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ESHC019-17 - História do Pensamento Econômico

Quadrimestre: 3º. 2017 - Carga Horária: 48h

Recomendação: Pensamento Econômico e

Introdução à Economia

Prof. Maurício Martinelli Luperi –

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Aula 14 – A Ideologia Neoclássica e o Mito do Mercado Autorregulador Os Escritos de John Maynard Keynes

- A economia utilitarista atingiu seu estado mais elevado, mais complexo e esteticamente mais elegante na defesa ideológica neoclássica do capitalismo laissez-faire.

- Os três principais elementos ideológicos do utilitarismo neoclássico eram: (1) a teoria da distribuição baseada na produtividade marginal, que retratava o capitalismo concorrencial como um ideal de justiça distributiva; (2) o argumento da “mão invisível”, que retratava o capitalismo como um ideal de racionalidade e eficiência e (3) a fé na natureza automática e autor regulável do mercado, que demonstrava que as principais funções do governo deveriam ser fazer cumprir os contratos e defender os poderes e os privilégios da propriedade privada.

- Cada um desses três pilares do conservadorismo utilitarista representava um disfarce das realidades do capitalismo, mas promovia a aceitação geral da busca incontida do lucro.

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- Os dois primeiros princípios eram uma bênção pura e simples para os capitalistas. Obscureciam a realidade de modo tal que promoviam a fé do povo em suas vantagens e que não prejudicava de forma alguma o funcionamento do capitalismo ou a obtenção dos lucros. O terceiro princípio (a automaticidade do mercado) era uma bênção pela metade. - Nos primórdios da industrialização capitalista, a busca de lucros industriais pelos

capitalistas era frequentemente obstruída por governos que representavam os antigos interesses dos comerciantes e dos proprietários de terras.

- Além disso, grande parte da antipatia que os primeiros capitalistas tinham dos governos era uma consequência direta dos muitos atos corruptos, despóticos, caprichosos e tirânicos de vários reis europeus, bem como de atos do Parlamento inglês, que, nitidamente, não era representativo, sendo muitas vezes despótico.

- Portanto, sob o estandarte do laissez-faire, os capitalistas puderam fazer uma campanha em favor de governos que promovessem mais efetivamente a busca irrestrita do lucro, fazendo, contudo, com que tais campanhas parecessem esforços humanitários, cujos fins eram libertar o povo do abuso de governos tirânicos.

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- Portanto, sob o estandarte do laissez-faire, os capitalistas puderam fazer uma campanha em favor de governos que promovessem mais efetivamente a busca irrestrita do lucro, fazendo, contudo, com que tais campanhas parecessem esforços humanitários, cujos fins eram libertar o povo do abuso de governos tirânicos.

- O argumento em favor dos mercados auto ajustáveis (Lei de Say ) era um argumento eficaz para a limitação das funções dos governos da época. No entanto, o sistema capitalista de mercado nunca se ajustou tranquila e automaticamente ao equilíbrio com pleno emprego.

- Nunca houve, em realidade, um “leiloeiro” Walrasiano, e o sistema capitalista de mercado sempre foi anárquico: a história do capitalismo é uma história de instabilidade econômica.

- Em fins do século XIX, o desenvolvimento de mercados de capitais mundiais e os progressos na produção e nos transportes provocaram imensas concentrações de poder industrial em corporações gigantescas, trustes e cartéis. Houve duas consequências importantes dessa maior concentração industrial: primeiro, a concorrência não regulamentada tornou-se extremamente custosa e prejudicial para essas empresas gigantescas. Segundo, a anarquia do mercado ficou mais grave, porque as corporações gigantescas reduziram significativamente qualquer grau de flexibilidade e capacidade de ajuste que o mercado apresentava anteriormente. As depressões ficaram mais longas e mais graves e passaram a ocorrer com mais frequência.

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- Por conseguinte, a crença no mercado autorregulado, que influenciava as políticas dos governos, se tornou cada vez mais custosa para os capitalistas. Além disso, embora no século XVIII e no começo do século XIX os capitalistas ainda não tivessem controlado inteiramente os governos existentes, a situação tinha mudado em fins do século XIX e início do século XX.

- Os governos dos países capitalistas estavam, firmemente, nas mãos dos capitalistas. Nessas circunstâncias, não é de admirar que os capitalistas se tenham voltado para o governo como o único meio possível de escapar da concorrência ruinosa de fins do século XIX e das depressões extremamente custosas resultantes da anarquia do mercado.

- Enquanto isso, a instabilidade do capitalismo piorou e a fé no mercado autoajustado ficou cada vez mais custosa para os capitalistas (bem como para o resto da sociedade).

- Na primeira metade do século XIX, por exemplo, os Estados Unidos só tiveram duas crises econômicas graves (que começaram em 1819 e em 1837) e a Inglaterra teve quatro (que começaram em 1815, 1825, 1836 e 1847).

- Na última metade do século, as crises ficaram mais graves e aumentaram para cinco, nos Estados Unidos (começando em 1854, 1857, 1873, 1884 e 1893), e seis, na Inglaterra (começando em 1857, 1866, 1873, 1882, 1890 e 1900). No século XX, a situação ficou pior. Depressões cada vez mais frequentes assolaram o capitalismo, tendo culminado com a Grande Depressão dos anos 1930.

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- A Grande Depressão dos anos 30 foi um fenômeno mundial, que afetou todas as grandes economias capitalistas. Nos Estados Unidos, por exemplo, em 24 de outubro de 1929 (um dia que ficou conhecido como a “quinta-feira negra”), a Bolsa de Valores de Nova York teve uma queda brusca nas cotações dos títulos, fenômeno que acabou destruindo toda a confiança na economia.

- Antes de encerrado o processo, milhares de empresas tinham ido à falência, milhões de pessoas tinham ficado sem emprego e tinha início uma das maiores catástrofes da História dos Estados Unidos.

- Entre 1929 e 1932, houve mais de 85.000 falências de empresas; mais de 5.000 bancos suspenderam suas operações; os valores das ações na Bolsa de Valores de Nova York caíram de US$87 bilhões para US$19 bilhões; o desemprego aumentou para 12 milhões, com quase um quarto da população sem meios de se sustentar; a renda agrícola caiu a menos da metade e o produto industrial caiu quase 50%.

- Os Estados Unidos tinham passado do mais próspero país do mundo a um país em que dezenas de milhões de pessoas viviam em estado de pobreza desesperada e abjeta. Os negros e outros grupos minoritários foram os mais atingidos. A proporção de negros desempregados era de 60% a 400% maior do que a proporção de negros da população total.

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- Nesta situação desastrosa, ficou claro, para muitos economistas neoclássicos (mas, de forma alguma, para todos eles), que o mito do mercado autoajustado tinha perdido sua utilidade ideológica. A anarquia desregrada do mercado estava se transformando em uma ameaça à própria existência do capitalismo. Era óbvio, para muitos economistas de todos os credos, que era preciso tomar medidas drásticas, em escala que só poderia ser posta em prática pelo governo.

- Entretanto, a economia neoclássica, que dava ênfase ao automatismo do mercado, não oferecia cura alguma para a moléstia do capitalismo. De acordo com a teoria neoclássica, as depressões não ocorriam, de modo que não era preciso remediá-las. Se a economia neoclássica, com sua defesa bem elaborada do status quo, quisesse ter alguma utilidade para resolver essa crise, teria de ser drasticamente modificada.

- A essa tarefa dedicou-se um dos mais brilhantes economistas conservadores do século XX: John Maynard Keynes (1883-1946). Em sua obra intitulada A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda , publicada em 1936, Keynes procurou mostrar o que tinha acontecido com o capitalismo, para que se pudessem tomar medidas com vistas a preservar o sistema.

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Keynes e a Defesa da Teoria da Distribuição, Segundo a Produtividade Marginal

- Keynes concordava basicamente com a teoria da distribuição neoclássica fundamentada na produtividade marginal (de fato, como veremos, ele concordava com quase todos os princípios da teoria neoclássica, exceto a crença de que a demanda agregada sempre seria igual à oferta agregada, no nível de renda de pleno emprego). - Começou a Teoria Geral afirmando que a “teoria do emprego” neoclássica (ou clássica, como ele se referia a ela)

se baseava “em dois postulados fundamentais”. O primeiro deles era que “o salário é igual ao produto marginal do trabalho”. Quando afirmou que discordava da economia neoclássica, Keynes teve o cuidado de reafirmar ao leitor que concordava com seu primeiro postulado – de que os trabalhadores recebiam o valor de seu produto marginal:

“Ao enfatizar nossa divergência do sistema clássico, precisamos não nos esquecer de um ponto importante, com o qual concordamos. Mantemos o primeiro postulado, sujeito apenas às mesmas ressalvas que na teoria clássica, e temos que parar um momento para examinar o que isto acarreta.

Isto significa que, com determinada organização, com determinados equipamentos e com determinada técnica, os salários reais e o volume de produção (e, portanto, o emprego) estão correlacionados de modo singular, de tal maneira que, de modo geral, o aumento do emprego só pode ocorrer acompanhado de uma queda dos salários reais. Desse modo, não estou duvidando deste fato vital que os economistas clássicos declararam (acertadamente) ser irrevogável… Assim, se o emprego aumentar, então a remuneração por unidade de trabalho, em termos de mercadoria-salário, terá, a curto prazo e de modo geral, que baixar e os lucros terão que aumentar.”

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- Pode parecer que Keynes propusera uma teoria do emprego idêntica à de seus contemporâneos neoclássicos e que sua recomendação para aumentar o emprego era idêntica à deles, quer dizer, que os salários deveriam diminuir e que os lucros deveriam aumentar. Isso é verdade em parte.

- Keynes caiu em contradição. Como os neoclássicos, Keynes argumentou que, para aumentar o emprego, os salários teriam de baixar e os lucros teriam de aumentar (e muitos conservadores ignorantes da época achavam que Keynes era um radical!).

- Se o comportamento maximizador dos lucros motivasse os capitalistas a empregar trabalhadores até seu salário igualar o valor de seu produto marginal (como achavam Keynes e todos os economistas neoclássicos), a diminuição do salário real dos trabalhadores seria a única resposta para o desemprego. Keynes queria concordar com os neoclássicos e, ao mesmo tempo, discordar deles.

- Fez isso de uma forma muito pouco convincente. Argumentou que os salários

- reais poderiam ser diminuídos de duas maneiras. Primeiramente, o salário nominal poderia ser baixado e os preços dos bens-salário poderiam permanecer constantes ou baixarem mais lentamente (o que a maioria dos economistas neoclássicos recomendava).

- Em segundo lugar, o preço dos bens-salário poderia aumentar e os salários nominais permanecerem constantes ou aumentar mais lentamente. Keynes argumentava que os trabalhadores nunca aceitariam o primeiro método de redução de seus salários reais, mas aceitariam o segundo método de modo mais ou menos pacífico.

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- O argumento não é convincente, porque, em suas negociações salariais, os trabalhadores, de modo geral, estão tão preocupados com o custo de vida quanto com seus salários nominais.

- O argumento não é convincente, porque, em suas negociações salariais, os trabalhadores, de modo geral, estão tão preocupados com o custo de vida quanto com seus salários nominais. Quando os trabalhadores têm força nas negociações, em geral insistem em que os aumentos dos salários nominais compensam qualquer aumento do custo de vida.

- Além do mais, na situação de desamparo em que se encontravam na década de 1930, milhões de trabalhadores estavam procurando, com unhas e dentes, agarrar qualquer emprego que lhes pagasse um salário com que pudessem manter-se.

- Se os trabalhadores que estavam empregados em 1929, antes do começo da depressão, estivessem recebendo o equivalente ao valor de seu produto marginal, como Keynes achava que estavam, a queda brusca de empregos na década de 1930, com um nível relativamente constante de capital físico, teria de ter resultado em um aumento substancial da produtividade marginal do trabalho, de acordo com a lógica da teoria da distribuição segundo a produtividade marginal, que era plenamente aceita por Keynes.

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- Entretanto, como os salários reais não tinham aumentado na década de 1930 –

tendo mesmo, em muitos casos, diminuído – concluía-se logicamente, com base

na teoria da produtividade marginal, que os trabalhadores empregados estavam

recebendo salários reais substancialmente menores do que sua produtividade

marginal. Ademais, milhões de trabalhadores estavam ansiosos para trabalhar,

mesmo recebendo os salários vigentes, mas não conseguiam achar emprego.

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Keynes e a Análise das Depressões Capitalistas

- Em todo o restante da Teoria Geral, Keynes supôs consistentemente que a taxa de utilização da capacidade produtiva do capital físico declinava rapidamente nas épocas de depressão e que o número de trabalhadores empregados também diminuía rapidamente.

- A teoria de Keynes estava voltada para as realidades óbvias da depressão, de maneira esclarecedora e coerente. Contudo, como nas depressões capitalistas também é um fato igualmente óbvio que os salários reais dos trabalhadores não aumentavam quando o emprego diminuía, a crença de Keynes na teoria da produtividade marginal contradizia o resto de sua teoria.

- Keynes queria dar aos governos capitalistas insights teóricos que os ajudassem a salvar o capitalismo. Para isso, foi preciso abandonar alguns princípios da teoria neoclássica. Mas, como veremos, ele queria conservar ao máximo a teoria neoclássica.

- Assim, aceitou não só a teoria da distribuição baseada na produtividade marginal, como também a crença de que o livre-mercado alocava eficientemente os recursos (uma vez atingido o pleno emprego), apesar de esses dois princípios da ideologia neoclássica estarem logicamente associados à crença de que o livre-mercado criava automaticamente uma situação ótima, de Pareto, com pleno emprego.

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- Keynes rejeitava a noção de que, se uma economia capitalista partisse de uma situação de pleno emprego, a taxa de juros igualaria, automaticamente, a poupança ao investimento, fazendo, com isso, com que a demanda agregada igualasse a oferta agregada.

- Suas grandes divergências das doutrinas que formavam a teoria neoclássica da automaticidade eram duas: em primeiro lugar, embora aceitasse a noção neoclássica de que a poupança era influenciada pela taxa de juros, insistia em que o nível de renda agregada era uma influência muito mais importante sobre o volume de poupança do que a taxa de juros. - Em segundo lugar, argumentava que a poupança e o investimento não determinavam a taxa

de juros. Esta representava um preço que igualava a demanda e a oferta de moeda – uma coisa bastante diferente de investimento e poupança (embora não deixasse de estar a elas relacionada).

- Essas divergências eram, de fato, muito importantes, porque, embora Keynes não soubesse, elas destruíam não só a teoria neoclássica da automaticidade do mercado, como também os dois outros pilares da ideologia neoclássica: a teoria da distribuição baseada na produtividade marginal e a teoria de que um mercado livre e concorrencial resultaria em uma alocação ótima de recursos, segundo Pareto.

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- Keynes queria chegar ao primeiro resultado (a destruição da crença na automaticidade do mercado), mas deixando os outros dois conceitos intactos.

- O princípio subjacente ao seu abandono da teoria neoclássica da poupança era chamado por Keynes de “função consumo”. Ele insistia em que o nível de consumo e o nível de poupança eram, basicamente “função do nível de renda”, quer dizer, eram determinados basicamente pelo nível de renda.

- Admitia que “variações substanciais da taxa de juros… podem fazer alguma difererença” no nível de poupança, mas essa influência era muito menos importante do que a influência exercida pelo nível de renda:

“Para um homem, seu padrão de vida habitual tem prioridade sobre sua renda, e ele, provavelmente, poupará a diferença entre sua renda real e as despesas que tem com a manutenção de seu padrão de vida habitual… Também é óbvio que um nível de renda absoluta mais alto tenderá, em geral, a ampliar o hiato entre renda e consumo. Isso porque a satisfação das necessidades primárias imediatas de um homem e de sua família, geralmente, é um motivo mais forte do que os motivos de acumulação… Estas razões levarão, em geral, à poupança de uma parcela maior da renda com o aumento da renda real”.

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- A função consumo descrevia a relação entre poupança, consumo e nível de renda.

A relação entre uma variação da renda e a variação resultante na poupança (ou a

razão entre a variação da poupança e a variação da renda) era definida como

“propensão marginal a poupar”.

- A relação entre uma variação da renda e a variação resultante do consumo (ou a

razão entre a variação do consumo e a variação da renda) era definida como

“propensão marginal a consumir”.

- A propensão marginal a consumir e a propensão marginal a poupar eram, ambas,

por hipótese, menores que um e nenhuma delas era determinadas

fundamentalmente pela taxa de juros. Tampouco eram os principais

determinantes da taxa de juros.

- A segunda grande diferença entre Keynes e a teoria neoclássica da

automaticidade do mercado era sua rejeição da teoria neoclássica da

determinação da taxa de juros.

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- A taxa de juros era determinada pela demanda (preferência pela liquidez) e pela oferta de moeda. Em qualquer ocasião, a oferta de moeda era constante, em um nível determinado pelas ações do Banco Central ou das autoridades monetárias do país. A demanda por moeda – que era a mesma coisa que preferência pela liquidez – era, segundo Keynes, determinada por três motivos:

“(1) o motivo-transação, isto é, a necessidade de moeda para as transações correntes pessoais e comerciais; (2) o motivo-precaução, isto é, o desejo de se ter segurança quanto ao equivalente, em moeda, de uma certa proporção dos recursos totais; (3) o motivo-especulação, isto é, o objetivo de auferir lucros, sabendo-se, melhor do que o mercado, o que o futuro traria”.

- Na opinião de Keynes, parte da demanda por moeda dependia das expectativas quanto ao que aconteceria com a taxa de juros no futuro. Quando a taxa de juros estava muito alta (em relação às taxas anteriores, ou o que seria considerada uma taxa normal), muito poucas pessoas esperavam que ela subisse mais ainda no futuro; consequentemente, muito pouca gente ficaria com dinheiro para fins especulativos.

- Com taxas de juros mais baixas, mais pessoas se inclinariam a acreditar que a taxa de juros subiria; consequentemente, os que esperavam que a taxa de juros subisse no futuro guardariam mais dinheiro para fins especulativos. Portanto, a quantidade de moeda demandada para fins especulativos diminuía com o aumento da taxa de juros e aumentava com a queda da taxa de juros.

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- A análise de Keynes não era, em seus aspectos essenciais, muito diferente das de

Marx. A principal causa de uma depressão era, na opinião desses pensadores, a

incapacidade de os capitalistas encontrarem oportunidades de investimento

suficientes para compensar os níveis cada vez mais altos de poupança gerados

pelo crescimento econômico.

- A contribuição singular de Keynes foi mostrar como a relação entre poupança e

renda poderia levar a um nível de renda estável, porém, em depressão e com

desemprego generalizado.

- A resposta de Keynes ao problema era realista. O governo poderia interferir,

quando a poupança superasse o investimento, tomar emprestado o excesso de

poupança e gastar o dinheiro em projetos socialmente úteis, que não

aumentassem a capacidade produtiva da economia nem diminuíssem as

oportunidades de investimento no futuro. Esses gastos do governo aumentariam

as injeções de recursos na corrente de gastos e criariam o equilíbrio a pleno

emprego.

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- Fazendo isso, o governo não aumentaria o estoque de capital. Portanto, diversamente dos investimentos, isso não dificultaria atingir-se um nível de produção a pleno emprego no período seguinte. Keynes resumiu sua posição da seguinte maneira:

“O antigo Egito foi, duplamente, afortunado e, sem dúvida, devia a isto sua fabulosa riqueza, pois tinha duas atividades, a saber, a construção das pirâmides e a busca de metais preciosos, cujos frutos, como não podiam servir para atender às necessidades do homem pelo consumo, não se deterioravam com a abundância. A Idade Média construía catedrais e entoava cantos fúnebres. Duas pirâmides, duas missas para os mortos são duas vezes melhor do que uma: mas isso não acontece com duas estradas de ferro de Londres a York”

- Que tipo de gastos o governo deveria fazer? O próprio Keynes tinha uma predileção pelas obras públicas úteis, como construção de escolas, hospitais, parques e outras comodidades para o público, embora percebesse que, provavelmente, beneficiariam muito mais aos indivíduos de renda média e mais baixa do que aos ricos.

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- Como os ricos tinham o poder político, provavelmente insistiriam em políticas que

não redistribuíssem sua renda. Keynes sabia que poderia ser politicamente

necessário canalizar esses gastos para as mãos das grandes empresas, mesmo que

trouxessem pouco diretamente em benefício da sociedade.

“Se o Tesouro enchesse garrafas velhas de dinheiro, as enterrasse bem fundo, em

minas antigas, enchesse estas minas com lixo da cidade e deixasse as empresas

privadas – dentro dos princípios do laissez-faire – desenterrarem o dinheiro… não

haveria mais desemprego… Na verdade, teria mais sentido construir casas ou

executar obras do mesmo gênero, mas, se houver dificuldades políticas e práticas

para se realizar isso, fazer o que acabamos de propor seria melhor do que nada”.

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Eficácia das Políticas Keynesianas

- A depressão da década de 1930 arrastou-se até a eclosão da Segunda Guerra Mundial. De 1936 (o ano em que foi publicada a Teoria Geral) a 1940, os economistas debateram acaloradamente os méritos da teoria e das receitas de políticas de Keynes.

- Entretanto, quando os vários governos começaram a aumentar rapidamente a produção de armas, o desemprego começou a diminuir. Durante os anos da guerra, sob o estímulo de enormes gastos governamentais, a maioria das economias capitalistas se transformou rapidamente, passando de uma situação de grave desemprego para uma escassez aguda de mão de obra.

- As Forças Armadas norte-americanas mobilizaram 14 milhões de pessoas que precisavam ser armadas, aquarteladas e alimentadas. De 1939 a 1944, o produto das indústrias de mineração, transformação e construção duplicou, e a capacidade de produção aumentou em 50%. A economia norte-americana produziu 296.000 aviões, 5.400 navios cargueiros, 6.500 navios de guerra, 64.500 navios de desembarque, 86.000 tanques, 2.500.000 caminhões e enormes quantidades de outros suprimentos e materiais bélicos.

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- Em 1939, cerca de 20% da mão de obra estava desempregada. O desemprego persistente e grave tinha durado uma década inteira. Com o início da guerra, o problema inverteu-se quase imediatamente, e a economia americana experimentou uma forte e aguda escassez de mão de obra. A maioria dos economistas achava que essa experiência durante a guerra comprovou as ideias de Keynes. O capitalismo – proclamavam eles – podia ser salvo, se o governo usasse corretamente seu poder de tributar, tomar emprestado e gastar dinheiro. O capitalismo era tido, uma vez mais, como um sistema econômico e social viável. A confiança do público tinha sido restabelecida.

- Depois de 1945, a maioria dos políticos se juntou aos economistas, proclamando a nova ortodoxia keynesiana. Em 1946, o Congresso aprovou a Lei do Emprego , que obrigava o governo a usar seus poderes de tributar, tomar emprestado e gastar, para manter o pleno emprego. Reinava o otimismo. Houve conferências para discutir as “prioridades sociais” e “os objetivos nacionais” que deveriam guiar a política do governo nessa nova era keynesiana, na qual as depressões deveriam ser abolidas e a prosperidade deveria ser o estado normal das coisas.

- Não há dúvida de que os gastos maciços do governo no tempo da guerra tiraram a economia norte-americana de sua década de estagnação e depressão, mas o otimismo dos economistas keynesianos do pós-guerra revelou-se não de todo justificado.

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- Sem dúvida, as depressões ocorridas nos Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial foram bastante menos severas do que a Grande Depressão da década de 1930. - Em 1948-1949, uma “recessão” durou 11 meses; em 1953-1954, durou 13 meses; em

1957-1958, nove meses; em 1960-1961, nove meses; Embora a guerra do Vietnã tenha estimulado mais ainda a economia americana na década de 1960, no fim daquela década, o antigo padrão tinha sido restabelecido.

- A recessão de 19691971 durou mais ou menos dois anos. Entre 1973 e o início dos anos de 1980, uma nova crise, mais grave e muito mais surpreendente, atingiu o capitalismo norte americano.

- Nesse período, a economia norte-americana (e quase todos os outros países capitalistas industrializados e avançados) sofreu tanto uma recessão grave (com o desemprego,, oscilando entre 6% e quase 10%), como uma inflação alta (com o nível médio de preços, nos Estados Unidos, aumentando de 5% a 11% por ano – com os preços dos alimentos, da habitação, da assistência médica e de outras necessidades de classe trabalhadora aumentando num ritmo mais rápido ainda). A situação era pior em muitos outros países capitalistas.

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- Após a recessão de 1981-1982, que foi a pior desde aquela registrada

na década de 1930, a taxa de inflação caiu e as condições econômicas

melhoraram no restante da década. A recessão de 1990-1991 durou

oito meses e foi seguida por uma expansão modesta mas prolongada.

- Em fins da década de 1980, os acontecimentos na União Soviética e na

Europa Oriental foram saudados como o fim da Guerra Fria e parecia

que o incentivo às despesas militares poderia diminuir. Contudo, os

gastos militares permaneceram muito altos e “estados delinquentes” e

“redes terroristas” substituíram a União Soviética como justificativa

para os maciços gastos militares.

- Mesmo assim, desde a Segunda Guerra Mundial, as taxas de

desemprego nunca se aproximaram da taxas que se verificaram na

Grande Depressão (que atingiram 20 a 25%, pelos dados oficiais.

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- O desemprego na década de 1950 e no início da década de 1960 era, em média, de 4,6%.

- Com o estímulo da guerra do Vietnã, em meados da de 1960, a taxa de desemprego caiu para 3,5%. Nos anos 1970 e 1980, oscilou entre 5% e 10%.

- Nos anos 1990 a taxa atingiu um pico de 7,9% logo após a recessão de 1990-1991 e, a partir daí, caiu continuamente até 3,9% ao final da década.

- A taxa subiria, novamente, para 6,3% em 2003, na recessão do início dos anos 2000. Na recessão mais recente, começando no final de 2007, a taxa de desemprego nos Estados Unidos passou de 10%.

- Quando se enxerga além das estatísticas do PNB e do emprego, percebe-se que as políticas keynesianas só diminuíram uma forma de crise capitalista para gerar duas novas formas, ou seja, uma mudança estrutural na direção de uma economia militar, ou de guerra permanente, e a criação de uma estrutura precária de endividamento, sobre a qual se assenta toda a economia, criando, ainda, a possibilidade de um colapso econômico maior e mais grave ainda que o da década de 1930.

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A Economia Militar

- Entre 1947 e meados da década de 1970, o governo americano gastou quase US$2 trilhões em despesas militares.

- Os gastos totais com guerras e preparativos para possíveis guerras, passadas, presentes e futuras, inclusive gastos com operações de guerra e atividades afins, passaram de US$27,9 bilhões por ano, em 1947, para US$112,3 bilhões, em 1971. 26 Esses números representam um total de 12,2% do PNB, em 1947, e 11,1%, em 1971. - Além do mais, se se analisar o efeito “multiplicador” do aumento da demanda

agregada criada por esses gastos militares, o impacto será muito maior. O estudo mais cuidadoso desses efeitos resultou em duas estimativas que constituíam um limite inferior e um limite superior.

- A estimativa conservadora mostrou que os gastos militares representaram, direta e indiretamente (por meio do efeito induzido ou multiplicador), 24,4% da demanda agregada, em 1947, e 22,2%, em 1971. Usando-se a estimativa mais alta, o militarismo representou 30,5% da demanda agregada, em 1947, e 27,8%, em 1971.

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- Apenas em alguns anos intermediários essas porcentagens foram um pouco mais baixas e, em vários anos intermediários, foram mais altas. Na década de 1970, os gastos militares aumentaram a uma taxa algo menor, mas praticamente explodiram na década seguinte.

- Em fins dos anos de 1970, muitos economistas previam a aproximação de uma grave recessão. De fato, a recessão de 1981-1982 foi a pior desde a década de 1930. Contudo não chegou a ser tão rigorosa quanto alguns economistas imaginaram. Seguiram-se anos de prosperidade.

- O Departamento de Defesa dos Estados Unidos aumentou a sua força de trabalho em 255 mil postos novos entre 1981 e 1985.28 Também não há dúvida de que a prosperidade da década de 1980 decorreu principalmente do substancial aumento do militarismo. A proposta orçamentária do presidente Bush para o ano fiscal de 1991 incluiu mais de US$303 bilhões diretamente destinados à defesa e outros US$65 bilhões para “assuntos internacionais”, ciência, espaço e tecnologia bem como “benefícios para os veteranos”, que são em sua maior parte gastos militares disfarçados.

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- Durante a maior parte dos anos 1980, os gastos militares como proporção do PIB

variaram de 5% a 6%, com uma média de 5,8% na década. A relação caiu ao longo

de toda a década de 1990, chegando a 3% em 1999, com uma média anual de 4%

para a década.

- Desde 2000, porém, estas tendências sofreram uma reversão. O crescimento

anual dos gastos em defesa tornou a subir rapidamente, com uma média de 9,5%

entre 2000 e 2009 (uma proporção comparável à dos anos 1980). Os gastos

militares como proporção do total das despesas do governo aumentaram,

novamente de forma consistente, de 16,5% em 2000 para cerca de 21,7% em

2009.

- Além do mais, a correlação entre variações dos gastos militares e instabilidade

cíclica do capitalismo é muito significativa.29 Parece haver pouca dúvida de que o

militarismo tem sido o equivalente capitalista contemporâneo das pirâmides do

Egito e das catedrais da Idade Média.

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- As guerras contra o Iraque e o Afeganistão podem ser o protótipo do papel de nova polícia do mundo para os Estados Unidos. Essa poderia ser nossa nova Guerra Fria.

- Qualquer que seja a posição que se tome quanto à natureza da Guerra Fria, porém, o estudo do militarismo americano revela claramente dois fatos.

- Primeiramente, o militarismo oferece várias vantagens distintas aos capitalistas, em comparação com quase todas as outras formas de gastos do governo.

- Em segundo lugar, o militarismo tornou-se tão arraigado à estrutura da economia norte-americana, que é cada vez mais inconcebível que ele venha um dia a ser extirpado sem uma reestruturação completa de todo o sistema social, econômico e político norte-americano.

- O militarismo oferece inúmeras vantagens para as grandes empresas:

(1) estimula a demanda agregada, sem redistribuir a renda dos ricos para os pobres;

(2) nunca poderá haver quantidade excessiva de armamentos muito sofisticados; as pesquisas financiadas pelo governo estão sempre tornando obsoletos os armamentos, e histórias de horror convencem quase todo o povo de que a continuação da escalada da corrida armamentista é absolutamente necessária para a sobrevivência;

(29)

(3) a indústria de bens de capital – o mais volátil e instável segmento de uma economia capitalista – continua funcionando quase que à plena capacidade pela produção militar; no entanto, isso não aumenta a capacidade produtiva da economia capitalista. Consequentemente, o militarismo não piora o problema persistente do excesso de capacidade de produção agregada;

(4) como praticamente toda a produção militar é feita por empresas privadas gigantescas (ou subcontratadas com empresas privadas menores), não concorre com os lucros privados; pelo contrário, reduz a anarquia do mercado livre, dando às empresas uma demanda básica e estável, não sujeita às oscilações do mercado;

(5) embora não se possam obter estatísticas precisas para fundamentar essa afirmativa, quase toda a evidência sugere que a produção militar dá mais lucro do que a produção para o mercado livre;

(6) como mostrou Rosa Luxemburg, é preciso ter grandes aparatos militares para manter e aumentar a “esfera de influência” dos países capitalistas no mundo, com o que se pode assegurar investimentos lucrativos no exterior e termos de troca muito favoráveis;

(30)

7) como mostrou Veblen, o chauvinismo, o patriotismo e o militarismo são, talvez, os meios mais eficazes de manter os empregados dóceis e promover, entre os operários, a ideia de que seus interesses estão em harmonia com os interesses dos capitalistas.

- A dependência da economia militar é tamanha que o menor sinal de redução do militarismo gera protestos dos líderes militares, das grandes empresas, dos políticos e dos líderes sindicais.

- Se as despesas militares fossem reduzidas significativamente, a economia dos

Estados Unidos enfrentaria perspectivas de estagnação e depressão. É como se os

Estados Unidos não pudessem permitir um substancial “esfriamento” da Guerra

Fria sem encontrar alguma alternativa aos “perigos do comunismo”.

- O Iraque, o Afeganistão ou qualquer outro país não industrializado não poderão

nunca, isoladamente, substituir a União Soviética como um novo inimigo, pois

podem ser destruídos. O problema de se encontrar um inimigo que justifique as

despesas militares tende a piorar.

(31)

A Economia da Dívida

- O desempenho um pouco melhor da economia norte-americana a partir da Segunda Guerra Mundial pode ser, em grande parte, atribuído a uma expansão do endividamento.

- Keynes demonstrou de que forma a demanda e não os recursos poderiam limitar a produção de uma economia. Uma economia capitalista poderia operar abaixo de seu potencial durante um período de tempo considerável. As empresas aumentariam a produção e sua utilização dos recursos existentes (inclusive, o trabalho) apenas se houvesse uma elevada probabilidade de realizarem vendas que se traduzissem em lucros.

- Keynes identificou como o investimento poderia ficar aquém da quantidade de poupança possível ao nível de renda potencial da economia, daí impondo uma restrição de demanda à economia. Além disso, se a taxa de juros não pudesse cair o suficiente a fim de corrigir esta situação outras fontes de demanda teriam que ser encontradas de forma a preencher esta lacuna. Esta é a base para a política fiscal keynesiana.

(32)

- A expansão dos gastos do governo financiados pelo endividamento seria

mais efetiva do que via impostos (na medida em que a tributação retirava

alguns fundos que seriam gastos de qualquer forma, parte da elevação dos

gastos do governo seria compensada por uma queda do gasto privado).

- Também notamos como os gastos de consumo financiados por dívida

podem servir para aumentar a demanda. Por outro lado, as economias têm

sentido os efeitos adversos decorrentes da dependência da dívida, seja

privada ou pública, para financiar a demanda que assegure o pleno emprego

de seus recursos.

- Embora Keynes enfatizasse a importância da demanda na determinação do

produto e do emprego, ele era, na realidade, bastante conservador do ponto

de vista fiscal. Os déficits públicos durante as recessões, ainda que

necessários às vezes, deveriam ser eliminados no longo prazo através da

geração de superávits durante as recuperações.

(33)

- Podemos concluir esta parte repetindo o fato de que grandes aumentos dos

gastos governamentais, justificados por seus defensores com base na teoria

keynesiana, têm diminuído a gravidade das depressões a partir da Segunda

Guerra Mundial. No entanto, essa prosperidade (se pudermos chamar de

prosperidade taxas de desemprego que se aproximam dos 10%) tem custado

muito caro.

- Em primeiro lugar, foi erigida sobre a base de uma estrutura de crédito mundial

que está sempre correndo o perigo de um colapso econômico desastroso.

- Em segundo lugar, tem levado a uma economia orientada permanentemente para

a guerra, na qual grande parte dos recursos produtivos da sociedade se destina a

métodos e meios cada vez mais sofisticados de destruição da raça humana.

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