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Direito à informação: a Agência Nacional de Saúde Suplementar e as relações entre beneficiários e operadoras

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Academic year: 2022

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Direito à informação: a Agência Nacional de Saúde Suplementar e as relações entre beneficiários e operadoras

Letícia Horn Zambiazi (Email: leticiahz@gmail.com) Orientadora: Profª. Me. Regina Fátima Wolochn Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)

Resumo: O direito à vida e o direito à saúde são dois dos mais importantes direitos fundamentais para a sobrevivência do homem, possuindo fundamentação na Constituição de 1988. Para estes dois direitos serem realmente efetivados, é necessário que o direito à informação relacione-se com ambos. O direito à informação também apresenta alicerce constitucional e é considerado direito fundamental, sendo base da Lei de Acesso à Informação (12.527/2011). Além deste direito ser de extrema importância para a relação entre consumidor-fornecedor, no âmbito da saúde privada fez-se necessária a atuação do Estado na regulamentação do acesso à informação, através da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), com a finalidade de monitorar, fiscalizar e acompanhar o mercado, equilibrando as relações entre beneficiários e operadoras da saúde suplementar.

Palavras-chave:

Informação; Agências Reguladoras; Agência Nacional de Saúde Suplementar; Direito Fundamental.

Introdução:

O objeto deste trabalho é o direito à informação no âmbito da saúde suplementar, englobando o direito de ser informado e o dever de informar, mais especificamente, o dever de informação das operadoras de planos e seguros de saúde privada para com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e o direito de informação dos consumidores, não só por parte das operadoras, mas também por parte da ANS, que tem como uma de suas funções manter o equilíbrio entre consumidores e fornecedores. A pesquisa tem como escopo analisar a relação do direito à informação com o papel da Agência Nacional de Saúde Suplementar, e observar se esta função é realmente efetivada. Esta pesquisa tem caráter teórico e exploratório.

Objetivo:

Apontar as relações entre os Direitos Fundamentais e o acesso à informação nas relações concernentes ao âmbito da saúde. A partir destas relações, mostrar a importância das Agências Reguladoras e sua evolução na regulamentação da área da saúde privada, focando, principalmente, no direito à informação entre a Agência Nacional de Saúde Suplementar, consumidores e fornecedores e como ele vem sendo efetivado.

Métodos e Técnicas de Pesquisa:

O método de pesquisa é dedutivo, partindo da análise dos direitos fundamentais e direitos sociais, chegando a regulamentações específicas no âmbito da saúde suplementar, tendo como foco principal a Agência Nacional de Saúde Suplementar e sua relação com o acesso à informação. A técnica de pesquisa é composta de documentação indireta, bibliográfica e documental.

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Resultados:

Entre todos os direitos fundamentais - que garantem a convivência pacífica, digna, livre e igualitária, independentemente de credo, raça, origem, cor, condição econômica ou status social1 - faz-se importante destacar os principais que se relacionam diretamente com a problemática da área de saúde: o direito à saúde, o direito à vida e o direito à informação.

A “Constituição Federal de 1988 foi a primeira carta política no Brasil a reconhecer e assegurar expressamente o direito à saúde, que pode ser visto tanto como um direito fundamental do homem ou como direito social”2. Enquanto direito fundamental, segundo Uadi Lammêgo Bulos3, encontra-se localizado na quarta geração, juntamente com os direitos relativos à informática, softwares, biociências, eutanásia, alimentos transgênicos, entre outros. Enquanto direito social, está elencado no artigo 6º da Constituição Federal de 1988 e deve ser prestado pelo Estado a toda a população. Também “está inserido no conceito de dignidade humana, princípio basilar da República [...], pois não há como falar em dignidade se não houver condições mínimas de garantia da saúde do indivíduo”4.

Já o direito à vida é um direito fundamental de primeira geração, conforme Bulos5. O direito à saúde é corolário do direito à vida, que recebeu da Constituição Federal de 1988 ampla proteção, como o artigo 5º da Carta Magna que assegura a sua inviolabilidade.

O acesso à informação é considerado um direito fundamental, indispensável para a plena realização da dignidade humana e para uma tutela mais eficaz do direito e fundamento da República Federativa do Brasil: a cidadania Para garantia do acesso à informação é necessária a transparência não só dos órgãos estatais, mas especialmente das empresas privadas que atuam na exploração de serviços essenciais como os da saúde.

O direito de informar e ser informado, ambos abrangidos pelo direito à informação, é imprescindível para a realização efetiva do direito à saúde e à vida, dois dos mais importantes direitos fundamentais do homem. As pessoas não conseguem fazer escolhas autênticas se a informação não é difundida corretamente e, devido a isto, o acesso à informação é umas das condições mais importantes para a concretização da democracia e para o exercício dos direitos do homem. Além de ser um dos pilares para o exercício dos direitos do consumidor, o direito à informação é um direito fundamental, transcrito no artigo 5º da Constituição Federal de 19886, e que também se encontra na sexta geração, segundo Bulos:

“[...] o direito de informação, por sua vez, é outra liberdade pública da coletividade. Não se personifica, muito menos se dirige a sujeitos determinados. Conecta-se à liberdade de informação, porque todos, sem exceção, têm a prerrogativa de informar e de ser informado. O acesso ao conhecimento não pode ser tido como privilégio de uns, em detrimento de outros”7.

1 BULOS, Uadi L. Curso de direito constitucional. 7 ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2012, p. 522.

2SCHMITT, Cristiano Heineck; MARQUES, Claudia Lima; PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos;

LOPES, José Reinaldo de Lima (coordenadores). Saúde e Responsabilidade 2 – a nova assistência privada à saúde. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 79.

3 BULOS, op. cit., p.526.

4SCHMITT, op. cit., p. 79.

5 BULOS, op. cit., p.525

6 Art. 5º - XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.

7 BULOS, Uadi L. Curso de direito constitucional. 7 ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2012, p. 528.

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O direito à informação não se dá apenas na relação entre fornecedor e consumidor que realizam contratos de adesão a planos privados de assistência à saúde. Este direito também é essencial para a fiscalização - por parte do Estado - das empresas que oferecem planos assistenciais privados, assim como para a disponibilização de informações resultantes da fiscalização e a regulação de conflitos existentes entre as entidades reguladas e os usuários, que é feita especialmente pelas Agências Reguladoras.

As Agências Reguladoras tiveram origem na pós-modernidade, onde “o Estado encontrava-se sob crítica cerrada, densamente identificado com a ideia de ineficiência, desperdício de recursos, morosidade, burocracia e corrupção”8. Devido a este fato, foram operadas algumas mudanças econômicas, como a privatização de serviços públicos. Consequentemente, o papel do Estado passou de “protagonista na execução dos serviços às funções de planejamento, regulação e fiscalização, surgindo, neste contexto, as Agências Reguladoras, sob forma de autarquia”9.

Até a criação das Agências Reguladoras, o segmento de saúde suplementar atuava sem estar subordinado a uma legislação específica. Aqui, é importante ressaltar a terceira fase da normatização do modelo de regulação: ao final do ano de 1999, a Agência Nacional de Saúde Suplementar foi criada pela Lei 9.961, especificamente com a função de regular e fiscalizar o mercado de saúde suplementar, vinculando-se ao Ministério da Saúde10.

Maria Stella Gregori assevera que:

“a criação da ANS foi um marco importante para o mercado de saúde suplementar, à medida que o Estado sinalizava, de um lado, que essa atividade estava submetida aos princípios constitucionais da ordem econômica, da livre iniciativa e competição, por considerá-los instrumentos agregadores de eficiência a esse mercado, e, de outro, que tais atividades deveriam ser desenvolvidas de acordo com decisões e regulamentações editadas por um órgão estatal responsável por autorizar, regulamentar e fiscalizar o exercício dessas atividades, de modo a permitir que a competição se desse de forma saudável e em benefício da sociedade como um todo” 11.

É necessário ressaltar que quando a ANS foi criada o setor a ser regulado não era um mercado a ser aberto à iniciativa privada. Nesse sentido, a ANS iniciou o processo de regulação do setor, editando normas que permitissem a coleta de informações desse mercado, disciplinando os instrumentos de acompanhamento econômico-financeiro das operadoras12.

Relativamente ao direito de informação entre a ANS e os fornecedores dos planos e seguros de saúde privados, criou-se o “SIP” (Sistema de Informações de Produtos),

“pelo qual as operadoras estão obrigadas a fornecer dados sobre consultas, exames, internações, partos, média de despesa por usuário, entre outras informações que permitem o monitoramento de seu desempenho gerencial e assistencial”13.

8 BARROSO, Luis Roberto. Constituição, ordem econômica e agências reguladoras. Revista Eletrônica de Direito Administrativo Econômico. Salvador, Instituto de Direito Público da Bahia, nº 1, fevereiro, 2005, p.2.

9 Ibid., p.7.

10 GREGORI, Maria Stella. Planos de saúde: a ótica da proteção do consumidor. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 42.

11 GREGORI, loc. cit.

12 Ibid., p.68.

13 Ibid., p.69.

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Foi criado, também, o “TISS” (Troca de Informação em Saúde Suplementar), com a função de estabelecer um padrão obrigatório para as permutas eletrônicas de dados de atenção à saúde dos consumidores de planos, entre os agentes da Saúde Suplementar, padronizando, assim, as ações administrativas, subsidiando as ações de avaliação e acompanhamento econômico, financeiro e assistencial das operadoras de planos privados de assistência à saúde, compondo, por último, o Registro Eletrônico de Saúde14.

Essa sistematização é medida fundamental para a constituição de indicadores que permitam aferir o estado de saúde, subsidiar o planejamento e a ponderação dos serviços prestados, e, finalmente, fornecer informações a fim de comparar e apoiar as políticas de saúde nacionais15.

Referente à relação entre o consumidor e a ANS, existem múltiplos mecanismos de informação, que se situam, majoritariamente, na página oficial da Agência na internet.

Primeiramente, há uma avaliação de desempenho das operadoras de saúde suplementar através do Índice de Desempenho da Saúde Suplementar, no qual cada operadora recebe uma nota baseada em indicadores definidos pela ANS (atenção à saúde, econômico-financeira, estrutura e operação e satisfação do beneficiário, em porcentagens variadas). Esse mecanismo oferece uma alternativa de pesquisa para o contratante manter-se informado sobre o status de sua futura ou atual operadora.

Ainda sobre avaliações, em 2012 foi realizada uma pesquisa referente à satisfação dos beneficiários por operadora. Um dos requisitos da pesquisa era a anuência das operadoras, além de que esta deveria apresentar mais de vinte mil beneficiários.

Concernente às queixas dos consumidores, é possível encontrar o “Índice de Reclamações”, que divide as operadoras em portes (grande, médio, pequeno) e possibilita consultar as reclamações de operadoras específicas. As reclamações podem ser feitas através do “Disque ANS”, do formulário de atendimento que se encontra no sítio da Agência e, ainda, através de cartas.

Ainda no concernente à relação entre a ANS e os consumidores dos planos de saúde suplementar, o sítio da Agência apresenta o “Espaço do Consumidor”, no qual é possível encontrar informações sobre o que determinado plano de saúde deve cobrir, baseado no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, os prazos de carência que devem ser cumpridos, as situações legais para reajustes de preços, assim como é possível acompanhar solicitações e decisões processuais.

É de extrema importância esclarecer que as Agências Reguladoras, incluindo a ANS, não se inserem no Sistema Nacional de Defesa do Consumidor. Sua função essencial é a de executar as políticas de Estado, portanto, o foco não é resolver conflitos pontuais. Frisa-se que “a regulação se processa sobre o setor regulado como um todo, na busca de um modelo que privilegie a ética e as boas práticas empresariais, com respeito ao direito dos consumidores”16.

Sobre o assunto, Gregori expõe que:

“A defesa dos interesses dos consumidores para as Agências Reguladoras é prospectiva e preventiva, englobando ações de regulamentação da atividade econômica das empresas, de monitoramento e acompanhamento do mercado e de fiscalização [...]. As Agências Reguladoras atuam de forma

14BRASIL. Agência Nacional De Saúde Suplementar. Padrão TISS: versão 3.02.00. Disponível em:<http://www.ans.gov.br/espaco-dos-prestadores/tiss/2483-padrao-tiss-versao-30200>. Acesso em:

02. jul. 2014.

15 GREGORI, op. cit., p. 70.

16 Ibid., p. 64.

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imparcial, na promoção do equilíbrio entre fornecedores e consumidores, no ideal de um mercado estável, eficiente e socialmente justo” 17.

Após a exposição dos resultados, passa-se a discussão da pesquisa.

Discussão:

A discussão encontra-se na problemática do acesso à informação, abrangendo tanto o direito de informar e o de ser informado, bem como se estão sendo efetivados, principalmente na relação entre ANS-operadora e ANS-beneficiário, a fim de regular o mercado de saúde suplementar para que consumidor e fornecedor tenham seus direitos e deveres equilibrados. É necessário ressaltar que a grande quantidade de informações não significa que estas sejam suficientemente claras para que se chegue a uma análise correta dos dados. O dever de informação reflete nas escolhas verdadeiras do consumidor, permitindo que gozem de seus plenos direitos.

Juridicamente, a legislação relacionada à informação é vasta, porém é necessário saber se esta é realmente cumprida e se a forma como é cumprida beneficiam os consumidores. Ainda mais, é importante ressaltar que nem toda a população tem acesso à internet, portanto, vários mecanismos de acesso à informação relativos à ANS e seu website não são realmente efetivos para esta parcela da população.

Considerações Finais:

Chega-se a conclusão de que é preciso não apenas prover grandes quantidades de informação, mas sim informações que sejam úteis e de entendimento facilitado aos consumidores, uma vez que certos termos jurídicos e médicos não são conhecidos pela maioria da população. A informação correta, útil e que chegue ao conhecimento da população é necessária para a escolha consciente do beneficiário, assim como é uma das condições mais importantes para a concretização da democracia e para o exercício pleno dos direitos do homem. Este artigo tem como característica ser produção primária e exploratória, ligado à linha de pesquisa “Direito à informação nos planos e seguros privados de assistência à saúde” e vinculado ao projeto de pesquisa

“Direito de Ser Informado”. Por ser a primeira produção, este artigo não tem como finalidade esgotar o tema, mas sim apresentar informações a serem aprofundadas ao longo da pesquisa.

Referências:

BARROSO, Luis Roberto. Constituição, ordem econômica e agências

reguladoras. Revista Eletrônica de Direito Administrativo Econômico. Salvador, Instituto de Direito Público da Bahia, nº 1, fevereiro, 2005.

BRASIL. Agência Nacional De Saúde Suplementar. Padrão TISS: versão 3.02.00.

Disponível em:<http://www.ans.gov.br/espaco-dos-prestadores/tiss/2483-padrao-tiss- versao-30200>. Acesso em: 02. jul. 2014.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.

17 Ibid., p.65.

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BULOS, Uadi L. Curso de direito constitucional. 7 ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2012.

GREGORI, Maria Stella. Planos de saúde: a ótica da proteção do consumidor. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2007.

SCHMITT, Cristiano Heineck; MARQUES, Claudia Lima; PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos; LOPES, José Reinaldo de Lima (coordenadores). Saúde e Responsabilidade 2 – a nova assistência privada à saúde. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

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