Ante s d e a p re se nta r a s q ue stõ e s re la tiva s à s re a p re se nta ç õ e s d o s tra b a lho s d e O itic ic a , d isc ute -se o q ue se e nte nd e , a q ui, p o r va ng ua rd a . Pa ra isto va mo s a na lisa -se , ne ste c a p ítulo , a re la ç ã o d a s va ng ua rd a s histó ric a s e d a s ne o va ng ua rd a s surg id a s no p ó s-g ue rra , p a rtind o d e a lg uma s no ç õ e s p ro p o sta s
95 p o r Ha l Fo ste r (1996). O o b je tivo é mo stra r q ue , ma is d o q ue me ra s re p e tiç õ e s, a s va ng ua rd a s e ne o va ng ua rd a s se re la c io na m numa c o mp le xa lig a ç ã o e ntre p a ssa d o s re c o nstruíd o s e futuro s a nte c ip a d o s. De sta ma ne ira , a fa sta -se d a
“ tra diç ã o da rup tura ” p ro p o sta p o r c e rta s histo rio g ra fia s d e c unho line a r o u
te le o ló g ic o 13, q ue p ro p õ e le itura s d a s va ng ua rd a s histó ric a s e nq ua nto uma
“ o rig e m p ura “ . Alé m d isto , b usc o u-se situa r o tra b a lho d e Hé lio no c o nte xto d a s
va ng ua rd a s, re ssa lta nd o o c a rá te r d e va ng ua rd a d o me smo e a lg uma s e stra té g ia s d o se u tra b a lho . Ve rific a -se a re c o d ific a ç ã o d o s mo vime nto s d e va ng ua rd a histó ric a p e la s ne o -va ng ua rd a s d o s a no s p ó s-1945. G o sta ría mo s d e a ssina la r o c a rá te r d e lib e rd a d e c ria d o ra o u tra uma simb ó lic o re p rimid o e a rrisc a r, a p a rtir d isto , uma p e q ue na histó ria d o re to rno d e d ive rso s p ro c e d ime nto s le va d o s a c a b o p o r g rup o s q ue a tua ra m na s p rime ira s d é c a d a s d o sé c ulo XX.
De sc e nd e nte d a s b a rric a d a s re vo luc io ná ria s d a Fra nç a no sé c ulo XVIII e XIX, o e tho s va ng ua rd ista e ra a ntíp o d a d a mo ra l b urg ue sa . Sua s a ç õ e s c a usa ra m e sc â nd a lo e c ho q ue . Alé m d e sta p e rsp e c tiva , Ha l Fo ste r p rô p o s o utro p o nto d e vista : a s va ng ua rd a s c a usa ra m um ro mb o na a rte e uro p é ia / o c id e nta l, ta l c o mo d e finid a d e sd e o Re na sc ime nto (FO STER, 1996). Esse ro mb o , a lé m d e mo ra l, se ria um ro mb o na o rd e m simb ó lic a d o se u te mp o , p o is a s va ng ua rd a s ro mp ia m c o m a s p rá tic a s d isc ursiva s vig e nte s. Se u e fe ito fo i, se g und o Ha l Fo ste r (1996), tra umá tic o . O mo d e lo ma rxista d e c o ntra d iç ã o e strutura l fo i sub sc rito , e m p a rte o u no to d o , p e lo p ro g ra ma mo d e rnista d a va ng ua rd a mo d e rnista , q ue d e uma ma ne ira g e ra l, vislumb ra va , a nte s, uma tra nsfo rma ç ã o ra d ic a l to ta l o u d e mud a nç a a ná rq uic a , ma is d o q ue me lho ria so c ia l. A va ng ua rd a mo d e rnista tra ta va a nte s d a irrup ç ã o d o a g o ra d o q ue a tã o fa la d a tra d iç ã o d a rup tura , c o mo d iz Antô nio C íc e ro :
13. Por historiografia teleológica entendemos não só a crítica greenberguiana - Clement Greenberg (1996), Michael Fried (2002), Harold Rosenberg (1974) - e sua afirmação do alto modernismo, mas também estudiosos como Peter Burguer (1989) que consideram as neovanguardas como repetições estéreis das vanguardas.
O mo d e rno nã o é e m p rime iro lug a r, a ta l tra d iç ã o d a rup tura . Esta c o nstitui a p e na s o la d o ne g a tivo d a irrup ç ã o d o no vo , isto é , d a ma nife sta ç ã o d o p o d e r c ria tivo d o a g o ra . À d e struiç ã o d a s c o nve nç õ e s p e la va ng ua rd a c o rre sp o nd ia m, no p ó lo p o sitivo , no va s fa nta sia s, no va s inve nç õ e s, no vo s e xe rc íc io s
d a c ria tivid a d e (C ÍC ERO , 2001, P. 56).
A a firma ç ã o d o a g o ra , ma is d o q ue a tã o fa la d a tra d iç ã o d a rup tura p ro p o sta p o r histo rio g ra fia s d e c unho te le o ló g ic o , se ria um d o s tra ç o s q ue uniria m a s va ng ua rd a s histó ric a s e a s ne o va ng ua rd a s d o s a no s 60, a lé m d a re la ç ã o d e re c o nfig ura ç ã o a p o ste rio ri, c o mo tra ta re mo s a se g uir. Se g und o , a ind a , Antô nio C íc e ro ,
É e ssa a firma ç ã o d o p o d e r d o a g o ra - q ue , q ua nd o a ind a há fo rma s tra d ic io na is fe tic hiza d a s, c ho c a -se c o m e la s o a sp e c to p o sitivo fund a me nta l d o mo d e rno . È nisso q ue e le se d ife re d o mo d e rno (C ÍC ERO , 2001, p .56). Ag o ra e nq ua nto ima nê nc ia , te mp o c a p tura d o p e la intuiç ã o , p a ra a lé m d o te mp o me nsurá ve l e va zio d o c a p ita l. Uma ra d ic a lid a d e b e m d ife re nte d o q ue se se g uiu c o m a d e sp o litiza ç ã o d a a rte no Alto Mo d e rnismo , no s Esta d o s Unid o s, no s a no s 1950, a p ó s a Se g und a G ue rra Mund ia l.
A a rte d o p ó s-g ue rra , a ssim c o mo o utro s se to re s c ultura is d o p e río d o , p a ssa p o r uma sé rie d e rup tura s e re p e tiç õ e s. Vá ria s e stra té g ia s p a re c e m re c up e ra r p ro c e d ime nto s surg id o s e m fins d o sé c ulo XIX e d o iníc io d o sé c ulo XX. Me ra re p e tiç ã o ? Re tro c e sso ? Pa ra a lé m d e sta p e rsp e c tiva line a r-histó ric o - e sc a to ló g ic a p re fe rimo s a p o nta r e a ssina la r uma d e sc o ntinuid a d e histó ric a , a p o ia d o s e m a lg uma s no ç õ e s p ro p o sta s p o r Ha l Fo ste r.
Ap ó s 1947, C le me nt G re e nb e rg (1996) te c e u vá ria s c o nsid e ra ç õ e s histo ric ista s so b re o Alto Mo d e rnismo , d e c unho fo rma lista e te le o ló g ic o , a p o ia d o so b re uma me ta físic a tra d ic io na l, e so b re um he ro ísmo ind ivid ua l - tã o a fe ito d o lib e ra lismo p ro te sta nte a ng lo -sa xã o . A Se g und a G ra nd e G ue rra ha via a c a b a d o , o fa sc ismo ha via sid o d e rro ta d o e se inic ia va a G ue rra Fria . O re c o nfig ura d o mund o p ó s-1940 a ssiste a o iníc io d a e ra nuc le a r. No c a mp o d a a rte , o mo d e rnismo to ma no vo fô le g o . A Esc o la d e No va Yo rk é e mb a la d a p o r
97 uma no va te o ria mo d e rna p ro p o sta p o r c rític o s c o mo C le me nt G re e nb e rg e c o ntinua d a p o r Mic ha e l Frie d . O e xp re ssio nismo a b stra to , a lé m d e se r usa d o c o mo instrume nto id e o ló g ic o , e ra o símb o lo d a vitó ria d a s d e mo c ra c ia s o c id e nta is so b re o na zi-fa sc ismo e d o e na lte c ime nto d o c a p ita lismo e m d e trime nto d o c o munismo so vié tic o .
A a rte se a sse nta so b re o c o nfo rmismo e a te o lo g ia ne g a tiva , a vo lta d o s
fa mig e ra d o s mito s so b re a uto no mia e so b re a a rte p e la a rte . Pa ssa d o o fe rvo r d o ta c hismo , c o me ç a m a se d e line a r d o s d o is la d o s d o
Atlâ ntic o a lg uma s mud a nç a s q ue b a tia m d e fre nte c o m a s “ ve rd a d e s” d e G re e nb e rg e d a e sc o la d e No va Yo rk. Uma imp o rta nte p a rte d a a rte d o s a no s 60 e sta va e mp e nha d a e m re c up e ra r c e rto s p ro c e d ime nto s d a s va ng ua rd a s histó ric a s, e m e sp e c ia l o Da d a ísmo . C o m a a p ro p ria ç ã o nã o só d o d a d a ísmo , ma s ta mb é m d o c o nstrutivismo , c o mo le mb ra Fo ste r (1997), a s ne o va ng ua rd a s vê m, d e sd e o fina l d a d é c a d a d e 1950 e iníc io d o s a no s 1960, re c o nfig ura nd o a s va ng ua rd a s histó ric a s. O s mo vime nto s d e va ng ua rd a se re fe re m à c a te g o ria “ tra b a lho ” a tra vé s d a ne g a ç ã o . A p ro vo c a ç ã o d e Duc ha mp é vo lta d a p a ra a rte c o mo instituiç ã o so c ia l. Se o “ tra b a lho ” fa z p a rte d a instituiç ã o , o a ta q ue é d irig id o c o ntra e le . Ma s é um fa to histó ric o q ue o s mo vime nto s d e va ng ua rd a nã o p use ra m fim na p ro d uç ã o d e tra b a lho s d e a rte , e q ue a instituiç ã o so c ia l te m se p ro va d o re siste nte a o s a ta q ue s va ng ua rd ista s (BURG ER, 1989).
Pe te r Burg e r (1989) a c re d ita q ue a s ne o va ng ua rd a s re vive ra m a c a te g o ria d o tra b a lho e o s p ro c e d ime nto s inve nta d o s p e la s va ng ua rd a s c o m inte nç ã o a nti-a rtístic a sã o usa d o s p a ra fins a rtístic o s. Pa ra Burg e r a a rte c o mo uma instituiç ã o c o ntinua a e xistir c o mo a lg o se p a ra d o d a p ra xis da vida . As va ng ua rd a s se to rna ra m histó ric a s e p e rd e ra m se u va lo r d e c ho q ue . Ela s p e rd e ra m a q uilo q ue Burg e r julg a se r o o b je tivo d e to d a s a s sua s a tivid a d e s: o p ro je to d e d e struiç ã o d a fa lsa a uto no mia d a a rte b urg ue sa . As ne o va ng ua rd a s instituc io na liza ra m a va ng ua rd a c o mo a rte e d e sta ma ne ira ne g a ra m g e nuina me nte a s inte nç õ e s va ng ua rd ista s. Ne o va ng ua rd ismo , p a ra Burg e r
(1989), é a rte “ a utô no ma no se ntid o p ro fund o d o te rmo , o q ue sig nific a q ue ne g a a inte nç ã o va ng ua rd ista d e re to rna r a a rte p a ra a p rá xis d a vid a ” . Ne ste se ntid o a s ne o va ng ua rd a s se ria m me ra me nte NEO , me ra re p e tiç ã o q ue c a nc e la a s c rític a s d a s va ng ua rd a s d o Pré -G ue rra :
a ne o va ng ua rd a instituc io na lizo u a va ng ua rd a e nq ua nto Arte e d e sta ma ne ira ne g o u a s inte nç õ e s g e nuina me nte va ng ua rd ista s .(...) Ne o -va ng ua rd ismo é a rte a utô no ma no se ntid o p ro fund o d o te rmo , o q ue sig nific a q ue e la ne g a a inte nç ã o va ng ua rd ista d e re to rna r a a rte p a ra a “ p ra xis” d a vid a (BURG ER, 1989, p . 57).
A le itura d e Burg e r, e mb o ra situe histo ric a me nte a p o siç ã o d a s va ng ua rd a s e d a inse rç ã o d e sse s mo vime nto s, d isting uind o -o s d e se us mo vime nto s mo d e rnista s imp o rta nte s p a ra a c o nstituiç ã o d a a rte b urg ue sa , se a p re se nta re a tiva e re d uc io nista , no se ntid o d e q ue g e ne ra liza a s e xp e riê nc ia s le va d a s a c a b o no s a no s 1960 p e la s ne o va ng ua rd a s. Se g und o a le itura d e Burg e r, a s ne o va ng ua rd a s - o u p ó s-va ng ua rd a s - sã o me ra me nte ne o , p o is nã o le va m a c a b o a s a mb iç õ e s d o s mo vime nto s d a p ré -Prime ira G ue rra . O s mo vime nto s d o s a no s 1960, p a ra Burg e r, le g itima ria m a id e o lo g ia d e a uto no mia d a a rte b urg ue sa , ma nte nd o -se se p a ra d o s d a p rá xis d a vid a . O a uto r o lha c o m d e sc o nfia nç a p ro c e d ime nto s c o mo o ha p p e ning , tra ta nd o -o s c o mo me ra c ó p ia d a s p ro p o siç õ e s d o s d a d a ísta s “ o rig ina is” . Burg e r nã o le va e m c o nta o c a rá te r múltip lo e d e sc e ntra d o d e ssa s p ro p o siç õ e s, já q ue a s me sma s a g e nc ia m múltip la s ling ua g e ns e q ue stio na m a unid a d e d a o b ra d e a rte (RIBEIRO , 1997) unid a d e e sta já re ivind ic a d a p e la se nsib ilid a d e e p e la s c a te g o ria s d e p e nsa me nto b urg ue sa s.
Burg e r a ssumiu um mo d e lo b a se a d o numa le itura sup e rfic ia l d e Ma rx, c o mo já a p o nta d o p o r Ha l Fo ste r (1997), no q ua l a histó ria se re p e te c o mo fa rsa . Aq ui, a s p ó s-va ng ua rd a s o u ne o va ng ua rd a s re p e tiria m c o mo fa rsa o s mo vime nto s d a va ng ua rd a histó ric a . Utiliza nd o a e strutura d o p a ssa do he ró ic o e d o p re se nte fa lido , p a ra Burg e r (1989) a s va ng ua rd a s histó ric a s ta mb é m
99 fa lha ra m. Ma s fa lha ra m d e uma ma ne ira trá g ic a . Alé m d e g e ne ra liza r sua s c o nvic ç õ e s - b a se a d a s ta lve z no niilismo a na ind ife re nç a d o PO P no rte - a me ric a no e ing lê s e d e nã o re c o nhe c e r o va lo r é tic o -e sté tic o -p o lític o d a s ne o va ng a rd a s, Burg e r a c a b a p o r re sta ura r c e rto s va lo re s q ue vã o c o ntra sua p re te nsa p o siç ã o “ Be nja minia na ” 14. Va lo re s c o mo o rig e m, o rig ina lid a d e , inte nc io na lid a d e . Va lo re s c e le b ra d o s p e la b urg ue sia , q ue ta nto q ue r d e nunc ia r.
O d ile ma d a a rte d o s a no s 1960 te m sua s ra íze s no sé c ulo XIX: a te nta tiva d e q ue b ra r a d up lo e stre ita me nto e ntre o muse u e o me rc a d o e se e ng a ja r na s e stra té g ia s d e re sistê nc ia p o lític a d e se u te mp o (C RIMP, 2005, p . 198). Assim c o mo a s p rime ira s va ng ua rd a s, a s ne o va ng a rd a s a b o rd a ra m a a rte e nq ua nto siste ma , se ja a tra vé s d e p rá tic a s te xtua is, se ja q ue stio na nd o o s me io s e sp e c ífic o s tra d ic io na is. Assim a c re d ita mo s q ue a s ne o va ng ua rd a s, a p o ia d a s na re sistê nc ia é tic o -p o lític a , ta mb é m vislumb ra m a uto p ia d a re sta ura ç ã o d a a rte na p ra xis da vida .
C o m a a p ro p ria ç ã o nã o só d o Da d a ísmo , ma s ta mb é m d o C o nstrutivismo , c o mo le mb ra Ha l Fo ste r (1997), um g rup o d e a rtista s e uro p e us e no rte -a me ric a no s d o s a no s 1950 e 1960 “ re p risa ra m c e rto s p ro c e d ime nto s d a s va ng ua rd a s histó ric a s d o s a no s 1910 e 1920, c o mo c o la g e ns e a sse mb la g e s, o
re a dyma de , a p intura mo no c ro má tic a e c e rta s p o é tic a s c o nstrutivista s”
(FO STER, 1997, p .1). Esse re to rno q ue Fo ste r fo c a liza nã o é g o ve rna d o p o r le is e strita s, ne nhuma instâ nc ia é e strita me nte ra d ic a l, re visio nista o u c o mp ulsiva . As re p e tiç õ e s e rup tura s, a c o nte c id a s ne sse p e río d o , se d isting uiria m d e fo rma s d e a rte q ue le g itima m o sta tus q uo . O s re to rno s fo c a liza d o s a sp ira m a uma c o nsc iê nc ia c rític a d a s c o nve nç õ e s a rtístic a s e c o nd iç õ e s histó ric a s.
Pa ra d o xa lme nte , no p e río d o d o Pó s - G ue rra , uma a rte a mb ic io sa é ma rc a d a p o r uma e xp a nsã o d a a lusã o histó ric a b e m c o mo uma re d uç ã o d o c o nte úd o a tua l. De fa to , e sta a rte invo c a d ife re nte me nte , mo d e lo s inc o me nsurá ve is, ma s me no s p a ra fa ze r
d e la s um p a stic he histé ric o (c o mo na a rte d o s a no s 80) d o q ue tra b a lhá -la s a tra vé s d e uma p rá tic a re fle xiva - p a ra c o nto rna r a s vá ria s limita ç õ e s d e ste s mo d e lo s d e ntro d e uma c o nsc iê nc ia c rític a histó ric a a rtístic a e d ife re nte (FO STER, 1997, p .3 ).
As re p e tiç õ e s d o p ó s-g ue rra nã o sã o me ra s re le itura s q ue re sta ura m a inte g rid a d e d o s d isc urso s. Ma s sã o re le itura s p a ra mud a r o sta tus d e sse s p ro c e d ime nto s. Ha l Fo ste r (1996) re c o rta d o is mo me nto s d e ssa s re c o nfig ura ç õ e s: uma p rime ira g e ra ç ã o d a ne o va ng ua rd a , surg id a no fina l d o s a no s 1950 e iníc io d o s 1960, q ue e sta ria inte re ssa d a na re inve nç ã o d a p intura mo no c ro má tic a , re p re se nta d a p o r no me s c o mo Ro b e rt Ra usc he nb e rg e Ad Re inha rd t, e uma se g und a g e ra ç ã o d e ma triz c o nstrutivista / d a d a ísta (p rinc ip a lme nte a ma triz d uc ha mp ia na ), c o mo a Minima l Art. O re to rno d o
re a dyma de d a d a ísta e d a e strutura c o nstrutivista a p o nta m d ua s a lte rna tiva s
histó ric a s a o mo d e lo c a p ita lista o c id e nta l d o e xp re ssio nismo a b stra to . C o m e le s re to rna m ta mb é m a ne c e ssid a d e c o lo c a ç ã o d e p ro b le ma s d o e sp a ç o p úb lic o e d a c o le tivid a d e . A p intura tã o e xa lta d a na p rime ira me ta d e d o sé c ulo XX “ p e rd e u a ilusã o d e q ue sua a ura lhe p e rte nc ia p o r d ire ito d ivino ” (C ÍC ERO , 2001, p .57).
De a c o rd o c o m Fo ste r (1996), a s re to ma d a s d a s va ng ua rd a s e sua s c o ntinua ç õ e s a o lo ng o d a a rte c o nte mp o râ ne a nã o fo ra m uma rup tura , ne m, ta mp o uc o , uma re p e tiç ã o me ra me nte re d und a nte . Ap ro xima nd o -se d o mo d e lo c o g nitivo o riund o d a p sic a ná lise e utiliza nd o o c o nc e ito fre ud ia no , re lid o p o r Ja c q ue s La c a n, d e a p o ste rio ri (Na c htra g lic hke it)15, p a ra Fo ste r, “ a ssim c o mo a sub je tivid a d e , a a rte nã o é d a d a d e uma só ve z, ma s c o nstituíd a c o mo um p ro c e sso c o ntínuo d e p ro je ç ã o d e re te nç ã o , uma c o mp le xa re la ç ã o d e futuro s a nte c ip a d o s e p a ssa d o s re c o nstruíd o s” . Uma re la ç ã o “ a p o ste rio ri q ue ultra p a ssa q ua lq ue r e sq ue ma simp le s d e a nte s e
d e p o is o u c a usa e e fe ito , o rig e m e re p e tiç ã o ” (FO STER, 1996, p .23).
101 Assim, p a ra e sse a uto r a s va ng ua rd a s nã o “ sã o nunc a p le na s d e se ntid o o u histo ric a me nte e fe tiva s e m se u mo me nto inic ia l” . Isto o c o rre p o rq ue “ o d e svio d a no rma ” d e sua s p ro d uç õ e s p ro d uz “ um furo na o rd e m simb ó lic a ” d e se u te mp o (FO STER, 1996, p .22). Po rta nto , p a ra o a uto r, sã o justa me nte e ssa s re to ma d a s e c o ntinua ç õ e s q ue p ro d uze m, a tra vé s d e no va s c o ne xõ e s d e le itura , a s c o nd iç õ e s d e visib ilid a d e d a s o b ra s re c up e ra d a s.
Esse s d isc urso s re me te m à s va ng ua rd a s histó ric a s. Ao fa zê -lo re c o nfig ura m-na s, e vid e nte me nte . As va ng ua rd a s se rã o e ntã o re to ma d a s ma is p o r se u la d o a firma tivo (o a sso c ia c io nismo e a re sig nific a ç ã o d e sig no s a p ro p ria d o s, uma e sté tic a d o c ho q ue e tc .) q ue p o r sua s a firma ç õ e s ne g a tiva s (mo rte d a a rte no Da d a o u a ta b ula ra sa d a histo ria no futurismo e tc .). C o nse q ue nte me nte , a ssim c o mo a re to ma d a re c o nfig uro u a s va ng ua rd a s histó ric a s, a s p rime ira s ne o va ng ua rd a s vê m se nd o re c o nfig ura d a s p o r sua s c o ntinua ç õ e s a o lo ng o d a a rte a tua l:
C o mo a p rime ira ne o va ng ua rd a ve m re c up e ra r a s va ng ua rd a s histó ric a s, e m p a rtic ula r o Da d á , isto se fa z fre q ue nte me nte d e mo d o lite ra l, a tra vé s d e uma re c up e ra ç ã o d e se us d isp o sitivo s b á sic o s, o e fe ito d isto é me no s tra nsfo rma r a instituiç ã o d a a rte d o q ue tra nsfo rma r a va ng ua rd a e m, uma instituiç ã o (FO STER, 1996, p . 13).
Aind a ma nte nd o a imp o rtâ nc ia d o s imp a c to s te c no ló g ic o s so b re a c ultura c o nte mp o râ ne a , a re fle xã o d e Fo ste r (1996, p .14) a a b o rd a nã o c o mo uma rup tura , “ ma s c o mo uma c o mp le xa re la ç ã o d e a nte c ip a ç ã o e re c o nhe c ime nto ” . Esta c o mp le xa re la ç ã o é a p o nta d a p o r e le c o mo uma c a ra c te rístic a fund a me nta l a o q ue e le c ha ma d e a rte c o nte mp o râ ne a . Utiliza nd o a no ç ã o d e a p o ste rio ri (de fe re d a c tio n) d e Fre ud , p a ra Fo ste r (1996), a ssim c o mo sub je tivid a d e , q ue nunc a é d a d a d e uma ve z só , a a rte ta mb é m
É e strutura d a c o mo uma re la ç ã o d e a nte c ip a ç ã o e re c o nstruç ã o d e e ve nto s, q ue p o d e ria m se to rna r tra umá tic o s, a tra vé s d e sta s vá ria s re la ç õ e s (...). Eu a c re d ito q ue o mo d e rnismo e o p ó s mo d e rnismo p re c isa m se r visto s junto s , d e um mo d o a ná lo g o , e m uma a ç ã o a p o ste rio ri, c o mo uma c o ntinua ç ã o d e um p ro c e sso a nte c ip a ç õ e s futura s e p a ssa d o s re c o nstruíd o s (FO STER, 1996,
p .15).
Po rta nto , se no te xto q ue c ita mo s Ha l Fo ste r a ind a usa o te rmo “ p ó s- mo d e rnismo ” , tra ta -se a nte s d e re c o nhe c ime nto e c o ntinua ç ã o d a s
va ng ua rd a s histó ric a s d o q ue rup tura o u d e uma re d und a nte a ç ã o ta rd ia :
Ne nhuma q ue stã o é ma is imp o rta nte p a ra a ne o -va ng ua rd a e nd e re ç a d a ne ste livro _ q ue é , a rte d e sd e 1960 _q ue re mo d e la r p ro je to s d a s va ng ua rd a s ( e x. a a ná lise c o nstrutivista d o o b je to , a fo to mo nta g e m e a re - func io na liza ç ã o d a ima g e m, a c ritic a re a dy-ma de a o c irc uito e xp o siç ã o p a ra fins c o nte mp o râ ne o s ( FO STER, 1996, p .15).
Alé m d o q ue , c o mo d isse mo s a nte rio rme nte , a re to ma d a e a p o ste rio r c a no niza ç ã o d o s p ro c e d ime nto s d a s va ng ua rd a s histó ric a s d e slo c a ra m o c â no ne d e p ure za fo rma l d o a lto mo d e rnismo . C o mo o b se rva Ro la lind Kra uss (1987), isto fa z c o m q ue a p rá xis a rtístic a p a sse a “ nã o se r ma is d e finid a e m re la ç ã o a um d e te rmina d o me io d e e xp re ssã o , ma s sim e m re la ç ã o a p rá tic a s c o m sig nific a nte s, p a ra a q ua is vá rio s me io s p o d e m se r usa d o s” .