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Análise de Dados e Informações

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Academic year: 2021

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(1)

An´

alise de Dados e Informa¸c˜

oes

OBRA EM CONSTRUC

¸ ˜

AO

Andr´

e C. R. Martins

(2)

Sum´

ario

Conte´udo i

Pref´acio v

1 Racioc´ınio Humano e Falhas 1

1.1 Erros L´ogicos . . . 2

1.1.1 Confirma¸c˜ao ou Nega¸c˜ao? . . . 2

1.1.2 Caixas de Bancos . . . 4

1.2 Escolhas . . . 6

1.2.1 Enquadramento . . . 6

1.3 Erros Probabil´ısticos . . . 7

1.3.1 Doente ou Saud´avel? . . . 7

1.3.2 Monty Hall . . . 7

1.3.3 M´as escolhas . . . 7

1.4 Heur´ısticas e Eficiˆencia . . . 7

2 Opini˜oes e Conhecimento 9 2.1 Opini˜oes . . . 11

2.2 Conhecimento . . . 11

2.3 Coment´arios Adicionais . . . 12

3 Obtendo Informa¸c˜oes atrav´es de Fontes Externas 13 3.1 Fontes de Informa¸c˜ao e Confiabilidade . . . 14

(3)

ii SUM ´ARIO

3.2 Leitura Cr´ıtica . . . 16

4 O M´etodo Cient´ıfico 19 4.1 A Necessidade de Regras - Heur´ısticas . . . 19

4.2 Existe um M´etodo ´Unico? . . . 21

4.3 Experimentos . . . 25

4.4 Resultados Te´oricos . . . 26

5 L´ogica Dedutiva 29 5.1 Silogismos . . . 30

5.2 Conjuntos e Diagrama de Johnston/Venn . . . 32

5.3 L´ogica Informal e L´ogica Formal . . . 34

5.4 Fal´acias . . . 34

6 L´ogica Indutiva 37 6.1 Incerteza e o Mundo Real . . . 38

6.2 Silogismos Fracos . . . 39

6.3 Outras L´ogicas . . . 40

7 Probabilidade 41 8 Plausibilidade e Probabilidade Subjetiva 43 8.1 Medindo Plausibilidades . . . 43

8.2 Desiderata a Jaynes . . . 43

8.3 Teorema de Bayes . . . 43

8.4 Coerˆencia . . . 43

9 Utilidade e Teoria da Decis˜ao 45 9.1 Teoremas de Representa¸c˜ao . . . 45

9.1.1 Transitividade . . . 45

9.1.2 Normalidade . . . 45

(4)

SUM ´ARIO iii

9.2 Apostas e o “Dutch Book” . . . 45

9.3 Preferˆencias . . . 46

9.4 Arvores´ . . . 46

10 Racionalidade Completa ´e Poss´ıvel? 47 10.1 O Decisor ´Otimo . . . 47

10.2 Omnisciˆencias e Racionalidade . . . 47

10.3 O Problema da Velha Evidˆencia . . . 47

10.4 Indu¸c˜ao e Hume . . . 47

11 Posmodernistas 49 11.1 Relativismo Absoluto e suas Inconsistˆencias . . . 49

11.2 Um Desbafo Pessoal . . . 49

11.3 Cr´ıticas S´erias . . . 49

12 Viola¸c˜oes da Racionalidade e Heur´ısticas 51 12.1 Decis˜oes Reais . . . 52

12.2 Allais e Ellsberg . . . 54

12.3 Lidando com Probabilidade . . . 54

12.3.1 Apostas e “Prospect Theory” . . . 55

12.3.2 Dominˆancia Estoc´astica e Ramos de Apostas . . . 56

12.4 Detectando Rela¸c˜oes . . . 57

12.5 Previs˜oes Humanas . . . 57

12.6 Outros Efeitos . . . 59 12.6.1 Aleat´orio ou N˜ao ? . . . 59 12.6.2 Conservadorismo . . . 59 12.6.3 Ordem . . . 59 12.6.4 Calibra¸c˜ao . . . 59 Bibliografia 61

(5)
(6)

Pref´

acio

Este texto ainda est´

a em constru¸c˜

ao e certamente

cont´em erros. Coment´

arios e corre¸c˜

oes s˜

ao

extrema-mente bem vindos.

Primeira Vers˜ao: Fevereiro de 2005 Esta Vers˜ao: 27 de fevereiro de 2008

Este livro pretende explorar as formas pelas quais n´os mudamos de opini˜ao e, em especial, quais destas formas podem ser consideradas aceit´aveis, no sentido de serem ´uteis na escolha de opini˜oes bem fundamentadas e o mais pr´oximas da reali-dade, dada a informa¸c˜ao dispon´ıvel. Desta forma, exploraremos alguns dos t´opicos da Epistemologia, adotando aqui como postura geral, a id´eia de que o conhecimento de uma pessoa pode e deveria ser representado como probabilidades subjetivas, quando esta op¸c˜ao for poss´ıvel. Ou seja, este texto segue, em geral, a vis˜ao do conhecimento descrita como Bayesianismo.

A necessidade para esta obra surgiu da constata¸c˜ao minha e dos professores Ana Am´elia Benedito-Silva, Esteban Tuesta e Renato Vicente que os textos exis-tentes em portuguˆes para serem seguidos como livro texto na mat´eria Tratamento e An´alise de Dados/Informa¸c˜oes do ciclo b´asico da Escola de Artes, Ciˆencias e Humanidades da USP eram todos de qualidade muito inferior ao desejado ou in-completos para as nossas necessidades, apresentando erros ou imprecis˜oes que n˜ao eram compat´ıveis com o n´ıvel do curso que desej´avamos ministrar. Assim, decidimos adotar apostilas preparadas por n´os, ao inv´es de seguir um material j´a existente, de forma a ter um texto adequado `as nossas necessidades. Isto significa, na verdade, duas coisas. No que se refere a primeira parte do curso, sobre racioc´ınio l´ogico e o “m´etodo cient´ıfico”, os textos que n´os encontramos eram imprecisos e ruins. Isto n˜ao exclui a possibilidade de haver textos melhores que n˜ao conseguimos encontrar, mas a qualidade do material que era poss´ıvel encontrar em livrarias n˜ao nos deu muita esperan¸ca quanto a um eventual sucesso. N˜ao que todos os textos encontra-dos contivessem erros, eles apenas n˜ao eram completamente corretos ou eram muito incompletos, mais preocupados com a forma de um texto e n˜ao com o seu conte´udo,

(7)

quando a verdadeira Ciˆencia deveria se preocupar com o conte´udo em primeiro lugar. A forma tem sua utilidade, uma padroniza¸c˜ao dos textos de fato torna o trabalho um pouco mais f´acil, o que, num mundo complexo, ´e uma qualidade boa, mas a Ciˆencia poderia viver tranquilamente sem esta. A Ciˆencia jamais poderia viver sem o conte´udo muito bem constru´ıdo, no entanto, portanto, um livro sobre metodologia deveria se preocupar essencialmente com este. E, o mais grave, uma parcela signi-ficativa dos textos que se dizem sobre Metodologia Cient´ıfica nas livrarias brasileiras parecem ter sido escritos para analfabetos. Dado o n´ıvel da educa¸c˜ao de primeiro e segundo grau que aparentemente a maior parte dos alunos recebe neste pa´ıs, isto pode parecer justific´avel. Mas este n´ıvel certamente n˜ao deveria ser aceit´avel em qualquer boa universidade.

O segundo motivo pelo qual decidimos por um material pr´oprio, neste caso, para a segunda parte do curso, sobre Estat´ıstica, por outro lado, foi de outro tipo. Sendo um curso de apenas duas horas por semana que visa fornecer ao aluno uma vis˜ao geral sobre a Estat´ıstica, precis´avamos de um livro que n˜ao fosse muito a fundo na mat´eria, mas que fosse claro e correto. Existem alguns livros bons de Estat´ıstica, em especial, de Estat´ıstica Cl´assica, mas os melhores textos s˜ao , na verdade, mais profundos do que as nossas necessidades, enquanto que, por outro lado, ignoram, ou tratam de forma muito superficial, os m´etodos logicamente corretos, ou seja, a Estat´ıstica Bayesiana. Este texto, no entanto, n˜ao tem a inten¸c˜ao de servir tamb´em de texto base para a ´area de Estat´ıstica, onde ´e poss´ıvel trabalhar bibliogr´afico com o material j´a existente, dado as nossas necessidades.

Pelo contr´ario, ao come¸car a planejar esta obra, deparei-me com uma s´erie de resultados que eu gostaria de comunicar e, desta forma, o plano inicial cresceu para um tamanho maior do que o curso para qual ela servir´a de apostila. Neste momento, os cinco primeiros cap´ıtulos de fato correspondem ao material a ser apresentado no curso, enquanto os cap´ıtulos seguintes, ainda planejados, s˜ao, na verdade, um material mais avan¸cado do que o curso de primeiro semestre para o qual comecei a criar este texto, material com o qual pretendo complementar a primeira parte, de forma a compor um livro sobre o assunto.

(8)

Cap´ıtulo 1

Racioc´ınio Humano e Falhas

“The real problem is not whether machines think, but whether men do.” B. F. Skinner Todos n´os somos capazes de raciocinar com algum grau de competˆencia. Este grau pode variar bastante de um indiv´ıduo para o outro, mas, em geral, n´os somos capazes de resolver a maior parte dos problemas que enfrentamos no dia a dia com alguma precis˜ao. Em especial, h´a uma s´erie de problemas altamente complexos, de um ponto de vista computacional 1 que resolvemos diariamente sem qualquer

esfor¸co aparente, como, por exemplo, andar ou reconhecer os rostos e vozes de um n´umero grande de pessoas. Nossos c´erebros s˜ao muito bem equipados para lidar com situa¸c˜oes do dia a dia e, portanto, ´e razo´avel que tenhamos alguma confian¸ca nas nossas capacidades cognitivas. Em especial, n´os confiamos bastante em nossa capacidade de an´alise e nos nossos racioc´ınios. E, no entanto, temos de reconhecer que, frequentemente, cometemos erros. Deixamos de usar ou perceber alguma in-forma¸c˜ao relevante, fazemos uma an´alise incompleta ou, provavelmente de forma mais frequente do que gostar´ıamos de admitir, simplesmente pensamos errado.

Obviamente, de forma a julgar um racioc´ınio como errado, precisamos enten-der o que seria um racioc´ınio correto, algo que ser´a um tema importante em boa parte deste livro. Uma resposta simplista (e, infelizmente, bastante em moda em certos c´ırculos) ´e considerar que n˜ao existe algo correto, que um saber ´e t˜ao v´alido quanto qualquer outro. Como discutiremos adiante, tal cr´ıtica surgiu n˜ao de cien-tistas trabalhando nas chamadas “ciˆencias duras”(hard science), onde os crit´erios de aceita¸c˜ao de de corre¸c˜ao de erros s˜ao claros e bem estabelecidos o bastante para que tal bobagem seja prontamente identificada como tal. Ao contr´ario, a cr´ıtica se originou de forma razo´avel em an´alises competentes, ainda que, por vezes,

(9)

tas, de fil´osofos da Ciˆencia, que foram aumentadas at´e sua vers˜ao atual por pessoas trabalhando nas Humanidades. E, eu creio, isto ´e uma informa¸c˜ao extremamente relevante e quem tem sido ignorada nas discuss˜oes. Ou seja, como discutiremos mais a frente, enquanto o conhecimento atual em ´areas como F´ısica ou Biologia ´e confi´avel o suficiente para que as cr´ıticas possam ser consideradas tolas (e at´e mesmo perni-ciosas), o mesmo n˜ao ocorre, em geral, nas Ciˆencias Humanas. A meu ver, existem v´arias ´areas onde o conhecimento atual ´e, sim, o resultado de uma constru¸c˜ao social. Mas o fato de que possam existir ´areas que se auto-denominam cient´ıficas onde as teorias aceitas sejam apenas um construto social n˜ao significa que estas ´areas sejam Ciˆencia, nem que o observado ali seja verdade para todas as ´areas. O que acontece ´e que os profissionais que tentam fazer Ciˆencia, nestas ´areas, ignoram o que realmente deveriam fazer e s˜ao v´ıtimas de v´arios dos erros que discutiremos abaixo, dentre outros, que s´o abordaremos mais adiante.

Ou seja, compreender o que ´e e o que n˜ao ´e certo ´e fundamental para a con-stru¸c˜ao de uma base de conhecimento s´olida e este ser´a um dos principair pontos apresentados neste livro. E tamb´em ´e fundamental entender que nossos c´erebros hu-manso s˜ao dotados de estrat´egias ´uteis mas sujeitas a falhas. Muitas destas falhas j´a s˜ao bastante conhecidas e ´e lament´avel que as pessoas ainda afirmem ter certeza de suas convic¸c˜oes, quando estas s˜ao baseadas em argumentos e racioc´ınios que utilizam apenas nosso bom senso sujeito a tais falhas. N´os precisamos de mais do que nosso simples senso comum e temos a disposi¸c˜ao, hoje em dia, ferramentas melhores para lidar com o conhecimento. E, para perceber isto, come¸caremos estudando alguns erros j´a bastante bem descritos na literatura. O objetivo dos exemplos abaixo n˜ao ´

e fornecer uma revis˜ao sobre as pesquisas sobre falhas de racionalidade humana. A ´

area ´e muito ampla e uma revis˜ao desta estaria fora dos objetivos deste livro. Al´em disso, j´a existem bons textos que fazem este trabalho, descrevendo e resumindo o re-sultado de in´umeros experimentos realizados sobre como as pessoas tomam decis˜oes. Bons exemplos desta ´area s˜ao os livros do Plous [65] ou do Baron [?].

1.1

Erros L´

ogicos

O racioc´ınio l´ogico ´e algo conhecido h´a milhares de anos. Na Gr´ecia Antiga, sabe-mos que Arist´oteles j´a havia organizado um sistema l´ogico completo em sua obra “Organon”, obra cuja influˆencia persiste nas descri¸c˜oes do que ´e L´ogica at´e os dias de hoje. Um estudo superficial, mas abordando alguns pontos principais do pro-blema da L´ogica pode ser encontrado nos Cap´ıtulos 5 e 6, onde v´arios erros l´ogicos ser˜ao apresentados e discutidos. Aqui, vamos lidar com erros que n˜ao precisam de qualquer estudo para serem percebidos como tal, ainda que sejam bastante comuns.

(10)

1.1.1

Confirma¸

ao ou Nega¸

ao?

Um exemplo cl´assico, descrito inicialmente por ???? [?], ´e o problema das cartas. Suponha que vocˆe tenha um baralho de cartas e que vocˆe sabe, ap´os verificar cada uma das cartas, que todas elas possuem uma letra de um lado e um n´umero do outro. Um amigo seu d´a uma r´apida olhada no baralho e faz a seguinte afirma¸c˜ao: “Que interessante! Sempre que h´a uma vogal de um lado, do outro lado da carta, o n´umero ´e par.”Vocˆe desconfia que ele cometeu um erro, vocˆe teria reparado se este fosse o caso e vocˆe gostaria de provar que ele est´a errado. Para tanto, vocˆe pega as primeiras quatro cartas do baralho e, antes de virar e ver o que est´a do outro lado, as coloca sobre a mesa. As cartas que vocˆe observa s˜ao:

E K 4 7

Como vocˆe gostaria de provar o erro do seu amigo, s´o interessa virar cartas que poderiam provar que ele est´a errado. Portanto a pergunta que vocˆe tem de responder ´e simples: Quais destas cartas, se eu virar, podem provar que a afirma¸c˜ao do seu amigo est´a errada? Pare e pense um pouco sobre a sua resposta, antes de prosseguir.

Se vocˆe ´e como a maioria das pessoas, de acordo com o experimento original e tamb´em de acordo com o que eu observo em sala de aula toda vez que passo este exemplo para os meus alunos que est˜ao no primeiro semestre dos seus cursos na Escola de Artes, Ciˆencias e Humanidades da Universidade de S˜ao Paulo, vocˆe identificou corretamente que a carta com a letra E pode provar que seu amigo est´a errado. Afinal, se houver um n´umero ´ımpar do outro lado, a demonstra¸c˜ao do erro est´a feita. Em geral, as pessoas n˜ao erram esta an´alise.

De forma menos certa, mas razoavelmente consistente, vocˆe deve ter identifi-cado que a carta K n˜ao pode provar nada sobre a afirma¸c˜ao do seu amigo. Ainda assim, algumas pessoas identificam a carta K como poss´ıvel prova do erro, racioci-nando que se houver um n´umero par atr´as, a afirma¸c˜ao seria falsa. Mas note que isto n˜ao ´e verdade. O que seu amigo disse foi que, se for uma vogal, atr´as h´a um n´umero par. Ele n˜ao garantiu nada sobre consoantes e n˜ao afirmou nada sobre a inversa, ou seja, se tamb´em seria verdade que atr´as de n´umeros pares deveriam haver s´o vogais. Isto seria compat´ıvel com a afirma¸c˜ao dele, mas n˜ao ´e necess´ario.

Mas seus acertos provavelmente pararam a´ı. Se vocˆe ´e como a maioria das pessoas, h´a uma grande chance que vocˆe tenha errado nas cartas que mostram n´umeros do lado vis´ıvel. Em geral, as pessoas apontam a carta 4 como poss´ıvel prova do erro. Mas note que ela n˜ao tem como fazer isso. Se for vogal do outro lado, ela apenas confirma a regra. Se for consoante, estamos no mesmo caso da carta K.

(11)

Finalmente, poucas pessoas identificam a carta 7 como sendo uma que pode provar o erro, possivelmente, porque a regra n˜ao fala nada sobre n´umeros ´ımpares. Mas note que, se houver uma vogal do outro lado, ent˜ao isso provaria que a regra estava errada, o que era o nosso objetivo.

O estranho aqui ´e que o problema ´e bastante simples e, uma vez que vocˆe tenha entendido o que aconteceu, provavelmente ficou na embara¸cosa situa¸c˜ao de explicar para si mesmo como pode errar em um problema assim simples. Uma fonte de consolo est´a no fato de que, se vocˆe errou de fato, o fez junto com a maioria das pessoas testadas. De fato, nas minhas salas de primeiro ano, com cerca de 60 alunos, ´e muito comum n˜ao encontrar ningu´em que perceba a resposta certa (e tenha coragem o bastante para enfrentar a opini˜ao contr´aria da maioria).

Por mais embara¸coso que este erro possa parecer, ´e tamb´em interessante notar que experimentos feitos com a mesma estrutura, mas envolvendo situa¸c˜oes encon-tradas no cotidiano das pessoas testadas, fornecem resultados completamente difer-entes. Nestes casos, em geral, as pessoas mostram ser bastante competentes em suas escolhas e an´alises. Um exemplo ´e trocar o caso das cartas pela seguinte regra: “N˜ao ´e permitido beber se vocˆe for menor de 18 anos”, ou, com o mesmo conte´udo, mas no formato do caso das cartas, “Sempre que algu´em est´a bebendo, este algu´em tem mais de 18 anos”. Nestas, circunstˆancias, se a tarefa ´e identificar em um grupo quais casos poderiam provar que a regra n˜ao est´a sendo seguida, onde a informa¸c˜ao que tenho sobre quatro pessoas ´e que

• a pessoa 1 est´a bebendo; • a pessoa 2 n˜ao est´a bebendo; • a pessoa 3 tem 25 anos de idade; • a pessoa 4 tem 16 anos de idade;

observa-se que os seres humanos, em geral, n˜ao tem nenhuma dificuldade em apontar as pessoas 1 e 4 como os caso em que a regra pode estar sendo quebrada.

´

E uma boa not´ıcia que n´os tenhamos alguma competˆencia nos problemas do dia a dia. O problema ´e que isso n˜ao serve para nada quando queremos fazer Ciˆencia. Os problemas mais simples j´a foram resolvidos h´a muito tempo e os problemas que restam s˜ao ou distantes da realidade cotidiana ou s˜ao problemas cotidianos que n˜ao entendemos t˜ao bem. Ou seja, n˜ao temos quaisquer garantias que nossos c´erebros n˜ao v˜ao nos enganar em uma an´alise do que parece ser certo. A nossa intui¸c˜ao pode ser usada como ponto de partida, mas ´e fundamental que qualquer id´eia seja testada e analisada da forma mais completa poss´ıvel.

(12)

1.1.2

Caixas de Bancos

Mas talvez o exemplo acima seja apenas uma exce¸c˜ao. Ent˜ao vamos ver o que outros experimentos dizem. Em 1982, Amos Tversky e Daniel Kahneman [?] apresentaram a seguinte descri¸c˜ao, seguida de uma pergunta, para uma s´erie de pessoas:

“Linda tem 31 anos, ´e solteira, franca e muito inteligente. Ele se formou em filosofia e, durante a faculdade, preocupava-se profundamente com os problemas de discrimina¸c˜ao e justi¸ca social, tendo, tamb´em, participado de manifesta¸c˜oes antinu-cleares.”

Com base na informa¸c˜ao acima, eles pediram que cada um dos volunt´arios sendo testado decidisse qual das duas alternativas abaixo era mais prov´avel de ser verdadeira:

1. Linda ´e uma caixa de banco.

2. Linda ´e uma caixa de banco e participa ativamente do movimento feminista. O que vocˆe teria respondido? O que Tversky e Kahneman observaram foi que a maioria das pessoas apontava a alternativa 2 como mais prov´avel. Afinal, dado a descri¸c˜ao fornecida, a id´eia de a Linda ser feminista parece mais razo´avel do que a de ela ser caixa de banco.

Uma vez que estamos discutindo falhas da racionalidade, parece razo´avel es-perar que exista uma resposta correta no problema acima. E, de fato, como v´arias pessoas percebem (ainda que n˜ao a maioria testada), a alternativa 1 tem de ser mais prov´avel que a 2. Isto ocorre pelo simples fato de que sempre que a 2 for verdade, Linda ´e uma caixa de banco e, portanto, a alternativa 1 tamb´em ser´a verdade. E ainda existe a possibilidade de que Linda seja apenas caixa e n˜ao feminista. Mesmo que esta probabilidade seja muito pequena, ela torna a alternativa 1 mais prov´avel. Novamente, uma vez que entendemos o problema, a resposta parece trivial. Mas permanece o fato de que, quando testadas, v´arias pessoas fornecem a resposta errada. Como na Subse¸c˜ao 1.1.1, havia uma resposta certa, da qual ningu´em que esteja em pleno dom´ınio de suas capacidades mentais duvida, uma vez que o pro-blema ´e analisado corretamente. E, novamente, vemos que nossos instintos falham, com maior ou menor chance de acordo com o problema. Um aspecto interessante ´e que, como sociedade, aprendemos a identificar estes problemas e aprendemos quais instrumentos nos permitem evitar estes erros. Desenvolvemos a L´ogica exatamente porque precisamos dela e da forma como ela organiza o racioc´ınio e evita que cometa-mos erros t˜ao triviais. Mas, por enquanto, ainda temos outras situa¸c˜oes e outros tipos de erros para analisar.

(13)

1.2

Escolhas

Quando temos uma escolha a fazer, que dependa de nossas preferˆencias pessoais, aparentemente, em uma primeira an´alise, n˜ao dever´ıamos ser capazes de cometer erros. Afinal, se escolhemos uma alternativa, mesmo que outras pessoas discordem da escolha, esta pode ser simplesmente o efeito de um conjunto de gostos e valores diferentes. Podemos discordar dos valores e dos gostos de outra pessoa mas, en-quanto nenhuma lei for quebrada, estas preferˆencias fazem parte dos nossos direitos b´asicos. Se o seu vizinho gosta mais de ma¸c˜as e vocˆe prefere laranjas, n˜ao h´a como determinar quem tem o gosto correto e quem tem o gosto errado.

No entanto, escolhas individuais podem estar erradas se elas forem inconsis-tentes. Por exemplo, ´e razo´avel esperar que, se vocˆe prefere laranjas a ma¸c˜as e, al´em disso, gosta mais de uvas do que de laranjas, vocˆe deve gostar mais de uvas do que de ma¸c˜as.

1.2.1

Enquadramento

Imagine que o pa´ıs est´a se preparando para o aparecimento de uma epidemia de uma rara doen¸ca asi´atica que, estima-se, ir´a matar 600 pessoas. Dois programas alternativos para se combater a doen¸ca foram propostos. Assuma que as estimativas cient´ıficas exatas para o resultado de cada programa sejam os dados abaixo:

• Se o Programa A for adotado, 200 pessoas ser˜ao salvas.

• Se o Programa B for adotado, existe um ter¸co de chance de que todas as 600 pessoas sejam salvas e dois ter¸cos de que todas morram.

Qual dos dois programas vocˆe escolheria? Esta pergunta foi feita por... para um grupo...

• Se o Programa C for adotado, 400 pessoas morrer˜ao.

• Se o Programa D for adotado, h´a um ter¸co de chance de que ningu´em morra e dois ter¸cos de chance de que todos morram.

(14)

1.3

Erros Probabil´ısticos

1.3.1

Doente ou Saud´

avel?

1.3.2

Monty Hall

1.3.3

as escolhas

(15)
(16)

Cap´ıtulo 2

Opini˜

oes e Conhecimento

Quando deparamos com um problema que precisa ser resolvido ou uma quest˜ao para a qual desejamos uma resposta, uma das primeiras coisas que precisamos nos perguntar ´e o que sabemos a respeito do assunto. Independente de se o problema a ser resolvido ´e escolher o curso superior que vocˆe deseja cursar ou obter previs˜oes para as consequˆencias do efeito estufa e, se necess´ario, propor a¸c˜oes para minimizar o problema, n´os sempre partimos do que j´a sabemos e, a partir deste conhecimento, devemos determinar se ´e necess´ario e fact´ıvel obter mais informa¸c˜oes que nos aju-dem na resolu¸c˜ao do problema. Caso precisemos destas informa¸c˜oes adicionais, ´e fundamental saber identificar de que forma estas podem ser obtidas. Cada um destes problemas ´e de extrema importˆancia para o tratamento de qualquer assunto e, desta forma, vamos estudar aqui os m´etodos que nos permitem tomar decis˜oes da forma mais correta poss´ıvel.

Um ponto interessante a ser levado em conta ´e que, muito embora ter mais informa¸c˜ao sobre um problema signifique que podemos tomar uma decis˜ao melhor, a obten¸c˜ao de qualquer informa¸c˜ao e o seu processamento ´e, em geral, um processo que possui custos. Isto quer dizer que, em algum ponto, a melhora esperada na tomada de decis˜ao obtida pela informa¸c˜ao adicional, n˜ao compensa os custos associados `a obten¸c˜ao e, neste ponto, faz sentido interromper o processo e escolher a melhor alternativa, dado o que se sabe no momento. Um problema interessante que surge aqui ´e que, de posse de informa¸c˜ao incompleta, qualquer tomada de decis˜ao ser´a sujeito a erros1e, exatamente pelo fato de n˜ao possuirmos toda a informa¸c˜ao, torna-se dif´ıcil avaliar qual a chance de estarmos cometendo um erro.

Se o nosso objetivo ´e tomar decis˜oes sobre o que fazer ou sobre o que sabemos, precisamos, portanto, de um conjunto de regras ou diretrizes que forne¸ca os

melho-1Isto n˜ao significa que com mais informa¸ao a possibilidade de errar ser´a sempre completamente

(17)

res resultados poss´ıveis. No caso de decis˜oes do dia a dia, faz sentido interomper o acumulo de informa¸c˜oes quando j´a temos uma id´eia razo´avel do que queremos. Ningu´em iria visitar todas as universidades e faculdades dispon´ıveis, se matricular em todos os cursos superiores em cada uma delas e procurar conversar com cada uma das pessoas que trabalham ali ou l´a se formaram para decidir o seu curso, porque isto envolveria um custo maior do que os benef´ıcios que se obteria da certeza de ter feito a melhor escolha poss´ıvel. Neste caso, uma vez que uma alternativa boa o suficiente tenha sido identificada, com um grau de incerteza razoavelmente pe-queno, tomamos a melhor decis˜ao dispon´ıvel. Isto n˜ao significa que n˜ao recolhemos qualquer informa¸c˜ao antes da decis˜ao, apenas que, em algum momento, paramos de fazˆe-lo. N˜ao apenas isto, mas ´e tamb´em verdade que, mesmo de posse de uma grande quantidade de dados, em geral, n˜ao utilizamos todos e a decis˜ao ´e tomada utilizando regras mais simples do que aquelas prescritas pela Teoria da Decis˜ao, ou, em outros termos, usamos heur´ısticas que nos permitam obter uma mescla de melhor resultado com menor esfor¸co. De fato, as viola¸c˜oes da racionalidade cometidas pelas pessoas observadas na literatura cient´ıfica podem ser entendidas como adapta¸c˜oes aos problemas complexos que nossos ancestrais tinham de resolver diariamente de forma a garantir a sua sobrevivˆencia.

Ou seja, ´e prov´avel que nosso c´erebro seja equipado de heur´ısticas ´uteis para tomar decis˜oes do tipo daquelas que nossos ancestrais tomavam, mas n˜ao necessari-amente ´uteis para os problemas mais sofisticados encontrados em diversas ´areas do conhecimento moderno. Isto faz com que uma discuss˜ao completa sobre de que forma devemos tomar nossas decis˜oes e de que forma devemos alterar nossas opini˜oes seja muito importante e ´util. O objetivo deste livro ´e exatamente explorar o problema de como podemos chegar a conclus˜oes que sejam a melhor descri¸c˜ao poss´ıvel da re-alidade de forma a que possamos tanto tomar decis˜oes mais s´olidas como tamb´em escolher qual de v´arias id´eias melhor descreveria o mundo onde vivemos (notemos aqui que, apesar de mencionados separadamente, ambos os problemas est˜ao intima-mente associados).

E, em especial, no que se refere ao conhecimento cient´ıfico, queremos ser ca-pazes de chegar t˜ao perto da verdade quanto poss´ıvel, procurando evitar racioc´ınios heur´ısticos, que possam levar a falhas de an´alise, sempre que isto for poss´ıvel. Uma vez que, como veremos, as regras que um agente completamente racional deveria seguir implicam em uma capacidade de mem´oria infinita, assim como a habilidade de realizar quaisquer opera¸c˜oes matem´aticas necess´arias em tempo zero, indepen-dente de sua complexidade, n˜ao ´e poss´ıvel esperar que seres humanos, n˜ao importa o qu˜ao brilhantes, sejam capazes de nunca apelar a heur´ısticas que facilitem seu processo de racioc´ınio. Desta forma, devemos estudar quais s˜ao as regras ideais, as-sim como quais heur´ısticas s˜ao aceit´aveis por, em geral, n˜ao darem origem a muitos erros de julgamento. Da mesma forma, uma id´eia clara de quando e de que forma

(18)

as heur´ısticas costumam falhar pode nos fornecer um quadro claro que nos permita avaliar a qualidade do conhecimento que possu´ımos de uma forma mais rigorosa.

2.1

Opini˜

oes

Um primeiro ponto a ser considerado na descri¸c˜ao de como as pessoas pensam sobre os problemas com que se deparam ´e que as pessoas tem opini˜oes sobre o como o mundo opera. Estas opini˜oes s˜ao baseadas nas observa¸c˜oes que elas puderam fazer durante toda a sua vida. Enquanto algumas s˜ao basicamente corretas ou pr´oximas da descri¸c˜ao correta, baseadas em um n´umero suficientemente grande de observa¸c˜oes (o que quer que isto signifique) e em uma an´alise correta do problema, outras opini˜oes s˜ao pouco mais que um palpite aleat´orio de algu´em que nunca se interessou sobre o assunto em quest˜ao. No entanto, cabe alertar que mesmo opini˜oes baseadas em muitos dados e an´alises n˜ao s˜ao verdadeiro saber, conforme definido na se¸c˜ao 2.2, e, quase sempre, est˜ao sujeitas a erros muito maiores do que a pessoa que as possue acredita, mesmo entre indiv´ıduos que afirmam estar fazendo Ciˆencia. Como veremos adiante, no Cap´ıtulo ??, mesmo indiv´ıduos racionais podem, sob as condi¸c˜oes apropriadas, ter opini˜oes muito distantes da realidade e existem v´arias ´

areas do conhecimento onde este efeito pode estar ocorrendo.

Isto n˜ao quer dizer que opini˜oes n˜ao devam ter um lugar em Ciˆencia ou em em regras epistemol´ogicas s´olidas. Pelo contr´ario, existem poucas ´areas sobre as quais podemos esperar um conhecimento mais forte do que boas opini˜oes, apoiadas em racioc´ınios corretos, mas sempre sujeitas a alguma incerteza. O que importa nestes casos, de um ponto de vista epistemol´ogico, ´e que existam regras que nos indiquem como alterar nossas opini˜oes quando dispusermos de dados novos, qualquer que seja a forma destes dados. Ou seja, precisamos na verdade aprender a lidar com a incerteza, n˜ao supor erradamente que ela pode ser eliminada. Infelizmente, ´e comum encontrar pessoas, de outra forma competentes, que afirmam que suas opini˜oes s˜ao, na verdade, fatos.

2.2

Conhecimento

Vocˆe pode afirmar que sabe se a Teoria da Relatividade Geral proposta por Ein-stein ´e a descri¸c˜ao correta do Universo? Ou ser´a que ´e poss´ıvel saber que algum determinado modelo econˆomico dentre os existentes atualmente ´e verdadeiro? Vocˆe pode acreditar que o seu time de futebol favorito seja o melhor do estado (se vocˆe realmente acredita nisto ou apenas afirma acreditar ´e um outro tipo de problema), mas vocˆe, honestamente, n˜ao pode realmente afirmar que sabe que ele ´e. Por outro

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lado, problemas ontol´ogicos a parte, vocˆe certamente pode afirmar que sabe seu pr´oprio nome assim como a cor de sua camisa ou que a Terra ´e redonda. Portanto, ´

e razo´avel perguntarmos quando e porque podemos afirmar que realmente sabemos algo, como discutido na se¸c˜ao 2.1. Ou seja, a primeira quest˜ao que precisa ser res-pondida ´e o que significa quando uma pessoa diz que sabe algo, em oposi¸c˜ao a esta pessoa ter uma opini˜ao ou dizer que acha que algo ´e verdadeiro (estamos obviamente considerando aqui que as afirma¸c˜oes desta pessoa s˜ao confi´aveis e que ela n˜ao est´a cometendo erros ao diferenciar o que ela sabe do que ela acha). A resposta mais tradicional em Epistemologia ´e que um indiv´ıduo pode afirmar que sabe que algo ´e verdadeiro quando ele possui uma Cren¸ca Verdadeira Justificada sobre este assunto. Isto quer dizer, ele acredita que uma determinada id´eia ´e correta, esta sua cren¸ca ´e verdadeira e est´a justificada nas regras de racioc´ınio considerada aceit´aveis.

No entanto, h´a v´arios exemplos de problemas com a defini¸c˜ao acima e v´arias solu¸c˜oes foram propostas para contornar este problema.

...

[MAIS POR VIR] ...

Finalmente, cabe apontar aqui que ´e opini˜ao do autor deste livro que n˜ao ´

e realmente poss´ıvel saber algo, exceto em casos especiais, mais exatamente, em sistemas l´ogicos criados artificialmente, como a Matem´atica. Em qualquer situa¸c˜ao onde se tenta descrever o mundo real, a id´eia de Cren¸ca Verdadeira Justificada encontra um problema s´erio no quesito verdadeira, uma vez que, em situa¸c˜oes de incerteza, n˜ao ´e, na verdade, poss´ıvel estar certo da veracidade de uma determinada afirma¸c˜ao , o que torna o conceito de aplica¸c˜ao imposs´ıvel, ainda que ele possa parecer atraente. Nestes casos, parece ser mais apropriado limitar-se o problema do conhecimento `as opini˜oes e a forma como estas devem ser alteradas face a novas informa¸c˜oes .

2.3

Coment´

arios Adicionais

O problema de se determinar o que uma pessoa pode considerar justificado acreditar ou dizer que sabe, assim como quais regras s˜ao aceit´aveis na justificativa de um argumento ´e ainda fonte de in´umeras discuss˜oes filos´oficas...

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Cap´ıtulo 3

Obtendo Informa¸

oes atrav´

es de

Fontes Externas

Frequentemente, nos deparamos com situa¸c˜oes onde ´e necess´ario obter informa¸c˜oes adicionais de forma a chegar a uma conclus˜ao boa o bastante, uma vez que nossas opini˜oes a respeito de um determinado assunto n˜ao s˜ao suficientemente boas para servirem de base para a decis˜ao ou para o julgamento que precisamos fazer. Nestes casos, ´e importante saber como podemos obter as informa¸c˜oes necess´arias. Estas informa¸c˜oes podem ser obtidas a partir de v´arias fontes. Por exemplo, podemos, se poss´ıvel, preparar um experimento de laborat´orio que forne¸ca dados a respeito do funcionamento da Natureza e que respondam as perguntas para as quais pre-cisamos de respostas. Ou podemos encontrar um caso onde seria mais ´util preparar uma pesquisa de campo, coletando dados da popula¸c˜ao atrav´es de question´arios preparados com os devidos cuidados para revelar aquilo que desejamos saber. Ou ent˜ao, ´e poss´ıvel que o problema que estamos interessados j´a tenha sido estudado por algu´em e, neste caso, uma simples consulta a literatura, ou seja, a fontes ex-ternas, pode ser suficiente para nos fornecer o conhecimento necess´ario. Da mesma forma, quando preparando um experimento ou uma pesquisa, ´e extremamente im-portante conhecer o que outras pessoas possam j´a ter feito na ´area, de forma a evitar esfor¸cos desnecess´arios, e, ainda mais importante, obter pontos de vista diferentes, assim como se familiarizar com outros estudos similares j´a realizados sob diferentes condi¸c˜oes, de forma a ter uma id´eia do que esperar em estudos posteriores.

Neste cap´ıtulo, portanto, analisaremos os tipos de informa¸c˜ao que j´a existem, assim como os cuidados necess´arios quando lidamos com qualquer tipo de fonte externa de dados ou informa¸c˜oes . Veremos que h´a in´umeros textos e bancos de dados dispon´ıveis para consulta, alguns extremamente ´uteis e confi´aveis, enquanto outros devem ser utilizados com extremo cuidado e muitos simplesmente ignorados, exceto em casos raros, como, por exemplo, se o objetivo do nosso estudo for

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ex-atamente constatar a quantidade e falta de qualidade de textos que circulam por a´ı, tentando se fazer passar por material s´erio. Cabe aqui salientar que esta falta de seriedade nem sempre ´e proveniente de m´a f´e. M´a f´e de fato existe e pode ser observada com frequˆencia em textos n˜ao cient´ıficos, mas me parece que a maior parte dos casos em textos que se sup˜oe Ciˆencia, poderia ser classificada, na ver-dade, como incompetˆencia, devido a falhas na forma¸c˜ao das pessoas respons´aveis pela informa¸c˜ao. E ainda mais preocupante observar que, em geral, as pessoas´ n˜ao tem consciˆencia destas falhas e acreditam realmente que estariam fazendo um bom trabalho. Torna-se assim imprescind´ıvel adotar um esp´ırito cr´ıtico na leitura e interpreta¸c˜ao de quaisquer dados ou textos a que se tenha acesso.

3.1

Fontes de Informa¸

ao e Confiabilidade

Diferentes fontes de informa¸c˜ao possuem uma confiabilidade diferente. Um texto publicado em uma revista cient´ıfica especializada, com revis˜ao por pares e escrito por uma das autoridades respeitadas em sua ´area de atua¸c˜ao certamente ´e muit´ıssimo mais confi´avel do que um texto qualquer que vocˆe acaba de encontrar na Internet e sob o qual vocˆe n˜ao tem qualquer informa¸c˜ao sobre o autor ou sobre o processo de sele¸c˜ao do texto. Isto n˜ao quer dizer, obviamente, que o primeiro n˜ao possa conter erros e que o segundo seja fonte apenas de besteiras, ambos devem ser lidos com cuidado, mas o segundo requer uma aten¸c˜ao especial.

Em qualquer caso, o h´abito mais saud´avel e instrutivo que algu´em pode adquirir quando for lidar com qualquer texto ´e sempre efetuar uma leitura cr´ıtica do material. Por leitura cr´ıtica, entende-se uma leitura onde o leitor est´a sempre questionando a corre¸c˜ao do texto, procurando responder perguntas como se a argumenta¸c˜ao apresen-tada apresenta alguma falha, se os dados mencionados s˜ao de fontes confi´aveis e est˜ao bem documentados, se existiriam outras explica¸c˜oes poss´ıveis para os fenˆomenos descritos al´em daquelas apresentadas no texto, se o texto ´e recente, apresentando o estado atual do conhecimento da ´area e n˜ao uma vis˜ao antiga e, possivelmente, ultrapassada, assim como qual seriam os interesses do autor na divulga¸c˜ao de seu texto e em convencer os leitores da veracidade de suas afirma¸c˜oes. Todo autor es-pera ser capaz de convencer seus leitores, ´e claro, mas cabe sempre perguntar se ele teria algo mais a ganhar, seja um ganho monet´ario ou a confirma¸c˜ao de uma vis˜ao de mundo a qual ele est´a apegado demais para mudar sua opini˜ao, independente de outras evidˆencias.

Um aspecto bastante importante que diferencia um texto cient´ıfico publicado em uma revista s´eria de outros tipos de texto ´e exatamente o fato de que, em grande parte das revistas, o texto ´e submetido `a an´alise por outros especialistas da ´area, respons´aveis por efetuar uma leitura cr´ıtica, buscando encontrar erros ou

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imprecis˜oes que possam prejudicar a qualidade do artigo a ser divulgado. Um artigo aprovado, neste caso, passou por esta an´alise, o que adiciona bastante credibilidade a suas afirma¸c˜oes . Isto n˜ao quer dizer, no entanto, que um artigo publicado em uma revista conceituada deva ser lido como uma representa¸c˜ao inquestion´avel da verdade. Ao contr´ario, um bom leitor deve estar sempre verificando a validade de cada afirma¸c˜ao e se questionando se as conclus˜oes obtidas seguem, de fato, dos fatos descritos.

Uma outra fonte importante de informa¸c˜oes , pela facilidade de acesso e pela quantidade dispon´ıvel, ´e a Internet. Aqui, no entanto, ´e necess´ario uma aten¸c˜ao redobrada, uma vez que n˜ao h´a qualquer controle do material que se pode aces-sar. Uma revista especializada conta com um corpo de especialistas que revˆe ois resultados antes de publicar e os autores que submetem trabalhos para publica¸c˜ao costumam ser pesquisadores s´erios trabalhando na ´area (mas nem sempre). Um jor-nal ou uma revista n˜ao cient´ıfica possuem jornalistas que n˜ao entendem de outras ´

areas a fundo, mas que, em geral, procuram se informar sobre o que v˜ao escrever e ´e poss´ıvel obter-se uma boa quantidade de informa¸c˜oes sobre fatos em suas p´aginas, ainda que as mat´erias sobre assuntos cient´ıficos devam ser consideradas duvidosas, em geral. No caso da Internet, n˜ao h´a a necessidade de qualquer profissionalismo ou a existˆencia de qualquer tipo de controle do material. Enquanto, por um lado, isto permite que todos possam colocar suas opini˜oes na rede, inclusive materiais muito bem elaborados e s´erios, o que torna o uso da rede uma ferramenta indispens´avel, por outro, pessoas mal intencionadas ou simplesmente incompetentes podem e colocam em suas p´aginas textos que cont´em afirma¸c˜oes absurdas, teorias pseudo-cient´ıficas e todo o tipo de bobagem. ´E extremamente comum ouvir pessoas comentando que vi-ram uma determinada informa¸c˜ao na Internet. Sem uma id´eia clara da qualidade da fonte ou um conhecimento da mat´eria que permita um julgamento confi´avel da qual-idade do material lido, informa¸c˜oes assim obtidas devem sempre ser consideradas duvidosas. O que torna ainda mais importante para qualquer pessoa desenvolver a capacidade de ler qualquer texto de uma forma cr´ıtica.

Alguns sites interessantes sobre algumas das bobagens que existem na Internet e alguma ajuda em identific´a-las:

Critical Thinking and the Internet - http://info.wlu.ca/library/critical/ Quackwatch - http://www.quackwatch.org/ (sobre bobagens e m´etodos n˜ao comprovados na ´area m´edica)

Vmyths.com - http://www.vmyths.com/ (sobre mitos relacionados a seguran¸ca em computadores

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3.2

Leitura Cr´ıtica

Um texto, portanto, qualquer que seja sua fonte, deve ser lido de forma cr´ıtica. Isto significa responder, durante a leitura, uma s´erie de perguntas a respeito dos argumentos do autor da obra. Assim, devemos nos perguntar se o autor nos parece ser honesto em suas inten¸c˜oes e se a sua an´alise do problema em quest˜ao ´e feita de forma correta e completa, sem tentar esconder quaisquer fatos ou distorcer algum argumento de forma a conseguir chegar a conclus˜ao que ele pretende obter. Uma f´abrica de cigarros que prepara um artigo sobre os problemas associados ao fumo tem interesse em apresentar conclus˜oes que minimizem os males causados por seu produto e h´a v´arias formas de fazˆe-lo, muitas das quais n˜ao necessitam de mentiras, apenas de uma apresenta¸c˜ao dos fatos que forem mais convenientes, associados a um racioc´ınio que seja incompleto ou com falhas, ainda que parece correto numa primeira leitura.

Alguns cuidados indispens´aveis que devemos tomar ao ler qualquer texto, al´em da an´alise de qu˜ao confi´avel a fonte (autor, institui¸c˜ao, etc.) ´e, s˜ao verificar se a argumenta¸c˜ao segue as regras da l´ogica, ou seja, se as conclus˜oes de fato seguem dos fatos observados com a for¸ca indicada pelo autor do texto; se n˜ao haveria outras poss´ıveis explica¸c˜oes para os fatos al´em daquela apresentada pelo autor e se estas outras explica¸c˜oes n˜ao seriam uma alternativa melhor `aquela exposta; se o autor possui algum tipo de interesse especial a respeito da conclus˜ao que poderia de alguma forma interferir com sua an´alise, consciente ou inconscientemente; se a informa¸c˜ao e o texto s˜ao recentes o bastante para representar o atual estado de conhecimento sobre o tema; se h´a qualquer ind´ıcio de que o autor esteja escondendo algo; e assim por diante.

Quanto a forma da argumenta¸c˜ao , um erro que ´e infelizmente muito comum em ´areas onde o formalismo matem´atico atual n˜ao ´e desenvolvido o suficiente para ser aplicado de forma completa, ´e raciocinar a p´artir de met´aforas ou analogias, acreditando, ao final, que a conclus˜ao obtida tenha alguma qualidade. Met´aforas podem ser instrumentos extremamente ´uteis na gera¸c˜ao de id´eias novas, analogias com o conhecimento de outras ´areas frequentemente apontam novas trilhas a serem exploradas e, se usadas desta forma, elas podem e devem fazer parte do repert´orio mental de um cientista. Da mesma forma, como estrat´egia did´atica com o objetivo de tornar mais claro um conceito que seria de outra forma obscuro para seus alunos ou leitores, o uso de met´aforas ou analogias pode ser de grande ajuda. No entanto, ´

e crucial entender que, apesar de sua grande utilidade para gerar novas id´eias ou explicar quaisquer conceitos, analogias n˜ao s˜ao formas de racioc´ınio l´ogico aceito. Elas podem ser o ponto de partida, de onde vamos buscar uma argumenta¸c˜ao s´olida e podem ajudar a encontrar um caminho no racioc´ınio. No entanto, qualquer texto que baseie suas conclus ˜oes em met´aforas ´e um texto que n˜ao merece ser tratado com

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um texto que mostre que uma id´eia parece ser verdadeira e sim como uma cole¸c˜ao de caminhos que ainda necessitam ser melhor explorados. Se o seu autor reconhecer tal fato, indicando que seu texto ´e apenas especulativo, levantando quest˜oes que merecem uma an´alise posterior mais profunda e correte, n˜ao haver´a do que se queizar sobre a corre¸c˜ao deste. No entanto, se o autor n˜ao entender que seu argumento n˜ao ´e s´olido, maior cuidado torna-se necess´ario quanto a an´alise deste material. Ainda que suas conclus˜oes pare¸cam estar corretas, o que certamente ´e poss´ıvel, a mat´eria ainda est´a completamente aberta, a espera de algu´em que saiba realmente fazer uma an´alise mais bem elaborada.

Neste sentido, algumas ´areas da Ciˆencia possuem uma vantagem natural, por j´a terem sido alvo de uma formaliza¸c˜ao quantitativa, ou seja, por j´a possuirem seus re-sultados formulados utilizando-se da Matem´atica. A formula¸c˜ao matem´atica ´e uma grande vantagem porque for¸ca os resultados da ´area a serem baseados em conceitos bem definidos, uma vez que cada quantidade utilizada precisa ser bem definida, tanto no seu significado, como na forma como ela pode ser mensurada e utilizada. ’E ´obvio que algu´em sem o conhecimento necess´ario pode escrever bobagens disfar¸cadas pelo uso da Matem´atica. Da mesma forma, mesmo a utliza¸c˜ao correta de um formalismo sofisticado e, matematicamente correto, n˜ao garante a corre¸c˜ao do resultado obtido, se as contas realizadas n˜ao tiverem contato com a realidade e forem baseadas em hip´oteses erradas. Existe um ditado em computa¸c˜ao que diz que se vocˆe usar lixo como entrada de um programa, vai obter, como resultado, lixo (no original “Garbage in, garbage out”, tamb´em conhecido como GIGO). O mesmo, obviamente, acontece com qualquer modelo que pretenda representar a realidade. Se ele for baseado em suposi¸c˜oes erradas, n˜ao existe quantidade ou sofistica¸c˜ao matem´atica que possam salvar a qualidade do resultado final. Pelo contr´ario, a sofistica¸c˜ao apenas ir´a es-conder dos leitores menos preparados, o fato de que aquele texto cont´em erros que comprometem de forma muito s´eria a qualidade de suas conclus˜oes. Percebe-se assim que a Matem´atica pode ser realmente utilizada, e o ´e, por vezes, em algumas ´areas, como forma de mascarar teorias que n˜ao s˜ao sustentadas em hip´oteses corretas, uma vez que criou-se uma m´ıstica ao redor dos m´etodos quantitativos que lhes confere um ar de corre¸c˜ao pelo simples fato de usarem n´umeros, quando nada podeira ser mais distante da verdade. Um texto sem qualquer uso de Matem´atica pode ter uma argumenta¸c˜ao solidamente constru´ıda a partir de observa¸c˜oes corretas e fornecer conclus˜oes muito melhores do que um segundo texto basicamente quantitativo e que se apoie em axiomas errados.

Ainda assim, quando poss´ıvel, o uso de m´etodos quantitativos traz, de fato, uma s´erie de vantagens. A necessidade j´a mencionada de uma defini¸c˜ao mais rigorosa dos termos ´e uma delas. Isto evita que pessoas diferentes fornce¸cam conota¸c˜oes diferentes ao mesmo conceito, entendendo um mesmo texto de formas diferentes, o que pode ser muito admir´avel num texto liter´ario, mas ´e certamente algo a se evitar

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em um texto que se pretende a descri¸c˜ao mais correta da Natureza. Da mesma forma, evita confus˜oes com o uso de sinˆonimos que tem signifados adicionais aos do termo originalmente definido e tamb´em, quando uma demonstra¸c˜ao torna-se poss´ıvel, se garante que o racioc´ınio l´ogico seja aplicado de forma correta, uma vez que o que ´

e aceito como uma demonstra¸c˜ao em Matem´atica garante que as conclus˜oes sigam, de fato, das premissas iniciais.

Infelizmente, a aplica¸c˜ao da Matem´atica em ´areas novas, que ocorre conforme as ferramentas matem´aticas adquirem sofistica¸c˜ao suficiente para serem utilizadas nestas ´areas1, frequentemente n˜ao se d´a da forma mais suave que se poderia esperar.

Aqui, dois tipose de problemas, quase opostos, podem ser observados. O primeiro discutimos acima e corresponde a uma aplica¸c˜ao cega, sem qualquer cr´ıtica do resul-tado de outras ´areas e a utiliza¸c˜ao de um formalismo sofisticado criado a partir de hip´oteses erradas. Os resultados obtidos em outras ´areas podem sim servir de guia sobre o que se esperar, mas ´e fundamental manter o esp´ırito cr´ıtico sobre a simples transposi¸c˜ao de uma ´area para outra dos pressupostos por tr´as daqueles resultados. A forma como um cientista tem id´eias novas ´e completamente livre e ´e verdade que resultados de outras ´areas podem servir de fonte de isnpira¸c˜ao, mas cada ´area deve se basear nos princ´ıpios b´asicos que forem verdadeiros ali.

O segundo problema consiste na resistˆencia e desconfian¸ca dos antigos pesqui-sadores quanto a m´etodos novos. Muitos pesquisadores escolheram suas ´areas de atua¸c˜ao, entre outros motivos, para ficarem longe da temida Matem´atica. Quando esta amea¸ca invadir suas especialidades, eles tem raz˜ao em temer que, a menos que se atualizem, aprendendo o que nunca quiseram aprender, eles podem, com o tempo, se tornar ultrapassados e eles lutam contra a invas˜ao, procurando argumentos pe-los quais esta nunca deveria ocorrer. Do ponto de vista deles, que realmente n˜ao entendem os motivos pelos quais o uso de m´etodos matem´aticos apenas melhora a qualidade dos resultados de uma ´area, a argumenta¸c˜ao pode at´e parecer fazer sentido. O que ilustra mais uma vez que muitas vezes os argumentos em um texto podem estar escondendo interesses outros al´em daqueles claramente indicados no texto. E, ainda que os argumentos dos par´agrafos anteriores certamente n˜ao sejam suficientes para convencer estes pesquisadores, cabe salientar que todas as Ciˆencias onde esta invas˜ao ocorreu de forma correta, enormes avan¸cos foram observados. N˜ao ´

e por acaso, por exemplo, que a Biologia tem apreserntado tantos e t˜ao interessantes resultados ultimamente.

1Pode parecer estranho a princ´ıpio, mas a F´ısica, considerada uma ´area extremamente

matem´atica, tem esta caracter´ıstica porque o grau de sofista¸c˜ao matem´atica necess´ario para re-solver muitos de seus problemas ´e, na verdade, muito baixo. A descri¸c˜ao do movimento de um corpo pode ser feito com m´etodos incrivelmente simples se comparados ´a sofistica¸c˜ao necess´aria para descrever sistemas mais complexos, como o comporatmento de uma economia ou a evolu¸c˜ao da cultura.

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Cap´ıtulo 4

O M´

etodo Cient´ıfico

Neste cap´ıtulo, vamos analisar a necessidade e a possibilidade de se utilizar algum tipo de m´etodo que garanta que as conclus˜oes a que chegamos sejam o mais pr´oximas poss´ıveis de uma descri¸c˜ao correta do sistema que estamos estudando. Ou seja, a ´

unica preocupa¸c˜ao no que se refere `as conclus˜oes obtidas ´e a de que estas sejam o mais pr´oximas poss´ıvel da verdade. Consider¸c˜oes sobre o que seria desejado ou prefer´ıvel por uma pessoa ou grupo de pessoas como a descri¸c˜ao que elas gostariam que fosse verdade n˜ao podem, portanto, influenciar nas regras que deveriam ser seguidas por um m´etodo s´olido. Isto n˜ao quer dizer, obviamente, que grupos e indiv´ıduos n˜ao considerem fatores al´em de qual id´eia melhor descreve o problema por eles estudado quando eles tem que selecionar uma teoria ou um conceito que eles julguem ser verdadeiro no problema em quest˜ao. O problema de como as pessoas, inclusive os cientistas, tomam decis˜oes a respeito de quais teorias elas acreditam ser verdadeiras ´e certamente um problema interessante e ser´a abordado mais adiante. No entanto, uma id´eia inicial de como as pessoas raciocinam, de acordo com o observado em experimentos em laborat´orio, pode ser ´util nesta discuss˜ao inicial, e, portanto, vamos apresentar alguns resultados j´a na se¸c˜ao 4.1. A seguir, trataremos do problema de se realmente existe um ´unico M´etodo Cient´ıfico, como defendem alguns, e discutiremos algumas caracter´ısticas t´ıpicas, ainda que n˜ao ´unicas de um bom trabalho cient´ıfico

4.1

A Necessidade de Regras - Heur´ısticas

A partir da metade do s´eculo XX, uma s´erie de resultados em experimentos de labo-rat´orio sobre como as pessoas tomam decis˜oes come¸caram a aparecer, indicando que os seres humanos violam, mesmo quando tomando decis˜oes de uma forma aparente-mente racional, os princ´ıpios da racionalidade, quando definimos o que seria

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com-portamento racional de uma forma normativa, como faremos no Cap´ıtulo 9. Estes resultados s˜ao, na verdade, decorrentes do fato que a teoria normativa da raciona-lidade exigiria, para que algu´em pudesse ser considerado racional, que esta pessoa possu´ısse mem´oria e capacidade de an´alise ilimitadas, sendo capaz de tomar qual-quer decis˜ao, independentemente de qu˜ao complexa, em tempo praticamente nulo. Isto mostra que a racionalidade humana deve ser considerada, quando comparada ao ideal normativo, uma racionalidade limitada (Simon, 1956), ou seja, n´os utilizamos heur´ısticas mais simples do que a melhor an´alise poss´ıvel em nossas tomadas de decis˜ao. Isto faz com que seja importante a existˆencia de algum conjunto de in-dica¸c˜oes , ainda que n˜ao exatamente regras, ´uteis de serem seguidas para garantir a qualidade dos trabalhos produzidos. Em especial, um conjunto de regras pode ser ´

util para orientar t´ecnicos que estejam realizando trabalhos de pesquisa menores, ou seja, para pessoas que n˜ao tenham o conhecimento ou a capacidade necess´arios para realizar contribui¸c˜oes realmente importantes. Para um verdadeiro cientista, no entanto, uma vis˜ao mais completa do problema de como se faz Ciˆencia ´e fundamen-tal, n˜ao devendo este ficar preso `as regrinhas existentes em manuais simplificadores da metodologia, quando o m´etodo cient´ıfico n˜ao se resume `aquelas regras.

Notemos que, uma vez que ´e realmente imposs´ıvel para o c´erebro de qual-quer ser processar uma quantidade t˜ao grande quanto se queira de informa¸c˜ao em tempo nulo, o fato de que nossos c´erebros funcionam, quando necessitam tomar de-cis˜oes, a partir de regras aproximadas, n˜ao ´e necessariamente algo ruim, desde que conhe¸camos o quanto podemos confiar em nossas decis˜oes intuitivas. Pelo contr´ario, uma regra de tomada de decis˜ao r´apida que funcione bem a maior parte das vezes, ainda que n˜ao todas as vezes, pode ser considerada uma boa adapta¸c˜ao que teria permitido aos nossos ancestrais decidir sobre o melhor curso de a¸c˜ao em um tempo curto. Pode ser muito mais ´util decidir rapidamente que pode haver um le˜ao atr´as de uma ´arvore e fugir, com uma chance de estar errado, do que n˜ao tomar decis˜ao alguma at´e se estar completamente certo, quando pode ser tarde demais para evitar ser devorado. Assim, nossas heur´ısticas, na verdade, podem ser ferramentas que nos ajudem a analisar as situa¸c˜oes do dia a dia, mas ´e fundamental perceber que elas podem n˜ao estar bem ajustadas para situa¸c˜oes de laborat´orio ou para decidir entre teorias que descrevam fenˆomenos que n˜ao est˜ao relacionados a nossas experiˆencias do dia-a-dia. Ou seja, nosso bom senso pode estar muito bem ajustado para os problemas da vida normal, onde ele funciona na maior parte dos casos, mas falhar quando aplicado a problemas cient´ıficos complexos, para os quais o bom senso n˜ao foi adaptado durante a evolu¸c˜ao da humanidade. Notemos que, uma vez que nossas intu¸c˜oes muitas vezes falham nestes problemas, precisamos discutir mais profunda-mente quais s˜ao os m´etodos aceit´aveis em um trabalho cient´ıfico.

No Cap´ıtulo 12, retornaremos ao problema das viola¸c˜oes da racionalidade ob-servadas em laborat´orio e como as heur´ısticas associadas a estas viola¸c˜oes podem ser

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explicadas como boas adapta¸c˜oes a problemas reais que nossos ancestrais devem ter se deparado ao longo de suas vidas, assim como a problemas reais que n´os mesmos tivemos de resolver desde o nascimento. Por enquanto, vamos analisar a quest˜ao da existˆencia ou n˜ao de um m´etodo cient´ıfico ´unico e imut´avel.

4.2

Existe um M´

etodo ´

Unico?

Uma s´erie de livros existem por a´ı que defendem a id´eia de que existe um M´etodo Cient´ıfico que seria uma receita fixa e imut´avel, que deve ser seguida a risca caso algu´em deseje realizar um trabalho que seja considerado cient´ıfico. Siga at´e a livraria mais pr´oxima e vocˆe ver´a que, na verdade, estes livros s˜ao extremamente f´aceis de encontrar, se n˜ao compuserem a totalidade dos livros sobre o assunto. Ao menos, isto foi o que observei nas poucas vezes que fiz eu mesmo este experimento, mas devo reconhecer que n˜ao repeti este experimento muitas vezes, por ter conclu´ıdo ser este um exerc´ıcio in´util1. O m´etodo, de acordo com estas obras, consistiria em seguir

sempre uma s´erie pr´e-determinada de passos, que seriam, a princ´ıpio, os mesmos em qualquer ´area do conhecimento e a ´unica forma de garantir que o resultado final possa ser chamado “cient´ıfico”.

Certamente existem algumas poucas regras gerais que qualquer trabalho que mere¸ca ser chamado cient´ıfico deve seguir. Independente da ´area, um trabalho cient´ıfico deve ter como ´unica preocupa¸c˜ao fornecer a melhor descri¸c˜ao poss´ıvel do mundo, onde o conceito de melhor deve se referir apenas `a veracidade da descri¸c˜ao e n˜ao a conceitos outros como a preferˆencia pessoal do cientista, seja esta preferˆencia de car´ater pol´ıtico, religioso, ou at´e mesmo, moral ou ´etico. Consider¸c˜oes de car´ater ´etico devem e s˜ao levantadas quanto a se um experimento pode ser realizado, em especial, quando o experimento envolver animais ou seres humanos e experimentos que n˜ao sejam aceit´aveis de um ponto de vista ´etico n˜ao devem ser realizados. No entanto, quando um cientista se depara com qualquer tipo de informa¸c˜ao , a conclus˜ao que ele obt´em destas, n˜ao pode levar em conta aspectos outros al´em de qu˜ao bem sua conclus˜ao descreve a Natureza. O cientista n˜ao pode se importar, por exemplo, com o que ele gostaria que fosse verdade sobre o mundo, mesmo que suas an´alises o levem a concluir que o mundo se comporta de uma forma que ele n˜ao gosta. Um cientista n˜ao deve nunca aceitar qualquer tipo de dogma como uma verdade indiscut´ıvel, precisando manter uma atitude c´etica em rela¸c˜ao a tudo. Isto n˜ao quer dizer que o cientista n˜ao ir´a acreditar em qualquer coisa, apenas que, qualquer que seja sua cren¸ca sobre uma determinada mat´eria, est´a cren¸ca estar´a

1E um problema interessante de ter em mente se a minha conclus˜´ ao, baseada em duas ou trˆes observa¸c˜oes apenas, merece ser considerada s´olida ou n˜ao, mas este ´e um problema que trataremos mais tarde

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sempre pronta a ser alterada caso surjam evidˆencias que a contradigam. Algu´em cujo objetivo seja provar a verdade do seu ponto de vista, independente de este estar correto ou n˜ao, pode ser um t´ecnico brilhante, pode ter raz˜ao e at´e realizar importantes contribui¸c˜oes `a Ciˆencia, mas n˜ao merece ser chamado de cientista, nem mesmo que confiemos em seus resultados com a mesma for¸ca com que confiar´ıamos no resultado de algu´em que tem a busca pela verdade como ´unico objetivo.

Da mesma forma, durante as an´alises, o cientista deve proceder utilizando o que ele souber ser os melhores m´etodos poss´ıveis. Ele deve raciocinar de forma cuida-dosa sobre o problema que estiver analisando, sem se prender a id´eias pr´e-concebidas, sendo capaz de alterar sua opini˜ao sempre que os dados e uma an´alise racional e meticulosa indicarem que isto ´e necess´ario. Isto n˜ao quer dizer, ao contr´ario do que frequentemente se escreve por a´ı, que um cientista deve abandonar uma teoria assim que encontrar qualquer tipo de observa¸c˜ao que pare¸ca estar em desacordo com as previs˜oes de sua teoria, uma vez que, muitas vezes, este desacordo, pode ser explicados por problemas outros que n˜ao o fato de a teoria estar errada. O que se espera aqui, ´e que um cientista digno deste nome altere suas opini˜oes da forma mais pr´oxima poss´ıvel aos preceitos da racionalidade. Existem descri¸c˜oes do comportamento dos cientistas (Kuhn, 1962) que parecem indicar que os cientistas verdadeiros (ao contr´ario do cientista ideal que estar´ıamos descrevendo aqui) se comportariam de forma distante do defendido aqui, mas, como veremos mais adi-ante no Cap´ıtulo ??, o comportamento real pode ser descrito como seguindo estes preceitos, para os bons cientistas, mesmo quando uma primeira an´alise superficial possa sugerir que um cientista estaria se agarrando a conceitos que ele j´a deveria ter descartado. Enquanto ainda existem aqueles que defendem uma posi¸c˜ao radical de que o conhecimento cient´ıfico n˜ao teria uma qualidade superior ao conhecimento gerado por outras formas de cultura, vemos que o que torna este conhecimento mais confi´avel ´e exatamente o fato de que o que se espera de um cientista de verdade, n˜ao ´

e que ele defenda ideologias ou cren¸cas, mas que ele busque a verdade da melhor forma poss´ıvel. Obviamente, nem todos o fazem, mas qualquer coentista s´erio, assim que detecta um comportamento errado por parte de um de seus colegas, passar´a a desconsiderar os argumentos deste, como provenientes de uma fonte n˜ao confi´avel. Vocˆe pode at´e ouvi-lo para ver se algo ali presta, mas ele n˜ao mais merecer´a sua confian¸ca. Desta forma, garante-se que os resultados assim obtidos sejam os melho-res poss´ıveis, ou seja, a melhor aproxima¸c˜ao da verdade conhecida pela humanidade at´e o momento.

Estas poucas regras s˜ao certamente fundamentais e pode-se dizer que s˜ao a ver-dadeira essˆencia do M´etodo Cient´ıfico. No entanto, frequentemente, as pessoas se referem a um conjunto mais restrito de regras como sendo necess´arias a um trabalho s´erio. Neste caso, a descri¸c˜ao do m´etodo afirma que o m´etodo cient´ıfico consistiria apenas em se formular hip´oteses a partir de uma teoria, realizando-se a seguir

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exper-imentos para se testar as hip´oteses e, caso as observa¸c˜oes sejam incompat´ıveis com a teoria, altera¸c˜oes se fariam necess´arias. N˜ao h´a nada de errado com esta descri¸c˜ao e ela, de fato, corresponde a uma forma poss´ıvel e bastante comum correta de se realizar uma pesquisa. O problema ´e que ela deixa de fora partes importantes da pr´atica cient´ıfica, al´em de tentar engessar de forma r´ıgida demais algo que, pela sua pr´opria natureza, possui uma caracter´ıstica mais fluida, uma vez que o que se espera de um cientista ´e que ele fa¸ca o melhor poss´ıvel com as ferramentas que ele tiver a sua disposi¸c˜ao ou tiver capacidade de criar no momento do seu trabalho, sendo cer-tamente temer´ario prever as formas pelas quais os futuros cientistas poder˜ao chegar a suas conclus˜oes.

Em especial, esta descri¸c˜ao simplesmente ignora como n˜ao cient´ıfico qualquer trabalho em teorias que n˜ao seja fruto de alguma observa¸c˜ao n˜ao explicada. No entanto, frequentemente, encontram-se trabalhos te´oricos em ´areas onde n˜ao h´a qualquer discordˆancia conhecida entre as previs˜oes te´oricas e as observa¸c˜oes exper-imentais, trabalhos cujo objetivo ´e fornecer uma explica¸c˜ao ou uma demonstra¸c˜ao mais elegante do mesmo fenˆomeno j´a conhecido, e cujo m´erito est´a exatamente nesta elegˆancia. A cr´ıtica de que esta descri¸c˜ao limitada n˜ao incluiria um trabalho sim-plesmente observacional, sem id´eia do que ir´a ser encontrado, como, por exemplo, quando Galileu olhou pela primeira vez por um telesc´opio, poderia ser facilmente respondida incluindo-se como hip´otese sendo testada o simples fato de que haveria algo interessante a ser observado ali. Existem at´e mesmo ´areas do conhecimento onde n˜ao ´e poss´ıvel se preparar um experimento, onde apenas a observa¸c˜ao da Na-tureza ´e poss´ıvel, como a Astronomia, o que tornaria a inclus˜ao de qualquer tipo de observa¸c˜ao na defini¸c˜ao de experimento uma necessidade. Notemos, no entanto, que o uso que frequentemente se faz da receita, em especial em ´areas onde o con-hecimento ainda est´a engatinhando e n˜ao ´e t˜ao confi´avel, ´e o uso espec´ıfico, onde se exigiria a existˆencia de uma teoria propriamente dita a ser testada por algum tipo de experimento a ser planejado pelo cientista. E, neste sentido, ´e preciso perceber que a receita n˜ao ´e uma descri¸c˜ao apropriada, ´e apenas uma aproxima¸c˜ao de um tipo de trabalho que, de fato, pode ser descrito como trabalho cient´ıfico, mas que n˜ao ´e o ´unico.

Por outro lado, devemos reconhecer que, uma vez que fique claro que a de-scri¸c˜ao do m´etodo como uma receita de bolo que precisa ser seguida n˜ao ´e uma descri¸c˜ao precisa, a existˆencia da receita pode ser ´util para guiar indiv´ıduos menos capazes, que, de outra forma, poderiam estar realizando trabalhos ditos de pesquisa com mais erros do que eles cometem atualmente seguindo a receita. A atividade de pesquisa ´e realizada em in´umeros lugares, por pessoas de diferentes capacidades, uma p´arcela consider´avel das quais n˜ao possui o treinamento ou a capacidade necess´arios para a realiza¸c˜ao de um verdadeiro trabalho cient´ıfico. Nestes casos, a existˆencia de um roteiro, ainda que incompleto, que permita que estas pessoas fa¸cam um trabalho

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correto, ainda que n˜ao o melhor poss´ıvel, pode ser vista como algo ´util do ponto de vista da sociedade, que ter´a acesso a resultados um pouco melhores.

Assim, tendo a receita alguma utilidade, cabe mencion´a-la novamente aqui, mas evitando estrat´egias que a fazem parecer uma lei, como afirmar que existe um n´umero n de passos a serem seguidos (onde n ´e um n´umero inteiro, positivo, maior ou igual a 2, que depende da fonte consultada). De qualquer forma, caso vocˆe precise de uma receita para resolver um problema sem que vocˆe seja realmente um cientista, aqui vai ela. Pegue a teoria que vocˆe pretende testar. Por exemplo, vocˆe acaba de observar que seu carro parou de funcionar, n˜ao muito tempo ap´os vocˆe ter dirigido atrav´es de uma grande po¸ca de ´agua, decorrente das fortes chuvas que acabaram de cair. Com estes fatos em mente, vocˆe conclui que ´e razo´avel supor que o motor do carro parou por ter entrado ´agua no distribuidor. Note que est´a n˜ao ´

e a ´unica explica¸c˜ao poss´ıvel, ´e perfeitamente razo´avel que haja outra explica¸c˜ao para a falha, mas vocˆe pretende primeiro testar esta hip´otese (tamb´em ´e poss´ıvel, em uma situa¸c˜ao real, que vocˆe n˜ao saiba o que ´e o distribuidor e n˜ao seja capaz, portanto, de formular esta hip´otese, mas estamos supondo aqui que vocˆe sabe o que ele ´e e que a hip´otese ´e razo´avel). tendo a hip´otese, vocˆe precisa encontrar uma forma de test´a-la. Neste caso, vocˆe abre o motor do carro, localiza o distribuidor, abre-o, olha se h´a alguma ´agua ali dentro e utiliza um peda¸co de pano para sec´a-lo. De volta dentro do carro, vocˆe tenta dar a partida. Se o carro come¸car a funcionar, parab´ens, vocˆe obteve confirma¸c˜ao para a sua hip´otese. Isto n˜ao significa que ela era necessariamente verdadeira, algum outro tipo de coincidˆencia pode ter ocorrido, mas a sua hip´otese inicial se torna certamente muito mais prov´avel.

Se, por outro lado, o motor do carro n˜ao funcionar, a sua hip´otese fica mais fraca. Ainda ´e poss´ıvel que vocˆe n˜ao tenha secado o distribuidor direito, uma hip´otese que vocˆe pode querer checar, mas tamb´em ´e poss´ıvel que algo diferente esteja acontecendo, Talvez vocˆe tenha ficado sem gasolina ou a origem do problema no motor seja outra. De qualquer forma, vocˆe sabe que algo deu errado no seu experimento e vocˆe precisa agora uma resposta para esta d´uvida, ou alterando sua hip´otese inicial, ou descobrindo qual foi a falha no seu experimento que n˜ao permitiu que vocˆe constatasse que esta estava correta. Se vocˆe decidir que ainda acredita na sua hip´otese inicial, deve test´a-la novamente, idealmente de uma forma diferente, se isso fosse poss´ıvel neste caso. E, se ap´os um n´umero razo´avel de testes (n˜ao h´a como especificar neste ponto o que razo´avel significa), sua hip´otese continuar a ser desmentida, vocˆe deve abandon´a-la, independente de qu˜ao apegado a ela vocˆe tenha se tornado. Manter-se firme em sua cren¸ca simplesmente para evitar ouvir goza¸c˜oes de seu amigo no carro, que afirma que vocˆe n˜ao entende nada de carros ´e uma ati-tude nada cient´ıfica, quando o peso das evidˆencias apontam para o fato de que vocˆe estava errado.

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neces´arias, para quantas hip´oteses vocˆe puder inventar a respeito do problema at´e encontrar uma hip´otese que funcione e resolva o seu problema. Como vocˆe, neste exemplo, ´e um motorista e n˜ao um cientista, uma vez que o carro come¸cou a andar, considere o problema resolvido. Se vocˆe for um cientista ou um t´ecnico lidando com uma teoria mais complexa sobre a Natureza, considere apenas que vocˆe encontrou uma boa resposta, mas ´e perfeitamente poss´ıvel que exista outra ainda melhor e que a sua seja, na melhor das hip´oteses, uma aproxima¸c˜ao da realidade.

4.3

Experimentos

Experimentos e observa¸c˜oes s˜ao fundamentais para a boa aplica¸c˜ao do m´etodo cient´ıfico, em seu conceito geral e correto, ainda que sua realiza¸c˜ao n˜ao seja necess´aria em todos os trabalhos. Eles s˜ao o que torna a Ciˆencia a atividade humana melhor preparada para encontrar as melhores respostas e descri¸c˜oes do mundo, uma vez que qualquer id´eia ou teoria que um cientista queira defender, tem de passar pelo teste de se as suas previs˜oes s˜ao corretas. Ou seja, o crit´erio de quais teorias s˜ao aceitas pela comunidade ´e o de adequa¸c˜ao a experimentos reais, onde busca-se, em especial, provar que a id´eia estaria errada. Um experimento conduzido de forma a que os seus resultados n˜ao tenham qualquer chance de contradizer a teoria n˜ao ´e um experimento apropriado; ao preparar qualquer tipo de teste experimental, ´e fundamental que existam resultados que indiquem que a teoria pode ser falsa.

Isto quer dizer que ´e necess´ario procurar testes verdadeiros da teoria, ou seja, testes que sejam capazes de falsear uma teoria, mostrando que esta n˜ao ´e aplic´avel (Popper, 1959). As pessoas, no entanto, frequentemente, decidem testar hip´oteses buscando apenas fatos que as confirmam e, o que ´e pior, por vezes ignorando os pontos que poderiam falsear suas id´eias, o que foi confirmado em experimentos onde pessoas deveriam testar hip´oteses sobre outras pessoas (Snyder e Cantor, 1979). Como veremos mais adiante, a suposi¸c˜ao popperiana de que s´o interessam exper-imentos que tentem falsificar uma teoria n˜ao ´e completa. Testes que permitam falsificar s˜ao certamente indispens´aveis, mas testes confirmat´orios tamb´em podem ser muito ´uteis, no caso em que uma teoria forne¸ca uma previs˜ao surpreendente, por ser considerada improv´avel, ou por estar em conflito com as previs˜oes das teo-rias rivais. Neste caso, um experimento confirmat´orio serve sim para estabelecer, quando o resultado inesperado ´e observado, que a teoria que o previu ´e uma boa rep-resenta¸c˜ao da realidade. Por outro lado, observar algo que era previsto e que j´a era considerado prov´avel ou quase certo de ser observado n˜ao fornece muita confirma¸c˜ao para qualquer que seja a id´eia testada e, portanto, este tipo de experimento deve ser evitado por um motivo pr´atico: n˜ao se espera aprender muito com ele. Afinal, existe um limite pr´atico no n´umero de tarefas que um ser humano ´e capaz de realizar

Referências

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