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por Alberto Andrich
E
n t r e v i s t a
Raphael Lacoste
aphael Lacoste nasceu em Paris em 1974, onde morou até os seis anos de idade. Após ter vivido
na Argélia por dois anos, acompanhando seu pai no serviço militar, voltou para a França, mas
foi morar em Bordeaux, onde vive até hoje. Lacoste nunca gostou muito de escola; passava a maior
parte do tempo olhando pela janela e desenhando. A verdade é que não se considerava um garoto feliz,
exceto nos feriados, na casa da avó, onde ficava tocando piano e desenhando. Mas também gostava de
filmes de ficção científica e de animação, como "Lês Maîtres du Temps", "Gandahar" (René Laloux)
e o primeiro filme da série "Star Wars". Lacoste afirma ser uma vergonha o fato de que a animação
européia não seja tão difundida e reconhecida no resto do mundo...
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Alberto Andrich - Fale um pouco sobre a
animação européia.
Raphael Lacoste - A animação européia
é diferente, menos estereotipada que a animação americana e a japonesa; não é a mesma coisa. Estou meio cansado desses filmes que têm que ter uma música estúpida a cada dez minutos e um final feliz. Me sinto mais atraído, por exemplo, pelos desenho de Moe-bius por causa da fantasia e do ero-tismo. A animação do leste europeu é misteriosa e sombria, tudo é sugerido; há lugar para a fantasia. Apesar disso eu realmente adorei "Tarzan" e sou fã de Miyazaki.
Andrich - Como foi a sua jornada até
chegar à profissão de animador?
Lacoste - Passei cinco longos anos na
escola de artes à procura da minha identidade. Me senti atraído pela fo-tografia, pelo vídeo e pelo som. Os professores queriam extrair de mim a tal da "arte", mas não tínhamos a mesma idéia sobre o que é arte. Em função disso não ia muito à escola; trabalhei em uma companhia de teatro
como fotógrafo e artista gráfico. No ano seguinte fiz um filme 3D baseado na história de "A Máquina do Tempo", de H.G. Wells. Usei este filme para entrar para o National Center of the Comic Strip, de Angou-lême. A escola era dirigida por René Laloux, um cineasta francês de filmes de animação como "Gandahar" e "Lês Maîtres du Temps"; simplesmente os filmes que mais influenciaram meu trabalho. Recentemente fiz um outro filme, chamado "Nîumb", que foi sele-cionado para o Imagina 2000 e para a Siggraph 2000.
Andrich - Você disse que a sua
concep-ção de arte era diferente da de seus professores. Qual é a sua idéia de arte?
Lacoste - Não quero reinventar a pintura
ou a fotografia. Não podemos desa-propriar o que foi inventado há séculos. A arte não é sinônimo de recriação ou de originalidade absoluta. Também não penso que um tipo de arte é mais impor-tante que outro historicamente ou geo-graficamente. Tenho minhas dificulda-des com a arte comtemporânea.
Andrich - O que você faz atualmente? Lacoste - Trabalho numa produtora
de games fazendo backgrounds para RPGs. É uma boa formação criar texturas contextuais e modelos otimizados.
Andrich - Com que recursos gráficos
você começou?
Lacoste - Há quatro anos iniciei-me no
Inshape (Atari), depois prossegui com o RendeRay, 3D Studio R4, MAX e, há um ano, o Softimage|3D.
Andrich - Por que o Softimage?
Lacoste - O Softimage é um software
realmente profissional com ferramentas de iluminação muito boas e um rende-rizador excelente. Também é um soft-ware muito usado nas animações co-merciais e em efeitos. Me impressionou muito; parecia que tudo era possível de ser feito com ele.
Andrich - Você poderia explicar melhor o
que faz no seu trabalho?
Lacoste - Atualmente trabalho com
backgrounds para um RPG inspirado na arte decorativa da Arábia. A base das
Entrevista: Raphael Lacoste
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paisagens é formada por grids de alta definição nos quais aplicamos texturas imensas. Graças ao seu tamanho e à não-repetição podemos adicionar todo o detalhamento diretamente.
Andrich - Quais foram as suas primeiras
experiências práticas?
Lacoste - Trabalhei num show de "O
Pequeno Príncipe" (Saint Exupéry); fiz backgrounds 3D e relevos que eram projetados num imenso telão atrás do palco. Foi minha primeira experiência
prática com a computação gráfica e senti imediatamente que aquilo era o que queria. As imagens eram muito simples, bem no estilo do Pequeno Prín-cipe. Foi um trabalho fascinante para uma história altamente poética.
Andrich - Você acha que o uso
indis-criminado de efeitos gráficos está con-tribuindo para uma maior exposição de histórias fantásticas em detrimento das mais poéticas? Como você analisa o material que está no mercado atual?
Lacoste - Efetivamente, a massificação
dos efeitos especiais é muito perigosa para uma história, apesar de servir muito bem ao visual. Os produtores temem que as pessoas se cansem. Acho que há uma estimativa errônea a respeito do que podemos apreciar. Ainda há muito o que melhorar na computação gráfica; com boas histórias, como "Contato", por exemplo, espero que em breve con-sigamos ficar livres do aspecto "demo" da CG. Talvez devamos considerar que a CG é ainda uma tecnologia muito nova.
Entrevista: Raphael Lacoste
Copyright (c) Raphaël Lacoste 1998-2000
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Andrich - Você prefere animar ou modelar? Lacoste - Gosto particularmente de
iluminação e texturização. Animação não é trabalho para mim. Gosto muito de paisagens e de arquitetura. Não me interesso muito por modelagem; acho que uma bela imagem nem sempre pre-cisa de um modelo extraordinário. O tra-balho deve ser mais focado em luz, texturas, atmosfera e cenografia.
Andrich - Como você lida com algo que
não gosta mas faz parte de seu
traba-lho? Há alguém modelando e animando para você ou dá para ir levando sozinho.
Lacoste - Não creio que todos os
artis-tas gráficos possam dizer que fazem somente o que gostam todos os dias. A melhor solução é dar sempre o me-lhor de si e esperar que isso seja, de alguma forma, reconhecido e que uma oportunidade de se fazer o que gosta virá. Tenho que modelar todos os dias, mas se pudesse fazer somente aquilo que gosto não seria um traba-lho, mas um hobbie.
Andrich - Você usa PCs ou SGIs? Lacoste - Uso um Pentium III de 600MHz
com 384Mb de memória com o 3DS MAX 3.1. Não gosto muito desta fer-ramenta que, na minha opinião, não é muito profissional. Adoraria usar o XSI.
Andrich - Que razões o levam a crer que o
MAX não é uma ferramenta profissional?
Lacoste - No MAX há muitas maneiras
diferentes do se fazer a mesma coisa e os plug-ins são incompatíveis de uma versão para outra. Sinto falta de uma
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boa vista esquemática como a do Soft-image, curvas de animação bezier com mais recursos, divisão no centro das bor-das, um sistema de banco de dados, lu-zes de área, um bom renderizador... O MAX me parece muito frágil; trava muito, mas é muito bom para começar na animação 3D.
Contate Raphael Lacoste através de seu e-mail: raflacoste@kalisto.com
Alberto Andrich é co-editor da Digital Designer andrich@digitaldesigner.com.br
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