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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 1723/10.1TVLSB.L1-8 Relator: ANTÓNIO VALENTE Sessão: 02 Maio 2013 Número: RL Votação: UNANIMIDADE Meio Proce

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 1723/10.1TVLSB.L1-8 Relator: ANTÓNIO VALENTE

Sessão: 02 Maio 2013 Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: IMPROCEDENTE

DEFESA POR IMPUGNAÇÃO DESTITUIÇÃO DE GERENTE

JUSTA CAUSA

Sumário

1. Alegando a Ré, em sede de contestação, que a Autora recebia determinadas quantias por esta alegadas mas negando que as mesmas resultem de um

acordo relativo à participação nos resultados na empresa, sendo antes um prémio de desempenho que podia ou não ser atribuído pela mesma, consoante as circunstâncias, estamos perante uma defensa por impugnação indirecta e não por excepção, uma vez que, para lá da negação de existência de um acordo, a Ré se limita a dar uma qualificação e natureza jurídica diversas a pagamentos invocados pela Autora.

2. Sendo prática da empresa, durante os primeiros três meses de baixa,

assegurar ao trabalhador a totalidade do vencimento, pagando o acréscimo de 35% relativamente ao subsídio de doença de 65% a cargo da Segurança

Social, e igualmente adiantando a totalidade do vencimento até que o

trabalhador comece a receber o subsídio de doença, incorre em falta grave o administrador que recebe o subsídio da Segurança Social e não o devolve à empresa que lhe havia adiantado a totalidade do salário e que, para mais, continua a fazer-se pagar os 100% mesmo após o período de três meses de baixa.

3. É igualmente grave a conduta do administrador que sendo responsável pela sector financeiro e da contabilidade da empresa, não actua no sentido de serem pagas as dívidas de uma outra empresa, de que era sócio maioritário o seu irmão.

4. Tais condutas violam a relação de confiança que é essencial, na medida em

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que o administrador em causa, actuou não na defesa dos interesses da empresa que administra e dos seus accionistas, mas na defesa dos seus próprios interesses e de seus familiares. Existindo causa justificativa de destituição, nos termos do art. 403º nº 4 do CSC.

(ASV)

Texto Parcial

Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa

Maria intentou acção declarativa de condenação com processo ordinário

contra SC Imobiliária, SA, SC Projectos e Serviços, SA, P - PIPIC, SA, SGR, SA, Sucursal e SC Investimentos, SGPS, SA formulando um pedido principal e um subsidiário, sendo o primeiro:

1. Deve a 1ª R., SC Imobiliária, SA., ser condenada a pagar à A.:

a) a quantia de € 2.753,00 a título de remunerações auferidas pelo exercício efectivo do cargo de administradora no ano de 2008, vencido em 30/06/2009;

b) os juros, à taxa legal de 4%, sobre todas as referidas quantias, desde a mora, até efectivo e integral pagamento;

2. Deve a 2a R., SC Projectos E Serviços, S.A, ser condenada a pagar à A:

a) A quantia de €3.995,00 a título de remunerações auferidas pelo exercício efectivo do cargo de administradora no ano de 200S, vencida em 30/06/2009;

b) A quantia que vier a ser liquidada em execução de sentença, reclamada a título de indemnização pelas remunerações que deixou de auferir, de

1/01/2010 a 31/12/2011, data do fim do mandato, e que receberia não fora a destituição;

c) Os juros, à taxa legal de 4%, sobre as referidas quantias, desde a mora, até efectivo e integral pagamento.

3. Deve a 3a R., P - PIPIC, SA, ser condenada a pagar à A.:

a) A quantia de €3.000,00 a título de remunerações auferidas pelo exercício efectivo do cargo de administradora no ano de 200S, vencido em 30/06/2009;

b) A quantia que vier a ser liquidada em execução de sentença, reclamada a título de indemnização pelas remunerações que deixou de auferir, de

(3)

1/01/2010 a 31/12/2011, data do fim do mandato, e que receberia não fora a destituição;

c) Os juros, à taxa legal de 4%, sobre as referidas quantias, desde a mora, até efectivo e integral pagamento;

4. Deve a 4a R., SGR, SA Sucursal, ser condenada a pagar à A.:

a) A quantia de €154.286,26 a título de remunerações auferidas pelo exercício efectivo do cargo de administradora no ano de 2008, vencida em 30/06/2009;

b) Os juros, à taxa legal de 4%, sobre todas as referidas quantias, desde a mora, até efectivo e integral pagamento;

5. Devem ainda as lª, 2a, 3a, 4a e 5a R.R. ser solidariamente condenadas a pagar à A:

a) A quantia de €22.940,06 a título de valor suportado pela A. na aquisição da viatura de serviço;

b) quantia de €60.000,00 a título de danos morais sofridos em virtude da destituição;

c) Os juros de mora, à taxa legal de 4%, sobre as referidas quantias, desde a mora, até efectivo e integral pagamento;

PEDIDO SUBSIDIÁRIO:

Deve a Ré., SC Investimentos, Sgps S.A., ser condenada a pagar à A.:

a) A quantia de €163.426,26 a título de remunerações auferidas no ano de 2008 pelos cargos de administradora exercidos em todas as R.R., vencida em 30/06/2009 e não paga;

b) A quantia que vier a ser liquidada em execução de sentença, reclamada a título de indemnização pelas remunerações que deixou de auferir, de

1/0112010 a 31112/2011, data do fim do mandato, em virtude dos cargos ocupados pela A. nas 2a e 3a R.R., e que receberia não fora a destituição;

c) A quantia de €22.940,06 a título de valor suportado pela A. na aquisição da viatura de serviço;

d) A quantia de €60.000,00 a título de danos morais sofridos em virtude da destituição;

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e) Os juros, à taxa legal de 4%, sobre todas as referidas quantias, desde a mora, até efectivo e integral pagamento.

Fundamentando tais pretensões, alega que foi nomeada administradora de cada uma das rés para vários mandatos, detendo tal qualidade em 10.7.2009, data em que foi destituída do cargo de administradora de tais sociedades com invocação de justa causa pela Rés, sendo que o mandato em curso terminou em 31.12.2009. Como administradora de tais sociedades, a Autora participava em 3% de todos os resultados anuais positivos das Rés, diminuídos de 3% dos resultados negativos.

Sustenta a Autora que lhe assiste direito a ser ressarcida pelos serviços efectivamente prestados durante o ano de 2008, em que as sociedades

obtiveram resultados positivos, o que justifica os pedidos deduzidos sob 1 a), 2 a), 3 a) e 4 a) do seu petitório.

No que tange à destituição, entende a Autora que na comunicação da

destituição não constam os factos nem os fundamentos que integrariam a justa causa pelo que a mesma tem de ser entendida como desprovida de justa

causa. Razão pela qual assiste direito à Autora a uma indemnização pelos danos sofridos equivalente às remunerações que iria auferir pelo cargo de administradora da 2a e 3a Rés nos anos completos de 2010 e 2011, data do fim do mandato, não fora a destituição. Tal indemnização deverá ser liquidada em execução de sentença.

A destituição injustificada da Autora causou-lhe danos não patrimoniais, vendo-se a autora remetida à inactividade e a um estado depressivo,

designadamente pelo que a este título reclama uma indemnização de € 60.000.

Subsidiariamente, a autora deduz os pedidos contra a 5a Ré por ser uma

holding à qual são atribuídos os resultados das participadas, na proporção das respectivas participações.

As Rés contestaram longamente, sustentando que as destituições ocorreram com justa causa, impugnando a versão dos factos da Autora e concluindo pela improcedência da acção.

Reconvindo, a 1ª Ré peticiona a condenação da Autora a pagar-lhe as quantias de € 858,80 devidas pela utilização de telemóvel e datamóvel que a autora utilizou para fins pessoais após a destituição, acrescidos de juros de mora e de

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€ 20.104,96, a título de remunerações indevidamente recebidas durante o período em que a Autora esteve a receber o subsídio de doença, acrescendo juros legais desde o seu pagamento pelo la Ré.

Pedem ainda as Rés a condenação da autora como litigante de má-fé em multa e indemnização de € 10.000 porquanto: (i) a autora bem sabe que não foi acordada a remuneração a que se reporta; (ii) a autora conhece os motivos da sua destituição; (iii) a autora deduz pretensões cuja falta de fundamento não ignora.

Na réplica, a Autora devolveu o pedido de condenação por Iitigância de má-fé, argumentando que são as rés que alegam factos que bem sabem não

corresponder à verdade, omitindo outros essenciais à decisão da causa, designadamente ao alegarem que nunca foi acordada qualquer participação da autora nos resultados das sociedades. Conclui, reclamando igual

indemnização das Rés.

No mais, manteve a sua posição anteriormente expressa.

A Autora desistiu dos pedidos enunciados sob I, nº 5, alínea e) e II, alínea c) ( cfr. fls. 1123 e 1087).

Procedeu-se a julgamento com observância do legal formalismo, vindo a ser proferida sentença que julgou a acção não provada e improcedente,

absolvendo as Rés dos pedidos, e julgando a reconvenção parcialmente

procedente, condenando a Autora a pagar à 1ª Ré as quantias de € 496,38 e € 425,28 acrescidas de juros de mora.

Estão provados os seguintes factos:

1 - A ré SC Imobiliária é uma sociedade anónima que tem por objecto social a indústria de construção civil, hotelaria e turismo, compra, administração e alienação de imóveis sociais ou alheios, a compra de prédios e a revenda dos adquiridos para tal fim;

2 - A autora foi nomeada administradora dessa ré nos seguintes mandatos:

Triénio 2004/2006, por deliberação de 2/0 J /2004, para o cargo de vogal;

Triénio 2007/2009, por deliberação de 2/01/2007, para o cargo de vogal;

3- A ré SC Projectos e Serviços é uma sociedade anónima que tem por objecto social a prestação de serviços de gestão administrativa, financeira,

informática, contabilidade, consultoria, formação, contratação e cedência de

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pessoal, gestão de empreendimentos, comercialização, publicidade,

marketing, projectos de engenharia, arquitectura e fiscalização nas referidas áreas;

4- A autora foi nomeada administradora dessa ré nos seguintes mandatos:

a) Triénio 2006/2008, por deliberação de 23/0112006, para o cargo de administrador único;

b) Triénio 2009/2011, por deliberação de 5/01/2009, para o cargo de Presidente do Conselho de Administração;

5- A ré P é uma sociedade anónima que tem por objecto social a compra e venda de imóveis e dos adquiridos para esse fim, gestão de parques, gestão empresarial, gestão imobiliária e indústria de construção civil;

6- A autora foi nomeada administradora dessa ré nos seguintes mandatos:

a) Triénio 2006/2008, por deliberação de 23/01/2006, para o cargo vogal;

b) Triénio 2009/2011, por deliberação de 5/01/2009, para o cargo de vogal;

7- A ré SGR é uma sociedade anónima que tem como fim a representação permanente em Portugal da SGR, S.A., tem a respectiva sede principal em Cabo Verde, (…), CP 157 A, está matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Praia sob o n° (…) e que tem como objecto a promoção turística imobiliária, nas vertentes de urbanismo, hotelaria, imobiliária, energia,

ambiente e serviços afins, construção, promoção, compra, venda e revenda de adquiridos para esse fim, de prédios rústicos e/ou urbanos e suas fracções, administração de propriedades e gestão comercial;

8 - A autora foi nomeada administradora dessa ré para o mandato correspondente ao Triénio 2007/2009, com o cargo de vogal;

9- A ré SC Investimentos é urna sociedade anónima que tem por objecto social a gestão de participações sociais noutras sociedades, como forma indirecta do exercício de actividades económicas;

10 - A autora foi nomeada administradora dessa ré nos seguintes mandatos:

a) Triénio 2004/2006, para o cargo de Vogal;

b) Triénio 2007/2009, por deliberação de 2/0112007, para o cargo de Vogal;

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11- A autora tinha a disponibilidade de uma viatura automóvel de marca BMW, com a matrícula (…), para uso profissional, que a mesma escolheu;

12- O valor de aquisição desse veículo automóvel deveria situar-se entre Euros 40.000 e Euros 45.000;

13- A autora escolheu uma viatura de preço superior ao referido em 12, tendo pago a diferença;

14- Esse veículo foi adquirido à empresa "South Cars Automóveis, S.A" em 2 de Abril de 2005 pelo preço de €63.693,18, tendo sido celebrado, quanto ao mesmo, em nome da autora como locatária, um contrato de locação financeira com a empresa "Besleasing e Factoring-Instituição Financeira de Crédito, S.A.";

15- Com referência ao mesmo veículo automóvel, a autora e a ré P, intitulando- se a primeira "1º outorgante" e a segunda “2º outorgante" assinaram o

documento escrito datado de 13 de Abril de 2005, a que deram a denominação de "contrato de cessão de posição contratual", junto a fIs. 62 e 63;

16- Desse escrito ficou, além do mais, a constar:

«1º O 1º outorgante é parte na qualidade de locatário no contrato de locação financeira mobiliária ( ... ) referente a: ( ... ) BMW 525D (…), no valor global de 50.420,17€.

2° O 1° outorgante transmite ao 2° a sua posição no contrato referido no artigo primeiro.

3° O 2° outorgante adquire a posição do 1 ° outorgante no referido,

declarando aceitar todas as obrigações que dele decorrem para o locatário.

( ... )

7° Este contrato tem efeito a partir de 01/0512005.

8° Para os efeitos entendidos por convenientes o valor do capital em dívida em 02/0512005 é: 40.753,12€»;

17- Esse escrito foi assinado com o consentimento da "Besleasing e Factoring - Instituição Financeira de Crédito, S.A";

18 - O veículo automóvel identificado em 11 é actualmente propriedade da ré SC Imobiliária;

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19 - Por carta datada de 10 de Julho de 2009, recebida em 13 seguinte, junta sob a forma de cópia a fIs. 56 e 57, as rés SC Imobiliária, SC Projectos e

Serviços, P e SC Investimentos comunicaram à autora que no dia 9 de Julho de 2009 a mesma havia sido destituída, por alegada justa causa, das funções de administradora dessas sociedades;

20 - Essas destituições foram deliberadas em assembleias gerais de cada uma das sociedades, as quais se realizaram, em 9 de Julho de 2009, conforme o teor das actas que sob a forma de cópia estão juntas de fls. 238 a 244, 179 a 185, 186 a 189 e 191;

21- As funções confiadas à autora pela ré SGR terminaram em 31 de

Dezembro de 2009, não tendo aquela sido reeleita para o triénio subsequente;

22- No ano de 2008, a ré SC Imobiliária teve um resultado de exercício de Euros 50.222,00;

23 - Em 31 de Dezembro de 2008 foi registada a fusão das sociedades S - Urbanizações, Projectos e Construções, S.A e V - Sociedade de Construções, S.A;

24- No ano de 2008, a S, S.A. obteve um resultado de Euros 43.861,00;

25- No mesmo ano, a Vi, S.A. obteve o resultado de Euros -2.322,00 (negativos);

26- No ano de 2008, a ré SC Projectos e Serviços teve um resultado de exercício de €133.257,00;

27- No ano de 2008, a ré SGR teve um resultado facturado no respectivo exercício de €2.922.292,48;

28- A autora esteve profissionalmente ligada às rés, todas empresas do

denominado Grupo SC, no período compreendido entre 1972 e 2009, ou seja, durante cerca de 37 anos;

29 - Inicialmente a autora desempenhava funções ao abrigo de um contrato de trabalho;

30 - A autora foi nomeada para as funções de administradora atrás referidas no decurso da sua actividade como trabalhadora da ré SC Imobiliária;

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31- A autora esteve em situação de incapacidade para o trabalho, por baixa médica, desde Outubro de 2008;

32- Apesar dessa situação, a mesma, desde Outubro de 2008 a Maio de 2009, recebeu mensalmente e de forma cumulativa o subsídio de doença da

Segurança Social e a remuneração que lhe era paga pela ré SC Imobiliária;

33- A autora devolveu à ré SC Imobiliária, em Junho de 2009, a quantia de Euros 15.741,24, o que fez depois de ter sido confrontada pelo, à data, Presidente do Conselho de Administração da mesma ré, Sr. SC;

34- Por escrito datado de 2 de Fevereiro de 2009, junto sob a forma de cópia de fls. 165 a 168, a autora, intitulando-se administradora da ré SC Imobiliária e declarando actuar em representação desta, celebrou com a sociedade da qual é administradora única - a sociedade M - Sociedade de Construções, S.A - um contrato promessa de compra e venda da fracção autónoma designada pela letra "C", correspondente à loja com a área coberta de 78,10 m2, sita na Rua Sociedade Democrática União Barreirense "Os Franceses", n° 2 A,

freguesia do Lavradio, registada na Conservatória do Registo Predial do Barreiro sob o nº 607/960423, e inscrita na matriz predial urbana sob o art.

2182 da referida freguesia, com a licença de utilização nº 170/2001, emitida pela Câmara Municipal do Barreiro;

35- O preço da prometida venda foi definido neste escrito como €70.000,00 (setenta mil euros);

36- No dia 20 de Fevereiro de 2009, a referida sociedade M Sociedade de Construções, S.A., deu de arrendamento a referida fracção, para comércio, a Paulo e Sónia, nos termos do escrito junto sob a forma de cópia de fls. 169 a 173, sendo a renda de 800,00 (oitocentos euros);

37 - Esse arrendamento iniciou imediatamente os seus efeitos, tendo sido entregue a loja aos arrendatários e tendo a M - Sociedade de Construções, S.A. recebido na data de assinatura do supra mencionado escrito, a quantia de

€ 2.400,00;

38 - Essa sociedade continuou a receber as rendas do referido arrendamento, pelo menos, até à data da destituição da autora das funções de administradora na ré SC Imobiliária;

39 - Em documento datado de 20 de Outubro de 2008, junto a fls. 176-A, a autora, na qualidade de gerente da sociedade T&L-Pastelaria, Lda, declarou

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propor à ré SC Imobiliária uma dação, através da entrega de diversos

equipamentos daquela primeira sociedade, para pagamento da caução e das rendas que essa sociedade tinha em atraso e que eram relativas ao

arrendamento de 2 lojas sitas na Rua Sociedade Democrática União Barreirense "Os Franceses", nºs 2C e lB;

40 - Em documento datado de 23 de Outubro de 2008, junto a fls. 177, a autora, assinando sobre carimbo da ré SC Imobiliária com a menção "A Administração", declarou aceitar aquela proposta;

41- O mesmo equipamento permaneceu na loja a ser utilizado pela sociedade T&L - Pastelaria, Lda;

42- Esta sociedade é detida, a 95%, pelo filho da autora Sérgio, sendo este e a autora gerentes da mesma;

43- Instada pelo, à data, presidente do Conselho de Administração da ré SC Imobiliária, Sr. SC, a autora pagou as rendas e caução em atraso referidas em 39;

44- No desenvolvimento da sua actividade, a T&L - Pastelaria, Lda. celebrou com a ré SC Projectos e Serviços um contrato pelo qual esta última prestaria à primeira serviços de contabilidade, mediante o pagamento de uma avença mensal de € 240,00 (duzentos e quarenta euros);

45- A autora era a única responsável pelo departamento financeiro da ré SC Projectos e Serviços;

46- A T&L - Pastelaria, Lda, tinha em atraso o pagamento das avenças mensais referidas em 44 relativamente aos meses de Janeiro de 2008 a Maio de 2009;

47- A autora deu instruções à ré SC Projectos e Serviços para que esta procedesse ao pagamento das contribuições da segurança social e impostos (IRS retido aos trabalhadores) da T&L, utilizando, para o efeito, dinheiro da referida ré;

48- Por exigência do Presidente do Conselho de Administração da ré SC Investimentos, a autora pagou, em Junho de 2009 os valores pendentes;

49- A sociedade S - Sociedade de Construções e Manutenção, Lda tinha uma dívida para com a ré SC Projectos e Serviços relativa a avenças não pagas;

50 - A autora não adoptou quaisquer medidas com vista à cobrança dessa dívida;

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51- A mesma dívida acabou por ser paga;

52- Durante o período em que exerceu funções de administradora foi atribuído à autora o uso de um telemóvel com o nº 96 405 59 64;

53- Durante o mesmo período foi atribuído à autora pela ré SC Imobiliária um datamóvel com dois números: 92 704 27 44 e 96 187 2746;

54- A Autora acordou com o principal accionista das Rés que, pelo exercício dos cargos de administradora referidos em 2, 4, 6, 8 e 10 e noutras sociedades do grupo num total de onze (em que estão incluídas as referidas em 2,4,6, 8 e 10 e sociedades em Cabo Verde e Brasil), a Autora participaria em 3% de todos os resultados anuais positivos dessas onze empresas, diminuído de 3%

dos resultados negativos;

55- E esses valores seriam pagos anualmente, após o fecho de contas do respectivo exercício, por volta do mês de Junho do ano seguinte;

56- À data da fusão referida em 23 a autora era administradora das sociedades aí identificadas;

57- No ano de 2008, a P teve um resultado de exercício de € 31.310,19;

58 - A ré SGR recebeu até ao final do ano de 2008, a quantia de

€14.99.0.000,00, correspondente ao preço das zonas denominadas nºs 4, 7, 8 e 9 de terrenos, sitas em Cabo Verde;

59 - As vendas dessas parcelas não foram ainda escrituradas com excepção da zona 9 em 2009;

60 - Por decisão do Presidente do Conselho de Administração da ré SC

Investimentos, esse valor de € 14.990.000,00 foi registado na contabilidade da ré SGR na conta "Adiantamentos de clientes estrangeiros".

61- Mas não foi facturado nem registado em vendas e nem foram apurados os custos respectivos;

62- Não tendo a mesma verba sido contemplada nos resultados do exercício do referido ano;

63- A margem de lucro estimada para essa venda é de 30%;

64- Sobre a qual incide 25% a título de IUR (Imposto Único sobre o Rendimento);

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65- No exercício das funções referidas nos factos assentes era frequente a autora trabalhar em serões, fins-de-semana e feriados;

66- A Autora era uma profissional conhecida e respeitada no meio empresarial em que as Rés se inserem;

67 - No exercício dessas funções a mesma tinha uma vida muito activa;

68- A Autora está reformada desde 1 de Dezembro de 2011;

69 - O termo das suas funções junto das rés causou à autora frustração, tristeza e humilhação;

70 - O que determinou um estado depressivo;

71 - Em razão do qual a autora tem acompanhamento psicológico e psiquiátrico e está medicada;

72 - A partir de 2008, a remuneração da Autora passou a ser processada como de "Directora" da Ré SC Imobiliária;

73 - A qual, em 2008, era de Euros 5.273 mensais;

74 - Enquanto administradora da ré SC Imobiliária, a autora era a responsável máxima pelo pelouro financeiro, pelo pelouro contabilístico e pelo pelouro de controlo interno (controller);

75 - A Autora desempenhou essas mesmas funções pelo menos enquanto administradora executiva da 2a Ré;

76 - A remuneração da Autora era paga pela 1ª ré;

77 - Foi a autora que optou por manter como forma de remuneração a que lhe permitia continuar dentro do regime contributivo dos trabalhadores por conta de outrem;

78- Em execução do acordo referido na resposta ao artigo 1°, a Autora

recebeu das Rés SC Imobiliária, SC Projectos e Serviços e SC Investimentos quantias que foram formalmente processadas como "Prémio de desempenho"

relativas ao ano de 2007 e que lhe foram pagas em 2008;

79- É prática corrente do mesmo grupo o pagamento do denominado

"complemento de subsídio de doença" nos três primeiros meses de baixa dos seus trabalhadores;

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80 - Quando a ré SC Imobiliária decide adiantar aos seus trabalhadores os valores que irão receber a título de subsídio de doença da Segurança Social, é prática da mesma exigir que esses trabalhadores devolvam tais quantias assim que recebam o referido subsídio da Segurança Social;

81 - Os pagamentos da remuneração referidos em 32 foram ordenados pela própria autora;

82 - A ré SC Imobiliária não retirou qualquer proveito económico do acordo referido em 39 e 40;

83 - A divida referida em 49 ascendia a € 3.216,48 em Junho de 2009;

84 - A autora deu instruções para que a ré SC Projectos e Serviços pagasse cerca de Euros 297,70 por conta da sociedade S(…) Sociedade de Construções e Manutenção, Lda, sem que esta tivesse saldo disponível/provisão junto da referida ré;

85 - A ré P é a sociedade do grupo económico da ré SC Investimentos que se dedica aos negócios relativos ao património desse grupo;

86 - As remunerações recebidas pela autora conforme referido em 32 foram pagas nas seguintes datas e pelos valores que se indicam (antes do abatimento do IRS):

em 29 de Outubro de 2008, Euros 2.418;

em 25 de Novembro de 2008, Euros 5.273;

em 26 de Dezembro de 2008, Euros 5.273;

em 27 de Janeiro de 2009, Euros 5.273;

em 25 de Fevereiro de 2009, Euros 5.273;

em 27 de Março de 2009, Euros 5.273;

em 28 de Abril de 2009, Euros 5.273;

em 26 de Maio de 2009, Euros 5.273;

87- Caso a autora tivesse recebido o complemento do subsídio de doença apenas durante 3 meses teria recebido as seguintes quantias:

k) em 29 de Outubro de 2008, Euros 846,30;

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l) em 25 de Novembro de 2008, Euros 1.845,55;

m) em 26 de Dezembro de 2008, Euros 1.845,55 88- A Autora recebeu o subsídio de Natal por inteiro;

89 - Após as destituições referidas nos factos assentes, a autora continuou a utilizar o telemóvel referido em 52;

90 - Efectuando comunicações nos períodos e valores seguintes e que foram pagos pela Ré SC Imobiliária: € 106,08 de factura de 11.8.2009; € 77.09 de factura de 11.9.2009; € 79,99 de factura de 17.10.2009; € 80,99 de factura de 16.11.2009; € 63,29 de factura de 16.12.2009 ; € 88,94 de factura de

16.1.2010 ;

91 - Após as destituições referidas nos factos assentes, a autora continuou a ter acesso ao datamóvel referido em 53;

92 - As mensalidades do datamóvel foram de € 70,88 entre Agosto de 2009 e Janeiro de 2010;

93 - A Autora começou a trabalhar para empresas do grupo das Rés com 16 anos de idade, sendo a partir de 1993 sob direcção directa do Presidente do Conselho de Administração da Ré SC Imobiliária, Sr. SC;

94 - Tendo mantido com o mesmo, durante vários anos, uma amizade pessoal.

95 - Sendo o mesmo a pessoa a quem a autora, desde 1993, reportava no exercício da sua actividade junto das Rés;

96 - Apesar da baixa médica referida em 31 a autora esteve a trabalhar diariamente durante o período mencionado em 32;

97 - No exercício das suas funções para a 1ª Ré, a Autora tinha direito a um plafond anual até € 30.000 para ajudas de custos, a pagar segundo as

despesas efectuadas e comprovadas para o efeito;

98 - No período referido em 32 a autora recebeu da Segurança Social 65% dos Euros 5.273 declarados no recibo do salário;

99 - A autora procedeu à devolução referida em 33, contra a sua vontade e por ordem expressa deste último;

(15)

1OO - Aquando do escrito referido em 34, a Autora estava munida de um

instrumento de procuração que a Ré SC Imobiliária lhe passou em 27.6.2001 e não revogada à data referida em 34 e que lhe dava poderes para celebrar esse tipo de contrato;

101 - Esse escrito foi assinado em concretização de um acordo, celebrado em Outubro de 2007, entre a autora e o referido Sr. SC;

102 - Nesse acordo ficou estabelecido que após o referido escrito a autora podia fazer o que entendesse à fracção em causa;

103 - Na sequência da assinatura do mesmo escrito, a sociedade M, S.A

entregou à ré SC Imobiliária, em Fevereiro de 2009, a quantia de Euros 7.000;

104 - A escritura pública de compra e venda da fracção referida no mesmo escrito não foi outorgada, uma vez que a ré SC Imobiliária não a marcou;

105 - A autora e a ré SC Imobiliária sabiam que a sociedade T&L era devedora a diversas entidades e que estavam iminentes penhoras sobre o seu

património;

106 - Tendo acordado dar a forma de "dação em pagamento" a um acordo cuja única finalidade era conservar os equipamentos referidos em 39 da acção dos credores da T&L;

107 - Esses equipamentos eram o único património desta sociedade;

108 - Foi o Sr. SC que sugeriu à autora que a contabilidade da T&L fosse feita pela ré SC Projectos e Serviços;

109 - O que fez, com a intenção de ajudar essa sociedade a equilibrar as suas contas, manter o arrendamento referido em 39 e não privar a ré SC

Imobiliária das rendas correspondentes;

110 - A ré SC Projectos e Serviços sabia do atraso de pagamento referido em 46;

111- A autora não era responsável pelas cobranças dos serviços prestados pela ré SC Projectos e Serviços aos seus clientes;

112 - O pagamento referido em 51 foi feito pela sociedade Somestre, Lda;

113 - A devolução referida em 33 foi feita por conta do subsídio de doença recebido da Segurança Social;

(16)

114 - Era a Ré SC Projectos e Serviços que prestava os serviços de contabilidade e tesouraria das Rés SC Imobiliária, P e SGR (nesta, só os serviços de contabilidade).

Inconformada recorre a Autora, concluindo que:

(…)

As Rés contra-alegaram defendendo a bondade da decisão recorrida..

Cumpre apreciar.

O presente recurso abrange duas questões essenciais:

A) A não admissão de parte da réplica deduzida pela Autora, que esta

pretende ver admitida por entender que nela responde a matéria de excepção invocada pelas RR na sua contestação;

B) Impugnação de diversos pontos da decisão factual.

Começaremos por abordar a primeira questão.

Nos termos do art. 487º nº 2 do CPC, “o réu defende-se por impugnação

quando contradiz os factos articulados na petição ou quando afirma que esses factos não podem produzir o efeito jurídico pretendido pelo autor; defende-se por excepção quando alega factos que obstam à apreciação do mérito da acção ou que, servindo de causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invovcado pelo autor, determinam a improcedência total ou parcial do pedido”.

Convirá aqui não esquecer a diferença entre a impugnação directa, que

consiste na contradição pelo Réu dos factos articulados na petição inicial, e a impugnação indirecta: aqui, o Réu sustenta que os factos alegados pelo Autor não podem produzir o efeito jurídico por este pretendido. Neste último caso, o Réu pode aceitar parte dos factos alegados pelo Autor, porém, “afirma, por sua vez, factos cuja existência é incompatível com a realidade de outros também alegados pelo Autor no âmbito da mesma causa de pedir (...)” - ver Lebre de Freitas, “Código de Processo Civil Anotado, 2º, pág. 288.

A impugnação indirecta “pressupõe a aceitação pelo Réu dos factos alegados pelo Autor ou, pelo menos, de alguns deles, pois que o Réu apenas impugna a qualificação jurídica fornecida pelo Autor e os factos a ela ligados” - Miguel Teixeira de Sousa, “Estudos sobre o Novo Processo Civil”, pág. 288.

(17)

Se analisarmos os artigos da contestação que a ora recorrente menciona, ou seja, os constantes dos artigos 7º a 42º desse articulado, verifica-se que:

- Nos artigos 7º a 14º relativos à remuneração, as Rés alegam que a Autora desempenhava as suas funções ao abrigo de um contrato de trabalho o qual se suspendeu quando a Autora foi nomeada para o desempenho de funções de gerente/administradora. Todavia a remuneração foi mantida. Ou seja, a Ré nega que tenha sido convencionada uma outra remuneração no momento do exercício de funções de gerência ou administradora. Nesta medida estamos perante uma impugnação directa.

- Nos artigos 15º a 24º as Rés alegam que a Autora era administradora da 1ª Ré e que desempenhou funções de administradora de algumas outras

empresas do grupo, devido unicamente, às funções e pelouros que lhe estavam adstritos enquanto administradora da 1ª Réu. Continuamos no âmbito da

defesa por impugnação directa.

- Nos artigos 25º a 33º as Rés alegam que a remuneração da Autora era paga exclusivamente pela 1ª Ré, reiterando-se que não foi acordada qualquer outra remuneração e alegando factos que pretendem indiciar a tese de que as

remunerações se mantinham no âmbito do regime dos trabalhadores por conta de outrém. Ou seja, o que as Rés fazem é negar que tenha havido um acordo com vista a um diferente tipo de pagamento como contrapartida do

desempenho das funções de administradora. Por outras palavras: depois de nomeada para administradora a Autora continuou a receber a sua

remuneração mensal.

Iato não integra, salvo o devido respeito, qualquer execepção peremptória.

Trata-se no essencial, de negar um facto articulado pela Autora – o acordo pelo qual passaria a receber como Administradora participação de 3% nos resultados das Rés – e alegar um facto diverso (e incompatível com o anterior), ou seja, a continuidade do pagamento à Autora da remuneração que esta

recebia quando vigorava o seu contrato de trabalho.

Em nosso entender, lidamos aqui com a defesa por impugnação indirecta, nos termos acima definidos.

- Os artigos 35º a 42º reportam-se à questão de tal participação nos

resultados. As Rés negam que esta tenha alguma vez sido acordada. Alegam que o que aconteceu foi que a Autora recebia um prémio de desempenho,

(18)

“uma recompensa pelo bom desempenho profissional cuja atribuição e pagamento é livremente decidida pelas empresas”.

Ou seja, as Rés aceitam que a Autora recebeu determinadas quantias, mas defendem que as mesmas têm outra origem e natureza jurídicas.

Trata-se de uma situação similar ao exemplo dado por Miguel Teixeira de Sousa na obra mecionada: “assim, se por exemplo, o réu afirma que não comprou qualquer objecto ao autor e, por isso, não lhe deve o preço, verifica- se uma impugnação directa; contudo,conforma-se uma impugnação indirecta se o réu aceitar que celebrou com o autor o contrato alegado por este mas lhe atribuir uma diferente qualificação legal e dele extrair distintas consequências jurídicas”.

As Rés não negam que pagaram as quantias invocadas pela Autora, no âmbito das funções que esta prestava para elas. Dão-lhes é uma outra qualificação jurídica com, forçosamente, diferentes efeitos.

Trata-se assim de defesa por impugnação indirecta, não se vislumbrando a dedução de qualquer excepção peremptória.

Assim, secundamos a decisão do tribunal a quo de não admitir, quanto a estes pontos da contestação, resposta da Autora.

Quanto ao recurso da sentença final.

Impugna a Autora a decisão factual no tocante aos nºs 54º (artigo 1º da BI), 57º (artigo 7º da BI), 72º (artigo 24º da BI), 74º (artigo 26º da BI), 77º (artigo 30º da BI), 78º (artigo 31º da BI), 79º (artigo 33º da BI), 80º (artigo 34º da BI), 82º (artigo 36º da BI), 87º (artigo 42º da BI), 91º (artigo 46º da BI), 92º (artigo 47º da BI), 93º (artigo 48º da BI), 95º (artigo 50º da BI) e no tocante às

respostas aos quesitos 57º, 58º, 75º e 76º.

Uma vez que foi dado cumprimento ao disposto no artigo 685º-B nºs 1 e 2 do Código de Processo Civil, nada obsta a que este Tribunal da Relação reaprecie a prova efectuada e o juízo sobre ela feito pelo tribunal a quo.

(…)

Posto isto, reapreciada a (longuíssima!) prova realizada, é tempo de nos debruçarmos sobre as consequências jurídicas, no âmbito da presente apelação.

(19)

No tocante à remuneração da Autora, a questão da participação nos

resultados não pode diferir da perspectiva jurídica da sentença recorrida. É que os acordos corporizados nos documentos de fls. 314 e 315 foram

expressamente concebidos para vigorar por um período determinado. O documento de fls. 314, manuscrito, refere que “fica acordada uma

participação nos resultados do Grupo de 3 % (anual) até 2000 (Ano)”. O

documento de fls. 315 está encima pelos dizeres: “Contrato de Remunerações 2001-2005 (5 Anos)”.

Estes são os acordos em que além da assinatura do Sr. SC figuram as

assinaturas da sua mulher e dos filhos (além da Autora). No acordo de fls. 314 diz-se mesmo, “acordo de remuneração entre Isaltina Gomes e Sr. SC”. A partir de 2005 não consta qualquer acordo escrito, nem foi feita prova de que a aludida participação nos resultados haja sido decidida em qualqer

Assembleia de Accionistas.

Mesmo que se considerasse, como pretende a Autora, que os referidos documentos deverão ser equipados a uma acta – o que, salvo o devido respeito, nos parece bastante duvidoso – o certo é que as verbas agora

peticionadas reportam-se a um período muito posterior a 2005, altura em que não deparamos com qualquer deliberação de accionistas ou acta, sejam de que tipo forem.

Ora, o art. 399º nº 1 do CSC estabelece que “Compete à assembleia geral de accionistas ou a uma comissão por aquela nomeada fixar as remunerações de cada um dos administradores, tendo em conta as funções desempenhadas e a situação económica da sociedade”.

E no nº 2 pode ler-se:

“A remuneração pode ser certa ou consistir parcialmente numa percentagem dos lucros de exercício, mas a percentagem máxima destinada aos

administradores deve ser autorizada por cláusula do contrato de sociedade”.

Nos documentos de fls. 314 e 315 nem sequer se refere em relação a qual ou quais das sociedades é fixada a remuneração da Autora enquanto sua

administradora. No documento de fls. 314 tudo se resume a um acordo entre a Autora e o Sr. SC. No de fls. 315 o acordo parece ser entre a Autora e o Grupo SC. Mas nunca se nos depara uma acta, resultante de assembleia de

accionistas de uma das sociedades, seja a SC Imobiliária S.A. seja a SC

(20)

Projectos e Serviços S.A. ou outra, em que tal assembleia de accionistas dessa sociedade delibere a remuneração da Autora.

No fundo tudo se resume a uma decisão pessoal do Sr. SC. De resto, ouvida a prova, ficou exuberantemente evidenciado que o Sr. SC é que tomava todas as decisões em qualquer matéria relevante para qualquer uma das empresas.

Isto vê-se pelas actas juntas aos autos.

Na acta de fls. 220 e 221, “Assembleia Geral da Sociedade Anónima SC Imobiliária SA” para eleição dos órgãos sociais para o triénio 2007/2009, foi deliberado que “o exercício das funções dos Órgãos Sociais seja dispensado de caução e não remunerado, com excepção do revisor oficial de contas”. A

Autora, nessa Assembleia foi eleita para tais órgãos sociais.

O mesmo relativamente à acta da Assembleia para nomeação dos órgãos

sociais para o triénio 2009/2010/2011 da Ré SC – Projectos e Serviços SA (fls.

222/224) e da Ré P (fls. 225 e 226), onde a Autora foi igualmente nomeada para os órgãos sociais.

A questão, note-se, não está em saber se a Autora recebia tal participação nos resultados. O problema é o de apurar se tal resultou de deliberação de

assembleia de accionistas de cada uma das sociedades – o que é evidente que não sucedeu – ou, ao invés, de uma decisão do Sr. SC. Estando provado que a remuneração da Autora passou a ser paga, a título de directora, desde 2008, pela Ré SC Imobiliária SA e que, por outro lado a participação nos resultados era contrapartida do exercício dos cargos de administradora, é inevitável concluir, até pela acta citada de fls. 220/221, a referida inexistência de deliberação da assembleia de accionistas no sentido de conferir à Autora tal participação nos resultados.

Sendo assim, concordamos com o Mº juiz a quo quando considera que o acordo relativo à participação nos resultados, firmado entre o Sr. SC e a Autora não é oponível a nenhuma das sociedades Rés, na medida em que as respectivas assembleias de accionistas não deliberaram tal remuneração e, pelo contrário, estabeleceram o princípio da não remuneração dos titulares dos órgãos sociais.

Sublinhe-se por fim que uma coisa é a remuneração da Autora como Directora, num âmbito laboral, e outra a participação nos resultados como contrapartida do desempenho das funções de administradora.

Quanto à justa causa da destituição da Autora.

(21)

A destituição de administrador está prevista no art. 403º do CSC. No nº 4 deste preceito estabelece-se que “constituem, designadamente, justa causa de destituição a violação grave dos deveres do administrador e a sua inaptidão para o exercício normal das respectivas funções”.

Entre os deveres dos administradores devem mencionar-se prioritariamente os deveres de cuidado e diligência, que se revelam no desempenho criterioso e competente das suas funções, bem como o dever de lealdade, no interesse da sociedade, dos sócios e dos trabalhadores (art. 64º do CSC).

A violação de tais deveres a ponto tal que comprometa irremediavelmente a relação de confiança que sempre terá de existir no desempenho de tais funções, será assim causa justificada de destituição.

Ora, ficou provado que durante os oito meses de baixa a Autora recebeu a totalidade do seu vencimento pelas Rés – quando essa prática se circunscreve apenas aos primeiros três meses – além do subsídio da Segurança Social equivalente a 65% do ordenado. A Autora, não só pelas funções que

desempenhava, mas também pelos muito anos em que esteve ao serviço das mesmas, não ignorava as regras inerentes à prática seguida pelas Rés e por todo o Grupo em geral. Estamos perante uma verba relativamente avultada, se tivermos em atenção que, quando confrontada pelo Sr. SC a respeito desta situação, a Autora devolveu à SC Imobiliária um total de € 15.741,24.

Como se refere na sentença recorrida, “a conduta em causa, além de implicar uma fraude ao regime da segurança social, demonstra que a Autora colocou o seu interesse de locupletar-se, o seu próprio benefício, à frente do interesse da sociedade, qual seja o de não arcar com vencimentos indevidos e despesas injustificadas”.

Há que ter em consideração a importância crucial das funções que a Autora vinha desempenhando no Grupo há largos anos e a forte relação de amizade e confiança com, nomeadamente, o Presidente do Grupo, Sr. SC. Tal torna ainda mais reprovável a conduta da Autora, o mesmo se podendo dizer no tocante à sua actuação no tocante às avenças não pagas, no montante de € 3.216,48, e de que era devedora a sociedade S(…) – Sociedade de Construções e

Manutenção Lda (pertencente a um irmão da Autora) para com a SC

Projectos e Serviços, de que a Autora era administradora. A Autora nada fez para proceder à cobrança dessa dívida tendo ainda dado instruções para que a SC Projectos e Serviços pagasse ao fisco € 279,70 por conta da S, quando esta se encontrava já em situação de débito para com a aludida Ré.

(22)

Independentemente dos valores em causa, o fundamental é constatar que a Autora não actuou na perspectiva de defender os interesses das sociedades de que era administradora mas sim interesses próprios ou de familiares, o que como é óbvio compromete irremediavelmente a relação de confiança acima referida.

O tribunal a quo não levou em consideração os demais factos imputados à Autora pelas Rés, enquanto fundamento para a destituição.

Devemos dizer que nos suscita algumas dúvidas a situação respeitante à sociedade Toscano e Lemos, de que o filho da Autora era accionista maioritário (95%).

Relembre-se que, numa altura em que essa sociedade apresentava rendas e caução em atraso, devidas à SC Imobiliária, a Autora apresentou, na qualidade de gerente da T&L uma proposta de dação, mediante a entrega de diversos equipamentos dessa firma, para pagamento das rendas e caução em dívida.

Depois, a Autora, agora na qualidade de administradora da SC Imobiliária, declarou aceitar tal dação.

Sendo que os referidos equipamentos continuaram na loja e na disponibilidade da Toscano e Lemos.

O facto de se ter provado que a Autora e a SC Imobiliária sabiam que a T&L tinha dívidas para com diversas entidades e que estavam iminentes penhoras sobre o seu património, bem como o facto de a dação ter como finalidade conservar os equipamentos da acção dos credores da T&L, não nos parece muito convincente.

Isto porque é muito difícil distinguir, no caso, o que era conhecimento da Autora e o que era conhecimento da SC Imobiliária, a partir do momento em que a Autora interveio no negócio ora como gerente da T&L ora como

administradora da SC Imobiliária. E quando se dá como provado que a

finalidade da dação era subtrair os equipamentos da T&L da acção dos outros credores, ficamos sem saber se isso era feito em proveito da Ré Imobiliária ou, como parece mais evidente, da empresa do filho da Autora.

Os equipamentos objecto da dação continuaram na posse da T&L, pelo que não se compreende qual a vantagem obtida pela SC Imobiliária.

(23)

E isso ainda se torna menos compreensível, quando se provou que a Autora, instada pelo Sr. SC, pagou à Ré as quantias relativas às rendas e caução em atraso (não nos estamos aqui a referir às dívidas da T&L atinentes às avenças da SC Projectos e Serviços, que constituem uma situação inteiramente

diferente).

A sensação com que ficamos, até pela dupla actuação da Autora, nas duas posições contratuais, é a de que o objectivo do negócio foi defender os interesses da sociedade do seu filho e não os da Ré. Caso contrário os equipamentos teriam sido levados para as empresas do grupo ou vendidos, para realizar o dinheiro equivalente às rendas em dívida.

Seja como for, a demais factualidade levada em conta na sentença recorrida, constitui fundamento para a destituição com justa causa da Autora.

Conclui-se assim que:

Alegando a Ré, em sede de contestação, que a Autora recebia determinadas quantias por esta alegadas mas negando que as mesmas resultem de um acordo relativo à participação nos resultados na empresa, sendo antes um prémio de desempenho que podia ou não ser atribuído pela mesma, consoante as circunstâncias, estamos perante uma defensa por impugnação indirecta e não por excepção, uma vez que, para lá da negação de existência de um acordo, a Ré se limita a dar uma qualificação e natureza jurídica diversas a pagamentos invocados pela Autora.

Sendo prática da empresa, durante os primeiros três meses de baixa,

assegurar ao trabalhador a totalidade do vencimento, pagando o acréscimo de 35% relativamente ao subsídio de doença de 65% a cargo da Segurança

Social, e igualmente adiantando a totalidade do vencimento até que o

trabalhador comece a receber o subsídio de doença, incorre em falta grave o administrador que recebe o subsídio da Segurança Social e não o devolve à empresa que lhe havia adiantado a totalidade do salário e que, para mais, continua a fazer-se pagar os 100% mesmo após o período de três meses de baixa.

É igualmente grave a conduta do administrador que sendo responsável pela sector financeiro e da contabilidade da empresa, não actua no sentido de serem pagas as dívidas de uma outra empresa, de que era sócio maioritário o seu irmão.

(24)

Tais condutas violam a relação de confiança que é essencial, na medida em que o administrador em causa, actuou não na defesa dos interesses da empresa que administra e dos seus accionistas, mas na defesa dos seus próprios interesses e de seus familiares.

Existindo causa justificativa de de destituição, nos termos do art. 403º nº 4 do CSC.

DECISÃO

Termos em que se julga a apelação improcedente, confirmando-se a sentença recorrida.

Por este motivo não se conhece das questões suscitadas nas contra-alegações da Ré.

Custas pela Autora.

Lisboa, 2 de Maio de 2013 António Valente

Ilídio Sacarrão Martins Teresa Prazeres Pais

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