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Estado de Santa Cruz: o separatismo no mosaico baiano, (1930-1980)

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA MESTRADO EM HISTÓRIA. ESTADO DE SANTA CRUZ O SEPARATISMO NO MOSAICO BAIANO (1930-1980). MARICÉLIA CARDOSO MATOS NEVES. SALVADOR - BA Dezembro/2006.

(2) 3. UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA MESTRADO EM HISTÓRIA. ESTADO DE SANTA CRUZ: O SEPARATISMO NO MOSAICO BAIANO (1930-1980). Dissertação final de curso, apresentada ao Mestrado em História da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em História.. ORIENTADOR: PROF. DR. ANTÔNIO F. GUERREIRO DE FREITAS MARICÉLIA CARDOSO MATOS NEVES. UFBA 2006.

(3) 4. As pessoas em geral acreditam que as únicas memórias dignas de serem lidas ou lembradas são aquelas em que há acontecimentos extraordinários ou notáveis...Portanto é, confesso bastante arriscado para um indivíduo obscuro — e, mais grave ainda, um estranho — assim pedir a complacente atenção do público, principalmente quando reconheço que não apresento aqui, a história de um santo, de um herói, nem de um tirano... O l au d ah E qu i an o. 1. 1. “ T he in t er es t in g n ar r a ti v e of t he l if e of O la u da h E qu i a no , or G us t a v us Vas s a , th e Af r ic an . W r itte n b y Him s elf ( 1 9 8 5) ” . I n : G at es , J r ., H. L .. T h e c l as s ic s l a v e nar r a t i ves , No v a Yor k , P e ng u i n, 1 9 87 , p .1 1..

(4) 5. AGRADECIMENTOS. Primeiramente, quero agradecer ao Ser Supremo por me possibilitar esta graça. A Sidney e a Sofia, pela paciência, incentivo e compreensão da minha ausência. Aos meus familiares – mãe, pai, Danilo, Raísa, Cíntia, Neto, Têca e as amigas – Keite, Dica, Darlene e Denise, pelo incentivo nos momentos difíceis desta jornada. Aos professores Antônio Guerreiro, Lina Aras, Carlos Alberto de Oliveira e Israel Pinheiro, pela orientação e amizade. Aos colegas que se tornaram amigos: Neli Paixão, Marcelo Lins, Alessandra Cruz, Adriano Pontes, Vânia Vasconcelos e Kleber Simões. A vocês que participaram ativamente na conclusão deste e com carinho me ajudaram a vencer mais esta etapa, muito obrigada!.

(5) 6. RESUMO. O. objetivo. específico. desta. pesquisa. foi. analisa r. historicamente as manifestações separatistas ocorridas dentro da sociedade cacaueira da Bahia, entre 1930 e 1980, bem como, investigar quais as origens desse sentimento separatista. Buscouse perceber em que momento e de que forma as lideranças da região. cacaueira. passaram. a. elaborar. um. projeto. de. desmembramento do Estado da Bahia, concretizado no projeto de criação do Estado de Santa Cruz. Coube perceber, também, a gama de interesses dos grupos políticos adeptos ou não do ideal separatista, bem como, as relações políticas e econômicas que essa região manteve com o Governo do Estado da Bahia..

(6) 7. ABSTRACT. This research is aimed at analyzing historically the separatist manifestation occurred in the Bahia cocoa producers society between 1930 – 1981 as well as to investigate the origins of this separatist sentiment. The moment and the way which the cocoa society authorities started elaborating a separatist project of the State of Bahia was also a topic of research, accomplishing in the creation of the State of Santa Cruz. It is also known a range of interests of the political groups, followers or not to the cause of the separatist ideal as well as the political and economical relations this region kept with Bahia State Government..

(7) 8. SUMÁRIO. INTRODUÇÃO ....................................................................... 07. CAPÍTULO I - Movimentos separatistas no Brasil e a unidade territorial 1.1. A formação das unidades territoriais ............................... 18. 1.2. Tensões entre centralização, federalismo e separatismo ... 34. 1.3. Projetos separatistas e a criação de novos estados ......... 43. 1.4. As várias nuances do separatismo no Brasil .................... 49. CAPÍTULO II – Com o cacau, nasce uma região 2.1 A formação da região cacaueira da Bahia ........................... 52 2.2 A configuração social: o nascimento da burguesia do cacau. 56 2.3 Bahia em 1930: profundas transformações ......................... 70 2.4 A “pobre/rica” região cacaueira da Bahia: prosperidade, crises, reivindicações, ICB e a CEPLAC. ...................................... 79. CAPÍTULO III – Os movimentos separatistas no mosaico baiano 3.1 A crise na federação brasileira .......................................... 98 3.2 Estado de Santa Cruz: realidade ou utopia? ..................... 104. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................... 128 LISTA DE FONTES .............................................................. 131 REFERÊNCI AS BIBLIOGRÁFICAS ........................................ 131.

(8) 8. INTRODUÇÃO. Este. trabalho. tem. como. eixo. o. processo. dinâmico. de. implantação e desenvolvimento da cultura do cacau na região Sul da. Bahia,. a. Objetivou-se, manifestações. partir nesta. de. então. denominada. pesquisa,. separatistas. analisar. ocorridas. região. cacaueira.. historicamente. dentro. da. as. sociedade. cacaueira entre 1930 e 1980. Ou seja, analisar o trajeto social produzido. pelos. grupos. políticos. adeptos. ou. não. do. ideal. separatista, bem como, as relações políticas e econômicas que essa região manteve com o Governo do Estado da Bahia. O interesse pelo tema aconteceu quando participava como bolsista do projeto “Testemunhos para a História” da Universidade Estadual de Santa Cruz, cujo objetivo mais amplo era colher depoimentos de pessoas idosas da comunidade de Ilhéus e Itabuna,. construindo. Documentação. e. um. Memória. acervo. sonoro. Regional. -. para. CEDOC.. o. Centro. Numa. de. dessas. entrevistas, em 1999, presenciei o depoimento de Henrique W eyl Cardoso e Silva, um senhor de 82 anos, advogado, ex-vereador e ex-prefeito da cidade de Ilhéus, ex-deputado estadual e federal, um homem com grande experiência política e um sonho: criar o Estado de Santa Cruz. A partir daí, interessei-me em investigar quais as origens desse sentimento separatista, se o interesse vinha de uma única e exclusiva pessoa, de uma facção política ou se a população em geral ansiava por esta separação..

(9) 9. Durante a graduação apresentei monografia intitulada “A Idéia da Criação do Estado de Santa Cruz: análise do Projeto de Lei n.º 194”, tendo como base o Projeto de Lei Complementar n.º 194, de 1978, de autoria do então Deputado Federal Henrique W eyl Cardoso e Silva, o qual pretendia a separação de alguns municípios do sul e sudoeste baiano e a anexação de outros municípios do norte de Minas Gerais, com a finalidade de se cria r um. novo. estado,. que. se. chamaria. Santa. Cruz.. Tive. orientador o professor Carlos Alberto de Oliveira,. como. que, com. paciência e dedicação, ajudou-me a trilhar pelos caminhos da pesquisa histórica. Devido ao curto espaço de tempo, o estudo se limitou à análise do Projeto de Lei e seu conteúdo. Tratou-se de lidar com a idéia de região. Região, de uma forma ou de outra, remete a um espaço determinado, porém, este espaço é social e culturalmente construído através de um processo histórico – o que faz com que a região seja fruto de relações sociais estabelecidas num determinado território. Francisco. de. Oliveira formulou um conceito de região à luz da economia política, ou seja, do processo de reprodução do capital, das formas que este processo assume, das estruturas de classes que lhe é peculiar e do conflito social em escala mais geral. Segundo o autor, região é o espaço onde se imbricam dialeticamente uma forma especial de reprodução do capital, e, por conseqüência, uma forma especial de luta de classes, onde acontece uma fusão entre o político e o econômico. 2 Para Ilmar de Mattos o conceito de região pode, pela imprecisão. de. seus. limites. espaciais,. possibilitar. utilizações. inadequadas. Segundo esse autor, a idéia de região não se restringe aos limites administrativos, como os das capitanias, províncias. e. estados. no. Brasil,. conforme. recorte. temporal. preferido, nem se referencia no fato de um grupo de indivíduos 2. O LI V EI R A, F r a nc is c o d e . El e g ia p ar a u ma r e( l i) g iã o : Su d es t e, No r d es t e , P la n ej am en t o e c o nf l i t o d e c l as s es . 6 e d . R i o d e J a ne ir o: P a z e T er r a, 19 8 1, p. 2 6 ..

(10) 10. coabitar. o. mesmo. território,. porque. essas. práticas. não. estabelecem, necessariamente, redes de relações sociais, nem desenvolvem consciência de pertencimento a um universo comum, embora uma região se firme sobre uma base territorial. 3 Janaína Amado, em oposição aos conceitos naturalistas e cientificistas, destaca um conceito influenciado pelas concepções marxistas, segundo o qual a região é uma construção humana 4. Com base nessa última noção de região, procurou-se analisar o processo histórico de desenvolvimento da região cacaueira. Ou seja, narrar historicamente esse processo é contribuir para uma definição dinâmica dessa região.. Essa narrativa se constrói na. medida em que são explicitadas as relações da referida região com a totalidade, isto é, as formas de inserção da produção e da exportação. do. cacau,. as. relações. políticas. das. oligarquias. regionais com o Estado da Bahia e com a União. Atentaram-se,. também,. para. as. novas. perspectivas. historiográficas abertas ao estudo da política e do poder. Segundo Francisco Falcon, o mesmo movimento desqualificador da história política tradicional portava em si uma nova história política, como a exemplo das novas correntes marxistas que vieram em auxílio dessa restauração do político em geral ou da história política em particular, levantando novas perspectivas sobre o político: o Estado, suas relações com a sociedade civil, além de abrirem investigação histórica à questão muito mais ampla do poder e das formas de dominação.. 5. É a partir dessa nova história que se pretendeu desenvolve r esta pesquisa, analisando as representações e os imaginários sociais, bem como, as diversas práticas discursivas associadas ao 3. M AT T O S, I lm ar R oh of f de . “ O 19 8 7. p . 24 . 4 AM A DO , J a na í na . Re g iã o e Re p úb l ic a e m m i g al h as : his t ór ia 19 9 0. 5 F AL CO N, F r anc is c o. “ His tór i a” J an e ir o: C am pus , 19 9 7. p . 7 3.. t e mp o s a qu ar e ma ”. Sã o P au l o : H UC IT EC , r e g io n a lis m o. In: S IL V A , M ar c os ( or g .) . r eg i o na l e l oc a l. Sã o Pa u l o: Ma r c o Z er o, e p o d er . I n: D o mí n ios da His t ó r i a. R i o d e.

(11) 11. poder. Procurou-se levar em consideração um conceito de política, como “atividade ou práxis humana estreitamente ligada ao poder, entendido este como fenômeno social”. 6 A especificidade do poder político é exercer-se concomitantemente ao poder econômico e ideológico. Portanto, é pertinente valorizar a dinâmica com que se constitui o todo social, ou seja, o entrecruzamento dos diversos poderes formando redes complexas, e não, instâncias estanques, com funcionamento próprio ou isolado. A lavoura cacaueira instalada na Bahia como nova opção econômica,. onde. desenvolvimento,. ocorreu. conferiu. à. predominantemente. região. características. seu. históricas,. específicas e originais, conformando à sua feição uma estrutura sócio-econômica e cultural, cuja dinâmica transpôs os limites de sua área de ocorrência maior. 7 Assim é que o conceito de Região Cacaueira. não. cacauicultura. se. refere. predominou,. apenas mas. aos. municípios. onde. outros. municípios. engloba. a. circunvizinhos, que têm a vida econômica vinculada à área de cultivo do cacau, ainda que seu plantio não chegue a ocupar posição de destaque na vida da municipalidade. Os. maiores. rendimentos. somente. foram. registrados. na. segunda metade do século XIX, estimulados pelas condições do mercado internacional que eram satisfatórias. A partir de então, o cacau começou a sua expansão e passou a aumentar as cotas das exportações baianas. Essa expansão foi favorecida, em parte, pelas crises da mão-de-obra, desencadeadas pela proibição do tráfico atlântico de escravos, do capital e das condições do mercado internacional do açúcar. A partir de 1904, o cacau tornouse o primeiro produto de exportação do Estado, posição que manteve até os anos setenta do século XX. 8 6. BO B BIO , N or b er to ; M AT T EUC CI N ., P A S Q UI NO . G . D ic io n ár io de po l ít ic a. Br as í l i a: U n i ver s i d ad e d e Br as íl i a, 19 8 6. 7 G A RC EZ , A n ge l i na No br e Ro l im & F R EIT AS , A nt ô n io F . G uer r e ir o de . His t ór i a ec o n ôm ic a e s oc i a l d a r e g iã o c a c au e ir a. R i o d e J a n e ir o : C ar t oG r áf ic a Cr u ze ir o d o S u l, 1 9 75 . p. 05 . 8 I de m , p. 1 4 ..

(12) 12. Apesar da expansão econômica, desde seu início, a lavoura cacaueira enfrentou dificuldades, como o difícil escoamento do produto e a falta de créditos. Faltavam estradas que permitissem uma fluência normal das safras e eram irregulares as linhas de navegação para o porto de Ilhéus, onde se concentrava o maior volume de produção de cacau da região. 9 Diante das sucessivas crises, a região, representada pelos produtores e comerciantes de cacau, começou a cobrar um posicionamento do governo do Estado, reivindicando financiamento e assistência à produção do cacau. Reclamava-se de uma total indiferença dos órgãos oficiais, cuja atuação na região e sobre a economia do cacau, se prendia à cobrança. de. tributos,. com. os. quais,. aliás,. conforme. reconhecimento público unânime, equilibrava-se a vida econômica do Estado. Buscou-se perceber em que momento e de que forma as lideranças da região passaram a elaborar um projeto de desmembramento do Estado da Bahia, concretizado no projeto de criação do Estado de Santa Cruz. Ao analisar a configuração social da região cacaueira e a consolidação da burguesia do cacau como classe dominante regional, se fez necessária a adoção de um conceito de classe social. A discussão sobre a organização da sociedade em castas ou classes é bastante antiga, e o problema nunca foi tão atual nos debates. entre. filósofos,. pensadores. políticos,. sociólogos. e. historiadores, que percebem a importância desse aspecto da vida social. Na República, Platão já sugeria uma forma de dividir a sociedade, sendo que os dois últimos séculos acentuaram a relevância. da. estratificação. social. para. a. compreensão. e. explicação das relações entre os homens. Quase todas as pesquisas e trabalhos sociológicos modernos combinam alguns dos aspectos do pensamento marxista com 9. F RE IT A S, A nt ôn i o F . G u er r e ir o de & P AR A I SO , Ma r i a H i l da Ba q ue ir o. Ca m in h os a o enc o ntr o do m un d o: a c a p it a n i a, os f r ut os de o ur o e a pr i nc es a do s ul – Il h éus , 1 53 4- 19 4 0. I l hé us : E d it us , 2 00 1 , p. 1 0 4..

(13) 13. algumas das idéias de Max W eber. Na história do pensamento ninguém fez como Marx: da luta de classes sociais e econômicas um aspecto tão central da sociedade e uma fonte tão dominante de mudança social. Nos trabalhos de Pierre Bourdier, percebe-se a influência do pensamento de Marx e de W eber, principalmente a vertente weberiana. Segundo Bourdier, a classe social não é apenas vista como um elemento que existiria em si mesmo sem manter uma corelação. com. elementos. qualificados. já. coexistentes,. constituinte, por sua integração, em uma estrutura. e. sim,. onde se. observa que a ignorância das determinações específicas que uma classe social recebe da outra classe pode nos levar a estabelecer falsas identificações e omissão em analogias reais. 10 Assim, uma classe social jamais pode ser definida apenas por sua situação e por sua posição na estrutura social, isto é, pelas relações que mantém objetivamente com outras classes sociais. Inúmeras propriedades de uma classe social provêm do fato de que seus membros se envolvem deliberadamente ou objetivamente em relações simbólicas com os indivíduos. das. outras classes, e, com isso, exprimem diferenças de situações e de posição segundo uma lógica sistemática, tentando transmutá-la em distinções significantes. Bourdier afirma que os grupos de status se definem menos por um ter do que por um ser, irredutível a seu ter, menos pela posse pura e simples de bens do que por uma certa maneira de usar estes bens, pois a busca da distinção pode introduzir uma forma inimitável de raridade da arte de bem consumir capaz de tornar. raro. propriamente. o. bem. de. consumo. econômicas. são. mais. trivial. 11 As. duplicadas. pelas. diferenças distinções. simbólicas na maneira de usufruir esses bens, ou melhor, através do consumo, e mais, através do consumo simbólico ou ostentatório 10. BO U RD I ER , P ier r e . “ Co n diç ã o d e c las s e e pos iç ã o d e c las s e” . In : A ec o n om i a d as tr oc as s i mb ó l ic as . S ã o P au l o: P er s p ec ti v a , 19 7 4. p . 5- 6 . 11 I dem p . 1 5..

(14) 14. que transmuta os bens em signos, as diferenças de fato em distinções significantes, ou, para falar como lingüistas, em valores, privilegiando a maneira, a forma da ação ou do objeto em detrimento de sua função. É,. portanto,. natural. que,. a. exemplo. das. sociedades. tradicionais, os grupos de status imponham aos que neles desejam participar,. além. de. modelos. de. comportamento,. modelos. da. modalidade dos comportamentos, ou seja, regras convencionais que definem a maneira justa de executar os modelos. Na análise da formação da burguesia cacaueira da Bahia, utilizando. a. simbologia. proposta da. procedimentos. de. posição. Bourdier, dessa. expressivos,. isto. tentou-se. classe, é,. não. os. atos. englobar. na. apenas,. os. específicos. e. intencionalmente destinados a exprimir a posição social, mas também, o conjunto dos atos sociais que, independentemente do nosso querer ou saber, traduzem ou revelam aos olhos dos outros e,. sobretudo, dos estranhos ao grupo, uma certa posição na. sociedade. Tratar-se-ia, portanto, de estabelecer de que maneira a estrutura. das. condições. e. estrutura. das. relações as. econômicas. posições. relações. pode,. dos. sujeitos. as. posições. e. ao. determinar. sociais, do. determinar. sujeitos. as a. sociais,. determinar a estrutura das relações simbólicas que se organizam nos termos de uma lógica irredutível à lógica das relações econômicas. No primeiro capítulo abordamos de forma sucinta, até porque o tema daria outra dissertação, como a história do Brasil, ao longo dos seus cinco séculos, esteve permeada de manifestações e idéias separatistas de vários tipos: tanto com o objetivo de se criar um novo país, quanto de se emancipar determinada parte de um território.. Enfatiza-se. como. o. sistema. de. centralização. e. descentralização do poder político - a perda da autonomia por.

(15) 15. parte dos Estados e o discurso regionalista - influenciaram nesses processos. O segundo capítulo aborda a constituição da sociedade cacaueira,. o. especificamente. contexto após. a. político-econômico. Revolução. de. 1930,. da. Bahia,. focalizando. os. mecanismos de reivindicação dos grupos políticos que estavam dentro e fora do poder local. Nesse capítulo abordamos também a questão da formação da burguesia cacaueira da Bahia, e como essa burguesia se organizou e se solidificou reivindicando seus direitos de classe dominante dentro da hierarquia social do Estado. No terceiro e último capítulo, retratamos os fatores que levaram a crise da Federação brasileira e sua ligação com a apresentação de projetos que tinham como objetivo criar um novo estado projeto. dentro de. da. Federação.. criação. apresentações. na. Analisamos,. do. Estado. Câmara. dos. de. especificamente,. Santa. Deputados,. Cruz bem. em como,. o. duas suas. repercussões nos planos estadual e regional. O presente estudo teve como início a década de 1930 período de reestruturação política. em todo país, quando se. intensificaram as reivindicações da sociedade local, solicitando uma posição do Estado diante da crise econômica em que a região cacaueira se encontrava - até à década de 1980, quando fora reapresentado na Câmara dos deputados o projeto de criação do Estado de Santa Cruz. A proposta metodológica implicou em estabelecer um diálogo entre as fontes. As atas e diários dos órgãos de representação popular. –. Congresso. Câmara Nacional. de –. Vereadores, com. sua. possibilitaram. reconstituir. o. representantes,. bem. o. como,. Assembléia riqueza. universo que. estava. de. Legislativa detalhes,. político por. trás. de de. e. nos seus suas. posições. Tendo em vista ser o jornal a instituição capaz de dar visibilidade às linhagens ideológica, este trabalho considerou os.

(16) 16. periódicos,. instrumentos. estratégicos. de. representação. político/ideológica que têm como objetivo a veiculação de idéias, além de influenciarem a chamada “opinião pública” 12, os detentores do poder estatal e outros segmentos sociais. Através da análise de jornais foi possível mergulhar na dinâmica das relações políticas, econômicas e sociais entre a região cacaueira e o Governo do Estado da Bahia, identificando os focos de discussões dentro da sociedade cacaueira sobre a separação e a possível criação do Estado de Santa Cruz. Segundo Capelato, no contexto de uma guerra de oposições, as. trincheiras. ideológicas. são. particularmente. expressas. na. atuação dos jornais, assim:. A im pr e ns a , c onc e b i da c om o a t or p o l ít ic o- id e o ló g ic o , de v e s er c om pr e en d i da c om o i ns t r um ent o de m ani pu l aç ão d e in te r es s es e d e i n ter v e n ç ão n a v id a s oc ia l , as s im c om o r e pr es e nt a um a ins t it u iç ão em q ue s e m es c lam o p ú b lic o e o p r i v a do , [em q ue ] o s d ir e i tos d os c i da d ãos s e c o nf u nd e m c om os do do n o d o j or na l . O s l im ites en tr e um e o utr o s ã o tê n ues . 13. Destarte, tanto a elaboração de certas idéias quanto a canalização de um conjunto delas fazem com que a imprensa seja peça fundamental para a – aqui pressuposta – conquista da hegemonia política regional. Gramsci define a relação entre a imprensa e seus leitores: ( .. .) o e l em ent o f u n d a m enta l [a l ém do as p ec to c om er c i a l] par a a s or te d e um per i ó d ic o é o i de o l óg ic o, is to é , o f ato d e q ue s at is f aç a ou n ão de t er m in ad as nec es s i da d es i nt e lec tu a is , p o lí t ic a s ( .. .) O s l ei t or es de v em s er c ons i d er a d os a par t ir de d o is po n tos d e v is t a pr inc i pa is : 12. É in t er es s a nt e f r is a r qu e es s a ex pr es s ã o é i n v oc a d a p el os j or n a is em d i ver s as s i tu aç ões , s i m ples m en te p ar a id e nt if ic ar a s u a ( do j or na l) pr ó pr ia op i n iã o , q ue , em bor a pr i va d a, p r e te n de s e p as s ar po r “ p úb l ic a” . P or t ud o is s o , “ op i n i ão p ú bl ic a” f unc i o na es s e nc i a lm ent e c om o um r ec ur s o r et ór ic oi de o ló g ic o es tr at ég ic o e f u nd am en ta lm en te v o lt ad o a enc o br ir – in te r es s es par t ic u l ar es e pr i v ad os – d o q ue a r e ve l ar . Ver G R A M S CI , A nt ôn i o. O s i nt e lec tu a is e a or g a ni za ç ã o da c u lt ur a . R i o de J a ne ir o: Ci v i l i za ç ã o Br as i l eir a , 19 8 5. 13 CA P E L AT O , M ar ia H. I m pr e ns a e hi s tór i a d o Br as i l . S ão P au l o : Co nt ex to / Ed us p, 1 9 88 , p. 1 8..

(17) 17. 1) c om o el em en to s id eo l ó gic os “ tr a ns f or m áv e is ” f il os of ic am ent e, c a pa ze s , dúc t eis , m ale á ve is à tr a ns f or m aç ã o ; 2) c om o e l em ent os “ ec o n ôm ic os ” , c ap a ze s d e a dq u ir ir as p u b l ic aç õ es e f a z e- las a dq u ir ir por ou tr os . O s do is e l em ent os , n a r e a l i da d e, n em s em pr e s ã o d es tac á v e is , n a m ed i d a em q u e, o e lem e nt o i de o ló g ic o é um es t ím u lo a o at o ec o n ôm ic o da a q uis iç ã o e d a d i vu l gaç ã o. 14. Por ser fonte de expressão das elites, a imprensa é uma das instâncias sociais que mais colaboram na execução dos seus projetos políticos. Esse papel ganha forma com a divulgação de idéias e valores que em geral criam condições favoráveis à aceitação do domínio das elites. Os jornais aqui utilizados foram importantes veículos de informação numa época em que os meios de comunicações eram escassos e limitados. Assim, o jornal contribuiu para o entendimento das atitudes mentais como “forças” que atuaram diretamente sobre a história da sociedade cacaueira, identificadas através do sistema ideológico que perpassou o texto jornalístico. Outra fonte também utilizada foi a literatura regional – romances, memórias, crônicas, biografias – fontes essas que traduzem os valores de grupo social, do mesmo modo que as corografias ou memórias histórico-descritivas municipais, que tanto se produziu no século XIX e primeira metade do século XX. Neste. trabalho. pretendeu-se. contemplar. basicamente. a. historiografia da região em pauta. Entendemos que o movimento separatista deve ser visto como um dos aspectos da constituição da própria região cacaueira, onde a tentativa de criação do Estado de Santa Cruz foi o ponto culminante de um processo. São as "lideranças" agindo no sentido de (re)definir, não somente, os limites geográficos do espaço onde vivem e trabalham, mas também,. sua. emancipação. política,. econômicas sociais.. 14. G R A M SC I, An t ôn i o. O p. c it. pp 17 9- 16 3 .. suas. determinações.

(18) 18. CAPÍTULO I. MOVIMENTOS SEPARATISTAS NO BRASIL E A UNIDADE TERRITORIAL. 1.1 A formação das unidades territoriais. Os discursos separatistas são bem antigos, acompanhando a própria história de formação do Estado brasileiro. A simples observação do mapa do Brasil mostra a existência de estados de grande extensão territorial em contraste com os de pequena extensão. Esse desequilíbrio é resultado, em grande parte, da primeira divisão do território, hoje brasileiro, feita pelo rei D. João III, de Portugal, nos meados do século XVI, o qual dividiu a colônia em 15 extensos lotes. No. decorrer. dos. primeiros. séculos,. várias. unidades. formadas pelas capitanias hereditárias conseguiram permanecer mais. ou. menos. estáveis.. Outras. foram-se. constituindo. posteriormente, conforme a expansão do povoamento, sendo que, em 1709, devido à grande importância econômica advinda da exploração do ouro e do diamante, foi criada a capitania de São Paulo e das Minas de Ouro, provocando o desaparecimento das capitanias de São Vicente, Santo Amaro e de Santana. 15. 15. A no v a c a p it a ni a t i nh a gr an d e ex t e ns ã o t er r it or i a l, c om pr e e n de n d o os a tu a is es t a dos d e M i nas G e r a is , G o iás , T oc a n t in s , M at o G r os s o, M at o G r os s o d o S ul , P ar a n á e Sã o P a u lo . Su a im por t ânc i a der i v a v a do f at o de j á p os s u ir um a agr ic u lt ur a d e s ubs is tê nc ia ex pr es s i v a e pas s ar a pr o du zi r o o ur o. Cf . AN DR A D E, Ma n oe l C or r ei a . As r a í ze s do s ep ar at is m o n o Br as il . S ão Pa u l o: UN E S P – E DU S C, 19 9 9. p . 5 2..

(19) 19. Em 1720, a capitania de São Paulo e Minas de Ouro foi desmembrada em outras quatro unidades – São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. A economia das três últimas girava em torno da mineração e, alguns dos seus arraiais se tornaram centros urbanos, como Ouro Preto, Mariana e Cuiabá. Mais tarde, ao sul de São Paulo, foram criadas as capitanias de Santa Catarina e Rio Grande de São Pedro. Em. seu. trabalho. sobre. os. significados. territoriais. da. colonização, Demetrio Magnoli ressalta que a criação desta última está ligada à estratégia do governo português para manter o domínio e direito de posse na disputa com os espanhóis.. A c ap i ta n i a d e R i o G r an d e d e S ão P e dr o f o i c r i a d a em 17 6 0, s u b or d i n an d o- s e d ir e tam e nt e ao R i o de J a n e ir o . A s ua c r i aç ã o i ns c r e v ia - s e n o es f or ç o d e i nt er li g aç ão d a Co l ôn i a d e S ac r am ent o, is o l ad a às m ar ge ns d o r i o Pr at a , c om os t er r i tór i os p or t u gu es es no Br as i l . A c a pi t an i a m er id i on a l t or no u- s e o p i v ô de d em or a da c onf r on taç ã o en tr e as c o r o as i bé r ic as , q ue s e pr o l on go u a pós a tr a ns f er ê nc i a da f am íl i a r e a l p ar a o Br as i l e des em boc o u 16 na Q ues t ão C is p la t in a .. A reformulação territorial desenvolvida pelo Marquês de Pombal no século XVIII tinha como objetivo principal a extinção das antigas capitanias hereditárias e a criação de novos blocos de capitanias diretamente vinculados à Coroa e designados para promover a apropriação e valorização territorial, a fim de tornar mais eficiente a exploração colonial e a concentração do poder. Como parte desse processo, extinguiu algumas capitanias, entre elas, a de Itaparica, a de Paraguaçu ou Recôncavo da Bahia, a de Ilhéus e a de Porto Seguro. Essas duas últimas foram incorporadas à Capitania da Bahia de Todos os Santos em 1753.. 16. M AG NO LI , Dem étr i o . “ O Es t ad o em b us c a de s eu t er r it ór i o” . I n: Is t vá n J anc s ó ( or g .) Br as i l: f or maç ã o do Es t a d o e da N aç ão . S ã o P a ul o : Huc i tec ; E d. Un ij uí ; F a pes p , 20 0 3. p. 2 89 ..

(20) 20. Quando a Colônia estava dividida em dois estados (de 1621 a 1774) – Estado do Brasil, com capital em Salvador e, depois, no Rio de Janeiro, e Estado do Maranhão, com capital em São Luís, depois transferida para Belém do Pará – o Governo português criou dois tipos de capitanias: as gerais e as subalternas, estas últimas dependentes das primeiras. No estado do Maranhão, eram capitanias gerais as do GrãPará e a do Maranhão, e subalternas, as de São José do Rio Negro e a do Piauí. No estado do Brasil, eram gerais as capitanias de Pernambuco, da Bahia de Todos os Santos, de Minas Gerais, de Goiás, de Mato Grosso, do Rio de Janeiro e de São Paulo. O bloco de subalternas era composto pelas capitanias do Ceará (até 1799), do Rio Grande do Norte (até 1808) e da Paraíba (até 1799), dependentes de Pernambuco; as capitanias de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro eram dependentes de São Paulo. Alagoas pertencia à capitania de Pernambuco, enquanto que Sergipe pertencia à Bahia. O Paraná pertencia a São Paulo, tornando-se província em 1853. 17 Muitas das divisões e anexações do período pombalino tinham uma relação com o projeto de assegurar o controle metropolitano, a partir do desenvolvimento das grandes “frentes de apropriação territorial”, que promoviam a ligação entre o interior e o litoral, configurando novas redes de intercâmbio, como ressalta Magnoli. As f r en t es d e a pr o pr iaç ã o d i nam i za d as na s e g un d a m etad e d o s éc u lo X VI II ex pr es s am a c on v er gê nc i a en tr e os i nt er es s es ge o p ol ít ic os d a c or oa e um a m ult ip l ic i da d e de i nt er es s es dos c o l on os . D o p on t o d e vi s ta da c or oa , tr a ta v a- s e d e pr o du zi r pr o v as d e s o be r a n ia , por m ei o d a oc u p aç ã o r e al e s im bó lic a dos t er r it ór ios , e s pec i a lm ent e nas l ar gas f a ix as d e f r on t ei r as . As v i l as e p o vo aç ões , as f or t if ic aç õ es e os c am in h os , os l e va n tam en t os ec o n ôm ic os e c e ns it á r i os , os d oc um ent os c ar t o gr áf ic os. 17. AN DR A D E, M a n oe l C or r ei a . As r aí ze s d o s ep ar at is m o n o Br as i l. O p. Ci t. p . 54 ..

(21) 21. f unc io n a vam c om o i n s tr um en t os d o em pr e en d im en to d e 18 apr o pr iaç ã o p o lít ic a d os ter r i t ór i os c o l o ni a is .. O sentimento de separação da metrópole e a consciência de uma ligação com a terra de origem desenvolveram-se, sobretudo, a partir do século XVIII. Com tantas dificuldades de comunicação e com. tantos. interesses. que. se. contrapunham,. formar. uma. comunhão nacional em um território tão extenso não foi tarefa fácil. Inicialmente as rebeliões foram muitas vezes nativistas 19, movimentos. locais. contra. interesses. contrariados. ou. contra. injustiça e discriminação por parte da Coroa, como a Revolta de Beckman no Maranhão em 1684, e a Revolta de Felipe do Santos, em Minas Gerais, em 1720. Posteriormente. 20. surgiram. sentimentos. separatistas. mais. definidos politicamente, com bases ideológicas mais consistentes. Assim, podem ser caracterizadas a Inconfidência Mineira de 1789, fortemente. influenciada. pela. Revolução. Norte-Americana;. a. Conjuração Baiana ou Revolução dos Alfaiates em 1798, com bases sociais bem aprofundadas; e, sobretudo, a. Revolução. Pernambucana de 1817, com grande influência nos estados do Nordeste, que conseguiu implantar, pelo curto período de dois meses, um governo republicano em Pernambuco, o primeiro a ocorrer em território brasileiro. 18. 21. M AG NO LI , Dem étr i o. O p. C i t. p . 2 93 . E nt e n dem - s e c om o n at i v is t as os c o nf r o nt o s , num a m es m a r e g iã o, e ntr e os pr ó pr i os c o l on os e os r ep r es e nt an t es d a m etr óp o l e, na te nt a ti v a d e as s e gur ar os d ir e i tos d os n at i v o s o u r a d ic a d os n o Br as il , a nt e a d om in aç ã o po r t ug u es a . G er alm e nt e, es s as r e be l i ões nã o pr et e nd i a m a i n de p en d ênc i a d o Br as i l e a f or m aç ão d e um es t a do , e s im , des ej a va m que s u as r e g i ões a lc a nç as s em c er t a a ut o nom i a l oc a l . 20 A ND R AD E , M an o e l C or r ei a . Ra í zes s ep ar at is t as n o Br as i l. O p. c i t . p. 5 5. 21 S o br e a I nc onf id ê nc ia M i ne ir a Cf . M A XW ELL, K en n et h. A dev as s a da dev as s a: a I nc onf id ê n c i a M i ne ir a , Br as i l – P or t u ga l , 1 7 50- 1 80 8 . 3ª ed . R i o d e J an e ir o: Pa z e T er r a, 19 8 5. So br e a Re v o l uç ã o d os A lf a i at es o u Conj ur aç ã o B ai a n a, Cf . T A V A R E S , L u is H enr i q ue D ias . His tór i a da s ed iç ã o i nt e nt ad a na B ah i a e m 1 79 8: a c o ns p ir aç ão dos a lf a i at e s . S ão Pa u l o: P i o ne ir a, 1 9 75 ; Cf . SO UZ A, Af o ns o R u y de . Pr im e ir a r ev o l uç ã o s oc i a l br as i l eir a de 17 9 8. S ão P au l o: C i a. Ed i to r a Nac i on a l, 19 4 2; J AN CS Ó , Is t va n. N a B a h ia c o n tr a o i mp ér i o: his t ór ia do e n s a io de s e diç ã o d e 1 7 98 . Sã o Pa u l o: H uc it e c ; S a l va d or : Uf ba , 1 9 9 6. E s o br e a Re v o luç ã o Per n am bu c an a de 1 81 7, Cf . VI L L ALT A , L u i z Car l os . “ P er n am buc o, 18 17 , “ e nc r u zi l h a da de des e nc o n tr os ” d o I m pér i o l us o19.

(22) 22. A. Inconfidência. Mineira. foi. o. primeiro. movimento. a. manifestar a intenção da Colônia romper suas relações com a Metrópole. A importância do levante mineiro reside no fato de exprimir a crise da política colonial e, ao mesmo tempo, a influência das idéias iluministas sobre a elite da Colônia, que, na prática,. foi. proprietários. quem. organizou. rurais,. o. intelectuais,. movimento, clérigos. e. o. qual. militares 22,. reuniu numa. conspiração que pretendia eliminar a dominação portuguesa e criar uma nação livre em 1789. Outra. importante. influência. que. marcou. a. Inconfidência. Mineira foi a independência das 13 colônias inglesas na América do Norte, que, apoiadas nas idéias iluministas, não só romperam com a Metrópole, mas criaram uma nação republicana e federativa. A vitória dos colonos norte-americanos frente à Inglaterra serviu de exemplo e estímulo a outros movimentos emancipacionistas na América Ibérica. 23 Além disso,. Minas Gerais se constituiu na mais importante. região aurífera e diamantífera no Brasil, onde a exploração de diamantes era monopolizada pela Coroa desde 1731, e o peso da br as i l e ir o - N ot as s o b r e as i d é ias de pá tr ia , país e n aç ã o” . In : L í l i a Sc h war t z ( O r g .) . Dos s i ê Br as i l Im pér io . Rev is ta U S P. Sã o P au l o, n . 58 , j un ./j u l. /a g o. 20 0 3; e AN DR A D E, M an u e l Cor r e i a. A R ev o l uç ã o P er na m b uc a n a de 18 1 7. S ã o P au l o: Át ic a, 1 9 95 . 22 Al ém des t es , e nc o ntr am os a in d a a l gu n s in d i ví d uos de um a c am ad a i nt er m ed iá r i a , c om o o pr ó pr i o T ir ad e nt es , f i lh o de um pe q ue n o pr o pr i et ár i o, s en d o, p or t a nt o, um dos p o uc os i n d i ví du o s s em pos s es q ue p a r tic i p ar am d o m ovim en t o. Es s a s i tu aç ã o ex p l ic a a pos iç ã o d os inc o nf i de n tes e m r elaç ão à es c r a v i d ão - a m aior p ar t e d os m em br os d a c ons p ir aç ã o s e o pu n h a à ab o l iç ã o da es c r a v i d ão , e nq u a nt o p ouc os , i nc lu i nd o T ir a de nt es , def en d i am a li b er t aç ão dos es c r a v os . Cf . C HI A V EN AT T O , J ú l io J os é. As v ár ias f ac es d a i nc o n fi d ênc i a m in e ir a. 2 e d . S ão Pa u lo : Co n tex to , 1 98 9 . 23 O i de a l i lum i n is t a d if un d i u- s e n a Eu r o p a a o l on g o d o s éc u lo X V II I, pr inc i p alm en t e, a p a r ti r d a o br a de f i l ó s of os f r anc es es , e t e ve gr an d e r ep er c us s ão n a Am ér i c a, pr im eir o, i nf l u e nc i an d o a in d ep e nd ê nc ia dos EU A e, pos t er i or m en t e, as c o lô n ias i bér ic as . A o l on g o d o s éc ul o X VI II t or no u- s e c om um à e li t e c ol o n i a l e n v i ar s eus f i l hos p ar a es t ud ar n a Eu r op a , on d e tom ar am c o nt a to c o m as i d é ias q u e c l a m avam p or d ir ei t os , l i b er d a de e i gu a ld a de . D e vo l ta à Co l ôn i a, es s es j o ve n s tr a zi am , n ã o s om en t e, os i d ea is de Loc k e, Mo n tes q u ie u e R ous s e au , m as , um a per c epç ã o m ais ac a b ad a em r e laç ã o à c r is e d o A nt i go R eg im e, r e pr es e nt a da p e la d ec ad ê nc ia d o abs o l ut is m o e pe l as m ud a nç as qu e s e pr oc e s s a vam em vár i as n aç ões , m es m o qu e a in d a c o nt r o l ad as por m o nar c as des p ót ic os . Cf . CO G G IO L A, O s v a ld o . A Rev o luç ã o F r anc es a e s e u i m p ac t o n a A mé r ic a La t in a. S ão P au l o: No v a St e l la ; Br as íl i a : CN PQ , 19 9 0..

(23) 23. espoliação lusitana se fazia sentir com maior intensidade. A mudança na política tributária com a instituição da Derrama – mais um imposto cobrado pela Coroa – aumentou a revolta contra a situação de dominação. Delatada por um de seus membros, e com o apoio das autoridades portuguesas instaladas no Rio de Janeiro, a conspiração foi subjugada. Na Bahia, em 1798, a fonte de inquietação e inspiração f oi a Revolução Francesa. Considerada por alguns como a “primeira revolução social brasileira” 24, a Conjuração Baiana configurou-se como grande movimento contestador à ordem colonial e ao regime monárquico absolutista. Assistiu-se à gestação de um projeto de revolução que articulava as elites locais e os indivíduos egressos da escravidão ou que ainda se encontravam no estado de cativos. Os boletins que circulavam - cópias de trechos de livros, documentos franceses proibidos e do poema “A Liberdade” - eram destinados a formar uma consciência ou uma posição contra a condição de colônia da Capitania da Bahia, de crítica à Igreja de Roma, de simpatia pela França e de preferência pelo regime republicano. 25 O movimento baiano é considerado mais amplo e singular entre os outros deste período da história do Brasil – pela forte influência que recebeu das idéias humanistas de igualdade de todos os seres humanos, sem diferenças de cor 26. Os pasquinsboletins traziam implícito o reconhecimento do princípio segundo o. 24. Cf . SO UZ A, Af on s o R u y d e . O p. C i t.. 25. T AV A RE S , L uís H enr i qu e D ias . H is t ór ia d a B ah i a. Sa l v ad or : ED U F B A , 20 0 1. p. 1 82 . 26 A Co nj ur aç ã o B a ia n a f oi f or t em en te inf l ue nc i ad a p e la f as e p op u l ar d a Re v o luç ã o F r a nc es a, qu a nd o os j ac o b in os , l i der a dos p or R ob es p ier r e , c ons e gu ir am , a p es ar da d i ta d ur a p o lí t ic a , im por ta nt es a v anç os s oc ia is em be n ef íc io das c am ad a s po p ul ar es , c om o o s uf r á gi o un i v er s al , e n s i no gr a t ui t o e a b ol iç ã o d a es c r a v id ã o n as c o l ô ni as f r anc es as . Es s as c on q u is t as , pr inc i p alm en t e es s a úl t im a, i nf l u enc i a r am outr os m ov im en t os de i nd e pe n dê nc i a n a Am ér ic a La t in a , d es t ac a nd o- s e a lu t a p or um a R ep ú bl ic a ab o l ic io n is t a no Ha i t i e em Sã o Dom in g o s , ac om pa nh a da d e l i ber d ad e no c om ér c i o, do f im dos pr i vi l é g ios po l ít ic os e s oc ia is , d a p un iç ão a os m em br os do c le r o c o n tr ár i os à li b er d a de , e d o a um en t o do s o ld o d os m i l it ar es . Cf . M AT T O SO , K á ti a M. De Q u ei r ós . P r es e nç a fr a nc es a n o mov i m en to de m oc r át ic o ba i a no , 1 79 8 . C o leç ã o B a ia n a. S a l v ad or : It ap u ã, 1 9 6 9..

(24) 24. qual todos os homens livres seriam cidadãos, e também a idéia de nação. como. popular.. sinônimo. Não. de. continham,. estado,. instaurado. entretanto,. uma. pela. rejeição. soberania à. nação. portuguesa: o alvo era o trono, o “despotismo”, o “rei tirano”, a subordinação a Lisboa. 27. A violenta repressão metropolitana. conseguiu sustar o movimento, que apenas iniciava-se, detendo, torturando e executando seus principais líderes. Apesar da contínua repressão da Coroa aos movimentos contestatórios, as idéias republicanas e autonomistas estavam espalhadas ao longo do território chamado Brasil. Essas idéias se desenvolveram no decorrer do século XVIII devido à influência do iluminismo europeu, como já citamos, e, principalmente, às crises da lavoura canavieira, associadas à política de opressão fiscal do governo do Marquês de Pombal, culminando na Revolução de 1817. A revolução protagonizada pelos pernambucanos, de fato, constitui-se num movimento de grande importância no processo de emancipação política do Brasil: “foi a mais ousada e radical tentativa. de. enfrentamento. até. então. vivido. pela. monarquia. portuguesa em toda sua história”. 28 A revolução tinha como principais bandeiras a repulsa à administração monárquica que presidia o empreendimento colonial da “metrópole interiorizada”, delineando uma identidade, por meio de uma rejeição dupla, ao elemento reinol e à Coroa. Ao mesmo tempo,. os. pernambucanos. agiram. como. forças. centrífugas,. regionalizantes, que hostilizavam a hegemonia do Centro-Sul sobre o restante das possessões americanas de El-Rei, embaralhando a dicotomia brasileiros/portugueses e os esforços desenvolvidos pelo 27. J AN C SÓ , Is t v án ; P I M ENT A , J o ão P au l o G . “ P eç as d e um Mos a ic o: o u A po nt am en tos par a o Es tu d o d a Em er gê nc i a da I d en t i da d e Nac i o na l Br as il e ir a” . In : C ar los G u il h er m e M ot a ( or g . ) . V i a gem Inc om pl et a. 15 0 0- 2 0 00 ; a Ex per i ê nc ia Br as i l e i r a. F or m aç ão : H is t ór i as . Sã o P a ul o , E di t or a S en ac /S ã o P au l o, 2 0 0 0, p p. 12 7- 75 . 28 B ER N AR D E S, D en is A nt ôn i o d e Me n do nç a , a p ud VI LL A LT A , L u i z C ar l os . “ P er n am buc o, 1 8 1 7, “ enc r u zi l h a d a de d es en c on tr os ” do Im pé r i o l u s o- b r as i l ei r o - No tas s o br e as id é i as d e pá tr ia , p a ís e naç ã o” . In : L i l i a Sc h w ar t z ( O r g .) . Dos s i ê B r as i l Im pér i o. Rev is t a U S P, . Sã o P au l o, n. 58 , j u n. /j u l ./ a go . 2 0 03 , p p 25- 4 0..

(25) 25. monarca com vista a romper com a descentralização políticoadministrativa que imperara em todo o período colonial. 29 No entanto, de acordo com Villalta, os pernambucanos revolucionários deixavam a porta aberta para a incorporação, à República por eles instituída, do conjunto dos brasileiros e de parcela dos portugueses, exigindo apenas de ambos - portugueses e. brasileiros. -. a. adesão. à. causa. republicana,. antitirânica,. anticolonial, defensora da propriedade e da escravidão:. A os 7 de m ar ç o d e 18 1 7, i ns t a l ou- s e o G o v er no Pr o v is ór i o, c ons t it uí d o p or c i nc o m em br os , n os m old es do D ir et ór i o d a F r a nç a , em 179 5 . O no vo go v er no pr om u lg o u um a L e i O r g ân ic a, en v i a da a t od as as c âm ar as d as c om ar c a s d e P er nam buc o , qu e f ix a v a a t es e da s o b er an i a p op u la r , d et er m in a v a o r e gim e r e pu b l ic a n o de go v er n o, s e g u ia pr i nc í p i os c om o a li b er da d e d e c ons c i ê nc i a , d e im pr ens a , a t ol er â nc i a d as r el i g iõ es , ad o ta n do , p or ém , a r e li g i ão c at ó l ic a c om o a r e l i g iã o do 30 Es t a do .. A heterogeneidade do governo revelou-se na divisão de seus membros e apoiadores em relação ao futuro do trabalho escravo e à participação dos cativos na luta contra os realistas. A divisão interna em relação à questão escrava enfraqueceu a república e fortaleceu os realistas (contra-revolucionários), contribuindo, entre outros fatores, para a derrota do movimento:. A a ná l is e dos f at or e s r e v o luc i o nár i os de m ons tr a q u e ha v i a um a s ér ie d e in d ec is õ es e n tr e os l í der es , f or m ados , s obr e tu do , p or p adr es , m il it ar es , c om er c i an t es , al t os f u nc io n ár ios e um a p eq ue n a a d es ã o dos pr o pr i et ár ios de ter r a. Es t es tem i am qu e, c om a i nd e pe n dê nc i a e a r e p úb l ic a, s e s e g u is s em a ab o l iç ão d o 31 tr áf ic o d e es c r a v os e da pr ó pr i a es c r a vi d ão .. 29. V I LL A LT A , L u i z Car l os . O p. C it . 2 5- 4 0 . MO T A, Car l os G u i l he r m e, a p ud V IL L A LT A, o p. c it . 3 0. 31 A ND R AD E , M an u e l C or r ei a . A R ev o l uç ão P er n a m buc a na d e 1 8 17 . O p. C i t. p. 6 2 . 30.

(26) 26. Assim, durante 74 dias, a República Pernambucana de 1817 realizou uma possibilidade de independência que fragmentava a América portuguesa, possibilidade essa abortada anteriormente com o êxito da repressão contra as Inconfidências de Minas, em 1789 e, da Bahia, em 1798, movimentos que, por sua vez, traziam projetos diferentes de Brasil, ou melhor, de Minas e Bahia.. 32. Importante ressaltar que esses movimentos, onde princípios autonomistas. eram. defendidos,. tinham. um. caráter. regional,. mostrando que não se havia ainda forjado uma consciência nacional, em razão mesmo da política colonial. Ligando-se as diversas capitanias mais a Lisboa do que ao centro políticoadministrativo situado na Colônia, Portugal tolerava, na prática, a descentralização, acreditando que esta criava obstáculos para a formação de um poderoso feixe de interesses capaz de resistência à ação da Metrópole, como afirmou Sérgio Buarque de Holanda. 33 Isto significava que uma fragmentação de poder na Colônia, com um deliberado fortalecimento de administrações locais, era mais segura contra possíveis planos emancipacionistas do que a efetiva centralização. Essa deliberação contribuiu para a sedimentação de interesses regionais, fortalecendo o poder local. As. idéias. liberais. no. Brasil. tinham. seus. limites. bem. definidos. A liberdade era vista a partir do interesse de uma minoria,. como. Metrópole,. a. necessidade. de. ruptura. dos. laços. com. a. sem que rompessem as estruturas socioeconômicas.. Mesmo do ponto de vista político, a liberdade possuía limites. A luta pela independência incluía ainda a definição do regime político a ser adotado. A maioria defendia a formação de uma República que fosse Federativa, porém não garantia o direito de participação política a todos os homens. Os movimentos emancipatórios do período colonial representavam uma ameaça aberta tanto aos interesses portugueses de recolonização, expressos nas Cortes de 32. V I LL A LT A , Lu i z C ar l o s . op . c i t. P. 3 5. HO L A ND A , S ér g io B ua r qu e de . “ A Her a nç a C o lo n ia l – s u a d es agr e g aç ã o” . I n: His t ór i a da c iv i li za ç ã o br as i l ei r a . S ã o P a u lo : D if us ã o E ur o p é ia do Li vr o . V . 1 , 19 6 2. p . 2 5.. 33.

(27) 27. Lisboa, como principalmente à elite tradicional brasileira, com seu projeto moderado de independência política. O regionalismo e o sentido de autonomia que se manifestava na região norte contrariavam as intenções da aristocracia rural, organizada principalmente no Rio de Janeiro. Para essa elite, a independência deveria conservar as estruturas socioeconômicas e promover mudanças políticas apenas com o objetivo de romper com Portugal e garantir a soberania do Brasil, possibilitando, dessa forma, que essas elites exercessem, com maior liberdade, seus interesses econômicos. O sentimento regional começara a conviver simultaneamente com o nacional, com a declaração da Independência e a formação do Império. Porém, no momento de ruptura com a Metrópole portuguesa,. a. unidade. assegurada.. O. novo. territorial. Império. não. brasileiro. estava. nem. de. não. dispunha. longe de. um. território unificado prévio, mas, de um conjunto heterogêneo de territórios, colônias herdadas da colonização. No plano político inexistia um território brasileiro conglobado, apesar da “marcha de apropriação e valorização territorial” ter promovido. uma. ampla. integração. de. mercados. em. escalas. regionais. Nessa circunstância, a fragmentação do poder e o fortalecimento da administração local, antes adotada por Portugal para conter os movimentos emancipacionistas, estavam fora de questão. O poder imperial no Brasil surge como resposta à ameaça de desintegração republicana: como. instrumento de unidade política. e territorial. O programa da unidade implicava a subordinação das oligarquias ao centro político. Ao ratificar o poder político do executivo sobre as esferas regionais e locais, o centralismo político e administrativo do Império brasileiro mostrou claramente a distinção entre o Estado e as oligarquias. 34 34. M AG NO LI , Dem étr i o. O p. C i t. p . 2 94 ..

(28) 28. Sob a forma monárquica de governo, instituiu-se um sistema altamente. centralizado. através. da. Constituição. de. 1824.. A. hipertrofia do poder do imperador era denominada de imperialismo, e os liberais procuraram introduzir reformas constitucionais que atenuassem a centralização. O poder do imperador era quase absoluto, uma vez que ele exercia o Poder Moderador: nomeava os presidentes. de. província,. podia. dissolver. a. Câmara. quando. julgasse necessário e tinha o direito de escolher os senadores vitalícios eleitos em listas tríplices 35.. A C ons t it u iç ã o , ( d e 1 82 4 , Ar t. 12 ) r ec on h ec i a qu e t o dos os po d er es , t a nt o os d a As s em b lé i a G er al c om o os d o im per ad or er am de l e gaç õ es d a “ n aç ã o br as il e ir a” . Nã o ter i a as s im o im per ad or o d ir e it o d i vi n o. .. es t a be l ec ia a ex is t ênc i a de q u at r o p o der es . .. o E x ec u t i vo , o Le g is la t i vo , o J u d ic iár i o e o Mo d er a d or . Es te ú lt im o, de ac or d o c om o Ar t. 9 8 é “ a c h a v e d e t od a a or g an i za ç ã o po l ít ic a e é d e le g a do pr i va t i vam en t e ao im per a d or , c om o Ch ef e S upr em o d a N a ç ão” .. .. o im per ad or , p or i n ter m é di o dos m i n is tr os , es c o lh i dos e n om ead os p or e le , ex er c i a 36 tam bém o p o de r Ex ec ut i v o ( Ar t. 1 0 2) .. A independência oficial do Brasil, prevalecendo sobre a libertação sonhada pelos patriotas - para usar uma palavra em voga na época -, frustrou grande parte d a p op u l aç ã o. A i n de p en d ênc i a of ic i al. s e d im en to u. uma. estrutura. econômica. e. política. herdada. da. Colônia, pouco alterando a situação das massas e, por adotar um centralismo autor itário, pressionava também o sistema político nas províncias:. O tr aç o c en tr al is ta ap ar ec e n a C os n t it u iç ã o d e 1 82 4 em to d os os l u gar es , m as c ar ac t er is t ic am ent e n a a b or da g em da d i v is ã o es p ac i a l d o ter r i tór i o . As pr o ví nc i as f unc io n a vam un ic am ent e c om o c ir c uns c r iç õ es t er r it or i as da u n i da d e g er a l. A d i v is ão d o ter r i tó r i o c ir c uns c r e v i a- s e ap e nas à d im ens ã o a dm in is tr a ti v a , nã o pos s u i nd o 35. A l is t a tr íp l ic e p ar a a es c ol h a d os s e na d or es p er m it ia a el e iç ão d e r ep r es e nt an t es de p r o ví nc ia q u e n ão t i nh am qu a lq u er v i nc u l a ç ão c om a m esm a. Is t o f o i m uit o c r it ic a do pe l os l i ber a is d ur an te o p er í od o im p er ia l . 36 A ND R AD E , M . C. O p . Ci t. p. 6 5..

(29) 29. ne n hum a s u bs tâ nc i a po l ít ic a. .. a a t i v id a de po l ít ic a t i nh a por c o n diç ã o a le a l da d e à i n te gr i da d e ter r i tor i a l do Es t a do e im p lic a v a a r en ú nc ia a bs ol u ta à pr ópr i a 37 r ep r es e nt aç ã o d e es p aç os po l ít ic os r e gi o na i s .. A oportunidade perdida de democratizar a prática política, de um lado, e a insistência em manter inalterado o instituto da escravidão, de outro, praticamente fizeram aflorar o anacronismo do Estado brasileiro, provocando várias reações. Entre elas a Sabinada (1837), na Bahia, a Balaiada (1830-1841), no Maranhão e a Farroupilha (1835-1845), no Rio Grande do Sul. 38 O ideal separatista ou federativo se apresentou com maior nitidez na Revolução Farroupilha e. na Sabinada. Segundo Viana. Filho, houve uma estreita ligação entre o médico Sabino da Rocha Vieira – mentor da Sabinada – e Bento Gonçalves – líder gaúcho tanto na ocasião Sul,. quanto. que Sabino estivera exilado no Rio Grande do. na. época. em. que. Bento. Gonçalves. estivera. aprisionado no Forte do Mar, em Salvador, surgindo dessa relação pontos semelhantes nas propostas revolucionárias. 39 A Bahia fomentou sentimentos nativistas e de independência, muitos influenciados pelo ideal federalista, mesmo contrariando a postura conservadora dos senhores de engenho do Recôncavo. Lina. Aras,. através. do. estudo. sobre. movimentos. federalistas. ocorridos no Recôncavo baiano entre 1831 e 1833, ressalta um cotidiano de insatisfação sócio-política e econômica, onde surgem movimentos de rebeliões e insurreição em tal freqüência, que passavam a dificultar a execução da política administrativa do Primeiro Império. 40. 37. M AG NO LI , Dem étr i o. O p. C i t. p . 2 95 . C HI A V EN AT O , J ú l i o J os é . As lu tas do p ov o br as i l e ir o . p . 55 . 39 VI A NN A F I L HO , Lu í s . ‘ A Sa b i na d a: a r e pú b l ic a b ai a na d e 1 83 7 ’, ap u d AN DR A ND E , M an u e l, Cor r e i a. O p . C it . p. 77 . 40 A RA S , Li n a Mar i a Br an d ão d e. A S a nt a F e der aç ã o I m per i a l – B a h ia , 1 8 3 118 3 3. Sã o P a u lo : U S P , 19 9 5. ( T es e de D o ut or a d o) . P. 1 0 . 38.

(30) 30. A. Sabinada. foi o. movimento. de. maior repercussão. na. província pela efetivação de sua proposta – proclamação da independência da Bahia, com opção pela forma republicana de governo. Seu propósito era basicamente federalista. Pleiteava ampla. revisão. na. Constituição. de. 1824. quando. defendia. a. descentralização, ficando cada província com sua própria estrutura política. Logo os ideais revolucionários foram difundidos pela camada trabalhadora que vivia sob o “espectro da fome” 41, devido a uma prolongada crise de abastecimento, derivada do desaquecimento da economia açucareira, situação propícia para o afloramento da revolução. Sabino Vieira, principal ideólogo da revolta, através do Novo Diário da Bahia, divulgava suas críticas, as quais, em tons franceses, acusavam a recolonização das províncias pelo governo central e clamava abertamente pela revolução. Em novembro de 1837, após ocuparem o poder na cidade do Salvador,. líderes. revolucionários. reuniram-se. na. Câmara. e. proclamaram a Bahia “inteira e perfeitamente desligada do governo denominado central do Rio de Janeiro, e considerada Estado livre e independente”. 42 Somando-se a outras rebeliões sufocadas pelo governo central, a “revolta separatista”. foi a última revolução. armada ocorrida na Bahia. O ideal federativo esperou o período final da monarquia constitucional unitária para reaparecer ligado ao movimento republicano”.. 43. Diante dos múltiplos movimentos federalistas e separatistas ocorridos no século XIX, a Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos, traz consigo uma questão peculiar: devido ao fato de ter surgido numa área tardiamente povoada e fronteiriça, a Capitania de Rio Grande de São Pedro, posteriormente. 41. província de São. Cf . M AT T O SS O , K át i a M. d e Q u e ir ós . B a h i a: A c id a de d o S a l va dor e s eu m er c ad o no s éc u l o X I X . S ão Pa u lo : H uc it ec , 1 9 78 , p. 23 4. 42 ‘ At a da S es s ão Ex tr aor d i nár i a de 0 7 d e no v em br o ’ , Ap u d V I A NA F I LH O , Lu ís . , . A Sa b i na d a. Ri o d e J a ne ir o : J os é O l ym p i o E d . 19 3 8, p p . 1 1 4- 1 1 7. 43 T A VA R E S, Lu is H en r i qu e D i as , O p . C it . p . 26 4 ..

(31) 31. Pedro do Rio Grande do Sul, foi uma região movida por princípios autonoministas, onde os confrontos entre lusitanos e castelhanos tornaram-se. habituais. desde. os. inícios. da. ocupação.. Esse. processo de apropriação e confrontos não impediu um interrelacioamento econômico e político entre a Capitania e o Prata, contribuindo, assim, para algumas peculiaridades na formação social dos sulinos. Segundo Helga Piccolo:. ... or g an i za r am os “ ba nd os ” s ob l id er anç as f or tes ag i n do c om m uit a a ut o nom i a e qu e s er i am a b as e de um p od er pr i va d o r eg i o na l q ue s e c ons t it u iu n o dec or r er do s éc u lo 18 e q u e, d es de e nt ã o, pr oc u r o u f or t a lec er - s e po l i tic am en te c h e g an d o a d es af i ar au t or id d es c o ins t it uí d as . .. .P ar a o Es ta d o br as i le ir o, em f orm aç ão des d e o s éc ul o 1 9, c om s eu pr oj e to p o lí t ic o c en tr al i za d o , o a ut o n om is m o s e par a ti as ta dos “ s en h or es gu er r e ir os ” s u l i nos s er ia a ex p r es s ã o d e s ua í nd o l e 44 s ep ar at is ta .. De fato, a guerra civil instaurada em 1835 foi a expressão de um regionalismo movido pelo descontentamento, tanto com a exploração fiscal, como pela subordinação do poder local praticado pelo governo Imperial após 1822.. Para Piccolo, a República no. território sul-rio-grandese foi pensada muito antes de 1822, por ter sido. esse. território. integrado. -. não. também, em termos geoeconômicos -. só. historicamente,. mas. à região platina, onde a. descolonização das colônias espanholas se processava tendo primordialmente. a. República. como. objetivo:. “contaminar”. os. vizinhos fazia parte das estratégias dos que, no Prata, estavam empenhados em sua independência. 45. 44. PIC CO LO , H e lg a. “ N ós os “ g a úc h os ” , os s ep ar at is tas " . In : R ev is ta N ós , os ga úc hos . V . 2. P or t o A l egr e: U F RG S , 1 99 4 , p . 64 . 45 PI CCO LO , H el g a. Da des c o l on i za ç ã o à c ons o li d aç ão da r e pú b l ic a : a qu es tã o d o s e p ar at is m o ver s us f ed er aç ã o no R i o G r a nd e d o Su l , n o s éc u l o X IX . I n: R ev is t a I nd ic ad or es Ec o n ôm ic os . P or t o A le gr e: F E E , n o v. /1 9 93 , p . 14 9 ..

(32) 32. O conflito na fronteira marcou efetivamente a declaração da revolução e proclamação da República Rio Grandense, em 1836. Durante. a. guerra,. foi. intensa. a. cooperação. dos. caudilhos. uruguaios – como Lavalleja e Rivera – aos chefes farroupilha – Bento Gonçalves da Silva e Antônio Neto. Da luta armada contra o governo imperial participaram rio-grandenses e castelhanos, de forma que chegaram a pensar em formar uma confederação formada pela República de Corrientes.. Os. Rio Grande, Uruguai, Entre Rios e. republicanos,. chefiados. por. David. Canabarro,. chegaram a ocupar Santa Catarina, e, com as forças navais de Garibaldi, conquistaram Laguna, criando a República Juliana, em 1839. 46 Analisando a composição social do movimento, identifica-se a presença de uma elite proprietária de terras e criadora de gado. Mário Maestri afirma ser uma visão romantizada deduzir o termo farroupilha/farrapo. dos. uniformes. em. frangalhos. dos. últimos. combatentes sulinos. Boa parte das tropas farrapas era composta por. peões. nativos,. cativos. e. libertos,. convocados. por. seus. senhores. Nã o f o i o i d ea l l ib er a l- r e p ub l ic a no qu e l e v ou o g aúc h o po br e à g ue r r a . Q u an do os c au d i lh os tr oc a v am de la d o, s em pud or , os p e ões f a ziam o m esm o. B en t o M an u e l m udou de b a nd e ir a d i v er s as v e zes , s em pr e s e gu i d o por s ua ga uc ha d a. Par a o p e ão , o i d eár i o f ar r ou p i lh a s i gn if ic a v a, s o br et u d o, s o l do c hur r as c o e c h ar qu e. Q u an d o c h am ad o as a r m as , o h om em li vr e t i nh a o d ir e ir o de s ubs t it u ir - s e. Em ger a l, alf or r ia v a um c at i vo pa r a oc u p ar seu pos t o no c om bat e .. . as c l as s es 47 s ub a lt er n i za d as j am ai s i n ter v i er am de f or m a a ut ô nom a .. O movimento foi perdendo adeptos, inclusive, os grandes comerciantes. e. charqueadores. escravistas,. que. aderiram. ao. Império temendo que a vitória do movimento comprometesse o 46. A ND R AD E , M an u e l C or r ei a . O p. C i t. p p . 76 - 77 . M A E ST RI , Má r i o . G u er r a F ar r ou p i lh a : h is t ór ia e m it o. I n: R e vis ta Es p aç o Ac ad ê m ic o . A n o II, n. 21 . f e v. 2 0 03 .. 47.

(33) 33. tráfico internacional de escravos. A população urbana, em geral, também optou pelo Império, levando os farrapos a perderem o controle das grandes cidades e do litoral. 48 Alguns pesquisadores da Revolução Farroupilha sustetam nos seus textos a idéia de que “nem toda província de São Pedro foi Farroupilha; nem todos os farroupilhas foram republicanos; e, nem formaram um grupo homogêneo”. 49 Em 1845, com a ajuda de. Luís Alves de Lima e Silva –. posteriormente intitulado Duque de Caxias -, nomeado Presidente da. Província. conseguiu. e. Comandante. reprimir. continuaram. os. os. das. Armas,. republicanos.. rio-grandenses. o. governo. Reintegrada. com. um. ao. forte. imperial Brasil,. sentimento. autonomista, reaparecendo em outros momentos da nossa história. Assim, a unidade consagrada em 1822 seria contestada no Primeiro Reinado e na Regência, em pontos diversos do território nacional,. com. movimentos. contestatórios. que. refletiram. a. insatisfação com o regime vigente. Por certo, o período regencial é visto tradicionalmente como um período de crise, tendo, de um lado, a elite moderada do centro-sul pretendendo consolidar seu modelo de independência e, de outro, as elites regionais e as camadas populares contestando a centralização, com projetos variados, ou até mesmo sem um projeto político definido.. 1.2 As tensões entre centralização, federalismo e separatismo. A centralização e a descentralização foi um dos problemas mais. 48. discutidos. desde. os. primeiros. anos. do. Império,. M A E ST RI , M ár io . O p . C it . p. 5- 6 . Af ir m aç ã o per c e b id a na m ai or ia d os es tu d o s s o br e a R e v o luç ã o F ar r ou p i lh a. Cf . He l ga P ic c o l o, Már i o Ma es tr i e M an u e l C. A n dr ad e – o br as c i ta d as . 49.

Referências

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