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Parasitas gastrointestinais em gatos

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Academic year: 2021

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Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Parasitas gastrointestinais em gatos

Maria Teresa do Amaral Alves

Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Orientador:

Prof. Doutor Luís Cardoso

Coorientador:

Prof. Doutor Luís Lima Lobo

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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Resumo

Este trabalho surgiu com o objetivo de calcular a prevalência de parasitoses intestinais em gatos, tendo também em conta que muitas das espécies de parasitas que parasitam o aparelho gastrointestinal dos felinos podem ser transmitidas aos humanos, levando a problemas de saúde pública (zoonoses). Estas parasitoses podem assumir proporções muito importantes, dado que nos animais são infeções essencialmente subclínicas (61,5% neste trabalho). Consequentemente, os animais infetados estão a eliminar formas parasitárias nas fezes, que são fonte de contaminação para o ambiente, para outros animais e para os humanos, sem que muitas vezes tal seja percebido.

Para a realização deste trabalho, foram utilizados os registos informáticos do Hospital Veterinário do Porto relativos aos gatos que realizaram análise fecal, ou seja, que por qualquer motivo foram considerados grupos de risco pelo médico veterinário e cujos proprietários aceitaram a realização do exame.

Foram detetados os seguintes parasitas: Cystoisospora spp. (7,2%), Toxocara cati (4,1%), e com uma prevalência individual de 1,0% Dipylidium caninum, Trichuris vulpis e

Giardia spp.

Infeções por estes géneros/espécies de parasitas foram, dentro do grupo de animais parasitados, mais frequentes em jovens, com idade igual ou inferior a 1 ano, animais com peso menor ou igual a 2 kg, em fêmeas castradas e machos inteiros, animais com acesso ao exterior, animais aparentemente saudáveis em comparação com animais que apresentavam manifestações clínicas. Prevalências elevadas foram detetadas também em animais não desparasitados ou desparasitados apenas internamente.

Os parasitas intestinais são agentes infeciosos frequentes nos felinos e passíveis de serem transmitidos aos humanos, sendo por isso necessário um diagnóstico exato e a aplicação de medidas de controlo, de modo a evitar doenças nos gatos e problemas de saúde pública.

Palavras-chave: gatos; parasitoses intestinais; infeção; subclínicas; saúde pública; zoonoses;

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Abstract

The aim of this paperwork was to make an estimate of the presence of intestinal parasitic diseases in cats, taking also in account that many species of parasites, which infect the gastrointestinal tract in felines, may be transmitted to the human kind, leading to public health issues (zoonosis). These parasitic diseases become even more proportionally important, because in animals these infections are essentially subclinical (61,5% in this paperwork) though they are eliminating parasitic forms in their feces that are a source of contamination to the environment, other animals and human beings, being frequently unnoticed.

In order to write this paper, preexistent informatic records of Oporto’s veterinary hospital were used, related to all cats which were submitted to fecal analysis, that is, those which for some reason were considered risk groups by their vets and whose owners accepted the exam.

The following parasites were detected: Cystoisospora spp. (7,2%), Toxocara cati (4,1%), and with the individual prevalence of 1,0% Dipylidium caninum, Trichuris vulpis e

Giardia spp.

Infections caused by these genus/species of parasites were, within the infected group of animals, more frequent in the young, aged one year or younger, with a weight of 2 kg or lower, in neutered females and whole males, outdoor and apparently healthy animals in comparison to the sick ones. Higher prevalences were also detected in animals that had not been treated with anthelmintics or that had been treated only internally.

Intestinal parasites are infectious agents common in felines, which may be transmitted to humans, being therefore necessary an accurate diagnosis and the use of control measures, in order to avoid cat diseases and public health issues.

Keywords: cats; intestinal parasitic diseases; infection; subclinical; public health; zoonosis;

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Índice geral

Resumo 2 Abstract 3 Índice geral 4 Índice de figuras 8 Índice de tabelas 9 Lista de abreviaturas 10 Agradecimentos 11 1.Nota Introdutória 12 2.Revisão Bibliográfica 13

2.1. O crescimento da população e da medicina felina 13

2.2. O gato como reservatório de agentes patogénicos transmissíveis aos seres humanos 16

2.2.1. Infeções bacterianas 17

2.2.1.1. Doença da arranhadura do gato (bartonelose) 17

2.2.1.2. Salmonelose 18

2.2.2. Infeções parasitárias 19

2.2.2.1. Ectoparasitas 19

2.2.2.1.1. Pulicose 19

2.2.2.2. Nematodes 20

2.2.2.2.1. Larva migrans visceral 20

2.2.2.3. Protozoários 20

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5 2.2.2.3.2. Giardiose 22 2.2.2.3.3. Toxoplasmose 22 2.2.3. Infeções fúngicas 23 2.2.3.1. Dermatofitose 23 2.2.4. Infeções víricas 24 2.2.4.1. Raiva 24

2.3. Parasitoses gastrointestinais dos gatos 25

2.3.1. Giardia spp. 25

2.3.1.1. Etiologia 25

2.3.1.2. Ciclo de vida 26

2.3.1.3. Patogenia 27

2.3.1.4. Sinais clínicos 27

2.3.1.5. Prevalência e potencial zoonótico 28

2.3.2. Cystoisospora spp. 30

2.3.2.1. Etiologia 30

2.3.2.2. Ciclo de vida 30

2.3.2.3. Patogenia 31

2.3.2.4. Sinais clínicos 31

2.3.2.5. Prevalência e potencial zoonótico 31

2.3.3. Dipylidium caninum 34

2.3.3.1. Etiologia 34

2.3.3.2. Ciclo de vida 34

2.3.3.3. Patogenia 34

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6

2.3.3.5. Prevalência e potencial zoonótico 35

2.3.4. Toxocara cati 37

2.3.4.1. Etiologia 37

2.3.4.2. Ciclo de vida 37

2.3.4.3. Patogenia 38

2.3.4.4. Sinais clínicos 38

2.3.4.5. Prevalência e potencial zoonótico 38

2.3.5. Trichuris vulpis 40

2.3.5.1. Etiologia 40

2.3.5.2. Ciclo de vida 40

2.3.5.3. Patogenia 40

2.3.5.4. Sinais clínicos 40

2.3.5.5. Prevalência e potencial zoonótico 40

2.4. Maneio clínico das parasitoses gastrointestinais do gato 42

2.4.1. Diagnóstico 42 2.4.2. Terapêutica e Controlo 43 2.4.2.1. Cystoisospora spp. 43 2.4.2.2. Giardia spp. 43 2.4.2.3. Dipylidium caninum 44 2.4.2.4. Toxocara cati 44 2.4.2.5. Trichuris vulpis 44 3.Materiais e Métodos 45

3.1. Metodologia para recolha e organização de dados 45

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7

4.Resultados 46

4.1. Gatos cuja análise fecal foi feita 47

4.1.1. Idade 47 4.1.2. Peso 48 4.1.3. Raça 49 4.1.4. Sexo 49 4.1.5. Castração 50 4.1.6. Habitat 51 4.1.7. Alojamento 51

4.1.8. Sinais clínicos e desparasitação 52

4.1.9. Características e número de amostras 53

4.1.10. Zoonoses 54

4.1.11. Tipo de parasitas e coinfecções 55

4.2. Gatos cuja análise fecal não foi feita 56

4.2.1. Motivos para a requisição de análise fecal 56

4.2.2. Sinais clínicos 57

4.2.3. Desparasitação 58

4.3. Análise por espécie de parasita 59

4.3.1. Cystoisospora spp. e Giardia spp. +Cystoisospora spp. 59

4.3.2. Toxocara cati 60

4.3.3. Dipylidium caninum e Trichurs vulpis 61

5.Discussão 62

6.Conclusão 69

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8

Índice de figuras

Figura 1 – Ciclo de vida de Giardia spp. 27

Figura 2 – Prevalência de Cystoisospora spp. com a idade em cães e gatos 32

Figura 3 – Prevalência da infeção por T. cati em vários paísesda Europa 39

Figura 4 – Percentagem dos animais parasitados 47

Figura 5 – Percentagem dos animais parasitados por idade 48

Figura 6 – Número de gatos por raça 49

Figura 7 – Percentagem de animais parasitados por tipo de alojamento 52

Figura 8 – Aspeto da amostra das coprologias positivas 54

Figura 9 – Motivos para a requisição da análise fecal 56

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9

Índice de tabelas

Tabela 1 – “Assemblages” de Giardia 26

Tabela 2 – Prevalência de parasitas nas amostras fecais 36

Tabela 3 – Percentagem de animais que realizaram a análise fecal 46

Tabela 4 – Percentagem dos animais parasitados 47

Tabela 5 – Idade dos animais 47

Tabela 6 – Distribuição dos parasitas por categoria de peso 49

Tabela 7 – Percentagem de animais parasitados por sexo 50

Tabela 8 – Percentagem dos animais castrados parasitados 50

Tabela 9 - Número de animais parasitados por habitat 51

Tabela 10 – Percentagem de animais dos diferentes tipos de alojamento 51

Tabela 11 – Percentagem dos animais parasitados que apresentam sinais clínicos 53

Tabela 12 – Estatuto de desparasitação dos animais parasitados 53

Tabela 13 – Número de amostras enviadas para o laboratório das coprologias positivas 54

Tabela 14 – Percentagem de cada espécie de parasita 55

Tabela 15 – Motivos para a requisição da análise fecal 56

Tabela 16 – Sinais clínicos apresentados pelos animais 57

Tabela 17 – Percentagem de desparasitação dos gatos em estudo 58

Tabela 18 – Características dos animais infetados por Cystoisospora spp. 59

Tabela 19 - Características dos animais infetados por Toxocara cati 60

Tabela 20 - Características do animal infetado por Dipylidium caninum 61

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Lista de abreviaturas

CAPC “Companion animal parasite council” (Grupo de aconselhamento sobre parasitas de

animais de companhia)

CDC “Center for disease control and prevention” (Centros de controle e prevenção de

doenças)

ELISA “Enzyme-linked immunosorbent assay” (ensaio imuno-enzimático) HVP Hospital Veterinário do Porto

IFA “Immunofluorescence assay” (imunofluorescência indireta) NK Células natural killer

PCR “Polymerase chain reaction” (reação em cadeia da polimerase) WHO “World health organization” (Organização mundial de saúde)

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Agradecimentos

Um obrigado à minha mãe, Isabel, e aos meus irmãos, Joana e Rui, por todo o apoio que me deram durante o curso e toda a vida, de modo a que eu atingisse o sonho de me tornar médica veterinária. Um obrigado ao meu pai que, além dos motivos anteriormente referidos, foi uma grande ajuda na elaboração da dissertação, pelos seus conhecimentos e conselhos.

Agradeço também ao meu namorado, António Ferreira, pelo acompanhamento incondicional durante todas as fazes da realização deste trabalho. Pela motivação, pelo otimismo e paciência em ouvir todos os dias, todos os pormenores de cada capítulo escrito.

Um obrigado meu orientador, Prof. Doutor Luís Cardoso, por toda a disponibilidade e ajuda, por nunca demorar a tirar-me qualquer dúvida e por toda a liberdade que me deu na elaboração desta dissertação.

Agradeço também ao Prof. Doutor Luís Lobo, meu coorientador, e a toda a equipa do Hospital Veterinário do Porto, pela ajuda disponibilizada, não só na realização da dissertação, mas também na transmissão de conhecimento durante a realização do meu estágio de 6 meses, que me serão bastante úteis durante toda a vida.

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1. Nota introdutória

Este trabalho foi desenvolvido em simultâneo com o estágio de 6 meses (de 1 de Agosto de 2015 a 31 de Janeiro de 2016) realizado no Hospital Veterinário do Porto (HVP). Com a colaboração de toda a equipa, e através dos registos informáticos do Hospital, foi possível a recolha de dados de todos os gatos que, no período de 1 de Janeiro de 2010 a 15 de Setembro de 2015, foram avaliados por análise fecal.

A equipa do HVP é constituída por um corpo clínico de médicos veterinários, enfermeiras e auxiliares veterinárias. No grupo dos médicos veterinários constam o Prof. Dr. Luís Lobo, diretor clínico e especializado em cardiologia veterinária, a Dra. Odete Vaz com interesse na área de oftalmologia, o Dr. Nuno Proença com ortopedia e neurologia como áreas de principal interesse, o Dr. Amândio Dourado responsável pela anestesiologia e imagiologia, e a Dra. Tatiana Lima, com especial interesse em dermatologia. O corpo clínico incluía ainda um conjunto de médicos veterinários recém-formados a realizarem estágio profissional com duração de um ano.

Durante o estágio tive a oportunidade de seguir um sistema rotativo de serviços entre o internamento, cirurgia e consultas de modo a aprender e ver o máximo possível de casos durante os 6 meses que durou o estágio, conhecer e adaptar-me à realidade do que é trabalhar num hospital veterinário. Estas atividades foram desenvolvidas segundo a rotina típica hospitalar, incluindo a realização de turnos da noite e fins-de-semana. Nos tempos livres foi feita a análise de processos e recolha de dados para a realização deste trabalho.

Com os dados recolhidos a partir dos registos do Hospital foi possível realizar esta dissertação que tinha como objetivo inicial o cálculo da prevalência de parasitas intestinais em gatos aparentemente saudáveis, tema este que, tanto quanto foi possível verificar, se crê nunca ter sido estudado em Portugal. Este tema é de especial importância, por várias razões, incluindo o potencial zoonótico de alguns destes parasitas, (sendo o gato uma possível fonte de infeção para os humanos), e também pelo facto de o número de exemplares desta espécie como animal doméstico estar a aumentar em Portugal, à imagem do que acontece em muitos outros países.

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13 A ideia deste tema surgiu por ter sido feito o mesmo trabalho em cães, com excelentes resultados. Nesse trabalho, realizado pelo Dr. Diogo Neves (Neves, 2014), verificou-se que 21% dos animais com parasitas gastrointestinais eram clinicamente sãos. Sendo assim, surgiu a dúvida se existiriam resultados semelhantes em gatos e o interesse de realizar este trabalho.

2. Revisão Bibliográfica

2.1. O crescimento da população e da medicina felina

Nos últimos anos tem-se verificado que o número de pessoas que possuem gatos como animais de estimação tem aumentado, em vários países europeus. Como tal, este facto traduz-se num aumento do rácio gato/cão como animais domésticos. Pensa-traduz-se que as razões para este aumento estejam relacionadas com alterações no estilo de vida das pessoas: o alto valor das rendas das casas, a existência de mais pessoas que vivem sozinhas em casas de menores dimensões, favorecendo a preferência por animais domésticos menores; além destas razões, o aumento do interesse dos proprietários e a melhoria dos cuidados veterinários tem vindo a aumentar a esperança média de vida dos gatos, fazendo com que esta se situe em valores entre os doze e os quinze anos, com uma tendência para aumentar.

O gato está cada vez mais a adquirir um maior valor como membro das famílias, sendo que no Reino Unido, em 2007, já existiam cerca de 6 milhões de gatos nas propriedades, o que corresponde a 18% da totalidade das habitações (Sparks, 2007). Num estudo conduzido no Reino Unido, baseado no censo humano de 2011, concluiu-se que nesse mesmo ano 23% das propriedades possuíam um ou mais gatos enquanto que 30% possuíam um ou mais cães (Murray et al., 2015), deixando claro o aumento da importância dos gatos como animais domésticos.

Downes et al. (2008), a partir de um questionário telefónico feito a 1250 casas na Irlanda, demonstraram que este país tem maior percentagem de casas com cães (35,6%) do que com gatos (10,4%), mas que a diferença é muito maior do que a encontrada em outros países como os Estados Unidos, Reino Unido e Itália. Esta maior diferença pode dever-se ao facto de neste país haver grandes áreas rurais, nas quais os cães são vistos como animais de trabalho, para além de animais de companhia. De acordo com estes autores, o caso particular da Irlanda é ainda mais diferente dos restantes países se se tomar em atenção o facto de que a existência de gatos alimentados e com acesso às habitações se prende mais com o aparecimento destes nas

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14 propriedades, do que por escolha ativa por parte dos “proprietários adotivos” destes gatos de rua.

Noutro estudo sobre a população de gatos na cidade australiana de Sydney, (Toribio et al., 2009), realizado através de um questionário feito a 884 habitações, chegou-se à conclusão que 33,4% possuíam cães e 22,5% gatos, sendo que em 7,8% havia tanto cães como gatos. Os peixes e pássaros eram os animais domésticos mais populares. Nas casas que possuíam gatos, a média de idades destes animais era de 7,1 anos (com um espectro dos 3 meses aos 22 anos), havia mais fêmeas (55%) do que machos (45%), e apenas 2.7% eram inteiros. Gatos sem raça definida estavam em número superior, numa proporção de 3,3:1, sendo que as raças mais frequentes eram o Burmês e o Persa. A maioria dos gatos viviam tanto no interior como no exterior (72.6%), apenas 19,7% habitavam estritamente no interior e estes últimos eram, na sua maioria, gatos de raças definidas. Cerca de 38% eram alimentados com ração seca em combinação com comida de lata e, quanto às visitas ao veterinário, 90% tinham sido vacinados pelo menos uma vez e apenas 5,8% dos gatos nunca tinham ido ao veterinário.

Já por muitas vezes foi estudada a relação entre a domesticação de animais e a saúde física e psicológica dos humanos, apesar desta relação ser mais evidente no caso dos cães do que nos gatos (Westgarth et al., 2010). Associam-se estes animais a um melhor desenvolvimento das crianças e bem-estar dos idosos, apesar de poderem ser um importante reservatório de infeções zoonóticas, para as quais os grupos de risco são: crianças, idosos, grávidas e indivíduos imunodeprimidos.

Noutro estudo conduzido no Reino Unido no ano de 2007 (Murray et al., 2010), através de um questionário envolvendo 2980 habitações, concluiu-se que a maioria das casas possuíam apenas um gato (58.3%), 29.2% possuíam dois gatos, 7.2% três, 2.1% quatro, 1.4% cinco e 1.6% possuíam entre seis e 12 gatos. Neste estudo foram também descritos determinados fatores relacionados com a presença/ausência de gatos nas casas, entre os quais destacaram:

 Presença de cães na casa: o que pode transmitir a preferência das pessoas por uma ou outra espécie ou refletir o medo de agressão entre as mesmas;

 Tamanho da residência: não está relacionado com a existência de gatos, ao contrário do que acontece com os cães, que normalmente estão presentes em habitações com mais espaço;

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15  Ambiente rural/urbano: gatos mais frequentemente encontrados em casas em regiões rurais ou semi-urbanas, o que poderá estar relacionado um aumento do risco de atropelamentos em áreas mais urbanas;

 Sexo/idade proprietários: mais em casas com mulheres com idade inferior a 65 anos;  Grau académico dos proprietários: gatos mais presentes em casas com pessoas com

grau académico superior, possivelmente associado a uma grande exigência de horários, incompatíveis com a existência de cães.

Outros fatores associados à domesticação de gatos foram estudados por Westgarth et al. (2010), também associados a uma comunidade semirrural no Reino Unido:

 A presença de cavalos nas habitações estava positivamente associada com a presença de gatos;

 O número de pessoas do agregado familiar também estava positivamente associado à existência de gatos;

 A presença de mulheres adultas estava associada à existência de gatos. Pelo contrário, casas apenas com adultos do sexo masculino tendiam a ter cães e não gatos;

 A probabilidade de existência de gatos aumentava se a idade dos adultos estivesse na faixa etária entre os 20 e os 59;

 Casas com pessoas com ocupação profissional e estudantes a tempo inteiro tinham maior probabilidade de possuir gatos do que casas com pessoas reformadas.

Apesar de existir a noção de que os cães são a maior fonte de rendimento para os médicos veterinários, a realidade é que em muitos países os donos começam a gastar progressivamente mais nos cuidados médicos com os gatos, numa altura em que a população canina se encontra em declínio. No Reino Unido os proprietários destes felinos já fazem visitas ao veterinário mais frequentemente do que os proprietários dos cães, com uma maior proporção a receber controlo de ectoparasitas e alimentações adaptadas à faixa-etária do que os cães (Sparks, 2007).

Uma exceção é o que ocorre no Brasil, onde o número de gatos domésticos é muito inferior aos cães domésticos, sendo que 90% das habitações questionadas num inquérito feito por Martins et al. (2012) afirmaram não ter gatos. Neste artigo, os autores referiram também que nas casas em que havia gatos, estes variavam em número de 1 a 15, sendo que a média era 1, que o tipo de bairro e a capacidade financeira não influenciava a existência ou não destes

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16 animais. No entanto estes autores demostraram ainda que a maioria dos gatos pertencia a proprietários jovens, com idades compreendidas entre os 1 e os 30 anos, o que pode demonstrar um crescendo na domesticação de gatos neste país.

Em Portugal, num total de 6,7 milhões de animais de estimação, 38% são cães, seguindo-se os gatos, com 20% (Pinto, 2015), o que demonstra uma clara preferência das pessoas pela espécie canina.

Numa tentativa de aumentar o negócio na área da medicina felina têm sido desenvolvidas as chamadas “clínicas amigas dos gatos", de modo a desenvolver esta área que tem, em muito, residido atrás da medicina canina, durante os últimos anos. Os estudos em cães continuam a ser predominantes, apesar de um crescimento exponencial no conhecimento desta espécie nos últimos 20-30 anos.

Segundo Sparks (2007), os gatos deixaram de ser considerados apenas cães pequenos e o seu metabolismo único, doenças específicas, e necessidades especiais de tratamento, tornam-se bastante reconhecidas.

Há um variado número de diferentes métodos que podem ser utilizados na estimativa do tamanho das populações de gatos e cães domésticos numa região, o que leva a estimativas variáveis (Downs et al., 2013). Examinar estas populações é muito importante para interpretar e estudar as diferentes doenças, determinar a localização geográfica destes animais, e identificar o número de animais em risco de surtos, de modo a sermos capazes de provir os melhores cuidados veterinários.

Estimar a população de gatos de rua é bastante complicado, mas devem ser feitos mais esforços nesse sentido, uma vez que estes podem contactar com os gatos domésticos, com acesso ao exterior, tendo implicação na transmissão de doenças infeciosas e na reprodução destes, e também no aumento das lutas. Nestes casos a castração é recomendada.

2.2. O gato como reservatório de agentes patogénicos transmissíveis

aos seres humanos

O gato é um importante reservatório de agentes de doenças transmissíveis ao ser humano, quer sejam bacterianas, parasitárias, fúngicas ou víricas. Neste capítulo, tentar-se-á abordar, se bem que de forma leve, alguns dos principais agentes zoonóticos transmitidos pela

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17 espécie felina, de modo a explicar a importância da prevenção do seu aparecimento, com vista a diminuir o risco para a saúde pública.

2.2.1. Infeções bacterianas

2.2.1.1. Doença da arranhadura do gato (bartonelose)

A doença de arranhadura de gato é provocada pela bactéria Bartonella henselae-Gram negativa. A forma clínica mais frequente é uma linfadenopatia associada a febre (Lafenetre et

al., 2015).

Esta bactéria pode provocar uma grande variedade de manifestações clínicas nos humanos que variam desde casos assintomáticos, até febre de origem desconhecida, linfadenopatia, distúrbios oculares (Alaan et al., 2014), encefalite e endocardite (Mazur-Melewska et al., 2015). A forma clínica mais frequente, referida no parágrafo anterior, ocorre geralmente em indivíduos imunocompetentes, ao contrário das restantes manifestações que se observam essencialmente em pessoas imunodeprimidas.

Lafenetre et al. (2015) reportaram um caso desta doença com envolvimento ósseo, numa adolescente de 13 anos, que apresentava osteomielite (manifestação clínica pouco descrita nesta doença). Noutro estudo, Gai et al. (2015) descrevem o aparecimento da infeção por esta bactéria num doente mais suscetível (imunodeprimido), por ocasião de um transplante renal, no qual ocorreu linfadenopatia de origem desconhecida.

Bartonella henselae foi encontrada numa vasta gama de hospedeiros vertebrados,

desde humanos até uma grande variedade de mamíferos como gatos e, inclusive, cães. A maioria dos casos são auto-limitantes, não necessitando de tratamento com antibióticos, resolvendo-se em 2-4 meses. Contudo, a necessidade da utilização ou não de antibióticos é controversa (Solder et al, 1995).

Os casos de infeção por esta bactéria têm aumentado ao longo dos últimos anos. O principal vetor na transmissão desta doença dos gatos para os humanos é a pulga

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18 (Ctenocephalides felis), apesar de aparecerem agora novos vetores como carraças, em particular da espécie Ixodes ricinus (Mazur-Melewska et al., 2015).

O prognóstico é bom em pacientes imunocompetentes sem disseminação sistémica do agente, ocorrendo imunidade por toda a vida após infeção pela bactéria.

2.2.1.2. Salmonelose

Salmonella é um género de bactérias da família Enterobacteriaceae, Gram negativas,

móveis, não esporuladas e anaeróbias facultativas. As manifestações clínicas variam muito de acordo com a virulência da espécie e com a resistência do hospedeiro à infeção.

A apresentação clínica mais frequente é a doença gastrointestinal aguda, havendo, no entanto, uma prevalência grande de infeções subclínicas. Aliás, segundo Marks et al. (2011), a prevalência em cães e gatos saudáveis é semelhante à existente em animais com diarreia.

Num estudo levado a cabo por Gow et al. (2009) para calcular a prevalência de microrganismos patogénicos intestinais em gatos jovens aparentemente saudáveis, através da análise de amostras de fezes colhidas de 57 destes animais, foi detetada esta bactéria apenas num gato, sendo que este nunca chegou a desenvolver sinais clínicos.

Paris et al. (2014) descrevem uma prevalência de 0,8% de salmonelas em gatos com diarreia, enquanto num estudo realizado por Sabshin et al. (2012) observou-se que, num gatil na Florida, a presença de salmonelas em gatos com fezes normais e gatos com diarreia era muito semelhante (6% e 4%, respetivamente). Paris et al. referem ainda que coinfeção com mais de dois agentes entéricos se encontrou em 62,5% dos gatos.

As espécies de Salmonella afetam um grande espectro de hospedeiros, tendo já sido isoladas em mamíferos, répteis, aves e inclusivamente em insetos.

O diagnóstico baseia-se nos sinais clínicos, fatores de risco detetados aquando da anamnese e isolamento do microrganismo por métodos laboratoriais. Um destes fatores de risco referido num estudo por Fauth et al. (2015), é a ingestão de alimentos contaminados com este microrganismo, quer sejam alimentos cárneos crus, ou dietas comerciais que não sofreram os tratamentos térmicos industriais padrão.

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19 A salmonelose é uma zoonose muito bem documentada, principalmente devido ao facto de que todas as espécies, exceto aquela que causa a febre tifóide humana, (Salmonella Typhi) infetarem igualmente humanos e animais (Marks et al., 2011).

O tratamento de casos pouco complicados compreende apenas em terapia de suporte, evitando-se o uso de antibióticos de modo a prevenir resistências. Associado à terapia de suporte, não devem ser esquecidas medidas de higiene e isolamento dos animais infetados.

2.2.2. Infeções parasitárias 2.2.2.1. Ectoparasitas 2.2.2.1.1. Pulicose

Existem vários ectoparasitas que podem afetar os gatos. No entanto, pela sua elevada prevalência e potencial zoonótico, serão aqui referidas, dentro destes, essencialmente as pulgas da espécie Ctenocephalides felis.

Principalmente devido ao crescimento da importância do gato como animal doméstico, aumentou a probabilidade do contacto do humano com ectoparasitas, incluindo as pulgas. Estas, após a sua fixação num hospedeiro, põem ovos em 24/48 horas, que se desenvolvem em pulgas adultas em apenas algumas semanas. As fêmeas, por sua vez, põem 40 a 50 ovos por dia, que se acumulam rapidamente nos locais da postura.

Carraças, pulgas e mosquitos estão globalmente distribuídos e a sua capacidade de transmitir agentes patogénicos, dota-os de elevada importância médica (Persichetti et al., 2016), sendo este talvez o principal problema associado a estes.

Infestações pelos variados ectoparasitas estão associados a desconforto e problemas dermatológicos nos animais, adquirindo maior relevância em animais jovens e debilitados, nos quais podem gerar distúrbios sistémicos, por vezes mortais, como é o caso da anemia.

Os gatos de rua, por ausência de cuidados veterinários, têm maior probabilidade de estar infestados, levando os ectoparasitas para locais públicos onde são transmitidos a animais e humanos saudáveis, essencialmente às crianças. Num estudo por Lefkaditis et al. (2015), observou-se que na Grécia, em 341 gatos de rua, 24,3% estavam infestados por C.felis. Noutro estudo, por Franc et al. (2013), verificou-se que pondo em contacto um grupo de animais com pulgas e outro sem pulgas, ao fim de 24 horas o segundo grupo apresentava 20%

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20 dos animais com pulgas e 23% 48 horas depois, demonstrado assim a transmissão por contacto de gato para gato.

Persichetti et al. (2016), num estudo em Itália, nas regiões da Calábria e da Sicília, utilizando técnicas de PCR, revelaram que 96,4% das pulgas eram positivas a pelo menos um agente patogénico (82,1% Rickettsia spp., 71,4% Bartonella spp. e 7,1% a Leishmania

infantum).

A febre escaro-nodular, endémica em Portugal e muito frequente na Europa, Ásia e África, é uma doença caracterizada por febre e prurido. Apesar de geralmente ser benigna, foram já reportados muitos casos de manifestações severas e inclusive de morte. O agente é a

Rickettsia conorii, transmitida aos humanos através da carraça do cão da espécie Rhipicephalus sanguineus. No entanto, num estudo por Segura et al. (2014), os autores

referem que existem outras espécies de Rickettsia capazes de provocar esta doença, incluindo a espécie Rickettsia felis, cujo principal vetor é pulga C. felis. Neste estudo observou-se que, das amostras de sangue colhidas de 212 gatos, no norte de Espanha, 7,5 % continham anticorpos contra esta espécie de Rickettsia.

As pulgas são por isso um importante reservatório de doenças para os humanos, passíveis de serem transmissíveis a estes por contacto com gatos, podendo as mesmas, por isso, ser combatidas com recurso a tratamentos adulticidas ou reguladores de crescimento.

2.2.2.2. Nematodes

2.2.2.2.1. Larva migrans visceral

No gato esta doença é provocada por parasitas da espécie Toxocara cati, que por ser um dos agentes que figuram no estudo, será abordado no próximo capítulo mais pormenorizadamente.

2.2.2.3. Protozoários 2.2.2.3.1. Criptosporidiose

A criptosporidiose é uma doença gastrointestinal provocada por parasitas protozoários do género Criptosporidium, que pode ir desde infeções inaparentes até episódios diarreicos. A via de transmissão é feco-oral e há poucos dados sobre a prevalência deste agente patogénico

(21)

21 nos gatos (Ito et al., 2016). Embora não se tendo dados precisos sobre a prevalência, é importante saber qual será o papel do gato na transmissão deste agente patogénico aos humanos.

Num estudo por Xu et al. (2016), calculou-se a prevalência deste parasita na cidade de Xangai na China, verificando-se que esta correspondia a 3,8% em 160 animais testados. A única espécie detetada foi Criptosporidium felis, não se tendo verificado diferenças nos animais relativamente à idade. O que se observou é que o ambiente parece ter impacto na prevalência deste parasita, sendo esta superior em abrigos do que em lojas de animais.

Já num estudo realizado por Yang et al. (2015) se tinha verificado que, na costa oeste da Austrália, a prevalência de Cryptosporidium spp. em gatos era de 9,9%, sendo que era superior em gatis (13,4%), seguindo-se nos gatos domésticos (7,1%) e, por fim, nas lojas de animais (3,4%). Este autor concluiu também que a prevalência era superior em animais com idades superiores a 6 anos e que todos eram aparentemente saudáveis.

Ito et al. (2016) realizou um estudo envolvendo 286 animais para calcular a prevalência de Cryptosporidium spp. em gatos de criação no Japão. A prevalência foi de 1,4% e todos os parasitas eram da espécie Cryptosporidium felis, concluindo então o autor que, apesar de a prevalência ser baixa, e como tal a probabilidade de transmissão aos humanos ser também baixa, o risco torna-se potencialmente considerável devido ao contacto muito próximo entre os humanos e os gatos. Estes autores verificaram que as infeções subclínicas são frequentes, demonstrando que tanto a idade como o aspeto das fezes não estavam significativamente correlacionados com a presença do parasita.

De Lucio et al. (2016) referem que as infeções por protozoários deste género estão entre as causas mais frequentes de doença gastrointestinal humana em todo o mundo. No entanto, segundo também referem, de 120 doentes em dois hospitais humanos em Espanha infetados por parasitas deste género, apenas um o estava pela espécie C. felis. Apesar de nos humanos esta infeção estar geralmente associada a pacientes imunodeprimidos, Beser et al. (2015) descrevem o caso de uma mulher de 37 anos, imunocompetente, infetada por esta espécie após a mesma doença ter sido diagnostica no seu gato uns meses antes, referindo a elevada probabilidade de este ter sido a origem da sua infeção.

É ainda importante referir que Xu et al. (2016) consideram que apesar de os cães e gatos poderem ser potenciais fontes de infeção para os humanos, a diferente distribuição das

(22)

22 espécies patogénicas e genótipos entre cães e gatos sugere que a transmissão inter-espécies é, provavelmente, rara.

2.2.2.3.2. Giardiose

No gato esta doença é provocada por parasitas do género Giardia spp., que por ser um dos agentes que figuram no estudo, será abordado no próximo capítulo mais pormenorizadamente.

2.2.2.3.3. Toxoplasmose

A toxoplasmose é uma doença provocada pelo parasita da espécie Toxoplasma gondii. Os hospedeiros definitivos são os felinos, mas o homem e outros mamíferos (hospedeiros intermediários) podem infetar-se pela ingestão dos oocistos eliminados nas fezes dos primeiros, ou pela ingestão de bradizoítos em carne mal passada, entre outras possibilidades.

A toxoplasmose geralmente é assintomática, podendo causar doença ocular numa pequena percentagem de pessoas infetadas, ou manifestar-se de forma severa em doentes infetados congenitamente ou imunodeprimidos (Meireles et al., 2015).

Must et al. (2015) referem que na Estónia, ao contrário do que se verifica em muitos países, a prevalência deste parasita não tem diminuído e, como tal, decidiram estudar os fatores de risco, associados a esta patologia, relacionados com os gatos, importantes reservatórios. Concluíram então que a seroprevalência de T. gondii nos gatos da Estónia era de 60,8%, estando esta associada a: aumento da idade, acesso ao exterior, caça, vida em ambiente rural e não ter raça definida, podendo esta ser diminuída com a restrição do acesso dos gatos ao exterior.

Já no noroeste da China, num estudo por Cong et al. (2016), verificou-se que havia uma seroprevalência de 19,34% de gatos com T. gondii, sendo que, como também referido no estudo anterior, esta era superior em gatos mais velhos do que juvenis e em gatos de rua.

Saevik et al. (2015) estudaram os fatores de risco associados à prevalência deste parasita em 478 gatos na Noruega e encontraram 196 seropositivos. Os autores concluíram

(23)

23 que a prevalência era superior em: gatos sem raça definida comparativamente com gatos de raça (assim como o referido por Must et al. 2015), em machos e, como já se referiu anteriormente, também aumentava com a idade. A seroprevalência também era superior em determinadas regiões, levando a crer que a contaminação ambiental é um fator de risco muito relevante.

Pode então concluir-se que a toxoplasmose é ainda um problema sério em alguns países e, como tal, torna-se necessário ser mais rigoroso nas medidas de prevenção associadas à higiene e tratamento dos alimentos para consumo humano. Além disso, uma deteção precoce de gatos infetados com T. gondii é essencial para avaliar ambientes contaminados e o risco para a saúde pública (Yin et al., 2015).

2.2.3. Infeções fúngicas 2.2.3.1. Dermatofitose

A dermatofitose é uma infeção fúngica, comumente denominada de tinha que, no gato, é provocada pelas espécies de fungos: Microsporum canis, Tricophyton mentagrophytes e, por fim, Microsporum gypseum. Excetuando a espécie M. canis, casos de múltiplos animais afetados são raros (Moriello, 2014).

O dermatófito mais comum é M. canis, correspondendo, dentro das infeções fúngicas no Brasil, a 100% nos gatos, 92,6% nos cães e 57% nas crianças (Da Costa et al.,2013).

Nesta doença são afetadas as camadas superficiais da pele uma vez que estes agentes se alimentam de queratina e é mais comum em animais jovens e imunodeprimidos. É a doença de pele mais comum nos gatos, sendo altamente contagiosa, mas não fatal.

Moriello et al. (2014) descrevem os fatores de risco para esta infeção fúngica como sendo: a idade (mais comum nos mais jovens e geriátricos), má condição corporal, doença debilitante, stress, fatores que limitem o “grooming” (mecanismo de defesa contra infeções), e fatores que promovam microtraumas (mordeduras/arranhadelas, ectoparasitas, etc.).

Num estudo por Proverbio et al. (2014) pretendeu-se calcular a prevalência de dermatofitose em gatos de rua em zonas urbanas e rurais de Milão, Itália. De 273 amostras de pêlo verificou-se uma prevalência de 5,5%, sendo que 86,7% correspondiam a M. canis, e 13,3% a T. mentagraphytes. Sexo, idade, comprimento do pelo, estação do ano e localização

(24)

24 geográfica não revelaram estar significativamente correlacionados com a presença de infeção fúngica por estes agentes.

Os casos de dermatofitose provocados por M. gypseum (agente que habita nos solos) são raros e estão sempre associados a contacto de animais e humanos com o solo. Nardoni et

al. (2013) realizaram um estudo de modo a calcular a prevalência deste agente nos casos de

dermatofitose em Itália. Concluíram que dentro de amostras de cães e gatos com doenças de pele, 10,2% apresentavam dermatofitose e apenas 11,5% estavam associadas a M. gypseum, sendo que todos estes estavam associados a animais com acesso ao exterior e idades superiores a 1 ano de idade. Nos gatos a prevalência deste agente seria de 0,7% de todos os gatos testados com doença de pele testados.

Existem vários casos de infeções inaparentes, explicados por diferente virulência das estirpes e diferente resposta imune dos animais afetados (da Costa et al., 2013).

2.2.4. Infeções víricas 2.2.4.1. Raiva

Geralmente as infeções víricas são espécie-específicas sendo, como tal, improvável a transmissão inter-espécies. Consequentemente a transmissão deste tipo de doenças do gato para o humano é em geral pouco preocupante.

Uma exceção é o caso da raiva, que já foi uma epidemia com elevada importância, mas neste momento se encontra erradicada na grande maioria dos países. No entanto, em países com baixo desenvolvimento é fatal para 40.000-70.000 pessoas por ano (Davis et al., 2015). Isto deve-se ao elevado contacto com animais selvagens e à falta de infra-estruturas e medidas profiláticas.

A raiva é provocada por um vírus do género Lyssavirus da família Rhabdoviridae. Está distribuído mundialmente exceto na Antártida, Austrália e várias ilhas (Robardet et al.,2016). Afeta todas as espécies de mamíferos, essencialmente os carnívoros e morcegos.

Um exemplo de um destes países pouco desenvolvidos é o Nepal, país no qual, segundo Devleesschauwer et al. (2016), são reportados cerca de 100 casos fatais em animais de produção e 10 a 100 casos em humanos, considerando, no entanto, os autores que estes números estão muito abaixo da realidade.

(25)

25 Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2016), 99% dos casos de raiva são transmitidos aos humanos por cães, e os sinais clínicos apresentados pelos animais que sugerem esta doença são:

 Morder sem provocação;  Picacismo;

 Correr sem razão aparente;  Hipersiália;

 Alteração ou incapacidade na produção de som.

Não existe tratamento eficaz para pessoas que apresentem sinais clínicos, ocorrendo a morte por uma encefalite aguda fulminante.

Na Europa o risco de contrair raiva é baixo, sendo mais alto na Ásia, África e América Central e do Sul, com a maioria das zonas com risco moderado/alto (WHO, 2013).

Em Portugal a raiva está considerada erradicada desde 1952. No entanto houve dois casos em 2012, um que ocorreu no seguimento de uma mordedura de cão na Guiné-Bissau e outro que resultou de uma arranhadura de gato em Angola (publicado por Mariano no Jornal de Notícias, 2012).

2.3. Parasitoses gastrointestinais dos gatos

Neste capítulo a autora irá abordar os parasitas e as parasitoses intestinais mais frequentes no gato.

2.3.1. Giardia spp. 2.3.1.1 Etiologia

A giardiose é uma doença provocada por várias espécies do género Giardia. Dentro deste género, são consideradas seis espécies: Giardia duodenalis que afecta humanos e uma grande quantidade de mamíferos domésticos e selvagens, Giardia agilis encontrada nos anfíbios, Giardia muris atribuída aos roedores e Giardia microti dos ratos-do-campo. Duas espécies foram encontradas em aves: Giardia psittaci e Giardia ardeae. (Plutzer et al.,2010).

Dentro da espécie G. duodenalis, por estudos genéticos, observa-se a existência de vários subtipos ou “assemblages” (coleções), que variam em algumas características genéticas. Foram descritas oito “assemblages”, de A a G, sendo que as A e B são as únicas

(26)

26 passíveis de serem transmitidas aos humanos. Na Tabela 1, estão descritos os hospedeiros correspondentes a cada “assemblage”.

Tabela 1. “Assemblages” de Giardia (adaptado de Thompson et al., 2012)

Espécies “Assemblages” Hospedeiros

G. duodenalis A Humanos e outros primatas,

cães, gatos, bovinos, roedores e outros animais

selvagens

G. entérica B Humanos e outros primatas,

cães, gatos e algumas espécies de animais

selvagens

G. canis C/D Cães e outros canídeos

G. bovis E Gado bovino e outros

ungulados

G. cati F Gatos

G. simondi G Ratazanas

As espécies de Giardia são protozoários flagelados de aspeto piriforme, com dois núcleos, oito flagelos e um disco para sucção na porção ventral (Vega, 1999), que utilizam para se aderir à mucosa intestinal.

(27)

27 O ciclo de vida de Giardia spp. é direto, sendo necessário apenas um hospedeiro para realizar todas as etapas do mesmo. Este ciclo está representado na Figura 1.

Figura. 1. Ciclo de vida Giardia spp. (adaptado Alonso de Vega, 1999)

Como se pode observar na Figura 1, o trofozoíto (forma parasitária) adere à mucosa intestinal, onde se divide continuamente por divisão binária até se desprender. Ao atingir porções mais distais do intestino forma o quisto (forma infetante) com quatro núcleos, muito resistente, que é expulso para o exterior juntamente com as fezes.

Este quisto será posteriormente ingerido pelo próximo hospedeiro onde irá ocorrer a desenquistamento devido aos sucos digestivos, libertando-se os trofozoítos que irão aderir à mucosa e reiniciar a divisão.

2.3.1.3.Patogenia

A ação patogénica por parte deste parasita ocorre essencialmente de três formas:  Ação traumática-irritativa nas células intestinais;

 Ação espoliadora dos elementos nutricionais;  Ação de transporte de outros agente patogénicos.

(28)

28

2.3.1.4.Sinais clínicos

A infeção por Giardia é entérica e pode causar diarreia de intestino delgado em cães e gatos, mas é geralmente subclínica (Barr, 2006). Em associação com diarreia podem também aparecer: febre, anorexia, distensão e dor abdominal, pelo sem brilho, desidratação, fadiga e ocasionalmente morte. Em processos crónicos pode ocorrer atraso no crescimento e é frequente a concomitância com outros processos.

2.3.1.5.Prevalência e potencial zoonótico

Bouzid et al. (2014) realizaram um estudo para calcular a prevalência deste parasita em cães e gatos por todo o mundo, utilizando, para esse fim, estudos já existentes publicados a partir do ano de 2001. Recorreram a informação publicada num total de 127 artigos sobre cães e 68 sobre gatos, a partir dos quais calcularam uma prevalência de infeção por Giardia de 2,61% nos primeiros e 2,33% nos segundos. Concluíram que, relativamente à prevalência deste parasita:

 Não havia muito impacto da região em cães, sendo que nos gatos a prevalência era superior em países tropicais;

 Era superior em animais clinicamente suspeitos em comparação com animais aparentemente saudáveis (ao contrário do descrito por Barr, 2006);

 Era superior em animais com idades inferiores a 6 meses;

 Era menos prevalente em cães domésticos do que em cães de canis (em gatos a diferença não foi significativa);

 Foi superior em estudos nos quais o método de deteção não foi a microscopia mas sim outros métodos como PCR, ELISA, IFA.

Já Pallant et al. (2014) estudaram as características associadas à presença de Giardia spp. em 60 gatos e 130 cães domésticos, que foram a consultas veterinárias, por vários motivos, em várias zonas da Alemanha. Em geral, relativamente à prevalência deste parasita, concluíram que:

 Era superior nos machos dos dois grupos de animais (cães e gatos), com uma diferença mais significativa entre os sexos nos gatos;

(29)

29  Nos gatos era superior em gatos sem raça definida em comparação com gatos de raça pura, ao contrário do observado em cães, em que a prevalência era bastante superior em cães de raça pura;

 Em ambos os grupos era bastante superior em animais clinicamente suspeitos (cerca de 60%) do que em animais com infeção subclínica;

 Foi superior em animais com idades inferiores a 1 ano, estando estes também mais frequentemente associados a coinfeções (principalmente com Cystoisospora spp. e T.

canis);

 Por fim, era superior em amostras colhidas nos meses de Outono e Inverno, não havendo, no entanto, nenhuma correlação com alguma das espécies detetadas.

Estes autores estudaram também as diferenças existentes entre as espécies de Giardia potencialmente zoonóticas e as espécies específicas dos hospedeiros animais observando que:

 Tanto nos cães como gatos, as espécies mais frequentemente detetadas foram as específicas dos hospedeiros animais (G. canis e G. felis, respetivamente em cães e gatos);

 A prevalência de espécies potencialmente zoonóticas era superior em gatos (50%) em comparação com os cães (21%);

 Em gatos, as espécies zoonóticas foram mais prevalentes em animais mais jovens e em animais de raça pura. Os autores pensam que estes resultados podem estar associados ao acesso ao exterior dos animais, ou seja, animais mais jovens sem acesso ao exterior antes de terminarem o período de vacinação, por estarem sempre no interior das casas, não teriam contacto com G.felis, sendo, como tal, a prevalência de espécies zoonóticas superior. O mesmo se passa em gatos de raça pura, que geralmente nunca têm acesso ao exterior, não contactando com outros gatos e, como tal, com G.felis.

Num estudo por Zanzani et al. (2014), que surgiu com o objetivo de estudar a prevalência de parasitoses intestinais, em cães e gatos domésticos, na região da Lombardia, em Itália, verificou-se que:

 A prevalência de parasitoses intestinais era superior nos animais de áreas menos urbanizadas;

 22,1% dos cães e 26,3% dos gatos apresentavam coinfecções com duas espécies de parasitas;

(30)

30  Estes parasitas intestinais eram mais frequentes em animais com idades inferiores a 12

meses e, em cães, nas casas em que havia mais de um animal desta espécie;

Estes autores também concluíram que a espécie G. duodenalis era a mais prevalente, sendo que houve 54 amostras positivas (de 37 cães e 17 gatos), num total de 409 amostras, em que 253 animais eram da espécie canina e 156 da espécie felina. Nos cães apenas existiam “assemblages” específicas dos hospedeiros animais (54,5% C e 45,5% D) ao contrário do que se verificou nos gatos em que a “assemblage” mais frequente era a potencialmente zoonótica (83,3% A) e apenas 16,6% das amostras apresentavam a específica de hospedeiros animais (D), ao contrário do observado nos estudos por Pallant et al. (2014) e Bouzid et al. (2014), referidos anteriormente. De notar que a “assemblage” F, específica dos gatos não foi detetada em nenhuma das amostras fecais. Assim, foi possível observar a importância do gato como possível agente transmissor de Giardia aos humanos.

Zanzani et al. (2014) também realizaram questionários dirigidos a proprietários para saber o nível de informação e conhecimento que estes tinham relativamente à transmissão de parasitas intestinais dos animais aos humanos, e foi interessante verificar que 50,8% consideram que não existe nenhum perigo, o que revela uma maior necessidade de informar os proprietários destes riscos.

No Canadá, num estudo realizado por Hoopes et al. (2015), em gatos domésticos e de rua, de zonas urbanas e rurais, voltou a verificar-se uma maior prevalência da “assemblage” A, reiterando a importância do gato como transmissor de Giardia spp. aos humanos. Adicionalmente observaram que alguns dos animais eliminavam uma grande quantidade de cistos nas fezes (até 100.000 cistos por grama de fezes), o que se traduz numa elevada contaminação ambiental e aumento do risco para os humanos.

2.3.2. Cystoisopora spp. 2.3.2.1. Etiologia

A cistoisosporidiose é provocada por protozoários do género Cystoisospora estando reconhecidas no cão as espécies Cystoisospora canis, Cystoisospora ohioensis, Cystoisospora

neorivolta e Cystoisospora burrowsi; e no gato as espécies Cystoisospora felis e Cystoisospora rivolta (CAPC, 2013). Estas espécies são consideradas específicas dos seus

hospedeiros (específicas das espécies), não sendo conhecido potencial zoonótico, apesar de existir coccidiose nos humanos, provocada pela espécie Cystoisospora belli.

(31)

31

2.3.2.2.Ciclo de vida

O ciclo de vida é direto, contendo uma fase endógena (no organismo do hospedeiro) e uma exógena (no meio ambiente).

Os oocistos são expulsos com as fezes para o exterior, ocorrendo a esporulação que dá origem à forma infetante (esporocistos, cada um com quatro esporozoítos). São ingeridos pelo mesmo (autoinfeção) ou por outro hospedeiro, onde se produz a reprodução assexuada (esquizogonia) e reprodução sexuada (gametogonia). Isto ocorre nas células epiteliais ou lâmina própria do intestino delgado, ceco ou cólon, formando-se os oocistos que saem com as fezes.

A forma infetante pode ser ingerida por hospedeiros paraténicos (como ruminantes ou roedores) que transmitem as formas infetantes aos hospedeiros definitivos.

A forma principal de infeção é, assim, a feco-oral, podendo ocorrer, no entanto, transmissão por ingestão de tecidos de ruminantes e roedores infetados (Miró-Corrales, 1999).

2.3.2.3.Patogenia

Os parasitas deste género exercem a sua ação patogénica através da destruição das células epiteliais e diminuição do número de células caliciformes. Consequentemente, levam à alteração das funções digestiva e de absorção.

Não há uma real evidência que estas espécies de Cystoisospora sejam patogénicas por si próprias, mas a infeção pode ser exacerbada por viroses concorrentes ou outros agentes imunossupressores (Vasconcelos et al., 2008).

2.3.2.4.Sinais clínicos

Esta doença cursa, geralmente, sem manifestações clínicas aparentes, ocorrendo doença no caso de estados de imunossupressão: stress, falta de higiene, doenças concomitantes, entre outros. Nestes casos pode cursar com:

 Diarreia com muco ou sangue, que pode persistir por semanas (Jarvinen, 2006);

 Essencialmente em jovens é possível observar letargia, perda de peso, desidratação e vómitos.

(32)

32

Cystoisospora é geralmente considerado na literatura como um dos géneros de

parasitas intestinais mais frequentes tanto em gatos como em cães, facto descrito por vários autores.

Villeneuve et al. (2015) calcularam a prevalência de parasitoses intestinais em cães e gatos de abrigos em várias regiões do Canadá. O resultado foi uma prevalência de 33,9% em cães e 31,8% em gatos.

Nos animais da espécie canina, o parasita mais frequente foi Toxocara canis (12,7%), seguido de Cystoisosopora spp. (10,4%). Em gatos o mais frequente foi T. cati (16,5%), seguido por Cystoisospora spp., ainda mais prevalente que no caso dos cães (14%).Os autores deste artigo concluíram também que em cães a infeção era superior em animais com idades inferiores a 1 ano, não tendo sido esta diferença significativa nos gatos.

Gates e Nolan (2009) analisaram as fezes com o mesmo objetivo que os autores do estudo anterior: calcular a prevalência de parasitas intestinais em amostras de fezes de cães e gatos, mas desta vez da Pensilvânia, e relacionar com a idade dos animais. Demonstraram que esta prevalência é superior em animais com idades inferiores a 6 meses e que depois volta a subir após os 10 anos de idade.

Relativamente à cistoisosporidiose, verificaram, como é possível observar na Figura 2, que:

 Nos cães a prevalência desce abruptamente em cães com idades superiores a 1 ano;  Em gatos a prevalência desce para 0 em animais entre os 5 e os 9 anos, aumentando

(33)

33

Figura. 2. Prevalência de Cystoisospora spp. com a idade em cães (esquerda) e gatos

(direita); (adaptado de Gates e Nolan, 2009).

Relativamente à Europa, o que se sabe sobre a prevalência deste parasita nos nossos animais domésticos resume-se de seguida.

Nos cães, Shukullari et al. (2015), a partir de análises fecais de 602 animais domésticos em Tirana, na Albânia, concluíram que:

 40,7% eram positivos para parasitas intestinais (29,9% a protozoários e 21,9% para nematodes);

Giardia spp. foi o parasita mais frequente;

 Infeções por apenas uma espécie de parasitas foram mais frequentes do que coinfecções, sendo que dentro das coinfecções os animais apresentaram de duas a sete espécies diferentes;

As duas espécies de Cystoisospora detetadas foram C. canis e C. ohioensis, numa prevalência de 3% e 4,3%, respetivamente.

Os fatores de risco detetados para a presença de parasitas do género Cystoisospora foram:

o Amostras colhidas no Inverno; o Animais não desparasitados; o Animais jovens;

o Animais de caça ou trabalho; o Zonas rurais;

o Cães com contacto frequente com outros animais da mesma espécie.

Já em gatos, Capári et al. (2013), a partir de amostras de fezes de 235 gatos de uma região rural da Hungria, calcularam uma prevalência de Cystoisospora spp. de 4,3%. Concluíram ser mais frequente em jovens, não havendo diferenças significativas para o sexo, estatuto de castração e raça (prevalência semelhante em animais de raça pura e animais sem raça definida).

Em Portugal Waap et al. (2014) calcularam a prevalência de parasitas intestinais em gatos de rua de Lisboa. Chegaram à prevalência, sem precedências, de 90,7% destas parasitoses, sendo que foram detetadas 12 espécies diferentes. Do género Cystoisospora, figuraram duas espécies com uma prevalência de 46,3% para C. rivolta e 14,2% para C. felis.

(34)

34 Quanto ao potencial zoonótico dos parasitas desta espécie, como já referido, não são conhecidos casos de transmissão da infeção de parasitas aos humanos, considerando-se as espécies do género Cystoisospora espécie-específicas.

2.3.3. Dipylidium caninum 2.3.3.1.Etiologia

A dipilidiose é provocada por um cestode da família Dipylidiidae, na qual figuram 3 géneros: Dipylidium, Diplopylidium e Joyeuxiella.

Dipylididum caninum é um dos cestodes com maior importância em cães e gatos,

apesar de usualmente provocar infeções subclínicas (geralmente pouco virulentos).

Os hospedeiros definitivos são o cão, gato, raposa e homem, funcionando a pulga como hospedeiro intermediário. São, por isso, estes parasitas frequentes em zonas nas quais abundam pulgas.

2.3.3.2.Ciclo de vida

Nos cestodes os proglotes grávidos, cheios de ovos, são eliminados nas fezes. Estes, no meio ambiente, soltam os ovos que serão posteriormente ingeridos pelas larvas das pulgas (Ctenocephalides spp. ou Pulex irritans).

Os ovos resistem a todas as modificações morfológicas que ocorrem na pulga até à sua forma adulta, onde se mudam para a forma larvar (cisticercoide).

Acidentalmente, a pulga é ingerida pelo hospedeiro definitivo, sendo o cisticercoide libertado no estômago e tornando-se adulto após fixação no intestino do hospedeiro. Inicia-se novamente a produção de proglotes grávidos que serão eliminados nas fezes, reiniciando-se o ciclo.

2.3.3.3.Patogenia

Assim como os restantes cestodos, a patogenia de D. caninum ocorre essencialmente:  Pelos efeitos traumático-irritativos pela fixação do parasita adulto no intestino;  Pela migração dos proglotes na mucosa perianal;

(35)

35  Obstrução mecânica do intestino em infeções massivas (raro).

2.3.3.4.Sinais clínicos

Habitualmente as infeções são subclínicas, sendo o único sinal visível, a presença de proglotes nas fezes.

A presença de proglotes na zona perianal pode levar a prurido, observando -se os animais a lamber ou a raspar esta zona de encontro ao solo numa tentativa de alívio. Consequentemente poder-se-á observar: depilações e inflamações cutâneas, dermatites crónicas e inflamação dos sacos anais (que também pode ocorrer diretamente por obstrução dos orifícios por proglotes).

Em infeções maciças em jovens, adicionalmente, podem ocorrer:  Deterioração do pelo;

 Mal-estar geral;  Perda de peso;

 Manifestações digestivas (diarreia, obstipação e distensão abdominal);  Como já referido, obstrução intestinal, apesar de raro;

 Em gatos já foram descritas convulsões e ataques epiléticos e em cães enterite hemorrágica com úlceras (Acedo et al., 1999).

2.3.3.5.Prevalência e potencial zoonótico

A prevalência de D. caninum em cães foi estudada por Torres-Chablé et al. (2015) a partir de amostras de fezes de 302 cães, com acesso restrito a locais públicos, em Tabasco no México. Estes autores concluíram que 26,5% destes animais eram positivos a parasitas intestinais, não havendo coinfecções em nenhum.

Os parasitas mais frequentes foram Ancylostoma caninum (15,9%), Cystoisospora spp. (6,3%), T. canis (2,3%) e Giardia spp. (1%). Cada uma das espécies Dipylidium caninum,

Trichuris vulpis e Uncinaria spp., foram observadas apenas num cão, com uma prevalência de

0,3%. O animal que apresentou infeção por D. caninum tinha idade superior a 12 meses. Zazani et al. (2014) demonstraram que em Milão Itália, a prevalência de parasitas intestinais zoonóticos era muito superior comparativamente aos parasitas que não são

(36)

36 transmitidos dos animais aos humanos, sendo os mais frequentes: G. duodenalis (11,6%), T.

vulpis (3,7%) e T. canis (1,7%). A prevalência de D. caninum foi novamente baixa (0,4%),

encontrando-se na mesma percentagem parasitas da família Ancylostomatidae.

Já em gatos, Monteiro et al. (2016), estudaram a prevalência de parasitoses intestinais no estado de Pernambuco, Brasil. Estes gatos tinham entre 6 meses a 8 anos e acesso a quintal, se existente na casa dos proprietários, e nenhum deles apresentava ectoparasitas. Dos gatos analisados 65,3% eram positivos a parasitas intestinais, sendo que os mais frequentemente observados foram: Ancylostoma spp. (67,2%), T. cati (40,7%) e Strongyloides

stercoralis (21,23%). Menos prevalentes foram Trichuris sp. (1,7%) e D. caninum (0,88%),

que apareceu apenas num gato, do qual não referem a idade.

Na Dinamarca, a prevalência de D. caninum, em gatos, foi estudada, entre outros, por Takeuchi-Storm et al. (2015), que observaram que em 99 amostras fecais, apenas 1% foram positivas a D. caninum. A espécie mais frequente foi T. cati, com uma prevalência de 84,8% no total de amostras positivas a parasitas intestinais.

Em Portugal, devido à falta de estudos sobre a prevalência de parasitoses intestinais em cães no norte do país, Mateus et al. (2014) decidiram calcular a mesma no município de Ponte de Lima. Colheram amostras do ambiente, de quintas e de animais de caça e estudaram estes três grupos independentemente.

De 592 amostras fecais colhidas, 374 eram positivas, sendo que dentro dos grupos, havia 59,8% positivas no grupo de amostras do ambiente, 57,44% no grupo de amostras colhidas em quintas e 81,2% no grupo da caça.

A distribuição das espécies de parasitas pelos grupos, pode ser observada na Tabela 2.

Tabela 2. Prevalência de parasitas nas amostras fecais, adaptado do estudo de Mateus et al.

(2014).

Parasita Amostras de cães do ambiente (n=296) (%) Amostras de cães das quintas (n=195) (%) Amostras de cães de caça (n=101) (%) Ancylostomatidae 44.59 31.28 70.30 Trichuris spp. 34.46 32.82 49.50 Toxocara spp. 7.43 11.28 10.89

(37)

37 Toxascaris leonina 0.68 0 0 Dipylididum caninum 0.68 1.02 0.99 Taeniidae 0.34 0.51 1.98 Isospora spp. 3.04 1.54 4.95

Podemos observar que a família Ancylostomatidae continua a ser a mais prevalente como observada nos dois estudos anteriores, havendo novamente uma baixa prevalência de D.

caninum: 0,7% no grupo do ambiente, 1,0% no grupo das quintas e 1,0% no grupo da caça.

Neste estudo também se observaram coinfecções de D. caninum com

Ancylostomatidae nos três grupos; e de D. caninum com Toxocara spp. e Trichuris spp.

apenas no grupo de amostras colhidas em quintas.

Quanto ao potencial zoonótico desta espécie de cestodo, a transmissão de D. caninum aos humanos, está, geralmente, associada a crianças ou pessoas imunodeprimidas, como descrito por Sahin et al. (2015) no relato de um caso clínico. Os autores referem o aparecimento de diarreia num humano doente que foi sujeito a um transplante renal e cuja análise fecal revelou o aparecimento de formas parasitárias desta espécie.

2.3.4. Toxocara cati 2.3.4.1.Etiologia

Toxocara cati é uma espécie de nematodo da família Ascarididae. Esta espécie que

infeta gatos e outros felinos, juntamente com T. canis que afeta o cão, a raposa e o lobo, entre outros, são das parasitoses intestinais mais frequentes dos animais domésticos, apresentando distribuição mundial.

2.3.4.2.Ciclo de vida

A infeção pode ocorrer de três formas: ingestão de ovos com a forma larvar infetante (L2), ingestão de hospedeiros paraténicos com a forma infetante por predação e por via galactófora.

Se a infeção ocorrer por via galactófora ou ingestão de hospedeiros paraténicos, não há migrações somáticas, desenvolvendo-se apenas os estádios larvares até adulto no intestino.

Se, por outro lado houver ingestão de ovos com L2 pelo hospedeiro definitivo, as larvas vão-se libertar e perfurar a mucosa intestinal atingindo a circulação sistémica. Atingem

(38)

38 o fígado onde podem ficar retidas por reação tissular ou progridem para os pulmões via coração direito e artéria pulmonar. Após atingirem os pulmões são expulsas pela tosse e engolidas fazendo o trajeto do esófago até aos intestinos, onde se desenvolvem até formas adultas que iniciam a postura de ovos que saem para o exterior com as fezes, reiniciando-se o ciclo.

2.3.4.3.Patogenia

Se a infeção ocorre por via galactófora ou por ingestão de hospedeiros paraténicos, não existe ação patogénica porque não há migrações somáticas.

No caso de haver migrações a ação patogénica vai ser essencialmente por:  Ação traumático-obstrutiva no intestino, fígado e pulmões;

 Ação espoliadora;

 Ação antigénica devido às substâncias libertadas aquando das mudas das larvas (Díez-Baños et al., 1999).

2.3.4.4.Sinais clínicos

Ocorrem essencialmente em animais muito jovens e são manifestações intestinais caracterizadas por diarreias com muito muco, distensão abdominal, mau aspeto geral e apatia ou inquietação.

Em infeções massivas pode ocorrer pneumonia e edemas pulmonares.

2.3.4.5.Prevalência e potencial zoonótico

Toxocara cati é mundialmente considerado o parasita mais frequente em gatos.

Becker et al. (2012) estudaram a prevalência de parasitoses gastrointestinais em gatos de rua ou que estiveram com famílias de acolhimento, num abrigo, na Alemanha. De amostras fecais de 837 animais desta espécie 33,6% eram positivos a este tipo de parasitas, sendo que a espécie mais frequente foi T. cati, com uma prevalência entre 24,1% e 30,3%.

Os animais com estas parasitoses eram essencialmente jovens (menos de 1 ano de idade), não havendo diferenças significativas entre sexos. A prevalência foi, também superior nos animais de rua comparativamente aos que passaram algum tempo com famílias de acolhimento.

Imagem

Tabela 2. Prevalência de parasitas nas amostras fecais, adaptado do estudo de Mateus et al
Figura 3. Prevalência de infeção por T. cati (cinzento escuro) em vários países da Europa  (Beugnet et al., 2014)
Tabela 3. Percentagem de animais que realizaram a análise fecal
Figura 5. Percentagem dos animais parasitados por idade
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Referências

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