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O jogo como reflexo do processo de treino

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Academic year: 2021

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(1)“O jogo como reflexo do processo de treino”. Relatório Final do Estágio Profissional apresentado com vista a obtenção do 2º Ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Desporto para Crianças e Jovens ao abrigo do Decreto-lei nº74/2006 de 24 de Março. Orientador: Professor José Guilherme Granja de Oliveira. Carlos Filipe Sá Rebelo Porto, Setembro de 2015 I.

(2) Ficha de Catalogação. Rebelo, C. F. S. (2015). “O jogo como reflexo do processo de treino”. Porto: C. Rebelo. Relatório de Estágio profissionalizante para a obtenção do grau de Mestre em Desporto para Crianças e Jovens, apresentado à Faculdade de Deporto da Universidade do Porto.. PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, MODELO DE JOGO, TREINO, JOGO. II.

(3) Agradecimentos. Ao meu Pai, âncora de dia-a-dia e fiel companheiro, pelo apoio incondicional na perseguição do meu sonho. Ainda, pelas forças quando me faltam e pelo amor intangível. Pelo exemplo na vida. Ao Sr. Faria, pela oportunidade de me iniciar na minha profissão e por todos os ensinamentos. Ao Xavier, por anos de crescimento frenético e parceria contínua no início da nossa viagem. Pelo exemplo no campo. Ao Kiko, por toda a motivação e conversas intermináveis. Pela amizade absoluta e compreensão atroz. Ao amigo e professor Luís, pelo escrutínio minucioso e crítica constante. Pela revisão de texto e pela amizade irrestrita. Ao meu Avó, pelo que me permite ser ensinando-me melhor. Pelo amor com que me olha. Ao Professor José Guilherme, pela orientação, emprenho, compromisso e sabedoria com que me guiou ao longo desta dissertação.. III.

(4) IV.

(5) Índice Resumo.........................................................................................................................VII Abstract..........................................................................................................................IX. Capítulo I.......................................................................................................................1 1. Introdução.................................................................................................................3 1.1. Problematização da prática profissional.......................................................3 1.2. Estrutura e finalidade do relatório.................................................................4. Capítulo II......................................................................................................................5 2. Contextualização da Prática.....................................................................................7 2.1. Contexto institucional........................................................................................7 2.1.1. O Clube......................................................................................................7 2.1.2. Condições de Trabalho............................................................................10 2.1.3. Escalão....................................................................................................11 2.1.4. Objetivos..................................................................................................15 2.1.4.1. Como coordenador....................................................................15 2.1.4.2. Como treinador..........................................................................16 2.1.5. Plantel......................................................................................................18 2.1.6. Competição..............................................................................................19 2.1.7. Equipa Técnica........................................................................................20 2.2. Contexto Funcional..........................................................................................23 2.3. Macro Contexto...............................................................................................24 2.3.1. Futebol.....................................................................................................24 2.3.2. Periodização Tática.................................................................................27 2.3.2.1. Uma nova abordagem ao jogo..................................................31 2.3.2.2. Complexidade...........................................................................32 2.3.2.3. Sistemas....................................................................................34 2.3.2.4. Funcionamento dos Sistemas...................................................38 2.3.2.5. Futebol como um evento caótico, determinístico......................39 2.3.2.6. Modelo de Jogo.........................................................................43 2.3.2.7. Treino........................................................................................57 V.

(6) Capítulo III...................................................................................................................65 3. Desenvolvimento da Prática......................................................................................67 3.1. Concepção......................................................................................................68 3.1.1. Objetivos e expectativas iniciais..............................................................68 3.1.2. Análise do contexto..................................................................................71 3.1.3. Equipa......................................................................................................73 3.1.4. Modelo de Jogo.......................................................................................84 3.1.4.1. Organização estrutural adotada pela equipa............................85 3.1.4.2. Momentos de Jogo....................................................................86 3.1.5. Treino.....................................................................................................109 3.1.5.1. Primeira subfase.....................................................................111 3.1.5.2. Segunda subfase....................................................................112 3.1.5.3. Terceira subfase......................................................................119 3.2. Implementação das actividades....................................................................120 3.2.1. Operacionalização da primeira subfase.....................................122 3.2.2. Operacionalização da segunda subfase....................................123 3.2.3. Operacionalização da terceira subfase......................................128 3.2.4. Operacionalização da quarta subfase........................................131 3.3. Barreiras e estratégias de remediação..........................................................135 3.3.1. Operacionalização da quarta subfase........................................139 3.3.2. Operacionalização da quinta subfase........................................144. Capítulo IV................................................................................................................147 4. Desenvolvimento Profissional..........................................................................149. Capítulo V.................................................................................................................153 5. Considerações finais........................................................................................155. Capítulo VI................................................................................................................157 6. Referências Bibliográficas................................................................................159. Capítulo VII...............................................................................................................161 7. Anexos...................................................................................................................i. VI.

(7) Resumo. O Futebol tem conhecido diferentes processos operacionais que têm potenciado o jogo até ao nível que hoje conhecemos. Algumas das mais recentes metodologias de treino têm um papel importante nesta evolução, começando pelo trabalho feito nas equipas de formação. O presente relatório tem como objetivo apresentar o caminho e a reflexão das vivências experienciadas durante a época desportiva de 2014/15 realizada no Clube de Futebol S. Félix da Marinha. As funções de coordenação, de treinador auxiliar e de treinador principal, que ao longo do ano foram assumidas, permitiram vivenciar inúmeras e variadas situações de aprendizagem. O relatório pretende apresentar o trabalho realizado e explicitar as decisões que ao longo do processo foram tomadas. A época desportiva providenciou algumas das experiências mais enriquecedoras pelas quais já passei, enquanto profissional, permitindo o desenvolvimento de várias competências cruciais para a minha formação enquanto treinador de Futebol e pessoa.. PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, MODELO DE JOGO, TREINO, JOGO. VII.

(8) VIII.

(9) Abstract. Football has known different operational processes that have developed the game to the level we know today. Some of the most recent training methods have a very important role in this evolution, starting on the work done on the youth teams. The objective of this report is to present the path and experiences lived during the season of 2014/15 in Clube de Futebol S. Félix da Marinha. The job done during the year as a coordinator, assistant and main coach, allowed me to go through several unique learning experiences. This report intends to present the work done and explain the decisions taken through the season. This gave me the opportunity to live some of the most enrichening experiences I went through as a professional, allowing me do develop several crucial abilities to my formation as a football coach and person.. KEY-WORDS: FOOTBALL, GAME MODEL, PRACTICE, GAME. IX.

(10)

(11) Capítulo I Introdução. 1.

(12) 2.

(13) 1. Introdução. 1.1. Problematização da prática profissional. O presente relatório foi realizado no âmbito do 2º Ciclo em Desporto para Crianças e Jovens – opção Treino de Futebol, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP). O estágio descrito visa a aplicação, num contexto prático, dos conhecimentos adquiridos durante o percurso académico nesta instituição. São exigidas competências necessárias à criação de um modelo de jogo de acordo os objetivos do clube, e ao planeamento e gestão do processo de treino que procure a aquisição dos princípios para executa-lo. Pretende-se desenvolver um contexto em que o grau e quantidade das minhas responsabilidades sejam elevados tendo, ainda, liberdade total para experimentar as minhas ideias de jogo e metodologias de treino. Durante este processo, será feita uma análise à influência dos treinos efectuados nos comportamentos e competências dos jogadores. O relatório decorreu após uma mudança de mandato na presidência do clube, surgindo a nova direção com intenções de apostar nas equipas de formação, definindo como seu principal objetivo criar um plantel sénior constituído por jogadores que fizeram o seu percurso no clube. Durante o período em que desempenhei funções, fi-lo como treinador da equipa de sub-11, treinador da equipa de sub-19 e coordenador das equipas de formação. De maneira a avaliar a influência das medidas implementadas, será apenas descrito o trabalho efectuado enquanto treinador do escalão máximo de formação.. 3.

(14) 1.2. Estrutura e finalidade do estágio. O relatório apresentado está estruturado, com os devidos ajustes, de acordo com o documento “Normas orientadores para a estrutura e redação do relatório de estágio do 2º Ciclo da FADEUP”. Assim, está dividido em cinco capítulos: o primeiro, quarto e quinto capítulos. serão. compostos. pela. introdução,. conclusão. e. referências. bibliográficas, respetivamente, deixando a maior parte do conteúdo para o segundo. e. terceiro. capítulos. que. integrarão. a. contextualização. e. desenvolvimento da prática, respetivamente. A respeito destes dois últimos serão descritas duas funções diferentes: uma enquanto treinador adjunto da equipa de sub-19, cargo que ocupei no início da época, e em que descreverei o contexto de trabalho e a sua aplicação prática; durará até à fase em que assumirei o cargo de treinador principal da equipa. Esta, será descrita na fase final do capítulo do desenvolvimento da prática. A finalidade deste estágio passa por testar a aplicação dos conhecimentos adquiridos e necessários ao planeamento de uma época desportiva, enquadrando-os na prática enquanto treinador de uma equipa de formação com objetivos específicos.. 4.

(15) Capítulo II Contextualização da Prática. 5.

(16) 6.

(17) 2. Contextualização da Prática. 2.1. Contexto institucional. 2.1.1. O Clube. O estágio decorreu no Clube de Futebol S. Félix da Marinha, clube onde trabalho há 4 anos, com estádio na cidade de seu nome, no distrito do Porto, concelho de Vila Nova de Gaia. Fundado a 27 de Maio de 1947, o clube amador alberga sete equipas nos escalões de formação, uma equipa sénior e uma equipa de futebol feminino. A equipa sénior compete na 1ª Divisão Distrital da AF Porto, procurando a manutenção após a promoção no ano passado. Até à presente época o plantel era constituído quase exclusivamente por jogadores de outras equipas do distrito do Porto e do futebol popular de Espinho, não havendo jogadores formados no clube. Todos os seus escalões de formação competem na divisão distrital mais baixa, registando algumas subidas ocasionais, seguidas de despromoção à divisão “habitual”. Nunca nenhuma camada competiu a nível nacional, sendo a classificação média na 2ª Divisão Distrital da AF Porto o 7º lugar. Considero pertinentes estas informações de modo a demonstrar o nível competitivo do clube e as respetivas aspirações. A equipa de futebol feminino foi criada este ano e é constituída por vinte e três atletas. A presente época representa para o clube um ano de transição, visto ter conhecido uma nova direção que alterou a estrutura, a organização e os 7.

(18) objetivos do clube. A partir desta época, o clube procura construir o seu plantel com jovens provenientes dos seus escalões de formação, tornando esse o seu principal objetivo. Durante o mandato da direção anterior, cada escalão trabalhava de forma independente. O treinador era responsável pelo rumo do seu trabalho, sem qualquer indicação dos coordenadores do clube, e podia definir os seus objetivos de forma livre. Isto significa, também, que não existia um caminho com fim comum ou uma cultura a respeitar. Do meu ponto de vista, este contexto organizacional e funcional justifica o número reduzido de jogadores do clube a chegarem ao futebol sénior. Não podemos esperar que os jogadores formados nas camadas jovens satisfaçam as necessidades do(s) treinador(es) do plantel sénior se não comunicarmos com o(s) mesmo(s), e se não existirem linhas orientadoras para que o projeto de formação tenha coerência, consistência e seja um processo evolutivo gradativo. Até há muito pouco tempo considerei isto uma vantagem para o meu desenvolvimento enquanto treinador, já que tinha liberdade total para estruturar a minha equipa e os meus treinos exclusivamente segundo as minhas ideias. Contudo, com a proposta que me foi feita no fim da época passada, para assumir o papel de coordenador da formação, tomei consciência da vantagem da existência de linhas orientadoras para as diferentes equipas de modo a todos terem um trabalho mais sistematizado e coerente. À medida que crescia como entendedor do jogo de futebol, dentro e fora do campo, começava a entender que as classificações obtidas dependem não só das capacidades dos membros do plantel (incluindo equipa técnica) mas também das condições e gestão de processos do clube. Para uma equipa ter sucesso precisa de jogadores que desenvolveram ao longo de vários anos ligações obtidas por treino estruturado e perspetivado a longo prazo. Só assim podemos, realmente, automatizar um processo de jogo, nunca com um trabalho de um ano só – à semelhança das épocas. 8.

(19) anteriores. Colocávamos os jogadores num ciclo que limitava o seu crescimento por falta de constância de princípios de jogo e treino. Segundo a Lei do Efeito de Thorndike, um dos efeitos de um ato bem sucedido é aumentar a possibilidade de ele ser repetido em circunstâncias idênticas. Se um jogador tiver circunstâncias diferentes todas as épocas, é impossível potenciar ao máximo a performance do mesmo nas circunstâncias do jogo. O desenvolvimento de um jogador trata muito mais do que o seu desenvolvimento técnico e físico, dando-se cada vez mais importância à tomada de decisão. O que nós pretendemos na definição de um Modelo de Jogo é orientar as decisões dos nossos jogadores para que estes se encontrem num contexto que é coerente entre todos e favorável à equipa. A performance da equipa neste contexto deve ser desenvolvida no treino. Por isso é que reforçamos constantemente a seguinte ideia aos nossos jogadores: treinamos como jogamos e jogamos como treinamos. No sentido de corrigir os problemas existentes no departamento da formação, a nova direção convidou-me a mim e ao meu colega para coordenar este departamento, ficando eu com as camadas inferiores a sub-13 (inclusivé) e destinando-lhe as camadas superiores. O nosso principal objetivo como coordenadores dos escalões de formação foi definir uma cultura futebolística para o clube, com metas e meios comuns entre escalões e equipas. Para isto, procurámos contratar treinadores que tivessem ideias sobre o processo de treino idênticas às nossas. Tentámos, também, criar um Modelo de Jogo, apresentado pelo treinador da equipa sénior, que deveria servir de base para o trabalho dos restantes escalões, no sentido de preparar os jogadores da formação para as exigências específicas no futebol sénior praticado no nosso clube. Considero esta informação relevante neste ponto do trabalho porque acho que o maior problema no clube é a falta de identidade. 9.

(20) 2.1.2. Condições de Trabalho. O Complexo Desportivo do CF S. Félix da Marinha providencia para os seus jogadores um campo de futebol de onze, dividido em dois campos de sete, e três balneários (sem contar com o dos árbitros e treinadores), abertos entre as 18h00 e as 23h00. Foi da minha responsabilidade e do meu colega definir os horários de treino das nossas equipas, mediante o período de treino pré-definido para a equipa sénior. Organizámos o plano de treino de modo a que as nossas equipas treinassem entre quatro e cinco horas, em três ou quatro dias por semana, em treinos de uma hora ou de uma hora e meia. Todas as equipas têm disponível para o seu treino metade do campo em que jogam. As equipas do meu departamento têm para cada treino um conjunto de cones, dez coletes, dez bolas e garrafas de água. As equipas do departamento do meu colega têm à sua disposição quinze bolas, embora todas estejam em más condições. Faz parte do material que deve ser distribuído pelos treinadores o seguinte: quatro balizas de futebol de sete, dez mini balizas, quinze barreiras de salto, oito estacas, dez cones de tamanho médio e grande, duas redes de fut-volei, duas escadas para treino de coordenação e duas bolas número um para o treino dos guarda-redes. Considero que o clube apresenta três problemas graves que limitam todo o seu processo de treino: falta de espaço para treinar, falta de balneários para equipar e falta de bolas. Existe ainda um departamento médico que funciona durante todo o horário de treino.. 10.

(21) 2.1.3. Escalão. Durante o meu percurso CF S. Félix da Marinha tive o privilégio de trabalhar em todos os escalões à exceção dos Sub-9 e dos Sub-17. Conclui que trabalhar com o escalão Sub-19 é o que mais me satisfaz e aquele em que penso que tenho melhores competências. A razão pela qual eu prefiro trabalhar neste escalão é a componente competitiva inerente ao mesmo. À medida que os jogadores se aproximam do fim do seu percurso de formação, esta torna-se cada vez mais notável. A meu ver, este escalão destaca-se pela dificuldade em manter a estabilidade emocional, já que os jogadores se encontram numa fase de transição na sua vida. Não posso negar que a curta diferença de idades é um fator muito importante para o nosso trabalho. Pode ser visto como um défice, dificultando o respeito e a admiração que os jogadores têm pelo treinador, como pode ser uma vantagem, porque nos facilita a ligação emocional com os atletas, tendo em conta que temos mais aspetos em comum. À medida que um jogador de níveis distritais cresce e encurta o seu tempo restante no futebol de formação, vai perdendo margem de progressão, e fazendo do futebol uma parte cada vez menos integrante na sua vida, por outro lado, um jogador de nível nacional vê a sua carreira cada vez mais perto de começar. Isto significa que quando um jovem de nível nacional tem um problema externo ao futebol tem de o resolver para que a sua performance não seja afetada. Se um jogador da minha equipa tiver um problema pessoal ou deixa de ir aos treinos ou usa o treino para descarregar a sua frustração pessoal.. 11.

(22) Esta falta de compromisso torna o meu trabalho bastante difícil, já que demorei quase meia época para definir um grupo de trabalho em que pudesse desenvolver os jogadores no sentido que pretendia. De maneira a lutar para que isto fosse possível, fui obrigado a definir alguns princípios que permitiam aos atletas entrarem nos meus planos de trabalho: . A presença de todos os atletas é exigida em todos os treinos, caso faltem devem avisar até às seis da tarde de maneira a manter o plano de treino coerente sem afetar o trabalho do resto da equipa;. . A falta de um atleta a um treino sem avisar resulta na exclusão do mesmo da convocatória;. . A falta de um jogador a uma convocatória resulta em três jogos fora da convocatória;. . A expulsão de um atleta em jogo, penaliza o jogador no dobro do número jogos dados como suspenso pela federação (caso um jogador seja expulso injustamente, ou por faltas que consideramos justificáveis exclui a suspensão da equipa técnica);. . Nenhum jogador pode desrespeitar outro jogador nem qualquer membro da equipa técnica; caso aconteça, o jogador é excluído de toda a semana de treino e da convocatória; Só com estas regras conseguimos estabelecer um plano de trabalho. contínuo que não comprometa o desenvolvimento dos jogadores que demonstram refinado sentido de responsabilidade. Isto fez com que, a dado momento da época, o plantel ficasse reduzido a doze jogadores; no entanto, asseguro que o trabalho feito com esses jogadores fosse mais produtivo do que em momentos no início da época em que tivemos mais de vinte jogadores para treinar. Percebi também durante os dois anos anteriores que é obrigatório exigir auto-superação constante dos nossos atletas, tendo em conta que se não tivermos esta atenção os jogadores não terão vontade própria de serem cada vez melhores, tirando qualquer propósito ao trabalho que fazemos. 12.

(23) A cultura dos jogadores do nosso clube, como suponho que aconteça em qualquer outro clube de nível distrital, é de desistir quando alguma coisa se torna difícil, seja um erro individual que ceda um golo ou um erro na arbitragem, levando-os a baixar a cabeça e imediatamente abdicar de todas as ligações na equipa por pensarem que o mundo está todo contra eles. Nestas idades considero crucial fazer uma gestão justa do plantel, já que o sentido de justiça dos jovens nesta fase está bastante apurado, o que nos obriga a sermos capazes de justificar e argumentar as nossas decisões de modo a que o jogador não desanime. Relato uma situação nesta época que explica muito bem o que pretendo ilustrar: enquanto fazíamos um jogo de preparação contra o plantel juvenil, fiz substituições constantemente de cinco em cinco minutos. Dividi o tempo de jogo de forma igual entre todos os jogadores e toda a gente entrou pelo menos duas vezes no jogo. Aconteceu um defesa central ser substituído logo após falhar um passe longo, enquanto eu insistia constantemente para sair a jogar em passe curto. Quando tirei o atleta ele questionou a minha decisão, reclamando que achava injusto ter sido substituído apenas por falhar aquele passe. Após ter mostrado ao jogador o meu plano e que estava a ser substituído em último lugar percebeu as minhas intenções, pediu desculpa e entrou com o dobro da atenção ao seu passe na segunda parte. Muitas pessoas dizem-me que não devo explicações nenhumas aos jogadores para tomar as minhas decisões e que estes devem confiar cegamente na minha gestão. Eu questiono: como é que um jogador pode confiar cegamente em mim quando não me conhece nem aos meus processos? Prefiro gerir o meu plantel com honestidade e abertura completa, uma vez que me sinto plenamente confiante nas minhas decisões e preparado a justificá-las em qualquer caso. Desta maneira julgo que consigo retirar o máximo proveito dos meus atletas porque se não há vontade e estabilidade emocional durante o treino e jogo, a performance dos atletas estará bem longe do seu potencial máximo.. 13.

(24) Acredito que falar abertamente com todos os atletas e estando constantemente atualizado acerca do seu estado emocional permite-me ter maior controlo sobre as suas performances e desenvolvimento. A questão da motivação também é algo complicado neste escalão em específico. Para além de preparar durante a semana a previsão que faço do jogo a realizar, preciso também, todos os domingos de manhã, de dar uma razão para estes darem tudo o que têm, já que sem este acréscimo não encontram a motivação para tentarem mais uma vez superar a performance anterior. É preciso ter bastante cuidado neste ponto porque muitas vezes os jogadores confundem a agressividade de jogo que pretendemos evidenciar com hostilidade para com o adversário. Convém deixar isto bem claro de modo a manter os jogadores concentrados para o jogo. Acredito que só desta forma podemos manter um processo de trabalho a longo prazo, justo para os jogadores e para os treinadores, o que em anos anteriores era impossível. Os meios e fins da nossa preparação também são específicos ao escalão que treinamos. A nossa prioridade no que a objetivos toca é a preparação formativa dos atletas, seguindo-se os objetivos preparativos e por último os competitivos, como explico no capítulo seguinte (Objetivos).. 14.

(25) 2.1.4. Objetivos. 2.1.4.1. Como Coordenador O projeto de coordenação das camadas jovens apresentado no final da época anterior tem como principal objetivo a criação de uma cultura para o clube. Pretendemos melhorar as ligações entre os diferentes escalões, partilhando jogadores com potencial superior, alguns princípios de jogo nos nossos. modelos. de. jogo. e. metodologias. de. treino.. Desta. forma. proporcionamos aos jogadores o contexto de aprendizagem apropriado aos objetivos definidos. Para que estes objetivos fossem possíveis existiu a necessidade de começar do zero. Contratar treinadores novos, que partilham das nossas ideias de treino e jogo, o que fez com que perdêssemos muitos jogadores. Nesse sentido, achamos por bem não discutir objetivos competitivos com nenhuma camada, exigindo apenas que nunca se sobrepusessem aos objetivos formativos e preparativos. Pedimos aos nossos treinadores que tivessem uma atenção especial para o comportamento dos nossos atletas. O clube tem um historial disciplinar bastante mau e isso é algo que pretendemos mudar com urgência. Outra das condições formativas que colocámos foi a utilização de todos os atletas do plantel e o uso de todos os suplentes em todos os jogos. Quanto aos objetivos preparativos, definimos alguns princípios que gostávamos que os diferentes escalões apresentassem: . Dois tipos de defesas centrais – um tipo forte e bom na marcação e outro rápido e inteligente nas coberturas defensiva, já que o clube não pretende que os seus defesas defendam à zona; ambos os defesas devem ser bons no passe e no cabeceamento;. 15.

(26) . Médio defensivo – com bom passe curto e longo e com boa capacidade decisão, ficando responsável pela decisão do jogo (ofensivamente); este jogador deve ter um posicionamento muito recuado no campo, colocando-se no meio dos centrais em momentos iniciais de organização ofensiva;. . Médio centro – muito móvel com capacidades ofensivas e defensivas e grande capacidade aeróbia e passe curto; um médio “área-a-área”;. . Dinâmicas entre os jogadores dos corredores laterais – que definam que os defesas laterais abram no último terço e fechem no primeiro e avançados interiores com o movimento contrário; Também nomeámos dez jogadores dos Sub-19, Sub-17 e Sub-15 que. deveriam desempenhar papéis em diversas equipas técnicas, de modo a melhorar a interação dos atletas do clube entre diferentes camadas. Pedimos também aos treinadores que incentivassem os seus atletas a assistir aos jogos das outras equipas do clube. Pretendíamos com isto ocupar a carga horária dos nossos jogadores evitando maus hábitos que já percebemos serem comuns no clube.. 2.1.4.2. Como Treinador. Enquanto treinadores do escalão de sub-19, demos prioridade, como em anos anteriores, aos objetivos formativos. Tendo em conta que este é o nosso terceiro ano no cargo, já conhecemos bem o tipo de atletas que temos em mão. A maior parte dos jovens que jogam pela equipa de sub-19 não têm hábitos de vida saudáveis, ainda menos de um atleta tratando-se, referindo-me ao consumo de drogas, álcool e tabaco. Como já referi anteriormente, há também um grande problema de disciplina tendo em conta a quantidade elevadíssima de cartões vermelhos que a equipa arrecadava a cada ano.. 16.

(27) Assim sendo, a nossa maior atenção foi corrigir estes problemas. Procurámos controlar ao máximo o tempo dos nossos jogadores e a forma como estes o geriam, tornando uma grande parte deles ajudantes em camadas inferiores, proibindo estes hábitos dentro do complexo desportivo e expulsando qualquer jogador que se apresentasse em estados de alteração de consciência ao treino. Quanto à disciplina, o que decidi fazer foi criar duas regras: cada vez que um jogador levasse um amarelo por indisciplina era imediatamente substituído, e aumentam para o dobro os jogos de suspensão para determinado tipo de expulsões. Inicialmente estas regras custaram-nos alguns resultados e empenho dos jogadores mas os resultados compensaram o esforço. Os objetivos preparativos que definimos para esta época foram aumentar o número de jogadores promovidos ao plantel sénior. Para isto, mantivemos contacto constante com o treinador desta equipa, tentando fazer com que os nossos jogadores correspondessem a qualquer necessidade sua. Isto passa por criar um perfil do jogador que o treinador precisa e desenvolver os. nossos. atletas. nesse. sentido,. respeitando. os. perfis. anunciados. anteriormente. Foi preciso, também, eliminar a ideia pré-concebida de que os seniores do clube não têm valor e de que não valia a pena trabalhar para chegar lá. Decidimos nesta época definir objetivos competitivos diferentes das épocas anteriores, visto que a divisão onde competimos é altamente imprevisível, tendo apenas prometido a nós mesmos que iriamos pontuar, marcar e ganhar mais vezes e sofrer e perder menos do que em todas as épocas anteriores. Apesar de não transmitirmos nenhuma posição em que esperávamos ficar, a equipa técnica concluiu que uma classificação entre o sexto e o terceiro lugar seria satisfatória e realista.. 17.

(28) 2.1.5. Plantel. Durante a presente época tivemos 23 jogadores à nossa disposição, contudo, apenas 13 treinavam assiduamente. Destes 23, 2 eram guarda-redes, 8 eram defesas, 6 eram médios e 7 eram avançados. A maior parte do plantel (14) eram Sub-19, os restantes (9) eram de primeiro ano. Dois dos jogadores eram esquerdinos e os restantes destros. As posições que aqui coloco são as posições que os jogadores me indicaram ser de raiz, porque vi-me obrigado, por várias adversidades, a adaptar as posições de dez destes jogadores. Considero também importante referir que três destes jogadores jogam futebol há menos de três anos e apenas onze treinam comigo há mais de um ano. Este fator torna-se relevante porque apenas alguns dos nossos jogadores trabalharam segundo a metodologia que usamos. Visto que durante os cinco anos em que trabalhámos no clube nunca vimos nenhum treinador usar a mesma metodologia que nós (à exceção deste ano), temos sempre o cuidado de apresentar e explicar a nossa metodologia ao nosso plantel. Acredito que a consciência que os jogadores têm do funcionamento e intenções do nosso trabalho é um princípio chave para adquirirem as qualidades e comportamentos pretendidos. Atendendo aos objetivos a que nos propusemos no início da época parece-me importante referir que contámos com dois jogadores sub-17 e um Sub-16. Também será importante salientar que seis dos nossos jogadores participaram regularmente nos treinos e em alguns jogos da equipa sénior.. 18.

(29) 2.1.6. Competição. A nossa equipa esteve envolvida na 1ª e 2ª fases da 2ª Divisão Distrital da AFP. Tendo em consideração o esforço para melhorar a interação entre os escalões e a preparação dos jogadores, uma das medidas que tomámos esta época passa por promover todos os jogadores e treinadores na 2ª fase do campeonato. Ou seja, os jogadores de 2º ano de cada escalão treinam e competem com o escalão superior (em que irão estar no ano seguinte). Em alguns casos os treinadores também foram promovidos com o propósito de iniciarem a preparação do próximo ano. Atendendo ao fato de esta ser a minha última época no clube, isto significa que o trabalho a fazer na 2ª fase não me compete a mim, restringindo, este relatório à 1ª fase da competição. A 2ª Divisão Distrital de Sub-19 representa o nível competitivo mais baixo na Associação de Futebol do Porto. É dividida por séries, de modo a englobar todos os clubes do Distrito do Porto que não compitam a níveis superiores. Cada série pode ser constituída por doze a catorze equipas. Nós competimos na série 1, com doze outras equipas (a nossa série é constituída por treze equipas devido à desistência dos Dragões Sandinenses). De modo a estabelecer um ranking classificativo entre todas as equipas do distrito há a 2ª fase em que as séries são organizadas por classificação, ou seja, os primeiros classificados de cada série vão competir entre eles, bem como as equipas das restantes posições. O primeiro classificado de cada série será automaticamente promovido à divisão superior. O vencedor da série dos segundos jogará o play-off de promoção. Visto que competimos na divisão mais baixa nenhuma equipa será despromovida. 19.

(30) 2.1.7. Equipa Técnica. Este relatório visa uma reflexão sobre a época de 2014/2015 como treinador da equipa de sub-19 do CF S. Félix da Marinha. Durante esta época desempenhei também os cargos de coordenador da formação e treinador da equipa de sub-11 (cujos aspetos a referir serão limitados à pertinência do trabalho). A nossa equipa técnica era constituída por três treinadores, um principal e dois adjuntos. Para além disso trabalhámos também em conjunto com o treinador de guarda-redes da equipa sénior. Desempenhei, ao longo desta época: treinador adjunto da equipa de sub-19, de 1 de Agosto de 2014 até à oitava jornada, em 15 de Novembro de 2014, e, a partir desse momento passei a ser o treinador principal da mesma equipa até ao fim da primeira fase, 29 de Março de 2015. No início da época, o modelo de jogo da equipa foi criado por mim e supervisionado pelo meu colega, que começou como treinador principal, em conjunto com a equipa técnica do plantel sénior. Apesar de termos visões ligeiramente diferentes do que deve ser o jogo, em geral partilhávamos as mesmas ideias, o que facilitou a coordenação do modelo de jogo da equipa júnior à imagem da equipa sénior. Contudo, as preocupações que manifestamos no início da época mostraram-se um problema durante o período competitivo culminando em maus resultados para ambas as equipas. Durante esta primeira fase, eu era responsável por preparar os treinos e observar os jogos. A orientação dos treinos era dividida entre os três treinadores.. 20.

(31) A primeira vez que assumi o cargo de treinador principal foi na quarta jornada, em que o meu colega não pode estar presente por motivos pessoais, jogo este em que a equipa conseguiu a primeira vitória. Mais tarde, outros motivos levaram o treinador principal a abandonar o seu cargo. Perante o trabalho que vim a fazer enquanto seu adjunto, o meu colega sugeriu ao vice-presidente do futebol juvenil que eu pudesse assumir a equipa sobre a sua supervisão. A primeira função que estabeleci foi definir objetivos concretos que motivassem os jogadores a procurar a vitória novamente. Fi-lo através de uma análise detalhada do nosso calendário, tentando explicar-lhes que tínhamos defrontado todas as melhores equipas até ao momento, e através de uma previsão de resultados consegui convencê-los de que até metade da época conseguiríamos atingir uma classificação mais “justa” e consentânea com a nossa parte. Tenho consciência de que todos os treinadores que orientaram a nossa equipa têm este discurso no início da época, tentando convencer os jogadores de que podem vencer todos os jogos, por isso, tentei uma abordagem um pouco diferente, mais realista. Neste momento a nossa equipa estava classificada no 11º lugar, e os jogadores pareciam não acreditar na vitória. Contudo, após analisar o calendário apercebi-me de que tínhamos defrontado os adversários mais difíceis, o que justificava, em parte, a nossa classificação, tendo até à altura jogado contra seis dos primeiros sete classificados e conquistado quatro pontos. Partindo do pressuposto que venceriam os últimos dois jogos (que seriam contra os dois últimos classificados) garanti aos jogadores que tinham capacidade para não perder nenhum dos outros três jogos e ganhar um deles, conseguindo com isso o sétimo lugar até metade da época. O meu objetivo nesta previsão não era convencer os jogadores que seriamos capazes de magicamente vencer todos os jogos, mas sim mostrarlhes que no pior dos casos, conseguiríamos atingir os nossos objetivos se dessemos passos pequenos no sentido certo. 21.

(32) A equipa fez, nesta fase, grandes progressos, chegando a criticar (em termos irónicos) a minha previsão, já que tinham conseguido o sétimo lugar na penúltima jornada. Neste momento, fiz também uma análise ao jogo demonstrado pela nossa equipa, ao que concluí que apesar de a equipa ter o modelo de jogo muito bem assimilado revelava dificuldades a desequilibrar os adversários. Posto isto, decidi remodelar o planeamento do treino e focar-me muito mais no plano estratégico e em ações ofensivas perto da área adversária. Visto que passei a ser o único membro da equipa técnica a acompanhar os jogos, deixou de ser possível filmar os jogos, ao que a observação do jogo passou a ser feita apenas de memória.. 22.

(33) 2.2. Contexto Funcional. As funções da nossa equipa técnica estavam distribuídas da seguinte forma:.  Criação e ajuste do Modelo de Jogo – Atendendo aos objetivos definidos como coordenadores, o Modelo de Jogo criado esta época tinha em vista a identidade apresentada pela equipa sénior. Nesse sentido, eu e o treinador principal trabalhámos em conjunto com o treinador da equipa sénior;.  Plano estratégico – o que pretendo dizer com plano estratégico, são todas as alterações que fazemos ao nosso Modelo de Jogo para nos adaptarmos ao adversário. Esta função é desempenhada pelo treinador principal;.  Preparação e orientação dos treinos – este ponto era de um modo geral preparado por mim. Eu defino o tempo que dedicamos a cada aspeto do treino, sendo que o tempo dedicado a bolas paradas e preparação ofensiva individual estava ao encargo dos outros treinadores. Visto que nenhum de nós tem conhecimentos suficientes para proporcionar treinos de qualidade aos nosso guarda-redes, coordenamos com a equipa técnica dos seniores o seu treino individual. As restantes componentes do treino eram preparadas por mim;.  Preparação psicológica da equipa – apesar de os três contribuirmos para as palestras da equipa, é o treinador principal que orienta a maior parte;.  Análise do Jogo – a análise do jogo é feita por mim. Eu comecei a época como treinador adjunto, estando encarregue da preparação dos treinos, análise do jogo e criação e ajuste do Modelo de Jogo. A partir do momento em que assumi o cargo de treinador principal fiquei responsável pelo plano estratégico e da preparação psicológica da equipa, para além das funções que já assumia antes.. 23.

(34) 2.3. Macro contexto. 2.3.1. Futebol. O Deporto assume, nos dias de hoje, um papel importante no quotidiano do ser humano, seja pela sua prática, ou pelo entretenimento gerado pelo mesmo, movendo massas a contemplar performances de grupos ou até indivíduos. Uma das características que nos diferencia dos animais irracionais, e a mesma que representa a razão do meu apreço pelo mundo desportivo, é a necessidade de auto-superação. O Homem é o único animal que, em condições normais, não necessita de correr ou saltar, contudo fá-lo, porque sente a necessidade de conhecer e ultrapassar os seus limites (Garcia, 2004). Durante a minha adolescência, na passagem da compreensão da prática desportiva como um evento lúdico para uma representação social e antropológica, descobri a auto-superação e a capacidade de fazer emergir ou potenciar esta necessidade nos outros, como o motor da minha dependência pelo Desporto. Não foi para mim difícil definir, no fim do ensino secundário, a que queria dedicar a minha vida. A paixão que sinto pelo futebol não começou com o sonho de me tornar treinador. Como qualquer jovem, era fascinado pelas habilidades e posição de ribalta em que eram colocados os melhores jogadores e, como tal, sonhava fazer parte das estrelas. Quando me vi obrigado a afastar da prática, com 11 anos, a minha paixão não desapareceu, continuando a absorver tudo o que este desporto tem para me dar. Tornei-me um observador assíduo de todos os jogos que podia ver, tentando saciar a vontade que tenho de continuar ligado à modalidade, 24.

(35) inspirado pelo FCP de José Mourinho, vencedor da UEFA e da Liga dos Campeões Europeus,a equipa dos “Galáticos” do Real de Madrid e a vivência do Europeu de 2004, no nosso país. Este é o período que guardo com mais estima nas minhas memórias futebolistas e que me relembram da paixão que sinto pelo jogo. À medida que começava a compreender melhor as dimensões do jogo, o meu interesse começou a orientar-se num sentido diferente, aprendendo a ver o jogo longe da bola e a ter uma visão mais ampla do mesmo, com novos ídolos, como José Mourinho e Carlo Ancelotti. O entendimento do que deve ser um treinador de futebol tem sido constantemente renovado. Atualmente, esta função reconhece a necessidade de conjugação de várias áreas científicas para a obtenção dos seus objetivos. Para além do treinador estar encarregue da organização, programação, e supervisão das dimensões do jogo que podemos identificar em campo, o trabalho de um treinador engloba outros setores, como a comunicação social, a gestão quotidiana da equipa, incluindo aspetos como a saúde, higiene, dieta, formação, educação, relações familiares dos jogadores, entre outras (FIFA, 2008). Um treinador não é, hoje em dia, um mero estratega, mas sim um gestor de todo o seu conhecimento, como referiu José Mourinho na conferência de imprensa de apresentação da Pós-Graduação em Treino de Futebol de Alto Rendimento na FMH. As conclusões que cada um tira ao observar um jogo e a maneira como o compreende, passam por um filtro criado pelas experiências e conhecimentos que este possui. Consideremos dois adeptos que se juntam todos os fins-desemana no café para ver e discutir os jogos da equipa que apoiam. Jogaram na mesma equipa durante a infância, um defesa e o outro avançado. Se a equipa num momento da época apresentar falhas em ambos os setores, o defesa criticará os erros defensivos e o avançado os erros ofensivos. Tudo depende da perspetiva com que observamos o jogo, e para que orientações o nosso “olho” foi treinado.. 25.

(36) Só podemos ter sucesso se enchermos as nossas experiências de momentos futebolísticos e análises imparciais, que exijam a consideração da imensidão de possibilidades complexas dentro dos princípios e regras que definem o jogo (Garganta, 2000). Foi também nesta altura que surgiu a minha paixão pela tática, que aumentou exponencialmente durante o meu período na FADEUP, onde me foi apresentada uma metodologia que baseia a construção de um modo de jogar específico baseado na transmissão clara e assertiva das ideias do treinador, a Periodização Tática. O futebol apresenta-se como um Jogo Desportivo Coletivo e, pela alta complexidade, um jogo inteligente. É marcado pelos atributos psicológicos, técnicos e físicos dos jogadores, bem como pela dimensão organizativa, que tem vindo a ganhar importância na maneira como concebemos o jogo. A Periodização Tática visa, através da contribuição de várias áreas científicas, entender e conceber o jogo como um sistema complexo.. 26.

(37) 2.3.2. Periodização Tática. A Periodização Tática pretende, através de uma matriz conceptual e de um conjunto de princípios metodológicos, facilitar e potenciar a criação de um modo de jogar coletivo que seja interpretado por todos os jogadores da equipa (Pivetti, 2012). Cada vez mais autores (Queiroz, 1986; Frade, 1989; Jorge, 1989; Monge da Silva, 1989; Grehaigne, 1992; Garganta & Pinto, 1994; citado por Oliveira, 2004) têm caracterizado o Futebol como um jogo tático, que se manifesta pela interação das diferentes dimensões. Nesse sentido, a tática surge como a dimensão coordenadora de todo o processo, e a tomada de decisão o pilar do trabalho efetuado sobre o Modelo de Jogo. Esta dimensão integra as interações entre as restantes. O treinador deve ter as suas convicções táticas que norteiam todo o processo de ensino-aprendizagem que é o treino. Para aperfeiçoar a operacionalização do treino, com o objetivo de melhorar a transferência das ideias do treinador para equipa e respetivos jogadores, este baseia-se na criação de contextos que estimulem uma tomada de decisão orientada num sentido comum, bem como as capacidades requisitadas por esses contextos (Oliveira, 2004). A alta relação entre o treino e o jogo é uma das características representantes da metodologia, sendo a seguinte frase um cliché do nosso quotidiano: “treinamos como jogamos e jogamos como treinamos”, elevando a importância da consciência das nossas decisões durante a prática. Num ambiente complexo, a gestão eficiente da regulação do processo depende de um curso de ação correto que pode ser melhorado através de previsão e planeamento (Damasio, 2000; citado por Carvalho, 2006).. 27.

(38) Vemos, hoje em dia, o treino como um processo de aprendizagem em que se pretende transmitir as ideias do treinador (princípios específicos do modelo de jogo) para que a equipa consiga resolver os problemas que o jogo proporciona em função de uma lógica construída e de um modo concomitante. Pretende-se, acima de tudo, que os jogadores tenham consciência do contexto de jogo em que se encontram e que saibam em qualquer caso que decisões podem e não podem tomar, mediante os interesses (princípios) de cada colega e da equipa como unidade. Através da divisão do jogo em momentos, zonas e a equipa em escalas é possível estabelecer princípios de jogo e criar um rede de relações coerentes que representam a identidade única de cada equipa. Eu baseio a minha divisão do jogo em momentos segundo alguns autores (Frade, 1989; Louis Van Gaal cit Kormelink & Seeverens, 1997; Mourinho, 1999; Valdano, 2001 citado por Oliveira, 2004) que consideram que o jogo deve ser dividido em quatro momentos, caracterizados no mesmo trabalho da seguinte forma: O momento de organização ofensiva consiste nos comportamentos dos jogadores quando têm a posse de bola com o objetivo de criar situações ofensivas e arranjar uma maneira de marcar golo (Oliveira, 2004). O momento de transição defensiva trata os segundos seguintes à perda de bola. Uma particularidade dos momentos de transição é o fato de a equipa adversária estar desorganizada, o que pode ser aproveitado de várias formas (Oliveira, 2004). O momento de organização defensiva consiste nos comportamentos dos jogadores quando não têm a posse de bola e o seu objetivo é organizar-se de maneira a que o adversário não consiga criar situações ofensivas e marcar golo (Oliveira, 2004). O momento de transição ofensiva trata os segundos seguintes à recuperação da posse de bola, sendo que a equipa adversária se encontra desorganizada, dando-nos oportunidade de aproveitar esse momento para nosso proveito (Oliveira, 2004). 28.

(39) De maneira a explicar melhor o que entendo pelas escalas da equipa, suponhamos que estamos a definir princípios para uma equipa que em organização defensiva procure pressionar e ganhar a bola rapidamente, forçando o erro adversário, num sistema 1-4-3-3 (Oliveira, 2004): . Coletiva – Esta escala engloba a totalidade da equipa; Pretende-se definir o comportamento do bloco, a nível de largura e profundidade; Perante os nossos objetivos posso definir subprincípios como o posicionamento e um bloco subido e largo;. . Intersetorial. –. Procuramos. nesta. escala. os. subprincípios. que. estabelecem o comportamento dos nossos setores e as relações entre os mesmos, e como devem reagir ao comportamento do adversário; No nosso caso, seria coerente pedir que houvesse pouca distância entre os diferentes setores, e que o setor do meio se aproxime do setor mais avançado, de modo a contrariar a superioridade numérica adversária; . Setorial – Define a relação dos jogadores do mesmo setor; Podia no nosso caso definir que o setor defensivo se posicionasse em linha, e bem perto uns dos outros para facilitar as dobras defensivas, dando oportunidade a um destes jogadores sair rápido na pressão e ter a retaguarda protegida e tentar apanhar o adversário em fora de jogo;. . Grupal – Trata a relação do jogador, perante colegas próximos; Visto que o nosso objetivo é recuperar a bola rapidamente, é importante manter a pressão nos dois defesas centrais; supondo que estes se encontram bastante afastados um do outro, impossibilitando o nosso avançado de os pressionar aos dois, posso definir uma dinâmica entre este e o médio mais avançado, de maneira a que consigamos concretizar os nossos objetivos;. . Individual – Coordena as decisões do jogador perante as suas características, o momento e zona de jogo em que se encontra e os comportamentos do adversário; Posso definir que o nosso avançado pressione os defesas centrais sempre por dentro, obrigando-os a jogar a bola para a frente ou para o corredor lateral.. 29.

(40) Todo este processo tem como objetivo a criação de uma identidade de jogo única para a nossa equipa, que favoreça os nossos pontos fortes e esconda os nossos pontos fracos. Contudo, num jogo de futebol, esta não se revela uma tarefa simples. A Periodização Tática procura trabalhar e conceptualizar o jogo compreendendo-o e fazendo-o emergir numa perspetiva complexa.. 30.

(41) 2.3.2.1. Uma nova abordagem ao jogo. Como JDC, o Futebol assume uma complexidade que deve ser considerada e potenciada por uma abordagem sistémica ao jogo (Silva, 2008). Procuramos interpretar os padrões complexos exibidos pela relação entre dois grupos, cada um com a sua identidade, com o mesmo fim e meios diferentes, que se defrontam num ambiente por natureza aleatório e cuja ligação torna o jogo tão interessante (Garganta, 1997). Este carácter exige uma abordagem que consiga de alguma forma encontrar e criar padrões que dêem algum sentido ao jogo, evitando que este se resuma a uma sequência de eventos aleatórios. O seu entendimento tem conhecido abordagens que satisfazem essa necessidade. O uso do termo “sistema”, como agregado de partes interativas e interdependentes que,. conjuntamente, formam. um. todo. unitário. com. determinado objetivo e efetuam determinada função (Bertalanffy, 1976), tem vindo a ser cada vez mais utilizado para conceptualizar a compreensão dos jogos desportivos de maior complexidade (Garganta, 1997).. 31.

(42) 2.3.2.2. Complexidade. “A complexidade refere-se à condição do universo que é inerente mas que, no entanto, é demasiado rica e diversificada para a compreendermos a partir das perspetivas mecanicistas ou lineares comuns. A complexidade trata da natureza da emergência, inovação, aprendizagem e adaptação” (Santa Fé Group, 1996 citado por Silva, 2008). O “Paradigma da Complexidade” surge em revés da conceção científica tradicional, analítica e reducionista ou “Paradigma da Simplificação”, já que estes não são coerentes com a realidade complexa em que vivemos (Morin, 1990). Para compreender as limitações do pensamento do reducionista consideremos um sistema e os seus constituintes. Não é possível entender a sua organização se considerarmos apenas a totalidade, ignorando a diversidade dos seus constituintes, ou as características dos mesmos separadamente, sobrepondo a diversidade. Percebemos então a necessidade de ir mais além (Morin, 1990). Não podemos refutar que, em última análise, todos os organismos podem ser reduzidos a átomos e moléculas, podemos, contudo, afirmar que há algo, não-material e irredutível no funcionamento de um sistema complexo padrão de organização (Capra, 1996). A. complexidade. encara. a. nossa. realidade. com. constituintes. heterogéneos inseparavelmente associáveis (paradoxo do uno e do múltiplo) que geram acontecimentos e acasos impossíveis de serem simplificados ou reduzidos (Morin, 1990). A causalidade linear explica-nos que todos os acontecimentos são consequência de outro acontecimento prévio, estabelecendo uma linha de acontecimentos que remonta às condições iniciais do universo. Este princípio 32.

(43) revelou-se insuficiente para explicar alguns acontecimentos de maior complexidade. As suas propriedades não permitem ser deduzido a partir da análise separada dos seus elementos. A causalidade complexa surge como uma tentativa de explicar certos acontecimentos de maior complexidade, como consequência da estruturação dos padrões em rede de que são constituídos os sistemas (Capra, 1996). O pensamento complexo aborda a construção do conhecimento sistémico a partir da interação de todos os elementos. A compreensão é estabelecida. a. partir. de. uma. rede. de. elementos. heterogéneos. interdependentes (Morin, 1990). Considero justo referir que este paradigma não desvaloriza o anterior. Pelo contrário, apoia-se no conhecimento que este nos concebeu para conceptualizar uma perspetiva sistémica da nossa realidade, em que reconhece a existência de duas estruturas: uma formal, que conta com os elementos constituintes de um sistema, e outro funcional, que se debruça sobre os processos e relações entre os mesmos (Tavares, 1996, citado por Castro, 2014). O Futebol, enquanto jogo desportivo coletivo, pode, e deve, ser analisado segundo este paradigma da complexidade. É caracterizado pelo confronto entre duas equipas, que são constituídas por dois conjuntos que procuram superiorizar-se dentro de um conjunto de ações permitidas pelas leis de jogo (Oliveira, 2004). Este contexto cria no jogo problemas motivados pela interação permanente de relações de cooperação e de oposição, relevando a importância do coletivo (Deplace, 1979 citado por Oliveira, 2004).. 33.

(44) 2.3.2.3. Sistemas. A teoria geral dos sistemas não procura uma resolução rápida para os problemas colocados na organização de um sistema, mas identificar propriedades, princípios e leis de qualquer tipo de sistema que permitam criar condições de aplicação numa realidade empírica. Para além da natureza dos seus componentes, analisa também as relações e forças entre eles, definindo um sistema como um complexo de elementos em interação (Bertalanffy, 1976). A diferenciação entre uma abordagem reducionista ou complexa tem sido debatida em vários ramos, um dos quais o Futebol. Esta abordagem surge face a três necessidades que o nosso desporto, perspetivado de uma forma sistémica, partilha: . Reconhecer uma unidade complexa constituída por um complexo de relações entre todas as partes, caracterizando as propriedades dinâmicas entre os elementos de um todo, dando uma característica de totalidade aos sistemas complexos (Grehaigne; Bouthier; David, 1997 citado por Pivetti, 2012);. . Corresponder. à. necessidade. multidisciplinar. exigida. para. a. compreensão da complexidade das interações que estabelecem a totalidade (Grehaigne; Bouthier; David, 1997 citado por Pivetti, 2012); . Criar uma linguagem comum entre as diferentes disciplinas que ajudam a explicar os fenómenos complexos (Grehaigne; Bouthier; David, 1997 citado por Pivetti, 2012). Segundo o novo paradigma científico, qualquer entidade individualizada. pode ser considerada um organismo, e qualquer organismo é um sistema ou faz parte de um (Bertalanffy, 1976). A construção de uma visão do nosso mundo em sistemas perspetiva a sua análise e compreensão sobre o estudo de sistemas abertos (Bertalanffy, 1976).. 34.

(45) Segundo (Bertrand & Guillemet, 1994, citado por Oliveira, 2004), podemos apontar alguns pressupostos que caracterizam qualquer sistema: . Abertura: enquanto num sistema fechado os seus processos param quando este atinge um estado de equilíbrio (determinado pelas condições iniciais), num sistema aberto os processos continuam constantemente sem que sem que este tenha descanso;. . Complexidade: o conjunto de interações entre cada um dos seus elementos e a relação de reciprocidade com o meio envolvente garante um contexto de alta complexidade;. . Finalidade: apesar da heterogeneidade dos elementos do sistema, estes interagem em função de um objetivo;. . Tratamento: relação dinâmica de reciprocidade entre o sistema e o meio, promovendo trocas entre eles;. . Totalidade: dá relevância à interação entre os elementos do sistema, tornando cada sistema único. Se as interações entre os elementos forem mais eficazes (sistema mais organizado) o todo será maior do que a soma das suas partes;. . Fluxo: refere-se à quantidade de interações entre os elementos do sistema, entre o mesmo e o meio e vice-versa;. . Equilíbrio: o seu estado de equilíbrio não é atingido consoante as condições iniciais do sistema, sendo que depende das condições do próprio sistema; Isto significa que um organismo funciona de forma ativa, com ou sem estímulos externos, sendo que estes não estimulam reações que já lhe são inerentes, mas modificam os processos num sistema autonomamente ativo; Num jogo de futebol, cada jogador estabelece uma relação com o meio.. As suas decisões serão tomadas mediante um contexto que é providenciado pelo decorrer do jogo e, ao mesmo tempo, todas as suas decisões afetarão o destino do jogo. O mesmo acontece entre um jogador e os restantes colegas, sendo que este tem liberdade de tomar as suas decisões, que devem ser orientadas pelo. 35.

(46) Modelo de Jogo da equipa, contudo, a equipa terá de saber ajustar o seu comportamento segundo as decisões de cada um dos seus jogadores. Entendemos então que um sistema não pode ser compreendido pela soma das suas partes, mas sim pelas propriedades emergentes do seu funcionamento. É importante estabelecer ligações entre os elementos, sob pena de perder a essência do bolo, ou da equipa de futebol. De maneira a simplificar este sistema de relações, tomaremos o seguinte exemplo: Consideremos o nosso defesa central. Que contexto foi providenciado, pelo jogo, a este jogador? Tem a posse de bola, em frente à nossa grande área, com ambos os defesas laterais em amplitude sem marcação. O jogador está num contexto que lhe é providenciado pelo meio, e a sua decisão, de colocar a bola no lado esquerdo ou direito, irá afetar o decorrer do jogo. De certa forma, este jogador poderia decidir fazer o que bem entendesse, contudo, já implícito, este passará para um dos defesas laterais, de acordo com os princípios específicos do Modelo de Jogo que lhe foram instruídos. É isto que a equipa está à espera que o jogador faça, o que o torna responsável pela totalidade do sistema, da mesma forma que se este não tivesse em posse, teria de se deslocar para uma zona mais recuada do campo, oferecendo uma linha de passe segura, mais uma vez, orientado pelos princípios específicos do Modelo de Jogo. Toda a equipa deve ter consciência dos fins e respetivos meios, de modo a que saibam todos reagir de forma coerente aos contextos de jogo. O defesa central sabe que não pode conduzir a bola e tentar fintar os adversários (caso o Modelo de Jogo condene tais ações), porque é o jogador mais recuado e se perder a bola, a equipa certamente sofrerá um golo. Estes ajustes às condições do jogo devem acontecer no processo tanto ofensivo como defensivo. Entendemos o jogo como sistémico, já que o seu entendimento assenta na compreensão de um sistema complexo e dinâmico de relações (Júlio. 36.

(47) Garganta, 1999). Esta consciência permite-nos entender a sua natureza do jogo e a relação que estabelecemos com a mesma.. 37.

(48) 2.3.2.4. Funcionamento dos sistemas. O entendimento de um sistema e o seu funcionamento não são possíveis sem compreender conceitos como padrão de organização, uma configuração de relações característica de um sistema em particular (Capra, 1996). De acordo com o “Paradigma da Simplificação” a análise feita aos sistemas tem um teor quantitativo, já no estudo de padrões visa-se uma análise qualitativa. Procuramos caracterizar as relações entre os constituintes de um sistema, sendo que sem elas, este deixa de existir (Morin, 1990). Apesar da imparidade de cada sistema, podemos determinar uma propriedade comum: todos os padrões estão estruturados em rede (Capra, 1996). Se considerarmos um jogo de Futebol, conseguimos identificar alguns padrões de ambas as equipas e, se calhar em certos momentos, prever o desenrolar de uma ou outra ação. Contudo, não conseguimos prever o desenrolar do jogo com precisão. Isto. deve-se. à. complexidade. e. não-linearidade. dos. sistemas. organizados em rede. Uma particularidade desta propriedade é o fato de uma linha pode percorrer um caminho cíclico, o que dá aos sistemas uma capacidade de se auto-organizarem (Foerster, 1961). Este conceito é muito importante para o funcionamento de um sistema que funciona em condições de não-equilíbrio, como o caso do Futebol. Apesar de esta propriedade cíclica ser comum em todos os sistemas complexos, cada um tem o seu método de auto-organização (Foerster, 1961). Passamos a entender a sequência de eventos de um sistema de forma não linear, o que nos leva à caracterização do jogo como um fenómeno caótico (Garganta, 1997). 38.

(49) 2.3.2.5. Futebol como um evento caótico, determinístico. O termo caos não tem, em termos científicos, o significado que, normalmente, lhe atribuímos. Se pesquisarmos a palavra caos no dicionário da língua portuguesa a definição que encontramos é a seguinte: estado confuso dos elementos cósmicos antes da suposta intervenção de um demiurgo ou de um princípio organizador do Universo; desordem; balbúrdia; confusão; indiferenciação; Sabemos que em sistemas dinâmicos complexos, os resultados podem ser de carácter imprevisível, já que estão sujeitos a perturbações derivadas da elevada quantidade de parâmetros e variáveis sobre a qual este se desenvolve. Mesmo em sistemas sem perturbações, sabemos que qualquer erro na determinação das condições iniciais pode ser amplificado. No entanto, é sempre suscetível às suas condições iniciais, independentemente das perturbações que ocorrem no mesmo, devido aos processos de autoorganização (Frade, 1989; in Garganta, 1997). Um jogo de Futebol trata-se de um sistema dinâmico complexo. Não é previsível e o sistema em si está sempre dependente das suas condições iniciais. Visto que não podemos controlar este caos nem prever os acontecimentos futuros, mudamos a nossa abordagem. Procuramos criar a ordem a partir da desordem. Consideramos, por isso, o Futebol um fenómeno caótico determinístico já que os seus acontecimentos são determinados consoante a ligação entre o caos e a ordem (Garganta, 2000). Dentro deste ambiente caótico, o jogador encontra-se numa rede de relações de cooperação e oposição, exigindo uma participação psíquica aliada à participação motora. Os momentos mais decisivos de um jogo de futebol são quase sempre provenientes de uma boa decisão tomada em questão de segundos, por vezes em frações de segundo. 39.

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