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Eficiência produtiva em vacas aleitantes criadas na região do Alentejo

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Eficiência produtiva em vacas aleitantes criadas na região do Alentejo

Dissertação de Mestrado em Engenharia Zootécnica

Inês Cardoso Antas da Cal

Orientador: Professor José Carlos Marques de Almeida Co-orientador: Engenheiro José Pais

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Eficiência produtiva em vacas aleitantes criadas na região do Alentejo

Dissertação de Mestrado em Engenharia Zootécnica

Inês Cardoso Antas da Cal

Orientador: Professor José Carlos Marques de Almeida Co-orientador: Engenheiro José Pais

Composição do júri

Presidente: Professora Doutor José José Júlio Gonçalves Barros Martins Vogais: Professora Doutora Ângela Maria Ferreira Martins

Professor Doutor José Carlos Marques de Almeida

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“As doutrinas apresentadas são da exclusiva responsabilidade do autor e todos os trabalhos consultados e citados no texto constam na bibliografia incluída neste trabalho.”

O presente trabalho foi realizado com vista à obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Zootécnica apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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Agradecimentos

“Não quero trajectos sem calhaus, pessoas sem problemas, muito menos glórias sem lágrimas. Não quero o tédio de só continuar, a obrigação de suportar, andar na rotina só por andar.” (Freitas, 2014).

Um agradecimento destacado para a Associação de Criadores de Bovinos da Raça Mertolenga, que contribuiu para que este trabalho tenha sido possível, em especial ao Engenheiro Pais. Um grande beijinho para o Engenheiro Nuno, o Tio, o Luís e para a Tita. Pelos bons momentos e pelos conhecimentos que me transmitiram, ao longo do mês de estágio que tive o prazer de realizar junto de vós.

A todos os que fazem parte da minha vida, por favor, façam o favor de continuar nela.

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Resumo

O bem-estar animal e a sustentabilidade ambiental são dois temas com grande impacto social, e tendem a afetar, cada vez em maior escala, os hábitos de consumo de alimentos. Por outro lado, é reconhecida a importância da carne, nomeadamente a carne de bovino, como fonte de proteína alimentar para os humanos. Assim, cabe aos organismos oficiais e aos criadores, promover a produção de bovinos de carne nas melhores condições de bem-estar animal com o mínimo impacto ambiental.

O sistema de produção de vacas aleitantes predominante na região do Alentejo, é caracterizado por baixos encabeçamentos e pela utilização de solos pobres com pastagens naturais como fonte alimentar principal. Aqui, as raças autóctones têm um papel importante, sendo criadas em sistemas de produção equilibrados, sustentáveis e ecológicos que contribuem para a fixação das populações nas regiões rurais do Alentejo. As fêmeas de raças autóctones são usadas como linha materna graças à sua boa adaptabilidade às condições adversas da região, tirando o máximo partido da boa capacidade maternal destes animais. A representatividade das vacas aleitantes de raças autóctones no Alentejo é baixa comparativamente com o efetivo total. Embora as raças exóticas criadas no Alentejo tenham maior velocidade de crescimento antes e após o desmame, no que respeita aos índices reprodutivos, a raça autóctone Mertolenga possui valores bastante interessantes o que aliado à facilidade de parto, faz com que seja a raça autóctone de preferência para a realização de cruzamentos industriais. Uma vez que o tipo de produção com maior expressão no Alentejo é o sistema de produção extensivo, e face às condições ambientais extremas a que os animais estão sujeitos em determinadas épocas do ano, existe uma grande fragilidade económica deste tipo de sistema quando comparado com o sistema de produção intensivo. Assim sendo, é importante desenvolver estratégias de diferenciação dos produtos com origem no sistema de produção do Alentejo, de forma a torná-los competitivos no mercado. A criação de produtos de qualidade distinta, seguros e de maior valor económico, é também a base para o aumento da rentabilidade das explorações, sendo preservado o ambiente e a paisagem. Por estes motivos, sendo Portugal um importador líquido de carne de bovino e tendo em conta o que foi exposto anteriormente, torna-se premente desenvolver este sector de atividade tornando-o mais atrativo, o que pode ser feito através de três processos: aumentando a eficiência produtiva, implementando subsídios à produção e elaborando estratégias que permitam a diferenciação da carne.

Este trabalho teve como objetivo contribuir para caracterizar o sistema de produção de vacas aleitantes na região do Alentejo com recurso a dados relativos a vacas

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Mertolengas, que permitiram estudar e avaliar a eficiência reprodutiva destes animais. Para isso, foi calculada a Idade ao Primeiro Parto e o Intervalo Entre Partos, dois índices importantes pela sua forte influência sobre a eficiência produtiva dos sistemas. Estes índices foram calculados a partir de registos de explorações, facultados pela Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos.

Relativamente à Idade ao Primeiro Parto, o valor encontrado foi de 34,6 ± 8 meses. Em relação ao intervalo entre partos, o valor obtido foi de 437,5 ± 107,9 dias.

Posteriormente foi estudado o efeito que os fatores ambientais exercem sobre os índices reprodutivos, de maneira a tirar conclusões quanto à forma como aqueles variam, de acordo com as épocas do ano e ao longo dos diferentes anos. Os resultados permitiram concluir que existe efeito dos anos e das épocas do ano sobre os índices reprodutivos. Como tal, foram propostas estratégias de maneio, de forma a que os produtores possam tirar partido das épocas do ano mais favoráveis, tendo em vista o aumento da performance reprodutiva do sistema.

Palavras-Chave: Alentejo, Bem-estar Animal, Carne de bovino, Diferenciação, Idade ao 1º Parto, Intervalo Entre Partos, Sustentabilidade.

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Abstract

The animal welfare and the environment sustainability are two issues with a great social impact and tend to affect more and more the habits of consuming particular food staffs. On the other hand, the importance of animal protein, in particular beef, as a source of protein for humans is recognized. Thus it is up to the official bodies and to the livestock producers to promote the beef cattle production at the best conditions of animal welfare with minimal environmental impacts.

The system of beef cattle production, which prevails in the Alentejo, is characterized by low livestock density by using poor soils and the natural grassland, which is the main source of animal feed. In this kind of production are used indigenous breeds as a motherline breed aiming at making the most of the good maternal ability, which characterize these breeds. However, these breeds have low productive and reproductive indexes in comparison with cross breed cattle, which makes this system of production of great economic fragility. So it is important to develop strategies so as to make different products resulting from this kind of beef cattle production, to enable these products to enter the market in a competitive way. For all these reasons, as Portugal is a net importer of beef meat, it is important to develop this sector of economic activity making it more attractive. This can be done by different means: increasing production efficiently, subsiding the system and developing differentiated products.

The main aim of this work was to characterize the beef cattle production in Alentejo and to evaluate the reproductive performance so as to identify aspects capable of being improved. Age at first calving and calving interval were calculated in order to evaluate the efficiency of the production system. So that this study could be possible registers given by Mertolenga Cattle Breeders Association were used.

As for the age at first calving the value found was 34,6 ± 8 months. As for the calving interval the value found was 437,5 ± 107,9 days.

Besides that, it was also studied the efect of some kind of environmental factors on the reproductive indexes referred before and how these indexes can change according to the seasons and year after year. These studies were intended to determine how these environmental factors can be eliminated or minimized by implementing management techniques so as to improve the efficiency of the production system.

Key words: Alentejo, Age at first calving, Animal Welfare, Beef Cattle, Calving Interval,

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Índice

Agradecimentos...vii

Resumo... ix

Abstract ... xi

Índice...xiii

Índice de Figuras ... xvi

Índice de Tabelas ... xvii

Lista de Abreviaturas e Símbolos ... xviii

I. Introdução ... 1

II. Revisão Bibliográfica ... 3

1. Produção e consumo de carne de bovinos em Portugal ... 5

2. Produção de bovinos de carne no Alentejo ... 7

2.1. Caracterização da região ... 7

2.2. Efetivo bovino ... 8

2.2.1.Raças exóticas e cruzamentos ...10

2.2.2. Mertolenga ...11

2.2.3. Alentejana ...12

2.3. Sistema de produção extensivo ... 13

2.3.1. Alimentação ...16

2.3.2. Maneio Reprodutivo ...18

3. Eficiência de produção ... 25

3.1. Eficiência na produção de bovinos de carne ... 25

3.2. Raças autóctones e desenvolvimento rural ... 26

3.3. Indicadores produtivos e reprodutivos ... 28

4. Produtos diferenciados... 30

4.1 O sector de carne diferenciada em Portugal ... 31

4.2 Estratégia para a valorização e sustentabilidade das raças autóctones... 34

4.3 Diferenciação de produtos em Portugal ... 35

4.3.1. Certificação DOP ...36

4.3.2. Certificação IGP ...41

4.3.3. Certificação biológica ...43

5. Incentivos à produção de bovinos em Portugal ... 47

5.1. Vacas em aleitamento ... 48

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III. Trabalho experimental ... 51 2.1. Ficheiro 1 ... 53 2.1.1. Edição de dados ...54 2.2. Ficheiro 2 ... 55 2.2.1. Edição de dados ...55 2.3. Análises Estatísticas ... 56 3. Resultados e Discussão ... 56

3.1 Número de vitelos nascidos e tipos de cruzamento ... 57

3.2 Causa de saída dos bovinos por ano ... 61

3.3 Percentagem de partos por sexo ao longo dos anos ... 63

3.4 Distribuição dos partos por ano e ao longo ano ... 63

3.5 Intervalo entre partos ... 67

3.6 Efeito do ano de parto e da época de parto no IEP ... 69

3.7 Idade ao primeiro parto ... 75

3.8 Efeito do ano e mês de nascimento na fêmea na idade ao primeiro parto ... 78

4. Considerações finais ... 82

IV. Bibliografia ... 85

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Índice de Figuras

Figura 1 - Grau de autoaprovisionamento médio das carnes entre 2010 e 2014 em Portugal

Figura 2 - Modelo do ciclo reprodutivo típico do Alentejo

Figura 3 - Modelo do ciclo reprodutivo com época de parto no inverno Figura 4 - Modelo do ciclo reprodutivo com época de parto no verão

Figura 5 - Evolução dos gastos nos diferentes grupos de alimentos para consumo em casa em 1990, 1995 e 2000

Figura 6 - Produção de carne de bovino DOP/IGP

Figura 7 - Valor da produção de carne de bovino DOP/IGP

Figura 8 - Organização da cadeia de certificação de carne DOP no Alentejo Figura 9 - Símbolo de certificação de produtos DOP

Figura 10 - Símbolo de certificação IGP

Figura 11 - Evolução do efetivo animal em modo de produção biológico entre 2002 e 2014 em Portugal

Figura 12 - Símbolo de certificação de produtos em modo de produção biológico Figura 13 - Número de animais explorados em linha pura e em cruzamento Figura 14 - Percentagem de animais em linha pura e cruzados em cada ano Figura 15 - Principais causas de saída dos animais nos anos em estudo Figura 16 - Percentagem de animais nascidos em cada ano

Figura 17 - Percentagem de partos por estação do ano Figura 18 - Percentagem de partos por trimestre Figura 19 - Distribuição dos partos ao longo do ano

Figura 20 - Intervalo entre partos médio por mês de parto nos quatro anos em estudo Figura 21 - Intervalo entre partos médio por mês e por ano de parto

Figura 22 - Intervalo entre partos médio por trimestre e por ano de parto Figura 23 - Intervalo entre partos médio por estação de parto e por ano

Figura 24 - Frequências dos valores de idade ao primeiro parto (meses) de 2000 a 2015 Figura 25 - Idade ao primeiro parto (IPP) média por ano de nascimento

Figura 26 - Idade ao primeiro parto (IPP) média por mês de nascimento

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Índice de Tabelas

Tabela 1 - Produção de carne de bovino em Portugal entre 2013 e 2015

Tabela 2 - Ganho médio diário (kg/dia) nas fases de suplementação, pastoreio e acabamento de novilhos de raças autóctones e cruzados

Tabela 3 - Características produtivas e reprodutivas das raças Alentejana e Mertolenga Tabela 4 - Evolução da produção e dos preços pagos pela Carnalentejana – Agrupamento

de Produtores de Bovinos de Raça Alentejana S.A. entre 2010 e 2012 Tabela 5 - Evolução da produção e dos preços pagos pela Promert – Agrupamento de

Produtores de Bovinos Mertolengos S.A. entre 2010 e 2012

Tabela 6 - Produção e preço pago pelo agrupamento da Vitela de Lafões entre 2010 e 2012

Tabela 7 - Produção e preço pago pelo agrupamento por Carne dos Açores entre 2010 e 2012

Tabela 8 - Número de animais explorados em linha pura e em cruzamento

Tabela 9 - Número de animais explorados em linha pura e em cruzamento ao longo dos anos

Tabela 10 - Número de animais abatidos nos anos em estudo. Tabela 11 - Número e percentagem de nascimentos por sexo

Tabela 12 - Estatística descritiva do intervalo entre partos de 2012 a 2015

Tabela 13 - Intervalo entre partos (IEP) médio por ano de parto e número de partos por ano

Tabela 14 - Efeito do sexo do vitelo nascido no intervalo entre partos (IEP) Tabela 15 - Estatística descritiva idade ao primeiro parto (IPP) de 2000 a 2015

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Lista de Abreviaturas e Símbolos

€ - Euro (s)


* - Efeito significativo % - Percentagem


ACBM - Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos

ACBRA - Associação de Criadores de Bovinos da Raça Alentejana ACL - Associação de Criadores Limousine

ANCGVM - Asociación Nacional de Criadores de Ganado Vacuno de Raza Morucha Selecta

ANOVA - Análise de Variância

APCBCLB - Agrupamento de Produtores de Carne Bovino Cruzado dos Lameiros do Barroso

APCBRC - Associação Portuguesa de Criadores de Bovinos da Raça Charolesa BCAA - Boas Condições Agrícolas e Ambientais

CE - Comissão Europeia

CEE - Comunidade Económica Europeia CN - Cabeça Normal

DGADR - Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural DOP - Denominação de Origem Protegida

ETG - Especialidade Tradicional Garantida GPP - Gabinete de Planeamento e Políticas IEP – Intervalo Entre Partos

IFAP - Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas IGP - Indicação Geográfica Protegida

INE - Instituto Nacional de Estatística IPP - Idade ao Primeiro Parto

JMP - Programa estatístico Kg – Quilograma (s)

LG - Livro Genealógico Nº - Número

OPC - Organismo Privado de Controlo e Certificação p - Valor de p

PAC - Política Agrícola Comum

PDR - Programa de Desenvolvimento Rural PV - Peso Vivo

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RLG - Requisitos Legais de Gestão SIA - Sistema de Identificação Animal

SPREGA - Sociedade Portuguesa de Recursos Genéticos Animais T - Trimestre

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I. Introdução

Portugal é um país pequeno, de clima mediterrâneo, considerado um dos mais amenos da Europa. Apesar disso, possui grandes diferenças topográficas e climáticas que variam bastante de região para região. Estas diferenças permitem dividir o país em região norte e região sul, cada uma delas com tipos de solos, relevo, temperatura e hidrografia diferentes entre si. Esta grande variabilidade faz com que a agricultura, produção pecuária e costumes sejam diferentes e característicos da região onde estão inseridos.

A produção de bovinos de carne em Portugal tem maior importância na região sul, concretamente no Alentejo, e no interior Norte do país. O efetivo de bovinos em Portugal em 2012, era sobretudo constituído por vitelos (30,1%), vacas aleitantes (29,5%) e vacas leiteiras (15,8%), de acordo com os dados do Gabinete de Planeamento e Políticas (2014a). No que diz respeito à distribuição geográfica dos efetivos, os animais concentram-se essencialmente na região do Alentejo (38,5%), Açores (18,2%) e Entre Douro e Minho (17,8%). No mesmo ano, houve um total de 408694 animais abatidos e aprovados para consumo, em que o número de vitelos(as) abatidos teve maior expressão representando 37,1% do total, seguindo-se os novilhos(as) com 31,8%, (GPP, 2014a).

Portugal não é autossuficiente na produção de carne de nenhuma espécie animal, tendo produzido em média 73,3% da quantidade total de carne necessária para garantir o consumo total da população entre 2010 e 2014. A carne de bovino foi aquela cuja dependência do exterior foi superior sendo o seu grau de autoaprovisionamento de 50,9%, (INE, 2016a). Em 2015 houve um aumento no grau de autoaprovisionamento de produção de carne. Neste ano Portugal produziu 75,1% da quantidade de carne necessária para satisfazer as necessidades nacionais de consumo. A melhoria do grau de autoaprovisionamento em 2015 face ao ano anterior, deveu-se ao aumento da produção de carne em 6,9% aliado à descida das importações em 2,1%. A carne de aves é aquela cuja produção está mais próxima de satisfazer as necessidades de consumo, tendo um grau de autoaprovisionamento próximo de 90% (INE, 2016b).

Relativamente ao consumo de carne de bovino, este tem vindo a diminuir apesar do ligeiro aumento verificado em 2014 (INE, 2016b). Contudo, é possível constatar que tem havido um mercado emergente na produção de bovinos de raças autóctones num sistema de produção extensivo. A carne proveniente deste método de produção é considerada de maior qualidade pelos produtores e consumidores acrescentando valor ao produto obtido e transformando-o num bem diferenciado.

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Na região do Alentejo as raças bovinas autóctones com maior expressão são a Alentejana e a Mertolenga. Segundo dados das respetivas associações, a Raça Alentejana tinha em 2016, um registo de 25684 fêmeas inscritas no livro de adultos sendo 9420 em linha pura, (SPREGA, 2016), comparativamente com as 30844 fêmeas reprodutoras mertolengas, atualmente inscritas no livro genealógico da raça sendo 9356 em linha pura. (SPREGA, 2016). O sistema de produção de ambas as raças assenta essencialmente nos mesmos métodos, no que diz respeito ao maneio produtivo e reprodutivo, existindo sempre algumas diferenças, tendo em conta que a região onde se inserem é a mesma. Relativamente aos efetivos, existem zonas do Alentejo onde a concentração de Mertolengos é superior e vice-versa.

A carne proveniente destas raças, produzida de acordo com o sistema extensivo da região é considerada um produto diferenciado. No entanto, a grande maioria dos efetivos de carne no Alentejo é constituído por vacas cruzadas provenientes de cruzamentos indeterminados. Em Portugal, a produção extensiva refere-se a sistemas em cuja alimentação dos animais é feita com recurso a alimentos de origem natural sujeitos às alterações climáticas que ocorrem durante o ano. Assim sendo, é praticamente indispensável a suplementação dos animais em determinadas épocas do ano em que o alimento é mais escasso. Hoje, cada vez mais se faz um acompanhamento dos animais presentes nos efetivos, nomeadamente no que refere ao controlo profilático, sanitário e reprodutivo.

Este trabalho tem como objetivo fazer uma caraterização do maneio produtivo do sistema de produção de bovinos de raça Mertolenga na região do Alentejo, bem como de analisar a sua eficiência comparando com os valores ideais, tendo como ponto fulcral desenvolver propostas para tentar melhorar as eficiências produtivas e reprodutivas do sistema.

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1. Produção e consumo de carne de bovinos em Portugal

O efetivo bovino em Portugal tem sofrido, ao longo dos anos, ligeiras variações no número de animais que o constitui. Entre 2003 a 2012 o ano cujo efetivo registou maior número foi em 2011 onde existiam 1519000 cabeças de bovinos de todas as categorias (GPP, 2014a).

Também o total de animais nas diferentes categorias de bovinos têm sofrido variações ao longo dos anos. Desde 2003 que o número de vacas aleitantes aumentou ligeiramente até 2007 onde se manteve praticamente constante até 2012. Os vitelos constituem a categoria em que a variação é mais evidente. O ano 2009 registou o número mínimo de animais desta categoria que, desde então, aumentou consideravelmente face a este ano (GPP, 2014a).

A diminuição do número de explorações agrícolas entre 2009 e 2013 que detinham um número reduzido de animais, foi a principal causa que afetou a evolução das principais espécies animais (INE, 2016a). Assim, graças a este acontecimento, o número médio de bovinos aumentou em cerca 6 cabeças por exploração. Apesar disto, entre 2010 e 2014, a evolução média dos efetivos manteve-se praticamente constante, sendo que os bovinos apresentaram um acréscimo de 0,8% por ano. Relativamente à estrutura dos efetivos animais em Portugal, os bovinos constituíam, em 2013, 24,7% do efetivo total das principais espécies de animais domésticos para consumo (INE, 2016a).

Apesar do aumento dos efetivos, a produção de carne de bovino em Portugal tem vindo a decrescer ao longo dos anos até 2015 onde se verificou um aumento da produção (INE, 2016a). São apontados factores como a subida do preço dos alimentos para os animais, a crise económica e financeira que o país atravessa e a mudança de hábitos alimentares da população como responsáveis pela influência na redução da produção.

Durante o período que decorreu entre os anos de 2010 e 2014, houve uma diminuição anual média de 1,3% na produção total de carne do país, fazendo com que não fosse garantida a sua autossuficiência (INE, 2016a). Assim, cerca de 30% das necessidades foram satisfeitas por importações traduzindo-se numa dependência externa que foi responsável por 1/5 do défice da balança comercial agro-alimentar em 2015 (INE, 2016a).

Em 2015 a produção de carne de bovino aumentou atingindo 89 mil toneladas de carne em comparação com as 80 mil conseguidas no ano anterior traduzindo-se num aumento de 11% em relação a este ano. A categoria “vitelo” teve mais 3,5% de produção graças ao maior número de abates da categoria “vitelão” e ao decréscimo em 11% da

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categoria vitela (INE, 2016b). A maior produção que se registou neste ano das categorias “novilho(a)” e “vaca”, fez com que os animais “adultos” registassem um aumento de 13,5% (INE, 2016b). A tabela 1 mostra a evolução da produção de carne de bovino entre 2013 e 2014 e a evolução por categorias. O ano 2015 foi a ano que registou maior produção de carne desta espécie, sendo que a maioria da carne é proveniente de animais adultos. Porém neste ano houve um aumento da produção tanto da categoria de adultos como de vitelos.

Tabela 1. Produção de carne de bovino em Portugal entre 2013 e 2015 (Adaptado de INE, 2016b). Anos

Categorias (toneladas) 2013 2014 2015

Carne de bovino 84011 79842 88645

Adultos 62479 59888 67999

Vitelos 21532 19955 20646

A nova reforma no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC) de 2013 de prémios às vacas aleitantes instituído em 2015, estimulou o aumento do efetivo de bovinos de carne. Assim, o efetivo total foi significativamente maior permitindo que houvesse mais animais para engorda em 2014, mais animais disponíveis para abate em 2015 e consequentemente levou ao aumento da produção de carne de bovino nesse ano (INE, 2016b).

Apesar do ligeiro aumento na produção de carne de bovino que se verificou em 2015, este valor ainda está bastante aquém das necessidades de consumo de Portugal.

Relativamente ao grau de autoaprovisionamento e consumo de carnes, Portugal produziu em média 73,3% da quantidade de carne necessária para satisfazer as necessidades da população (INE, 2016a). A figura 1 mostra o grau de autoaprovisionamento dos vários tipos de carne produzidos em Portugal e permite constatar a situação deficitária que ocorreu para os vários tipos de carne entre 2010 e 2014.

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Figura 1. Grau de autoaprovisionamento médio das carnes entre 2010 e 2014 em Portugal (Adaptado de INE, 2016a).

Em comparação com as outras espécies, a carne de bovino foi a mais deficitária, não tendo ultrapassado 50,9% das necessidades de produção. No que respeita ao seu consumo, o valor ronda os 17,5 kg/habitante em 2014, tendo-se verificado uma diminuição de 1,7kg/ano entre 2010 e 2014 onde a redução mais acentuada no consumo se verificou nos dois primeiros anos com uma ligeira recuperação em 2014 (INE, 2016a).

No que refere ao balanço do grau de autoaprovisionamento da carne de bovino entre 2013 a 2015, este foi de 50,8%, 47,0% e 53,2% respetivamente (INE, 2016b).

2. Produção de bovinos de carne no Alentejo

2.1. Caracterização da região

A paisagem do Alentejo é sobretudo caracterizada pelo montado, sendo este considerado a imagem de marca da paisagem agrária da região. Esta paisagem foi inteiramente construída ao longo dos tempos, e todos os traços que a caracterizam, são devidos ao historial agrário e ao trabalho humano, característicos da região (Ferreira, 2001).

Ao longo do século XX, houve uma transformação da paisagem do montado, tendo como consequências a degradação dos solos e a modificação do clima local. No decorrer dos séculos, o ecossistema mediterrâneo original da região, foi simplificado no que refere à sua estrutura de biodiversidade e transformado num sistema de uso silvo-pastoril extensivo associado à grande exploração fundiária (Ferreira, 2001).

50,9 65,6 76,1 88,5 0 20 40 60 80 100 Carne de bovino Carne de suíno Carne de ovino e caprino Carne de aves % d e a u to a p ro v is io n a m e n to Tipos de carne

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A paisagem vegetal criada no Alentejo é caracterizada por um uso agrícola e pastoril sob um estrato arbóreo de densidade variável, onde prevalecem as azinheiras, sobreiros e oliveiras.

O clima na região do Alentejo tem, ao longo das últimas décadas, sofrido grandes alterações. Estas alterações tendem para um aumento do consumo de água na manutenção das culturas, o que é consequência do aumento da temperatura média do ar e da redução de disponibilidade de água resultante da diminuição da precipitação (Shahidian et al., 2012).

O Alentejo possui um clima mediterrâneo, combinando verões quentes e secos com invernos frios e húmidos. Nesta região, a precipitação concentra-se essencialmente entre dois a quatro meses durante o inverno e é raro acontecer durante o resto do ano. O verão, pelo contrário é bastante seco e quente. A temperatura anual média, máxima, é de 31,7ºC e a temperatura média mínima é de 2,5ºC (Perissinotto et al., 2009).

Na região do Alentejo existe uma forte integração da produção agrícola e pecuária. Os sistemas pecuários são, essencialmente, de bovinos de carne e pequenos ruminantes cuja alimentação tem por base o aproveitamento de pastagens naturais e de restolhos. A seca que se verifica durante os meses mais quentes do ano tem bastante influência no que diz respeito à produção agrícola e consequentemente à produção pecuária, havendo uma forte relação com a sazonalidade de partos que se verifica na espécie bovina criada nesta região. O verão e o inverno são as estações do ano cujas características climáticas prejudicam a produção vegetal e consequentemente a produção animal (Ferreira, 2001). Posto isto, é importante desenvolver estratégias de adaptação da produção agropecuária, no sentido de minimizar o impacto das condições desfavoráveis daquelas estações.

2.2. Efetivo bovino

Em 2015 o efetivo total de bovinos foi significativamente maior comparando com os três anos anteriores. Segundo resultados da Sociedade Portuguesa de Recursos Genéticos Animais (SPREGA) em 2004, o efetivo de bovinos para a produção de carne era constituído por cerca de 360000 cabeças sendo que 20% pertenciam a raças autóctones. Hoje sabe-se que o efetivo de bovinos para a produção de carne é superior àquele que se verificava em 2004.

São 15 as raças autóctones oficialmente reconhecidas em Portugal (Carolino et al., 2014). Estas raças viram, durante o século XX, os seus efetivos diminuir drasticamente chegando a números perto da extinção. Esta redução dos efetivos resultou do abandono

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raças por raças mais produtivas, como são as raças exóticas. Foi por volta da década de 60 que teve início o aumento da importação de raças exóticas com o objectivo de tornar os sistemas mais produtivos. No entanto, estas raças apresentam uma forte dependência do meio, sendo que dele dependem para expressar todo o seu potencial genético. Porém, as condições edafo-climáticas de Portugal em regime extensivo, não são favoráveis a estas raças, tendo sido a principal causa de que muitas das raças exóticas que aqui foram colocadas não sobrevivessem. Houve, contudo, algumas que se foram adaptando e que ainda hoje assumem uma forte expressão na produção de bovinos de carne em Portugal. Podemos destacar a raça Limousine e a raça Charolesa como duas dessas raças (SPREGA, 2004).

Foi entre os anos 60 e 80 que começaram a ser feitos os cruzamentos industriais entre raças autóctones e raças exóticas. Do resultado destes cruzamentos, surgiram animais melhor conformados e com maiores capacidades de crescimento. Contudo, graças à substituição das raças autóctones por raças mais produtivas e aos cruzamentos entre raças, surgiu o agravamento da extinção das raças autóctones (SPREGA, 2004). Com o objetivo de solucionar este problema, foram desenvolvidas uma série de estratégias que incentivaram a manutenção destas raças. Os serviços oficiais do Ministério da Agricultura, incentivaram a criação de livros genealógicos para cada raça e incentivaram também ao registo zootécnico dos animais, de maneira a preservar e melhorar o património genético nacional. Atualmente, são as associações de criadores de cada raça os responsáveis pelo livro genealógico, pelos registos dos animais e pelos seus programas de melhoramento genético. Também a PAC tem vindo, desde então, a desenvolver estratégias de preservação das raças autóctones.

Em Portugal, o efetivo bovino para a produção de carne é constituído por vacas aleitantes onde se incluem as raças autóctones e exóticas. No entanto, as vacas leiteiras contribuem também para uma percentagem elevada da produção de carne, onde se destacam as vacas de refugo e os vitelos.

No Alentejo, as raças frequentemente usadas para a produção de carne são a Alentejana e a Mertolenga, representando o efetivo bovino autóctone da região com maior expressão. Relativamente às raças exóticas destacam-se a raça Limousine e Charolesa, que, cujo efetivo é de 4000 fêmeas reprodutoras Limousine (ACL, 2017a) e 1300 fêmeas reprodutoras Charolesas inscritas no livro genealógico (APCBRC, 2017a).

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2.2.1. Raças exóticas e cruzamentos

Os cruzamentos entre raças autóctones e raças exóticas têm ainda grande impacto, sendo a raças Limousine e Charolesa, aquelas cujos cruzamentos ainda são mais expressivos (SPREGA, 2004). Segundo a SPREGA é ainda frequente o uso destes cruzamentos terminais com recurso a estas raças. Porém, a produção de animais de raça pura para abate tem vindo a ganhar expressão tendo-se tornado numa alternativa economicamente interessante graças à valorização dos produtos certificados a que os animais neste regime dão origem.

Quando se trata de eficiência produtiva numa exploração de bovinos de carne, existe uma forte dependência, além da adoção de boas técnicas de maneiro, da disponibilidade alimentar e da capacidade genética de crescimento dos animais (ACL, 2017b). O cruzamento entre raças tem como objectivo tirar partido da conjugação do património genético de cada uma delas, potenciando a manifestação da heterose na geração F1.

No cruzamento entre raças, o método mais usual é o cruzamento entre fêmeas autóctones e machos provenientes de raças exóticas especializadas na produção de carne. Os descendentes destes cruzamentos, F1, possuem um intermédio genético em relação aos pais e que comparando com os progenitores em linha pura, apresentam melhores características produtivas do que a média daqueles. Neste caso, os F1 resultantes deste cruzamento seriam totalmente destinados para abate. Nesta técnica de maneio, as vacas provenientes de raças autóctones, devem ser utilizadas como linha mãe, isto porque estas fêmeas possuem qualidades maternais adequadas para produzir bons vitelos. Tal acontece graças à sua boa adaptação ao meio, facilidade de partos e bons índices reprodutivos, nomeadamente aqueles que caracterizam a raça bovina Mertolenga. Por outro lado, a raça da linha pai como acontece com a Charolesa e Limousine, caraterizam-se como sendo raças pesadas com grandes capacidades de crescimento (Cláudio et al., 1988). O resultado destes cruzamentos dá origem a descendentes bem adaptados às condições do meio com velocidades de crescimento superiores às raças autóctones.

Foram já efectuados estudos que permitem comparar a capacidade de crescimentos de animais de raças autóctones em linha pura e em cruzamento. Na tabela 2 são apresentados dados relativamente aos ganhos médios diários (Kg/dia) de novilhos com 18 meses.

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Tabela 2. Ganho médio diário (kg/dia) nas fases de suplementação, pastoreio e acabamento de novilhos de raças autóctones e cruzadas (Adaptado de Rodrigues, 1998).

Raça Pastoreio + Suplemento Pastoreio Acabamento

Alentejana 0,413 0,991 1,239

Charolês X Alentejana 0,515 1,128 1,445

Limousine X Alentejana 0,489 0,966 1,165

Mertolenga 0,345 0,642 0,893

Charolês X Mertolenga 0,410 0,940 0,913

Neste sistema de produção, os novilhos são abatidos por volta dos 18 meses de idade. Assim, é favorável que os animais nasçam no inverno uma vez que chegam à altura de desmame mais pesados. Tal acontece graças à maior e melhor produção de leite da mãe resultante da maior quantidade e qualidade de alimentos disponíveis na primavera.

Pela análise da tabela 2, é possível constatar a utilização favorável de touros de raças exóticas (Charolês e Limousine) no cruzamento com fêmeas de raças autóctones. O ganho médio diário dos animais aumenta em animais cruzados quando comparados com os valores da raça autóctone em linha pura.

2.2.2. Mertolenga

Existem, ainda hoje, algumas dúvidas acerca da origem exata da raça Mertolenga, no entanto acredita-se que esta teve origem numa antiga povoação chamada Mértola, caracterizada como uma pequena vila no distrito de Beja.

Os bovinos de raça Mertolenga são considerados animais muito rústicos. Suportam viver em regiões bastante severas do ponto de vista ambiental, nomeadamente do ponto de vista climático, tipo de solos e qualidade e quantidade de alimento disponível. De acordo com Roquete (1993) e Almeida (2008), os Mertolengos são animais cuja adaptabilidade é ímpar na região, estando sujeitos a difíceis condições de maneio alimentar nos sistemas de produção tipicamente usados na região do Alentejo.

Atualmente o efetivo Mertolengo reprodutor distribui-se maioritariamente pelos distritos de Castelo Branco, Santarém, Setúbal, Portalegre, Évora e Beja. Nas zonas geográficas definidas pelas bacias hidrográficas do Sado e Tejo predominam os efetivos de pelagem vermelha ou vermelha bragado (36%). Nas regiões de Portalegre, Évora e Beja predominam os efetivos de pelagem rosilho (47%), ficando os efetivos de pelagem malhada (17%), na sua maioria, na margem esquerda do Guadiana (ACBM, 2017a).

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Os exemplares desta raça apresentam um tamanho médio e esqueleto fino com três tipos de pelagem: vermelha, rosilho, vermelha malhada e malhada de vermelho (ACBM, 2017b).

Para Roquete (1993), as fêmeas da raça são marcadamente maternais. São conhecidas pela sua habilidade maternal, alta fertilidade, facilidade de partos, boa capacidade leiteira e elevada produtividade de vitelos ao desmame. Relativamente ao temperamento, são animais algo nervosos, o que dificulta a relação homem-animal e obriga a um conhecimento mais profundo das técnicas de maneio associadas ao seu modo de produção.

No que trata das características reprodutivas dos animais desta raça, a idade ao desmame é em média 210 dias, a média de pesos ao desmame é de 163,2 ± 37,1 kg, o intervalo entre partos é, em média, 449 ± 140 dias, os ganhos médios diários atingem valores médios de 935 ± 188 g/dia e têm uma longevidade produtiva média de 8,7 ± 4,25 meses (ACBM, 2017c).

2.2.3. Alentejana

O nome desta raça sofreu, ao longo dos tempos, várias alterações consoante os diferentes autores que a referenciavam, porém, adoptou definitivamente o nome “Alentejana” graças ao seu solar, à região onde é atualmente explorada e onde a sua dispersão é maior (ACBRA, 2017b).

A raça Alentejana é muito bem adaptada à região onde habita. A sua principal função era de trabalho. A revolução industrial, a mecanização da agricultura e o crescimento populacional foram factores que estiveram relacionados com a sua evolução. Porém, a necessidade de aumentar a eficiência produtiva dos sistemas agrícolas fez com que surgisse a necessidade de criar novas técnicas de produção convertendo o interesse por estes animais para a produção de carne (ACBRA, 2017c).

As condições climáticas adversas associadas a um regime alimentar deficitário a que os animais estiveram sujeitos, são as principais causas da atual conformação da raça. O regime alimentar desequilibrado a que os animais foram sujeitos, fez com que os cornos se tenham desenvolvido muito, assim como a região abdominal e toda a sua estrutura óssea. Os animais desta raça apresentam uma particularidade, possuem uma barbela bem desenvolvida com sete pregas que teve origem na necessidade de criar uma área superior de perda de calor por parte dos animais, para que lhes fosse mais fácil sobreviver ao clima seco da região onde se inseriam (ACBRA, 2017d).

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Os bovinos Alentejanos, apresentavam uma estrutura corporal bastante desproporcional, com o terço anterior bastante desenvolvido, no entanto, devido à seleção dos animais para uma vertente de produção de carne, a sua conformação é hoje um dos principais parâmetros de seleção por forma a obter o maior rendimento de carcaça.

Segundo Carvalho (1948), os animais desta raça são bastante corpulentos de esqueleto forte. Atualmente, a cor predominante destes animais é o vermelho podendo variar entre o retinto e o trigueiro.

De acordo com Rosado e colaboradores (1981), os bovinos Alentejanos, são animais de grande formato e de proporções médias, apresentam musculatura regular, constituindo no seu todo um conjunto harmonioso.

Relativamente aos caracteres reprodutivos, as fêmeas da raça apresentam idade ao primeiro parto em média de 36,5±7,4 meses, com intervalo entre partos de 442±137 dias. A longevidade produtiva das fêmeas ronda os 12 anos e os machos são normalmente utilizados entre os 4 e os 8 anos de idade (ACBRA, 2017e). Os bovinos desta raça são bastante maiores que os Mertolengos. O seu peso vivo adulto ronda os 600-700 Kg em vacas e 900-1100 kg em touros (ACBRA, 2017f). A idade ao desmame é por volta dos 6 a 8 meses de idade onde o peso dos animais ronda em média os 213,1kg (Carolino, 2006 citado por ACBRA, 2017f).

2.3. Sistema de produção extensivo

Portugal é um país cujas características climáticas variam de região para região. Em certos locais e graças às suas características climáticas e edáficas, apresenta várias zonas desfavorecidas em termos agrícolas. Nestas regiões, a criação de animais em modo extensivo para a produção de carne, associada à exploração da floresta e à agricultura, assume especial importância, caracterizando-se como uma das maiores fontes de receita e de emprego do país, tendo também um papel importante do ponto de vista social e ambiental (Andrade et al., 1999).

Portugal goza de um clima geralmente mediterrâneo, porém, na região norte e centro, existe uma influência atlântica, especialmente na região litoral em contraste com o que acontece na região sul, nomeadamente no Alentejo cuja influência é tipicamente continental. Relativamente à temperatura, esta mantém-se dentro dos mesmos valores, embora haja algumas variações conforme seja uma região costeira ou de interior, em que as oscilações de temperatura diurna e noturna são menores na região costeira e bastante maiores no interior. Também no que se refere à precipitação existe uma acentuada

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diferença sendo que na região norte a pluviosidade é bastante mais alta do que no sul. No norte, os solos são geralmente pobres, e a terra é do tipo montanhosa, o que faz com que haja zonas com elevados declives, tal não se verifica no sul em que o terreno é essencialmente plano.

Estas diferenças climáticas e topográficas, são o motivo pelo qual o tipo de alimentação e o maneio reprodutivo dos bovinos produzidos na região norte e sul do país são diferentes.

Os bovinos são animais ruminantes sendo, por isso, capazes de usar a celulose como fonte energética transformando assim biomassa vegetal em produtos como a carne, leite e pele. Estes ruminantes, são particularmente úteis para a conversão de pastagens, de subprodutos e resíduos de culturas agrícolas em alimentos e produtos que possam vir a ser utilizados pelos humanos (Andrade et al., 1999). Dada a rusticidade inerente a estes animais, especialmente das raças autóctones, a sua produção é feita maioritariamente em zonas pobres, como foi feito ao longo de gerações nos locais onde as características eram desfavoráveis em termos agrícolas, as pastagens naturais eram utilizadas como fonte de alimento para os animais. Nos dias de hoje, ainda à semelhança do que fizeram os nossos antepassados, recorre-se a estas pastagens usando-as como fonte de alimento para a produção de bovinos e pequenos ruminantes em modo extensivo (Andrade et al., 1999).

A produção de bovinos é uma atividade económica de grande impacto para o nosso país e é feita geralmente em regime extensivo, que pressupõe uma sustentabilidade ecológica, respeitando a utilização dos solos e do meio ambiente (Vaz Portugal, 1990).

Todos os sistemas de produção extensivos são influenciados direta ou indiretamente pelas condições ambientais da região onde se inserem. A produção de alimentos para os animais sofre oscilações consoante a época do ano havendo alternância entre épocas de abundância e de escassez de alimentos. Estas variações são consequência de invernos frios com abundância de água e de verões quentes e secos em que a disponibilidade hídrica é baixa. Quando as pastagens começam a escassear, desde o princípio do verão até ao inverno, a manutenção dos efetivos é feita a partir do aproveitamento de restolhos de cereais e de palhas constituindo uma prática normal e imprescindível (Ramalho, 2000).

A produção de bovinos de carne em Portugal é feita maioritariamente com recurso a raças autóctones. Estas raças caracterizam-se como sendo bem adaptados à região, o que permite uma utilização equilibrada dos recursos naturais, minimiza o impacto no ambiente além de que contribui para a fixação dos agricultores aos locais mais

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onde se inserem, apresentam também uma grande resistência a parasitas mantendo os seus índices reprodutivos. A carne que se obtêm da produção destes animais origina um produto característico e diferenciado cuja valorização tem vindo a aumentar (Vaz Portugal, 1990; SPREGA, 2004).

Uma vacada que constitui um efetivo de bovinos para a produção de carne em modo extensivo, deve cumprir, segundo Bento (2006), determinados requisitos. As fêmeas devem ser bem adaptadas às condições ambientais da região, devem ser sexualmente precoces, apresentar boa fecundidade e fertilidade, bom ritmo de ovulação e uma taxa de sobrevivência embrionária elevada. Estes animais devem também apresentar facilidade de partos, com o mínimo intervalo entre eles, onde o anestro parto e de lactação devem ser reduzidos, bem como o intervalo entre o parto e o cio pós-parto. É também indispensável que as fêmeas apresentem boa capacidade leiteira sem que seja necessário a sua suplementação. Porém, tendo em conta as condições climáticas extremas que se vivem no Alentejo, é praticamente impossível não recorrer à suplementação dos animais principalmente durante o fim do Outono e Inverno. A boa capacidade leiteira das fêmeas autóctones aliada a práticas de maneio adequadas, permitem obter vitelos com bons pesos ao desmame.

Nos sistemas de exploração em modo extensivo, a intervenção humana é baixa, porém, é fundamental que o produtor execute determinadas práticas de maneio como a planificação do maneio alimentar e reprodutivo. O maneio reprodutivo deve ser feito em paridade com o maneio alimentar, sendo indispensável que os pontos críticos da reprodução sejam ajustados à disponibilidade alimentar (Lopes da Costa, 2011).

Nas condições do Alentejo, é importante dar especial atenção às condições climáticas em duas épocas particulares, no inverno e no verão. No inverno as temperaturas baixas que se vivem, a chuva e o vento podem afetar a produtividade sobretudo dos animais mais jovens. No entanto, é no verão que a preocupação deve ser maior. As temperaturas elevadas associadas à falta de água condicionam a disponibilidade e qualidade dos alimentos o que vai desencadear uma diminuição da eficiência reprodutiva, da eficiência de utilização do alimento e a redução de crescimento dos animais. Quando a época de cobrição coincide com os meses de maior calor, a taxa de fertilidade diminui. Os touros deixam de perseguir as fêmeas e os níveis de progesterona daquelas são influenciados pelas temperaturas altas o que afeta diretamente o ciclo éstrico (Pereira, 2006).

Embora neste tipo de sistema a intervenção humana seja baixa, é fundamental avaliar os parâmetros produtivos e reprodutivos das fêmeas pois permitirá obter técnicas de gestão com vista à melhoria da performance da produção sob condições específicas,

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bem como garantir as características do produto final.

2.3.1. Alimentação

Como foi referido anteriormente, o tipo de alimentação dos animais em regime extensivo é diferente consoante o local onde a exploração se localiza. Tendo em conta o tema do presente trabalho importa dar relevância ao maneio alimentar utilizado na região do Alentejo.

O tipo de alimentação dos animais depende, obviamente, da sua idade e da época do ano em que se encontram, uma vez que esta tem influência direta no tipo, quantidade e qualidade de alimento disponível. A alimentação das fêmeas, dos machos e dos vitelos é diferente ao longo do ano e varia consoante as necessidades específicas de cada fase do ciclo produtivo.

A nutrição tem impacto direto na eficiência reprodutiva das vacas uma vez que afeta diretamente aspectos fisiológicos do ciclo reprodutivo das fêmeas (Guardieiro e Sartori, 2010). Assim, Segundo Carolino e colaboradores (2000), para que a eficiência reprodutiva do sistema não seja comprometida é indispensável que o produtor ajuste o ciclo reprodutivo ao ciclo de produção de pastagem.

As atividades agrícolas que se desenvolvem na região produzem alimentos para os animais de produção, nomeadamente para os bovinos, tais como palha, feno, resíduos de forragens e de cereais, forragens verdes e silagem. Os montados são também uma fonte de alimento para os animais, caracterizando-se como ecossistemas característicos do Alentejo onde existem florestas de sobreiros que dão origem a um fruto designado lande ou bolota e que serve de alimento aos bovinos.

A sazonalidade climática da região do Alentejo, faz com que existam períodos de bastante carência alimentar devida ao clima seco que se vive durante os meses mais quentes. Para contornar este problema, existe a possibilidade de armazenar fenos, palhas e silagens permitindo o seu fornecimento aos animais, para além da época de produção, mantendo-se o seu valor nutritivo praticamente inalterado desde que as condições de armazenamento sejam boas. No entanto, no que respeita à quantidade e à qualidade da forragem produzida pelas pastagens de sequeiro, existe uma variação ao longo do ano, havendo outro tipo de alimentos como os restolhos dos cereais ou a bolota que apenas estão disponíveis em determinadas épocas do ano.

Face a esta alternância na disponibilidade alimentar ao longo do ano, a componente alimentar difere entre os diferentes períodos do ano. Devido a esta

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períodos em que é necessário suplementar os animais nas fases mais críticas do ciclo produtivo. Segundo Bettencourt e Romão (2009a), as fases críticas do sistema de produção são a época de cobrições, o período pós-parto e a fase de desmame dos vitelos.

Como é sabido, a suplementação representa um custo acrescido na produção, sendo por isso reservado a períodos específicos na fase mãe (cobrição/pós-parto), na recria dos vitelos ou se o objectivo for fazer um acabamento anterior ao abate, conseguindo assim resultados de crescimento superiores e melhores conformações de carcaça (Romão, 2014). Segundo o mesmo autor, no contexto da produção de bovinos de carne, poderá haver necessidade de suplementação dependendo se o produtor prevê a obtenção de fêmeas ou machos reprodutores ou outro tipo de produto final tais como vitelos de menor peso, machos castrados, vacas adultas, entre outros.

De acordo com um estudo realizado por Carvalho (1994), podemos dividir a disponibilidade alimentar em quatro períodos distintos ao longo do ano.

1º(entre o mês de outubro e o dia 15 de dezembro) - Durante esta fase, a produção de pastagens de sequeiro é relativamente reduzida. No entanto, o seu valor nutritivo é elevado assim, os bovinos têm à sua disposição, além da erva das pastagens, alimentos conservados, tais como, feno, palha, silagem de cereais e bolota, no caso de ser necessário é possível fornecer alimento concentrado.

2º (entre o dia de 16 de dezembro e 28 de fevereiro) - A produção de pastagens é praticamente inexistente, uma vez que as baixas temperaturas fazem com que o seu crescimento decresça ou chegue mesmo a cessar. No entanto, a pouca erva existente é de boa qualidade alimentar. Neste período os animais têm, geralmente, que ser suplementados com alimentos conservados e/ou concentrados.

3º (de 1 de março a 30 de junho) - Durante estes meses a temperatura aumenta e a quantidade de água disponível no solo cria condições favoráveis ao crescimento vegetal, sendo assim, esta época é considerada aquela em que é máxima a produção de pastagens de sequeiro. Porém, a sua qualidade, embora ainda razoável, diminui comparativamente aos períodos anteriores. Durante esta altura, as forragens destinadas ao pastoreio têm a sua produção máxima, pelo que a alimentação dos animais é feita à base de pastagem, sem necessidade, de se recorrer a alimentos conservados.

4º (entre 1 de julho e 30 de setembro) - Este período corresponde aos meses mais críticos que se vivem nesta região, face às temperaturas elevadas e à pouca disponibilidade de água. Nesta época, os ciclos vegetais estão completos o que se traduz num aumento de matéria seca e consequente declínio de digestibilidade. Durante este tempo a produção das pastagens de sequeiro é inexistente ou mínima. Os animais

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alimentam-se de restolhos de cereais, das pastagens secas, dos alimentos destinados ao pastoreio que só estão disponíveis nesta altura do ano havendo eventualmente a necessidade de se recorrer a alimentos conservados e concentrados.

2.3.2. Maneio Reprodutivo

Numa exploração de bovinos de carne, o principal produto rentável é o vitelo após a fase de desmame. Assim sendo, a reprodução é a principal causa que limita a eficiência produtiva das vacadas (Dickerson 1970, citado por Short et al., 1990) e o número de vitelos produzidos por vaca por ano é um dos factores com maior importância na eficiência biológica e económica na produção de bovinos de carne (Dickerson, 1978 citado por Carolino e colaboradores, 2000). Posto isto é imprescindível que o controlo reprodutivo e o seu maneio sejam o mais eficientes possível de maneira a que o sistema atinja a produtividade máxima. Qualquer falha inerente ao maneio se reflete na rentabilidade da exploração representando perdas económicas.

Uma das principais preocupações dos produtores hoje em dia é diminuir o intervalo entre partos, pois trata-se de um factor que influencia diretamente a produtividade. Melhorar os índices produtivos é também uma preocupação, podemos destacar por exemplo os índices de conversão alimentar, os ganhos médios diários e os índices reprodutivos como o aumento da taxa de fertilidade (Lopes da Costa, 2008).

Um bom maneio reprodutivo está dependente da relação e do equilíbrio entre a sanidade, a nutrição o ambiente e as características genéticas de cada animal.

De forma a melhorar a eficiência reprodutiva das vacadas é fundamental estabelecer objectivos e implementar estratégias que nos vão permitir alcançá-los. Como objetivos reprodutivos gerais a todas as explorações temos a preocupação em conseguir produzir um vitelo por ano por vaca e reduzir a idade ao primeiro parto.

As raças autóctones são a melhor opção no que respeita à escolha da linha mãe uma vez que são animais naturalmente bem adaptados às condições da região onde se inserem. As raças autóctones garantem que em regimes extensivos de pastoreio, em que a disponibilidade nutricional das pastagens depende das condições climáticas, os índices reprodutivos se mantenham aceitáveis.

Segundo Palhano (2008) um bom maneio reprodutivo visa um conjunto de medidas que orientam o produtor de modo a criar um planeamento reprodutivo da vacada melhorando o desempenho zootécnico do sistema. Aspetos como o maneio alimentar e sanitário bem como o potencial genético dos reprodutores influenciam diretamente a

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No Alentejo, a época crítica da região acontece durante os meses de verão em que as temperaturas elevadas e a falta de água limitam a disponibilidade e qualidade do alimento afetando também a produtividade, uma vez que diminui a eficiência reprodutiva. Assim sendo, a taxa de fertilidade diminui quando a época de cobrição coincide com os meses de maior calor. As temperaturas elevadas fazem com que o comportamento sexual dos touros não tenha a normalidade habitual, além de que interferem com os mecanismos endócrinos das fêmeas afetando o ciclo éstrico.

2.3.2.1. Controlo reprodutivo

Num sistema de produção de bovinos de carne, a reprodução é o parâmetro fundamental para a rentabilidade económica do sistema. Um bom maneio reprodutivo permite aumentar a rentabilidade da atividade sendo que a produtividade destas explorações está diretamente dependente da eficiência reprodutiva que se pratica. Tal como já foi mencionado, o principal objetivo do sistema é obter um vitelo por ano e por vaca. Assim sendo, para que isso aconteça, é imprescindível adoptar estratégias de modo a maximizar as taxas reprodutivas aliando uma eficaz gestão das explorações (Romão, 2014).

Segundo (Madureira, 2001) os índices reprodutivos são considerados ferramentas essenciais para que seja feito um eficiente controlo reprodutivo da vacada. Quanto mais completas, rigorosas e fidedignas forem as informações obtidas nas explorações, maior será a possibilidade de obter índices de qualidade possibilitando um controlo reprodutivo eficiente.

Face aos dados gerais que se conhecem, os índices reprodutivos dos efetivos bovinos em Portugal, ficam bastante aquém dos valores possíveis de alcançar, fazendo uma gestão mais eficiente das questões reprodutivas ou utilizando tecnologias de reprodução (Lopes da Costa, 2011; Bettencourt, 2012).

Ao longo dos anos, o controlo reprodutivo nas explorações em regime extensivo do sul, tem vindo a aumentar. Entre 2001 e 2008, o controlo reprodutivo era muito reduzido ou nulo, porém, hoje em dia, a realidade é diferente. Atualmente todas as clínicas veterinárias da região oferecem aos produtores planos de controlo reprodutivo, nomeadamente a realização de exames andrológicos aos machos. Estes planos têm uma adesão significativa por parte dos produtores e a tendência é para que esta aumente graças ao incremento na eficiência reprodutiva que se tem verificado.

Na produção de bovinos de carne em extensivo, um dos principais objetivos que pretendemos alcançar é a otimização da taxa de fertilidade anual, isto significa que as

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fêmeas têm que ficar gestantes, após o parto, num período não superior a 90 dias (Vinatea, 2009). Relativamente aos índices reprodutivos, o intervalo entre partos (IEP) é considerado um dos mais importantes (Madureira, 2001; Lopes da Costa, 2008; Vinatea, 2009). Este pode ser calculado para toda a vacada ou para cada fêmea em produção e o seu valor ideal é de 365 dias (Madureira, 2001; Lopes da Costa, 2008; Vinatea, 2009). Para que este número seja alcançável, o intervalo entre o parto e a fecundação não pode ser superior a 85/90 dias (Lopes da Costa, 2008). Segundo Vinatea (2009) para que o IEP seja de 365 dias, o período de anestro pós-parto não pode ser superior a 60 dias.

Existem determinados parâmetros que devem ser tidos em consideração para efetuar um controlo reprodutivo adequado. Segundo Robalo Silva (2003), para uma eficiente gestão reprodutiva deve ter-se em conta a idade média ao primeiro parto, a fertilidade anual, a distribuição de partos ao longo da época de parição, o IEP, a taxa de desmame bem como o peso médio dos vitelos ao desmame.

Para que se tenha acesso aos índices produtivos que nos transmitem a eficiência do sistema é essencial sensibilizar os produtores para a necessidade da recolha e tratamento de registos fidedignos da exploração. Segundo Carolino e colaboradores (2000) o IEP é uma forma simples e eficaz de medir a eficiência reprodutiva das vacas, sendo que, a partir dele é possível determinar o intervalo entre o parto e o primeiro cio, o número e duração dos ciclos éstricos que decorrem até à concepção e o tempo de gestação. O IEP está relacionado com o número total de vitelos desmamados e vendidos. Um valor superior deste índice corresponde a um número inferior de vitelos desmamados e consequentemente vendidos e vice-versa.

Sendo o IEP um dos índices mais importantes no que diz respeito à avaliação da eficiência reprodutiva, importa definir quais os factores que têm influência neste parâmetro. Segundo Leal da Costa (2012), o IEP é influenciado pelo maneio nutricional, condição corporal das fêmeas, fertilidade dos touros, estado sanitário dos animais e pelo maneio geral da exploração. Ferreira (1991) aponta a subnutrição, as doenças debilitantes e infecto-contagiosas bem como o maneio inadequando da vacada como as principais causas responsáveis por uma má performance reprodutiva. Todos estes fatores externos têm impacto direto na performance reprodutiva dos animais.

No âmbito da melhoria dos índices reprodutivos é importante que haja um programa de controlo reprodutivo nas explorações. Para que tal seja possível o criador tem que estar disponível e receptivo a um técnico sensibilizado e habilitado para o efeito (Lopes da Costa, 2008).

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explorações, para que seja feito um acompanhamento periódico da condição corporal das fêmeas, garantir as necessidades nutricionais dos animais e reduzir o anestro pós-parto. Tendo em conta que também a fertilidade dos machos afeta os índices reprodutivos, é importante que seja feita anualmente, uma avaliação andrológica dos machos. Desta forma é possível eliminar machos sub-férteis salvaguardando a eficácia dos touros e um adequado rácio touro/vaca.

2.3.2.2. Época de cobrição

Na região sul de Portugal as cobrições baseiam-se num regime livre onde cada produtor decide o tempo de permanência dos touros na vacada (Robalo Silva, 2004).

A escolha por parte do produtor em ter ou não época de cobrição e o tempo de permanência dos touros na vacada, trata-se de uma técnica de maneio de fácil adaptação que não acarreta custos ao produtor (Valle et al., 1998) e que lhe permite optar por ter animais para venda durante todo o ano ou em épocas definidas. Segundo os mesmos autores, a opção de definir épocas de cobrição/parto e o encurtamento deste período, permite fazer coincidir o momento de maiores exigências nutricionais dos animais, com a altura de maior qualidade e disponibilidade forrageira, permitindo reduzir ou eliminar a necessidade de suplementação dos animais em épocas críticas.

Segundo Bettencourt e Romão (2008) o tempo de permanência dos touros na vacada designa-se por época de cobrição. Esta permanência pode ser contínua, onde os touros estão junto das vacas durante todo o ano, ou descontínua, em que são estipuladas determinadas épocas do ano em que o touro faz parte da vacada. Neste caso, a época de cobrição pode ter a duração de 6 a 7 meses, 3 a 4 meses ou apenas 2 meses.

Segundo Bento (2006) a maioria das explorações destinadas à produção de bovinos de carne no Alentejo opta por não ter uma época de cobrição definida, admitindo um regime contínuo de cobrição. Como consequência desta técnica de maneio, é impossível definir uma época de partos uma vez que estes se distribuem ao longo de todo o ano.

Existem porém vantagens e desvantagens em ter uma época de cobrição contínua. Podemos apontar como vantagens o facto de existirem vitelos para venda durante todo o ano (Lopes da Costa, 2011). Porém, neste tipo de sistema torna-se difícil calendarizar e gerir as diferentes ações de maneio durante o ano. Existe por exemplo, a necessidade permanente de identificar os vitelos ao nascimento durante o ano, que neste sistema induz ao desleixo e consequente atraso no registo do animal. Outra desvantagem é a dificuldade no maneio referente ao desmame e à possibilidade de criar lotes que facilitem

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a suplementação dos animais, caso seja necessário. Num sistema com uma época de cobrição contínua é vulgar as fêmeas apresentarem IEP mais longos, existe o problema da variação sazonal da disponibilidade alimentar, a impossibilidade de padronizar o ciclo reprodutivo e a impossibilidade de criar lotes de animais de maneira a introduzir práticas de maneio como intervenções profilácticas, acompanhamento nutricional, desmames, diagnósticos de gestação e seleção de fêmeas para refugo.

Em 1995, Vaz e Robalo Silva afirmaram que os produtores de bovinos do Alentejo, utilizavam nos seus efetivos épocas de cobrição no outono com início em novembro e término em abril, permanecendo os touros na vacada durante 6 meses (Figura 2). Segundo estes autores, a escolha por esta época de cobrição tem como objetivo escapar às condições climáticas adversas coincidentes com os desmames de verão.

Figura 2. Modelo do ciclo reprodutivo típico do Alentejo (Fonte própria).

Determinando a época de cobrição com início em novembro e duração de 6 meses, os partos irão decorrer entre agosto e janeiro e a época de desmame irá coincidir com a primavera onde a disponibilidade alimentar é superior (Figura 2). Porém, segundo Robalo Silva (1999) esta época de cobrição não é a mais aconselhada uma vez que corresponde à fase em que as fêmeas apresentam pior condição corporal.

De acordo com Rodrigues (1998) no Alentejo existem duas épocas de cobrição e consequentemente de parto características. A época tradicional de partos que ocorre no verão, de agosto a outubro e a época de inverno onde os partos acontecem entre janeiro e março.

Cabe a cada produtor a escolha da época ou épocas de partos, devendo coincidir com o período de maior disponibilidade alimentar dependendo daquilo que se pretende privilegiar, se a capacidade leiteira da mãe ou o crescimento do vitelo após o desmame. O destino a dar aos vitelos após o desmame é também um fator a ter em conta na escolha das épocas de cobrição/parto (Rodrigues, 1998). Segundo o mesmo autor, a opção de ter época de cobrição/parto permite que os partos sejam concentrados num determinado período de tempo obtendo-se lotes homogéneos de animais para venda. Para que isto se verifique, é necessário um controlo reprodutivo eficiente nomeadamente

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Figura  1.  Grau  de  autoaprovisionamento  médio  das  carnes  entre  2010  e  2014  em  Portugal  (Adaptado de INE, 2016a)
Tabela 2. Ganho médio diário (kg/dia) nas fases de suplementação, pastoreio e acabamento de  novilhos de raças autóctones e cruzadas (Adaptado de Rodrigues, 1998)
Figura  5.  Evolução  dos  gastos  nos  diferentes  grupos  de  alimentos  para  consumo  em  casa  em       1990, 1995 e 2000 (Fonte: Banovic et al., 2006)
Figura 6. Produção de carne de bovino DOP/IGP (Fonte: adaptado de DGADR, 2014).
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Referências

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