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Possibilidade jurídica constitucional de substituir agentes públicos políticos por Inteligência Artificial (IA) no âmbito da administração pública

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA VILSO ELIZEU DE MORAES JUNIOR

POSSIBILIDADE JURÍDICA CONSTITUCIONAL DE SUBSTITUIR AGENTES PÚBLICOS POLÍTICOS POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA) NO ÂMBITO

DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Palhoça 2019

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VILSO ELIZEU DE MORAES JUNIOR

POSSIBILIDADE JURÍDICA CONSTITUCIONAL DE SUBSTITUIR AGENTES PÚBLICOS POLÍTICOS POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA) NO ÂMBITO

DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador Prof. Alexandre Botelho, Dr.

Palhoça 2019

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AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, devo agradecer à minha família, principalmente meus pais, Vilso e Silmara, e minhas irmãs, Ana Paula e Vilsiane, pelo apoio incondicional em todos os âmbitos da minha vida.

À Luiza pelo carinho e compreensão.

Aos meus queridos amigos Renan, Rafael, Luam, Igor, Carolina Lima, Ana Carla, Diego e tantos outros pela amizade, auxílio, suporte e apreço.

À Professora Giglione Zanela Maia cuja orientação no projeto de pesquisa foi fundamental, bem como, aos demais professores da Unisul pelo conhecimento e sabedoria compartilhada em sala de aula e fora dela.

Por fim, e especialmente, ao Professor Alexandre Botelho pela criteriosa orientação.

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“Uma máquina consegue fazer o trabalho de 50 homens ordinários. Nenhuma máquina consegue fazer o trabalho de um homem extraordinário” (Elbert Hubbard).

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RESUMO

O presente trabalho pretende verificar a possibilidade jurídica-constitucional de substituir agentes públicos políticos por inteligência artificial no âmbito da Administração Pública. A fim de engendrar um quadro teórico congruente, identificou-se agente público e suas variadas espécies existentes no ordenamento jurídico pátrio; conceituou-se os princípios constitucionais-administrativos expressos na Constituição da República Federativa do Brasil e sua relação com inteligência artificial; bem como, conceituou-se inteligência artificial e explanou-se a maneira como é usada atualmente na esfera jurídica e administrativa pública. Para tanto, lançou-se mão de um método de abordagem, em relação ao pensamento, dedutivo; em relação à natureza, qualitativo. A técnica utilizada foi a bibliográfica. Por fim, concluiu-se que a substituição de agentes políticos como repreconcluiu-sentantes do povo é incabível, por concluiu-ser inteligência artificial coisa, contudo, verificou a possibilidade de usar a inteligência artificial em detrimento de humanos como auxiliar na tomada de decisão administrativa, em especial quanto a políticas públicas, além de ser ferramenta hábil para a realização de atos administrativos, tanto de competência vinculada quanto discricionária.

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ABSTRACT

This monografie aims to verify the legal-constitutional possibility of replacing political public agents with artificial intelligence in the Public Administration. In order to generate a congruent theoretical framework, public agent and its various species existing in the legal system were conceptualized, the constitutional-administrative principles expressed in the Constitution of the Federative Republic of Brazil and their relationship with artificial intelligence were conceptualized; as well as, artificial intelligence was conceptualized and the way it is currently used in the public legal and administrative sphere is explained.. To this end, a method of deductive and qualitative approach to thought was used. The technique used was bibliographic. Finally, it was concluded that the substitution of political agents as representatives of the people is unabated, however, verified the possibility of using artificial intelligence to the detriment of humans as an aid in administrative decision making, especially regarding public policies, in addition to being a skillful tool for carrying out administrative acts.

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SUMÁRIO

RESUMO... 6

ABSTRACT... 7

1 INTRODUÇÃO...9

2 DOS AGENTES PÚBLICOS... 11

2.1 CONCEITO DE AGENTE PÚBLICO... 11

2.1.1 Órgão, cargo, função e emprego público: breves delimitações conceituais... 14

2.2 DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA... 15

2.2.1 Da função administrativa... 16

2.2.2 A administração pública e seus sentidos... 18

2.3 ESPÉCIES DO GÊNERO AGENTE PÚBLICO... 19

2.3.1 Servidores públicos... 20

2.3.2 Agentes particulares colaboradores...20

2.3.3 Agentes de fato...21

2.3.4 Agentes políticos... 22

2.3.4.1 Disposições legais acerca do Agente Político... 23

3 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA... 25

3.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS-ADMINISTRATIVOS... 25 3.1.1 Aspectos gerais... 25 3.1.2 Princípio da Legalidade... 27 3.1.4 Princípio da Moralidade... 29 3.1.5 Princípio da Publicidade... 30 3.1.6 Princípio da Eficiência... 31

3.2 CONCEITO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL... 32

3.3 USOS ATUAIS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL... 34

3.2.1 Na seara jurídica... 35

3.2.2 Na administração pública... 37

4 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E ATOS DE AGENTE POLÍTICO... 41

4.1 ATO ADMINISTRATIVO E ATOS DE GOVERNO... 41

4.2 ATO DISCRICIONÁRIO E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL... 45

4.3 POSSIBILIDADE JURÍDICA CONSTITUCIONAL DE SUBSTITUIR AGENTES POLÍTICOS POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL... 51

5 CONCLUSÃO... 61

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1INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objeto a pesquisa de verificar a possibilidade jurídica constitucional de substituir agentes políticos por inteligência artificial no âmbito da Administração Pública.

A importância da pesquisa deste tema reside no fato que o desenvolvimento tecnológico acelerado, torna possível a substituição da mão-de-obra humana por inteligência artificial em determinadas funções, inclusive aquelas que antes eram tidas como inerentemente humanas.

Ressalte-se que, além de ser requisito imprescindível à conclusão do curso de Direito na Universidade do Sul de Santa Catarina, o presente relatório monográfico também vem colaborar para o conhecimento de um tema que é incipiente no campo jurídico e trará repercussão em diferentes dimensões do conhecimento, seja no aspecto prático-social quanto filosófico. Desse modo, insta questionar: É juridicamente possível substituir agentes públicos políticos por inteligência artificial (IA) no âmbito da Administração Pública à luz da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988?

A escolha do tema é fruto do interesse pessoal do pesquisador em investigar as consequências jurídicas do implemento de inteligência artificial na Administração Pública, em razão do regime sui generis a qual está submissa, assim como para instigar novas contribuições para estes direitos na compreensão dos fenômenos jurídicos-políticos, especialmente no âmbito de atuação do Direito Administrativo.

Em vista do parâmetro delineado, constitui-se como objetivo geral deste trabalho verificar a possibilidade jurídica constitucional de substituir agentes políticos por inteligência artificial (IA) no âmbito da Administração Pública à luz da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Como objetivos específicos, pretende-se a) identificar as espécies de agente público e qual seu papel no âmbito da Administração Pública; bem como apresentar noções básicas acerca de Administração Pública; b) conceituar quais são os princípios constitucionais-administrativos; conceituar inteligência artificial; e apresentar os usos atuais de inteligência artificial na esfera jurídica e administrativa; e, por fim, c) verificar a possibilidade jurídica constitucional de haver substituição de agentes públicos políticos por inteligência artificial no âmbito da Administração Pública, ao fazer a conceituação e distinção

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entre ato de governo, ato administrativo, ato vinculado e ato discricionário, bem como, verificar a capacidade da inteligência artificial tomar decisões.

Não é o propósito deste trabalho exaurir o tema, impondo uma conclusão definitiva ao assunto, considerando que, por se tratar de problema recente na rotina jurídica, ainda existam debates sobre sua natureza, extensão e dimensão teórica. Por certo não se estabelecerá um ponto final em referida discussão. Pretende-se, tão-somente, aclarar o pensamento existente sobre o tema, circunscrevendo-o à possibilidade jurídica constitucional de tal substituição, tomando por base as normas que regem a Administração Pública.

O relatório final da pesquisa foi estruturado em cinco partes e três capítulos, podendo-se, inclusive, delineá-los como três molduras distintas, mas conexas: a primeira, atinente à identificação das espécies de agentes públicos existentes atualmente e sua relação com a Administração Pública; a segunda, quanto ao conceito de inteligência artificial e o modo com que é usada na Administração Pública, sob à luz dos princípios constitucionais-administrativos expressos na Constituição da República Federativa do Brasil; e, por derradeiro, verificar a possibilidade de ser usada inteligência artificial em funções reservadas à agentes políticos, no âmbito da Administração Pública.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação foi utilizado o método dedutivo, e o relatório dos resultados expresso na presente monografia é composto na base lógica dedutiva, já que se parte de uma formulação geral do problema, buscando-se posições científicas que os sustentem ou neguem, para que, ao final, seja apontada a prevalência, ou não, das hipóteses elencadas.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com a Conclusão, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre os impactos que a implementação de inteligência artificial em atividades políticas desenvolvidas pela Administração Pública podem gerar.

Com este itinerário, espera-se alcançar o intuito que ensejou a preferência por este estudo: verificar se é possível ou não que inteligência artificial seja usada em funções próprias de agentes políticos quando em exercício na Administração Pública.

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2DOSAGENTESPÚBLICOS

É salutar ainda que de modo incoativo, abordar o conceito de agente público, bem como suas características essenciais. Do mesmo modo, uma vez que, como se verá, a expressão “agente público” busca designar aquele grupo de pessoas que, de algum modo, atuam por meio de um vínculo com a Administração Pública. Por conseguinte, imperioso conceituar os contornos teóricos em que a empreitada teórica será realizada, uma vez que essencial para a compreensão da temática ora abordada.

Isso porque, de modo metafórico, pode-se dizer que a razão deve, antes de construir seu edifício, perscrutar seus fundamentos1 a fim de verificar sua solidez,

estabelecendo, por conseguinte, os contornos teóricos em que a empreitada teórica será realizada.

Assim sendo, a busca pela tematização dos aspectos basilares de qualquer empreitada teórica, busca inerente à conditio humana2, não pode ser ignorada, sob pena de

se descambar em um vácuo teórico. Sendo congênita à condição humana, ademais, em nada surpreende que, na filosofia prática, da qual o direito é espécie, também haja essa busca pela tematização dos aspectos axiomáticos3. Não fosse suficiente, numa época cuja

Weltanschauung hegemônica é profundamente cética4, sendo inclusive caracterizada por um

pensamento pós-metafísico5, a tematização desses aspectos é conditio sine qua non para que

um discurso possa se dizer racional.

2.1CONCEITODEAGENTEPÚBLICO

Conceituar “agente público” se revela tarefa difícil. Tal dificuldade se torna ainda mais patente quando se tem em mente que a expressão “agente público” é empregada para tentar designar toda uma enorme variedade de pessoas que, de algum modo, servem ao

1 KANT, Emmanuel. Doutrina do direito. São Paulo: Ícone, 1993, p. 50.

2 OLIVEIRA, Manfredo de Araújo. Sobre a fundamentação. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1997. p. 17 3 KORSGAARD, C. The Sources of Normativity. In: The Tanner Lectures on Human Values. Cambridge: Cambridge University, 1992. p. 22.

4 É o que afirma Hans Albert (1976) ao afirmar que a modernidade se caracteriza sobretudo pela superação da Weltanschauung teomorfa em que preponderava uma epistemologia de caráter fundacionista.

5 HABERMAS, Jürgen. Pensamento pós-metafísico: estudos filosóficos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990.

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Poder Público. Ela é, portanto, a mais genérica e ampla. Certamente por isso, portanto, detém esse caráter ambíguo6.

Prova do que aqui se diz é que a própria Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB)7 refletiu essa confusão terminológica em seu bojo, ora utilizando o termo

agente público, ora utilizando o termo servidor público quando se refere à mesma pessoa. Com efeito, a CRFB, na seção II do capítulo VII, capítulo esse referente à Administração Pública, que engloba os artigos 39 ao 41, utiliza a expressão servidores públicos para denominar aqueles que possuem vínculo empregatício com a administração pública direta, autarquias e fundações públicas (artigo 39, CRFB)8.

Por outro lado, no mesmo capítulo, mas na seção I, a mesma expressão (i. e., “servidores públicos”) se presta a denominar aqueles que possuem vínculo empregatício não só com a administração direta, autarquias e fundações públicas, conforme disposição do artigo 39, mas também com a administração pública indireta.

Ainda mais, na seção III, no mesmo capítulo, a mesma expressão é utilizada, novamente, para designar os militares do Estado, dos Territórios e do Distrito Federal9.

Porém, em que pese essa dispersão conceitual, pode-se, em conformidade com os ensinamentos de José do Santos Carvalho Filho, conceituar "agentes públicos” como sendo aquele grupo de pessoas que exercem uma função pública ao Poder Público, seja de maneira gratuita, seja de maneira remunerada, mesmo que de forma transitória. Tal exercício de função pública pode ter caráter jurídico ou político. Pode-se dizer, destarte, que, quando agem no âmbito jurídico, o fazem com um vínculo ao Estado, tornando-os, portanto, agentes públicos10.

Nesse mesmo sentido, a Lei n. 8.429/92, que disciplina a questão da improbidade administrativa, assim conceitua a expressão “agente público”:

Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer forma de investidura

6 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 19. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2005. p. 227.

7 BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm . Acesso em: 03 set. 2019. 8 BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm . Acesso em: 03 set. 2019. 9 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 580. 10 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2015. p. 611.

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ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior11.

Nisso já se vê reafirmada a ideia anteriormente aventada, qual seja: no âmbito infraconstitucional, mais precisamente na lei 8.429/92, o conceito de agente público, no tocante às pessoas que atuam com um vínculo estatal, é o mais amplo. Justamente por isso, por conta dessa amplitude conceitual, acaba se convertendo em gênero no qual se encontram uma série de espécies.

Em outros diplomas legais, contudo, principalmente os menos recentes, adota-se terminologia diversa. É o caso do Código Penal. Lá, em seu artigo 327, deu-se preferência à expressão “funcionário público”, cujo significado assemelhar-se-ia, mutatis mutandis, ao de “agentes públicos”12.

Com efeito, a doutrina mais vetusta também se vale da mesma terminologia, qual seja: funcionário público. Para Themistocles Brandão Cavalcanti, verbi gratia, funcionários públicos seriam aqueles que exerceriam cargo público ou função pública. Nessa definição, como decorrência, não entrariam os jurados que, segundo o autor, prestariam serviço público, semelhantemente ao que ocorreria com os advogados, cuja função seria um múnus público13.

Porém, em que pese referida divergência, mesmo no âmbito legal, é majoritário na doutrina moderna que a expressão agente público é aquela mais ampla, que engloba a totalidade das pessoas que, de algum modo, atuam por meio de um vínculo com a Administração Pública14.

Assim, antes de se examinar as espécies do gênero agente público, é salutar abordar, ainda que de modo perfunctório, determinados conceitos correlatos ao de agente público, quais sejam: órgão, cargo, função e emprego público.

11 BRASIL. Lei n. 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. Disponível em:

www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429.htm. Acesso em: 03 set. 2019.

12 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 12. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 260.

13 CAVALCANTI, Themístocles Brandão. Instituições de direito administrativo brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 1938. p. 585.

14 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 38. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2012. p. 76.

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2.1.1 Órgão, cargo, função e emprego público: breves delimitações conceituais

Expostos esses apontamentos iniciais acerca dos agentes públicos, pode-se avançar e, por conseguinte, tratar de temas correlatos, essenciais ao desenvolvimento teórico subsequente.

Órgão, cargo, função e emprego público, conforme já mencionado anteriormente, são conceitos que possuem uma proximidade teórica com o de agente público. Por conta disso, a fim de se manter uma clareza conceitual e teórica, é salutar conceituá-los a fim de diferenciá-los da ideia contida na expressão “agentes públicos”15.

Inicialmente, portanto, cabe esclarecer acerca da ideia de órgãos. Na administração pública, referida ideia está vinculada à desconcentração administrativa. Com efeito, seria tarefa impossível para o poder público realizar todas as atividades a que está obrigatoriamente vinculado por meio de um todo unitário, sem uma devida adequação estrutural16.

É nesse contexto, destarte, que surge a ideia de órgãos no seio da administração pública. Tal conceito refere-se a unidades de atuação que, por meio de um conjunto de pessoas concatenadas no bojo da administração pública, organizam-se para a consecução de determinada finalidade pré-estabelecidas pelas instâncias hierarquicamente superiores. Tal conjunto de pessoas concatenadas não possuem personalidade jurídica e podem se dividir nas mais variadas espécies, o que, contudo, não será objeto de análise no presente trabalho17.

Por outro lado, cargo público é aquele lugar dentro do contexto organizacional da administração pública, seja direta, seja indireta, que é ocupado por servidor público. Ainda, por meio de uma legislação própria, a tal servidor são definidas funções específicas, bem assim como sua remuneração, igualmente específica18.

Referida conceituação é secundada pela legislação infraconstitucional. Com efeito, a lei 8.112 de 1990, o estatuto dos servidores públicos federais, também busca conceituar cargo público. Assim o faz, in verbis: “Art. 3º. Cargo público é o conjunto de

15 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 38. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2012. p. 76.

16 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Fundamentos de direito administrativo. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 36. 17 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 12. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 52.

18 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2015. p. 633.

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atribuições e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor”19.

Como se nota, ao agente público são atribuídas inúmeras responsabilidade e atribuições por meio de lei. Essas atribuições se cristalizarão em atividades. Disso exsurge o conceito de função pública.

Função pública, portanto, é a atividade em si realizada pelo servidor público. Rotineiramente, é dividida em duas espécies: i) a de chefia, direção ou assessoramento, remuneradas normalmente por meio de acréscimos à remuneração do servidor público. Referidos acréscimos são capitulados dos mais diversos modos: pro labore, representação, gratificação ou função gratificada; ii) as funções exercidas pelos assim chamados servidores extranumerários, temporários ou interinos, que, antes da edição da CRFB, compunham um quadro de funções desvinculado do quadro de cargos, ou seja: por meio de tais servidores, realizava-se determinada atividade, isto é, a função, sem que houvesse a necessidade da realização de concurso público, uma vez que não haveria cargo a ser preenchido20.

Por fim, o conceito de emprego público. Este se refere ao conjunto de atribuições e responsabilidades determinadas a empregado público, que é a pessoa cujo vínculo de trabalho com a administração pública se dá por meio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)21.

2.2DAADMINISTRAÇÃOPÚBLICA

Uma vez apresentada a conceituação de agente público, mister, como já aventado, tratar da peculiaridades da administração pública. Semelhantemente ao que ocorrera ao se abordar a expressão agente público, a conceituação de administração pública é tarefa, de certo modo, hercúlea22.

Em grande medida, supracitada dificuldade se dá por conta da atividade estatal, que, no século XX, cresceu de maneira inaudita, atingindo as mais variadas áreas da sociedade. Adicionalmente, como consequência, houve uma publicização do direito privado,

19 BRASIL. Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Brasília, DF: Presidência da República, 1990. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8112cons.htm. Acesso em: 12 set. 2019.

20 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 743. 21 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 581. 22 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2015. p. 11.

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cada vez mais afetado pelo direito público23. Nessa conjuntura, portanto, em nada surpreende

que a conceituação da administração pública acabe se tornando confusa e duvidosa.

Justamente por isso, vale, antes de tratar do conceito da administração pública, abordar a função administrativa, dado que condição necessária para a adequada compreensão da matéria ora tratada.

2.2.1 Da função administrativa

Como ao Estado foram atribuídas inúmeras atividades, grande parte de ordem constitucional, a definição de função administrativa se dá por meio de uma abordagem de via negativa, ou residual24.

Com efeito, são atribuídas três funções típicas ao Estado, quais sejam: a legiferante, jurisdicional e administrativa25.

Não se pode falar, precisamente, em uma separação absoluta de poderes, em uma divisão estanque dessas funções. As funções supratranscritas não são exercidas, cada uma, por apenas um poder. Não há sequer base constitucional para tal raciocínio. Há, isso sim, funções típicas, que se constituem em regras gerais: o Poder Judiciário exerce a função jurisdicional; o Poder Legislativo a função legiferante; por fim, o Poder Executivo exerce a função administrativa26. A fim de se definir, portanto, a função administrativa, há que se

conceituar o que são as funções jurisdicional e legiferante.

A função jurisdicional, como já dito, é aquela rotineiramente exercida pelo Poder Judiciário. Referida função, consiste, em poucas palavras, na aplicação do direito, em dizer o direito. Desse modo, Estado, previamente, estabelece normas de caráter genérico e abstrato, regulando as mais diversas relações, imputando a determinados atos a etiqueta de lícito ou ilícito, atribuindo direitos e deveres às mais diversas entidades. Posteriormente, estabelecido esse arcabouço legal, esse mesmo Estado, na sua função jurisdicional, vale-se desse arcabouço legal para a solução das lides que lhe são apresentadas27.

23 HOPPE, Hans-Hermann. Uma teoria do socialismo e do capitalismo. 2. ed. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2013. p. 31.

24 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 183.

25 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de direito administrativo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 59.

26 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de direito administrativo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 83.

27 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo et al. Teoria geral do processo. 25. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2009. p. 45.

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A função legiferante é aquela ordinariamente atribuída ao Poder Legislativo. Cabe a ele, portanto, a elaboração de normas jurídicas, nos limites determinados pela Carta Magna28. Por meio desse processo, cujo resultado é a norma jurídica, o Estado estabelece aos

cidadãos determinadas fórmulas de agir, estabelecendo como e quando devem agir. Assim procedendo, estabelece o modelo de conduta por ele preconizado29.

Nesse sentido, apresentadas as definições das demais funções exercidas pelo Estado, poder-se-ia, pela via apofática, chegar-se à função administrativa. Nesse sentido, ela poderia ser vista como residual: uma vez excluída a atividade legiferante, bem como a jurisdicional, ter-se-ia a função administrativa30.

De uma maneira propositiva, ou material, por outro lado, poder-se-ia definir função administrativa como sendo aquela atividade em que o administrador não atua em interesse próprio, mas sim com vistas à realização do interesse público31.

Nesse sentido, a atividade administrativa em que não estiver teleologicamente orientada para a consecução do interesse público estará inquinada do vício de desvio de finalidade32. Esse interesse, ainda, se divide em duas espécies: o interesse público primário e

o interesse público secundário.

Interesse público primário é a busca pelo bem comum, beneficiando toda a coletividade, caracteriza, portanto a projeção dos interesses individuais e privados reconhecidos em um plano coletivo, para um ideal de bem-comum e segurança a todos33.

Representa, assim, o interesse público propriamente dito34.

O interesse público secundário, diversamente, sequer poderia receber tal nomenclatura. Em verdade, referido “interesse” nada mais seria do conveniências buscadas pela administração pública em seu próprio proveito, de caráter eminente egoístico e alheias ao bem comum. Buscar-se-ia, nesse caso, tão somente vantagens para a administração pública, com total desconsideração para os interesses da coletividade35.

28 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 33. ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 315. 29 NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 36. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 100. 30 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 183.

31 CAMPOS, Ana Cláudia. Direito administrativo. São Paulo: Método; Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 61. 32 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2015. p. 34. 33 BINENBOJM, Gustavo. Uma teoria do direito administrativo: direitos fundamentais, democracia e constitucionalização. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 87.

34 JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 12. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. p. 131.

35 JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 12. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. p. 131.

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Nesse mesmo sentido, a função administrativa pode ser identificada, inter alia, por três critérios: a) subjetivo: nesse caso, leva-se em consideração o sujeito responsável pelo exercício da função; b) objetivo: por tal critério, a função administrativa é determinada em decorrência da atividade exercida; c) objetivo formal: por este último critério, o que definiria a função administrativa seria o regime legal a que ela está submetida36.

Adicionalmente, importa salientar que essa função, tipicamente vinculada ao Poder Executivo, pode, atipicamente, ser exercida pelos demais poderes, seus órgãos e suas entidades, a saber: Poder Judiciário e Poder Legislativo. Ao assim procederem, exercendo a função administrativa, referidos poderes atuam enquanto Administração Pública e, justamente por decorrência disso, submetem-se ao regime jurídica que lhe é aplicável37.

Estabelecidas as premissas referentes à função administrativa e clara, por conseguinte, a distinção entre ela e as demais funções exercidas pelo Estado, pode-se passar à análise da conceituação da expressão administração pública em seus variados sentidos.

2.2.2 A administração pública e seus sentidos

Há certa divergência na conceituação da expressão administração pública. Nada obstante, em que pese a existência dessa dispersão conceitual, a doutrina da seara administrativa acabou por entrar um consenso na definição de administração pública. Para tanto, lançou mão do seguinte artifício: dividiu o conceito de administração pública em alguns sentidos: “subjetivo” ou “objetivo”, “restrito” etc., semelhantemente ao que fizera quando da abordagem da função administrativa.

No sentido subjetivo, entende-se a administração pública como sendo o conjunto de pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos que são identificados pelo arcabouço legal como pertencentes à Administração Pública. Nesse sentido, desconsidera-se a função por eles exercidas; leva-se em consideração, ao contrário, os aspectos formais. Por conseguinte, poder-se-ia dizer, nesse contexto, que integram a administração pública os órgãos da Administração Direta e as entidades da Administração Indireta, quais sejam: autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista38.

36 BALTAR NETO, Fernando Ferreira; TORRES, Ronny Charles Lopes de. Direito administrativo. 5. ed. Salvador: JusPodivm, 2015. p. 31.

37 BALTAR NETO, Fernando Ferreira; TORRES, Ronny Charles Lopes de. Direito administrativo. 5. ed. Salvador: JusPodivm, 2015. p. 31.

38 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo. 16. ed. São Paulo: Método, 2008. p. 19.

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No sentido objetivo, por outro lado, entender-se como sendo sinônimo da atividade praticada, qual seja, a função administrativa39. Classifica-se a Administração

Pública, nesse sentido, como concreta, vez que corresponde a vontade do Estado prevista em lei; e imediata, vez que objetiva a satisfação direta dos fins estatais40.

Por fim, a expressão administração pública, em sentido restrito, engloba tanto o sentido subjetivo quanto o objetivo. Nesse caso, contudo, diversamente do que ocorre quando se encara a referida expressão em sentido amplo, ignora-se as funções de ordem política, porquanto mais ligadas ao Direito Constitucional, não sendo, por conseguinte, objeto de estudo do Direito Administrativo41.

Dado que, mais adiante, tratar-se-á do agente político, não se parece adequada a adoção da conceito restritivo. Por conseguinte, adota-se, no presente trabalho, a expressão em seu sentido amplo. Compreendidos os sentidos da expressão administração pública, pode-se iniciar à abordagem das espécies do gênero agente público.

2.3ESPÉCIESDOGÊNEROAGENTEPÚBLICO

O conceito de agente público, conforme já mencionado alhures, é, nesse particular, o mais genérico, abrangendo a totalidade das pessoas que, de algum modo, atuam por meio de um vínculo com a administração pública. Ante essa conjuntura, optou a doutrina por aglutinar determinados grupamentos com base em determinados fatores de semelhança. Justamente por isso, portanto, referida expressão acabou se convertendo em gênero do qual surgem inúmeras espécies. Referidas espécies serão a seguir abordadas.

A título de clareza teórica, cabe pontuar que a classificação adotada é a esposada por José dos Santos Carvalho Filho42. Diz-se isso aqui porquanto, como é cediço, há uma

variada gama de classificações adotadas pelos mais diversos doutrinadores. Optou-se, contudo, pela adoção da classificação do aludido doutrinador, vez que em maior conformidade com a facticidade jurídica brasileira, além de possuir maior simplicidade, tão necessária em se tratando de direito administrativo43.

39 BALTAR NETO, Fernando Ferreira; TORRES, Ronny Charles Lopes de. Direito administrativo. 5. ed. Salvador: JusPodivm, 2015. p. 32.

40 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional administrativo. São Paulo: Atlas, 2002, p. 92. 41 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 124. 42 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2015. p. 611ss.

43 A classificação exposta por José dos Santos Carvalho Filho, adicionalmente, em que pese seja dotada de grande simplicidade, não será exposta in totum por duas razões principais: i) não seria, para a temática do presente trabalho, de grande valor teórico; ii) o espaço do presente trabalho não permite elucubrações da

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2.3.1 Servidores públicos

A maior parte dos agentes públicos se incluem nessa espécie. Compõem, portanto, aquelas pessoas que atuam para o Estado, por meio de um vínculo profissional e o representado44.

Em sentido amplo, pode-se dizer que, nessa categoria, incluem-se todas as pessoas que, mediante vínculo empregatício, prestam serviços à administração pública, seja direta, seja indireta45. Nesse definição, ter-se-iam as seguintes categorias: i) servidores

estatutários: ou seja, aqueles que detêm cargo público e estão submetidos ao regime estatutário; ii) empregados públicos: aqueles que, como já dito anteriormente, ocupam emprego público e estão ligados à administração público por meio de vínculo regido pela CLT; iii) servidores temporários: aqueles que, nos termos da Constituição (art. 37, IX), são contratados para necessidade temporária de excepcional interesse público46.

Em sentido restrito, por outro lado, servidores públicos, como já aventado, seriam apenas os servidores públicos estatutários, que possuem cargo público e estão submetidos ao regime estatutário47.

2.3.2 Agentes particulares colaboradores

Nesse grupo, incluem-se aqueles que, não obstante serem particulares, exercem funções que podem ser adjetivadas de públicas, além de o fazerem por meio de vínculo com o Estado. Adicionalmente, em um sem-número de caso, não há uma remuneração direta por tais serviços, o que se tem, em verdade, são benefícios colaterais, indiretos, que favorecem aquele que presta o serviço48.

Exemplos notórios dessa espécie são os jurados, mesários e os integrantes da mesa justificadora. Semelhantemente, são igualmente considerados agentes particulares colaboradores os titulares de ofícios de notas e de registro não oficializados, conforme dicção do artigo 216 da Constituição da República Federativa do Brasil, e os concessionários e permissionários de serviços públicos49.

magnitude de uma obra doutrinária, o que inviabiliza, de pronto, a exposição integral da classificação de José dos Santos Carvalho Filho.

44 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2015. p. 614 45 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 734. 46 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 734. 47 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 734. 48 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2015. p. 614 49 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2015. p. 614

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De modo mais específico, Maria Sylvia Zanella di Pietro divide a espécie ora em comento em três categorias, a depender do título a que receberam seu mister: a) delegação do Poder Público: nesse caso, englobar-se-ia os empregados das empresas concessionárias e permissionárias, bem como os listados no artigo 236 da Constituição da República Federativa do Brasil. Ainda, seriam englobados por essa categoria os tradutores, leiloeiros e intérpretes públicos; b) mediante requisição, nomeação ou designação: nesse grupo, encontram-se aqueles convocados para o exercício de funções reputadas relevantes pelo Poder Público. A título de exemplo: jurados, convocados para prestação de serviço militar ou eleitoral, os comissários de menores, os integrantes de comissões etc; c) por fim, os gestores de negócio, que são aqueles que assumem determinada função pública em uma situação emergencial: incêndio, terremoto etc50.

Nesse sentido, portanto, vê-se que a conceituação dada pelos dois doutrinadores é compatível. O que ocorre, em verdade, é Maria Sylvia Zanella Di Pietro especifica as definições dadas por Carvalho Filho. Cabe pontuar, entretanto, que os gestores de negócios, conforme nomenclatura empregada por Di Pietro, são, em verdade, os agentes de fato, conforme se verá a seguir.

2.3.3 Agentes de fato

Há, ainda nesse contexto, a figura dos agentes de fato, categoria que foi cunhada e tematizada por José dos Santos Carvalho Filho. E são aqueles que, sem a regular investidura, executam uma função de ordem pública em nome do Estado. Tal exercício de função pública, por óbvio, é excepcional e se dá em determinadas situações51.

Para José dos Santos Carvalho Filho, duas são as espécies de agente de fato: os agentes necessários e os agentes putativos52. Os primeiros, em grande parte, são aqueles

denominados por Maria Sylvia Zanella di Pietro de gestores de negócio, isso é, aqueles que, em situações de emergência, praticam determinados atos reputados de ordem pública em nome do Estado sem que, no entanto, possuam investidura regular e normal para tanto53.

A segunda categoria, por outro lado, são aqueles que desempenham uma atividade de ordem pública com a presunção de legitimidade sem que, contudo, tenham a

50 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 741-742. 51 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2015. p. 615. 52 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2015. p. 615. 53 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 741-742.

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regular investidura para tanto. É o caso do servidor que atua na Administração Pública sem que tenha sido aprovado em concurso público54.

2.3.4 Agentes políticos

A última classificação no arcabouço teórico fornecido por José dos Santos Carvalho Filho é a referente a agentes públicos políticos. Cabe consignar que há divergência na doutrina acerca da significação da referida expressão.

Hely Lopes Meirelles entende incluídos na categoria de agentes políticos os agentes públicos que, sem subordinação hierárquica, tomam decisões políticas. Nessa hipótese, estariam nessa definição os Chefes do Executivo nas três esferas, seus auxiliares (Ministros ou secretários), membros de todos os parlamentares, magistrados e membros do Ministério Público55.

Celso Antônio Bandeira de Mello, diversamente, esposa um conceito menos amplo. Nele, seriam agentes públicos políticos os Chefes do Executivo nas três esferas, seus vices e seus auxiliares mais próximos (ministros, secretários estaduais e secretários municipais), bem como os membros do Poder Legislativo56.

José dos Santos Carvalho Filho entende por agentes políticos aqueles aos quais são designadas a execução das diretrizes determinadas pelo Estado. Caracterizam-se, adicionalmente, por, regra geral, exercerem seu mister de forma transitória. Sua investidura se dá, como regra, por meio de eleição, o que lhes dá, como decorrência, o direito a um mandato. Nesse conceituação, ainda, enquadram-se-iam na categoria em comento os chefes do executivo (isto é, Presidente, Governador e Prefeito), além de seus auxiliares (Ministros de Estado, Secretários Estaduais e Secretários Municipais), além dos membros do Poder Legislativo (deputados federais, deputados estaduais, vereadores e senadores)57.

Assim, adota o referido autor um conceito mais restritivo, semelhante ao adotado por Celso Antônio Bandeira de Mello, rechaçando, como consequência, a conceituação defendida por Hely Lopes Meirelles, que adota, como já demonstrado, conceituação mais ampla.

54 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2015. p. 615. 55 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de direito administrativo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 963.

56 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de direito administrativo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 963.

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2.3.4.1 Disposições legais acerca do Agente Político

Exposta a conceituação doutrinária acerca da expressão agente político, cabe agora apresentar as disposições legais, ainda que de maneira generalista, acerca do referido agente.

Em grande medida, referidas disposições estão presentes na Constituição da República Federativa do Brasil. Há, contudo, disposições em diplomas infraconstitucionais. Iniciar-se-á, contudo, pela análise das disposições contidas na CRFB.

Nesse contexto, a primeira disposição constitucional acerca dos agentes política é a contida no artigo 37, XI, CRFB58. Trata-se, nesse caso, de disposição acerca da subsídios

dos detentores de mandato eletivo, isto é, os agentes políticos, não poderão ser superiores aos dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.

Contudo, essa disposição inicial, notadamente de caráter prático, é, no bojo da Constituição, esparsa e assistemática. Com efeito, as disposições constitucionais de maior valor teórico para o presente trabalho se encontram no título IV da Constituição da República Federativa do Brasil (“Da organização dos poderes”).

Semelhantemente ao que ocorre em relação aos membros do Poder Legislativo, notadamente os deputados e senadores, também ocorre em relação a determinados agentes políticos membros do Poder Executivo. Desse modo, a Constituição da República Federativa do Brasil se preocupou em dar-lhes certas prerrogativas a fim de garantir-lhes a autonomia59.

Nesse contexto, os exemplos paradigmáticos de tais prerrogativas são as relativas aos crimes de responsabilidade e os relativos ao procedimento de crimes comuns.

No primeiro caso, no procedimento de impeachment, o procedimento é regrado por uma série de diretivas constitucionais. Inclusive, em não sendo finalizado o procedimento no prazo de 180 dias, retornará o Presidente da República a seu cargo (art. 86, §2º, da Constituição da República Federativa do Brasil)60.

No segundo caso, por outro lado, relativo a crimes comuns, há para o Presidente da República o foro por prerrogativa de função. Com efeito, será o Presidente da República julgado pelo Supremo Tribunal Federal, em conformidade com o disposto pela Constituição

58 BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm . Acesso em: 20 set. 2019.

59 Tratar-se-á, aqui, por questão de espaço, do Presidente da República, vez que suficiente para exemplificar as prerrogativas concedidas pela Constituição da República Federativa do Brasil.

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da República Federativa do Brasil (artigo 86). Antes, contudo, mister que haja a decisão que dê início ao referido procedimento, decisão essa que é de incumbência da Câmara dos Deputados e que, para tanto, recebe a denúncia oferecida pelo Procurador Geral da República61.

Identificadas quais são as espécies de agentes públicos e qual o papel que exercem no bojo da Administração Pública; bem como, em relação a esta, foram conceituados os institutos básicos acerca de sua estrutura e atividade, poder-se-á conceituar inteligência artificial e como se dá sua relação com a Administração Pública hodiernamente.

(26)

3INTELIGÊNCIAARTIFICIALEADMINISTRAÇÃOPÚBLICA

Neste capítulo, buscar-se-á expor os princípios constitucionais que orientam a atuação da Administração Pública; bem como, o conceito de inteligência artificial. Com isso, estabelecidas as delimitações conceituais da IA, poder-se-á passar para a identificação dos casos de uso de tal tecnologia no contexto da administração pública brasileira. Em seguida, verificar-se-á a relação havida entre o uso da inteligência artificial no contexto administração pública brasileira.

3.1PRINCÍPIOSCONSTITUCIONAIS-ADMINISTRATIVOS

Antes de se adentrar, de modo particular, sobre o conteúdo de cada princípio, importa ressaltar que existem características comuns a todos eles. Exige-se, dessa forma, pontuar tais aspectos gerais, ainda que de modo superficial.

3.1.1 Aspectos gerais

A Administração Pública, entendida em seu sentido amplo, está adstrita não tão somente às leis que a regem, mas, também, está submetida aos princípios constitucionais-administrativos, em razão da carga normativa que tais princípios têm em nosso ordenamento jurídico contemporâneo62.

Devido a isso, é de salutar importância estudá-los, ainda que de maneira superficial, a fim de compreender com exatidão todos os elementos normativos com repercussão na presente questão.

Os princípios não se traduzem como meras orientações que devem nortear a atividade jurídica de todo e qualquer operador do Direito, nem se configuram como postulados esvaziados de sentido normativo. Hodiernamente os princípios carregam força normativa63 e, por consequência, exigem a sua aplicação prática no mundo concreto, com

eventual responsabilização por seu descumprimento64.

62 MAFFINI, Rafael. Direito administrativo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006.

63 CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. Administração pública democrática e supremacia do interesse

público: novo regime jurídico-administrativo e seus princípios constitucionais estruturantes. Curitiba: Juruá

Editora, 2015, p. 154-155.

64 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 53.

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Contudo, ainda que sejam normas, em sentido amplo do termo, os princípios se diferem das regras. As diversas características inerentes aos princípios requerem a utilização de técnica outra para sua aplicação, qual seja, a ponderação; enquanto, em contrapartida, para aplicação de regras, usa-se a técnica da subsunção65.

A primeira característica primordial é a inexistência de hierarquia formal e rígida entre os princípios, o que permite a flexibilização de seu valor e determinação da dimensão de seu peso quando ponderado seu grau de preponderância na aplicação do caso concreto66.

Quer dizer, todos os princípios possuem o mesmo valor de modo abstrato e nenhum terá condão de esgotar o conteúdo dos demais67, embora se constate no ordenamento jurídico

pátrio a existência de princípios imbuídos de valor mais amplo, como são os Princípio da Supremacia do Interesse Público e o Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público.

Já a segunda característica é a desnecessidade de estarem expressos em lei, ou até mesmo no corpo da Constituição da República Federativa do Brasil, para haver a sua existência. Isso, pois, é possível a extração de princípios implícitos a partir da substância de direitos fundamentais. Dessa forma, não há a criação artificial de princípios, porém ocorre a ablação de seu conteúdo como consequência lógica da interpretação teleológica de outras normas e/ou direitos, seja em sentido formal ou material68.

Delineadas algumas características gerais atinentes a todos os princípios, há de se pontuar que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu art. 37, caput, arrolou cinco princípios explícitos que regem a Administração Pública, quais sejam: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência69.

Portanto, referidos princípios merecem maior atenção em estudos que tratem sobre Administração Pública, em vista do caráter imprescindível dessas normas de otimização cuja substância e extensão atingem todos os âmbitos possíveis. Dessa forma,

65 ALEXANDRE, Ricardo; DEUS, João de. Direito administrativo. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense; São

Paulo: Método, 2017, p. 138.

66 MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 68.

67 MAFFINI, Rafael. Direito administrativo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 36. 68 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Diego. Curso de direito

constitucional. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 270.

69 BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:

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passa-se a um estudo breve sobre esses princípios, contudo, sem olvidar da existência de outros que também repercutem na seara administrativa70.

3.1.2 Princípio da Legalidade

O conjunto de leis, princípios, regras e demais regulamentos os quais a Administração Pública está submissa para sua atuação é chamado de regime jurídico-administrativo71.

O art. 5º, II da Constituição da República Federativa do Brasil cujo conteúdo determina que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”72, é o corolário do direito à liberdade à sociedade civil quando em sua atuação

privada. Em contrapartida, para a Administração Pública impera o Princípio da Legalidade Estrita, ou seja, só lhe é permitido atuar no momento e da maneira preconizada em lei, portanto, vedada a prática de qualquer ato não disposto em lei ou, ainda, praticar ato previsto positivamente, porém sem preencher os demais requisitos formais para sua formação73.

Dessa forma, o princípio da legalidade é, ademais de um direito, uma garantia ao cidadão. Nas palavras de Marçal Justen Filho “essa garantia traduz-se na participação do povo ou de seus representantes eleitos na produção de normas que introduzem inovação na ordem jurídica”74.

Assim, em estrita observância ao princípio da legalidade, a implementação de inteligência artificial para executar tarefas atinentes às funções do agente público, em especial, deve ser precedida de norma específica autorizadora; bem como, o modo com que será aplicada, os limites de sua atuação e outras especificidades relativas à questão hão de serem delimitados também em lei, sob pena de incorrer em nulidade absoluta do ato administrativo praticado pela IA.

70 BRASIL. Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal. Brasília, DF: Presidência da República, 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm. Acesso em: 14 out. 2019.

71 HEGER, Marcelo. O Direito administrativo e o regime jurídico administrativo. In HEGER, Marcelo (Coord.). Curso de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007, p. 4.

72 BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm . Acesso em: 14 out. 2019 73 MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 74.

74 JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 12. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 72.

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3.1.3 Princípio da Impessoalidade

O famigerado art. 5º de CRFB, em especial o conteúdo do seu caput, também assegura a todos o direito à igualdade. Esse direito fundamental exige que todos sejam tratado da mesma maneira perante a lei, salvaguardando-os de uma sorte de discriminações75.

Por consequência lógica extraída do núcleo do princípio da isonomia, não pode haver preferências à determinada pessoa ou grupo, por qualquer razão, de mesmo modo que é vedado que determinada pessoa ou grupo seja excluída, inferiorizada, desvalorizada e/ou preterida em relação às demais. Em relação à atuação da Administração Pública tal postulado se substancia no princípio da impessoalidade, o qual é possui dois sentidos.

Em sentido objetivo, os aspectos pessoais, sociais, econômicos ou outro que cause repercussão na personalidade do indivíduo ou na sociedade, não devem ser considerados pela Administração Pública quando atuar. Ou seja, tais circunstâncias não podem servir de base para privilegiar ou discriminar76.

Em sentido subjetivo, diz respeito ao fato que o agente público é mero instrumento para formalização da atividade da Administração Pública cujo objetivo é a satisfação do interesse público primário. Em outras palavras, estão impedidos os agentes públicos valessem dos méritos da Administração Pública em proveito próprio, atribuindo a si, como pessoa física, a glória e prestígio decorrentes de atos administrativos, que competem exclusivamente à Administração Pública77. O agente público, pois, age em nome da

Administração Pública, como seu representante, sem, contudo, jamais confundir-se para com ela, sendo vedado o uso de qualquer tipo de símbolo, nomes ou imagens que remetem à promoção pessoal da autoridade ou servidor público78.

Assim, para respeitar o princípio da impessoalidade, o uso de inteligência artificial pela Administração Pública deve observar ambos os sentidos pelos quais o princípio é entendido. Em relação ao sentido subjetivo, não se vislumbra neste trabalho empecilho à utilização de IA, mesmo em funções atinentes à agentes políticos, pois, independente se é uma inteligência artificial ou uma pessoa humana ou jurídica quem decidiu, a decisão tomada, se tratará, ao cabo, de um ato da Administração Pública.

75 MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 89. 76 GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 62-63. 77 MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 77. 78 BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:

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Em contrapartida, em relação ao sentido objetivo, inteligências artificiais são um reflexo das informações recebidas durante o seu desenvolvimento de aprendizagem. Ao se ter em mente que o ser humano carrega consigo valores morais, princípios e virtudes, como também preconceitos, discriminação e desrespeito79, há de se ter cautela com as espécies de

dado recebido e processados pela IA com o fito de evitar que esta proceda de maneira temerária ao replicar maus comportamentos, atitudes desvinculadas de valores jurídicos protegidos, como respeito, boa-fé, probidade e retidão, ao adentrar em momento decisório. Causará, ainda que por via transversa, prejuízos iguais à decisão desabonadora de uma pessoa física em cargo político80.

3.1.4 Princípio da Moralidade

Por conta da execução última da Administração Pública ser a consecução do interesse público primário, não lhe é permitida atuar em busca de outro objetivo senão com essa finalidade, sob pena de ilegalidade por abuso de poder, consistente no desvio de finalidade81. Assim, o agir da Administração Pública, por ser representada por humanos ao

fim, deve ser moral, por imposição constitucional.

Segundo Kant, “o princípio supremo da moral é, portanto, age segundo uma máxima que possa ter valor como lei geral. Toda máxima que não seja suscetível dessa extensão é contrária à moral”82.

E a partir desse ensinamento, Jefferson Aparecido Dias defende que o princípio moralidade se substancia na atuação imparcial da Administração Pública cujo dever é tratar todos com igual consideração e respeito83.

79 VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 37. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017, p. 65-66. 80 REGAN, Priscilla M. A Public Administrator’s Practical Guide to Ethics and Artificial Intelligence.

Artificial Intelligence and its impact on Public Administration. Washington, p. 17-23, [2019], p. 19.

Disponível em: https://www.napawash.org/uploads/Academy_Studies/9781733887106.pdf. Acesso em: 31 out. 2019.

81 CARLIN, Volnei Ivo. Manual de direito administrativo: Doutrina e jurisprudência. 4. ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007, p. 427.

82 KANT, Emmanuel. Doutrina do direito. São Paulo: Ícone, 1993, p. 40.

83 DIAS, Jefferson Aparecido. Princípio da eficiência & moralidade administrativa: a submissão dos princípios da Eficiência à moralidade administrativa na constituição federal de 1988. Curitiba: Juruá Editora, 2007, p. 73.

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Há de se pontuar, além disso, que o estudado princípio não condiciona somente a atividade administrativa, mas também a todos os atos praticados por particulares que mantenham algum vínculo com a Administração Pública84.

Como consequência, se possível o uso de inteligência artificial em substituição de agente políticos, tal substituição está condicionada à possibilidade de incutir valores morais, como consideração e respeito, como parâmetros objetivos na formulação da decisão tomada pela máquina.

3.1.5 Princípio da Publicidade

Publicidade significa tornar público, ou seja, estado ou qualidade do que é público. Publicidade é elemento essencial para validade do ato administrativo85, pois é direito

dos destinatários da atividade administrativa tomar conhecimento acerca dos atos praticados pela Administração Pública, uma vez que, ademais do poder-dever de controle interno de seus atos, por meio da autotutela, a Administração Pública também está submetida ao controle externo86.

Controle externo pode ser feito tanto pelos próprios cidadãos, dispondo de ferramentas para isso87; bem como, é dever de outros poderes do Estado, como Judiciário e

Legislativo, no chamado sistema de freios e contrapesos88. Ainda há as chamadas funções

essenciais da Justiça, abarcadas em Ministério Público (art. 127), Advocacia Pública (art. 131), Advocacia Privada (art. 133) e Defensoria Pública (art. 134) que possuem legitimidade para proporem diversas espécies de ações a fim de fiscalizar a atividade administrativa pública89.

84 DIAS, Jefferson Aparecido. Princípio da eficiência & moralidade administrativa: a submissão dos princípios da Eficiência à moralidade administrativa na constituição federal de 1988. Curitiba: Juruá Editora, 2007, p. 70.

85 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri (org.). Dicionário técnico jurídico. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2004, p. 448.

86 GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1039.

87 Cita-se, a título de exemplos, a Ação Popular, regida pela Lei n. 4.17/65; e Direito de Petição, conforme art. 5º, XXXIV, CRFB. BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm . Acesso em: 31 out. 2019.

88 STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência política e teoria do estado. 8. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014, p. 190.

89 Todos artigos mencionados são da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm . Acesso em: 31 out. 2019.

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Logo, vê-se a importância da publicidade, pois é “instrumento de aferição do grau de respeito aos demais princípios da Administração Pública”90. Em razão da publicidade

ser regra fundamental da Administração Pública91 e colacionado ao exposto no subtítulo

acerca do Princípio da Legalidade, o desempenho da inteligência artificial há de ser público, aferível, calculável e passível de controle, devendo preencher todos os requisitos de validade do ato administrativo, em especial, observados os princípios e critérios descritos no art. 2º, caput e incisos da Lei n. 9.784/99.

3.1.6 Princípio da Eficiência

O Princípio da Eficiência não estava incluído, inicialmente, no rol de princípios norteadores da Administração Pública. Fora adicionado pela Emenda Constitucional n. 19, de 04 de junho de 1999, a fim de dar maior efetividade à atividade administrativa, em um modelo de administração gerencial92.

É de se salientar, contudo, que este princípio não foi uma inovação por completo na ordem jurídica constitucional, tendo em vista que a própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 trouxera em seu bojo diversos dispositivos que impunham o dever de ser eficiente. Cita-se, a título de exemplo: art. 70, caput, o qual atribui aos Poderes o dever de controle de economicidade por via do controle externo e interno; art. 74, II, a avaliação de resultados na qual a Administração Pública está submetida acerca de sua gestão orçamentária, financeira e patrimonial; art. 144, §7º, sobre lei que deverá dispor acerca da organização e funcionamento da segurança pública, com o objetivo de garantir eficiência à sua atividade93.

Dessa feita, o princípio da eficiência, ainda que não fosse explícito, se revela como imposição do Estado Democrático de Direito cujo comando impõe à Administração

90 MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Transparência administrativa: Publicidade, motivação e participação popular. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 37.

91 MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Transparência administrativa: Publicidade, motivação e participação popular. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 37.

92 FIGUEIREDO, Cláudio Eduardo Regis de. Administração gerencial e a reforma administrativo do

Brasil. Curitiba: Juruá, 2008, p. 65.

93 BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:

(33)

Pública a satisfação efetiva dos direitos fundamentais, por meio da adequação de serviços públicos e racionalização do exercício administrativo94.

Em observância, entretanto, ao princípio da legalidade, há de se estabelecer critérios objetivos de eficiência, sob pena de infundir-se em termo jurídico indeterminado de difícil aplicação. A fim de resolver essa celeuma, delimita-se eficiência administrativa pública como: ação idônea; ação econômica e ação satisfatória95.

Assim, o agir administrativo eficiente demanda transparência, expressão do princípio da publicidade, diálogo, probidade e imparcialidade em suas relações, servindo de instrumento para racionalização e otimização dos meios e recursos disponíveis, na busca da satisfação dos direitos fundamentais96.

3.2CONCEITODEINTELIGÊNCIAARTIFICIAL

Hodiernamente, pode-se falar que se vive numa sociedade pós-industrial ou “sociedade da informação”. A produção de bens não é mais o centro gravitacional da economia; agora, o centro de toda a economia é a informação97. A base econômica, de agora

em diante, é a informação, o conhecimento.

Nessa conjuntura, portanto, a inteligência artificial ganha enorme relevância. Justamente por isso, deve ser exposta sua conceituação, bem como suas características essenciais.

A conceituação do que vem a ser inteligência artificial não pode ser pura e simplesmente apresentada sem que se façam as devidas ressalvas. Isso porque, conforme alertam Stuart Russel e Peter Norvig98, existem ao menos oito definições da Inteligência

Artificial. Tais definições diferem porque, em grande parte, agrupam-se em quatro aspectos fundamentais.

94 CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. Administração pública democrática e supremacia do interesse

público: novo regime jurídico-administrativo e seus princípios constitucionais estruturantes. Curitiba: Juruá

Editora, 2015, p. 291.

95 MODESTO, Paulo. Notas para um debate sobre o princípio da eficiência. Revista do Serviço Público, ano 51, n. 2. abr./jun. 2000, p. 105-119. Disponível em:

https://revista.enap.gov.br/index.php/RSP/article/view/328. Acesso em: 31 out. 2019.

96 CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. Administração pública democrática e supremacia do interesse

público: novo regime jurídico-administrativo e seus princípios constitucionais estruturantes. Curitiba: Juruá

Editora, 2015, p. 292-293.

97 BELL, Daniel. The Coming of post-industrial society. Communication, [s.l], v. 10, p. 35-58, 2001, p. 35. 98 RUSSEL, Stuart; NORVIG, Peter. Inteligência artificial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. p. 25.

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