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A “pobre / ric a” Região Cacaue ira da Bahia: prosperida de,

COM O CACAU, NASCE UM A REGIÃO

2.4 A “pobre / ric a” Região Cacaue ira da Bahia: prosperida de,

crises, reivindica ções, ICB e a CEP L AC.125

À proporção que se intensificou a vo cação e xclusiva p ara a monocultura do cacau na re gião, cresceu sua dependência em relação ao mercad o externo , ao sabor de oscila ções que fugiram inteiramente do seu controle. Depois da expansão inicia l houve as primeiras crises (1 913-1914) de vido a vá rio s fatores, entre eles, o s fenômenos naturais e as oscilações d o mercado inte rnacional:

124 J o r n a l C o r r e i o d e I l h é u s , 1 8 / 0 1 / 1 9 3 0 , p . 0 1 . 125 A e x p r e s s ã o “ p o b r e r e g i ã o r ic a ” , p r o f e r i d a p e l o s o c ió l o g o S e l e m R a c h id f a z a lu s ã o à g r a n d e r i q u e za g e r a d a p e l a e x p o r t a ç ã o d e c a c a u e s e u s d e r i v a d o s e m c o n t r a s t e c o m a s it u a ç ã o d e a b a n d o n o e d e p o b r e za e m q u e v i vi a a m a io r i a d a p o p u l a ç ã o d a r e g i ã o c a c a u e ir a d a B a h i a . C . f A S M AR , S e l e m R a c h id . S o c i o l o g ia d a M ic r o r e g iã o C a c a u e ir a . I t a b u n a , B a : I t a g r a f e , 1 9 8 3 .

N a q u e l e s a n o s , o u s e j a , q u a n d o d a o c o r r ê n c i a d o s p r im e ir o s s i n a is q u e i n d ic a va m a r e p e t iç ã o d a s c r is e s c o m u n s à s a t i vi d a d e s m o n o c u l t o r a s , a s o c i e d a d e r e g io n a l m o s t r a va - s e p e r p le x a d i a n t e d a s d ú v i d a s q u a n t o à s p o s s i b i li d a d e s d a c a c a u ic u l t u r a .126

No entanto, a la voura, tal quais as outras a tividades agro- expo rtadora s, se mpre este ve liga da a processo s rotine iro s, técnica s agríco las primitiva s, sem o emprego de instrumento e técnica s de beneficiamento que favorecessem uma produção mais raciona l. Esse arcaísmo nas técnica s aplicadas à pro dução do cacau, a lém de to rnar a la vou ra mais vu lnerá vel aos fatores f ísicos e climático s e às d oenças, va i p ro vocar oscilações do s índices da s safras colhidas e , conseqüentemen te, nas exporta çõ es, como também, va i to rnar o ca cau baiano d e má qua lidade e com baixa s cotações nos me rcados consumido res.

Mesmo com todas as dificuldades, de 1890 até 1911, a Bahia deteve o s primeiros lu gare s como produtora e e xpo rtadora de cacau nos centros de comércio in ternacional, só perde ndo essa posição após 191 1, quando a sua produção foi supla ntada pelo Equador e co lônia s in glesas da África. Essa queda, p orém, não significou a perd a da posição de destaque como centro d e produção do cacau , pois sua s safras apresenta vam índices alto s e crescentes, como também, sua expo rtação:

Es s a p o s iç ã o d e r e l e v o e x p l ic a o a t r a s o , e m p a r t e , n o d e s e n vo l v im e n t o d a s f o r ç a s p r o d u t i v a s n e s s a la v o u r a , v is t o q u e o s p r o d u t o r e s n ã o s e n t ia m n e c e s s id a d e d e m o d e r n i za r a p r o d u ç ã o , n e m m e l h o r a r a q u a l id a d e d o c a c a u c o m e r c ia l i za d o , j á q u e s e u e s p a ç o c o m o c e n t r o e x p o r t a d o r e s t a va g a r a n t i d o , p o is a B a h ia t in h a n o s Es t a d o s U n i d o s d a A m é r ic a o m e r c a d o s e g u r o p a r a s u a p r o d u ç ã o , q u a s e t o d a c o m e r c i a li za d a c o m a q u e l e p a í s .127 126 I d e m , p . 1 0 4 . 127 V I AN N A, I a lm a r L e o c á d i a . A e s t r a d a d e f e r r o I l h é u s - C o n q u is t a e a l a v o u r a d e c a c a u n a B a h i a . D M - U F PE , 1 9 8 6 , p . 6 8 .

Quando a concorrê ncia com os outros centros se tornou mais forte, os a gricultores, a partir da organização e atuação do Sindicato dos A griculto res de Ca cau de Ilhéus, fundado em 1920, começaram a apre sentar ao Go ve rno estadual reivindicações para munir a la vou ra d e uma infra-e strutura, so licitando melhorias no s transpo rtes, criaçã o de escola s a grícolas, esta ções e xp erimentais, instrumentos que permitissem uma produção mais ap rimorada e que resu ltassem no cacau melhor preparado para a concorrência com o mercado mundial.128

A ausência de meios de transpo rte m ais rápido s e eficie ntes causa va grandes transto rnos à expo rtação do cacau. As dificuldades de transportes das á rea s de p rodução, pe la falta de estradas, constitu íram um dos princip ais p roblemas da cacaicu ltura baiana, especia lmente no primeiro ciclo de produção, 1890 – 1931. Tal deficiência nos transpo rtes p ara comercialização interna intensificou a p resença da figura do intermediário entre o produtor e o exportado r. O intermediá rio funcionava como atenuante desse problema, facilitan do o escoamento da produção. Po rém, essa intermedia ção aumentava o custo de produção e redu zia a parce la de lucro do resulta do final. Inácio Tosta Filho, comentando sobre o problema dos tran sportes no prime iro ciclo da produçã o de cacau na Bahia, afirma va que “o tran sporte rep resenta va, em certos luga res, de 40 a 5 0% do valo r do ca cau nos porto s primários de embarque ”.129

De acordo com o estudo feito por Ialmar Viana so bre a constru ção da Estrada de Ferro Ilhéu s-Conqu ista, o pro blema na constru ção dessa estrada serve de exemplo do privilé gio dado às áreas p ró ximas a S alvador, em detrimento do sul da Bah ia:

128 F R E I T A S, A n t ô n i o F . G u e r r e ir o d e & P AR A I S O , M a r i a H i ld a B a q u e ir o . O p . C i t , p . 1 1 9 . 129 T O ST A F I L H O , I n á c i o a p u d G AR C EZ . An g e l i n a N . R . I n s t it u t o d e C a c a u d a B a h i a : m e i o s é c u l o d e h is t o r i a . Sa l v a d o r : I C B, 1 9 8 1 . p . 1 4 .

S e f o s s e m ve r d a d e ir a s a s e x p l ic a ç õ e s d e q u e o Es t a d o n ã o t o m o u p a r a s i a c o n s t r u ç ã o d e s s a e s t r a d a d e vi d o a s it u a ç ã o f i n a n c e ir a d o m e sm o , q u e n ã o l h e p e r m it i a i n ve s t ir s o zi n h o n a c o n s t r u ç ã o , e le n ã o s e r i a p r o p r i e t á r io d e f e r r o v i a s c o m o a Es t r a d a d e F e r r o d e N a za r é e a Es t r a d a d e F e r r o d e S a n t o Am a r o . Am b a s s e r v ia m a o R e c ô n c a v o e á r e a s a d j a c e n t e s e , e m b o r a a p r e s e n t a s s e m o m o v im e n t o f i n a n c e ir o l ig e ir a m e n t e p o s it i v o , e r a m d e f ic it á r ia s , n e c e s s it a n d o d e c o n s t a n t e s i n j e ç õ e s d e d in h e i r o p ú b l ic o . [ . . . ] Am b a s c o n s t r u í d a s e m á r e a s q u e n ã o t in h a m o s m e s m o s a t r a t i v o s e c o n ô m ic o s d o s u l b a i a n o .130

A situação se a gravou em 1929, qu ando ocorreu uma súbita queda nas expo rtações, corre spondente à grand e crise qu e neste ano abalou o sistema capitalista mundial. Foi tã o gra ve e intensa a depressão econômica que se abateu sobre a Bahia e, conseqüentemente, sobre a região cacaueira que o preço do cacau no mercado intern acional - o qual e m 1927 era de Cr$37$500 - caiu para Cr$14$000 em 1932, sofrendo uma baixa de 6 2%.

É c e r t o q u e a i n c o n s i s t ê n c ia d a e c o n o m ia c a c a u e ir a e m s i, g e r a v a u m a lt o g r a u d e v u l n e r a b i li d a d e à s c r is e s , n o t a d a m e n t e a o n í v e l d a p r o d u ç ã o , q u e s e a p r e s e n t a v a c o m o o s e t o r m a is f r a c o . O p r e ç o p a g o p e l o s p r o d u t o r e s , n a s d if e r e n t e s c o n j u n t u r a s d a c r is e , t e m s i d o a lt o e f o i e n c a r g o a i n d a m a is p e s a d o q u a n d o a la v o u r a o c a r r e g a v a c o m s u a s p r ó p r i a s f o r ç a s , f o r ç a s d is p e r s a s , s e m q u a l q u e r a p o io o u r e c o n h e c im e n t o d o s p o d e r e s p ú b l ic o s , a o m e n o s n o s e n t id o d e c o n c e b e r r e t o r n o d a q u il o q u e a l a v o u r a o f e r e c i a à e c o n o m ia d o Esta do.131

Analisando a co njuntura mundial dessa época, pode-se conclu ir que esse período foi muito d elicado para a re gião Sul da Bahia, a qua l sofreu os efeitos da dedica ção exclusiva à monocultura do cacau, uma ativida de econômica e xercida até então aleato riamen te, sem uma po lítica ou estraté gia de ação que lhe conferisse un id ade e força para e nfrentar o jogo dos inte resse s

130 V I AN N A, I a lm a r L e o c á d i a . O p . C i t . p . 1 1 3 . 131 G AR C EZ , An g e l in a N o b r e R o l im & F R E I T A S, A n t ô n i o F . G u e r r e ir o d e . O p . C i t . p . 2 6 .

exte rnos, em igu aldade de condições, ou, pelo menos, com eficácia. Nota -se uma total indifere nça dos órgãos oficia is, cuja atuação na re gião e sobre a econo mia do cacau, se prendia à

cobrança de tributos, com os qua is, a liás, conforme

reconhecimento público unânime, e qu ilibra va -se a vida econômica do Estado.

Entre o pe ríodo de 1900 a 1930 verificou-se quase nenhuma intervenção de ó rgãos da adm inistração pública — federal ou estadual — para o ferecer um mínimo de assistência à lavou ra do cacau. Nota -se que a conjuntu ra econômica, o constante descompromisso do go ve rno do Estado, juntamente com o problema d a r e p r e s e n t a ç ã o p o lí t ic a r e g io n a l, f o r a m f a t o r e s q u e c o n s o l id a r a m o s u r g im e n t o d a s p r im e ir a s id é i a s s e p a r a t is t a s n a r e g i ã o c a c a u e ir a .

Na crise de 192 9, a situação da re gião se a gra vou, justamente pelo fato de depender exclusivamente da demanda exte rna. Nos p rim eiros anos da déca da de 1930, todos os esforços foram canalizados para se criar um órgão que pudesse socorre r urgentemente a região da crise econ ômica em que se encontra va. Isso só aconteceu com a criação do Instituto de Ca cau da Bahia – ICB, em 08 de junh o de 1931.

Desd e o outro reg im e, ou dos do is ú ltim os a nos para cá, os ag ricu ltore s caca ue iros, c o mpreende ndo seriame nte as dif ic uld ades ma iores a q ue est ão exposto s, reso l vera m usar do d ire ito leg ít imo d e petiç ão a o g o verno, sol ic itan do p ara s u a la voura os benef íc ios e au xíl i o s a q ue f azem j us os esf orços imens os q ue e le s tem desp end id o na f ormação

dessa g rande r i q ueza ag r íco la, inf el i zmente

aban don ada à sorte pel os p oder es p úb l icos. [...] O ponto d e pr inc ip al empenh o da r epres entaçã o do s g rêmios con ser va d ores é a cr iaç ão da c arteira hip otecár ia nas ag ên cias do B anco do Br asi l, af im d e q ue a la vour a bah ia na poss a f icar des ve nci lh ada da s suas at ua is d if icu ld ades. [...] Asp iram prosper id ade para a ma ior e lame nta ve lmente a ma is aban don ada das l a vour as do Esta do.132

132

O ICB foi criado co mo uma associaçã o cooperativa, que visa va apoiar o produto r, atra vés da assistência té cnica e de e mpréstimo s de longo p ra zo, te ndo como um de seus objetivos e stabilizar o s preços do produto e expandir as expo rtações, controlando as vendas de cacau no mercado inte rnacional. E ssa interven ção do Estado na economia era uma resposta oficial à incapa cidade da empresa privada em reduzir os efeitos catastróficos da grande depressão. Foi u ma tendência observada na épo ca em todo o sistema cap italista, que abran geu também, as questões socia is. O intervencion ismo e statal substitu ía o laisse z faire vige nte até à grande crise de 19 29.133

No primeiro momento de sua criação , o Instituto de Ca cau da Bahia pro curou en contra r so luções p ara os p roblemas imediatos e mediatos da la vo ura, p ropondo-se a co locar em prática os objetivo s básico s da no va instituiçã o, os qua is consistiam numa ampla lista de prop ostas:

Pr o m o v e r a p r o s p e r i d a d e d a la v o u r a d o c a c a u ; a m p a r a r o s le g í t im o s i n t e r e s s e s d o s l a vr a d o r e s ; d if u n d ir o s e n s in a m e n t o s d a s t é c n ic a s m o d e r n a , r e l a t i v o s a c u lt u r a , t r a t o e b e n e f ic ia m e n t o d o c a c a u e a p r o v e it a m e n t o d o s s u b p r o d u t o s ; d e s e n v o l v e r n a r e g i ã o d o c a c a u , n o va s c u l t u r a s e in d ú s t r i a s ( p a r a e v it a r o s m a le s d a m o n o c u l t u r a ) ; r e a l i za r p e s q u is a s , a n á l is e s e e x p e r i ê n c i a s , m a n t e n d o l a b o r a t ó r io s e e s t a ç õ e s e x p e r im e n t a is ; p r o m o ve r a a q u is iç ã o d e m á q u in a s , a d u b o s , i n s e t ic id a s , e n f im , t o d o o in s u m o n e c e s s á r i o a o d e s e m p e n h o d e u m a a g r ic u l t u r a m o d e r n a ; c o n c e d e r e m p r é s t im o s h ip o t e c á r io s a l o n g o p r a zo ; o f e r e c e r s e r v iç o s d e in f o r m a ç õ e s c o m e r c ia is ; c o n s t r u ir e m a n t e r a r m a zé n s ; p a r t ic ip a r d a c o m e r c i a l i za ç ã o v e n d e n d o o p r o d u t o q u e lh e f o r c o n s i g n a d o p e lo s a s s o c i a d o s ; a t u a r n a á r e a d e i n f r a - e s t r u t u r a r e g i o n a l ( n o t a d a m e n t e t r a n s p o r t e s , c o m u n ic a ç õ e s , e d u c a ç ã o , h i g ie n e r u r a l, e t c . ) ; e , f i n a lm e n t e p a r t ic i p a r , a t r a v é s d e p r o p o s t a s e s u g e s t õ e s , d a a d o ç ã o d e m e d i d a s d e f in it i v a s o u e m e r g e n c i a is n e c e s s á r ia s a o p r o g r e s s o e a m p a r o d a 133 S A M P AI O , C o n s u e lo N . O p . c i t . p . 6 9 .

l a vo u r a e c o m é r c i o d a p r o d u ç ã o , is t o é , p a r t ic ip a r d a e la b o r a ç ã o d e p o l í t ic a d e n t r o d a e c o n o m ia d o c a c a u .134

Desde a data da sua implantação a té o in ício da década de 1940, o ICB atendeu às re ivindicaçõ es de inte resse da la vou ra do cacau, efetivando obras de infra-estrutura com ênfase na constru ção de estradas de rodagem, o que facilitou as condiçõe s de comunicação e escoamento da produção. Além disso, o instituto manteve um sistem a de informações comercia is sob re as cotações de preços e promo veu a oferta de crédito atra vé s da Carteira de Créd ito A grícola. Essas medidas só foram possíveis p or meio do empréstimo de Cr$10.000$000 (dez mil contos de réis) fornecido inicialmente pelo Banco do Brasil, para atender a co bertura de dívidas da la voura, além da taxa de Cr$2$500 (d ois mil e quinhento s ré is) in cidente sob re cada saco de cacau e xp ortado.

Todas essas medidas foram essenciais, a partir do momento em que passou a vigoriza r a economia cacaueira , ameaçada de colapso total da sua atividade p rodutiva , caso não fossem adotadas pro vidên cias imediata s para soluciona r ou ameniza r a crise ge rada pela grande depre ssão. Porém, foi sob suspeita que a burgue sia ca caueira acompanhou os avan ços do dirigismo estatal. O primeiro embate contra a atuação do ICB aconteceu quando foi anunciado o pro je to do go ve rno de fechar o porto de Ilhéus, principal município produtor de ca cau, com a justificativa de melhor contro lar as e xpo rtações. Co m referência a esse episód io, o jornal “Diá rio da Tarde”, mesmo dando total apoio ao interventor estadual, criticou fortemente a possibilidade de se fechar o porto de Ilhéus: A in s is t ê n c i a d e q u e o s d ir e t o r e s d o I n s t it u t o d e C a c a u s e a r m a m p a r a c e n t r a l i za r , n a c a p it a l d o e s t a d o , t o d o s o s s e r v iç o s d e s s a o r g a n i za ç ã o d e c r é d i t o , p r e t e n d e n d o c r i a r a l i o e n t r e p o s t o o f ic i a l c o m va n t a g e n s d e a r m a zé n s g e r a is p a r a 134 G A R C EZ , An g e l i n a N o b r e R o l im & F R E I T A S, A n t ô n io F . G u e r r e ir o d e . O p . C i t . p . 3 7 .

t o d a a p r o d u ç ã o d o Es t a d o e s t á d e s p e r t a n d o r u i d o s o s c o m e n t á r i o s , n ã o s o m e n t e n a im p r e n s a r e g i o n a l e d o s ó r g ã o s r e p r e s e n t a t i v o s d a s c l a s s e s c o n s e r va d o r a s , m a s t a m b é m , d a q u a s e t o t a l i d a d e d a i m p r e n s a d a c a p i t a l q u e n ã o e n c a r a c o m l o u v o r a d e li b e r a ç ã o , q u e p a r e c e “ p yn h ô n ic a ” d o d ir e t o r - p r e s i d e n t e d o I n s t it u t o . F e l i zm e n t e n ã o e s t a m o s s ó s n e s s a c a m p a n h a e m q u e n o s e m p e n h a m o s , d e f e n d e n d o o s i n t e r e s s e s d a l a vo u r a c a c a u e ir a . N a c a p it a l d o e s t a d o , ó r g ã o s c o m o “ O I m p a r c i a l” , “ D i á r i o d e N o t í c i a s ” e o “ D iá r i o d a Ba h i a ” , e s t u d a n d o a q u e s t ã o , d e s a p r o v a m c o n v ic t a m e n t e o p la n o d o d ir e t o r d o I n s t it u t o , p l a n o q u e , le v a d o à r e a li za ç ã o , f a r á c o m q u e o g o v e r n o d o Es t a d o a b e r r e c o m s e u p o d e r d is c r ic i o n á r i o p a r a s a t is f a ç ã o ú n ic o d e u m a id é ia d e p s e u d o b e n e f í c i o q u e c o n t r a r ia e p õ e m e m r e vo l t a o s p r e t e n d i d o s b e n e f ic i á r io s .135

Diante de tantos reclames da sociedade regional, o d iretor do Instituto, Iná cio Tosta Filho, reso lveu desistir de ce ntraliza r a expo rtação do caca u no porto de Salvador.

Antes de completa r dez anos de fundado, o ICB sofre algumas reestrutura ções e é alvo de se ve ras críticas quanto à sua atuação como órgão de defesa do cacau. A partir do Decre to-Lei Federa l n.º 581, de 01 de agosto de 1938, o qual estabe lecia “que nenhuma cooperativa poderia permanecer sob o contro le ou dependência de qualque r entidade ou associação ”, a direção do instituto, à re velia do go ve rno do Estado, reformulou o estatuto, o qual obte ve apro vação do Decreto Federal n.º 5.640, de 10 de maio de 1940, retirando o ICB da subordinaçã o estadual. Insatisfeito com a perda do controle do órgão, o Gove rno do Estado, atra vés do Decreto n.º 11.86 1, de 27 de março de 1941, transformou o in stituto em auta rquia , sob a a le gação de que “o instituto, como autarquia, reso lve os problemas do ca ca u com mais preste za e crité rio do que como coope rativa”.136

A transformação do instituto em autarquia promo veu a insatisfação dos cacauicu lto res, cujas associa ções preferiam a forma cooperativa, coerente, na opin ião deles, com os objetivo s iniciais quando da criação do in stituto . A cre scente in gerência do

135 J o r n a l D i á r i o d a T a r d e , 1 3 / 0 7 / 1 9 3 1 , p . 0 1 . 136 G AR C EZ , An g e l in a N o b r e R o l im & F R E I T A S, A n t ô n i o F . G u e r r e ir o d e . O p . C i t . p . 3 8 e 3 9 .

ICB na comercialização direta do cacau acabou também por desagradar aos p rodutores, que acusavam o instituto de permitir a prática da especulação do produto, desviando -se do seu objetivo principal. Além disso, re clama va -se do ICB se manter sediado em Salvador, re ivindicando-se que suas ações de ve riam se r concentradas na re gião. P o r o r i g e m e f i n a l i d a d e , c o m o s e d e d u z d a s n o s s a s p a l a vr a s , o I n s t it u t o n ã o p o d i a n e m p o d e e m p e n h a r - s e e m c o m e r c io d e c a c a u , c o n c o r r e n d o c o m o s c o m p r a d o r e s . A f u n ç ã o d o I n s t i t u t o é r e p r e s e n t a r t o d o s o s c a c a u ic u l t o r e s , n a d e f e s a d a e c o n o m ia d o c a c a u . . . . V it o r i o s a f o i à i d é ia d a c o n s i g n a ç ã o . N ã o s ó p o r j u s t iç a e e q u id a d e , c o m o a in d a c o m e r c ia lm e n t e e n c a r a d a , a p o s iç ã o d o I n s t it u t o – c o m p r a d o r s e d im in u ir i a p e r a n t e o I n s t i t u t o c o n s i g n a t á r i o . N o c a s o d o p r o p a la d o l u c r o , d o I n s t i t u t o - c o m p r a d o r , s e r á e l e o r e s u l t a d o d e u m a e s p e c u l a ç ã o , q u e p o d e f a v o r e c e r a u n s l a vr a d o r e s , m a s p o d e i g u a lm e n t e a r r u in a r a m a io r i a . U n s c o n c o r r e r ã o c o m p o u c o s p a r a o a u m e n t o d o p a t r im ô n i o d o I n s t i t u t o , e o u t r o s , c o m o s a c r if í c i o m a i o r d a s s u a s e c o n o m ia s , d i a n t e d e p r e m e n t e s n e c e s s id a d e s , q u e o s o b r i g a m a v e n d e r , p o r q u a lq u e r p r e ç o , o s e u c a c a u . Q u a s e s e m p r e v e r if ic a - s e e s s a d o l o r o s a o c o r r ê n c i a c o m o p e q u e n o e m é d io a g r ic u l t o r .137

De ve-se obse rva r que a s reestrutura ções e reformulações d a política do ICB, su ge ridas e rea lizad as ge ralmente nos momentos de crise, re velam a ineficiência do in stituto em promo ve r um plano sólido que fosse capa z de atender às deficiências da la voura cacaueira. Além d o mais, inte rname nte, o instituto se desgasta va nas disputas po líticas entre associad os, cre scendo o desprestígio do órgão de rep resentação re giona l.

137 M e m o r ia l e la b o r a d o a t r a v é s d e u m a a s s e m b lé i a g e r a l p e la As s o c i a ç ã o d o s A g r ic u l t o r e s d e I l h é u s , e p e la s d e m a is a s s o c ia ç õ e s d e c l a s s e d a r e g i ã o , e e n v i a d o a o e n t ã o G o v e r n a d o r d a B a h i a , O t á v i o M a n g a b e ir a , c o m c ó p i a a o Pr e s id e n t e d a R e p u b l i c a , M in is t r o d a Ag r ic u lt u r a , D ir e t o r G e r a l d o C o n s e lh o F e d e r a l d o C o m e r c i o Ex t e r i o r , S e c r e t a r i o d a A g r ic u l t u r a d o Es t a d o , Pr e s i d e n t e d o I n s t i t u t o d e C a c a u e D r . I g n á c i o T o s t a f il h o , s o l ic it a n d o a r e e s t r u t u r a ç ã o d o I C B. P u b l ic a d o n o D iá r i o d a T a r d e , e m 2 4 / 0 7 / 1 9 4 8 , n . º 5 9 9 6 , p . 2 .

O I C B n a v e r d a d e f o i u m in s t r u m e n t o n o v o , i n t e r m e d iá r i o e n t r e o Es t a d o e a e l it e d o c a c a u . . . Pr o va d e s u a im p o r t â n c ia , o u m e lh o r , d a s p o s s ib i l i d a d e s d e a c e s s o a o p o d e r q u e n e le v i a m o s g r u p o s d o m in a n t e s , é t o d a a d is p u t a q u e s e e s t a b e l e c e e m t o r n o d a d ir e t o r i a d o m e sm o , d a s s u a s r e a l i za ç õ e s , q u a n d o f r a ç õ e s i n s a t is f e it a s d e s s e m e s m o g r u p o e x t e r io r i za r a m p o s iç õ e s c o n t r á r ia s , c h e g a n d o a p r o p o r a lt e r n a t i v a s p a r a o c o m p o r t a m e n t o d a r e f e r id a e n t id a d e . Em a n o s p o s t e r i o r e s a p r e s id ê n c i a d o I C B s e r á u m c a r g o c o b iç a d o e m o t i v o d e c o n t r o v é r s i a s — c o m o s e v e r á n o s d e b a t e s l e g is l a t i v o s — e s v a zi a n d o - s e a p e n a s a p ó s o a d v e n t o d a C E P L AC , q u a n d o a d is p u t a a t i n g e e n t id a d e s d e o u t r o p o r t e , p a s s a n d o a s e r s u s t e n t a d a p o r o u t r a s b a s e s , q u a n d o e n t ã o o I C B , c o m e ç a a f u n c i o n a r c o m o u m a e s p é c i e d e c o n t r a p o n t o , u m e x e m p l o n o s t á l g ic o p a r a a s f r a ç õ e s d a c l a s s e d o m in a n t e , m a r g i n a l i z a d a s d e u m p o d e r m a io r .138

Segundo José Ha roldo Vieira, o ICB, desde sua criaçã o, foi

manipulado politicamente, não resistindo às pressões

re giona listas, o qu e desencandeou nu m processo de deterio rização e falha dos seus objetivo s origina is, p e r d e n d o , a s s im , sua exp ressão como órgão re cu perador da la vou ra. Afirmou, a ind a, que o descréd ito do instituto este ve ligado às soluções imediatas dadas aos problemas d a cacauicu ltu ra que continuaram ligadas aos esque mas de cré dito ou de p reço s, por sere m mais rápido s e fáceis, esquecend o-se do funda me ntal, básico e p ermanente

gerador de toda a econo mia ag ríco la – a planta.139

Ainda em relação à criação do ICB, é preciso distin gu ir que, na dimensão política da histó ria re gional, a criação do Instituto de Cacau da Bah ia nã o apresentou uma vitó ria da s reivindicações dos plantadores/comerciantes, mas sim, um instrumento de dominação e controle do Gove rno estadual so bre a burguesia cacaueira, encampando uma reivind icação já e xistente. Se se atentar para os

138 G AR C EZ , An g e l in a N o b r e R o l im & F R E I T A S, A n t ô n i o F . G u e r r e ir o d e . O p . C i t . p . 7 9 . 139 VI E I R A , J o s é H a r o l d o C a s t r o a p u d G A R C E Z , A n g e l in a N o b r e R o l im & F R EI T A S , A n t ô n io F . G u e r r e ir o d e . O p . C i t . p . 4 1 .

nomes que foram indicados para a ch efia do Instituto, vê-se que é raro um nome oriun do da re gião de p rodução.140

A conjuntura da II Guerra, como em todas as conjunturas de crise mundial, agravou ainda mais os problemas da lavou ra do cacau, face ao processo de de clín io da ta xa de e xp ortação do produto, que tinha como principal com prador os EUA . Os efeitos da crise se prolon ga ra m por toda a década de 1950 e, diante da gra ve situação, nota -se um constante apelo aos go ve rnos estadual e federal para que se tomassem pro vidência s quanto aos antigo s problemas re giona is, intensificando-se as críticas e suge stões quanto à atuação d o ICB.

Foi no vamente nu m conte xto de crise, da necessidade de se adotar medidas emergenciais que evitasse a paralização das atividades p rodutivas que o Go verno Federa l, a tra vé s do Decreto Federal n.º 40.987 , de 20 de janeiro de 1957, institu iu o Plano de Recupera ção Econ ômico-Rura l da La vou ra Cacaueira, e criou o Fundo Econômico Rural da La vou ra Cacaueira, dota do de um milhão de cru ze iro s para oferece r o suporte financeiro à aplicação do plano. Para ge rir e aplica r esse recurso foi criada a Comissão Exe cutiva do P lan o da La voura Cacauieira – CEPLAC, inte grada por elementos pe rtencentes a diferentes órgãos púb licos federais e estaduais, que já a tuavam junto à eco nomia cacaueira.141

Elaborada po r Inácio Tosta Filho, a nova p roposta se guia, em linhas ge rais, a mesma proposta da cria ção do ICB, também elaborada po r ele, nos in ícios do s an os 30. Na sua ju stificativa de criação do Plano, Tosta Filho e xp licita va que,

140 J AN C SO , I s t v á n . A p u d VI A N N A , I a lm a r L e o c á d i a . A e s t r a d a d e f e r r o I l h é u s - C o n q u is t a e a l a v o u r a d e c a c a u n a B a h i a . D M ( M e s t r a d o e m H is t ó r i a ) , U F P E, 1 9 8 6 , p . 1 1 9 . 141 A C o m is s ã o Ex e c u t i v a , s o b a p r e s i d ê n c i a d o M in is t r o d a F a ze n d a , f o i f o r m a d a i n ic i a lm e n t e p o r I n á c i o T o s t a F i l h o , r e p r e s e n t a n t e d a C a r t e ir a d o C o m é r c io Ex t e r io r – C AC EX ; S o s t h e n e s d e M ir a n d a , r e p r e s e n t a n t e d a C o m is s ã o d e F i n a n c i a m e n t o d a Pr o d u ç ã o ; W a n d e r b i lt D u a r t e Ba r r o s , r e p r e s e n t a n t e d o M i n i s t é r i o d a A g r ic u lt u r a ; e J o v e n i a n o J a r d im , r e p r e s e n t a n t e d a c a r t e ir a d e C r é d it o A g r í c o la e I n d u s t r i a l d o B a n c o d o Br a s i l.

S e t o r n a va o p o r t u n o o a b a n d o n o , e n t r e n ó s , p r o v e r b ia is m e d i d a s d e e m e r g ê n c i a , d e c a r á t e r t o d o t r a n s i t ó r i o e o c a s i o n a l , p a r a l a n ç a r m o s o s f u n d a m e n t o s d e u m a o b r a e c o n ô m ic a d e m a io r p r o f u n d id a d e e l o n g o a lc a n c e , v is a n d o a s s e g u r a r a c o n t in u i d a d e d a q u e l a n o s s a f o n t e d e r i q u e za e m b a s e s s a d i a s , g a r a n t in d o - lh e a p o s s i b i li d a d e d e e n f r e n t a r a c r e s c e n t e c o m p e t iç ã o i n t e r n a c i o n a l , a o t e m p o e m q u e , p a r a t a l, s e c o m e ç a s s e p o r r e g u l a r i za r a a t u a l e d e s o r d e n a d a s it u a ç ã o f i n a n c e i r a d e u m c e r t o n ú m e r o d e la v r a d o r e s .142

Realmente, no p rimeiro momento a CEPLAC conse guiu normalizar e fortalecer o sistema de comercialização, atra vés da intervenção da CACE X, que pa ssou a e xporta r d iretamente, obtendo, assim, melhores cota ções do produto no exterio r. Além disso, realizou op erações finance ira s para aliviar a situação dos la vrado res, alcançando de imediato o equilíb rio entre os dois setores – p rodução e comércio . Ainda assim, nesse primeiro momento, a CEPLA C não definiu uma política estrutu rada capa z de imprim ir no vos ru mos à economia do cacau, ficando as medidas concebidas sempre em caráter emerge ncial.

A e xecução de u m programa mais amplo só foi possíve l a partir do De creto Federal n.º 539 de janeiro de 1 962, o qua l estabeleceu uma receita permanente - recursos p ro ve nientes da retenção anual de 15% do valor d a receita cambia l do cacau expo rtado em amêndoas, e de 5% sobre a expo rtação d e produtos derivado s –, forn ecendo à CEPLA C uma base financeira para operar eficientem ente no amparo à lavou ra. A partir desse momento, o órgão passou a desen vo lve r um pro grama in tegrado de desenvo lvimento da tecnolo gia a gríco la, com a execu çã o de obras de fortalecimento da infra-estru tura re gional, orientação ao sistema cooperativista do cacau, como instrumento de apoio à produção, assim como, a realiza ção de estudos sobre a cacauicultu ra e a re gião, com le vantamento básico de pedologia, geolo gia ,

142

fertilidade, e o utros, visando dimensionar e ava lia r a s potencialidades re gionais.143

Apesar de todo o surto de mudanças promovido pela CE PLAC, con vém ressa ltar que sua atuaçã o não ocorreu e m clima de compatibiliza ção completa com a s e xpectativas exp ressas re giona lmente. Em muitas oportun idades, na sua fase inicia l, acredita va-se pouco na sua continuid ade e, que stiona va-se muito os seus objetivo s, considerado s parale los aos do Instituto de Cacau da Bahia. De certo, na raiz de todo esse questionamento encontra va -se o jo go dos inte resse s regiona is, inconformados com a transferência, para a esfera federal, do centro de decisões sob re os assuntos da cacauicultu ra. Além disso, hou ve mu itas contro vé rsias em torno da cria ção do novo tributo - taxa de retenção – visto co mo mais uma forma de espoliação da economia re giona l.

Diante da s tensõe s e contradições e ntre o ICB e a CE PLAC, surgiram vá ria s propostas su ge rindo a anexa ção da CEPLAC ao ICB e vice -ve rsa. Alguns a lega vam que “a fusão e vita ria um duplo encargo pa ra a la vou ra que contribu ía para o s do is o rganismos, distintos na sua constitu ição, mas iguais nos ob jetivo s”. Contudo , os grupo s e órgão s de classes da região se contrapu seram, não consegu indo che ga r a um denominador comum, o que resultou na permanências do s dois ó rgão s, atuan do conjuntamente na re gião.

O ICB e a CEPLA C to rnaram-se am bos alvo s de d ispu ta pelo