A c a sa na Rua Eng e nhe iro Alfre d o Dua rte , situa d a no b a irro Ja rd im Bo tâ nic o , no Rio d e Ja ne iro é re c o b e rta d e uma a ura e sp e c ia l. Isso p o rq ue e vo c a uma miría d e d e ima g e ns, te xto s, na rra tiva e re la to s d e e ve nto s. Ne la já o c o rre ra m filma g e ns d e G la ub e r Ro c ha ; a a ç ã o d o Po e ma Ente rra d o ; Wa ly Sa lo mã o já vive u ho sp e d a d o a li junto a o s me mb ro s d a fa mília p ro p rie tá ria d a c a sa . Esse s tinha m c o mo “ p a tria rc a ” um c ie ntista , p into r e fo tó g ra fo q ue p o r sua ve z e ra filho d e um milita nte a na rq uista q ue ta mb é m e ra um rig o ro so g ra má tic o . O s filho s d e ssa fa mília re c e b e ra m uma e d uc a ç ã o , d e c unho lib e rtá rio , q ue e ra p ro vid a d a fina flo r d e c o nhe c ime nto s c ultura is unive rsa is. Essa c a sa fo i o la r d e Hé lio O itic ic a e m sua infâ nc ia e p a rte d e sua juve ntud e . Ela g ua rd a vá ria s ima g e ns e re c o rd a ç õ e s q ue p e rte nc e m à histó ria d a a rte re c e nte d o p a ís. Ela g ua rd a a a tmo sfe ra d e to d a uma é p o c a . To d a uma né vo a d e ima g e ns e re c o rd a ç õ e s e vo c a d a s. To d a uma d ime nsã o fa nta smá tic a , d e ntro d a q uilo q ue Wa lte r Be nja min c ha mo u d e a ura : “ e ssa fig ura sing ula r, c o mp o sta d e e le me nto s e sp a c ia is e te mp o ra is: a a p a riç ã o únic a d e uma c o isa d ista nte ” (BENJAMIN, 1996, p .170)
Ho je e ssa c a sa se rve d e se d e p a ra o Pro je to Hé lio O itic ic a , instituiç ã o c ria d a e g e rid a p e la fa mília e a mig o s d e O itic ic a p a ra c uid a r d e sua O b ra . Ela func io na c o mo um misto d e mo ra d ia d a fa mília e instituiç ã o q ue c uid a d o ma na nc ia l d e o b ra s d o a rtista , situa d a num b a irro d e c la sse mé d ia .
Esse q ue vo s e sc re ve visito u o Pro je to Hé lio O itic ic a d ura nte a p e sq uisa e a e sc rita d e ssa d isse rta ç ã o . O Rio d e Ja ne iro p a re c e u-lhe um lug a r fa nta sma g ó ric o , ta lve z p o r c o nta d a s le itura s re c e nte s q ue p o ssib ilita ra m o e nc a minha me nto d a p e sq uisa . Mistura d o a e ssa s info rma ç õ e s to d a s a s ima g e ns q ue se fa ze m p re se nte s no s me io s d e c o munic a ç ã o d e ma ssa e q ue a d o rna m o c a rtã o p o sta l ma is e ste re o tip a d o d o p a ís: sa mb a , mula ta s, c a rna va l, vio lê nc ia , Re d e G lo b o , a ind ústria c ultura l tup iniq uim, b o ssa no va e ntre o utra s re fe rê nc ia s. Tud o isso mistura d o a o lixo muta nte q ue o ra c re sc e na s
e ntra nha s d a c id a d e .
To d o e sse ma na nc ia l se mistura va a a lg uma s d a s imp re ssõ e s d e ixa d a s p e lo s te xto s d e Hé lio e d e se us c o me nta d o re s: o Rio d e Ja ne iro mític o d a s tra nsfo rma ç õ e s ne o -c o nc re ta s e d o e sto uro b o ssa no vista mistura d o á s re fle xõ e s so c ia is e c ultura is so b re a a p a rthe id so c ia l q ue a sso lo u e a sso la o p a ís; d a le nd á ria ma ng ue ira q ue p ro p o rc io no u a o no sso “ he ró i” o insig ht d e finitivo so b re a fusã o c o r - e sp a ç o – te mp o – e strutura so ma d a a intuiç ã o c rític a so c ia l a g ud a ; a c rimina lid a d e q ue c re sc ia e se o rg a niza va se a fa sta nd o d e finitiva me nte d o e xe mp lo é tic o ma rg ina l-he ró i e nc a rna d o p e la fig ura d e C a ra -d e -C a va lo ; a s q ue b ra d a s e vie la s e a fúria c o nstrutivista d o s b a rra c o s d a s fa ve la s d a “ c id a d e ma ra vilho sa ” ; to d a a c o nfusã o d a me tró p o le se c o nfund ia c o m ima g e ns virtua is q ue p o vo a va m o b je to s a tua is se c rista liza nd o d e ma ne ira fug a z so b re um Rio so mb rio , p o luíd o e p re nhe d e ima g e ns-c o nste la ç õ e s.
C he g a nd o à c a sa no Ja rd im Bo tâ nic o , fui re c e b id o , a o la d o d e minha mã e p e lo irmã o d e Hé lio , C é sa r O itic ic a , um d o s c o o rd e na d o re s d o Pro je to . Ele no s c o nd uziu a té o e sc ritó rio q ue fic a va no p rime iro p a vime nto d a c a sa . Lá , c o nve rse i c o m d ua s func io ná ria s d o Pro je to , Da nie la G o me s e Aria ne Fig ue ire d o . Entre c a tá lo g o s d e e xp o siç õ e s, fo to s, a rq uivo s, c o nve rsa ra m so b re a s a tua is e xp o siç õ e s d a s o b ra s d e O itic ic a .
Um d o s p o nto s a lto s d a c o nve rsa fo i q ua nd o ind a g ue i a c e rc a d o fa to d e q ue tra b a lho s q ue p re ssup unha m uma c rític a instituc io na l a o muse u e sta va m, a g o ra , se nd o re c o nfig ura d o s p e la a p ro p ria ç ã o e p e la re -e xib iç ã o d e sse s tra b a lho s p e la s me sma s instituiç õ e s c ritic a d a s. A re sp o sta nã o ta rd o u a vir (a p e sa r d e já c o nhe c ê -la d e a nte mã o ): nã o e xiste uma re sp o sta sa tisfa tó ria p a ra e sta q ue stã o : é um p a ra d o xo se m so luç ã o . As func io ná ria s a p re se nta ra m a lg uma s justific a tiva s p a ra a instituc io na liza ç ã o d e Hé lio O itic ic a . Justific a tiva s q ue ia m d e sd e a ine vitá ve l a b so rç ã o d e tra b a lho s ra d ic a is p e la s instituiç õ e s a té o d e se jo d o a rtista , já ma nife sta m e m a c o nte c ime nto s c o mo White c ha p e l e m 1969, d e re unir sua o b ra . Nã o te nte i a rg ume nta r q ue o fa to d e te nta r re unir sua
133 o b ra nã o sig nific a va uma re tro sp e c tiva . Po ré m, fiq ue i p e nsa nd o q ue a lé m d e ssa s q ue stõ e s ha ve ria a lg o ma is e m jo g o .
A instituc io na liza ç ã o d e um a rtista d o â mb ito d e Hé lio O itic ic a é a lg o q ue p o d e mo s c ha ma r d e ine vitá ve l. O muse u e to d a a sua lo g ístic a q ue p e rc o rre a instituiç ã o a rte é um d e sd o b ra me nto ine re nte à mo d e rniza ç ã o . Sua tra je tó ria a c o mp a nha a p e rd a d a tra d iç ã o e um d e se jo d e sua (re ) c o nstruç ã o . A mo d e rnid a d e é imp e nsá ve l se m um p ro je to muse ic o (HUYSSEN, 1998, p .224). Essa s re ssurre iç õ e s ta lve z se ja m ine re nte s a o no sso p ro je to c iviliza tó rio . C o mo c o lo c a The o d o r Ad o rno no te xto “ Muse u Va lé ry/ Pro ust” :
A e xp re ssã o muse a l p o ssui na líng ua a le mã uma c o lo ra ç ã o d e sa g ra d á ve l. Ela d e sig na o b je to s c o m o s q ua is o o b se rva d o r nã o te m ma is uma re la ç ã o viva , o b je to s q ue d e finha m p o r si me smo s e sã o c o nse rva d o s ma is p o r mo tivo s histó ric o s q ue p o r ne c e ssid a d e d o p re se nte . Muse u e ma uso lé u nã o e stã o lig a d o s a p e na s p e la a sso c ia ç ã o fo né tic a . O s muse us sã o c o mo se p ulc ro s d e o b ra s d e a rte , te ste munha m a ne utra liza ç ã o d a c ultura . Ne le s sã o a c umula d o s o s te so uro s c ultura is. O va lo d e me rc a d o nã o d e ixa e sp a ç o p a ra a fe lic id a d e d a c o nte mp la ç ã o . Ma s me smo a ssim a fe lic id a d e d e p e nd e nte d o s muse us (ADO RNO , 1998, p .173).
As p ro p o siç õ e s d e Hé lio O itic ic a se mp re p rima ra m p e la c ria ç ã o e m d e vir o nd e p a rtic ip a ç ã o e c o nte mp la ç ã o tinha m se us limite s b o rra d o s e imp lo d id o s. Existe uma c o nsta ta ç ã o ine vitá ve l a re sp e ito d o fa to d e q ue e ssa o b ra p o ssa te r se to rna d o ta l q ua l um Pa ra ng o lé c he ira nd o a mo fo numa c a ixa d e vid ro : “ um c a sulo a b a nd o na d o , imó ve l num muse u, re líq uia d e um sítio a rq ue o ló g ic o d e um p a ssa d o e nte rra d o ” (BASBAUM, 2001, p . 25). O p a ra d o xo , a q ui, é o fa to d e q ue g ra nd e p a rte d a s p ro d uç õ e s d e Hé lio O itic ic a e d a s ne o va ng ua rd a s, ho je c a nô nic a s e re c o b e rta s p e lo fe tic he , um d ia fo ra m c o ntra a p ró p ria id é ia d o s c â no ne s a rtístic o s e d e fe tic he d e um o b je to . É o p a ra d o xo d e to d a uma sé rie d e a ç õ e s a o lo ng o d a a rte d o sé c ulo XX q ue te m g e ra d o o q ue Ha l Fo ste r d e fine c o mo : “ a s va ng ua rd a s nã o a b o lira m a instituiç ã o , a nte s vira ra m
instituiç ã o ” (FO STER, 1996, p . 199).
Po ré m, uma o b ra c o mo e ssa a ind a tra z a lg uns p ro b le ma s p a ra a instituiç ã o a rtístic a , me smo d e p o is d e e nfre nta re m a p o ste rid a d e . Ela nunc a se a q uie to u me smo q ue na ma io ria d o s c a so s se to rne um o b je to a mo rfo a trá s d e uma c ub a d e vid ro . Ap e sa r d e to d o s o s p ro c e sso s d e le g itima ç ã o insta ura d o s p e lo me rc a d o e p e la Histó ria d a Arte , no frá g il siste ma d e a rte no Bra sil, e ssa o b ra , d e a lg uma fo rma a ind a inq uie ta . Ta lve z me smo p e lo fa to d e e sta r a li mumific a d a e la já insta ura p ro b le ma tiza ç õ e s so b re sua na ture za e so b re a na ture za d a s instituiç õ e s q ue lhe d ã o sup o rte . O itic ic a se mp re c o lo c o u a ne c e ssid a d e uma c ria ç ã o q ue e stive sse e m tra nsfo rma b ilid a d e , d e ntro d e uma p o tê nc ia d isp a ra d o ra d e múltip lo s se ntid o s, p a ra a lé m d a ló g ic a histo ric ista line a r d o muse u. A fo rma p a rtic ip a ria d e ina p re e nsib ilid a d e q ue e sc a p a ria d o fo rma lismo e sté ril. C o mo c o lo c a O itic ic a :
O q ue d e se jo nã o se rá fo rma s ina p re e nsíve is? Só a ssim c o nsig o e nte nd e r a e te rnid a d e q ue e xiste na s o b ra s d e a rte ; sua re no va ç ã o c o nsta nte , sua imp e ric ib ilid a d e , ve m d e sse c a rá te r d e ina p re e nsib ilid a d e . A fo rma a rtístic a nã o é ó b via e stá tic a no e sp a ç o e no te mp o , ma s mó ve l, e te rna me nte mó ve l, c a mb ia nte (O ITIC IC A, 1986, p . 26).
Se nã o a b o liu o p o d e r d a s instituiç õ e s p e lo me no s se re c o nhe c e o s c irc uito s e m q ue uma o b ra a tra ve ssa na s sua s c o nsta nte s ne g o c ia ç õ e s d e se ntid o a tra vé s d e sua inte rse ç ã o e a b e rtura a sig nific a ç ã o . Pa ra a lé m d e um se ntid o fixo funç ã o fe tic he d a re líq uia d e muse u. O se ntid o d e p a rtic ip a ç ã o c o lo c a e m e vid ê nc ia o c a rá te r me la nc ó lic o d e o b ra d e ssa na ture za d e ntro o muse u ho je . A o b ra d e Hé lio a ind a e ntra e m c ho q ue c o m a b o ç a lid a d e muse o ló g ic a (SALO MÃO , 1996, p .57). Ela c o lo c a a nu o s limite s d e ssa instituiç ã o fo rç a nd o -a a e ste nd ê -lo s d e a lg uma ma ne ira . C o mo c o lo c a Wa ly Sa lo mã o :
O muse u nã o e stá e m c rise o muse u é uma c rise . Hé lio e sua s c ria ç õ e s d e mo nstra va m-se o sso s d uro s d e ro e r e m re la ç ã o a o muse u. Muse u, tra d ic io na l má q uina d e q ue b ra r a sp e re za s, d e c o o p ta ç ã o , d e a b ra nd a me nto , d e re c up e ra ç ã o . Vitrine d a s má sc a ra s e sva íd a s d e sua s p o tê nc ia s má g ic a s. Em c la ra o p o siç ã o a e sta e stra té g ia mumific a d o ra , HO fo rmula va no se u
135
Pro g ra ma Amb ie nta l d e julho 1966: “ Muse u é o mund o ; é a e xp e riê nc ia c o tid ia na ” . Afirma ç ã o d o p e so d a “ vivê nc ia ” e d a s má sc a ra s c o tid ia na s (SALO MÃO , 1996, p .53).
Re ivind ic a ç ã o d e uma p o siç ã o c ultura l a tua nte , q ue se o p o nha a o c o nfo rmismo c ultura l, p o lític o , é tic o e so c ia l. Essa fo i uma d a s p re missa s b á sic a s d a o b ra e m q ue stã o . O se ntid o d e p a rtic ip a ç ã o se so ma va a uma p e rc e p ç ã o a g ud a d a s p e c ulia rid a d e s d a c ultura b ra sile ira . O insip ie nte me rc a d o d e a rte q ue p e rma ne c ia p re so a uma me nta lid a d e p ro vinc ia na . Essa situa ç ã o O itic ic a c ha mo u d e c o ni-c o nvivê nc ia . Em re sp o sta a e ssa situa ç ã o o a rtista c ria um p ro g ra ma in p ro g re ss. De ntro d e ssa visã o a ve nta va a p o ssib ilid a d e e a urg ê nc ia d a c o lo c a ç ã o d e va lo re s d e ntro d e c o nte xto unive rsa l, p ro c ura nd o uma sa íd a p a ra o p ro b le ma b ra sile iro . O itic ic a c o lo c o u a ne c e ssid a d e d a c o nstruç ã o d e uma p o siç ã o c rític a unive rsa l p e rma ne nte . Esta , junta me nte c o m o e xp e rime nta l, se ria um e le me nto c o nstrutivo q ue se o p unha a o “ p o lic ia me nto instituiç ã o -c ultura l” (O ITIC IC A, p . 17). É o q ue fic a p a te nte no te xto Bra sil Dia rré ia d e 1973:
Nã o e xiste a rte e xp e rime nta l, ma s o e xp e rime nta l, q ue nã o só a ssume a id é ia d e mo d e rnid a d e e va ng ua rd a , ma s ta mb é m a tra nsfo rma ç ã o ra d ic a l no c a mp o d o s c o nc e ito s-va lo re s vig e nte s: é a lg o q ue p ro p õ e tra nsfo rma ç õ e s no c o mp o rta me nto -c o tid ia no , q ue d e g lute e c o nso me a c o ni-c o nvivê nc ia (O ITIC IC A, p .20).
O a rtista a nsia va c o lo c a r e m e vid ê nc ia situa ç ã o g lo b a l q ue e nvo lve sse um c o nte xto ma io r d e a ç ã o , inc luind o o s la d o s é tic o s p o lític o s so c ia is. Amb ic io na va e xp o r uma situa ç ã o q ue ultra p a ssa sse o â mb ito d o c o nte xto c ultura l. Q ue ria e nvo lve r o s há b ito s ine re nte s à so c ie d a d e b ra sile ira : c inismo , hip o c risia , ig no râ nc ia . Há b ito s p e rte nc e nte s a o c o nte xto d a c o nvi-c o nivê nc ia . Po ré m, ho je a instituiç ã o a rtístic a mud o u e q ue r se q ue ira o u nã o sã o c a na is d e tro c a simb ó lic a . Me smo se to rna nd o um b ra ç o d a ind ústria c ultura l, me smo se nd o p a rte d a so c ie d a d e d o e sp e tá c ulo , o muse u to rna p o ssíve is c e rto s ne g o c ia ç õ e s ine re nte à me mó ria . As ma ssa s, o e sp e c ta d o r, c o rre m a o s muse us e m b usc a d e e xp e riê nc ia s q ue sã o lig a d a s a me g a e ve nto s e e sp e tá c ulo s d e
g ra nd e suc e sso . Ap e sa r d a c rític a a o muse u e nq ua nto e sp a ç o q ue re fo rç a o se ntime nto d e e xc lusã o a ind a se r p e rtine nte , o muse u já nã o é o te mp lo sa g ra d o d a s musa s:
Em um re g istro d ife re nte e ho je ma is d o q ue nunc a , o s muse us p a re c e m p re e nc he r uma ne c e ssid a d e a ntro p o lo g ic a me nte a rra ig a d a á s c o nd iç õ e s mo d e rna s: p o is sã o e le s q ue p e rmite m a o s mo d e rno s ne g o c ia r e a rtic ula r uma re la ç ã o c o m o p a ssa d o , o q ue sig nific a uma re la ç ã o c o m o tra nsitó rio e c o m a mo rte , inc luind o a no ssa p ró p ria (HUYSSEN, 1996, p . 226).
A c rític a instituc io na l a o muse u nã o e sg o ta o s se us múltip lo s e fe ito s. Alg uma s e stra té g ia s q ue um d ia fo i sub ve rsivo a g o ra fo ra m instituc io na liza d a s e fa ze m p a rte d a Histó ria e d a s na rra tiva s p ro p o sta s p e lo muse u.
A p re se rva ç ã o d e o b ra s d e a nti-a rte é um fa to r q ue inte rfe re no p ro c e sso d e le itura d e ssa s o b ra s. A va lo riza ç ã o c ria a s c o nd iç õ e s d e p re se rva ç ã o d a s o b ra s, a s instituiç õ e s inte rfe re m na s no va s p o ssib ilid a d e s d e le itura a o p ro p o r a re mo nta g e m d e c e rto s tra b a lho s. Esse s sã o re -se ma ntiza d o s e re d e finid o s d e a c o rd o c o m a s e stra té g ia s d o s c ura d o re s e d ire to re s d e muse u. Pre se rva r se ria d a r inte lig ib ilid a d e c o mo c o lo c a C ristina Fre ire :
C e rto e stá q ue a va lo riza ç ã o c ria a s c o nd iç õ e s d e p re se rva ç ã o na a rte . No e nta nto , ne ste te rre no d e d e finiç õ e s p o r fa ze r, o nd e a s c a te g o ria s tra d ic io na is nã o p o d e m ma is a b a rc a r a s p o é tic a s, p re se rva r sig nific a , fund a me nta lme nte , d a r inte lig ib ilid a d e . O u se ja , inse rir o s ma is d ife re nte s tra b a lho s d e ntro d e um c o nte xto q ue lhe s d ê sig nific a d o , c o mp a rtilha r um p o uc o d a e sp e ssura d e se us p ro p ó sito s simb ó lic o s e c o nc e itua is. Ne ssa p e rsp e c tiva , nã o é p o ssíve l inte rro g a r o sig nific a d o d o s tra b a lho s se m p e nsa r a instituiç ã o q ue o s le g itima (FREIRE, 1999, p . 41)
O muse u e nq ua nto e sp a ç o d isc ip lina r e insta ura d o r d e a sp e c to s ta xo nô mic o s c o nd ic io na m a e xp e riê nc ia d o e sp e c ta d o r. Po r ma is ra d ic a l q ue se ja a p ro p o sta q ue se e nc o ntre e m se us c o rre d o re s, se u e sp a ç o influirá na s le itura s d o s e sp e c ta d o re s. Existe to d a uma sé rie d e p ro c e d ime nto s p a ra se p o rta r no muse u. É uma instituiç ã o q ue p ro p õ e um d ire c io na me nto d o e sp a ç o q ue iso la a o b ra d e a rte d e tud o o q ue p o ssa p re jud ic a r a sua a p re c ia ç ã o e m si me sma (O ’ DO HERTY, 2002). O te mp o é line a riza d o c o m a p re d isp o siç ã o d a s
137 o b ra s numa e vo luç ã o suc e ssiva . O ra c io c ínio c ro no ló g ic o c o nstró i a s re la ç õ e s e sp a ç o s-te mp o ra is d e ma ne ira q ue o mund o e xte rio r e a e xp e riê nc ia c o tid ia na nã o inte rfira m ne sta e xp e riê nc ia . O e xp e c ta d o r e stá lo ng e d a “ imp ure za ” d o mund o e me rg ulha num a mb ie nte ne utro . C o mo no s c o lo c a C ristina Fre ire :
Alé m d e sse s fa to s q ue c o ntrib uíra m p a ra a d e finiç ã o d e uma instituiç ã o a se r c ria d o , d e ma ne ira ma is g e ra l e a b ra ng e nte , o muse u c o mo instituiç ã o d isc ip lina r, ta l q ua is a s d e ma is instituiç õ e s d o sé c ulo XIX, re g ula me nta a s c o nd uta s d e se us visita nte s a tra vé s d o tre ina me nto e c o ntro le so c ia l. Ne ste siste ma d e p o d e r, o te mp o ta mb é m é visua liza d o c o mo uma sé rie d e e stá g io s, uma e vo luç ã o line a r q ue o visita nte d e ve se g uir. Alé m d o p rinc íp io d a g a le ria p ro g re ssiva , a d o ta d a p e lo s muse us d e a rte , o nd e a s o b ra s sã o a p re se nta d a s re ite ra nd o sua c ro no lo g ia s d e sua re a liza ç ã o ,, a p re o c up a ç ã o c o m o p e rc urso é fa to r fund a me nta l. Lo ng e d a s re fe rê nc ia s ma is c o tid ia na s e ha b itua is d o mund o , o visita nte nã o inic ia d o no d isc urso d a a rte se d e so rie nta ne sse e sp a ç o ne utro . Ag a rra -se , p o rta nto a um p e rc urso d e te rmina d o p e la s o b ra s e m sua se q üê nc ia c ro no ló g ic a e fa z d e sua visita a o muse u um p a sse io re g ula me nta d o uma vo lta o rd e na d a . É p re c ip ita d o p a ra a fre nte , imp re te rive lme nte (FREIRE, 1999, p . 50).
Esta e xp e riê nc ia no inte rio r d o muse u é c a rre g a d a d e p re ssup o sto s id e o ló g ic o s. O e sp a ç o d a g a le ria o u d o muse u p o ssui sup e rfíc ie s into c a d a s p e lo te mp o e sua s vic issitud e s. O o b je to d e a rte p a ira so b re uma e te rnid a d e d e e xp o siç ã o o nd e o te mp o p a re c e nã o fa ze r e fe ito . A a rte a ssume uma a uto no mia c o mo se tive sse “ vid a p ró p ria ” . Se m so mb ra s, b ra nc o , limp o a rtific ia l o e sp a ç o mo d e rnista tra nsp õ e a p e rc e p ç ã o e a vid a p a ra o s va lo re s fo rma is (O ´DO HERTY, 2005, p . 4)
A o b ra d e O itic ic a c o nvive , ho je , d e ntro d e sse s p a ra d o xo s. Nã o q ue nã o c o nvive sse a nte s, já q ue me smo Da d a e Duc ha mp já ha via m p e rc e b id o q ue a b urg ue sia é c a p a z d e a b so rve r q ua lq ue r c ho q ue o u tra nsg re ssã o , p o r ma is ra d ic a l q ue e sse s p o ssa m p a re c e r. Po ré m, O itic ic a a p e sa r d e a ind a ma nte r p ro ximid a d e c o m c e rto s p ro c e d ime nto s d e va ng ua rd a , te nto u ultra p a ssa r e ssa c o nd iç ã o b e m c o mo o ne g a tivo q ue e la c a rre g a . Te nto u fa ze r isso c o m o Exp e rime nta l, c o nd iç ã o q ue p re ssup õ e um no vo mo d o d e e xistir, a o invé s d e simp le sme nte fund ir a rte c o m a vid a o u e ste tizá -la .
C o m a p o ste rid a d e p a re c e q ue o Pro g ra ma Amb ie nta l d e ixa d e se r uma p ro me ssa d e re inve nç ã o d a vid a . Pa re c e q ue fic a m e xp o sto s o s se us limite s. A sa íd a d o la b irinto to rna -se e vid e nte d e ntro d o c ub o b ra nc o . O te mp o c o mo ima nê nc ia nã o é ma is p o ssíve l d e ntro d e uma ló g ic a histo ric ista e d e um e sp a ç o id e o lo g ic a me nte c o mp ro me tid o .
A c o nd iç ã o a ssumid a p o r e ssa o b ra , a tua lme nte , é d e a rq uivo . Tra ta -se d e , a g o ra , p e rma ne c e r so b a c ustó d ia d e vá ria s e ntid a d e s e se us func io ná rio s