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Os projetos se paratis tas e a cria ção de novos es ta dos

O Brasil, com sua grande e xtensão territo ria l70, divid ido em 26 estados e 01 Distrito Fede ral, sob o contro le de uma República Federativa, sempre foi palco de discu ssões cu jo princip al objetivo era a red ivisão te rrito ria l que p roporcionasse melho r op ortunidade de desenvo lvime nto às dive rsa s regiões brasileiras. Essa necessidade de reorgan iza ção do espaço, hoje brasile iro, vem desde o período colonial, quando o Marquês de Pomb al percebeu que, de vido à dive rsidade e extensã o do espaço colonizado, era preciso fa zer um rea justamento n as cap itanias e xistentes, o ra extin guindo -as o ra anexado -as, o ra criando novas capitanias.

Ao longo dos sécu los essas d ivisões praticadas po r Pombal foram se modificando de acordo co m a ocupação espacial e o

desenvo lvimento econômico regiona l. As capitanias,

69 S I L VA , H . a p u d A N D R A D E, M a n o e l C o r r e ia . O p . C i t . p . 1 2 6 . 70 C o m s e u s 8 , 5 m i lh õ e s d e Km ², o Br a s i l é o m a i o r p a í s d o c o n t i n e n t e s u l- a m e r ic a n o e o q u a r t o m a i o r d o p l a n e t a e m t e r m o s d e e x t e n s ã o t e r r i t o r ia l c o n t í n u a .

transformadas em pro víncias e, p osteriormente, em estados federados, cresce ram em níve is distintos, e, com isso, surgiram a necessidade de no va s divisõe s do te rritó rio .

Os pro jetos e estu dos sobre uma melhor redivisão te rritoria l do Brasil começara m efetivamente na década de 1940, a partir dos trabalhos de Teixe ira de Freita s, publicado s na Re vista Brasileira de Estatística e na Re vista B rasileira de Geografia.71 Em sua obra “Prob lemas de Base do Brasil”, do in ício dos anos 1940, os pontos centra is da discu ssão recaem sob re duas necessida des: a de reestrutura ção da máquina admin istra tiva, inte grando e e stendendo os benefício s da reforma às três órb itas go ve rnamentais; e a de uma redivisão territoria l-po lítica orientada pela re gra da

equivalên cia entre os estados e municípios, visando à

raciona lidade da exp lora ção do espaço brasile iro, incluindo a interioriza ção da capital e o flu xo m igratório para o oeste.

Em 1941, seguindo o modelo das grandes regiões naturais, Fábio de Macedo Soares Guimarãe s divid iu o B rasil em cinco unidades, formadas pela Amazôn ia ou Norte, pelo Nord este, pelo Leste, pelo Sul e pelo Centro-Oe ste. Atra vés do IB GE e dos recém-fundados cursos superio res de geo grafia, in iciaram-se os estudos e xplo rató rios, a fim de esboçar melhor um quadro re giona l, delinean do o território b rasile iro e a d in âmica de expansão da pop ulação pelo espaço nacional. E sse s estudos le varam o IBGE a desenvo lve r uma n ova divisão re gional do B rasil, alterando o traçad o do Nordeste mais para o Sul, en globando os estados de Sergip e e Bahia, provocando o desaparecimento da Região Leste. Também foi criada a Região Sudeste, deixando na Região Su l os três estados meridionais.72

Vários go ve rnos elabora ram políticas desen volvimentistas, visando p romo ver uma maior inte gração nacional. A “m archa pa ra o Oeste”, aplicad a por Getúlio Vargas durante o Estado Novo

71 V e r , e n t r e o u t r o s t r a b a lh o s . A r e d i v is ã o p o lí t ic a d o Br a s i l . R e v is t a Br a s i le ir a d e G e o g r a f ia . R i o d e J a n e ir o : I BG E, A n o I I I , n . 3 , 1 9 4 1 ; Pr o b le m a s d e b a s e d o Br a s il . 3 . e d . R i o d e J a n e ir o : I B G E , 1 9 5 0 . 72 A N D R AD E , M . C . O p . C i t . p . 1 4 4 - 1 5 2 .

(1937-1945 ), pode ser conside rada como um marco inicial pa ra o povoamento de áreas ainda subpo voadas. Vargas afirma va qu e politicamente o Brasil e ra uma unidade naciona l, mas que,

economicamente, precisa va promover um a van ço no

desenvo lvimento sob todos os aspectos e com todos o s métodos, para fazer co incidir as fronteiras econômicas com as fronteira s políticas.73

É certo que essas reformas implementadas por Getúlio Vargas foram açõ es voltada s para o aumento da centralização política e administrativa, feitas às cu stas do enfraque cimento das elites re giona is e estaduais, o que permitia maio r integridade nacional, e possibilita va também construir uma identidad e nacional brasileira uniformizada, eliminadora de conflito s o riginários das diferenças.

Dentre outra s medidas para a ocupação/inte gração do territó rio nacional74, Vargas criou as Co lônias A gríco las Nacionais. Estas ú ltimas de veriam ga rantir o a utoconsumo, produ zir pa ra o mercado e possib ilitar a instalação de indústrias de transformação. Assim, “a co lônia seria um núcleo de irrad iação, u m pólo de desenvo lvimento que influiria sob re a s áreas vizinhas”.75

A internacionalização da economia manteve seu

desenvo lvimento nos anos de 1950, com o Plano de Metas do go ve rno de Juscelino Kub itscheck, conso lidado atra vés da constru ção de Brasília e do Plano Rodoviário Nacional, que interligou as un id ades da federaçã o entre si e com a cap ital federal. Esse p rocesso modificou a organiza ção espacial interna, promovendo uma integração so cia l e econômica do Centro-Oe ste e

73 I d e m ; p . 1 4 8. 74 T a m b é m f o i i n s t i t u í d o o PI N – Pr o g r a m a d e I n t e g r a ç ã o N a c i o n a l , q u e vis a v a c r i a r u m a in f r a - e s t r u t u r a ( e s t r a d a s , a e r o p o r t o s e t e l e c o m u n ic a ç õ e s ) , o f e r e c e n d o e s t í m u l o s f is c a is , li n h a s d e c r é d i t o s e s u b s í d i o s , p a r a a t r a ir o s e m p r e s á r io s p a r a a r e g iã o . 75 L E N H A R O , A lc ir . A s a c r a l i za ç ã o d a p o l í t ic a . Ap u d SO U Z A , E d is o n . S i n o p : H is t ó r i a , i m a g e n s e r e l a t o s . U m e s t u d o s o b r e a s u a c o l o n i za ç ã o . ( D is s e r t a ç ã o d e M e s t r a d o ) C u i a b á : I n s t i t u t o d e C i ê n c ia s H u m a n a s e S o c i a is d a U n i v e r s id a d e F e d e r a l d o M a t o G r o s s o , 2 0 0 4 . p . 3 3 .

do Norte, á reas mais distante s d o eixo econômico nacional, reordenando, assim, a relação entre as re giões.

Apesar da ação ce ntralizado ra durante o período da dita dura milita r que, atra vé s da Constitu ição de 1967, restrin giu a autonomia dos Estados, percebe -se o amortecimento, em escala nacional, dos sentimentos separatista s, de vido tanto ao projeto de dinamização da economia do pa ís, se guido pelo s milita res, quanto ao próprio re gime de força imposto . Porém, no plan o estadual esses sentimentos ficaram mais fortes, principalmente em algumas re giões situadas e m Estados com grande extensão te rritorial, que se destaca ram por ter desen vo lvido um suporte econômico satisfatório, o que ge rou uma dinâmica socia l p rópria e aumentou os esp íritos au tonomistas.

A questão da redivisão te rrito ria l do país voltou com toda força na década d e 1970, promo ven do uma ampla discussão na esfera política. Em 1975, o deputado Siqueira Campos a presentou à Câmara dos De putados um reque rimento, solicitando a cria ção da Comissão de Redivisão Territorial e Política De mográfica, justificando que “o tema sempre fora objeto de atenção do Exe cutivo e do Le gisla tivo, sem, no e ntanto, ve rifica r-se a objetiva realização de uma efetiva p roposta de red ivisão te rrito ria l do pa ís”. O reque rimento foi aprovado pelo P lenário, e a Comissão, criada em 1976, composta por membros da ARENA e do MDB, sendo o próprio Sique ira Ca mpos designado presidente.

A Comissão de Redivisão Territo rial e Política Demográfica teve como princip al objetivo promo ve r debates sob re questões territo ria is e demográficas das dive rsas regiões do país. Durante o período de sua a tuação – 1976 a 1978 - hou ve 5 0 reun iões, realizadas sob a forma de mesas-redo ndas e conferências, quando vá ria s tese s foram apresentadas, como descre veu o re lator-ge ral:

O s vo l u m o s o s s u b s í d i o s e x is t e n t e s , c o l e t a d o s d u r a n t e t r ê s a n o s , d a i n s t a la ç ã o d o ó r g ã o a o t e r m o d a L e g is la t u r a , o f e r e c e n d o a m p l o s e v a l io s o s s u p r im e n t o s , e s t u d o s c o m p a r a t i v o s e p e s q u is a s r e g io n a is g e o g r á f ic a s , g e o - e c o n ô m ic a s e s ó c i o - e c o n ô m ic a s , n ã o a p e n a s p a r a a s s in a la r a c o m p le x i d a d e d o p r o b l e m a , c o m o d e c o n s u l t a i n d is p e n s á ve l p a r a a e la b o r a ç ã o d e p r o j e t o s p a r c ia is o u , m e sm o d e u m a a m p la r e d i vis ã o t e r r i t o r i a l d o P a í s . C o n s t i t u e m - s e n u m s u p o r t e s ó l i d o a o d e b a t e e n u m a i n s p ir a ç ã o a q u a n t o s le g is la d o r e s s e in t e r e s s e m p e l o a s s u n t o , o p o r t u n a m e n t e .76

Dessas se ssões de debates p articipa ram professore s, juristas, dentre vá rios outros pe squisadores e e studioso s do tema em questão. Alguns prefeitos de município s passíveis d e desmembramentos participa ram das reun iões, manifestando o posicionamento de suas Câmara s Mun icipa is.

Vale re ssaltar a influência que a Comissão de Red ivisão

Territo ria l e Política Demográfica e xerceu na d iscussão e apro vação da Lei Complementar nº. 31 de 1977, que desmembrava o Estado do Mato Grosso, criando o Estado do Mato Grosso do Sul, o qual começou efetivamente a e xistir em primeiro d e dezembro de 197 9. O relató rio fina l atribu i o desme mbramento como uma das contribu ições das discussõe s sobre as divisões territo ria is p romo vidas pela Com issão .

O u s a m o s c r e r q u e a i n ic i a t i v a p a r la m e n t a r , s u s c it a n d o o d e b a t e d a r e d i v is ã o a d m i n is t r a t i v a d o P a í s , h a j a e n c o r a j a d o o Ex e c u t i v o a e n v ia r a o C o n g r e s s o p r o p o s iç ã o , e n t u s i a s t ic a m e n t e a p r o v a d a , d i vi d i n d o e m d o is o Es t a d o d o M a t o G r o s s o , p r a t ic a m e n t e s e m o b j e ç õ e s n a á r e a p a r l a m e n t a r , l o g o s u p e r a d a s a s q u e s t i ú n c u l a s r e g io n a i s d e f r o n t e ir a s.77 76 At a d a 5 0 ª r e u n i ã o d a C o m is s ã o d e R e d i v is ã o T e r r it o r i a l e Po l í t ic a D e m o g r á f ic a , r e a l i za d a e m 2 8 / 1 1 / 1 9 7 8 , o n d e f o i a p r e s e n t a d o o R e la t ó r i o F i n a l – D C N , 0 6 / 1 2 / 1 9 7 8 , P . 1 1 5 5 2 , C o l. 0 1 . 77 I d e m ; C o l . 0 2 .

Depois de finalizad os os traba lhos, a Comissão de Redivisão

Territo ria l e Política Demográfica ela borou e encaminhou à Mesa da Câmara dos De putados um conjun to de proposta s atendendo às conclusõe s que chegaram nos deb ates. Entre outras proposta s suge rida s para a reformulação da estrutu ra geopolítica do país, indica va-se pro vide nciar com urgência :

a t r a n s f o r m a ç ã o e m Es t a d o s d o s T e r r i t ó r i o s F e d e r a is d o Am a p á , R o r a im a e R o n d ô n i a ; n a c r i a ç ã o d o Es t a d o d o T o c a n t in s , n o s t e r m o s d o p r o j e t o e m t r a m it a ç ã o n a C â m a r a d o s D e p u t a d o s , n º . 1 8 7 , d e 1 9 7 8 , d e a u t o r i a d o d e p u t a d o S i q u e ir a C a m p o s ; n a c r i a ç ã o d o Es t a d o d e S a n t a C r u z, c o n f o r m e e s c r it o n o p r o j e t o d e L e i C o m p l e m e n t a r n º . 1 9 4 , d e 1 9 7 8 , d o d e p u t a d o H e n r i q u e C a r d o s o ; c r i a ç ã o d o Es t a d o d e M e a r in , t e n d o c o m o c a p i t a l I m p e r a t r i z - M A, e m 1 9 7 7 ; c r i a ç ã o d o Es t a d o d e T a p a j ó s , n o P a r á , t e n d o c o m o c a p i t a l Sa n t a r é m ; c r i a ç ã o d o Es t a d o d e T r o m b e t a s , t e n d o M o n t e A le g r e c o m o c a p i t a l , t a m b é m n o P a r á ; c r i a ç ã o , n o A m a zo n a s , d o Es t a d o d e J u r u á , c o m c a p i t a l e m E ir u n e p é , e Es t a d o d o R i o N e g r o , c a p it a l S ã o G a b r i e l d a C a c h o e ir a ; c r i a ç ã o d o Es t a d o d o T r i â n g u l o M in e ir o , e m M i n a s G e r a is , t e n d o U b e r a b a c o m o c a p i t a l . ( g r if o n o s s o )78

Nota-se que de to dos os pro jetos d e redivisõe s te rritoria is suge rido s – num total de oito - o ún ico que se concretizou foi o do Estado do Tocantins, a partir do desmembramento do Estado de Goiás, mesmo assim, somente aconteceria uma décad a depois, quando, transferid a a matéria ao foro da Assembléia Naciona l Constituinte, o De putado Siqueira Campos apresentou a Emenda Popular, assinada por mais de setenta mil eleitores, enfatizando o anseio popula r pela emancipação. Ap ro vado o ple ito, o Tocantins foi criado pelo Artigo 13 das Dispo sições Tran sitó rias da Constituição da Re pública Fede rativa do Bra sil, p romulgada em 5 de outubro de 1988 . 78 A t a d a 5 0 ª r e u n i ã o d a C o m is s ã o d e R e d i v is ã o T e r r i t o r i a l e P o l í t ic a D e m o g r á f ic a , r e a l i za d a e m 2 8 / 1 1 / 1 9 7 8 , o n d e f o i a p r e s e n t a d o o R e la t ó r i o F i n a l – D C N , 0 6 / 1 2 / 1 9 7 8 , P . 1 1 5 5 4 , C o l. 0 1 .

O projeto de criação do Estado de Santa Cru z, objeto principal dessa d isse rtação, que seria formado a partir do desmembramento do Estado da Bahia, te ve u ma trajetó ria semelhante ao p rojeto de cria ção do Estado de T ocantins – também fora cria do a partir das discussões da Co missão de Redivisão Territo rial e Política Demográfica, apre sentado em 1978

pelo deputado Henrique Ca rdoso, e reapresentado pelo deputado Fernando Gomes, em 1985. Porém, diferentemente de Tocantins, não obteve ê xito em qualque r dos dois momentos. A ssim, se o s discu rsos pa ra as proposiçõe s de desmembramento gira vam em torno de uma me sma causa – a n ecessidade de u ma melhor redivisão te rrito ria l do Brasil -, cabe a pergunta: qual a justificativa para a não-apro vação/criação do n ovo E stado? Esta s e outras questõe s se rão abordadas no III Ca pítu lo, que ve rsa rá sobre as “forças” que le va ram ao arquivamento do projeto qu e cria ria o Estado de Santa Cruz.