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Nesta pesqu isa procu rou-se essencia lmente ide ntificar os aspectos que le va ram ao aparecimento das primeira s m anifestações separatistas na região cacaue ira da Bahia, e como os grupos políticos e a população se posicionaram diante da possibilidade de criação do Estado de Santa Cru z.

Na primeira metade do século XX, o cacau já tinha se tornado o principal p roduto de e xporta ção do Estado da Bah ia, posição esta que tran sformou substancia lmente a configura ção socia l de todo sul baiano. A li, se de sen volveu a chamada “civilização do cacau ”, que teve na cacauicultura sua base de sustentação e de se nvo lvimento, definindo e estrutu rando a então re giã o cacaueira.

Apesar da prospe ridade, a região cacaueira sempre con viveu com as crises da ca cauicultu ra, p rincip almente por ser uma região dependente exclusivamente da produção do cacau e da demanda do mercado e xte rno. Percebe-se que o s momentos mais críticos para toda a comunidade regional foram ju stamente nas décadas de 1930 e 1940, quando e sta sofreu os reflexo s da Crise de 1929 e da II Gue rra Mundia l, aconte cimentos que en volviam d iretamente os E UA, principal comprado r do cacau ba iano.

Diante dos momentos de crise, os órgãos de rep re sentação re giona l apela vam para os pode res público s – estadua l e federal - cobrando uma atitude que solu ciona sse os prob lemas regiona is. No conte xto das re ivindicações po r melhores condições d e produção, estradas, e scola s e saúde, o go ve rn o do Estado da Bahia era visto pela re gião cacaue ira como um usu rá rio cobrado r de im postos, sem fornecer contrapa rtidas p roporciona is ao que a rre cada va na re gião. Realmente, nos primeiros ano s de so lidificação da cacau icultura não

Apropriando-se das rece itas a rre cadadas com o cacau para normalizar os con stantes déficits do orçamento estadual e in vestir em outras á reas, o Estado se tornou um fator de descap italização da re gião.

Essa atitude do go ve rno estadual fomentou, durante anos, o ideal separatista na sociedade cacaueira . Nota-se que a população, exp ressa va um sentimento de que a re gião se sen tia e xclu ída, maltratada, e xp lo rada, objeto apena s de re tirada de recu rsos po r parte do Estado da Bahia, sem dar a essa re gião a contrapartida que ela merecia. Refere-se à população porque e sse sentimento estava no cotid iano dos moradores. Em a lgumas entre vistas feitas com antigos morado res da re gião187, perceb e-se que esse assunto rendia con versa em mesa de bar, em fila de ônibus, sendo passado de ge ração a ge ração. Era uma sensação que as pessoas carre ga vam e debita vam aos go vernantes do Estado, o conjunto de problemas que a re gião cacaueira viveu.

Ao longo do século XX, a burguesia cacaueira consegu iu legitimar-se como classe dominante dentro da re gião, contudo, não houve e xp ressivida de política diante do go verno estadual. Esse fato ge rou insatisfaçõe s e descontentamentos por parte d e uma classe economicamente forte que que ria a lcança r o prestígio na esfera política do Estado . Isso deco rreu d a fraque za dos re presentantes políticos na A sse mbléia Le gislativa, na Câmara e no Senado, visto que os parlamentares dessa re gião e stavam em menor n úmero e não

tinham condições de impor, co mo metas prioritárias, as

reivindicações e necessidades da área da qua l eram representantes.

Todo esse descontentamento culminou na elaboração e

apresentação de u m projeto que d ividiria a Bah ia, cria ndo assim o Estado de Santa Cru z. Apesar de toda a mobiliza ção e discussão sobre a criação d o novo estado, ta nto no plano esta dual quanto

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Acompanhei essas entrevistas como bolsista do Projeto “Testemunhos para a História” da Universidade Estadual de Santa Cruz, cujo objetivo mais amplo era colher depoimentos de pessoas idosas da comunidade de Ilhéus e Itabuna, construindo um acervo sonoro para o Centro de Documentação e Memória Regional – CEDOC.

movimento não congre gou força s suficientes que leva ssem à efetivação da tão antiga aspiração re gional.

Em primeiro lu ga r, isso oco rreu de vid o à falta de apoio da maioria dos político s e representantes re gion ais, que se posicionaram contra a divisão da Bahia, sem, no entanto, analisa r e le var em conta a opinião da maioria da população. Muitas ve zes, os repre sentantes da re gião e ram criticados, principalmen te, pelos jo rnais, por tomarem

iniciativas que comprometiam o desen volvimento regional,

simplesmente, por estarem vincu lados a uma co rrente pa rtidá ria ou a um chefe local. Esse tipo de comportamento refletia a falta de consciên cia do s problemas re gionais e a falta de coesão por parte dos rep resentante s da re gião ca ca ueira, que, muitas das ve ze s, coloca vam as disp utas políticas a cim a do intere sse re gional.

Em segundo lu gar, embora tenhamos perceb ido uma adesão da maioria da comunidade cacaueira à questão da criação do Estado de Santa Cru z, não p ercebemos um en volvimento maio r e articulado da população em geral ao p rojeto separatista. A s opiniões e depoimentos publicados na maio ria dos jo rnais de circu la ção re gional demonstraram um posicionamento favorá ve l à criação do novo estado, contudo, n ão houve uma mobiliza ção por pa rte d os órgãos de representa ção civil, que pudesse p re ssiona r os deputados estaduais e federais, donos d o poder de decisão frente à questão.

Essa dificu ldade e desarticula çã o da população, pode ser exp licada - embora não querendo ser reducionista - pela falta de acesso dos grande s esto ques popu la cionais aos benefícios ge rados pelo cacau. A riqu eza ge rada pela cacauicu ltura e ra abstrata para a maioria da popula ção da região caca ueira, que não co munga va dos bens ge rados pe los “frutos de ou ro”. Assim, falta va a certe za e a esperança na perspectiva de que a criação de um no vo estado fosse mudar e melhora r substancia lmente a vida do po vo em ge ral.

Atualmente, um e outro jorna l da re gião ainda fazem menção ao separatismo e à p ossíve l criação de um novo estado n o sul baiano. Em agosto de 2006 , o Jo rnal A go ra pu blicou uma matéria com o títu lo

de cria ção do Esta do de Santa cru z e sua viab ilidade diante da falta de soluções pelo go ve rno estadua l, aos tão remoto s problemas re giona is188

. Essa matéria demonstro u a atualidade da questão separatista na so ciedade cacaueira . Percebe-se que apesar de utópicas a s asp ira ções autonomista s da re gião cacaue ira da Bah ia foram bem reais.

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