nista s.
O itic ic a a ve nta p a ra sua s p ro p o siç õ e s um c a rá te r c irc unsta nc ia l, a tua nd o o u p ro je ta nd o situa ç õ e s q ue a c o nte ç a m na s rua s d a c id a d e , no c o tid ia no d o s tra nse unte s e d o se u c o tid ia no . Pre te nd ia m inve nta r no vo s mo d o s d e vid a a o invé s d e situa r sua s p ro p o siç õ e s c o mo a rte . Ma ntinha -se a fa sta d o d o s c irc uito s a rtístic o s, a p e sa r d e c o ntra c o m uma b o lsa d o G ug g e nhe im
(1970). C o nstró i Ninho s (1970) na sua mo ra d ia , c o nhe c id a c o mo Ba b ylo ne sts, o nd e re c e b e m se us a mig o s e a rtic ula d o re s, c o mo o s irmã o s C a mp o s. Esta b e le c e re la ç õ e s c o m a fa una ma rg ina l no va -io rq uina . Sua s e xp e riê nc ia s re c e b e m influê nc ia s d a s g ue rrilha s c ultura is e m c urso no s EUA, a lé m d a Inte rna c io na l Situa c io nista , mo vime nto q ue te ve um imp a c to a nte s, d ura nte e a p ó s 1968.
Pe lo fa to d e a fa sta r-se d a s p ro mo ç õ e s a rtístic a s, muito s c rític o s no Bra sil julg a va m q ue se u tra b a lho e sta va e sta g na d o e o a rtista d e c a d e nte . O a rtista , no e nta nto , re p o te nc ia liza sua s inve nç õ e s. C o me ç a a se inte re ssa r p o r fe nô me no s d a c ultura d e ma ssa c o mo c ine ma , TV, unde rg ro und e e sta b e le c e no va s re la ç õ e s music a is: ne sse mo me nto é o Ro c k n’ ro ll q ue inte g ra o Pro g ra ma Amb ie nta l e a p o nta p a ra se u c a rá te r c irc unsta nc ia l. É e ssa re la ç ã o q ue a p o nta mo s na b a se d e inve stig a ç ã o d e ssa d isse rta ç ã o : o ro c k c o mo d isp o sitivo é tic o -p o lític o d o Pro g ra ma Amb ie nta l.
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O ro c k fo i imp o rta nte ne sse níve l se nso ria l p o rq ue me xe u c o m o s c o rp o s, fe z c o m q ue e le s se mo ve sse m. Até o ro c k d o s a no s se sse nta vo c ê tinha q ue a p re nd e r o s p a sso s: ma mb o , twist, ta ng o , hully-g ully. Vo c ê tinha q ue sa b e r d a nç a r. O ro c k d e ssa d é c a d a a c a b o u c o m isso . C o m e le to d o mund o p a sso u a d a nç a r d ire ta me nte se m p re c isa r a p re nd e r na d a . Se m p re c isa r sa b e r. O ro c k d o s se sse nta tra nsfo rmo u a d a nç a numa c o isa q ue a g e nte na sc e sa b e nd o , o q ue é ve rd a d e (MAC IEL, 1982, p .78).
O ro c k e a c o ntra c ultura a p o nta va m p a ra ma nife sta ç õ e s c o le tiva s, o nd e a multid ã o se a p re se nta múltip la , p lura l, he te ro g ê ne a e re fra tá ria à unid a d e p o lític a (PELBART, 2003, p .85). A músic a e xp lo d e ne sse p e río d o , re a liza nd o e xp e rime nta ç õ e s q ue a mo d ific a ra m p a ra se mp re . O utra s e xp e riê nc ia s sã o re a liza d a s ne sse p e río d o na p intura , c ine ma , te a tro , d a nç a , e q ue d a va uma imp o rtâ nc ia ine g á ve l p a ra a s rua s. A c o ntra c ultura se a p ro p rio u d o lixo muta nte urb a no , d a q uilo q ue vinha d e b a ixo . Essa é uma d a s c a ra c te rístic a s ma is imp o rta nte s d o und e rg ro und e d o ro c k: e le s tinha m um ine g á ve l a p e lo físic o e se nso ria l. Po ré m, ne sse p e río d o , o ro c k se a lime nto u d e o utra s re fe rê nc ia s vind a s d a a lta c ultura , c o mo a filo so fia , a lite ra tura , a p o e sia , a músic a e rud ita , o te a tro e a s a rte s visua is. Se rviu d e ssa ma ne ira p a ra d iminuir a fro nte ira e ntre a a lta e a b a ixa c ultura , fa ze nd o c o m q ue e ssa s c a te g o ria s nã o fize sse m muito se ntid o d e ntro d e sse unive rso .
O Pa ra ng o lé e stá no c e rne d a s d e sc o b e rta s e d e se nvo lvime nto s d o
Amb ie nta l. O Pa ra ng o lé re p re se nto u um g ra nd e sa lto p a ra o Pro g ra ma Amb ie nta l a nte s d a sua re inve nç ã o e m No va Yo rk. Existe uma d ife re nç a e ntre o
Pa ra ng o lé d e se nvo lvid o no Bra sil e o Pa ra ng o lé d e se nvo lvid o no s EUA, o nd e se p o d e a firma r a imp o rtâ nc ia d o me smo p a ra o s d e se nvo lvime nto s futuro s.
C o mo já c o lo c a d o a c ima Pa ra ng o lé é ma is d o q ue uma c a p a fe ita p a ra se c o lo c a r no c o rp o e d a nç a r. Ele se to rna uma no va e xp e rime nta r o c o rp o , uma te nta tiva d e p ro d uzir uma ma ne ira d e e nc a ra r o mund o , o a mb ie nte , uma te nta tiva d e p ro d uzir uma mo d ific a ç ã o d a vid a , d e instituir um no vo va lo r à e xistê nc ia (PELBART, 2003, p .203).
Parangolé
s
A d e sc o b e rta d o q ue O itic ic a c ha mo u d e
Pa ra ng o lé na rra o p o nto c ruc ia l e d e fine uma p o siç ã o e sp e c ífic a d o d e se nvo lvime nto te ó ric o d e sua e xp e riê nc ia d a e strutura c o r no e sp a ç o , d e ntro d o q ue o a rtista c ha mo u d e Pro g ra ma Amb ie nta l. Ap ro p ria ç ã o d e uma g íria d e rua , a p a la vra Pa ra ng o lé
(Im a g e m 1), ta l q ua l o Me rz (Im a g e m 2) (e se us d e riva d o s) d e Kurt Sc hwitte rs (1889-1948) Assume o q ue é p a ra e le uma p o siç ã o e xp e rime nta l e sp e c ífic a fund a me nta l à c o mp re e nsã o te ó ric a vive nc ia l d e ntro d e sua o b ra .
A re p o nte nc ia liza ç ã o d o s o b je to s e m o utra s e xp e rime nta ç õ e s (Bó lid e s, Pe ne trá ve is, Núc le o s) é re ve la d a e a d q uire no va p o ssib ilid a d e na e sp e c ific id a d e d a o b ra .
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c o ntínua a p re e nsã o d a o b ra . Essa re la ç ã o p o d e r-ia c o nstituir-se numa tra nso b je tivid a d e e a o b ra num tra ns-o b je to id e a l. Nã o é a q ui o lug a r p a ra d e se nvo lve r e m d e ta lhe e ssa te o ria , ma s p ro c ura ra a p e na s situa r uma d e finiç ã o g e ne ra liza d a d e sse p o nto d e vista (O ITIC IC A, 1986, p .66).
O Pa ra ng o lé se ria suste nta d o p o r inte re sse na b usc a d a e strutura b á sic a d o s o b je to s. Inte re sse e nc o ntra d o p e lo a rtista na q uilo q ue c ha mo u d e “ p rimitivid a d e c o nstrutiva p o p ula r” q ue só a c o nte c e na s p a ssa g e ns urb a na s, sub urb a na s, rura is, o b ra s q ue re ve la m um núc le o c o nstrutivo p rimá rio . O Pa ra ng o lé a ve nto u a p ro c ura d a q uilo q ue O itic ic a c ha mo u d e fund a ç ã o o b je tiva d e um no vo e sp a ç o e um no vo te mp o na o b ra e no e sp a ç o a mb ie nta l. C o m isso o
Pa ra ng o lé a lme ja um se ntid o c o nstrutivo na c o nstituiç ã o d e uma Anti-a rte Amb ie nta l p o r e xc e lê nc ia . Ne ssa Anti-a rte a mb ie nta l a c o nte c e ria uma sínte se d e sua s o rd e ns q ue tra nsita va m e m a lg o p ró ximo d a a rq uite tura .
C o mo e sc re ve O itic ic a :
Há c o mo q ue uma hie ra rq uia d e o rd e ns na p la sma rã o e xp e rime nta l d e Núc le o s, Pe ne trá ve is e Bó lid e s, to d a s e la s, p o ré m d irig id a s p a ra e ssa c ria ç ã o d e um mund o a mb ie nta l o nd e e ssa e strutura d a o b ra se d e se nvo lva ta mb é m a q ui c a ra c te rístic a e m re la ç ã o a o q ue ho je e xiste na a rte e m g e ra l: é uma p a rtic ip a ç ã o a mb ie nta l p o r e xc e lê nc ia (O ITIC IC A, 1986, p .67).
O p ro je to d e Anti-a rte Amb ie nta l visa va a p ro c ura d e to ta lid a d e s a mb ie nta is q ue se ria m e xp lo ra d o s d e sd e o infinita me nte p e q ue no a té o e sp a ç o a rq uite tô nic o . O b je to s, te nd a s sã o usa d o s p a ra e xp rimir uma d e te rmina d a o rd e m e sp a c ia l d a e strutura -c o r d a d a p e lo o b je to e m si e p e la
a ç ã o d o e sp e c ta d o r a o c a rre g a r e sse o b je to . O s o b je to s, a te nd a , o s e sta nd a rte s sã o a tivid a d e s p e la re la ç ã o a mb ie nta l e e xig e a q ui o p e rc urso d o e sp e c ta d o r, um d e sve la me nto d a a ç ã o c o rp o ra l d ire ta d o e sp e c ta d o r. O
Pa ra ng o lé te nta e sta b e le c e r uma tra ma e strutura l c o m o e le me nto mític o .
O Pa ra ng o lé te nta re sta b e le c e r a inve nç ã o d e um no vo mito p rimo rd ia l a tra vé s d a a p ro xima ç ã o c o m e le me nto s d a d a nç a , mític a p o r e xc e lê nc ia , e sta b e le c e nd o a inve nç ã o , a vo nta d e d e um no vo mito q ue inc id e no c o mp o rta me nto d o e sp e c ta d o r (O ITIC IC A, 1986, p .69).
No te xto Po siç ã o e Pro g ra ma, d e 1966, O itic ic a (1986) d e fine Anti-a rte c o mo a ra zã o e a c o mp re e nsã o d e se r d o a rtista , q ue nã o c ria ria ma is p a ra um e sta d o d e c o nte mp la ç ã o , ma s c o mo um mo tiva d o r p a ra a c ria ç ã o c o mp le ta d a p e la p a rtic ip a ç ã o d o “ e sp e c ta d o r” , a g o ra c o nsid e ra d o “ p a rtic ip a d o r” . Anti-a rte p ro p õ e -se c o mo um mo d o d e o p o rtunid a d e p a ra p a rtic ip a ç ã o o nd e o p a rtic ip a d o r a c he a lg o q ue lhe instig ue e a c he a lg o p a ra c ria r.
Anti-a rte se ria uma c o nte mp la ç ã o d a ne c e ssid a d e c o le tiva d e uma a tivid a d e c ria d o ra la te nte , q ue se ria mo tiva d a d e c e rto mo d o p e lo a rtista : fic a m, p o rta nto , inva lid a d a s a s p o siç õ e s me ta físic a s, inte le c tua lista e e ste tic ista – nã o há p ro p o siç ã o d e um e le va r o e sp e c ta d o r a um níve l d e c ria ç ã o , a uma me ta re a lid a d e , o u d e imp o r-lhe uma id é ia o u um p a d rã o e sté tic o c o rre sp o nd e nte à q ue le s c o nc e ito s d e a rte , ma s d a r-lhe uma simp le s o p o rtunid a d e d e p a rtic ip a ç ã o p a ra q ue e le a c he a í a lg o q ue q ue ira re a liza r – é , p o is, uma re a liza ç ã o c ria tiva o q ue p ro p õ e o a rtista , re a liza ç ã o e sta ise nta d e p re missa s mo ra is, inte le c tua is o u e sté tic a s a a nti-a rte e stá ise nta d isto – é uma simp le s p o siç ã o d o ho me m ne le me smo e na s sua s p o ssib ilid a d e s c ria tiva s vita is (O ITIC IC A, 1986, p .70).
31 e d o d isc urso , c a b e uma ma nife sta ç ã o so c ia l q ue se re sume m d e ntro d o c o mp o rta me nto ind ivid ua l (O ITIC IC A, 1986, p .71).
Aind a se g und o o a rtista , no te xto Po siç ã o e Pro g ra ma:
Ante s d e tud o d e vo lo g o e sta b e le c e r q ue ta l p o siç ã o só p o ssa se r uma p o siç ã o to ta lme nte a ná rq uic a , ta l o g ra u imp líc ito ne la . Tud o o q ue há d e o p re ssivo , so c ia l e ind ivid ua lme nte , e sta e m o p o siç ã o à e la – to d a s a s fo rma s fixa s d e c a d e nte s d e g o ve rno , o u e strutura s so c ia is vig e nte s, e ntra m a q ui e m c o nflito – a p o siç ã o “ so c ia l-a mb ie nta l” é a p a rtid a p a ra to d a a s p o siç õ e s so c ia is e p o lític a s, o u a o me no s o fe rme nto p a ra ta l – é inc o mp a tíve l c o m e la q ua lq ue r le i q ue nã o se ja d e te rmina d a p o r uma ne c e ssid a d e inte rio r d e finid a , le is q ue se re fa ze m c o nsta nte me nte – é a re to ma d a d a c o nfia nç a d o ind ivíd uo na s sua s intuiç õ e s e a nse io s ma is c a ro s(O ITIC IC A, 1986,p .72).
A Anti-a rte o u Pro g ra ma Amb ie nta l o u a ind a o Pa ra ng o lé tinha o p ro p ó sito d e c o nc luir o s p a rtic ip a nte s a tra vé s d a tra nsfo rma ç ã o p lá stic a q ue fa ze nd o uso to ta l d o s va lo re s tá te is, visua is, a ud itivo s se a b rind o p re te nd ia tra nsfo rma r o te mp o e o e sp a ç o . A Anti-a rte se ria uma no va e ta p a , c ha ma d a d e a rte p ó s-mo d e rna p o r Má rio Pe d ro sa (PEDRO SA in: O ITIC IC A, 1986, p . 9), o nd e e xiste uma ne c e ssid a d e d e re a liza ç ã o e d e sd o b ra me nto vita l.
A Anti-a rte é uma no va e ta p a (é o q ue o Má rio Pe d ro sa sa b ia me nte fo rmulo u c o mo a rte p ó s-mo d e rna ): é o o timismo , é a c ria ç ã o d e uma no va vita lid a d e na e xp e riê nc ia huma na c ria tiva : o se u p rinc ip a l o b je tivo é o d e d a r a o p úb lic o a c ha nc e d e d e ixa r d e se r p úb lic o e sp e c ta d o r, d e fo ra , p a ra to rna r-se p a rtic ip a nte na a tivid a d e c ria d o ra (O ITIC IC A, 1986, p .75).
A e xp e riê nc ia c o m o Mo rro d a Ma ng ue ira (Im a g e m 3) d isp a ra uma p lê ia d e d e p ro c e sso s q ue re me te m à uma fo rç a mític a e a re inve nç ã o d o s g e sto s se m a s fo rma lid a d e s d a d a nç a . A a rq uite tura d o mo rro ta mb é m é uma re fe rê nc ia p a ra muta b ilid a d e tã o re q ue rid a no uso e na c o nstituiç ã o d o s
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Im a g e m 3 – Mo rro da Ma ng ue ira
Im a g e m 3 – Mo rro da Ma ng ue ira Im a g e m 3 – Mo rro da Ma ng ue ira
a to e xp re ssivo . Na Ma ng ue ira , a lé m d a d e sc o b e rta d o c o rp o e d a d a nç a , O itic ic a tra va c o nta to c o m a ma rg ina lid a d e , tã o d ista nte d e sua vivê nc ia p e q ue no -b urg ue sa . Essa ma rg ina lid a d e é e sse nc ia l d e ntro d a p o siç ã o é tic a na c o nstituiç ã o d o Pa ra ng o lé e d a Anti-a rte Amb ie nta l:
O me u Pro g ra ma Amb ie nta l a q ue c ha mo Pa ra ng o lé nã o p re te nd e e sta b e le c e r uma no va mo ra l o u c o isa se me lha nte , ma s “ d e rrub a r to d a s a s mo ra is” , p o is q ue e sta s te nd e m a um c o nfo rmismo e sta g na ste , a e ste re o tip a r o p iniõ e s e c ria r c o nc e ito s nã o c ria tivo s. A lib e rd a d e mo ra l nã o é uma no va mo ra l, ma s uma e sp é c ie d e a ntimo ra l, b a se a d a na e xp e riê nc ia d e c a d a um: é p e rig o sa e tra z g ra nd e s info rtúnio s, ma s ja ma is tra i a q ue m p ra tic a : simp le sme nte d á a c a d a um o se u p ró p rio e nc a rg o , a sua p ró p ria re sp o nsa b ilid a d e ind ivid ua l: e stá a c ima d o b e m e d o ma l e tc . (O ITIC IC A, 1986, p .81).
O Pa ra ng o lé se ria p a ra o a rtista a a nti-a rte p o r e xc e lê nc ia o nd e p re te nd ia e ste nd e r o se ntid o d e a p ro p ria ç ã o p a ra o e sp a ç o urb a no e p a ra o mund o . Existe no p ro g ra ma Amb ie nta l uma se nsib ilid a d e d a s rua s, a tra vé s d a a p ro p ria ç ã o , d e a mb ula ç ã o e a p ro p ria ç ã o d o e sp a ç o d a c id a d e numa a mb iç ã o d e to ta lid a d e .
Pa ra ng o lé é a a nti-a rte p o r e xc e lê nc ia : inc lusive , p re te nd o e ste nd e r o se ntid o d e a p ro p ria ç ã o à s c o isa s d o mund o c o m q ue d e p a ro na s rua s, te rre no s b a ld io s, c a mp o s, o mund o a mb ie nte , c o isa s q ue nã o se ria m tra nsp o rtá ve is, ma s p a ra a s q ua is e u c ha ma ria o p úb lic o à p a rtic ip a ç ã o – se ria isso um g o lp e fa ta l a o c o nc e ito d e muse u, g a le ria d e a rte , e tc ., e a o p ró p rio c o nc e ito d e e xp o siç ã o – o u nó s o mo d ific a mo s o u nó s c o ntinua mo s na me sma . Muse u é o mund o : a e xp e riê nc ia c o tid ia na : o s g ra nd e s p a vilhõ e s p a ra mo stra s ind ivid ua is sã o o s q ue a ind a se rve m p a ra ta is ma nife sta ç õ e s: p a ra o b ra s q ue ne c e ssite m a b rig o , p o rq ue a s q ue d isso nã o ne c e ssita re m d e ve fic a r no s p a rq ue s, te rre no s b a ld io s d a s c id a d e s (O ITIC IC A, 1986, p .82).
35 e xistê nc ia c o tid ia na c o mo um c a mp o d e e xp e rime nta ç ã o c o ntínuo . Muito a o c o ntrá rio d o q ue a c rític a tup iniq uim d e c la ro u, na é p o c a , O itic ic a nunc a se e sta g no u a p ó s o s a no s 1960; a b a nd o no u o e sp a ç o tra d ic io na l d e a rte s (a p e sa r d e c o nta r c o m uma b o lsa G ug g e nhe im), ma s nunc a d e ixo u d e re a liza r e xp e rime nta ç õ e s. A na ture za d e sse s e xp e rime nto s é q ue p ro va ve lme nte mud o u, d e ixa nd o d e se r uma c a te g o ria e sté tic a d e Anti-a rte .
Em 1973, Hé lio O itic ic a c o me ç a a d e se nvo lve r o s b lo c o s-se ç ã o d o s
Ne wyo ka íse s, tra b a lho q ue nã o é c o nc luíd o . Esse c o ng lo me ra d o Te xtua l a b ra ng e d ive rso s tó p ic o s c o nstituíd o d e d ive rsa s no ta s.
Po d e mo s p e rc e b e r a no ta ç õ e s so b re d ive rso s e le me nto s e tra b a lho s, e ntre e le s o Ra p in p ro g re ss, o sub te rra ne a n TRO PIC ÁLIA PRO JEC TS (d o PN10 a o
PN16), o Pn17 Sto nia e o PN 18 She lte r Shie ld, o s no ve b lo c o s d e C O SMO C O C A-p ro g ra ma in A-p ro g re ss (d e C C 1 a C C 9), a re inve nç ã o d o Pa ra ng o lé (c ha ma d a d e Pa ra ng o p la y), um b lo c o c ha ma d o Ultima te ly Mic k Ja g g e r e um o utro re unind o a rg ume nto s e fund a me nto s p a ra fund a me nta r a Bra silia n Exp e rime nta lity. O itic ic a c rio u uma se ç ã o c ha ma d a Bo dywise (c o rp o c ie nte ) q ue tra ta ria d a q ue stã o d o c o rp o . Essa se ç ã o d e ixa ria e sp a ç o s e m b ra nc o q ue inc luiria m a p a rtic ip a ç ã o d o e xp e c ta d o r/ le ito r.
Bo dywise re c e b e a a d iç ã o d e vá rio s te xto s d e d ive rso s a uto re s c o mo Anto nin Arta ud , Ha ro ld o d e C a mp o s, Ja me s Jo yc e , Ma c luha n, Q ue ntin Fio ri, To rq ua to Ne to , Nie tzsc he , Sa rtre e ntre o utro s. O s e sc rito s d e O itic ic a a ind a p rivile g ia m Jo hn C a g e e Yo ko O no , a ssina la nd o o p a re nte sc o d o d e se nvo lvime nto histó ric o d o g rup o Fluxus c o m o Pa ra ng o lé , o u se ja , a p ro e minê nc ia é tic a a nte s d a e sté tic a (LAG NADO , 2002, p .69).
O itic ic a , vive nd o e m No va Yo rk, no s a no s 70, me rg ulha no unde rg ro und
tra b a lha ra m no s filme s d e And y Wa hro l. Essa a p ro xima ç ã o d o unde rg ro und no va -io rq uino é fund a me nta l p a ra e nte nd e r o Pa ra ng o lé
d e se nvo lvid o no s Esta d o s Unid o s. O Pa ra ng o lé
(Im a g e m 4) nã o p o d e fic a r so me nte c irc unsc rito à s c a p a s c o mo é a mp la me nte d ifund id o . O c o nc e ito d e Pa ra ng o lé le va a uma simb io se c o rp o a mb ie nte .
C o mo c o lo c a Lise te La g na d o (2002):
O ra , sa b e -se q ue o c o nc e ito d e ve stir e c a rre g a r e sta nd a rte s e b a nd e ira s sã o a p e na s um d o s a sp e c to s d e um c o nc e ito c ujo sig nific a d o visa d ila ta r o c o rp o -c o rp o p a ra o c o rp o -a mb ie nte . O e nte nd ime nto d e um Pa ra ng o lé (e mp re g a d o no s te xto s Pro g ra má tic o s). Pa ra d e sig na r o Pro g ra ma Amb ie nta l p a ssa ne c e ssa ria me nte p e lo c o nc e ito d e a mb ie nte ( p .72).
O a mb ie nta l a b a rc a no va s re la ç õ e s e ntre a to ta lid a d e , o s o b je to s e o c o rp o d o e sp e c ta d o r. Pa ra ng o lé p a ssa a d e sig na r um c o nc e ito e o p rinc íp io d e to na d o r d e vá ria s p ro p o siç õ e s d o Pro g ra ma Amb ie nta l, c o mo o a rtista e sc re ve no te xto “ Po siç ã o e Pro g ra ma ” .
Pa ra mim a c a ra c te rístic a ma is c o mp le ta d e to d o e sse c o nc e ito d e a mb ie nta ç ã o fo i a fo rmula ç ã o d o q ue c ha me i d e PARANG O LÉ. É isto muito ma is d o q ue um te rmo p a ra d e finir uma sé rie d e o b ra s c a ra c te rístic a s: a s c a p a s, o s e sta nd a rte s e te nd a . Po rq ue ne ssa s o b ra s fo i-me d a d a a o p o rtunid a d e , a id é ia d e fund ir c o r, e strutura s, se ntid o , p o é tic o , d a nç a , p a la vra , fo to g ra fia fo i o c o mp ro misso d e finitivo c o m o q ue d e fino p o r to ta lid a d e o b ra , se é q ue d e c o mp ro misso s se p o ssa fa la r ne ssa s c o nsid e ra ç õ e s. C ha ma re i, e ntã o , PARANG O LÉ, d e a g o ra e m d ia nte a to d o s o s p rinc íp io s d e finitivo s fo rmula d o s a q ui, inc lusive o d a nã o fo rmula ç ã o d e c o nc e ito s q ue é o ma is imp o rta nte (O ITIC IC A, 1986, p .70).
Há a sp e c to s é tic o s d a o b ra d e Hé lio situa d o s na ê nfa se d e va ng ua rd a d e
37 tra nsfo rma ç ã o c ultura l d o c o tid ia no a p a rtir d o s Pa ra ng o lés re c o d ific a d o s e m
Pa ra ng o p la ys. No s a no s 1970, O itic ic a se a fa sta d o c irc uito o fic ia l d e a rte s e me rg ulha no unde rg ro und d e No va Yo rk. Sua s p ro p o siç õ e s se ra d ic a liza m no se ntid o é tic o e na re c o nstruç ã o d o c o tid ia no e d a vid a ..
Hélio Oiticica e a desmitificação do
cotidiano
“ O q ue fa ç o é músic a ” , d e c la ro u Hé lio O itic ic a . De fa to , p a ra a lé m d o c a rá te r p o lê mic o d e ssa a firma ç ã o , a músic a , ind ub ita ve lme nte , te ve um imp o rta nte p a p e l e m sua s p ro p o siç õ e s a mb ie nta is, c o mo já fo i p e rc e b id o p e lo s c rític o s d e sua o b ra , e sp e c ia lme nte a re la ç ã o e ntre o Pa ra ng o lé e o Sa mb a . Sa ind o d o te rre iro d o sa mb a , a ssina -se a q ui a re la ç ã o d o ro c k c o m o tra b a lho d e O itic ic a , re ssa lta nd o o s d e sd o b ra me nto s é tic o s d isp a ra d o s p o r e sta re la ç ã o d e ntro d a re c o d ific a ç ã o d o s Pa ra ng o lé s, o c o rrid a no p e río d o a b o rd a d o . Este s d e sd o b ra me nto s visa m o q ue o a rtista c ha mo u d e d e smitific a rã o , d a ultra p a ssa g e m d a “ c o ni-c o nvivê nc ia ” p re se nte no c o tid ia no d o mina d o p e la re tific a ç ã o . Pa ra isso , va mo s utiliza r a lg uma s imp lic a ç õ e s e ntre sa b e r, p o d e r e sub je tiva ç ã o p re se nte s no c o nc e ito d e “ d isp o sitivo ” , d e Mic he l Fo uc a ult re lid o p o r De le uze (1990) e a lg uma s no ç õ e s p ro p o sta s p o r Má rio Pe rnio la no livro Pe nsa nd o o Ritua l: Se xua lid a d e , Mo rte e Mund o (2000).
O ro c k n’ ro ll te m uma imp o rtâ nc ia fund a me nta l na o b ra d e Hé lio O itic ic a , p rinc ip a lme nte no p e río d o e m q ue o a rtista vive u e m Ne w Yo rk e m se u a uto -e xílio , no s a no s 70, d ura nt-e o r-e g im-e milita r b ra sil-e iro . O ro c k fo i um -e l-e m-e nto c ha ve q ue p e rmitiu a O itic ic a e ste nd e r o s d e sd o b ra me nto s d o Pro g ra ma Amb ie nta l d ura nte sua e sta d ia e m Ne w Yo rk. Essa p a ssa g e m d o sa mb a a o ro c k p õ e e m e vid ê nc ia a s mud a nç a s na s c o nc e p ç õ e s d o s Pa ra ng o lé s e ntre me a d o s d a d é c a d a d e 1960 e a o s a no s 1970.
d e se nvo lvime nto d e se us p rime iro s Pa ra ng o lé s, p ro p o siç õ e s sing ula re s c ria d a s p o r O itic ic a , p ro p o siç õ e s c o mp o rta me nta is, a mb ie nta is, q ue p e d ia m a p a rtic ip a ç ã o d o e sp e c ta d o r. Junta me nte a e sse d e slo c a me nto d o p a p e l d o p úb lic o , o s Pa ra ng o lé s c o lo c a va m ta mb é m o p ro b le ma d o te mp o , já q ue e ste último e ra c o nvo c a d o p a ra a tiva r o e sp a ç o , c o nfluind o p a ra a c ria ç ã o d e um e sp a ç o -te mp o a mb ie nta l, o nd e a s c a te g o ria s d e o b ra e e sp e c ta d o r a ssumia m d e te rmina ç õ e s d ife re nte s d a s tra d ic io na is :
O Pa ra ng o lé re ve la e ntã o o se u c a rá te r fund a me nta l d e e strutura a mb ie nta l, p o ssuind o um núc le o p rinc ip a l: o p a rtic ip a d o ra -o b ra , q ue se d e sme mb ra e m “ p a rtic ip a d o r” , q ua nd o a ssiste e “ o b ra ’ q ua nd o a ssistid a d e fo ra ne sse e sp a ç o -te mp o a mb ie nta l. Esse s núc le o s p a rtic ip a d o ra -o b ra a o se re la c io na re m num a mb ie nte d e te rmina d o (numa e xp o siç ã o p o r e x.) c ria m um siste ma a mb ie nta l Pa ra ng o lé q ue p o r sua ve z p o d e ria se r a ssistid o p o r o utro s p a rtic ip a d o re s d e fo ra (O ITIC IC A, 1986, p .76)
O s Pa ra ng o lé s a la rg a m se u c a mp o d e a ç ã o d e sd e sua c ria ç ã o e m 1964. Ma is d o q ue o simp le s uso d e uma c a p a , o s Pa ra ng o lé s sina liza m c o m o jo g o a tiva d o a tra vé s d a a ç ã o d o p a rtic ip a d o r (e x-e sp e c ta d o r). C o nstitue m-se c o mo uma a ç ã o e m te mp o re a l, p e rmitind o o imp ro viso surg id o a p a rtir d a s p ro p o siç õ e s. Alé m d o p ro b le ma d a ima g e m, c o mo re ssa lta m vá rio s c o me nta d o re s6 e o a rtista e m a lg uma s d e sua s no ta s, o p ro b le ma d o te mp o e ra c o lo c a d o e nq ua nto d ura ç ã o . O te mp o , ne sse c o nte xto , nã o e ra a e sp a c ia liza ç ã o d o te mp o p ro p o sta p e la sua me nsura b ilid a d e . O te mp o e nq ua nto d ura ç ã o é a p re e nd id a p e la intuiç ã o e nã o p o r uma ra c io na lid a d e a sse nta d a na c iê nc ia , no se nso c o mum e na ling ua g e m. O p ro b le ma d o te mp o ve m a se so ma r c o m a d e sc o b e rta d a ima nê nc ia , c o mo no s mo stra Pa o la Be rste in Ja q ue s:
A d e sc o b e rta d a ima nê nc ia p o r O itic ic a fe z-se , p o rta nto , p o r inte rmé d io d a d a nç a , o u a nte s, d a s ima g e ns p ro vo c a d a s p o r mo vime nto s d a s d a nç a s q ue mud a m c o ntinua me nte , p a ssa nd o p o r vá rio s e stá g io s inte rme d iá rio s (e sta r). Da te mp o ra lid a d e d a d a nç a , o u d o se mitismo d o s g e sto s p ro vo c a d o s p e lo ritmo d o
39
sa mb a , re sulta uma fra g me nta ç ã o d e ima g e ns q ue d e se sta b iliza a p ró p ria no ç ã o d e c ria ç ã o a rtístic a e m O itic ic a (BERENSTEIN, 2003, p .41).
O s Pa ra ng o lé s (Im a g e m 5), o s Bó lide s
(Im a g e m 6) e o s Pe ne trá ve is (Im a g e m 7) fo ra m a s b a liza s q ue e strutura m a s q ue stõ e s e sp a ç o s-te mp o ra is iné d ita s d e se us d e se nvo lvime nto s. Era o fim d a p intura , c o nfo rme d e c la ra va Hé lio , e o surg ime nto d e se u Pro g ra ma Amb ie nta l, q ue c o lo c a e m e vid ê nc ia a lg uns d o s e le me nto s c ha ve s d e se us tra b a lho s, c o mo o a sp e c to “ c o mp o rta me nta l” e a “ p a rtic ip a ç ã o d o p úb lic o ” , a mb o s ma rc a d o s p e lo “ e sta d o d e inve nç ã o p uro ” , o u o “ e xe rc íc io e xp e rime nta l d a lib e rd a d e ” , c o mo p re fe re Má rio Pe d ro sa (in: O ITIC IC A, 1986, p .10).
C o m o d e se nvo lvime nto d e se u Pro g ra ma Amb ie nta l, Hé lio “ tinha c he g a d o a o limite d e tud o ” , c o mo c o lo c a C e lso Fa va re to :
Te nd o c he g a d o a o “ limite d e tud o ” na “ White c ha p e l Exp e rie nc e ” e na “ Info rma tio n” , O itic ic a d e sa p a re c e d a s p ro mo ç õ e s a rtístic a s. Aninha nd o e m No va Yo rk, le va a o e xtre mo a
ma rg ina lid a d e d o e xp e rime nta l. De sinte g ra d a a p intura e e nc e rra d o s o s mo vime nto s d e va ng ua rd a , O itic ic a vive o p uro “ e sta d o d e inve nç ã o ” ; a ssume o e xp e rime nta l é a p ro p ria d a , nã o p a ra se r e nte nd id a c o mo d e sc ritiva d e um a to a se r julg a d o p o ste rio rme nte e m te rmo s d e suc e sso o u fra c a sso , ma s c o mo um a to c ujo re sulta d o é d e sc o nhe c id o (FAVARETTO , 1992, p .205).
a ve ste
Im a g e m 6 - Bó lide s
O itic ic a d e line ia se us d e se nvo lvime nto s futuro s a p a rtir d a e xp o siç ã o
Ap o c a lip o p ó te se, re a liza d a no Ate rro , e m 1968. Pa ra O itic ic a , Ap o c a lip o p ó te se
fig uro u c o mo se nd o sua ma nife sta ç ã o p úb lic a ma is imp o rta nte no s a no s 60, p o is e la a nte c ip a o s d e se nvo lvime nto s futuro s, c o mo Éde n (Im a g e m 8) e o Ba rra c ã o.
Ap o c a lip o p ó te se d e sve nd o u-me o futuro : a e xp e riê nc ia White c ha p e l ma is d o q ue uma sínte se d e to d a a minha o b ra , o u a so ma d e id é ia s, d e c o rre d e Ap o c a lip o p ó te se : a c ria ç ã o d e um e sp a ç o d e ntro -d e te rmina d o , inte nc io na lme nte na tura lista , a b e rta c o mo o c a mp o na tura l p a ra to d a s a s d e sc o b e rta s: o c o mp o rta me nto q ue se re c ria q ue na sc e : na Ap o c a lip o p ó te se a s e strutura s to rna m-se g e ra is d a d o s a o c o mp o rta me nto c o le tivo -c a sua l-mo me ntâ ne o : e m White c ha p e l o c o mp o rta me nto se a b re , p a ra q ue m c he g a e se d e b ruç a no a mb ie nte c ria d o , no frio d a s rua s lo nd rina s, re p e tid a s, fe c ha d a s e mo nume nta is, e se re c ria c o mo d e à na ture za , a o c a lo r infa ntil d e se d e ixa r a b so rve r: a uto -a b so rç ã o , no úte ro d o e sp a ç o a b e rto c o nstruíd o , q ue ma is d o q ue “ g a le ria ” o u “ a b rig o ” , e ra e sse e sp a ç o (O ITIC IC A, 1996, p .130).
O c a mp o c o mp o rta me nta l d a s e xp e riê nc ia s se rá re a liza d o a p a rtir d a visã o d o a rtista , a p a rtir d e um c o nta to g rup a l c o le tivo a p a rtir d a insta ura ç ã o d e uma nuc le iza ç ã o o rg a niza d a d e ntro d e um c o nta to g rup a l c o le tivo . Essa s e xp e riê nc ia s se d a ria m a p a rtir d a a c e ita ç ã o e a d missã o
d o imp o nd e rá ve l, d a
e xp e rime nta ç ã o q ue
Im a g e m 7 - Pe ne trá ve is
Im a g e m 8 – Éde n, White c ha pe l Expe rie nc e
Imagens 7 - Penetráveis
